PUCRS Saúde nº 26 – Julho de 2016

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JULHO DE 2016 – Nº 26

Neurologia destaca-se no estudo de síndrome rara

IMAGEM: KJPARGETER/FREEPIK.COM

Iniciativa leva literatura e música a pacientes

Em

boas mãos Equipes especializadas garantem assistência completa em Cardiologia


EDITORIAL

Preparados para agir

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ituações limites entre a vida e a morte requerem agilidade e capacidade técnica para oferecer o tratamento mais resolutivo. As emergências cardiológicas representam um desses casos e, para atendê-las de forma mais eficiente, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) empreendeu diversas iniciativas. São ações que envolvem estruturação de equipes, capacitação e investimento tecnológico para que cada minuto, essencial à recuperação do paciente, seja adequadamente aproveitado para proporcionar o melhor desfecho.

Esses são os aspectos abordados na reportagem de capa desta edição. Nela está detalhado o que a Cardiologia do HSL oferece em suas distintas dimensões, desde as que são voltadas a casos urgentes àquelas destinadas ao acompanhamento clínico. A particularidade dessa assistência está representada em unidades de tratamento intensivo especializadas, como a coronariana e a de pós-operatório de cirurgia cardíaca.

A publicação apresenta ainda novidades em outras áreas da Instituição, como as de transplantes renais, neurologia, radioterapia, pneumologia e dermatologia. Isso porque são múltiplas as habilidades inerentes a um hospital geral, como o HSL, que oferece atendimento em praticamente todas as especialidades, sem deixar de aprimorar cada uma delas. Conheça também como é o trabalho de quem atua 24h ao dia, em todos os dias do ano, para prover alimentação a pacientes e funcionários. Boa leitura!

SUMÁRIO Reitor: Joaquim Clotet Vice-Reitor: Evilázio Teixeira Hospital São Lucas da PUCRS Diretor-geral e administrativo: Leomar Bammann Diretor administrativo-adjunto: Lauri Heck Diretor técnico e clínico: Plínio Vicente Medaglia Filho Diretor acadêmico: Marlow Kwitko Diretor financeiro: Ricardo Minotto PUCRS Saúde Editora: Angela Vencato Repórter: Jeniffer Caetano Estagiário: Rafael Macedo Ramos Fotógrafos: Bruno Todeschini e Camila Cunha Revisão: Lucas Tcacenco Arquivo fotográfico: Camila Paes Keppler e Márcia Sartori Conselho editorial: Fábio Etges, Lauri Heck, Magda Achutti, Marlow Kwitko, Plínio Vicente Medaglia Filho, Raquel Martins e Ricardo Minotto Impressão: Epecê-Gráfica Editoração eletrônica: PenseDesign Colaborou nesta edição: Cássia Marques Martins A revista PUCRS Saúde é editada pelo núcleo de Imprensa do Hospital São Lucas da PUCRS – Avenida Ipiranga, 6.690 – 2º andar – CEP: 90.610-000 – Porto Alegre (RS) – Fone: (51) 3320-3445 – Fax: (51) 3320-3401

imprensa.hsl@pucrs.br www.hospitalsaolucas.pucrs.br

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3 Palavra da Direção 4 Acontece Tecnologia avançada contra o câncer 5 Acontece Nova fase para a Oncologia 6 Acontece Reconhecimento às boas práticas 7 Acontece Marca de 1,5 mil transplantes renais é alcançada 8 Capa Coração bem-cuidado 14 Segurança Agilidade no atendimento cardiológico 15 Especialidade Alto poder resolutivo é diferencial 16 Entrevista Gustavo Turecki – Epidemia silenciosa 18 Pesquisa Luta contra o cigarro 19 Pesquisa Modelo a copiar 20 Diagnóstico Diabetes: controle ajuda a reduzir danos 22 Investimento Mudanças miram segurança e assistência qualificada 23 Investimento Exames de ponta em nova estrutura 24 Integra Arte que faz bem à saúde 26 Viva melhor Descanso reparador 27 Bastidores Assistência humanizada 28 Curtas 30 Trajetória Domingos D’Avila – História de integração a serviço da saúde 31 Crônica Ivan Antonello – Viver, sempre. Elaborar, quando possível!


PA L AV R A D A D I R E Ç Ã O

O papel e o desafio

do médico na gestão hospitalar

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gestão médica nos processos assistenciais dos hospitais é imprescindível, com mais peso nos universitários, onde interagem profissionais, professores e graduandos de vários cursos da área da saúde, como é o caso do nosso Hospital. É inquestionável a importância dos demais profissionais que atuam junto aos pacientes, sendo o médico que demanda as ações diagnósticas e terapêuticas, apoiado por enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, profissionais da área do serviço social, entre outros. Todos são importantes e é essencial o caráter interdisciplinar da assistência, para que toda a equipe atinja seu objetivo maior, que é a recuperação do paciente. O Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) possui 51 serviços médicos, incluindo todas as especialidades e áreas de diagnóstico e tratamento complementares, com chefias diretamente vinculadas à direção técnica. Com a preocupação de manter esses profissionais alinhados ao plano estratégico e com canal ágil para trazerem suas demandas operacionais, a direção executiva realiza, sistematica-

mente, reuniões com integrantes dos serviços. São momentos de revisitar o planejamento estratégico e os resultados obtidos; reforçar as metas propostas e proporcionar oportunidade para que questões relativas às atividades sejam trazidas para debate, buscando aperfeiçoamentos, inovações e soluções a entraves operacionais. Esse espaço de diálogo é considerado estratégico para aproximar os médicos da direção, demonstrando a relevância que os profissionais têm para o HSL e para o bom atendimento dos pacientes. A experiência tem trazido avanços significativos, fidelizando-os aos processos assistenciais e gerenciais e incluindo-os como participantes nas decisões e nos planejamentos propostos. Paralelamente, é exercitada pela Instituição, sob coordenação de seu Escritório da Qualidade, a visita semanal a duas unidades assistenciais ou de apoio, da qual participam diretores e representantes das equipes médica, de enfermagem e administrativa envolvidas com as ações locais. É analisada a evolução do gerenciamento da rotina da unidade,

FOTO: BRUNO TODESCHINI

Plinio Vicente Medaglia Filho, diretor técnico e clínico

podendo surgir críticas propositivas para melhorias e aperfei­çoa­mentos, bem como reconhecimento pelo trabalho executado. Essas estratégias visam, além de reforçar a participação médica, fortalecer seu esforço no alcance dos resultados esperados, de modo a garantir a sustentabilidade da Instituição. A presença desse profissional, exercendo gestão nas estratégias operacionais do Hospital, é de vital importância para assegurar que a Instituição cumpra sua missão de prestar assistência, formar profissionais e construir conhecimento.

AGRADECIMENTOS Familiares do paciente René Luiz Johann expressam seu agradecimento por todo o apoio recebido durante os períodos de internação. Aos excelentes médicos Ricardo Piantá, Luiz Francisco Zimmer Neto, Giovani Gadonski, Milton Oliveira e Fernando Buratto, que sempre nos atenderam com muita competência e carinho. Às equipes de enfermagem, auxiliares e técnicos; nutrição, limpeza, laboratório de análises clínicas e internação do 9º andar, que não pouparam esforços para que nos sentíssemos em casa. Nosso muito obrigado à Ir. Iolanda Schneider e sua equipe pelo suporte espiritual. Agradecemos a atenção e o pronto atendimento quando chegávamos à Emergência, bem como às equipes médicas e de enfermagem que nos acolheram nos últimos momentos junto à UTI. Agradecemos imensamente o carinho e a dedicação da equipe da Diálise Peritoneal, em

especial à Jaqueline e Camila, que, juntamente com o Dr. Gadonski, muito nos auxiliaram em proporcionar ao nosso querido René que ficasse mais tempo conosco. Essas pessoas fazem do Hospital um centro de excelência na prestação dos serviços médicos. Ana Luísa Johann Leal, Eloi, Luciana e Marcelo Johann Gostaria de agradecer a estadia no HSL, com os melhores profissionais em atendimento, o ambiente, as informações prestadas. São profissionais muito dedicados, que me cuidaram com todo o carinho e atenção. Estão todos de parabéns e eu, muito orgulhosa pela escolha que fiz ao vir colocar ao mundo o meu bem mais precioso, a Annie. Jacqueline Machado

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ACONTECE

Tecnologia avançada

contra o câncer FOTO: BRUNO TODESCHINI

REFERÊNCIA EM RADIOCIRURGIA, MÉDICO HOLANDÊS APRESENTOU NOVIDADES E CONHECEU ESTRUTURA DO HSL

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ubstituir com eficácia um longo tratamento de radioterapia, com mais de 30 sessões, por até oito aplicações de doses elevadas de radiação. Ou ainda oferecer a possibilidade de cura a pacientes com câncer que não podem ser submetidos à cirurgia. Esses são alguns dos benefícios da radiocirurgia, técnica usada desde 2010 na Europa para tratar tumores e que, há alguns anos, passou a ser empregada no Brasil. Os avanços na área são crescentes e foram apresentados pelo médico holandês Ben Slotman no Simpósio Radioterapia Estereotáxica Ablativa – Radiocirurgia Extracraniana, promovido pelo Serviço de Radioterapia em janeiro de 2016. Professor e chefe do Departamento de Oncologia Radioterápica da Vrije Universiteit Medical Center, de Amsterdã (Holanda), Slotman é reconhecido por suas pesquisas. É autor e coautor de mais de 250 artigos em revistas científicas e participa de protocolos internacionais que estudam como aplicar a radiocirurgia. No HSL, conheceu a nova estrutura da Radioterapia, que passou a dispor, em 2015, de mais um acelerador linear de última geração. “A instalação do Trilogy é realmente um passo à frente. O serviço começou a tratar muito mais casos com SBRT (radiocirurgia estereotáxica extracraniana), a curar mais pacientes e a ser uma alternativa à cirurgia”, avalia Slotman. Na ocasião, o especialista falou sobre o emprego da SBRT em casos de tumores pulmonares, hepáticos e

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da coluna vertebral, destacando aspectos técnicos e indicações clínicas. O avanço tecnológico atual permite a aplicação de uma dose muito alta de radiação com ótima precisão, preservando tecidos normais e reduzindo a toxicidade. “Pessoas que, no passado, acreditava-se que não havia muito o que fazer, podem agora ser tratadas”, explica. Na avaliação do chefe do Serviço de Radioterapia, o radioterapeuta Aroldo Braga Filho, “é a diferença entre a cura e o tratamento paliativo. Temos, no HSL, as técnicas, as facilidades e os equipamentos; num país como o Brasil, precisamos ter esse tipo de abordagem, porque a diferença no controle da doença é muito grande, quando comparada à radioterapia convencional”. Além disso, o valor do procedimento, dependendo do país, é menor que o da cirurgia, pois não requer internação. Em relação à sobrevida, o resultado depende do tipo de tumor. “Para câncer de pulmão operável em estágios iniciais, temos pacientes que não poderiam ser operados com 65% deles vivos depois de cinco anos do tratamento com radiocirurgia. É um excelente resultado”, afirma Slotman. Destacam-se ainda, como vantagens, a manutenção da qualidade de vida e os poucos efeitos colaterais. É importante alternativa em câncer de próstata, além de ser indicado a pacientes com até três metástases pulmonares. Braga acrescenta que a radiocirurgia é usada em tumores cerebrais desde 2013 no HSL.

Ben Slotman proferiu palestra em simpósio do HSL

PERSPECTIVAS Slotman está envolvido atualmente em estudos para entender porque, em alguns tratamentos, a alta dose de radioterapia apresenta efeito no sistema imune, estimulando-o e gerando um efeito positivo em todo o corpo. Ao tratar uma lesão, por exemplo, outra também diminui. “Sabemos que acontece, mas a forma como isso funciona é completamente desconhecida. É uma das razões pelas quais a SBRT é tão efetiva.” Para o futuro, o que se busca é como obter imagens do tumor durante a irradiação e, a partir disso, fazer um novo planejamento do tratamento a cada sessão. Atualmente, o plano é feito antes de iniciar e é mantido em toda a sua duração. “Estamos trabalhando nisso, mas é caro e leva tempo. Provavelmente levará de cinco a dez anos para estar amplamente disponível, tornando o tratamento mais efetivo e para mais indicações”, afirma o especialista.


ACONTECE

Nova fase para a

Oncologia S I S T E M A I N T E G R A D O D E T R ATA M E N T O D O C Â N C E R I N A U G U R A Á R E A PA R A AT E N D E R PA C I E N T E S E M Q U I M I O T E R A P I A

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Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) inaugura, em julho, o Centro de Oncologia Clínica, que abrigará a Unidade de Quimioterapia. Com 273 metros quadrados, o novo ambiente trará mais conforto aos 800 pacientes recebidos mensalmente e seus acompanhantes. No local são dispensados todos os tratamentos oncológicos, que abrangem quimioterápicos, drogas biológicas e de administração oral. Serão 14 poltronas e quatro leitos, para realização de quimioterapias de infusão prolongada. A nova estrutura viabilizará acréscimo de 20% nos atendimentos. “Tecnicamente já temos um padrão muito bom, mas ambientalmente, agora, entraremos no padrão ouro”, ressalta o chefe do Serviço de Oncologia e da Quimioterapia do HSL, Sérgio Lago. Outro benefício para os usuários será a efetivação de uma escala de sobreaviso entre os oncologistas do Hospital, para assistência veloz em casos de intercorrência no setor. A iniciativa completa o sistema integrado de tratamento do câncer na Instituição, composto ainda por métodos diagnósticos por imagem, como ressonância magnética, tomografia computadorizada e PET-CT, sendo este realizado pelo Instituto do Cérebro, componente de distinção nesta linha de cuidado; Serviço de Radioterapia; Centro de Pesquisa Clínica e Instituto de Pesquisas Biomédicas, além da assistência ambulatorial aos pacientes.

Ilustração demonstra como ficará o Centro de Oncologia, instalado no 2º andar do HSL

IMAGEM: DIVULGAÇÃO

ATENÇÃO INTEGRAL O câncer é a segunda causa de morte em nossa sociedade e, segundo a Organização Mundial da Saúde, espera-se aumento de 70% no número de casos nas próximas duas décadas. O Centro de Oncologia Clínica é mais uma etapa do processo de qualificação dos serviços nessa área no HSL. Além do ambulatório da especialidade, que atende, em média, 1.300 pacientes por mês, a Instituição possui completa e atualizada tecnologia, tanto na área diagnóstica como na de tratamento do câncer. Exemplo disso é a Radioterapia, que, nos últimos anos, passou por reformas no espaço físico e somou dois novos equipamentos de última geração, os aceleradores lineares Clinac iX e Trilogy. Entre outras funcionalidades, ambos permitem a execução de radiocirurgia; Radioterapia com Intensidade Modulada (IMRT), que regula a intensidade da radiação, protegendo órgãos ou estruturas próximas ao tumor que não toleram doses elevadas de irradiação; e Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT),

que trata e realiza tomografia computadorizada em tempo real, com imagens tridimensionais de alta definição e precisão milimétrica. Na área da pesquisa clínica em oncologia, o Hospital também se destaca. Seu Centro de Pesquisa Clínica é líder nacional no setor e, no momento, realiza mais de 200 ensaios, predominando, dentre eles, as testagens de novas drogas oncológicas em parceria com a indústria farmacêutica. O Centro conta com estrutura de 750 metros quadrados e integra a Rede Nacional de Pesquisa Clínica. Segundo Lago, a modalidade dos ensaios clínicos foi responsável por uma revolução nos últimos anos, trazendo uma mudança substancial no tratamento da doença e melhorando o bem-estar dos pacientes. “Para os participantes, a pesquisa é ótima. Durante a realização dela, esses produtos extremamente caros, exclusivos e de ponta são disponibilizados gratuitamente. Um benefício incrível”, destaca.

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ACONTECE

Reconhecimento às boas práticas

N O VA C L A S S I F I C A Ç Ã O E M A C R E D I TA Ç Ã O H O S P I TA L A R D E M O N S T R A M E L H O R A N A S A Ç Õ E S D E S E G U R A N Ç A D O PA C I E N T E E N A G E S T Ã O I N T E G R A D A

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Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) recebeu, em 2015, a certificação de Acreditado Pleno pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). Desde 2011, a Instituição era Acreditada por atender aos critérios de segurança do paciente em todas as áreas da atividade. Além desse aspecto, a nova categoria conquistada considera a gestão integrada. Algumas iniciativas contribuíram para o avanço. Entre elas estão o estabelecimento das seis metas de segurança do paciente, preconizadas pelo Ministério da Saúde; o gerenciamento do protocolo de sepse; e os rounds multidisciplinares realizados nas unidades de internação, sob coordenação da médica Fernanda Longhi, assessora da Direção Técnica e Clínica. O foco dos rounds é reduzir a média de permanência de quem está internado. Para tanto, é analisado caso a caso, verificando o motivo da internação e a previsão do tratamento. A partir disso, avalia-se o que é preciso para que a alta hospitalar ocorra com segurança e as necessidades são agilizadas junto às unidades competentes. Segundo Fernanda, a prática já resultou em melhora nos processos e na segurança. A iniciativa envolve médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e funcionários administrativos. A multidisciplinaridade da equipe é um ponto positivo na opinião da médica. Outros aspectos reforçados junto aos colaboradores e que contribuíram para a melhora na acreditação são as

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metas de segurança do paciente, os protocolos institucionais e as notificações de eventos adversos. Esses temas são abordados em treinamentos mensais, promovidos pelo Núcleo de Segurança do Paciente, e na integração de novos colaboradores. De 2015 a maio de 2016, foram capacitados 1.083 funcionários novos e 420 do quadro da Instituição. A aplicação prática das orientações é acompanhada por meio de auditorias e de indicadores de segurança assistencial. A enfermeira Fernanda Boaz, do Núcleo, diz que o objetivo é garantir a melhora constante nas ações, tanto para manter o nível de acreditação alcançado como para buscar o próximo. A recertificação ocorre a cada dois anos e, em 2016, o Hospital receberá a visita de manutenção. O protocolo de sepse e seu gerenciamento também são exemplos positivos. Para garantir a disseminação e aplicação das diretrizes, elas são trabalhadas junto às unidades por meio de treinamentos. Além disso, iniciativas são realizadas para aprimorar a sua utilização, como a organização de um fluxo de pedido e liberação de exames e medicamentos com prioridade para esses casos. O processo envolve diferentes setores e contribui para o atendimento ágil, fundamental para evitar o agravamento do quadro. As informações são or-

FOTO: BRUNO TODESCHINI

Fernanda Longhi

(D) coordena ganizadas em um round realizado banco de dados, na internação permitindo avado 9º andar liar o que precisa ser melhorado no processo. Essa prática, coordenada pelo Serviço de Controle de Infecção, envolve as áreas de farmácia, de enfermagem, laboratorial e médica no gerenciamento do protocolo.

TRABALHO CONTÍNUO Divulgar e verificar a aplicação das metas de segurança do Ministério da Saúde são prioridades do Núcleo de Segurança do Paciente. Para tanto, são realizadas campanhas internas, abordando os seguintes tópicos: higienização das mãos; prevenção de quedas e de úlcera por pressão; identificação correta do paciente; comunicação e registro seguros; e cirurgia segura.


ACONTECE

Marca de 1,5 mil

transplantes renais é alcançada

FOTO: ANGELA VENCATO

I N S T I T U I Ç Ã O É A Ú N I C A N O E S TA D O A REALIZAR O PROCEDIMENTO POR V I D E O L A PA R O S C O P I A E N T R E P E S S O A S V I VA S

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Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) celebrou uma marca histórica: o transplante renal de número 1.500. Esse tipo de cirurgia mantém-se em gradativo crescimento na Instituição, com média anual de 100 intervenções, evidenciando o trabalho de referência dos Serviços de Cirurgia do Transplante e de Nefrologia. Desde 2002, o HSL é o único hospital no RS a realizar o procedimento intervivos com retirada do rim por meio de videolaparoscopia. A técnica oferece benefícios ao doador, como melhora da qualidade de vida em relação a outras técnicas, cicatriz menor, redução da dor no pós-operatório e possibilidade de alta precoce. Em mais de 150 casos foi utilizado o método. O procedimento em destaque ocorreu em 2 de dezembro de 2015 a partir da doação do órgão pela irmã do paciente. Há sete anos, Lodejane Zanoni, 42, foi diagnosticado com perda da função renal e tratava-se com controle de dieta, sem realizar hemodiálise. O agricultor é acompanhado pelo nefrologista Moacir Traesel, que o avisou sobre a possibilidade de realizar a cirurgia. Zanoni pertence a uma família de seis irmãos e, entre eles, Nadirce, 48, foi quem apresentou as melhores condições de saúde e compatibilidade para a doação. “Foi difícil e doloroso, mas é algo muito gratificante saber que ele está vivo por minha causa”, declara. Ele manifesta gratidão e comemora: “Saber que posso levar uma vida quase normal é o mais importante. Não tem como não ficar contente. É uma nova vida”.

Os chefes dos serviços de Nefrologia, Carlos Eduardo Poli de Figueiredo, e de Cirurgia do Transplante, Marcelo Hartmann, comemoram o resultado. “É com imensa alegria e satisfação que celebramos essa marca tão significativa, sentimento que compartilho com todos os profissionais; com os pacientes, que tanto necessitam do transplante; e com os familiares dos doadores, que, em um momento de dor profunda, têm um ato de bondade e amor ao próximo”, diz Hartmann.

EM DETALHES Os transplantes tiveram início no HSL em 1978, com o nefrologista Domingos d’Avila. A trajetória do serviço e o perfil dos pacientes foram pesquisados pelo nefrologista Leonardo Kroth, que coordenou a Organização de Procura de Órgãos do HSL (OPO2) até 2015. O resultado apontou a diminuição das complicações no pós-operatório e das taxas de infecção, apesar de os pacientes, atualmente, serem mais enfermos e graves, exigindo procedimentos com maior grau de complexidade. Outra característica é o aumento da idade dos pacientes nos últimos anos. A OPO2 atua desde 2011 e incrementou o número de transplantes não apenas no Hospital, mas em todo o Estado, junto a outras unidades. “Temos resultados muito bons se comparados a outros centros do país e, até mesmo, internacionais”, ressalta Kroth. O Brasil é o segundo País em transplantes e o RS

Zanoni junto à esposa, Vanessa Marini Zanoni, durante a recuperação do transplante

destaca-se como o estado que mais realiza transplantes renais por milhão de habitantes. Apesar dos resultados favoráveis, em maio de 2016, 878 pessoas aguardavam por um rim no Estado e a taxa de recusa familiar fica em torno de 50%, conforme dados da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul.

PERFIL DOS PACIENTES • Receptores (idade média): 45 anos; desde 2010, 5% tinham mais de 70 anos; • Doadores (idade média): 42 anos; • Índice de rejeição: inferior a 20%; • Sobrevida: 95% para receptores de doador vivo e 80% para doador falecido (em cinco anos de acompanhamento). Fonte: Nefrologista Leonardo Kroth

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C A PA

Coração be FOTOS: BRUNO TODESCHINI

COM EQUIPES E UNIDADES ESPECIALIZADAS NA ASSISTÊNCIA CARDIOLÓGICA, H O S P I TA L C O N TA C O M E S T R U T U R A C O M P L E TA PA R A D I A G N Ó S T I C O E T R ATA M E N T O

P O R A N G E L A V E N C AT O E J E N I F F E R C A E TA N O

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ara oferecer atendimento integral em Cardiologia, desde situações graves e de urgência até casos eletivos, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) possui estrutura completa que se aprimora constantemente. Fazem parte desse processo uma Emergência dinâmica; um Centro de Diagnóstico e Tratamento Intervencionista (CDTI) com profissionais qualificados e equipamentos modernos; equipes de cirurgia e de intensivismo especialistas na área cardiovascular; e ainda leitos para internação, consultórios para atendimento ambulatorial e uma unidade para realização de exames não invasivos, o CardioPUC. O quadro clínico do paciente ao chegar à Instituição é o que define como e onde este será atendido. A maioria dos casos da especialidade originam-se na Emergência e, para aprimorar a assistência, foi implantado o Protocolo de Dor Torácica. Ele classifica os casos graves e determina os exames e cuidados necessários. “A iniciativa diferencia o Hospital com uma linha de atendimento de

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urgência muito consistente, em que o tempo é crucial. A intenção é que o paciente seja prontamente atendido, que em 10min se tenha o eletrocardiograma feito, as enzimas dosadas e que toda a assistência a partir daí ocorra no menor tempo possível”, afirma Plinio Vicente Medaglia Filho, diretor técnico e clínico do HSL. Além de médicos emergencistas, a unidade conta com médico residente e seu preceptor do Serviço de Cardiologia, além do cardiologista de plantão no Hospital, responsáveis por avaliar e discutir a terapêutica mais indicada para os pacientes. Conforme a decisão, o caso pode ser encaminhado ao CDTI, para realização de diagnóstico mais detalhado ou tratamento hemodinâmico. Outra

Nova área com oito leitos é voltada a atender pacientes graves de convênio e particular

possibilidade é ser direcionado à unidade de tratamento intensivo (UTI) coronariana ou à cirurgia cardíaca. A recuperação final ocorre nas unidades de internação. “A ideia é termos um atendimento adequado, rápido e integrado entre as áreas da Cardiologia, desde o acolhimento na Emergência, passando por CDTI, UTI, indo para o andar e utilizando-se de todos os métodos diagnósticos invasivos e não invasivos que o serviço dispõe”, destaca Mario Wiehe, coordenador da área Cardiológica. Uma nova ala com oito leitos monitorados foi construída na Emergência para atendimento de pacientes graves de convênios e particulares. O chefe


em-cuidado

da Emergência, Saulo Bornhorst, destaca que a Cardiologia tem papel muito importante nessa estrutura, pois as doenças cardíacas respondem por 19% dos atendimentos. “Somos um dos poucos hospitais em Porto Alegre com UTI dedicada ao atendimento cardiovascular. Temos como atender o paciente de convênio de forma adequada, mas precisávamos de uma Emergência mais estruturada, que passamos a ter com a nova sala laranja”, frisa. Foi contratada mais uma equipe de médicos emergencistas para atender a nova área; com isso, são dois especialistas na assistência a casos graves à disposição. Além disso, há o suporte da residência médica, com três especialidades atuando no local: Cardiologia, Medicina

Interna e, a mais recente, Medicina de Emergência, criada em 2016. O objetivo, segundo Bornhorst, é aproximar as três áreas com a realização de rounds da Cardiologia conjuntos, com a preceptoria de Wiehe. O acompanhamento clínico de pessoas com problemas cardíacos ocorre no ambulatório e é dividido por subespecialidades: cardiopatia isquêmica; pós-operatório de cirurgia cardíaca; valvulopatias; hipertensão e síndrome metabólica; arritmias e insuficiência cardíaca. Os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), encaminhados pelos postos de saúde, são atendidos pelos residentes da especialidade com o acompanhamento constante de preceptores especialistas em cada uma das

Mario Wiehe discute os casos da Emergência com a residente Gabriela Tortato

áreas. Além disso, cresceu a oferta de consultas a clientes de convênios, com oito médicos à disposição. A marcação é feita pela Central de Agendamento. Para completar o diagnóstico, o CardioPUC oferece teste ergométrico de esforço, monitorização da pressão arterial por 24h (Mapa), monitorização da frequência cardíaca por 24h (Holter), ecocardiograma e eletrocardiograma. “Buscamos oferecer à nossa comunidade um serviço com agilidade diagnóstica, que acolha bem o paciente, e com resolubilidade terapêutica. Queremos que o Hospital seja referência no tratamento de patologias cardíacas”, destaca Medaglia.

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C A PA MINIMAMENTE INVASIVO O paciente que chega com infarto ao Hospital necessita que a artéria coronária afetada seja desobstruída o mais rápido possível. O tratamento é feito através de um cateter, num procedimento pouco invasivo para a colocação de stent – tubo expansível implantado para manter a artéria aberta. Esse atendimento ocorre no Centro de Diagnóstico e Tratamento Intervencionista (CDTI), chefiado pelo cardiologista Paulo Caramori. O médico diz que cerca de 70% dos procedimentos feitos são em caráter de urgência e emergência. Enquadram-se nessa classificação aqueles que precisam ser realizados imediatamente ou em até 72h. “Quando o infarto acontece, o tempo é contado em minutos e o paciente vem muito rapidamente para a sala de hemodinâmica. É o equivalente a apagar um incêndio. Fora essas situações, temos as demandas eletivas, que não são urgentes e se beneficiam do esforço feito para nos estruturarmos para atender casos mais complexos, com real risco de vida, e que lutamos para garantir o sucesso no final”, diz Caramori. O serviço conta com três salas de hemodinâmica e equipe médica presente ou de sobreaviso em tempo integral. Além da cardiologia intervencionista, que responde por 70% dos atendimentos, o CDTI é utilizado pelas áreas neurovascular, de eletrofisiologia, cirurgia endovascular e radiologia intervencionista. Até maio de 2016, foram realizados, em média, 400 procedimentos ao mês. O chefe do Centro ressalta que o Hospital realiza investimentos continuados para manter o serviço com os melhores equipamentos disponíveis e com as equipes (médica, de enfermagem e administrativa) treinadas. Para tornar o atendimento mais ágil, o CDTI apoiou a implantação do Protocolo de Dor Torácica na Emergência, com capacitação do grupo de profissionais. Dessa forma, definiram-se as diversas etapas do procedimento e de quem é

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a responsabilidade de executá-las em tempo hábil. “Cada minuto ganho no atendimento reduz os dias de internação. Em sistemas organizados, o estabelecimento do protocolo de dor torácica reduz em 30% os recursos gastos e em 30% as complicações ou a mortalidade associada ao infarto”, explica Caramori. Nesse sentido, é realizado um tra-

balho junto a outros hospitais que encaminham pacientes ao CDTI para melhorar o relacionamento e capacitar profissionais, in loco, no protocolo. O objetivo é estender a essas instituições o sistema de atendimento, para que o paciente chegue melhor preparado para realizar o procedimento, em tempo menor, e possa retornar mais precocemente à sua instituição de origem.


Cardiologistas Ricardo Lasevitch e Paulo Caramori (D) realizam procedimento hemodinâmico

FOTO: BRUNO TODESCHINI

EM ESTUDO A equipe de cardiologia intervencionista do CDTI tem se dedicado à realização de pesquisas e utilização de novas tecnologias. São exemplos disso os novos stents bioabsorvíveis que, meses após serem implantados

para desobstruir o vaso sanguíneo, são absorvidos pelo organismo. Os materiais convencionais são de aço e, uma vez implantados, permanecem para sempre. “A novidade surgiu como um grande avanço, mas ainda

há dúvidas de como pode ser melhor aplicada”, afirma Paulo Caramori. Por esse motivo, o cardiologista Vítor Gomes, do Centro, está desenvolvendo um registro de implante do material bioabsorvível, comparando-o aos stents farmacológicos. Essa análise permitirá verificar quando a nova tecnologia é potencialmente mais benéfica ao paciente. Atualmente, é aplicada em torno de 15% a 20% dos casos em que o stent é necessário. Outra pesquisa em andamento está relacionada ao tratamento percutâneo da estenose aórtica, doença que causa a calcificação da válvula aórtica e dificulta a circulação sanguínea. Como um percentual dos pacientes submetidos ao procedimento necessita de marcapasso, foi realizada análise dos 819 casos que compõem o registro brasileiro desse tratamento e estabelecido o escore preditivo de necessidade do dispositivo. O risco pode variar de 4% a 60%, de acordo com as características clínicas do paciente e da válvula utilizada. “Identificar um paciente com mais alto risco nos permite estudar alternativas para reduzir esse índice no procedimento, otimizar o uso de recursos e, consequentemente, diminuir o tempo de internação e garantir melhor recuperação da função do coração”, explica Caramori, que realizou a pesquisa junto ao eletrofisiologista do CDTI Andres Di Leoni Ferrari. O estudo foi submetido à publicação internacional e foi apresentado no congresso europeu de cardiologia intervencionista (EuroPCR), em Paris (França); e no congresso mundial de eletrofisiologia cardíaca (Cardiostim), em Nice (França).

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C A PA FOTOS: BRUNO TODESCHINI

CUIDADO INTENSIVO A reorganização das unidades de tratamento intensivo (UTI) voltadas à Cardiologia teve início em 2015 e deve ser finalizada em 2016. Entre as medidas estão o agrupamento delas no terceiro andar e o acréscimo de seis leitos. Ao fim do processo, serão 30 leitos divididos igualmente em três unidades. A Coronariana é voltada a casos de síndromes coronarianas agudas, como infarto e angina instável. Junto a ela foi instalado o Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca (POCC), para atender pacientes submetidos a procedimentos de colocação de ponte de safena (revascularização do miocárdio) e troca de válvulas cardíacas. “Mesmo sendo um hospital geral, o HSL sempre se caracterizou por ter área específica na UTI para cardiologia, que fica separada da UTI Geral, diferentemente de outras instituições. Contamos com profissionais especializados nessas áreas”, destaca Mario Wiehe, coordenador da área Cardiológica. A reestruturação ficará completa quando for instalada a unidade neurocardiovascular, que poderá ser

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usada por pacientes da Neurologia e da Cardiologia. Chefiado pelo cardiologista João Carlos Guaragna, o POCC possui banco de dados específico de todos os pacientes operados. Em 20 anos de análise, somam-se mais de 5,5 mil registros de características pré e pós-operatórias, desfecho e variáveis do caso, propiciando a geração de conhecimento. Muitas pesquisas originam-se dessas informações e são apresentadas em congressos nacionais e internacionais anualmente. Como fruto desse trabalho e do doutorado do médico, foi criado o escore de risco para quem vai se submeter à cirurgia de troca de válvula cardíaca e à ponte de safena. Acima de 30% de risco, o procedimento é contraindicado. Além de ser usado no HSL, o escore foi validado externamente e pode ser adotado em outras instituições. Guaragna explica que há muitos escores disponíveis para uso, mas são internacionais e baseados em populações com outras características. “A nossa população é diferente

Após reestruturação, Unidade Coronariana e POCC passaram a dividir área no terceiro andar

da europeia. Por exemplo, eles não fizeram um escore específico de válvulas e quem vai operar válvula é diferente daquele que vai fazer ponte de safena. O ético é cada hospital ter o seu escore ou validar o de fora na sua instituição”, explica Guaragna. Embora muitos problemas cardíacos sejam tratados por métodos intervencionistas, o volume de cirurgias cardíacas tem aumentado nos últimos anos pelo avanço da longevidade. “A aterosclerose coronariana é uma doen­ç a de pessoas idosas ou de meia idade. Como aumenta a idade da população, cresce a demanda, assim como os casos de calcificação das válvulas, a estenose aórtica”, aponta João Batista Petracco, chefe da Cirurgia Cardíaca. São realizadas, em média, dez cirurgias por semana e a maioria delas origina-se de pacientes da Emergência. O procedimento mais realizado é o de revascularização miocárdica. “Os casos estão cada vez mais graves e a recuperação demanda muito tempo de UTI”, afirma o cirurgião, que comanda a área desde 1983.


FORMAÇÃO DE ESPECIALISTAS A residência médica ocupa espaço de vital importância no funcionamento de todas as áreas ligadas à Cardiologia: clínica, cirúrgica, hemodinâmica, eletrofisiologia e ecocardiografia. São formados especialistas por meio do programa formal de residência médica e dos cursos de especialização, consagrados e reconhecidos por sua excelência e confirmados pela alta taxa de aprovação nas provas de títulos nacionais. Em 2016, o curso de especialização em Ecocardiografia completa 25 anos, capacitando profissionais para realizar esse que é o exame não invasivo mais importante para o diagnóstico cardiológico. Ele é fundamental tanto na investigação como no acompanhamento dos casos. O programa habilita os participantes a realizarem qualquer tipo de ecocardiografia, desde a transtorácica normal, que é o exame convencional feito em adultos e crianças;

a transesofágica, na qual a sonda é inserida no esôfago e estômago, permitindo melhor observação das estruturas posteriores do coração (átrio esquerdo, valva mitral, septo interatrial e aorta); até a ecocardiografia de estresse, bastante empregada na investigação e no acompanhamento da doença coronariana e das valvulopatias. Cardiologistas de todas as regiões do Rio Grande do Sul e de outros estados já foram treinados no HSL. Anualmente, são formados dois especialistas. O curso trabalha com uma linha de ensino teórico-prática. Além das aulas, que abordam os principais tópicos sobre o diagnóstico, o estudante realiza exames supervisionados por um aluno veterano e um professor. O método auxilia na passagem de informações e aumenta a qualidade do procedimento, beneficiando tanto o paciente quanto quem está em treinamento. “Os procedimentos

Flavio Velho (sentado) realiza exame junto aos residentes Lucia Hiromi Hiwatashi e Tulio Ruaro Reichert

são realizados, na verdade, por ‘seis mãos’, do iniciante, do veterano e do supervisor. Então, a qualidade é muito alta. Além disso, essa troca de conhecimentos é muito adequada e boa para qualquer instituição”, avalia Flavio Velho, chefe do CardioPUC. O projeto surgiu para suprir uma lacuna na formação desses profissionais no Estado. Hoje, já formou mais de 30 ecocardiografistas e possui altíssimo índice de aprovação na prova da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Com tanto sucesso, a equipe organizadora planeja novidades. “Estamos programando um curso para formação voltada à ecocardiografia fetal. Ela visa detectar, ainda no útero, doenças congênitas do coração, arritmias, entre outras alterações. Propicia que, antes do parto, os bebês já possuam um mapa terapêutico estabelecido, com data de nascimento planejada e estratégias adequadas definidas”, explica Velho.

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Agilidade no

atendimento cardiológico

FOTO: BRUNO TODESCHINI

SEGURANÇA

PROTOCOLO DE DOR TORÁCICA F O I I N S T I T U Í D O PA R A T O R N A R MAIS EFICIENTE O CUIDADO C O M O S PA C I E N T E S

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uma emergência cardíaca, a agilidade é um dos principais requisitos. Por isso, em 2015, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) passou a contar com o novo protocolo de dor torácica, que indica como deve ser o atendimento dos pacientes para garantir rapidez e resolutividade. O instrumento tem o objetivo de proporcionar uma resposta mais precisa, com uso adequado de recursos e menor tempo de internação, garantindo o melhor resultado clínico e preservando a segurança. Para tanto, foi estabelecido o caminho exato que aquele que chega à Emergência com essa característica deve seguir dentro da Instituição. A expectativa é de que haja melhora geral de 30% em aspectos como redução na mortalidade, aumento na alta precoce e adequação no uso de recursos. O ponto inicial é a correta categorização da dor torácica. Entram nessa definição todas as dores desde a área epigástrica, na parte alta do abdômen, até o queixo, passando pelos braços. Quem possuir esse tipo de queixa tem de fazer um eletrocardiograma em até dez minutos. Com o resultado interpretado dentro desse tempo e a avaliação do estado clínico, será possível estabelecer a gravidade do caso. Nesse momento, o paciente segue um de três caminhos.

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Caso o exame identifique infarto/ ataque cardíaco, em até 60 minutos, o paciente precisa realizar cateterismo cardíaco e ter sua artéria desobs­ truída no Centro de Diagnóstico e Tratamento Intervencionista (CDTI). Em uma ação, todo o sistema de atendimento ao infarto, que implica em ativação da equipe de hemodinâmica, envolvimento da cardiologia e administração de medicações adequadas ao tratamento, é ativado. “Quem é atendido tardiamente em um ataque cardíaco, mesmo com pequenos retardos, tem internação prolongada, dificuldade de voltar às suas atividades normais e prognósticos, naquela internação e em longo prazo, piorados”, avalia o cardiologista Paulo Caramori, coordenador de urgências cardiovasculares do HSL e chefe do CDTI. O segundo caminho é percorrido por quem possui um caso considerado de alto risco. Essa situação, apesar de não ser de urgência, demanda avaliação, tratamento e, provavelmente, realização de cateterismo entre 24h e 72h. Por fim, estão as situações mais leves, que representam 30% dos casos e são referentes às dores torácicas de origem não cardíaca. Após a realização e interpretação do eletrocardiograma, inicia-se uma sequência de procedimentos, como

Procedimentos por cateterismo desobstruem as artérias coronárias

a medida de uma enzima cardíaca, chamada troponina. Após 6h de observação, caso fique comprovado o baixo risco, o paciente é liberado com orientação de reavaliação ambulatorial em 72h. “Nessa situação, o benefício que uma internação pode trazer é muito pequeno; na realidade, os potenciais riscos superam os benefícios. Portanto, é melhor que seja reavaliado em circunstâncias ambulatoriais. Caso já tenha um cardiologista, deve ser avaliado por ele. Se o paciente não possuir, será recebido por um dos profissionais do HSL”, explica Caramori. Todos os serviços que participam diretamente do processo receberam treinamentos, conforme a necessidade, promovidos pelo setor de Desenvolvimento de Pessoas. “Esse protocolo exige que as áreas funcionem em sintonia, e elas têm se mostrado muito receptivas a isso. Hoje, todos entendem a necessidade de funcionar em associação e a sua responsabilidade frente ao atendimento. Todo o Hospital está ativamente envolvido para entregar ao paciente o que é melhor para ele”, ressalta o cardiologista.


Alto poder resolutivo é

FOTO: CAMILA CUNHA

ESPECIALIDADE

diferencial D E R M AT O L O G I A C O N TA C O M C E N T R O M U LT I D I S C I P L I N A R V O LT A D O A O T R ATA M E N T O D E C Â N C E R D E P E L E

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ão inúmeras as complicações que podem acometer o maior órgão do corpo humano, e a dermatologia é a especialidade focada em diagnosticar e tratar todas as doenças da pele, com alto poder resolutivo nos procedimentos. São atendidas desde demandas estéticas até cirurgias complexas, para a retirada de grandes tumores. A especialidade é, essencialmente, ambulatorial; mas parte significativa dos casos recebidos pelo Serviço de Dermatologia são de câncer de pele. Para atendê-los, há dez anos foi criado o Centro de Dermato-Oncologia (Cedo), ligado ao Serviço de Dermatologia, tornando o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) o primeiro do Estado a contar com uma unidade multidisciplinar para o tratamento do tumor de maior incidência no mundo. Dermatologistas, cirurgiões oncológicos e oncologistas compõem a equipe. Os números da doença são alarmantes. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registra 180 mil novos diagnósticos por ano; 30 mil casos são na Região Sul; 15 mil apenas no Rio Grande do Sul e, destes, mais de mil são em Porto Alegre. O cirurgião Jeferson Krawcyk de Oliveira, coordenador cirúrgico do Cedo, explica as possíveis razões para o Estado apresentar um dos índices mais elevados de câncer de pele

do País. “O Rio Grande do Sul tem colonização europeia e uma taxa de miscigenação menor que no resto do Brasil, além da incidência solar muito alta. Estamos quase no mesmo paralelo de Brisbane, na Austrália, que é a cidade que tem o maior índice de melanoma e câncer de pele em geral no mundo.” O cirurgião revela que a iniciativa surgiu após a identificação de que muitos pacientes tinham a doença em estágio avançado e a incidência de óbito era elevada, devido à ausência de serviços especializados para o tratamento. Dez anos depois, os resultados são ostensivos: enquanto a mortalidade por melanoma no Brasil é de 31% e, no Rio Grande do Sul, de 25%, no HSL, o índice de letalidade é de 17%. Na área de dermato-oncologia são atendidos, em média, sete novos casos por semana e a demanda interna, incluindo revisões, é de cerca de 60 pacientes semanais. “Hoje somos referência no Estado para câncer de pele”, destaca Oliveira. A doença manifesta-se como carcinoma basocelular, representando 70% dos casos e a menor letalidade; carcinoma epidermoide ou espinocelular, mais agressivo, com possibilidade de migração a outras áreas e identificado em cerca de 25% dos casos; e melanoma, que apesar da menor incidência (5%), é o mais perigoso, com o pior prognóstico e

Campos (ao centro) junto a membros do Serviço

o mais alto índice de mortalidade. A dermatologia geral também recebe significativo número de casos diariamente nos ambulatórios, representando o maior número de atendimentos da medicina interna. Em 2015, foram realizadas 6.417 consultas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Serviço é chefiado pelo dermatologista Luis Carlos Elejalde Campos e conta com nove médicos especialistas, além dos ingressos na residência médica, criada há três anos. “Temos um serviço formador de profissionais, abrangendo todas as áreas da dermatologia em suas subespecialidades”, diz Campos. Os profissionais realizam procedimentos das áreas de dermatologia pediátrica, oncológica, cirúrgica e estética, como pequenas biópsias, cauterizações, uso de laser e preenchedores, peeling e crioterapia com nitrogênio líquido, entre outros. O Serviço engaja-se em ações preventivas, como a Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele, promovida anualmente pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Nesse período, são oferecidas consultas gratuitas à população. As campanhas reforçam a necessidade de cuidar da pele, com o uso diário de protetor solar; proteger os olhos e evitar a exposição ao sol entre 10h e 16h.

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E N T R E V I S TA – G U S TA V O T U R E C K I

Epidemia silenciosa U M D O S M A I O R E S E S P E C I A L I S TA S MUNDIAIS EM SUICÍDIO E DEPRESSÃO FALA SOBRE PESQUISA NA ÁREA E PREVENÇÃO P O R J E N I F F E R C A E TA N O

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suicídio é uma das maiores causas de morte em todo o mundo e, anualmente, quase um milhão de pessoas cometem o ato. Autor de pesquisas na área e ganhador de diversos prêmios, o psiquiatra e professor canadense

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Gustavo Turecki é considerado um dos grandes especialistas mundiais em suicídio e depressão. Ele é diretor do Grupo para Estudos de Suicídio da McGill University (Canadá) e chefe do Programa de Transtornos Depressivos. O foco do seu trabalho é entender por

que algumas pessoas com depressão se suicidam e outras, com o mesmo problema, não. Turecki esteve no Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) para participar da 20ª edição do evento Temas de Psiquiatria e concedeu entrevista à revista PUCRS Saúde.


FOTOS: BRUNO TODESCHINI

Em 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou dados impressionantes sobre o suicídio. Foi informado, por exemplo, que ocorre um suicídio a cada 40 segundos. Qual o panorama mundial atual? O suicídio é conhecido como uma epidemia tranquila, no sentido de que as pessoas não estão conscientes da dimensão social dele e de seu impacto na população. Morrem mais pessoas por suicídio no mundo do que por guerras ou violência, por exemplo. Então, é um problema importante. Existem várias maneiras de enfrentá-lo. Uma das coisas que é bem clara é que as vítimas estão com algum transtorno mental. Uma das maneiras para prevenir é facilitar o acesso ao tratamento de saúde mental. Algo bastante importante que nem sempre ocorre. Existe um estigma relacionado à doença mental, então as pessoas nem sempre vão procurar essa ajuda. As dimensões de prevenção do suicídio são: acesso ao tratamento, capacitação das pessoas que fornecem tratamento de reconhecimento dos sinais de depressão e diminuição da estigmatização, além da redução do acesso aos métodos de suicídio. Muitas vezes as pessoas têm a ideia de se suicidar, mas os pensamentos vêm em períodos de flashes e vão embora. Se pudermos diminuir o acesso aos métodos mais letais, teremos um impacto nas taxas. Por exemplo, reduzindo o acesso a armas de fogo e protegendo locais, como pontes.

Existe um estigma sobre o tema e se fala muito pouco sobre ele. Como mudar essa situação, já que a informação é algo tão importante? Quais as estratégias para falar de suicídio de forma adequada? Existem orientações para a comunicação de suicídio na mídia, por exemplo. O problema de falar sobre isso não é expor o tema na mídia, mas romantizar o ato. Por exemplo, quando aconteceu a morte do ator Robin Williams, houve um esforço da mídia de não mostrar isso como algo romântico, mas de apresentar a doença e o sofrimento associado a isso, sensibilizando as pessoas. Essas orientações incentivam que se fale a respeito, mas apenas dos fatos e das possíveis medidas de auxílio aos que sofrem do transtorno.

“Morrem mais pessoas por suicídio no mundo do que por guerras ou violência”

Qual o foco da sua pesquisa? A minha pesquisa é focada em entender o que acontece em nível molecular no cérebro das pessoas que estão deprimidas e que pensam em se suicidar. Queremos saber o que muda no cérebro delas. Se todas as nossas emoções são processadas no cérebro, queremos entender como um estado depressivo é codificado nele, o que muda nesses processos moleculares, em que parte do cérebro isso acontece, entre outros. Quais as descobertas já trazidas por essa pesquisa? Uma parte importante foi compreender o impacto das experiências no começo da vida no funcionamento cerebral. Entendemos que essas experiências modificam processos

Gustavo Turecki palestrou em evento no HSL

cerebrais. A gente também vem trabalhando muito com processos associados ao tratamento. O que muda no cérebro dessa pessoa em relação à resposta ao tratamento. Identificar fatores genéticos e processos cerebrais pode ajudar a prevenir o suicídio? O cérebro é um órgão extremamente complexo. A gente identifica e trabalha com tratamentos eficazes, mas ainda entendemos muito pouco a respeito dos fenômenos de base, o que realmente acontece no cérebro de alguém que está deprimido e não consegue sair desse estado. É preciso primeiro compreender as bases patológicas – o que, onde e como acontece –, para depois poder entender e tratar de uma maneira eficaz. Quais são os principais sintomas e sinais de alguém em risco de suicídio? Essencialmente, o suicídio é uma consequência do estado depressivo. Não só, mas essencialmente é. Por isso, a gente tem que estar consciente dos sintomas da depressão e fazer uma sensibilização para identificar as pessoas com risco.

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PESQUISA

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consumo de tabaco é um problema de saúde pública mundial, que provoca diversas doenças em seus usuários. Compreender como funciona o vício em diferentes países e compartilhar estratégias bem-sucedidas de combate são alternativas para diminuir esses efeitos. Com esse objetivo, investigadores da América Latina, Espanha e Portugal reuniram-se em um projeto da European Respiratory Society (ERS). O chefe do Serviço de Pneumologia, José Miguel Chatkin, representa o Brasil na iniciativa. Em torno de 17% da população brasileira maior de 15 anos é fumante. O índice é maior nos demais integrantes da região, como Chile (40%), Argentina (27%), Uruguai (26,5%) e Paraguai (21%); e em Portugal e Espanha. As diferenças demonstram a heterogeneidade entre os participantes e o tamanho do desafio. Com os dados coletados espera-se formular um documento com orientações para controle do tabagismo nas áreas envolvidas no projeto. Os primeiros dados obtidos na região do Cone Sul foram apresentados por Chatkin no ERS International Congress, em outubro de 2015, em Amsterdã (Holanda). Em novembro, em Madrid (Espanha), as estratégias brasileiras foram expostas como proposta de modelo em face dos resultados positivos alcançados, como redução de 30% no número de fumantes nos últimos dez anos. As informações causaram impacto entre os especialistas. “Isso teve muita repercussão e várias pessoas vieram conversar comigo para saber como tínhamos certeza de que esses números estavam certos, pois muitos não acreditavam que seria pos-

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sível. Por isso, o papel do nosso País é importante, pois conseguimos atingir um nível de diminuição bem significativo”, ressalta o pneumologista. Em novo encontro em Lima (Peru), em dezembro, foram traçadas as metas para 2016.

VISUA FOTO: TROSTLE VIA

C H E F E D O S E R V I Ç O D E P N E U M O L O G I A PA R T I C I PA D E P R O J E T O I N T E R N A C I O N A L S O B R E TA B A G I S M O

L HUNT

Luta contra o cigarro

PANORAMA BRASILEIRO Dois terços dos usuários de tabaco do mundo concentram-se em 14 paí­ ses e o Brasil é um deles. Percentualmente, os números nacionais estão abaixo da média latino-americana, graças a um intenso e ordenado trabalho realizado por diversos setores da sociedade. Entre as medidas adotadas estão aumento de 113% na carga de impostos sobre o produto entre 2006 e 2013; decretos, leis e resoluções contra o fumo; campanhas de conscientização e exposição dos malefícios do cigarro. Ações como proibições de marketing no setor, de patrocínios e da existência de “fumódromos” produziram resultados bastante claros. Outro ponto relevante foi o crescimento dos processos movidos pela população contra produtores de cigarros; até o momento, 37 aqui em comparação com apenas três na Argentina e dois no Uruguai e Paraguai. É essencial também oferecer ampla assistência médica para quem deseja largar o vício. Nesse ponto, encontra-se o grande desafio do País. Mesmo com salto de 198 para 1.308 unidades de saúde que oferecem esse atendimento entre 2005 e 2013, ainda é necessário aumentar a velocidade com que os pacientes chegam ao tratamento. “Quem quer parar tem que ser atendido imediatamente; se demora quatro ou cinco meses para conseguir uma consulta, a

pessoa acaba desistindo. Temos um longo caminho a ser percorrido, mas já está melhor”, explica. Para Chatkin, o trabalho deve seguir com a mesma intensidade para aumentar a efetividade em áreas que precisam de maior atenção. É o caso de Porto Alegre, que tem a maior taxa de fumantes do País. Segundo ele, as consequências do trabalho serão vistas na saúde da população nos próximos anos. “Os malefícios costumam aparecer depois de 20 ou 30 anos de uso. Essa diminuição importante, que aconteceu agora, vai ter efeito lá adiante. A gente já vê, por exemplo, redução do câncer de pulmão em homens que deixam de fumar ou começam a fumar menos. Mas, no sexo feminino, ainda está subindo”, enfatiza.

AUXÍLIO PARA PARAR O Hospital conta com ambulatório de auxílio à cessação do tabagismo. Encaminhamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são feitos pela Secretaria Municipal de Saúde. Para pacientes de convênios ou particulares, o agendamento é pelo telefone (51) 3320-3222.


PESQUISA

Modelo a copiar N E U R O L O G I A D E S TA C A - S E I N T E R N A C I O N A L M E N T E E M E S T U D O S S O B R E A S Í N D R O M E D A E N C E FA L O PAT I A P O S T E R I O R R E V E R S Í V E L

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nvestigações desenvolvidas no Serviço de Neurologia posicionam o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) entre as principais instituições do mundo na área da Síndrome da Encefalopatia Posterior Reversível (Pres). A doença rara foi objeto de pesquisa no mestrado e no doutorado do neurologista Luiz Carlos Porcello Marrone, sob orientação do diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), Jaderson Costa da Costa. O trabalho analisou 61 casos ocorridos no Hospital, cujos pacientes seguem em acompanhamento. O número expressivo posiciona o banco de dados como o quarto maior do mundo. Essas informações, somadas ao trabalho desenvolvido no Centro de Pesquisa Pré-Clínica do InsCer, permitiram a criação do primeiro modelo experimental que permitirá testar, em laboratório, medicamentos específicos para a doença. “Não existe ainda um tratamento efetivo para a Pres, só sabemos como controlar a pressão arterial desses pacientes. Se quero testar um medicamento, não posso dar diretamente a uma pessoa com a síndrome. Preciso treinar em um modelo experimental e o único existente é o nosso. Quem quiser pesquisar tratamentos específicos, vai usá-lo”, explica Marrone. Os estudos renderam, até o momento, a publicação de 12 artigos em revistas internacionais; dois deles estão no Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, dos Estados Unidos. O feito posiciona a Instituição entre as que mais publicaram sobre o tema. A Pres caracteriza-se pelo aumento súbito da pressão arterial em quem não é hipertenso, podendo gerar quatro sintomas: dor de cabeça, alteração visual, crises convulsivas e coma. O quadro clínico costuma ser revertido em duas semanas. Nos casos analisa-

dos no HSL, mais da metade ocorreu em gestantes, principalmente nas que apresentaram eclâmpsia e pré-eclâmpsia. Identificaram-se diferenças entre pacientes não gestantes e gestantes e entre aqueles com acometimento somente na parte posterior do cérebro e outros em que a parte frontal também foi afetada. Este último grupo demonstrou maior gravidade. A síndrome, pouco conhecida, é diagnosticada com a análise de características clínicas e radiológicas. Segundo Marrone, a equipe do Hospital está treinada para reconhecer o problema. “Quando se diagnostica um paciente com Pres, modifica-se o tratamento de acordo com o fator desencadeador do problema. É feito um controle mais agressivo da pressão arterial, proporcionando melhora nos sintomas”, ressalta. O trabalho contou com a parceria dos serviços de Nefrologia, Obstetrícia, Reumatologia, Cardiologia, Pediatria, Oncologia e Radiologia. O modelo desenvolvido baseou-se em outro de eclâmpsia e pré-eclâmpsia usado pelos nefrologistas Giovani Gadonski e Carlos Eduardo Poli de Figueiredo e pela professora Bartira Ercília Pinheiro da Costa, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS. O projeto foi realizado na Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde e insere-se no Programa Neurovascular do Serviço de Neurologia. A partir dele, outros estudos podem ser realizados nessa linha de pesquisa. A tese foi defendida em março de 2016 com a presença do neurologista Ayrton Massaro, do Hospital Sírio Libanês (São Paulo), um dos maiores especialistas da área neurovascular do País, que está iniciando uma parceria científica com o grupo do InsCer.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Maioria dos casos registrados no HSL ocorreu em gestantes

O QUE O BANCO DE DADOS REVELA SOBRE A PRES • Afeta quatro mulheres para cada homem; • 25 anos é a média de idade; • Dor de cabeça é o sintoma mais comum, seguido de alteração visual; • Pacientes apresentam nível de pressão arterial acima de 180mmHg/110mmHg; • Gestante com alteração de pressão arterial; pessoas com lúpus ou em uso de agente quimioterápico representam a maior parte dos casos atendidos no HSL.

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DIAGNÓSTICO

Diabetes controle ajuda a reduzir danos ENFERMIDADE NÃO TEM CURA, MAS NOVAS DIRETRIZES A P O N TA M M U D A N Ç A S N O T R ATA M E N T O PA R A O T I P O 2

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oença que afeta uma em cada 11 pessoas no mundo, o diabetes recebe 12% dos gastos globais com saúde, de acordo com o Diabetes Atlas 2015, da International Diabetes Federation (IDF). A enfermidade é uma síndrome metabólica que se manifesta pela deficiência da ação da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que faz com que a glicose produzida nas refeições ou pelo fígado seja aproveitada pela célula. O resultado da falta ou insuficiência da substância gera o aumento da glicose no sangue e, consequentemente, o diabetes. A manifestação ocorre de duas formas, denominadas de tipo 1 e tipo 2. Embora o nome e os sintomas sejam semelhantes, tratam-se de diferentes patologias. No tipo 1, o pâncreas não

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produz insulina em nenhuma quantidade e acomete, em geral, pessoas muito jovens. Os sintomas são agudos e aparecem em curto prazo; os mais frequentes são fome excessiva, perda de peso, vontade de urinar com muita frequência, prostração e, nas mulheres, prurido vulvar. O diabetes tipo 2 é o mais frequente, respondendo por 80% dos casos. De origem genética, costuma ocorrer após os 40 anos. Paradoxalmente, na fase inicial, há excesso de produção de insulina, pois como as células são resistentes à ação do hormônio, o pâncreas o produz em maior quantidade. “Chega ao ponto em que o pâncreas esgota e o indivíduo passa a ter diabetes”, explica o endocrinologista Giuseppe Repetto, chefe do Serviço de Endocrinologia. Os sinto-

mas são sorrateiros e podem levar até dez anos para que se manifestem. Os principais fatores de risco são a genética, a obesidade e, nas mulheres, a gestação. Em ambos os tipos de diabetes há uma segunda fase na qual os sintomas são crônicos e a enfermidade pode levar à morte. As complicações crônicas mais comuns, principalmente no tipo 2, são doenças cardiovasculares, insuficiência renal, lesões na retina e amputações, pois a doença deteriora as artérias terminais, encontradas nos olhos, nas pernas e nos rins. Em nenhum caso a cura é possível. “Se há um grupo de células que produz a insulina, fazendo com que a glicose seja absorvida, e elas são destruídas, a única cura para os dois tipos seria repor as células”, explica Repet-


CIRURGIA É OPÇÃO

es: FOTO: OSKAR ANNERMARKEN VIA VISUALHUNT

to. Há tentativas de implantes de células, mas os resultados não são favoráveis. O tratamento para o diabetes tipo 1 é sempre com insulina; no tipo 2, quando a causa for a obesidade, a perda de peso é o tratamento. O endocrinologista acrescenta que os diabéticos não devem comer em grandes quantidades, principalmente carboidratos, presentes em alimentos como pão e batata, pois exigem volume maior de insulina para a metabolização. Há 40 anos, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) conta com ambulatório para atendimento desses pacientes, principalmente oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Alternativa de tratamento para pacientes com diabetes tipo 2 é a cirurgia bariátrica, visto que a obesidade é o fator de risco preponderante nesses casos. Quando o Índice de Massa Corporal (IMC) é superior a 35, a indicação cirúrgica já é usual, por se tratar de casos de obesidade com doença associada. Até então, não havia diretrizes para casos de IMC entre 30 e 35, mas um consenso internacional favoreceu a indicação da cirurgia do diabetes – que passa a ser chamada de cirurgia metabólica – para pacientes desse grupo. As terapias intervencionistas e as diretrizes para a cirurgia bariátrica em pacientes com diabetes tipo 2 foram revisadas no 3º Congresso Mundial de Terapia Intervencionista para o Diabetes Tipo 2 e 2º Consenso de Cirurgia para Diabetes Tipo 2, que ocorreu em setembro de 2015, em Londres (Inglaterra). O cirurgião bariátrico e diretor do Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica do HSL (COM), Cláudio Mottin, participou da resolução, que reuniu 800 especialistas de todo o mundo, entre cirurgiões, endocrinologistas e clínicos. “Foi um desafio aos paradigmas convencionais de tratamento de diabetes e obesidade. A decisão comum foi muito forte”, revela. O procedimento cirúrgico consiste na redução do estômago, e o principal objetivo é a melhora da hiperglicemia e de outros parâmetros metabólicos. Esse tratamento proporciona melhora e remissão do paciente, com ou sem remédio, em longo prazo. No entanto, não é correto falar em cura. “Para ser considerada cura, seria necessário acompanhar o indivíduo por sua vida inteira e não encontrar alterações; isso ainda não é possível, apesar de termos pacientes remissos há 20 anos.” Mottin destaca que a operação não reflete apenas no tratamento do diabetes, mas atua no controle da hipertensão e de alterações de colesterol e triglicerídeos. Os critérios para realização envolvem mais do que o IMC, que é o método tradicional, pois não indica a gordura e não é apurado para definir obesidade ou doenças. “Um indivíduo com 34 de

IMC pode ser magro, pois tem muito músculo e percentual de gordura bom, de 10% a 15%. Também pode ter um com 25 de IMC e ser gordo, com até 40% de gordura no corpo, embora seja leve.” Por essa razão, é utilizado o critério de antropometria, que consiste em medir o percentual de gordura no corpo, a massa magra e as relações que existem entre essas medidas. O cirurgião revela que o COM não trabalha com balança há vários anos, o que também é uma quebra de paradigmas. Os cuidados clínicos associados à cirurgia são considerados fundamentais, como a mudança dos hábitos alimentares e de estilo de vida e a prática de exercícios físicos. “Esse é um modelo de tratamento, que inclui a cirurgia. A cirurgia, sem esse modelo, não funciona”, declara. O envolvimento familiar também é fundamental no processo. Há contraindicação para pacientes que não se disponham a fazer o tratamento e o acompanhamento pós-operatório; em casos de risco de vida para a operação; para quem bebe ou fuma; ou em pacientes com algum distúrbio emocional ou psicológico, até que seja controlado. A faixa etária com recomendação é entre 16 e 65 anos; fora esses, os outros são considerados casos excepcionais. É a única terapia intervencionista para o tratamento do diabetes tipo 2. As demais opções são clínicas e medicamentosas. A discussão envolvendo a indicação cirúrgica para diabetes é recente. Nos últimos 15 anos, houve pesquisas e evidências que permitiram chegar a esse nível de consenso. “A mensagem é esta: temos tratamento além do remédio”, afirma Mottin. A cada dez cirurgias realizadas pelo COM, duas são em diabéticos. Além das diretrizes aprovadas internacionalmente, está sendo criado um consenso no Brasil, que deve ser aprovado pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Ministério da Saúde. Mas centros considerados de excelência e com critérios definidos e aprovados por conselhos de ética e bioética, como o COM, são autorizados a realizar o procedimento.

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INVESTIMENTO

Mudanças miram segurança e assistência qualificada FOTO: BRUNO TODESCHINI

BLOCO CIRÚRGICO MODIFICA E S T R U T U R A E G E S T Ã O PA R A GARANTIR MAIOR PRODUTIVIDADE E E X C E L Ê N C I A N O AT E N D I M E N T O

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bloco cirúrgico é uma peça chave para o bom funcionamento de um hospital. Um trabalho fluido e alinhado reflete nos demais setores, trazendo mais qualidade na assistência e garantindo a sustentabilidade da instituição. Ciente dessa relevância, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) realizou alterações na estrutura e na gestão da área. O objetivo é melhorar os fluxos e processos desenvolvidos, aumentando a produtividade e excelência do atendimento. Estruturalmente, a maior movimentação ocorreu nas salas de recuperação, para onde os pacientes são levados logo após a realização dos procedimentos. A Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Cirúrgica trocou de área, passando de oito para dez leitos. A recuperação pediátrica também foi transferida, abrindo espaço para a construção de uma sala destinada ao treinamento dos alunos da Faculdade de Medicina da PUCRS (Famed). Por fim, o setor destinado à recuperação pós-cirurgia cardíaca foi alocado junto à Unidade Coronariana, localizada em outro andar. “Temos mais leitos de intensivismo e de recuperação pediátrica, além de oferecermos um lugar mais confortável às crianças e aos pais. Além disso, recentemente, promovemos uma atualização do nosso instrumental, melhorando as condições de trabalho. Ficamos com um bom desenho, aliando qualidade e segurança”, explica o diretor técnico

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e clínico do HSL, Plinio Vicente Medaglia Filho. Para comandar esse processo, foi apresentado o novo gestor para o bloco. Um dos cirurgiões mais experientes da Instituição, Jarcedy Alves assumiu o cargo em março de 2016 e passou a trabalhar na melhoria dos processos, em parceria com a coordenadora de enfermagem, Alessandra Padilha, e o encarregado administrativo Daniel Dornsbach Marques. Cuidado com materiais, horários, escalas, turnos de trabalho e pessoal são temas abordados por eles. Entre as estratégias utilizadas por Alves nessa etapa está o encontro com as equipes cirúrgicas para apresentação do novo projeto e das alterações no funcionamento do local. Com 17 salas, divididas entre profissionais de diferentes áreas, regras são essenciais para manter a organização e otimizar o uso. “Fizemos reuniões solicitando a colaboração para que cada sala siga uma regra relacionada ao tipo de especialidade. Um bom número dos grupos já se ajustou à filosofia do Hospital, principalmente, no que se refere ao protocolo de cirurgia segura”, destaca. As ações têm o apoio de todos os envolvidos no dia a dia do setor, passando por médicos, enfermeiros, funcionários administrativos e da higienização. O objetivo desses movimentos é diminuir o tempo de permanência na UTI e na recuperação, aumentar a

Sala de recuperação

produção e a segupediátrica rança assistencial, passou por reestruturação aliando os protocofísica los com uma gestão mais eficiente dos materiais. “O bloco é o coração do Hospital e, por isso, tem que andar como um equipamento bem calibrado. Não pode ter erro”, enfatiza Alves.

PROTOCOLO DE CIRURGIA SEGURA O Protocolo de Cirurgia Segura é um dos mecanismos de barreira preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre seus objetivos está garantir a avaliação pré-operatória; a lateralidade do procedimento, assegurando o local e o lado do corpo corretos; a identificação de comorbidades importantes e alergias; a presença de profissionais e materiais corretos em sala; e o tipo de cirurgia e de anestesia corretos. Para isso, foi elaborado um check list eletrônico, que deve ser conferido pela equipe. O Núcleo de Segurança do Paciente é responsável por comandar esse projeto.


INVESTIMENTO

Exames de ponta em nova estrutura

L A B O R AT Ó R I O D E N E U R O F I S I O L O G I A PA S S O U P O R R E F O R M A F Í S I C A PA R A AT E N D E R PA C I E N T E S C O M M A I S C O N F O R T O

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isando a aprimorar a qualidade dos serviços, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) realizou investimentos no Laboratório de Neurofisiologia Clínica, que é referência nacional para procedimentos relacionados ao sistema nervoso periférico, eletroencefalograma e polissonografia. A unidade foi a primeira no Brasil a realizar este exame em recém-nascidos, em 1980. Atualmente, o HSL é o único hospital que oferece a polissonografia completa para crianças. Aliada ao diferencial técnico da equipe médica, formada por especialistas em Neurologia, a estrutura física foi reformulada para melhor atender aos pacientes. O laboratório conta com três salas para a realização de eletroencefalograma, uma para eletroneuromiografia, uma de polissonografia, local para interpretação de exames, recepção, sala de espera e dois banheiros dentro da unidade, além dos equipamentos de ponta. “É a prática aliada à estrutura, que agora está muito boa. Foi uma mudança radical”, comemora o responsável pelo Laboratório, neurologista Daniel Bocchese Nora. Os exames são feitos mediante a demanda de outras áreas e possibilitam o diagnóstico de diferentes patologias. A eletroneuromiografia é capaz de identificar neuropatias e miopatias – doenças que levam à fraqueza, dormência e formigamento das mãos, como a Síndrome do Túnel de Carpo. Também é usada na detecção da miastenia grave, através da eletroneuromiografia de fibra única, outro diferencial oferecido pelo Laboratório. Nora explica que o procedimento consiste em estimular os nervos, através de pequenos impulsos elétricos; e os músculos, com o uso de agulhas,

para avaliar as reações e a existência ou não de padrões de normalidade. Esses casos são encaminhados por ortopedistas, traumatologistas, neurologistas, reumatologistas, médicos do trabalho e fisiatras, áreas que atuam em lesões traumáticas e decorrentes de esforço repetitivo. A média é de 500 procedimentos mensais. A polissonografia é o padrão ouro para diagnosticar distúrbios do sono, como problemas respiratórios, insônia, movimentos involuntários, entre outros. É um método não invasivo, que exige muita técnica e profissionais capacitados para a coleta das informações, já que a duração do exame é de 8h, em média. Também é indispensável um especialista em neurologia ou medicina do sono para ler os resultados, que são diferentes nas variadas faixas etárias. Em crianças maiores e em adultos, o procedimento é noturno, sendo necessário que se passe a noite no Hospital; para recém-nascidos e crianças de até dois anos, a sesta é uma possibilidade, com duração de cerca de 2h. “Recebemos muitas crianças que vêm fazer investigação de problemas do sono e, junto, têm problemas neurológicos, como autismo, epilepsia e atrasos no desenvolvimento, o que torna o exame ainda mais complexo”, explica a neurologista Magda Nunes, responsável pelo diagnóstico. O eletroencefalograma é utilizado para medir as atividades e o ritmo cerebral, em casos de doenças como a epilepsia. São realizados cerca de 350 procedimentos dessa natureza por mês. “Os três segmentos estão interagindo e melhorando em conjunto”, destaca Nora. A expectativa é de que, com a reestruturação, a demanda aumente em 30% a 40%.

FOTOS: BRUNO TODESCHINI

Nora (ao centro) chefia o laboratório

Técnicas acompanham exame realizado em outra sala

SAIBA MAIS Os procedimentos são realizados por convênio e por modo particular. Exames de eletroencefalograma e eletroneuromiografia também são feitos via Sistema Único de Saúde (SUS), mediante encaminhamento. Telefones: (51) 3320-3268 e 3320-3000, ramal 2579.

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INTEGRA

Arte que faz b LETRAS E MEDICINA DA PUCRS LEVAM LEITURA E M Ú S I C A PA R A PA C I E N T E S PSIQUIÁTRICOS DO HSL

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m caminho para auxiliar a recuperação de pacientes internados é a arte com eixo na leitura. Esse é o mote do projeto Integrando literatura e saúde, das Faculdades de Letras e Medicina da PUCRS, desenvolvido no Hospital São Lucas (HSL). Existente há 18 anos na Instituição, anteriormente estava voltado apenas à Pediatria. Considerando os resultados positivos alcançados, desde 2014 as atividades foram ampliadas para os adultos na Unidade de Internação Psiquiátrica. Parte do Programa de Integração Ensino-Serviço (Integra), comandado pela professora Valéria Corbellini, a ação é desenvolvida na ala diariamente no período da tarde, não interferindo na rotina da assistência. É resultado de um trabalho que envolve bolsistas de iniciação científica e pós-graduandos, além de médicos do HSL, professores e pesquisadores. Segundo a coordenadora do projeto, professora Vera Wannmacher Pereira, da Letras, o grande objetivo é usar a arte, especialmente a literatura, como geradoras de prazer. O grupo realiza leituras e encenações para os pacientes, além de disponibilizar livros aos internados. Outra atividade desenvolvida são os saraus mensais, que aliam a literatura à música, com interpretações individuais e em coro e declamação de textos com a participação dos pacientes. “O atendimento voltado para os adultos da Psiquiatria

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exige, ao mesmo tempo, coragem e cautela. A verdade é que a adesão foi muito rápida. Segundo os médicos, isso colabora para o tratamento. Nosso próximo passo é organizar uma biblioteca interna para o local. Já colocamos ali um número razoável de livros, aprovados pela área médica”, informa Vera. Para desenvolver um trabalho como esse, em uma situação de grande vulnerabilidade dos participantes, é importante estar bem preparado. Por isso, semanalmente, o grupo

Paciente participa de apresentação durante sarau mensal

encontra-se para conversar sobre as demandas e experiências vividas, falando sobre as dificuldades encontradas e os possíveis encaminhamentos necessários. São feitos ainda exercícios de leitura e encenação. Eles contam também com as orientações literárias do professor Ricardo Barberena. A relação com a equipe do Hospital é outra razão para os retornos positivos. Uma vez por semana um


em à saúde FOTOS: CAMILA CUNHA

dos integrantes do grupo participa de reunião com os profissionais da Psiquiatria na qual é discutida a situa­ ção dos internados, permitindo que a abordagem seja adaptada a cada caso. Além disso, o projeto conta com uma coordenação médica, a cargo do nefrologista Ivan Carlos Antonello, que dá orientações sobre a condução do trabalho sob a ótica da assistência. “Vejo a aproximação da Faculdade de Letras como um despertar da saúde através da arte. É emocionante ver o

entusiasmo dos alunos ao perceberem que acordaram os sentimentos e conhecimentos poéticos e literários de pessoas que chegaram aqui em situação de sofrimento e supostamente empobrecidos para possibilidades de criação”, ressalta o médico. Mais do que criar novos leitores, as ações ajudam a construir pontes de afeto e conforto entre os envolvidos. “O segredo é como nós nos relacionamos com cada um – o quanto eles sentem que gostamos

Declamação de textos é uma das atividades desenvolvidas junto com os internados

deles, que vamos lá para ajudá-los e que estamos comprometidos. Quanto mais conseguimos evidenciar isso, melhor o resultado”, explica Vera. Segundo ela, o desejo é qualificar e intensificar esse trabalho e ampliar a iniciativa para outros setores do Hospital. Para tanto, é necessário aumentar a equipe, com voluntários que podem vir de todos os cursos da Universidade.

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VIVA MELHOR

Descanso reparador

FOTO: PLANETCHOPSTICK VIA VISUAL HUNT

D I S T Ú R B I O S D O S O N O P O D E M E S TA R RELACIONADOS A OUTRAS DOENÇAS

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Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 40% da população brasileira sofra de algum tipo de distúrbio do sono, sendo o ronco, a apneia obstrutiva e a insônia, os mais comuns. Interferências externas e estímulos, como uso de aparelhos eletrônicos ou consumo de alimentos e bebidas estimulantes antes de dormir, são fatores que podem comprometer a qualidade do descanso. O pneumologista Leandro Fritscher, do Serviço de Pneumologia, explica que os distúrbios estão associados a outros problemas de saúde. A apneia obstrutiva do sono – colapso nas vias aéreas que ocorre quando o indivíduo está dormindo e ocasiona pausas na respiração – está relacionada a um índice aumentado de infarto, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e arritmias. A insônia pode estar ligada a problemas de cognição e memória e, geralmente, é causada por um componente comportamental. O diagnóstico é clínico, mediante conversa com o médico e exame físico. Quando há suspeita de outro distúrbio, a polissonografia é indicada para diagnosticar transtornos, como apneia do sono e síndrome das pernas inquietas. O sonambulismo e o terror noturno são comuns em crianças, mas como estão relacionados à maturidade cerebral, tendem a melhorar com o desenvolvimento. Além disso, dormir mal pode favorecer a hipertensão.

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FIQUE ATENTO Mecanismos externos prejudicam o descanso e alguns fatores devem ser observados. Recomenda-se que o quarto seja usado exclusivamente para dormir, com ambiente tranquilo, de temperatura agradável, sem televisão e barulho em excesso, pois esses estímulos fazem o cérebro se manter alerta, afetando o relaxamento. “Pessoas que dormem bem podem, por exemplo, assistir televisão na cama ou usar telefones e tablets; mas, para aquelas com queixa de insônia, isso é um problema e deve ser evitado no quarto”, aconselha Fritscher. Atividades que requerem concentração também dificultam o descanso e a indução normal ao sono. A meditação é uma boa alternativa. Interferências orgânicas, como a reação do organismo a determinados alimentos, afetam a capacidade de dormir. O maior exemplo é a cafeína, que não é recomendada em nenhuma quantidade para quem sofre de insônia. Chimarrão e alguns chás também possuem substâncias psicoativas que devem ser evitadas. As refeições à noite devem ser leves e, de preferência, feitas 2h antes de dormir. Evitar cigarro e álcool e realizar exercícios físicos regularmente contribuem para o repouso.

O consumo de medicamentos para dormir deve ser evitado de forma consistente. O melhor remédio é a mudança de hábitos, através do estabelecimento de horários para dormir e acordar e evitando cochilos de mais de 30 minutos. Há pessoas que possuem o ciclo de sono-vigília retardado, resultando na necessidade de dormir e acordar mais tarde. Se for fisiológico, não apresenta complicações. O problema é forçar artificialmente para atividades como trabalho e estudos. O especialista aconselha que profissionais que retornam de plantões durmam algumas horas, para descansar, e busquem se alimentar em horários usuais com a família, para que não tenham a vida social prejudicada. Não há tempo mínimo para completar o ciclo do sono, apesar de a média ser de 7h a 8h. “Cada um tem seu relógio biológico, que deve ser respeitado,” ressalta. O tempo necessário é o que permite à pessoa se sentir despertada e sem sono durante o dia. O Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) conta com o Ambulatório de Distúrbios Respiratórios do Sono que atende a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), mediante encaminhamento.


BASTIDORES

Assistência

humanizada SUPERVISÃO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA RECEBE INVESTIMENTOS E SE D E S TA C A P O R I N I C I AT I VA S Q U E VA L O R I Z A M PA C I E N T E S E C O L A B O R A D O R E S

C

om função essencial no contexto hospitalar, a Supervisão de Nutrição e Dietética atua 24h por dia, prestando atendimento a pacientes, acompanhantes e colaboradores, em todas as áreas da Instituição. É composta por três unidades: Distribuição, Nutrição Clínica e Produção, com a supervisão da nutricionista Karen Freitas Bittencourt. Ao ingressar no Hospital, o paciente é acolhido por nutricionistas clínicas, que realizam a triagem, conforme a idade, para indicar os níveis de assistência. A etapa seguinte é a prescrição de nutrição, em equilíbrio com as recomendações médicas. Os dados do atendimento são cadastrados e gerados rótulos indicando diretrizes à produção e distribuição do alimento. Nesse momento, são apontadas possíveis restrições, intolerância a alimentos e até mesmo o gosto pessoal. “Já ocorreu de fazermos o cardápio só para um paciente, devido a múltiplas alergias. Se possui intolerância ou não gosta de determinado alimento, sempre temos outra opção”, ressalta a coordenadora de Distribuição, Luciane Carvalho. O pedido é encaminhado à Produção e a unidade de Distribuição finaliza o processo, conferindo se os alimentos entregues condizem com a dieta indicada. O acompanhamento é contínuo durante todo o período de internação e, muitas vezes, a orientação nutricional se estende ao pós-alta. A unidade destaca-se por iniciativas de valorização dos colaboradores e pacientes atendidos. “A gente também cuida de quem cuida. Sempre buscamos oferecer um almoço

especial e fazer parcerias em campanhas”, diz Luciane. Desde 2014, ocorre o Momento Estrela, para homenagear os funcionários e as unidades que recebem elogios por meio do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) ou diretamente dos clientes. O aniversário da equipe e dos pacientes também não passa em branco. Todos recebem um cartão e um bolo, mesmo quando a dieta é restrita, no caso dos internados. As crianças hospitalizadas também são contempladas, recebendo lanches especiais em datas comemorativas. As perspectivas da Supervisão são promissoras para o segundo semestre de 2016, quando deve ser inaugurado o lactário. O setor proporcionará maior segurança e ambiente adequado à produção de mamadeiras e administração da nutrição enteral infantil. A coordenadora clínica, Elaine Adorne, aponta que as novas áreas de vestiário, recepção de produtos, preparo e higienização de materiais contemplam todas as exigências da legislação. “É uma melhora em termos de estrutura, processo e linha de trabalho”, ressalta. O resultado será parte de um momento ímpar para a área materno-infantil do Hospital, que já conta com recursos, como Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Pediátrica, UTI Neonatal, sala de coleta de leite humano e área destinada ao Método Canguru. Para qualificar a distribuição, está em andamento a implantação de novos utensílios, com benefícios no atendimento e na redução de resídu-

FOTO: BRUNO TODESCHINI

Parte dos integrantes

os. A Nutrida Supervisão de Nutrição, setor que ção Clínica atende funcionários e celebra a pacientes 24h por dia criação do inovador ambulatório de diabetes com contagem de carboidratos, além da ampliação dos existentes. São 20 ambulatórios com atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e semiprivativo. Os profissionais participam de pesquisas e capacitações constantes, visando aprimorar ainda mais a qualidade da assistência.

EQUIPE A Supervisão conta com 148 profissionais: uma supervisora, duas coordenadoras, 20 nutricionistas, 19 técnicos de nutrição, um chefe de cozinha, oito cozinheiros, 90 atendentes de nutrição, uma encarregada administrativa e seis auxiliares administrativos.

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C U R TA S PAHC ALIA-SE A NOVOS PROJETOS O Porto Alegre Health Care (PAHC), grupo sem fins lucrativos idea­lizado pela Secretaria do Turismo do município e do qual participam os hospitais São Lucas da PUCRS (HSL), Mãe de Deus, Moinhos de Vento e Santa Casa de Misericórdia, passou a integrar duas novas iniciativas ligadas aos governos estadual e municipal. Elas buscam utilizar a saúde como fator de desenvolvimento econômico. A primeira ação criada foi o Cluster de Tecnologias para Saúde do RS. Ele faz parte do plano de internacionalização do Medical Valley, organização sediada na Alemanha que reúne indústrias e instalações científicas altamente especializadas da área de engenharia médica, que escolheu o Estado como sede brasileira da empreitada. A meta é trazer melhorias na saúde nas próximas décadas, alavan-

FOTO: ANGELA VENCATO

cando a pesquisa e a indústria no setor em prol da sustentabilidade. Foram estabelecidos três grupos de trabalho e durante o ano ocorrerá o primeiro summit do projeto, espécie de congresso que reúne participantes da pesquisa, do ensino e da assistência com o intuito de gerar propostas para as futuras empresas que se instalarão no RS. Nesse sentido, Porto Alegre também se posiciona como uma capital preparada para fornecer serviços no setor e criou a marca Health Hub. Durante o ano, integrantes da iniciativa – governo, hospitais, empresas e parques tecnológicos – irão apresentar suas contribuições. A partir dos dados, serão formados grupos de trabalho para elaborar um plano que reforce a imagem do local como referência. Em 2015, o PAHC apresentou aumento de 10% nos atendimentos realizados.

BANNER HOMENAGEIA EQUIPE Maria Jozefa Costella, filha da paciente Auda Ferraz, entregou à enfermeira Elin Fabiana Vasquez (foto) um banner de agradecimento à equipe da internação do 7º andar Norte pelo atendimento prestado à mãe dela durante sua hospitalização. A iniciativa é uma homenagem aos médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e nutricionista da unidade.

DESTAQUE UNITV Coordenador-geral do Centro de Pesquisa Clínica, o nefrologista Domingos Otávio Lorenzoni D’Avila recebeu o Prêmio Destaque Unitv 2015. A homenagem é um reconhecimento por sua expressiva contribuição à Nefrologia no Brasil. Na cerimônia de entrega, o Reitor da PUCRS, Ir. Joaquim Clotet, expressou suas considerações ao especialista: “A Medicina tem os seus modelos e o senhor é um deles. Em nome da PUCRS, dos irmãos Maristas e da história da Medicina de nefrologia, muito obrigado”. D’Avila liderou o primeiro grupo a trabalhar com diálise crônica no Estado e organizou o Serviço de Nefrologia do HSL, que é destaque em pesquisa, assistência, ensino e transplantes renais. Presidiu as sociedades gaúcha e brasileira da especialidade.

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VOLUNTARIADO O HSL instituiu a Coordenação de Pastoral e Solidariedade. Sob liderança da Ir. Liane Terezinha Berres, a unidade reúne ações da Pastoral da Saúde, do Voluntariado e da Humanização. A reestruturação atende a uma demanda da Instituição para ter maior integração e sinergia com outros empreendimentos da Rede Marista. O voluntariado na área da saúde tem como objetivo a humanização e a melhoria na qualidade de vida e na autoestima de pessoas hospitalizadas, seus familiares e profissionais hospitalares. Para ampliar a captação de recursos e manter o trabalho nessa área, composto por 12 projetos, foi criada uma conta corrente para a Central do Voluntariado. Os valores arrecadados são revertidos, principalmente, aos acompanhantes dos pacientes de outros municípios, por meio do repasse de materiais de higiene e alimentação; e aos moradores de Porto Alegre em acompanhamento na Radioterapia, que não têm isenção nas passagens municipais. As doações podem ser feitas no Banco do Brasil, agência 3168-2, conta corrente 5446-1.

FOTO: BRUNO TODESCHINI

Reitor da PUCRS, Ir. Joaquim Clotet (E), entrega a D’Avila a homenagem


Imagem do Sagrado Coração de Jesus é entregue por Turú a Etges (E), simbolizando a fundação da Província

PROVÍNCIA SUL-AMAZÔNIA A Rede Marista promoveu, em dezembro de 2015, o Capítulo Provincial, principal assembleia da instituição. O evento foi marcado pela fundação da Província Marista Brasil Sul-Amazônia e pela posse do Conselho Provincial para o triênio 2016-2018. Com a unificação, além das 17 cidades do Rio Grande do Sul e de Brasília (DF), a Rede passa a abranger Boa Vista (RR); Manaus, Tabatinga e Lábrea (AM); Porto Velho (RR); e Cruzeiro do Sul (AC). A atividade contou com a participação do superior-geral do Instituto Marista, Ir. Emili Turú. O presidente da Rede Marista, Ir. Inácio Etges, e o vice-presidente, Ir. Deivis Fisher, foram reconduzidos aos cargos à frente da mantenedora e permanecem como provincial e vice-provincial, respectivamente.

FOTO: FABRÍCIO BASSO/REDE MARISTA

HSL TEM NOVO SITE

COM RENOVA CERTIFICAÇÃO

Entrou no ar, em 6 de junho, o novo site do HSL. Com visual renovado, ficou moderno, dinâmico e com mais conteúdo. As seções foram ampliadas, detalhando dados como serviços oferecidos e especialidades atendidas. Nos resultados de exames, podem ser consultados laudos do Laboratório de Patologia Clínica, da Ecografia e da Endoscopia, trazendo mais comodidade aos pacientes. A reformulação do site permitiu também mais facilidade para acessá-lo por dispositivos móveis. Os endereços são www.hospitalsaolucas.pucrs.br e www. hsl.pucrs.br. O projeto foi desenvolvido em parceria entre os setores de Informática e de Comunicação.

O Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica (COM) renovou a certificação de Centro de Excelência Internacional em Tratamento da Obesidade Grave. A distinção é concedida pela Surgical Review Corporation e foi obtida após visita para reavaliação da infraestrutura de cuidados hospitalares especializada e dos dados do Centro, como número de cirurgias, baixo índice de complicações e mortalidade e banco de dados completo dos pacientes operados. O COM conquistou o título pela primeira vez em 2012 e, atualmente, é o único centro no país capacitado a treinar outras instituições.

O que a Universidade tem de melhor em investigação científica e tecnológica está presente no Catálogo de Pesquisas PUCRS 2016 (www.pucrs.br/catalogodepesquisas). A publicação eletrônica bilíngue (português/ inglês), coordenada pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento (Propesq) e executada pela Assessoria de Comunicação e Marketing (Ascom), apresenta vídeos, áudios e textos com base em entrevistas com mais de 100 pesquisadores. O material, disponível também em versão impressa, inclui

a lista com todas as estruturas de pesquisa da PUCRS. O conteúdo está distribuído em oito eixos temáticos: Biologia e Saúde; Cultura e Educação; Energia e Recursos Naturais; Humanidade e Ética; Meio Ambiente e Biodiversidade; Materiais, Processos e Dispositivos; Sociedade e Desenvolvimento; Tecnologia da Informação e Comunicação.

FOTO: BRUNO TODESCHINI

CATÁLOGO DE PESQUISAS

RESIDÊNCIA EM EMERGÊNCIA Desde março de 2016, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) passou a contar com a nova residência médica em Medicina de Emergência. A especialidade foi reconhecida em setembro de 2015 pelo Conselho Federal de Medicina, pela Comissão Nacional de Residência Médica e Associação Brasileira de Educação Médica. Com duração de três anos, o novo programa de residência permitirá o ingresso de quatro profissionais

ao ano no HSL, que atuarão na Emergência Adulta, nas unidades de tratamento intensivo, na Pediatria, no Centro Obstétrico e na Internação Hospitalar. A formação contempla ainda estágios no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no Hospital Cristo Redentor e em uma terceira instituição a escolher, como Estágio Opcional. Neste primeiro ano de funcionamento, todas as vagas do programa foram preenchidas.

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TRAJETÓRIA

História de integração

a serviço da saúde COM MAIS 50 DE ANOS DE EXPERIÊNCIA, N E F R O L O G I S TA D O M I N G O S D ’ AV I L A R E Ú N E FEITOS EM DIVERSAS ÁREAS DA MEDICINA

A

união entre assistência, ensino e pesquisa não é parte apenas da missão do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL), mas também a marca da carreira do nefrologista Domingos d’Avila. O médico escreveu grande parte da sua história na Faculdade de Medicina da Universidade, no Serviço de Nefrologia e no Centro de Pesquisa Clínica (CPC) do HSL. Sua trajetória demonstra a importância de integrar o conhecimento das áreas e dividir experiências, aumentando a eficiência dos resultados alcançados. Nascido em Pelotas (RS), D’Avila vive em Porto Alegre desde os dois anos e, na cidade, construiu sua carreira. Formou-se em Medicina na turma de 1963 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e exerce a profissão há 52 anos. Após a conclusão do curso, realizou residência em Medicina Interna na mesma Universidade e, ao final do período, foi estudar nefrologia na Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos). Para ele, o tempo no exterior, passado em um prestigioso serviço e ao lado de importantes profissionais, acrescentou muito em sua formação. Além da prática médica, o ensino sempre esteve em seu caminho. Entre as experiências na área estiveram instituições como a Faculdade Católica de Medicina, atual Fundação Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre; a UFRGS e a PUCRS, onde trabalha há 40 anos. Nesse período, Domingos viu o HSL desenvolver-se e transformar-se em referência de qualidade no atendimento. Uma dessas áreas de excelên-

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cia da Instituição é o CPC, atualmente coordenado por ele. Criado em 2008, o setor conta com mais de 30 investigadores em 17 áreas distintas e é um dos líderes na realização de estudos clínicos no País. Além do CPC, a Hemodiá­ lise é outra área de atuação do médico. O trabalho no setor proporciona forte ligação com o paciente, criando um ambiente extremamente afetivo. “Quem está em hemodiálise, está em permanente contato com toda a equipe, não apenas com o médico. Essa relação torna-se quase familiar, pois existe uma interdependência muito grande. É uma interação muito profunda que temos e isso se estende depois para o paciente transplantado, que passa a fazer parte da nossa vida”, afirma. O carinho com o Hospital é acompanhado da compreensão e do apoio da família fora dele. Pai de duas filhas e avô de duas netas, é casado com Maria Araci há 50 anos. D’Avila ressalta o suporte recebido da parceira durante sua caminhada. “Fora daqui, tenho uma esposa que compreende a minha vida”, ressalta. Os planos e perspectivas para o futuro ainda estão em aberto. Para ele, a incerteza é parte essencial e inevitável da vida. “Eu sempre dizia aos meus colegas que a gente tem que ter

FOTO: CAMILA CUNHA

D’Avila dedica-se

há 40 anos às a percepção de aulas na PUCRS quando se tore à assistência e pesquisa no HSL na perigoso ou mais perigoso. Sempre digo que médico é muito perigoso. Quando nos tornamos mais do que o usual, é hora de parar. Ninguém quer realmente parar, a menos que esteja incapacitado. Talvez eu comece a mudar o foco da atividade. Não tenho uma ideia clara, mas acho muito difícil programar decisões. A vida é extremamente surpreendente. Nada é exatamente como a gente planejou e o futuro é sempre uma incógnita”, avalia.


CRÔNICA

Viver, sempre.

Elaborar, quando possível! IVAN ANTONELLO, nefrologista e professor da Faculdade de Medicina

“E

ra um velho que pescava sozinho num esquife na corrente do Golfo, e saíra havia já por oitenta e quatro dias sem apanhar um peixe.” Assim começa a história de O velho e o mar, de Ernest Hemingway. A luta do homem contra a natureza, tentando sobreviver e podendo morrer a qualquer momento. “Sentia-se dormente, dolorido, e as feridas e as partes mais esforçadas do corpo doíam-lhe com o frio da noite.” Poderia morrer por conta dos riscos, das feridas, e porque era velho. Não haveria miséria nenhuma nesta morte. E quando não se é velho, não há riscos ou feridas, morre-se por quê? Lembrei-me disso pensando nas mortes da professora Beatriz Menegotto e dos alunos Leonardo Mazzochi e Fernando Furlan. Jovens, não iniciaram o ano de 2015 pensando enfrentar o mar. Não precisariam, tinham tempo para sonhar. Imaginaram, fizeram planos, e se alegraram. Teriam um bom ano, como é regra para os bons na Universidade ou fora dela. Nem sempre regras nos fazem felizes, mas sofremos mais por via das exceções. Minha memória é um trem em movimento, com muitas janelas. Algumas se abrem para os corredores do Hospital São Lucas e as alamedas da Universidade. Associações livres são inevitáveis. Em uma tarde de quinta-feira, anos atrás, atendi a uma menina de 19 anos. Encaminhada por seu pediatra, que recomendou que passasse a consultar comigo. Afinal, havia crescido e era hora de

buscar um médico que atendesse adultos. Ao término, conversávamos como velhos conhecidos. - Estou me sentindo melhor, gostei da consulta. Acho que o senhor será meu médico pelo resto da minha vida. - É bem provável que não. Talvez seja teu médico pelo resto da minha vida. Vi uma tênue sombra no olhar, que acompanhou o esboço de sorriso triste. Minha frase havia sido só uma tentativa de humor. Qualquer um saberia que “o resto da minha vida” estaria mais próximo que “o resto da vida dela”. O óbvio não precisava ser dito. Nem por brincadeira, a alguém de 19 anos. Tivesse aceitado o elogio e seguido em frente, não estaria aqui remoendo isso. E note-se, nem mencionei a palavra morte, ainda que fosse a minha. E em evocação fugaz. Ou não? A vida pode ser representada pela extensão entre os dois braços bem abertos antes de um abraço ou pela distância entre o indicador e o polegar, quando pedimos muito pouco de alguma coisa. E o resto da vida para um jovem traz futuro, sonhos e conquistas. Já para alguém que passou dos sessenta, lembra amanhã, pressa e cuidados. Nos dois casos, se não há doença, a morte parece estar sob controle. Se estiver velho e com saúde, não morro já. Se estiver jovem e com saúde, não morres nunca. A morte precisa ser conhecida, é apenas uma palavra, pode ser soletrada, faz parte do cenário em que vivemos, mas quando realiza antes do tempo tem o doloroso efeito de encurtar a vida.

FOTO: GILSON OLIVEIRA

Olho as estrelas, no céu das noites claras de verão. Sua luz demora bilhões de anos para atravessar o cosmo, embora viaje em velocidade aproximada de 300 mil quilômetros por segundo. É a corrida pela imensidão. A estrela que vejo pode não estar mais lá, sua explosão já ocorreu e, no entanto, sigo vendo sua luz. E o que vejo existe... para mim. Acho até que saudade é mais ou menos a mesma coisa, é o brilho do passado que se faz presente. A luz dos queridos que transpõe o Universo. Enfim, são assuntos que povoam o imaginário ao tentar entender, ou consolar, perdas que não se entendem ou consolam. Dois mil e dezesseis será melhor, mas sempre que olharmos para o céu... 2015 estará lá.

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