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Faltam

PROFESSORES


sumário

justiça 04 Justiça tarda, mas não falha Casamento 08 Casar é bom e cu$ta caro

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pesquisa 11 Orquídeas no Campus humor 14 A risada levada a sério política 18 Antissepsia e pressão alta obra publica 20 Quarteirão da Cultura em Apucarana capa 23 UEL sem professor: essa história não é de hoje Educação 28 Ensino técnico no Brasil precisa crescer moradia 30 Minha casa, minha dívida

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direitos humanos 34 União homoafetiva

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comércio 36 Flexibilização no horário do comércio internet 39 Compras coletivas: pagando pelo desconto história 42 A venda dos pretos comunicação 44 XII Intercom Sul


A Ponto Final está de volta! E não é que ela voltou? Depois de longas férias, a PF volta com novas ideias na cabeça e ainda mais bagagem nas costas. A primeira novidade é um Prêmio Expocom Sul, conquistado nesse domingo, 29 de maio, no XII Intercom Sul. Defendida bravamente por Gabriela Pereira, a PF conseguiu derrotar seu concorrente único, o Portal Participa Idoso da UEPG, por W.O. e ganhar honestamente a categoria JOR16 – Jornalismo digital – Revista digital, jornal online etc. Agora, a revista vai ao Recife para participar da etapa nacional, onde sem dúvida alguma, sagrar-se-á a melhor das melhores. Outras mudanças ficam evidentes com a paginação dessa nona edição: 48 páginas. Como todos sabem, é comum engordar nas férias, mas a PF não engordou, ela embuchou mesmo. Embuchou de novos conceitos e novas propostas. Nessa nona edição, a gravidez alterou nossa estrutura de produção (agora, todos os integrantes são repórteres e acumulam as funções de diagramador e editor) e deve continuar transformando as características físicas e psicológicas de nossa revista. Quem polinizou a Ponto Final foi o novo professor responsável pela disciplina Técnicas e Metodologia de Reportagem IV, José Adalberto Maschio, ou simplesmente, Ganchão. A PF teve férias prolongadas, porque a primeira aula de Técnicas IV para o 4º ano noturno de 2011 foi ministrada no dia 10 de maio, quando deveria ser realizada no dia 15 de fevereiro. O motivo é a tal da burocracia, que, aliás, ainda não foi resolvida e continua emperrando a contratação de novos professores (leia mais na página 23). Ganchão, na verdade, não é oficialmente nosso professor, é apenas um palestrante voluntário. Em meio a protocolos e procedimentos, tudo fica frio e distante, deixando a culpa cair sobre o sistema e impedindo que responsabilidades cobradas. Mas se temos que apontar dedos, devemos apontar para a desmotivação da academia, negligência dos estudantes e indiferença da comunidade. Os acadêmicos são os mais afetados e deveriam se manifestar contra esses problemas que atrapalham sua formação. Para engrossar o coro, a opinião pública precisa ser mobilizada, pois a sociedade tem interesse na formação desses estudantes, isso legitimado e simbolizado na utilização do dinheiro público para financiar a universidade. Por fim, a academia precisa encontrar soluções para problemas crônicos (ver também reportagem da página 23). Se o sistema é ruim, que ele precisa ser mudado. Se o sistema é necessário, temos que aprender a fazer as coisas de acordo com ele, antecipando e eliminando aquilo que o pró-reitor chamou de “gargalos”.

Expediente Esta revista é produzida pela turma do 4º ano de Comunicação Social - Jornalismo Noturno da Universidade Estadual de Londrina para a diciplina 5NIC030 - Técnicas de reportagem, entrevista e pesquisa jornalística IV, ministrada pelo Prof. José Adalberto Maschio Ela foi publicada digitalmente no issuu.com/jornalnoturno

equipe Allan Fernando Edson Vitoretti Fabrício Alves Gabriel Bandeira Gabriel Oberle Gabriela Pereira Guilherme Costa Guilherme Santana Ione Horácio Iuri Furukita Julio Barbosa Maria Amélia Gil Mariana Guarilha Naiá Aiello Roberto Alves Rodrigo Fernando Vanessa Silva

Contato jornalnoturno@gmail.com

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Justiça que t mas chega Após 22 anos de espera, sociedade paranaense ganha a Defensoria Pública, órgão que irá prestar assistência jurídica a quem não pode pagar

Edson Vittoretti Fevereiro de 2006. Um rapaz surdo-mudo entra numa padaria de Londrina para comprar um refrigerante e em frente ao funcionário da padaria, aponta o bolso da calça e faz aquele gesto com os dedos que simboliza dinheiro. Um cliente vendo a cena de longe, interpreta os gestos como se fosse um assalto. Chama a polícia, que chega prontamente para prender o rapaz. Na porta da delegacia, um cinegrafista de um programa policial filma o rapaz sendo preso. Na TV, o apresentador rotula, julga e xinga o rapaz: “É surdo mas é ladrão”. O rapaz passa 13 dias na cadeia, porque não tinha condições para pagar um advogado. Tempos depois, sob forte depressão, o rapaz deixa a cidade para tentar esquecer o trauma. Casos como esse, que revelam que ainda há pessoas inocentes nas celas das prisões brasileiras. A Defensoria Pública do Paraná (DPP), cujo projeto de lei foi sancionado na última sexta-feira pelo governador Beto Richa, terá a incumbência de evitar esse tipo de injustiça nas delegacias paranaenses. “Se tivéssemos a Defensoria Pública naquela época, esse rapaz teria a defesa que não teve”, avalia Almir Escatambulo, ati-


vista dos direitos das pessoas portadores de deficiência. Escatambulo ainda enfatiza o que ele vê como caráter elitista do sistema judiciário: “A presunção da inocência no Brasil só funciona pra quem tem dinheiro”. Na lei que implanta a DPP, as delegacias ficam obrigadas a terem um espaço destinado ao defensor público. Toda vez que houver uma prisão em flagrante e o preso não tiver condições de pagar advogado, o defensor deve ser comunicado da prisão imediatamente para acompanhar o caso. Carlos Santana, do CDH (Centro de Direitos Humanos) de Londrina, acha que a presença de um defensor público nas delegacias vai até diminuir o número de pessoas detidas. “A maioria dos processos que estão na delegacia são mal feitos. Se você tiver um defensor público ali, ele vai ver esses erros”, acredita. Segundo Santana, muitos policiais e delegados pressionam o acusado a produzir provas contra si mesmo, para que o processo seja encaminhado rapidamente aos tribunais: “O oficial de polícia dá um tapão em cima da mesa e diz pro cara: ‘vai falar ou não vai?!’”. O espancamento seria o passo seguinte. Aliás, ainda segundo Carlos Santana, a pancadaria começa desde a abordagem na rua: “Alguns policiais dão uma camaçada de pau neles. Fazem eles saírem correndo, e dão tiro no pé”, afirma. O coordenador do CDH diz que os números da cri-

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arda,

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Carlos Santana: “Os policiais dão uma camaçada de pau neles. Fazem eles saírem correndo, e dão tiro no pé”

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Caroline Thon: “Acho que isso é um basta. A população estava cansada da falta de oportunidade por lutar pelos seus direitos”

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minalidade caíram em todos os Estados em que foi implantada a DPP. “Se o preso ver que ele tem possibilidade de defesa, ele não vai assumir a culpa por pressão do policial”, explica Santana. Para ele, cerca de 40% das pessoas que estão presas nas delegacias são inocentes. A Defensoria Pública não vai lidar apenas com situações de cárcere. Aliás, informar a população para que não se passe a ideia de que a DPP é algo criado apenas para defender gente com problemas nas delegacias é uma preocupação de Caroline Thon, representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Londrina. “A Defensoria Pública vai auxiliar todo cidadão que esteja tendo seus direitos desrespeitados e que não possa constituir advogado para se defender”, salienta. Caroline acrescenta que o raio de ação da DPP é muito amplo. Ela cita vários exemplos que vão desde casos de renegociação de contratos de financiamento da casa própria, passando por questões de direito familiar, como ações de divórcio, e até litígios sobre regularização fundiária. Sobre esse último item, Caroline Thon disse que a DPP pode


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ser um aliado dos movimentos sociais, como o que o passo mais difícil já foi dado: convencer os MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem 47 deputados da Assembleia Legislativa a aproTerra): “Pode sim. Tanto dos movimentos sociais varem o projeto da Defensoria Pública. Para isso, quanto de qualquer cidadão ou organização que várias entidades de Londrina se mobilizaram para tenha um direito violado e que não tenha condição conseguir um abaixo-assinado composto por 30 de contratar um advogado”, afirma. mil assinaturas, que foi enviado à Assembleia: “O Segundo a advogada, por atuar num espectro projeto foi colocado em pauta só depois que houmuito amplo do Direito, não se pode afirmar que ve pressão dos movimentos sociais”, afirma Almir a implementação da DPP contribuiria para uma Escatambulo, que participou do Comitê em Prol maior agilidade da Justiça no da Defensoria Pública, forma“É surdo, mas é Estado, desafogando a enorme do por entidades como a OAB, quantidade de processos para- ladrão.” Frase dita CDH e Sindicato dos Bancários. dos nos fóruns. “Se por um lado, Segundo Caroline Thon, a união por apresentador de das entidades e da população em um maior acesso a ações, como pedidos de concessão de habeas tevê sensacionalista geral em prol da implantação da corpus, ajudaria a diminuir o núDPP pode se traduzir num remero de processos, por outro haverá uma procura cado da sociedade para si própria e para o Poder muito maior das pessoas por justiça em várias ins- Público: “Acho que isso é um basta. A população tâncias”, diz. estava cansada da falta de oportunidade por lutar pelos seus direitos”, afirma. À espera da Justiça Deixando um pouco de lado o clima de comeContemplada pela Constituição de 1988, a De- moração, Carlos Santana é mais cauteloso quanto fensoria Pública chega ao Paraná com 22 anos de ao futuro da DPP: “O segundo passo que quereatraso. Com a criação do órgão no Paraná, San- mos dar em Londrina é incentivar a população ta Catarina fica sendo o único Estado onde não a cobrar pela implantação efetiva da DPP”, diz. há Defensoria Pública. Segundo Caroline Thon, Almir Escatambulo acrescenta que: “A gente tem a desculpa que os governos anteriores davam – que mobilizar a população pra que a DPP saia. Tefalta de recursos – não convence: “Eu não posso mos tem que cobrar, senão fica letra morta, e não acreditar nisso, porque todos sabemos que a Re- vai”, alerta. gião Sul é uma das mais ricas do país, e outros Almir Escatambulo “A presunção da inocência Estados mais pobres conseguiram ter a defensoria no Brasil só funciona pra quem tem dinheiro” bem antes da gente”, diz. O coordenador do CDH é mais incisivo: “Não houve vontade política dos governadores Requião e Lerner para implantação da defensoria”. Carlos Santana e Caroline Thon concordam que o paranaense ainda terá de esperar um pouco mais para ter maior acesso à Justiça. Na visão de ambos, a DPP só estará à disposição do cidadão em 2012. Isso porque há a necessidade de se realizar concurso público para a contratação de cerca de 300 defensores, auxiliares técnicos, bem como montar estrutura física dos núcleos de defensoria a serem construídos em todas as comarcas do Paraná. Apontando como exemplo da dificuldade de se estruturar fisicamente novos órgãos no Judiciário, Carlos Santana cita o caso da Defensoria Pública da União, que não tem nem sede própria em Londrina, utilizando uma sala da OAB através de um convênio. “A gente espera que a Defensoria Pública tenha também toda a infraestrutura de pessoal, como assistentes sociais, psicólogos etc”, defende Caroline Thon. Dificuldades à parte, Carlos Santana salienta

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Casar é bom, mas...

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Maria Amélia Gil im! O momento de subir ao altar para dizer essa pequena palavra é sonhado e desejado por muitas pessoas, mas quando se trata de realizálo, vem o susto: quanta despesa! Apesar disso, prestadores de serviços no ramo de casamentos afirmam que a procura nessa área é crescente. Afinal, vale ou não a pena investir nesse sonho? Um casamento com festa e viagem na lua de mel costuma custar entre R$14.530,00 e R$31.910,00. Para os noivos Rebeca Cordeiro e Frederico Silva esse sacrifício compensa: “É uma ocasião única e especial, alguns gastos tornam-se necessários, mas vale a pena”. Há quem sonhe com uma cerimônia cheia de pompas, digna da realeza, e quem prefira algo mais simples e íntimo. No entanto, às vezes é preciso estar disposto a desistir de alguns detalhes para fazer o sonho se encaixar no orçamento. “Escolhemos não fazer festa, pois o custo seria muito alto”, explica Amanda Prante, que prepara seu casamento para o final do ano. Mas sempre existem alguns detalhes dos quais os noivos não abrem mão, mesmo que o custo seja maior. Aline Rodrigues, co-proprietária da loja Maisa Noivas, comenta: “Os noivos tentam negociar o valor das roupas, mas raramente desistem do que gostam”. Para Rebeca e Frederico, o item mais importante era outro: “Não quisemos abrir mão da decoradora escolhida e das flores que serão usadas”. A única despesa inevitável e com preço ta-

belado é a do cartório, necessária para fins legais do casamento. Em Londrina o valor é de R$250,00 para realização no cartório, R$260,00 para que os documentos sejam assinados na cerimônia religiosa, sob responsabilidade do padre ou pastor, e R$550,00 para que o juiz de paz vá até o local da cerimônia ou festa. “Poucos sabem desses serviços personalizados para o casamento no civil, a maioria faz aqui mesmo”, explica o auxiliar de cartório Henrique Boratim Quezada. É necessário agendar a data com pelo menos quinze dias de antecedência. Para uma cerimônia religiosa é preciso providenciar várias coisas. O aluguel da capela, por exemplo, pode custar de R$330,00 até dois salários mínimos. Ainda há despesas com decoração, músicos, roupas dos noivos, cabelo e maquiagem da noiva, convites, foto, filmagem e, claro, as alianças. Em todos esses itens os noivos podem escolher entre as opções mais simples e econômicas ou as mais sofisticadas, porém com valor maior. Cleide da Costa, responsável pela empresa Nivaldo Decorações, dá uma dica para quem quer gastar pouco: “Uma decoração de igreja com flores naturais fica em torno de R$1.800,00, mas com o uso de flores artificiais cai para R$700,00”. Como os músicos podem ser contratados separadamente, o casal escolhe quantos instrumentos e vocais puder pagar. “Normalmente contratam cinco instrumentos e quatro vocais, mas já fizeram casamentos com apenas um tecladista e um cantor”, relata a música Daniela de Arruda. Cada instrumentista custa cerca de R$350,00, para um coral a média é de R$100,00 por cantor. Os con-


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casamento


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vites podem variar de R$320,00 a R$1.200,00 cada centena, dependendo dos detalhes e personalizações. Para as fotos, existem diversas opções de álbum, o mais comum é o álbum livro, que sai por R$1.800,00 com 50 páginas e 160 fotos, as filmagens ficam em torno de R$2.000,00. Estrela principal da festa, a noiva pode optar por um pacote simples de cabelo e maquiagem (cerca de R$350,00) ou o famoso Dia da Noiva, que também inclui manicure e pedicure, além de massagens e banhos relaxantes (de R$600,00 a R$900,00 em média). O aluguel do vestido varia entre R$250,00 a R$3.000,00 com acessórios inclusos, o preço varia de acordo com os detalhes e com a quantidade de usos anteriores. Um modelo bastante procurado é o tomara que caia. Para o noivo o traje completo fica entre R$50,00 e R$350,00, e há uma grande busca pela casaca siena (um casaco geralmente preto com lapelas de seda, que deve ser usado aberto e acompanhado de um colete abotoado). Os modelos de alianças vão das mais finas e simples às bem espessas, cheias de detalhes ou até pedras de diamante. Os preços do par são de R$250,00 a R$3.000,00 ou mais. Na festa o número de convidados e o cardápio escolhido são os principais fatores que definem o valor. O aluguel de um salão para 100 pessoas fica em torno de R$1.600,00 e os serviços de buffet a

partir de R$40,00 por pessoa. Uma opção para quem não tem recursos para a recepção é a festa por adesão. Nela cada convidado paga sua própria despesa, cerca de R$25,00, mas é necessário confirmar presença antecipadamente. O serviço é oferecido por algumas churrascarias, que negociam os valores e condições com os noivos, de acordo com a quantidade de convidados. Após a comemoração com amigos e familiares, é hora de pensar no momento especial dos noivos. Os hotéis costumam oferecer pacotes especiais para núpcias, que incluem itens como café da manhã no apartamento, champanhe, decoração especial e brindes. Os preços em hotéis quatro estrelas vão de R$430,00 a R$970,00. Para a lua de mel os destinos podem ser na serra gaúcha (R$2.500,00 pacote para 5 dias) e em praias do nordeste (R$4.000,00 pacote de uma semana). Para os que preferem destinos internacionais, Paris e Cancún (cada uma por R$6.000,00 o pacote de uma semana), Buenos Aires (R$2.500,00 para 4 dias) ou um pacote que inclui Nova Iorque e Disney (R$6.500,00 por 10 dias). Adriana de Oliveira, proprietária da Bless Viagens & Turismo, comenta que os casais com poucos recursos optam por hotéis fazenda da região, que custam cerca de R$1.500,00 por três dias, e aconselha: “Sempre digo para fugirem da época de Carnaval, de feriados prolongados e dos meses de julho, dezembro e janeiro. Os valores em alta temporada são 30% mais caros”.


pesquisa

Orquídeas no campus Projeto utiliza tecnologia avançada de germinação de sementes

Professor Ricardo mostra que as orquideas são reintroduzidas na natureza por meio do projeto

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Roberto Alves O projeto Propagação in vitro e domesticação de orquídeas nativas do Brasil foi desenvolvido pelo professor e engenheiro agrônomo Ricardo Tadeu de Faria, que ministra aulas de Floricultura e Paisagismo no CCA (Centro de Ciências Agrárias) da UEL. Ao chegar em Londrina há mais de dez anos, Ricardo teve a iniciativa de criar um projeto de floricultura e paisagismo voltado para a produção de orquídea, que é uma planta tropical existente em quase todas as partes do mundo e de fácil adaptação. Além disso, o projeto é voltado para a comunidade, que poderá encontrar no cultivo dessa flor uma alternativa de renda. Em seu ciclo natural, a orquídea tem uma porcentagem de germinação de sementes muito pequena, inferior a 5%, e com a técnica de polinização artificial, a capacidade de germinação chega a 95%. “Com essa técnica que desenvolvemos na UEL desde 1997, temos quase que uma biofábrica de orquídeas, onde são desenvolvidos trabalhos de iniciação cientifica, de mestrado, doutorado visando então a preservação das orquídeas brasileiras e também a criação de novos híbridos”, conta o professor. O aluno do quarto ano de agronomia, Ronan Carlos Colombo, mostra-se bastante satisfeito com o projeto, revelando que seu trabalho é voltado para a “produção de pesquisa e redução de custo”. Além de

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propiciar a preservação da natureza: “issso, porque multiplicando em laboratório, a gente evita o extrativismo e consegue produzir plantas melhores”. O professor Ricardo Tadeu afirma que esse projeto resultou em mais de 5 teses de doutorado, 30 trabalhos de iniciação cientifica, e mais de 50 trabalhos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. Com a alta produção de orquídeas desenvolvida pela técnica de germinação, o professor Ricardo Tadeu pretende introduzir a orquídea à flora e ao paisagismo da universidade, começando pelo CCA onde podem ser encontrados diversos exemplares dessa flor amarradas em troncos de árvores ou plantadas diretamente no solo. Desse modo, ele enriquece a a biodiversidade do campus universitário. O projeto também tem por objetivo, beneficiar a flora regional reintroduzindo a orquídea ao seu habitat natural, pois “as orquídeas são muito cobiçadas e acabam sendo coletadas por índios ou colecionadores. Assim, algumas variedades acabam entrando em extinção”, conta o professor. Um dos objetivos específicos do projeto consiste em capacitar pessoas interessadas em ingressar no ramo do cultivo de orquídeas, além de ampliar oportunidades de estágio e trabalho para os alunos de graduação e também indicar uma alternativa de geração de renda para as comunidades carentes de Londrina. O mercado de orquídeas movimenta mais de 30 milhões de dólares no mundo e o Brasil, com o grande potencial que tem, participa desse mercado com apenas 0,5 %. O professor diz:“Acreditamos que a orquídea seria uma forma de geração de renda na agricultura familiar, já que seria possível ao produtor obter uma alta lucratividade em pequenas áreas. Temos trabalhado bastante para que tenhamos o CEASA de flores aqui em Londrina, porque daí o produtor além de ter toda a tecnologia para a produção, ele terá também o local para a comercialização”.

A espécie Oncidium tem aroma de chocolate

Orquidea bambu plantada diretamente no solo


pesquisa 1. Ronan Carlos Colombo, estudante de agronomia 2. exemplar de semente de orquídea 3. exemplar de “bebê orquídea” cultivada em uma bandeja 4. diversas espécies são geradas na propagação in vitro 5. Professor Ricardo Tadeu mostra laboratório do CCA

Serviço Inscrição projeto: podem se inscrever para os cursos de Cultivo de Orquideas, que será ministrado em Setembro e entrar em contato pelo fone 43-3371-4224 (orquidário UEL). O curso é aberto a toda a comunidade. Visitação As sextas feiras das 8:30h às 15:00 O orquidário é aberto para visitação e venda de plantas.

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PAPO SÉR

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humor Humor engajado? Humor inteligente? Politicamente correto? Reforçador de estereótipos ? Realçador de tensões? O humor se apresenta em diversas roupagens: algumas mais leves, outras mais cáusticas. Algumas dessas facetas se comprometem com as questões políticas e sociais do momento, buscando estimular a criticidade , outras apenas tem o compromisso com a diversão. Seja qual for o tipo de humor que te diverte, o consenso é que rir é fundamental.

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RIO

Mariana Guarilha

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Em 1980 , o escritor Umberto Eco lança na Itália a primeira edição do romance “O Nome da Rosa”. Permeado de referências ao romance policial moderno, e ambientado na Idade Média européia, o livro narra uma série de ocorrências estranhas em um convento beneditino. Suscitado pelo ódio a um certo livro de autoria de Aristóteles (obra fictícia), um indivíduo desencadeia uma série de assassinatos , atribuindo-se o papel de mão esquerda de deus. O que tal compêndido teria de tão odioso? Versava sobre o riso , escandalizando o suposto vingador com suas imagens profanas, e segundo este levando os homens ao erro. A ficção se passa na chamada “Idade das Trevas”, onde o cristianismo amedrontava os homens com seus demônios macabros, fazendo-os tolhir tudo o que fosse demasiado humano, e não há coisa mais marcadamente inerente ao homem do que o riso, a troça, a ironia, o sarcasmo e tantas outras formas do humor que se apresentam em nosso dia a dia. Apesar da ambientação e da viagem que Eco nos oferece aos embates filosóficos daqueles homens em outro século, fica claro que a obra do italiano é um romance do final do século XX, oferecendo a reflexão sobre a herança dos caminhos que partilharam outros pensadores. Ainda hoje existe certo temor à piada. Alguns dirão que não há humor sem vítimas e que os esteriótipos reforçados por alguns humoristas seriam perigosos. Existe ainda quem diga que a sátira e as esquetes com escândalos políticos ao invés de levar ao pensamento crítico, tiraria o choque diante do crime, apaziguando ânimos e desestimulando a indignação. Porém, qual é o limite? José Roberto Torero , escritor e roteirista, atenta para o fato de que é impossível definir uma natureza para o humor, ele é mais uma ferramenta. O humor pode aliviar tensões, e também pode incitá-las ao estimular uma crítica. “O humor é só uma ferramenta, você faz o quiser com ele” – afirma. Não há como eliminar o riso, como pretendia o vilão de “O nome da Rosa”, porque o humor vive na idéia, apesar de utilizar-se de meios. Podese queimar os livros, mas não se pode extinguir o conhecimento produzido pela reflexão. A internet é um campo fértil para o humor sem correias. Durante muito tempo, a televisão evitou tocar em alguns temas espinhosos com medo da rejeição de seus expectadores. A internet não conhece esses temores, em parte porque as produções são acompanhadas por um público mais segmentado e é mais fácil prever as reações de tal público, mas também porque não sofre as mesmas pressões de um departamento jurídico, de determinada empresa ou mesmo de anunciantes. Dois casos ilustram bem esse papel da internet testar limites por meio do humor: o primeiro, a “Casa dos Autistas”, quadro integrante do Programa Comédia MTV causou tamanha repercursão negativa que um dos humoristas do programa veio a público se desculpar por ter participado

de uma brincadeira que fez com que algumas pessoas se sentissem agredidas. Quando isso ocorreu, já estava na internet a algum tempo o “Vlog do Rogério”. Produzido pela “Anões em chamas”, selo polêmico que tem rompido barreiras no humor, não subestimando o público e apostando na ironia e no sarcasmo em suas produções. O vlog é um formato que tem se popularizado na internet, onde, por meio de vídeos, as pessoas falam sobre seu dia a dia, trocando epifanias, narrando sua rotina, enfim, quase um diário em audiovisual. “O Vlog do Rogério” apresenta um ator digitando um texto reproduzido por uma voz mecânica, encarnando um suposto deficiente físico que debocha sobre sua própria condição. Embora já tenha ouvido comentários de pessoas desconfortáveis com o quadro e a abordagem seja muito mais agressiva do que a piada da “Casa dos Autistas”, não houve maiores retaliações ou rejeição do público. Quem conhece o contexto da internet, entende que a piada em si não é a condição física do protagonista, mas sim o sucesso de vloggers que ganharam fama falando sobre suas vidas de maneira auto-depreciativa. José Roberto Torero defende que o politicamente correto não é algo com que o humorista deva se preocupar, até por que os valores mudam. Para o humorista Paulo Caruso testar os limites pe fundamental: “O humor trabalha bastante com a reversão da expectativa. Para surpreender, é necessário ousar”.


humor

Os três trapalhões: clássico do humor pastelão

Humor em evidência Comédia Pastelão O riso é conquistado em uma série de trapalhadas dos personagens . Tombos, colisões e situações embaraçosas são abundantes. Exemplos clássicos de comédia pastelão são as séries “O gordo e o magro” e “Os Três Patetas”. Humor pelo absurdo (non sense) O desfecho das situações apresentadas é sempre imprevisível, e o riso é produzido pelo absurdo. O grupo inglês Month Phyton é seu maior expoente. Na literatura Douglas Adams com O guia do Mochileiro das Galáxias apresentou uma série de personagens fazendo piada com os clichês de ficção científica no espaço. Comédia de Cotidiano As notícias em um jornal são o principal material para quem faz esse tipo de humor. Tudo o que está sendo comentado na esfera pública é material para a próxima piada. Muito utilizada nas artes gráficas como tiras, charges etc. Na televisão brasileira, o Casseta & Planeta fez sucesso produzindo esse tipo de humor por um longo tempo. Comédia de Situação Pega-se elementos comuns à maioria das pessoas, exagera-se um pouco para garantir que o público se identifique com aqueles tipos e situações, e pronto: temos a comédia de Situação. Seus personagens são pessoas comuns, em ambientes comuns como familiar, de trabalho, entre um grupo de amigos. Na década de 1990, a série Friends fez muito sucesso entre os jovens fazendo comédia de situação.

Outros exemplos de sucesso com a fórmula são as séries brasileiras Sai de Baixo e A grande família. Comédia de Personagem Um tipo é responsável pela comicidade e este representa uma tendência perpétua do ser humano. Por exemplo , a preguiça de Jeca Tatu (personagem de Monteiro Lobato) sua indolência e falta de ambição. Humor negro Assuntos graves e temas espinhosos são tratados de forma satírica. Morte, estupro, aniquilação humana e mutilação são comuns ao humor negro. Abundante nos quadros “Programa da Amanda”, “Vlog do Rogério”, “Histórias para Ninar” da Anões em Chamas e no site “Mundo canibal”. O polêmico desenho animado Happy Tree Friends, onde bichinhos fofinhos se matam de maneira sangrenta é um exemplo do uso do humor negro na televisão. Stand Up Comedy Espetáculo apresentado por apenas um humorista que não usa recursos cênicos ou piadas conhecidas do público. Chamado por alguns humoristas de “humor de cara limpa”, tem-se popularizado bastante no Brasil. O desafio do comediante é entreter o público com suas próprias idéias, levando-os a rir. Normalmente seu material é recheado com temas polêmicos. O americano George Carlin tem uma série de shows geniais onde ataca a religiosidade cristã e até mesmo o discurso ecológico. No Brasil, temos o exemplo de Rafinha Bastos com o espetáculo “A arte do Insulto”, que foi sucesso de público.

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política moda

Antissepsia e

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Ministério Público quer esclarecer o esquema de corrup Guilherme Costa e Vanessa Silva Com a palavra, Barbosa Neto. Mas na condição de testemunha. O depoimento do prefeito é considerado por Alan Flore, delegado do Gaeco (Grupo Atuação e Combate ao Crime Organizado), como peça chave para esclarecer o jogo de influências que levou ao esquema de corrupção e desvio de dinheiro da Saúde em Londrina, deflagrado pela Operação Antissepsia. Barbosa Neto não quis falar à imprensa depois do depoimento. Na saída, apenas informou, por meio do Núcleo de Comunicação da Prefeitura, que reforçou à promotoria o que havia sido afirmado em entrevis-tas anteriores. A omissão de esclarecimentos à população acontece justo no momento em que a cidade passa por um caos em que faltam médicos, profissionais e infra-estrutura nos postos de saúde e serviços de emergência. Como prerrogativa do cargo, o prefeito teve o direito de escolher data, horário e local para ser ouvido pelo Ministério Público. E às 16 horas do dia 16 de maio, em seu gabinete, na prefeitura, Barbosa Neto foi ouvido durante cerca de uma 1h30 min, por Allan Flore. O delegado comentou que a conversa foi proveitosa no sentido de esclarecer alguns pontos que ainda não tinham ficado claros na investigação do Gaeco. Ele ressaltou, porém, que o conteúdo do depoimento permaneceria em sigilo, para não atrapalhar o andamento das investigações. A Operação Antissepsia foi deflagrada pelo Gaeco no último dia 10 de maio e já resultou, até agora, na prisão de 21 pessoas. As denúncias dizem respeito ao desvio de dinheiro público, cobrança de propina e chantagem no esquema que levou à contratação dos institutos Gálatas e Atlântico para assumir o Programa Saúde da Família e o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). A Prefeitura de Londrina contratou as duas entidades para coordenar, em caráter emergencial, os programas depois do rompimento com o CIAP (Centro Integrado de Apoio Profissional). O

CIAP é investigado pelo Ministério Público em todo o país por desvio de verbas de dinheiro público que chegam a 300 milhões de reais. Em Londrina, esses valores ficaram na ordem dos 10 milhões. Na manhã do mesmo dia do depoimento do prefeito, a secretária municipal de Saúde, Ana Olympia Dornellas, também foi ouvida pelo MP. Ela disse que a reunião foi apenas para apresentar documentos e atas de reuniões para a contratação das empresas. Essas reuniões teriam acontecido na época em que ela ainda não ocupava o cargo. A secretária também desmentiu que tenha tido conversas com assessores e conselheiros da Secretaria de Saúde na casa dela. Ana Olympia aproveitou para anunciar a exoneração do conselheiro municipal e ex-diretor do Sindserv (Sindicato dos Servidores Municipais), Marcus Ratto, preso com a deflagração da operação. Mais mandados de prisão também foram cumpridos pelo MP. O lobista Juan Carlos Monastério, teve a prisão decretada, mas segundo o advogado André Cunha, estava viajando a trabalho em Brasília. O advogado afirma ainda que Monastério teve envolvimento apenas “técnico” com os institutos Gálatas e Atlântico. Além disso, foram presos Antonio Carlos Martins e Flavio Martins. Os dois trabalham em uma empresa de contabilidade em Bandeirantes (PR) e teriam prestado assessoria aos institutos Gálatas e Atlântico. Também foi preso o assessor do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e sobrinho de Antonio Carlos Martins, Alessandro Martins. Outra prisão foi a de Gilberto Martins, funcionário da Secretaria Municipal de Educação e companheiro do ex-diretor do Sindiserv, Marcos Ratto. Ele teria recebido três pagamentos em cheque de diretoresdos institutos. A Operação Antissepsia resultou ainda na prisão do ex-procurador do município, Fidelis Canguçu – exonerado do cargo após a prisão; a esposa dele, Joelma Canguçu; além dos presidentes e empresários ligados aos institutos Gálatas e Atlântico.


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pção e desvio de dinheiro público da Saúde em Londrina

política

pressão alta

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obra pública ponto final 05/2011 20

O que impede o “Quarteirão da Cultura” de ficar pronto? Prevista para ser entregue em 2008, a obra ainda não tem data de conclusão


obra pública Rodrigo Fernando Projetado para ser o centro cultural de Apucarana, o “Quarteirão da Cultura” começou a ser construído há 4 anos e está emperrado há dois. Burocracia e a quebra de contrato - por parte da empreiteira - fazem a construção se arrastar. Segundo promessa do ex-prefeito Valter Aparecido Pegorer (PMDB), a obra era para ser entregue em 2008, porém, até hoje, apenas metade foi concluída. O “Quarteirão”, na verdade, é um prédio de 1.584 metros quadrados divididos em quatro pavimentos e prevê a concentração de várias atividades culturais (veja Box). A EFER Construções LTDA., empreiteira vencedora da licitação no valor de R$ 909 mil, se comprometeu a entregar a construção pronta em duzentos e quarenta dias. Mas depois de sucessivos pedidos de adiamentos de prazo, a Prefeitura optou por cancelar o contrato, pois considerou a empresa inapta para concluir a obra. Após o rompimento do contrato, a prédio começou a ser analisada pelo Paranacidade, órgão estadual responsável por autorizar a liberação do financiamento para a reforma. Desde o início da revisão, houve a paralisação do projeto. “A obra está 90% por

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Obra do “Quarteirão da Cultura” está parada há mais de 2 anos

O terceiro andar com espaço previsto para sala de administração, almoxarifado e museu do cinema

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obra sumário pública

cento terminada em termos de infraestrutura, mas como o que falta é caro, nós dizemos que está 50% pronta”, diz a engenheira civil e fiscal do projeto, Larissa Denobi Domingos. A diretora-presidente do Idepplan, Instituto de Desenvolvimento Pesquisa e Planejamento de Apucarana, Lara Torres, diz que “a retomada da obra depende do Paranacidade”. O vereador Sebastião Ferreira Martins Júnior (PDT), o Júnior da Femac, entrou com um requerimento pedindo a análise da atual situação da o construção,

para ele, o motivo da demora é outro: “o Quarteirão da Cultura é um símbolo de obra eleitoreira”. Segundo o vereador, “a planta do projeto já foi usada com objetivo eleitoreiro na campanha de 2008 e a entrega será usada na próxima eleição”. Lara Torres nega que o Quarteirão tenha interesse político “não há intenção de arrastar a obra, nós queremos terminar o quanto antes”. Eleitoreira ou não, a obra que era para ser entregue em duzentos e quarenta dias, está sem concluir há mais de três anos

depois. Além da demora para a entrega do projeto, Martins Júnior ressalta que “faltou comunicar a população, de forma clara, as razões desse atraso”. Torres explica que “falta a liberação do projeto pelo Paranacidade, fazer nova licitação, para depois retomarmos a construção”. Sem poder precisar o tempo da liberação pelo órgão estadual, o Idepplan não tem uma data para a conclusão do “Quarteirão da Cultura”. Mas a partir da autorização, Torres diz que, “entre licitação a e entrega do Quarteirão irá demorar uns seis meses”.

Larissa Denobi Domingos, engenheira civil e fiscal do “Quarteirão”

Lara Torres, diretora-presidente do Idepplan: “não há intenção de arrastar a obra, nós queremos terminar o quanto antes”

Para o vereador Sebastião Ferreira Martins Júnior (PDT) “o Quarteirão da Cultura é um símbolo de obra eleitoreira”

“Quarteirão” se tornou abrigo de pombos Em visita as obras do “Quarteirão da Cultura”, é possível ver um bom projeto, amplo e diversificado, e também o mal que faz a uma construção ficar tanto tempo parada. A falta de vidros fez o local ser invadido por alguns pombos que entram por buracos nas telas que foram colocadas justamente para evitá-los. No segundo e terceiro piso o chão ganhou uma crosta de fezes de pombos. No segundo pavimento havia até um pássaro morto. Quanto a conclusão do “Quarteirão”, Junior da Femac e Lara Torres garantiram empenho para que o projeto saia o quanto antes. Mas a população parece não se importar com o abandono do projeto, fora as raras notícias nos jornais da cidade, o prédio inacabado parece ser invisível.

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O Projeto

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O projeto arquitetônico prevê hall, centro cultural, local para informações ao visitante, lavabo e banheiro. O primeiro pavimento abriga biblioteca, escritório, café, balcão de atendimento e banheiros. No segundo piso, salas multiusos e exposições temporárias e banheiros. O terceiro andar tem sala para a administração, almoxarifado e museu do cinema. No terraço, café e hall cobertos, além de um deck e passarelas de madeira. O projeto também traz elevador e banheiros com acesso para deficientes físicos. No térreo existe, em funcionamento, um cinema público, além de uma chopperia e uma livraria administradas pela iniciativa privada.

segundo piso, onde ficará salas multiusos e exposições temporárias


Utopia amixám avitinfied

da

máxima definitiva

Utopia Guilherme Santana Divulgação


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Falta de professores na UEL é problema recorrente

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Há 15 anos, dois meses e duas semanas (situações problemáticas requerem certo exagero), a Folha de Londrina destacava no caderno Paraná (atual editoria de Cidades): “Alunos [da UEL] exigem contratação de docentes”. O problema já se mostra mais que crônico, é genético. Praticamente intrínseco e correndo nas veias de uma Universidade que já viveu seu momento áureo, assim como outras. Um império que caiu, e a cada ano tenta se levantar, sem muito sucesso. Isso aqui não é estourar a boca do balão ou cuspir no prato onde comeu (escolha de maneira cômoda a frase de efeito que mais lhe agrada). A Universidade tem sim seus potenciais e muito do que se orgulhar, mas também precisa reconhecer as falhas de suas estruturas, tanto física, quanto acadêmica. Não existem máximas definitivas. Se há uma década e meia, os problemas são similares aos de hoje, o trabalho feito na instituição anteriormente, merece ganhar novos olhares, para quem sabe, alguém conseguir agregar valores onde o aproveitamento não foi ideal. A dificuldade em completar o corpo docente é uma eterna reticência na história da Universidade, façamos a retrospectiva do caminho trilhado por essa velha, porém, futura e sempre problemática: 1996 - Protesto dos alunos Foi um dos primeiros momentos em que a situação realmente se tornou problemática. Em 1996, o Centro Acadêmico de Comunicação (antigamente chamado de Frei Caneca) levou um protesto contra falta de professores do Centro de Educação Comunicação e Artes (CECA) até a Reitoria – que, diga-se de passagem, são os lados opostos da UEL. Na época, o chefe de Departamento de Comunicação Social, Waldyr Gutierrez Fortes, explicou a falta de docentes como consequência da transição dos sistema de créditos para o sistema atual. A crise de 96 deixou 28 disciplinas descobertas, significnado 40% do total ofertado, sendo que 19 delas possuíam apenas um aluno matriculado. Os testes seletivos, assim como os produtos básicos de higiene, livros na biblioteca e equipamentos, não foram suficientes para suprir a demanda exigida naquele momento. O ex-chefe de

departamento justificou que parte dos atrasos, se devia a burocracia (já ficou “démodé” chamar de burrocracia, então permaneçamos como estamos) para a contratação de profissionais. Outro problema, que, aliás, em breve pode estourar novamente em 2011, era a desmotivação dos baixos salários praticados. Outros cursos que mais sofreram pela falta de campanha salarial e o sistema de créditos foram os de Engenharia Civil, Enfermagem e Medicina. Em entrevista na época, o ex-coordenador de Recursos Humanos (atualmente chamado de pró-reitor) da UEL, Antônio Benedito Guirro, apontou como fator, também, a falta de profissionais especializados em determinadas áreas. 2002 - Greve dos funcionários A UEL enfrentou outro problema. E não foram os alunos que agiram em prol da educação. Foram os próprios funcionários que resolveram entrar em greve. A Universidade ficou parada por 169 dias – a maior greve já realizada na instituição.


Divulgação

Fissuras de um império

capa

A situação, infelizmente, para nós alunos é extremamente crítica. Algumas disciplinas iniciaram suas atividades entre maio e junho. A contratação de professores é pura burocracia. Isso quando outros fantasmas não assombram a UEL. Os motivos para se manter um movimento estudantil forte é necessário, puro e simplesmente para combater essas fissuras. As eleições de 2010 também atrapalharam o processo de nomeação. O governador do Paraná, quando está prestes a sair do cargo, não assina nada, pois tudo o que for autorizado, pode ser contestado pela próxima gestão. E ela, por sua vez, avalia tudo que está em sua mesa quando chega, antes de autorizar qualquer atividade. Existem também aqueles momentos de utopia, de que apenas um médico dê conta de fazer todas as avaliações necessárias na cidade. Isso quando, como aconteceu no passado, o médico não entra em licença médica e paralisa todo o sistema (praticamente o desfecho de uma piada, não?). O processo de contratação se afunila também na assinatura das nomeações, são apenas duas pessoas admitindo docentes do Paraná inteiro. Todo o desenvolvimento da história de greve e protestos na UEL aponta para um problema constante, cujo causador vem em ciclos: ora questões salariais, quando não a burocracia, e às vezes greve Os docentes, junto dos funcionários, fizeram gre- dos alunos, alternadas pelas dos professores. Essa ve por questões salariais e só retomaram as ativida- inconstância mostra que não existem máximas defides quando os sindicatos entraram em acordo com o nitivas no meio acadêmico e em sua base construída Governo do Estado com média de reajuste de 30% até então. O que foi arquitetado anteriormente pode em cima dos salários. E o ano letivo só começou em apresentar fissuras e merece atenção de quem está junho do mesmo ano, atrasando todo o calendário. por vir.

UEL em dados Conforme dados disponibilizados pela Pró-Reitoria de Recursos Humanos (PRORH), a UEL admitiu em 2010, 189 docentes temporários, e mais 143 em 2011. Atualmente são 298 professores temporários e 1350 efetivos (representando um total de 1648). A PRORH tramitou desde março de 2010, 80 processos de nomeação, dos quais 52 (já houve um desistente) aguardam assinatura do governador do Paraná BetoRicha.

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2011 - Burocracia e os problemas contínuos Os profissionais ainda lutam por salários melhores e valorização da educação em Londrina. Mas o grande fantasma da vez é o processo de contratação (que sempre tarde, às vezes falha e nunca acaba). O pró-reitor de Recursos Humanos Luiz Fernando, explica que o grande vilão da história é, de fato, a burocracia: “A contratação dos professores efetivos demoram cerca de um ano para ser tramitada e efetivada a nomeação. No caso dos professores temporários – onde o processo jurídico é totalmente interno – demora-se cerca de 60 dias para a contratação”.

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A volta de quem foi

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O professor Laureano Benazzi, professor temporário do Departamento de Comunicação, participou da greve de 1996 realizada pelo Centro Acadêmico, e relata momentos da época em que era aluno e como eles lidavam com a falta de professores: Em sua época como estudante, como era organizado o movimento estudantil? Tive a oportunidade de vivenciar várias fases do movimento estudantil na UEL. O diagnóstico que faço é que os movimentos estudantis são feitos de ciclos. A organização estudantil sempre foi um problema. O que acontece, na prática é a falta de sucessão, ou então o antagonismo de grupos que se sucedem. Por outro lado, acredito que independentemente da época, se há um problema, como a falta de professores, os estudantes se mobilizam. Infelizmente a população vive um momento de descrença no poder público, perdeu-se a credibilidade no voto. É escândalo atrás de escândalo, seja na esfera federal, estadual ou municipal. E claro que isso interfere no modo com que as pessoas enxergam a política e acabam se afastando dela. E o Centro Acadêmico de Comunicação? O CA de Comunicação sempre foi combativo. Sempre lutou quando necessário. Sempre reuniu em seu entorno os estudantes para reivindicar melhorias, seja relativo à falta ou ineficiência de professores, melhorias técnicas, laboratórios etc. Vocês tiveram problemas com a falta de professores? (Risos...) Problemas com professores em instituições públicas são crônicos. Quando entrei na UEL, um dos primeiros embates que presenciei é que havia um déficit de professores. Lembro-me que muitos estavam de licença para o mestrado (na época, a grande

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maioria era apenas graduado), resultando na falta de professores em sala de aula. Por outro lado havia falta de comprometimento de alguns. Em 1995 não era só o curso de Comunicação, mas toda a UEL com problemas de falta de professores. O que vocês faziam para combater essa situação? A saída foi fazer passeatas, com “arrastão” pelas salas, por todos os blocos do campus, convocando os estudantes. Pelas origens esquerdistas do movimento estudantil, as ações eram objetivas, com finalidade de atrair a imprensa. E isso certamente repercutia na Reitoria e no Governo do Estado. E se tem coisa que político não gosta é de aparecer na mídia com um grupo de estudantes fazendo barulho devido à morosidade da administração.

O protesto d Hoje, ninguém está vestido de preto, portando cartazes ou caminhando em direção a Reitoria. A forma de protestar (não sabemos ainda sua efetividade) mudou. Todos em casa, com roupas confortáveis, sozinhos e munidos de seus computadores. A geração Y, conhecida pela busca da autorealização, indivíduos multitarefas, capazes de escrever algo que requer atenção enquanto ouve música, olha a página do Facebook, conversa com alguém pelo MSN e ainda usa o Twitter para dizer alguma coisa engraçada que aconteceu no faculdade. Fazem parte dela os nascidos entre 1980 e 1993, aproximadamente. Eles são capazes de usar as redes sociais para pesquisas, mobilizações e se comunicar diretamente com quem quer reclamar sobre algo. No caso da falta de professores na


da geração y UEL, alguns alunos mandaram mensagens para o Twitter do atual governador do Paraná, Beto Richa (@betoricha), reclamando da situação do corpo docente. Esta nova ferramenta de movimento social permite uma interação antes nunca existente na história da política, pelo menos não a possibilidade do contato diário e direto com quem está no poder. Para a sorte deles, não são todos os políticos que mantêm uma conta no Twitter, mas muitos usaram na época de eleição como instrumento de promoção de sua campanha. A estudante de Jornalismo Vanessa Freixo participou junto do Centro Acadêmico de Comunicação da UEL com o tweet: “�������� @betoricha, nomeie nossos professores! Comunicação #UEL está sem docentes! #assinaricha”, na campanha para nomeação dos professores.

A burocracia

O pró-reitor de Recursos Humanos (PRORH) da UEL explica como é a tramitação para que um professor seja nomeado em uma instituição pública: 1) Necessidade da vaga (em qual departamento será alocada e disciplina); 2) Demanda do CECA é uma coisa, da Universidade inteira é outra; 3) Divulgação, abertura de edital, processo seletivo quando houver um número de vagas considerável a ser preenchido (40 departamentos); 4) Aprovações de conselhos internos da UEL; 5) Prazos de inscrição, homologação das inscrições, vencimento de taxas, realização do concurso e avaliações das bancas; 6) Avaliação física e exames médicos (onde o sistema é estrangulado – é um médico atendendo para todas as contratações estudais da cidade); 7) Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, para averiguação do acordo firmado entre instituição e Governo; 8) Secretaria de Estado da Administração e da Previdência (SEAP) para avaliar se o processo se enquadra nos moldes necessários; 9) Secretaria da Fazenda do Paraná, que verifica se há recursos no orçamento da instituição requerente; 10) Casa Civil, responsável pelos trâmites jurídicos do documento. Esses são os dez principais momentos pelos quais passam o processo de nomeação de um professor para a UEL. Toda essa mobilização entre necessidade da vaga e efetivação do docente dura, segundo o pró-reitor, aproximandamente um ano. Imagina se o cidadão desiste da vaga no meio do caminho? Que que você acha que acontece? Começa toda a tramitação nos órgãos do governo novamente.

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Guilherme Santana

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EDUCAÇÃO

Ensino superior tecnológico cresce, mas ainda representa apenas 11,4%

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O Brasil forma oito vezes mais tecnólogos que há nove anos, porém eles ainda significam apenas 11,4% dos matriculados no ensino superior Iuri Furukita que ainda exigem bacharelados, mesmo tendo atribuições para Dos estudantes matriculados no ensino superior as quais tecnólogos estão capacitados. José Garcia afirma que brasileiro, apenas 11,4% estão em cursos técnicos. Na o mercado privado aceita bem diplomas de tecnólogos, “mitos lista de 34 países da Organização para a Cooperação e e preconceitos estão caindo. A categoria também conseguiu reDesenvolvimento Econômico (OCDE), essa é a menor conhecimento do Conselho Regional de Engenharia Arquitetura porcentagem. Na outra ponta estão Finlândia (82%), e Agronomia (CREA) e assim poderá assinar projetos, desde que Alemanha (72%), Coréia do Sul (65%), Suíça (65%) e tenham feito cursos reconhecidos”. Porém, fazer projetos não é o EUA (60%). Segundo o Instituto Nacional de Estudos foco da formação, principalmente porque os estudos são curtos e e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o aplicados. Assim, os estudantes não ganham visão geral ou aprenúmero de estudantes em cursos de tecnólogos aumen- ndem cálculos superiores, necessário para projetos abrangentes. tou oito vezes nos últimos nove anos, ganhando espaço e Para a estudante do curso de Tecnologia em Alimentos da reconhecimento no mercado de trabalho. Porém, mesmo Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), Marisaltando de 60 mil, em 2002, para 500 ana Souza, os engenheiros terão sempre seu “Se nos EUA, 70% espaço, o maior efeito dos tecnólogos no mil matriculados em 2010, os tecnólogos ainda estão longe de se tormercado será subir o salário e qualificação dos egressos do nar a base do ensino de terceiro grau. dos funcionários de médio escalão. Ela escolensino médio A maior característica do ensino heu essa formação por ser mais rápido para continuam seus técnico é a especificidade naquilo que quem precisar entrar no mercado de trabalho. o mercado demanda, seu objetivo é estudos, é porque “Quando saí do ensino médio não tinha conqualificar a mão-de-obra para detertato com o mercado de trabalho, suas áreas 60% deles são minadas áreas ou serviços. Com curta e funções. Achei que antes de escolher uma duração e grade curricular voltada encaminhados para graduação era mais interessante descobrir vopara a prática, o ensino técnico é hoje o ensino técnico.” cações”, explica Mariana, “Agora, que sei reconhecido pelo mercado de trabo que quero fazer, pretendo continuar meus alho. De acordo com o coordenador do curso de Eletro- estudos, mas posso partir direto para um mestrado, ganmecânica do Serviço Nacional de Aprendizagem Indus- hando as mesmas possibilidades de quem fez bacharelado”. trial (SENAI) em Londrina, Rômulo Nicolau, cerca de “O objetivo do ensino tecnólogo não é procurar competir 95% de seus alunos já concluem os estudos empregados. com os bacharelados e licenciaturas, afinal de contas, nem todo “Isso acontece porque o ensino técnico prepara para a rotina de trabalho. Nossos alunos não precisam passar Dados: INEP 16% por um período de adaptação”, acredita o coordenador. 16 Os cursos técnicos profissionalizantes podem ser in14 terligados ao diploma de ensino médio ou complementar 12% o currículo de quem já concluiu. No nível superior, há 12 duas opções: os seqüenciais permitem apenas especial10 izações stricto sensu (especializações) e os tecnólogos, 08 que permitem especialização stricto sensu e lato sensu 6% (mestrado e doutorado). José Paulo Garcia, presidente do 06 Sindicato dos Tecnólogos de São Paulo (SINTESP), ex04 plica que o ensino tecnólogo tem apenas 40 anos, sendo 02 extremamente recente quando comparado com tradicionais cursos de graduação. Ele acredita que o crescimento 0 deve continuar, “tudo que é novidade precisa ganhar seu Porcentual de matrículados no nível superior por curso espaço dia após dia, a predominância de outras graduaAdministração Direito Pedagogia ções é um aspecto cultural que está mudando no Brasil”. A maior batalha da categoria atualmente é tornar o Os dois cursos mais populares somam 28% dos diploma aceito em alguns concursos de nível superior matrículados no ensino superior.


Estudantes do ensino superior matriculado em cursos técnicos (em porcentagem)

0

Dados: OCDE

82% 65%

65%

60%

11% Finlândia

Alemanha

Coreia

Suíça

EUA

EDUCAÇÃO

72%

Brasil

mundo quer estudar filósofos alemães”, comenta o presidente da tade ou vocação para estudar, mas por pressão social, SINTESP. No livro A ignorância custa o mundo, o economista vê-se na necessidade de ingressar em uma universiespecializado em pesquisas educacionais, Gustavo Ioschpe, dade”. Santos acredita que o ensino tecnológico pode analisa que “o sistema de ensino superior público brasileiro foi influenciar nessa distorção, “trata-se de uma questão criado em uma época em que o ensino universitário era destinado cultural, mas é possível que a universidade seja mais à formação de uma pequena elite intelectual”. Para o autor essa relacionada à pesquisa científica e geração de conhecaracterística ainda vigora, trazendo estudantes desinteressados cimento com o desenvolvimento do ensino técnico”. ou sem vocação, resultando em universidades longe das 100 Ao sair do ensino médio, Leandro Moreira Branco melhores do mundo e profissionais desqualificados no mercado. fez um curso de qualificação profissional na área de Ioschpe também analisa que “a popularidade dos bacharela- Metal Mecânica. Conseguiu o emprego de torneiro dos e licenciaturas é também reflexo da forte economia terci- mecânico em uma fábrica londrinense e partiu para aria, do baixo nível de industrialização e pequena capacidade de o bacharelado em educação física, “queria ter um diinovação tecnologia da indústria brasileira”. ploma superior, mas quando terA tecnologia de ponta necessita de trabal- “O objetivo do ensino minei o curso, percebi que não hadores com alto grau de formação em todo compensaria trocar minha cartecnólogo não é o organograma da fábrica. “No Brasil prereira de oito anos para começar competir com domina a indústria de base, com produtos de outra com o diploma”. Para conbacharelados e baixo valor agregado. Assim grande parte do tinuar em sua área, mas melhoquadro de funcionários não precisa ter qualilicenciaturas, afinal rar sua qualificação, ele pretende ficação específica ou de nível superior. Mu- de contas, nem todo formar-se tecnólogo, “para isso, dar esse quadro é também mudar a qualidade eu teria de largar meu emprego de nossa produção”, escreve o economista. mundo quer estudar e mudar de cidade, pois não há O pró-reitor da Universidade Estadual de filósofos alemães” curso superior em tecnologia na Londrina (UEL), Marcelo Paglio Oliveira, minha área aqui em Londrina”. observa uma distorção na função da universidade brasileira na O ex-presidente do INEP, Reynaldo Fernandes, insociedade. “Não há pesquisas concretas, mas percebemos que dica que o número de estudantes ingressando no nível a principal motivação dos ingressantes é a formação de profis- superior, 25% dos egressos do médio, ainda é muito sional. Mais do que isso, há estudantes que não possuem von- baixo. "Estamos muito longe da média dos países desenvolvidos. Com o boom de faculdades e centros universitários particulares, surgiu a idéia de que Dados: INEP e OCDE 90% muita gente vai para a faculdade no Brasil. Isso não 90 é correto, quando comparada internacionalmente", 80 73,8% diz. Ele, assim como as ações do Ministério da Edu70% 70 cação (MEC), defende a criação e popularização de 60 cursos de bacharelados e licenciaturas, não só pelo sistema privado, mas também no sistema público. 50 42% Gustavo Ioschpe discorda. Para ele, a prio40 ridade é investir em instituições de ensino técnico. 28% 30 25% 22,5% “Se nos Estados Unidos, 70% dos egressos do en20 16% sino médio continuam seus estudos, é porque 60% 10 deles são encaminhados para o ensino técnico. Isso 2,5% 0 significa que apenas 28% de uma geração fazem Ensino superior Ensino superior Ensino bacharelados e licenciaturas. No Brasil, são 22,5% acadêmico técnico superior ingressando em universidades, faculdades e cenDestino dos egressos do ensino médio em porcetagem tros universitários. Isso não é muito longe dos 28%. Mas em compensação, o Brasil tem 2,5% nos cursos Finlândia Brasil Estados Unidos de tecnólogo e eles 42%. É quase 17 vezes mais”.

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Minha CASA, Minha DĂ?VIDA


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Guilherme Costa O sonho da casa própria está mais próximo das classes C e D. Milhares de pessoas passaram pelos estandes da 6° Feira de Imóveis de Londrina, que aconteceu de 13 a 15 de maio, no Centro de Eventos do Shopping Catuaí Londrina, com um objetivo em comum: acabar com o pesadelo do aluguel. A organização do evento estima que pelo menos 15 mil pessoas tenham visitado a feira e que os negócios gerados cheguem à cifra dos 100 milhões de reais. Segundo o presidente do Sincil (Sindicato dos Corretores de Imóveis de Londrina e Região) Marco Antonio Bacarin, durante a Feira, a compra do imóvel é facilitada porque o evento reúne em um único espaço construtoras, corretores e agentes de financiamento. Isso poupa tempo e proporciona uma gama maior de ofertas para o comprador. Para evitar cair em um mau negócio, Bacarin destaca a importância da assessoria de um profissional, no caso, o corretor credenciado. “Quando se está colocando seu capital em risco, investindo em um imóvel, a legislação está do lado do consumidor, e é exatamente a presença do corretor que vai te orientar. Isso vai fazer a diferença no caso de alguma coisa ruim acontecer”. Ele afirma ainda que não existe uma região específica da cidade onde seja mais vantajoso investir. “Tudo depende da linha de negócio em que você pretende entrar. Para maiores investidores, é claro que a Gleba Palhano, por exemplo, é muito visada. Mas para a maioria dos compradores que estão adquirindo o primeiro imóvel ou que se encaixam no Programa Minha Casa Minha Vida, os novos condomínios nas Zonas Norte e Leste estão se configurando como verdadeiras cidades à parte”. As negociações e o comprometimento em dívidas e financiamentos ficam ainda mais arriscados com a entrada dos jovens no setor imobiliário. Eles acabaram de ingressar no mercado de trabalho, mas já estão investindo em um imóvel próprio. Marcelo Topjian, diretor comercial da construtora Topbens, participa da feira há três anos e afirma que 70% dos clientes estão na faixa de 19 a 40 anos. As linhas de negócios mais procuradas variam entre 60 e 120 mil reais. É o caso dos jovens Murilo Ferreira da Silva e Henriqueta

Azevedo Machado. Eles têm apenas 23 anos e já pensam em se casar. Porém, uma condição imposta por ambos é conseguir um financiamento para comprar uma casa antes. “Casar morando de aluguel, nem pensar”, brincou Murilo. O casal Samanta Fernandes Rocha e Oscar Rodrigues de Souza também visitou a feira na esperança de um bom negócio. Ela é professora e ele trabalha como vigilante. Juntos há cinco anos, esperam finalmente realizar o sonho da casa própria. “Eu quero ver se é verdade mesmo isso que estão falando: que é só chegar aqui, dar uma entrada, usar o Minha Casa Minha Vida e o resto eles parcelam. Eu não estou acreditando muito, mas vamos ver se é verdade”, afirmou Souza. O casal procura por uma casa de três quartos, na zona leste da cidade, onde a família da mãe dela mora. Assim que conseguirem seu próprio espaço, pensam em um filho. “A casa própria significa parar de dar dinheiro para os outros, é investir em algo que é seu. Quando você mora de aluguel fica sujeito a um valor que aumenta todo ano. Ao fim do contrato, pode ser que peçam que você saia, nós já ficamos sujeitos a esse tipo de situação”, lembrou Samanta. O casal afirma que sacrificaria até mais que 50 por cento do orçamento para ter o próprio espaço para morar. “Tirando a água, luz, telefone e mercado, o resto nós estaríamos dispostos a pagar para ter algo que é nosso”. Mas se para imóveis novos, as promessas são grandes, a situação é bem diferente para quem quer crédito para construir. O delegado William Soares e a advogada Gislene Barroso Soares já têm um terreno e visitaram a Feira à procura de facilidades para construir a casa, mas acabaram se decepcionando: “Eu achei que teria algum diferencial aqui, mas acabamos na mesma burocracia e nas mesmas complicações que imaginavamos e que já tinha encontrado antes. Tem que ter aval de engenheiro e as taxas são exorbitantes. Enfim, eu estou vendo que vou ter que procurar outros meios para construir”. Na 6° Feira de Imóveis foram negociados imóveis de todas as faixas de renda e os financiamentos (eram) efetuados principalmente com programas de crédito como o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), o Minha Casa Minha Vida – programa de subsídios do governo para a habitação – e recursos vindos de fundos de poupança.


moradia economia moda

Casar morando de aluguel, NEM PENSAR.

Eu quero ver se é verdade mesmo isso que estão falando. Eu não estou acreditando muito, mas vamos ver se é verdade.

Durante a visita à Feira, a equipe da Ponto Final foi abordada diversas vezes por promotores dos estandes das construtoras oferecendo um imóvel novo. Resolvemos fazer uma simulação para constatar se a negociação realmente vale a pena. O imóvel oferecido em questão é uma casa geminada em um condomínio fechado na Zona Norte da cidade, com prazo de entrega para daqui a dois meses. A casa tem 55 m² de área construída, 25 m² de varanda e duas vagas na garagem. São três quartos e um banheiro. É um condomínio horizontal fechado, portaria e ronda de vigilância 24 horas por dia e área de lazer com quadra poliesportiva. A taxa de condomínio é de 70 reais por mês e os relógios de água, luz e gás são individuais. O valor do imóvel é de 110 mil reais, mas na feira ele era oferecido por 105 mil reais. Mediante uma entrada à vista de R$5.775,22 (dinheiro que o comprador teria que ter de um

fundo de poupança) à construtora, outra entrada de R$ 8.994,21 à agência financiadora (no caso a Caixa Econômica Federal, dinheiro que poderia ser retirado do FGTS), haveria um subsídio de R$ 7.242,00 do Programa Minha Casa, Minha Vida (de acordo com idade, renda comprovada e média de tempo de trabalho registro em carteira). O restante de R$ 83.044,98 seria financiado em 300 meses em parcelas decrescentes com juros efetivos de 4,5% ao ano. No fim das contas, a primeira parcela sairia por R$599,98 e última prestação seria de R$289,61. O promotor que fez a simulação explicou que esse sistema de parcelas decrescentes é o mais procurado porque depois de certo tempo, o comprador poderá pagar mais de uma parcela ao mês. Ele também lembrou que o FGTS pode ser liberado todo ano para o pagamento de mais parcelas, o que diminui consideravelmente o tempo total do financiamento.

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Quanto Custa...

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direitos humanos

Bras apro união hom

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Agora é lei: STF reconhece a r sexo, garantindo direitos como

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Ione Horácio O Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma decisão histórica ao reconhecer a existência da união estável entre companheiros do mesmo sexo. Por unanimidade, os ministros definiram que as uniões homossexuais configuram agora uma entidade familiar. A partir de agora, casais gays passarão a ter direitos previdenciários, partilhar bens e herança, assim como fazer declaração conjunta de Imposto de Renda e adotar filhos. Os princípios que embasaram essa decisão do Supremo são os da dignidade humana e da igualdade. A Constituição trata da união entre homem e mulher, mas não proíbe as demais formas de família. Onde não se pode haver uma redução neste conceito, até porque existem famílias formadas por pais sem filhos, famílias só com irmãos, entre outros arranjos familiares. Os tempos são outros e a sociedade tem que acompanhar estas mudanças. Mas na prática o que representa essa mudança na lei na vida das pessoas? Para a advogada Renata, 23 anos, a aprovação da lei homoafetiva é o começo de uma grande coisa que tem que acontecer ainda. Ela cita como exemplo, que em uma situação de preconceito racial, há a criminalização do ato se houver denúncia.`` As coisas nem sempre acontecem de forma escancarada , mas o Brasil ainda é um país muito preconceituoso``, afirma. Em sua última entrevista de emprego, há poucas semanas, quando perguntada pelo entrevistador se haveria problemas com seu companheiro se precisassem se mudar de cidade, Renata se deparou com uma mudança repentina e brusca no rumo da conversa ao responder que não, não haveria problema com a sua companheira. “A partir daí notei


direitos humanos

sil ova moafetiva um ar de reprovação e preconceito não declarado”. Jéssica Cibeli dos Santos, 22 anos, comerciária, também já passou por situações assim. Ao voltar do trabalho com a namorada, o casal foi abordado por um policial militar no terminal urbano de Londrina. Ele pediu que elas parassem de se abraçar. Segundo ele, uma senhora com sua filha tinha se sentido incomodada ao ver a cena. Situações como esta também acontecem em casa, onde nem sempre a família é compreensiva com as escolhas afetivas de seus filhos. O estudante Rodrigo, 19 anos, gostaria de se abrir e falar de seus sentimentos com a mãe, mas ela finge não perceber, então o estudante já nem sente mais vontade e necessidade de revelar as suas escolhas. Mesmo com o avanço na aprovação da lei homoafetiva, ainda há muito a ser feito para que todos possam ser respeitados e mostrar seus modos de vida. Personalidades políticas como o Deputado Jair Bolsonaro (PP), disseminam o preconceito ao expressar em suas aparições públicas repúdio e incompreensão ao direito das minorias, como quando disse em um programa de televisão em rede nacional, que não iria discutir promiscuidade com a cantora Preta Gil. Ela havia apenas perguntado o que ele faria se um de seus filhos namorasse uma negra. Além desse episódio de clara demonstração racista, o deputado também é contra o kit gay que é um grupo de materiais didáticos que tem por objetivo combater posturas homofóbicas dentro do ambiente escolar. Mais de 20 países de todo o mundo reconheceram a união civil de homossexuais antes do Brasil, incluindo o Uruguai. O reconhecimento da união estável é um passo para erradicar de vez a intolerância e o preconceito na sociedade brasileira.

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relação entre pessoas do mesmo o a partilha de bens

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A nova velha polêmica de Londr o horário do comércio no centro

Calçadão de Londrina e sua movimentação durante o período da manhã

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Courtney Love sobre a pessoas” e não é sinôn


Naiá Aiello O projeto Novo Código de Posturas do Município, que tramita na Câmara Municipal de Londrina desde junho de 2010, já causa um impasse entre os principais envolvidos: comerciantes, trabalhadores do setor e consumidores. O projeto, que prevê a alteração do horário de funcionamento do comércio da cidade está longe de agradar a todos. De um lado, a Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL), os consumidores e também os comerciantes da cidade, que apóiam o texto do projeto 172/2010 e são favoráveis à ampliação do horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais de Londrina. De outro lado, o Sindicato dos Empregados no Comércio de Londrina (Sindecolon), o vereador Jacks Dias (PT) e a maioria dos funcionários do comércio da cidade, que desaprovam o projeto. O texto original do Novo Código de Posturas prevê, além de outras mudanças, ampliar o horário do comércio de Londrina, que funcionaria das 8h às 20h, de segunda a sábado, um horário bem diferente do praticado hoje na cidade. Atualmente, o comércio em Londrina funciona de segunda a sexta, das 9h às 18h e, aos sábados, das 9h às 13h, exceto pelos dois primeiros sábados do mês, cujo horário é flexível e o comércio funciona das 9h às 18h. Principal defensor da ampliação do horário do comércio, o presidente da ACIL, Nivaldo Benvenho, justifica a necessidade da flexibilização a partir da mudança do comportamento dos clientes. “O comércio vive em função de atender o consumidor. E se ele mudou, os sistemas de shoppings, supermercados, taxis e restaurantes que funcionam 24h por dia estão aí, o comércio deve se adaptar ao consumidor, não é o consumidor que deve se adaptar ao comércio”.

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a filha, Frances Bean: ela está cercada de “más nimo de “crueldade”

Dividindo opiniões, flexibilização ainda é dúvida na cidade

comércio

rina: o

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comércio

“Querem flexibilizar, fazer uma ‘receita de bolo’ porque apenas alguns comerciantes vão levar vantagem, mas outros não vão ter vantagem alguma. E também a maioria dos trabalhadores não vai levar vantagem alguma com a mudança do horário” (Manoel Teodoro da Silva – Vice-presidente do Sindescon) Havan colocou funcionários para protestarem contra os horários do comércio

Fotos: Bonde

O consumidor, realmente, mudou seus hábitos. Os horários personalizados atraem uma grande parcela da população, que hoje opta pelos shoppings quando vai às compras. Se a mudança proposta para o atendimento no comércio pode atrair consumidores do shopping para o centro da cidade? Para Taísa Bastos dos Reis, estudante de enfermagem, a mudança do horário seria boa para quem tem compromisso o dia todo e pessoas que só saem do trabalho ou da faculdade quando o comércio já está fechado. “Com certeza, as pessoas freqüentariam também o centro. O texto substitutivo do projeto 172/2010, apresentado pelo vereador Jacks Dias (PT), defende que não sejam realizadas mudanças no expediente do comércio do centro de Londrina, que continuaria como está. Para o vereador, os horários estabelecidos atendem bem a população, não prejudicam os trabalhadores e, por este motivo, não há a necessidade da flexibilização obrigatória para todo o comércio. “Os comerciantes que hoje abrem além das dezoito horas conseguiram, apenas com negociação entre os

sindicatos, sem necessidade de mudança na lei”, explica. É o caso das lojas Riachuelo, Osmoze e Havan, que, com a negociação, conseguiram aumentar o expediente das lojas desde que houvesse o benefício também do empregado, garantido pelo sindicato. “Para quem quiser abrir até mais tarde, negociar horários diferenciados, o sindicato está à disposição. Se for beneficiar o comerciante, por que não beneficiar também o comerciário? Hora extra, um ticket alimentação diferente. Esses direitos precisam ser garantidos, já que a única moeda de troca do comerciário é sua mão de obra”, justifica Dias. O vice-presidente do Sindecolon, Manoel Teodoro da Silva, segue a mesma linha de Jacks Dias. “Queremos fazer essa flexibilização individualmente, já que existem empresas que tem condições e empresas que não tem para abrir em horários diferenciados e arcar com os custos”. Segundo ele, desde que os patrões paguem o que é de direito dos trabalhadores e façam a negociação devidamente, por meio do sindicato, o horário do comércio é que menos importa.

“Com a flexibilização, vai existir pelo menos uma opção para os comerciantes que quiserem ser beneficiados por ela. Muitas empresas não vão trabalhar até as 20h, a questão que estamos discutindo é a favor da liberdade dos lojistas, a opção que poderiam ter”. (Nivaldo Benvenho – Presidente da ACIL)

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o t o n d o a c r s p e D om c

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Sites de compras coletivas faturam alto para divulgar produtos e serviรงos a baixo custo

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online internet

Promoções de happy hour costumam aumentar o público de bares pela cidade, mas problemas com clientes são muitos

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Fotos: Gabriel Bandeira

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Allan Oliveira e Gabriel Bandeira Comprar pela internet é um fenômeno que tem crescido a cada ano. Os consumidores já se acostumaram a encontrar produtos com preços menores nos sites das grandes redes de vendas no varejo se comparado com os mesmos produtos vendidos nas lojas reais. Acostumados a comprar livros, celulares, eletrodomésticos mais baratos, os clientes têm se surpreendido com os sites de compras coletivas ou clube de compras que ofertam desde um cafezinho, até viagens internacionais com descontos variáveis de 50% à 90%. Esse modelo de negócio é relativamente novo. Surgiu nos Estados Unidos em 2008 e foi ideia do americano Andrew Mason, criador do Groupon, o primeiro site de compras coletivas do mundo. Sediado em Chicago, atualmente é considerado o maior site de compras coletivas com atuação em 29 países, inclusive o Brasil. O Peixe Urbano foi o primeiro site brasileiro do gênero e começou a operar em março de 2010. Foi criado pelo economista Julio Vasconcellos, pelo especialista em ciência da computação Alex Ferraz Tabor e por Letícia Leite, formada em comunicação e marketing. Julio Vasconcellos tem no currículo também a experiência de ter trabalhado no site de relacionamento social Facebook. A partir de

então o número de sites não parou de crescer no país. Estima-se que já existam aproximadamente 1.200 sites de compra coletiva espalhados por várias cidades brasileiras. A mecânica de funcionamento desses sites é simples. Determinado estabelecimento comercial oferta um produto ou serviço com descontos a partir de 50%. A promoção é enviada para todos os e-mails cadastrados no site e também fica disponível na sua página. Para a promoção passar a valer, é necessário um número mínimo de compradores. O período de validade e o número de pessoas que compraram o produto ou serviço são atualizados constantemente. É necessário imprimir o comprovante da compra que será pago no estabelecimento que ofertou o produto. A estratégia é usada pelos comerciantes para divulgar sua marca e produtos à baixo custo, vender mais em dias pouco movimentados, geralmente de segunda à quinta, e atrair novos clientes que normalmente não pagariam o preço normal. O site lucra com a porcentagem sobre as vendas das promoções, que depende da negociação com o comerciante. Já os clientes podem comprar produtos e serviços por um preço mais barato. A cidade de Londrina não ficou de fora do boom dos sites de compra coletiva.


Bruno Messas, fundador e sócio do site Isso Que eu Quero

internet

O garçom entrega a conta. O cliente esbraveja e afirma que não irá pagar nada além do que consta no cupom que adquiriu pela internet. O motivo: 0,90 centavos adicionais do serviço de mesa. Esse é apenas um dos problemas com os quais Renata Silva, gerente de marketing do Balacobar, convive após ofertar promoções em sites de compras coletivas. “Problemas com clientes acontecem bastante. Às vezes, quando a demanda é muito alta, temos dificuldades também com os serviços e cozinha.” Durante o boom das compras coletivas, Renata resolveu apostar na ideia e fechou parceria com vários sites, decisão da qual não demorou muito para se arrepender. “Eram muitos sites que publicavam informações erradas ou demoravam demais para repassar os pagamentos.” Atualmente, a gerente trabalha com apenas dois sites de compras coletivas e com estes afirma ter uma boa experiência. Para Renata, as compras coletivas são uma forma de publicidade alternativa e certeira. ”Se você publica um anúncio no jornal, não é certeza de que o cliente vai vir no bar e, mesmo assim, você tem que pagar o anúncio. Com as compras coletivas, ele compra algo, consome e acaba conhecendo o estabelecimento. Apesar dos problemas, é positivo no geral.” A opinião sobre esta forma alternativa de publicidade é compartilhada por Vilseia Lopes, dona do Star House Cabeleireiros: “Atualmente, está muito difícil manter um salão de beleza em Londrina. Os sites de compras coletivas ajudaram bastante a angariar novos clientes, que, de outra forma, talvez nunca pisassem em meu salão. A oferta de [desconto na] escova progressiva foi um sucesso”, comemora. Vilseia e Renata concordam também que as ofertas não trazem lucro inicialmente, mas apostam na possibilidade de conquistar clientela e oferecer novos produtos e serviços para eles. A discordância aparece quando a pergunta é sobre o futuro dos sites de compras coletivas. Para Renata, o boom foi um modismo e a queda nas vendas já é perceptível: “Antes uma oferta batia facilmente 500 vendas, hoje não. Acredito que só os grandes sites sobreviverão e as vendas irão estagnar em certo patamar.” Para Vilseia, a mecânica é duradoura: “tem que criar ofertas diferentes para continuar atraindo novos clientes”.

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O empresário Bruno Messas, sócio e fundador de um dos primeiros sites da cidade, o Isso Que Eu Quero, disse que há um ano não existia nenhum negócio do gênero. Hoje existem doze em operação. “Quase no mesmo período foram inaugurados três sites. No dia 12 de novembro de 2010 o Isso Que Eu Quero passou a divulgar as promoções. Uma semana antes já tinha sido lançado o Tribo Urbana e uma semana depois passou a operar o Cidade Oferta”. Para competir com os grandes que operam em várias cidades brasileiras, é necessário cobrar porcentagens menores. Normalmente O Groupon, O Peixe Urbano e outros, cobram 50% do valor referente às vendas das promoções, enquanto os sites regionais trabalham com 35%. Esse desconto é um ponto positivo porque se torna atrativo para o comerciante pagar um valor menor de comissão. Outra vantagem é o fato de o comerciante ter um contato pessoal com os donos de um dos sites regionais. Bruno Messas disse ainda, ser possível competir com os grandes devido à crescente busca por esse tipo de divulgação de ofertas por parte dos comerciantes, e a burocrática negociação com os sites que possuem escritórios em outras cidades. Essa nova modalidade de comercio eletrônico já despertou a preocupação em regulamentar o funcionamento dos sites de compra coletiva. Desde o dia 4 de maio, tramita na Câmara dos Deputados o projeto nº 1232/2011, que tem o objetivo de proteger o consumidor. Os sites devem garantir a qualidade e entrega dos serviços prestados e informar na primeira página a localização do escritório da empresa. Existe também a preocupação em exigir o pagamento dos tributos no estado onde o site esteja operando.

s, o t n me i c e l e b a t s e e d a a r d i a ic P publ

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história relicários PONTO FINAL. 06/2011

O chapéu sobre a cabeça

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Gabriel Felipe Oberle Na entrada do caminho para o patrimônio Regina, paro o carro e pergunto para um senhor que está sentado em um banco de madeira em frente a um bar, “onde fica a venda dos pretos?”, no mesmo momento, e com um sorriso no rosto, ele me respondeu “ih meu filho, é lá em cima, naquela casinha de madeira que fica na estrada”. Voltei pelo mesmo caminho e lá no alto, descobri a Venda dos Pretos, a venda fica em um dos cruzamentos da Rodovia Mabio Gonçalves Palhano. Descendo do carro vejo as paredes de madeira, com vários cartazes colados, sobre um pátio de chão batido, tendo como moldura lateral um orelhão instalado dentro de uma pequena construção (esta em alvenaria). Bato na porta e Maria de Fátima atende, mas diz que quem vai conversar é sua mãe, a dona Roxa. Enquanto espero por ela o ambiente

chama muito atenção, as garrafas todas ao fundo apoiadas sobre as tábuas (da mesma textura das paredes), os doces dentro dos vidros, a mesa de sinuca, com cartazes de cervejas penduradas sobre a mesma, quando ela, a dona Roxa, entra pela porta e para atrás do balcão. Então, o simples bar começou a ganhar proporções cada vez maiores com as histórias narradas por aquela senhora carismática. “Aqui o mais importante é o respeito”, é assim que Isolina Maria de Jesus Francisco explica o que mantém a Venda dos Pretos com sua fama até hoje, ou melhor, como dona Roxa explica, ela prefere ser chamada assim. A história do pequeno comércio acompanhou o desenvolvimento da cidade, porém mantevese como nos primeiros anos em que sua família comandava o local. O pai de dona Roxa foi um dos trabalhadores da lavoura no início da ci-

A pequena venda tornou-se um marco histórico com a entrega e alegria de seus donos


história

dade, “ele veio primeiro para colher milho, mas gostou tanto de Londrina que foi buscar a gente para morar aqui”. E assim foi. Todos vieram do interior baiano para o norte paranaense, chegaram até Londrina após muitos dias sobre um caminhão, o pai, a mãe e seus oito filhos. E por mais que o número de filhos possa parecer muito para os parâmetros atuais, sempre aparecia um novo integrante para o círculo familiar. Os pais de dona Roxa adotaram outras dez crianças. “Meu pai era um homem muito bom, sempre que via uma criança precisando de ajuda ele levava pra casa”, comenta dona Roxa com um sorriso no rosto. Há 53 anos, quando a chácara foi comprada, Londrina em nada se assemelhava a metrópole que é hoje. A proprietária lembra apenas que, dos locais históricos municipais, existiam o Hotel dos Viajantes e o Bosque (que na época era o terminal de ônibus urbanos), mas, próximo a nova residência dos baianos, “era tudo mato e plantação”. Apesar de ter fundado a pequena venda, o pai não ficava atrás do balcão, o trabalho era feito pelos filhos. No início foi um dos irmãos, depois outra irmã, até que o legado foi passado para ela que, mesmo sem nunca ter estudado, nunca teve problemas na administração da venda. Na época ela morava com seu marido e filhos na cidade de Cianorte (noroeste do Paraná). Após a morte do irmão, dona Roxa assumiu a tradição familiar. Hoje são as filhas, amanhã os netos, e assim seguem as gerações da mesma família. As paredes também continuam as mesmas, pois a venda foi tombada pelo patrimônio histórico, “nós aumentamos uma parte para frente, mas depois que tombaram não podemos mais mexer nas paredes que foram feitas em peroba, daí nós só podemos arrumar o chão ou o telhado”. Durante toda a conversa, muitos foram os ensinamentos passados entre uma história e outra. Mas a que mais marcou foi quando ela comentava sobre seu pai. O assunto era sobre as ambições que ele tinha em fundar ali um comércio, a resposta dela foi o que seu pai havia dito várias vezes: “Não podemos colocar o chapéu muito acima da cabeça” e ainda completou, “mas não é mesmo, filho? Não podemos colocar algo muito acima do que podemos alcançar. Nós não buscamos ficar ricos ou aumentar isso aqui, sempre buscamos viver felizes com o que conseguimos”.

Isolina Maria de Jesus Francisco, a dana Roxa Fotos: Gabriel Felipe Oberle

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Créditos: Demétrio de Azeredo Soster

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comunicação

O Intercom


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ĂŠ nosso

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ponto final 05/2011

comunicação

Fabrício Alves Gabriela S. Pereira

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Palestras, oficinas, teóricos e experiências. Com estudantes de comunicação de todo o sul do Brasil o Intercom Sul 2011 trouxe a Londrina um pouco mais de história para contar. Em três dias de congresso a etapa do Intercom realizada pela parceria entre Universidade Estadual de Londrina e Unopar movimentou a cidade com mais de 1.500 congressistas. E além da programação diurna do Intercom, os participantes também puderam aproveitar (e muito!) as festas oficiais promovidas pela Atlética de Comunicação Social da UEL, a ASCOF. “Quem tem medo da pesquisa empírica?”, esse foi o questinamento levantado durante o congresso, que trouxe para Londrina o presidente da Intercom, Antonio Hohlfeldt. O caléndario do congresso também teve espaço paras as faculdades participantes concorrerem ao prêmio do Expocom, e não poderíamos deixar de parabenizar a UEL que trouxe três prêmios para casa. Por fim, parabéns a nós, pois a revista Ponto Final ganhou a categoria de Revista Digital. Valeu, Intercom e até o Intercom Sul 2012 em Chapecó, Santa Catarina.

Mesa de Abertura no Teatro Ouro Verde

Na abertura do Intercom Sul, a Diretora Científica, professora Marialva Barbosa falou sobre os caminhos rumo à pesquisa empírica na Comunicação

Parada rápida no gramado da universidade para aquela descansadinha antes de voltar às atividades do evento


comunicação PONTO ponto FINAL. final 04/2010 05/2011

Os trabalhos experimentais premiados no Expocom seguem agora para a mostra no Intercom nacional em Recife, onde serão selecionados os melhores trabalhos do país em cada categoria. Para a apresentação dos artigos científicos, eles são divididos pelas áreas da comunicação, como Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Multimídia, Relações Públicas, entreoutros, e então distribuídos em categorias.

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www.guerrafria.net


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