Brasil em Código - 16ª edição

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BRASIL EM

Uma publicação da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação • abr/mai/jun 2015 • www.gs1br.org

EDIÇÃO 16

CÓDIGO

AGENDA SUSTENTÁVEL GS1 Brasil lança projeto estratégico para consolidar práticas socioambientais e gerar valor aos seus colaboradores e parceiros

CARREIRA

CRESCEM AS OPORTUNIDADES DE TRABALHO NA ÁREA DE AUTOMAÇÃO



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ao leitor

Práticas que geram valor Neste momento em que o mundo clama pela preservação dos recursos naturais e repensa as complexas relações humanas, deixando o individual em benefício da coletividade, a GS1 Brasil reforça seus valores de sustentabilidade e responsabilidade social que sempre fizeram parte de sua cultura. Assim, decidimos elevar esse assunto a outro patamar, colocando-o como uma das prioridades de nossa estratégia. É por isso que anunciamos, na matéria de capa desta edição, o lançamento do Sustentabilidade em Código, um programa que envolve diversas iniciativas de proteção ao meio ambiente e valorização do ser humano. Para conectar as várias iniciativas que serão colocadas em prática, escolhemos um elemento que conhecemos muito bem – a automação. Ela estará no centro das várias ações previstas. O programa envolve a sustentabilidade em seu sentido mais amplo. No aspecto social, por exemplo, a proposta é ir além do assistencialismo. Com práticas estruturadas nos modelos de gestão atuais, ajudaremos a profissionalizar e a automatizar as operações de organizações não governamentais. Já no viés ambiental, o programa começa em casa, com o reforço da coleta seletiva, que já acontece em nossa sede em São Paulo (SP), e reaproveitamento de materiais utilizados nos estandes dos eventos que participamos durante o ano todo. Sem perder de vista o aspecto econômico, continuaremos a incentivar o uso de padrões e códigos globais que podem apoiar as empresas, na medida em que promovem a automação dos processos, e, assim, ajudam a economizar recursos ao longo da cadeia de abastecimento. A partir da adoção dos códigos de barras, é possível obter ganhos de eficiência operacional consideráveis, evitando o desperdício de matérias-primas, diminuindo o consumo de energia e de emissões de CO2, por exemplo. Além disso, o Sustentabilidade em Código potencializará as iniciativas da GS1 Brasil que já estão em andamento, algumas há mais de uma década, como as contribuições mensais para instituições focadas no apoio à educação de jovens e no compromisso com os pactos globais. Com o programa, iniciamos um novo momento na cultura da entidade e esperamos que essa energia se espalhe cada vez mais, gerando valor para colaboradores, associados, comunidade de negócios e demais públicos interessados. Nossa expectativa é reforçar nossos valores corporativos para ficar em dia com o planeta e com a sociedade, abraçando novas práticas a fim de garantir um futuro mais sustentável para as próximas gerações.

Foto: Paulo Pepe

Um forte abraço,

João Carlos de Oliveira presidente


[EXPEDIENTE

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A revista Brasil em Código é uma publicação trimestral da GS1 Brasil dirigida e distribuída gratuitamente aos seus associados, aos parceiros e à comunidade de negócios. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da entidade e da editora.

João Carlos de Oliveira PRESIDENTE

Antônio Carlos Leão José Humberto Pires de Araújo Maria Eugenia Proença Saldanha Paulo Hermínio Pennacchi Pedro Zidoi Sdoia Wanderlei Saraiva Costa VICE-PRESIDENTES

Virginia Villaescusa Vaamonde CEO

D I R E TO R

DE

F I NA N Ç A S

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D I R E TO R

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P RO C E S S O S

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M ARKETING R ELAÇÕES I NSTITUCIONAIS

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S E RV I Ç O S C O R P O R AT I VO S

E DIRETORA DE

Charles Sampaio

Roberto Matsubayashi E

A L I A N Ç A S E S T R AT É G I CA S

Silveraldo Mendes

E

A T E N D I M E N TO

AO

ASSOCIADO

GERENTE DE COMUNICAÇÃO E EVENTOS Frederico Bellini COORDENAÇÃO DA REVISTA Andréa Palmer GS1 BRASIL Rua Henrique Monteiro, 79 Pinheiros – 05423-020 – São Paulo Telefone: (11) 3068-6229 www.gs1br.org REDES SOCIAIS facebook.com/gs1brasil www.linkedin.com/company/gs1-brasil www.youtube.com/gs1brasil www.flickr.com/gs1brasil FALE COM A REDAÇÃO revista@gs1br.org PRODUÇÃO EDITORIAL E GRÁFICA G&T Comunicação Ltda. Telefone: (11) 2503-4618 comunicação redacao@gtcomunica.com.br EDITORA Denise Turco – MTB 43.537 EDITORA-ASSISTENTE Kathlen Ramos REVISÃO Helder Profeta FOTOGRAFIA Paulo Pepe CAPA Marcelo Gorzoni ARTE Adriano Cristian Fernandes COLABORAÇÃO Adriana Bruno, Claudia Manzzano, Epaminondas Neto, Juliana Jadon, Mariana Izidoro, Patricia Lucena (texto); e Edson Perin (artigo) IMPRESSÃO Referência Gráfica TIRAGEM 3 mil exemplares

Práticas sustentáveis ganham cada vez mais força nas empresas

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SUMÁRIO

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42 6 CURTAS 24 EVENTO Global Forum 30 GESTÃO Jurídico 40 PERFIL 46 PANORAMA 48 NEGÓCIOS 52 JOGO RÁPIDO 54 PERDAS & GANHOS 56 INSTITUCIONAL 58 RADAR 60 DESCONEXÃO 66 TECNOLOGIA & NEGÓCIOS

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CAPA A gestão sustentável entrou de vez na pauta estratégica das companhias brasileiras. Com essa perspectiva, a GS1 Brasil inicia o programa Sustentabilidade em Código, com práticas para promover mudanças e criar oportunidades socioambientais

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INSTITUCIONAL GS1 Brasil lança o sistema G-trade para auxiliar na busca de soluções de automação

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ENTREVISTA O professor e palestrante Dado Schneider mostra como as novas gerações têm transformado o mundo corporativo

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MERCADO Microcervejarias se espalham pelo País e conquistam os brasileiros com bebidas de sabor intenso

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EDUCAÇÃO Carreiras com foco em tecnologia e automação de processos estão em alta

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ESTRATÉGIA Apesar da atual crise econômica no País, surgem oportunidades de fusões e aquisições

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GESTÃO Conheça o modelo de

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COMPORTAMENTO A prática

negócios Canvas, que permite ter uma visão unificada da empresa e testar inovações

da meditação mindfulness ajuda a melhorar a produtividade no trabalho


CURTAS

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Novas tecnologias para PMEs

Fotos/Imagens: Thinkstock/Divulgação GS1

Em abril, a GS1 Brasil, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), promoveu a palestra “Automação e Rastreabilidade para Pequena e Média Empresa”. O objetivo do evento, ministrado pela assessora de negócios para aplicação do sistema GS1, Karina Rocha, foi apresentar os benefícios da automação e as novas tecnologias do mercado ao pequeno empreendedor. O programa também revelou o impacto positivo da automação nos rendimentos da empresa, já que é capaz de proporcionar mais visibilidade, controle operacional e rastreabilidade de produtos. Os participantes também tiveram a oportunidade de visitar o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT).

O futuro das compra compras

Durante a Autocom 2015 – 17ª Feira e Congresso Internacionais de Automação para o Comércio, a GS1 Brasil demonstrou novos conceitos de automação para o varejo baseados na tecnologia de identificação de produtos via radiofrequência (RFID). No estande da entidade, o visitante pôde conhecer a Loja do Futuro, equipada com sistemas de autoatendimento ou self-checkout, que começam a se tornar realidade no País. O foco da entidade foi a segurança do alimento, a experiência de compra com RFID e o inventário de mercadorias. “Nosso portfólio de padrões de códigos de barras proporciona uma linguagem única de identificação de produtos e comunicação na cadeia de abastecimento, indústria, distribuidores e varejistas. Esse foi o primeiro passo para a GS1 Brasil oferecer aos associados sugestões de lojas que melhoram a experiência de compra aos clientes”, declarou o presidente da entidade, João Carlos de Oliveira.

6 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Automação a favor dos negócios

Foto: Paulo Pepe

A cada edição, a Fispal Tecnologia – Feira Internacional de Processos, Embalagens e Logística para as Indústrias de Alimentos e Bebidas confirmase como um dos maiores eventos do setor na América Latina. Em 2015, a feira chega à 31ª edição repleta de oportunidades de negócios. Realizada no Pavilhão de Exposições do Anhembi (SP), de 23 a 26 de junho, a expectativa é receber cerca de 52 mil compradores da indústria de bebidas e alimentos, farmacêutica, química, cosmética, laticínio, frigorífico, além de designers de embalagens. A GS1 Brasil também marca presença no evento explorando o tema “Indústria do Futuro” em seu estande.

Supermercado em evolução

O tema “Supermercado do Futuro” foi escolhido pela GS1 Brasil para participar na Feira da Associação Paulista de Supermercados (APAS) 2015. “Neste ano, demos ênfase à segurança do alimento, à experiência de compra com RFID e ao inventário de mercadorias”, resumiu a assessora de eventos da entidade, Juliana Vieira. A 31ª edição da feira, realizada entre 4 e 7 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo (SP), trouxe como discussão principal a produtividade a serviço do consumidor.

Compras pelo celular COMPRA

A quantidade de consumidores brasileiros que faz compras on-line, semanalmente, aumentou 25% no último ano, segundo dados da pesquisa Total Retail 2015, da consultoria PwC. Quando o resultado é analisado por canais, o aumento é de 82% entre os que usam smartphone para comprar todos os dias, semanal ou mensalmente; e 55% entre os que usam tablet. O consumidor também está utilizando seus dispositivos móveis para pesquisar produtos (69%), comparar preços (63%) e pesquisar a localização de lojas físicas (34%). [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 7


CURTAS

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Premiação aos jornalistas

Estão abertas as inscrições para o Prêmio Automação – Categoria Imprensa, promovido pela GS1 Brasil. O objetivo da associação é prestigiar a categoria jornalística durante o XVIII Prêmio Automação, conferido anualmente às empresas que investem em projetos inovadores de processos automatizados. “Chegamos ao quarto ano de premiação a essa categoria profissional que tanto valoriza a história do País. Tem sido gratificante para a entidade estreitar o relacionamento com a imprensa e fazer parte do cotidiano da sociedade”, afirma o presidente da GS1 Brasil, João Carlos de Oliveira. As inscrições vão até 9/10. Mais informações estão disponíveis no site www.gs1br.org/premiacaoimprensa.

Metas futuras

Mais conscientes

Os consumidores da classe C estão dispostos a reduzir o consumo de água e de energia elétrica em suas casas para cortar gastos. A constatação é de pesquisa da Boa Vista SCPC, em parceria com o programa Finanças Práticas, da Visa do Brasil. O estudo mostra que 84% dos entrevistados diminuiriam o consumo em favor de uma melhor situação das contas domésticas no final do mês. O levantamento eletrônico foi realizado com mil consumidores em todo o Brasil para mapear a classe C em seus hábitos de consumo e controle das finanças.

Durante a Assembleia Geral da GS1, realizada entre 18 e 21 de maio, em Sidney, na Austrália, a entidade discute as decisões fundamentais para sua atuação futura em todo o mundo. Participam do encontro membros da comunidade GS1 oriundos de 80 países, os principais executivos da organização, líderes de indústrias e tomadores de decisões de companhias globais. Neste ano, a GS1 Brasil marca presença na assembleia através da participação do seu presidente, João Carlos de Oliveira, do vice-presidente, José Humberto Pires de Araújo, e de sua CEO, Virginia Villaescusa Vaamonde.


Autoatendimento nas lojas Mulheres on-line

Estudo recente da Forrester Research sobre o comércio eletrônico, realizado a pedido do MercadoLivre nas regiões metropolitanas do Brasil, revela que o público feminino vem comprando via internet em ritmo acelerado. De 2011 a 2014, o percentual de mulheres que fazem compras on-line passou de 56% para 67%; enquanto o percentual de homens se manteve estável no período (65%). Segundo a pesquisa, os produtos mais comprados por elas são: livros (33%), moda (32%), sapatos (30%) e, empatados, cosméticos, computadores e periféricos (todos com 26%).

Mais de seis em cada dez consumidores brasileiros (65%) gostariam que o varejo oferecesse caixas de autoatendimento para não precisarem esperar em filas, segundo o estudo Cisco Customer Experience Report. Esse índice é superior à média mundial, que atingiu 52%. O relatório aponta que o consumidor está interessado em experiências de compras mais automatizadas e personalizadas. O self-checkout ainda é algo recente no Brasil e permite que o cliente realize sozinho todos os passos de uma compra, como pesar o produto, conferir preço, efetuar pagamento e receber o comprovante.

Avanços na saúde

A Conferência Global de Saúde da GS1, realizada entre os dias 21 e 23 de abril no México, teve como objetivo apresentar os progressos da implementação dos padrões globais e as tendências do setor em todo o mundo. Os temas em debate trataram, por exemplo, da rastreabilidade para auxiliar no combate à falsificação; dos avanços nos processos de segurança do paciente e de identificação de medicamentos e produtos para saúde; além das principais novidades da legislação voltada para esse segmento. O evento contou com a presença de líderes de grandes companhias, órgãos governamentais e entidades que representam a área em todo o mundo. Entre os participantes da GS1 Brasil, estiveram presentes os assessores de negócios Patricia Amaral Okumura e Marcus Vinicius, e a gerente de negócios Ana Paula Maniero (foto).

[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 9


CURTAS

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Educação globalizada

No dia 9 de abril, a GS1 Brasil recebeu um grupo de estudantes de MBA de Agronegócio de dupla diplomação – parceria entre a ESPM, de São Paulo, e a Universidade de Audência, na França. Estudantes da África, Indonésia, Mongólia, Rússia, México e França visitaram a entidade e puderam conhecer como implementar um processo de rastreabilidade utilizando os padrões do Sistema GS1. O encontro contou com a apresentação do case da produtora de frutas Itaueira, do famoso melão Rei, ministrado pela executiva da empresa Amanda Prado. Os jovens também visitaram o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT). “A rastreabilidade deve ajudar a salvar muitas vidas, devido à segurança do alimento e melhor forma como os agricultores podem fazer negócios. Será interessante para a minha empresa ser a primeira a introduzir a rastreabilidade em produtos frescos em Botswana, na África”, disse a estudante e produtora Beauty Manake.

Futuro promissor

Foto: Divulgação

Os engenheiros brasileiros estão entre os mais bem pagos do mundo. É o que revela a pesquisa global da Michael Page, que atua na área de recrutamento de executivos. Apesar de a estagnação da economia afetar o andamento de obras de infraestrutura e do mercado imobiliário, o bom momento vivido por esses setores na última década elevaram os salários dos engenheiros a um dos maiores patamares globais. Por exemplo, um diretor de construção ganha, anualmente, no Brasil, entre US$ 160 mil e US$ 220 mil, enquanto que no Canadá, França e na Alemanha o salário gira em torno de US$ 80 mil e US$ 150 mil.

Piloto automático

A Delphi, empresa que atua no setor de tecnologias para o mercado automotivo, promoveu a viagem mais longa da América do Norte, de São Francisco a Nova York, em um veículo automatizado. Mais de 5 mil km foram percorridos durante nove dias e com 99% de direção automatizada. O veículo é equipado com sistemas de aviso de colisão e mudança de faixa, além de ter radar e câmera integrados. No caminho, passou por caminhos complexos e uma variedade de condições meteorológicas. A empresa utilizará os dados da viagem para coletar informações que ajudarão a desenvolver tecnologias de segurança ativa.

10 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Lista de preferências

Em 2015, as maiores prioridades dos brasileiros serão reforma da casa (22,5%), adquirir carro (14,2%), comprar eletrodomésticos (12,5%) e um imóvel (12,4%), segundo revela pesquisa sobre hábitos de consumo, realizada pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (FECOMERCIO-RJ) em parceria com a Ipsos.

Conexão Portal GS1 Brasil Atendimento Estar mais próximo dos associados, proporcionando uma experiência agradável e otimizando o tempo das solicitações. Esse é o principal objetivo do Painel do Associado, espaço do portal da GS1 Brasil dedicado ao atendimento das empresas. Recentemente, a entidade aprimorou as funcionalidades, trazendo ainda mais agilidade nas respostas às demandas. “Essa ferramenta permite que os associados acompanhem o status das solicitações em tempo real, desde o processo de filiação até outras demandas, como emissão de segunda via de boleto. A ferramenta gera autonomia e autoatendimento, garantindo respostas e soluções com prazos menores”, garante o supervisor da área de processos e atendimento aos associados da GS1 Brasil, Victor Caram Fernandes. Segundo ele, o Painel do Associado e o novo portal também permitem que as solicitações encaminhadas via Fale Conosco e Ouvidoria fiquem registradas e alimentem o histórico de relacionamento com os associados diretamente na ferramenta de CRM, sendo uma valiosa fonte de informações. Outra novidade é o Web Chat, que permite interatividade em tempo real com os associados. “Por meio desse canal, podemos fazer o mesmo atendimento que já oferecíamos via telefone e e-mail, porém de forma instantânea. A comodidade também é maior, pois, a partir de qualquer computador, smartphone ou tablet com acesso à internet é possível acessar o Web Chat”, finaliza Fernandes.

Fique conectado no

www.gs1br.org [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 11


Imagens: Thinkstock/Divulgação GS1

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INSTITUCIONAL

[AUTOMAÇÃO

Vitrine de soluções Por Denise Turco

Nova ferramenta G-trade aproxima fornecedores de equipamentos, serviços e sistemas de empresas interessadas em modernizar suas operações Unir quem deseja automatizar os processos operacionais com empresas que oferecem a solução certa para cada tipo de negócio. É com esse objetivo que a GS1 Brasil criou o G-trade, sistema web no qual os associados podem divulgar, gratuitamente, ofertas de equipamentos, sistemas, suprimentos e serviços de automação. Na plataforma estão disponíveis ofertas de produtos, como coletores de dados e de RFID, leitores de códigos de barra, etiquetadoras, etiquetas eletrônicas, codificadoras, terminais biométricos, entre outros. A nova solução é uma atualização do Guia de Parceiros, um canal disponível no portal da entidade em que as empresas podem pesquisar contatos de fornecedores da área. “A diferença é que a nova ferramenta é mais moderna, de fácil usabilidade, dinâmica e intuitiva”, afirma o assessor da área de inovação e alianças estratégicas da GS1 Brasil, Alessandro Fagundes. Disponível no endereço www.gtrade.gs1br.org, o sistema possibilita consultar dados de provedores de automação, pesquisar e visualizar produtos e serviços, inclusive por meio de fotos e vídeos. As buscas podem ser feitas por produto ou categoria por meio de uma informação específica, como, por exemplo, modelo, fabricante, certificações e região. Além disso, permite trocar mensagens com os fornecedores para esclarecer dúvidas e solicitar orçamentos. É possível, ainda, fazer comentários e avaliar os produtos e provedores, atribuindo notas. A partir dessa avaliação, o sistema indica como está a reputação da empresa dentro do aplicativo. A plataforma permite que as empresas cadastrem produtos e serviços e consultem relatórios estatísticos, além de apresentar indicativos de consultas, cadastros e operações realizadas. Para anunciar produtos e serviços, é necessário apenas ser associado da GS1 Brasil, sem qualquer custo adicional. 12 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

De acordo com Fagundes, 14 empresas participaram do projeto-piloto, que se estendeu ao longo do ano passado. A previsão inicial é de que 300 provedores divulguem equipamentos e serviços por meio da ferramenta. “A GS1 Brasil não se envolverá nas negociações entre as empresas, mas, por meio da plataforma, atuará como uma facilitadora na compra e venda de quem busca automatizar as operações. A ideia é que o G-trade se torne uma referência em produtos e serviços de automação no mercado”, projeta Fagundes. 7 898357 410015


Os principais fornecedores das indústrias de alimentos e bebidas se encontram na Fispal Tecnologia

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ENTREVISTA

[DADO sCHNEiDER

O que esperar das novas gerações? Jovens nascidos na era da internet e dos smartphones são responsáveis por mudanças nos negócios e relacionamentos pessoais. Conheça os dilemas e desafios do século 21 diante do comportamento digital Por Kathlen Ramos Muito atentos ao mundo digital; conectados 24 horas às redes sociais; inquietos; com espírito empreendedor; e em busca da felicidade no trabalho. Os filhos da internet, caracterizados pelas gerações Y e Z, nasceram trazendo essas particularidades e desafiando a sociedade a se adaptar para aproveitar o que eles têm de melhor. Para comentar esse cenário, a revista Brasil em Código convidou o professor e palestrante Dado Schneider, que se dedica a pesquisar o comportamento das novas gerações. “Como viajo por todo o Brasil e não paro de entrevistar pessoas de todas as classes sociais, utilizo esse material para adiantar traços de comportamento em minhas palestras”, comenta. O currículo de Schneider, que confirma a bagagem para comentar sobre essa revolução do século 21, é bastante extenso. Graduado em comunicação e pós-graduado em marketing pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre e doutor em comunicação pela PUC/RS, ele atua como professor de grandes universidades do País há três décadas. Além disso, acumula 36 anos de experiência em marketing, comunicação e criatividade, tendo passado por empresas como DM9, RBS, MPM e CLARO (aliás, foi ele quem criou a marca de telefonia). Autor do livro O Mundo Mudou... Bem na Minha Vez! (Integrare Editora), cujo ponto central é despertar as pessoas para a mudança, Schneider é palestrante bastante conhecido do pú14 abr/mai/jun 2015 [ BRAsiL EM CÓDiGO ]

blico jovem. Isso porque suas apresentações têm um toque de irreverência. Em 2009, por exemplo, ele criou a palestra muda, capaz de atrair a atenção dos jovens mais conectados, utilizando elementos cênicos, música atual, ambiente escuro e texto aparecendo freneticamente na tela por mais de meia hora. Na Campus Party, principal evento de tecnologia, cultura digital e empreendedorismo realizado anualmente no Brasil, a palestra muda faz sucesso há várias edições. “Com pouca dispersão, o conteúdo fica retido por mais tempo na mente”, afirma. A seguir, o palestrante, que sonha em apresentar um talk-show sobre atualidades numa rede de rádio nacional, fala sobre como o comportamento das novas gerações tem transformado o modo de agir e pensar na sociedade e nas empresas. Para ele, o momento é de abrir a mente para o novo. BRASIL EM CÓDIGO No seu livro O Mundo Mudou... Bem na Minha Vez!, o senhor afirma

que a obra “é uma tentativa de trazer o maior número possível de pessoas para o século 21”. O que significa viver nesse período? DADO SCHNEIDER É necessário entender esse momento para aceitá-lo. A pessoa não precisa gostar das mudanças, mas conhecê-las. Sem isso, não conseguirá assimilar e aceitar tudo o que mudou do século passado para os dias de hoje. Mudar é aceitar!


Foto: Anele Trentin

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“Todos seremos, forçosamente, velhos digitais. É um caminho sem volta”


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ENTREvista

DS Os jovens não só estão mais propensos a isso como, desde a mais tenra idade, já se movimentam para, antes de mais nada, buscarem uma ocupação que lhes dê prazer e satisfação. Como na maioria das empresas trabalhar é “chato”, a geração Z fugirá de lugares onde não se possa ter prazer no trabalho – e muitos empreenderão também por não se sentirem à vontade nessas estruturas.

BC Quais as características mais fortes da geração Y e que tipo de impactos ela traz para as empresas e para a sociedade de um modo geral? DS Essa pergunta dá um tratado comportamental! Mas, sendo sintético, o que posso dizer de mais relevante da geração Y é que ela é incompreendida porque ainda não se encontrou. Já ocupa postos de comando, mas são poucos os que se destacam. No que ela sobra em ser multitarefa e multicanal, lhe falta em garra.

BC Quais os benefícios que as gerações Y e Z, completamente ligadas ao universo digital, podem agregar para as empresas?

BC O senhor é muito próximo do público jovem, com participação ativa na Campus Party, por exemplo. Acompanhando de perto esse cenário, na sua visão, de que forma a tecnologia cresceu em importância na vida das pessoas? DS Como não somente frequento mas também acampo no evento, posso falar, com convicção, de que a tecnologia não desperta mais tanto fascínio como as startups – essas, sim, a maior novidade da Campus Party. De um acampamento digital para o pessoal de TI, ela passou a ser um polo de novos negócios. BC Isso significa que os jovens de hoje estão mais propensos a empreender do que trabalhar regularmente como funcionários de uma empresa? 16 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

DS Elas trazem o novo e a naturalidade ao lidar com esse universo. E isso precisa ser disseminado entre todos os escalões e gerações. Exemplos práticos: hoje já há muitos procedimentos internos, como controles e planilhas e, no plano externo, como estratégias de relacionamento, que são introduzidas nas empresas, geralmente, pelos mais jovens. BC Hoje, vemos muitos jovens com espírito empreendedor e lutando para uma posição de liderança, mesmo com poucos anos de carreira. Outros, entretanto, estão perdidos com relação ao que fazer de suas profissões. Na sua visão, qual a

Fotos: Divulgação Campus Party

BC E quais são as aceitações inevitáveis? DS Creio que são várias, mas destacaria o fim do amor romântico e a consequente superficialidade nas relações; a incrível facilidade dos jovens com as novas tecnologias, ao contrário dos mais velhos; e a inédita inversão de fonte de informação entre as gerações, pois, hoje, nunca uma geração mais nova teve tanto a ensinar para as que a antecederam.


“Desde a mais tenra idade, os jovens já se movimentam para, antes de mais nada, buscarem uma ocupação que lhes dê prazer e satisfação.” importância dessa fase da vida para o futuro da carreira? DS As carreiras de hoje não são como as de outrora... Subíamos na vertical. Hoje, é em espiral: a pessoa é funcionária, sai para montar um negócio próprio, pode passar a coach e, novamente, pode ser contratado como funcionário – e vai subindo na vida de forma heterodoxa, se considerado o padrão do século 20. BC Qual é a sua avaliação sobre esse novo caminho de crescimento? DS Acho muito mais verdadeiro. Antes, o mundo desabava se alguém fosse mal em um emprego. Isso poderia

comprometer a pessoa para sempre. Hoje, cair e levantar faz parte do jogo. O mundo sempre foi “beta”: agora, a nova geração legitimou-o. BC Em sua opinião, a era digital e a internet mudaram os conceitos de comunicação e marketing? DS A era digital e a internet não mudaram, apenas ampliaram e potencializaram tudo o que já se fazia. Falamos de meios, e não de fins. Logo, a internet e todo o mundo digital são multiplicadores do que sempre se fez: marketing é facilitar a compra e provocar a recompra. E comunicação é a embalagem do marketing, a “roupa” dele. Isso não mudou, bem como as razões para as pessoas preferirem uma marca a outra, por exemplo. BC De que forma o comportamento das novas gerações está mudando as estratégias das marcas e das empresas? DS Acredito que ainda há muito a ser modificado na maioria das estratégias, pois a não fixação em marcas e a infidelidade crônica no consumo ainda não foram devidamente proces-sadas por muitos executivos ligados às áreas de comunicação e marketing. BC Qual a melhor forma de vender uma marca na geração da “infidelidade”?

DS Creio que as empresas deveriam trocar o tempo gasto para pensar em estratégias de fidelização por horas de pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços que efetivamente satisfaçam um consumidor – de qualquer idade e cada vez mais exigente. As companhias já precisam ter em mente que não há mais fidelidade de compra. BC Na sua análise, como têm sido a adaptação e a resistência dos idosos, que estão no mercado de trabalho e convivem com as novas gerações, em aderir ao mundo digital? DS Sou praticamente um pregador desse tema. Tenho um empreendimento que já existe há cinco anos no papel e que, finalmente, está tomando forma agora. É a digiriatria – que é digi, de digital, e geriatria, de velho. Todos seremos, forçosamente, velhos digitais. É um caminho sem volta. Ou seja: digitalização ou morte! BC O senhor também vê algum risco para as novas gerações em termos de relacionamento ou isolamento por conta de estarem sempre conectados? DS As novas gerações teriam maior propensão a isso – mas já há quarentões, cinquentões e sessentões sofrendo desse mal. O risco de estresse é enorme. Cada um deve se cuidar, à sua maneira. 7 898357 410015


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CAPA

[SUSTENTABILIDADE

Em dia com o planeta

Por Denise Turco

Quando incorporada corretamente aos negócios, sustentabilidade corporativa traz ganhos que se multiplicam nos aspectos econômico, social, ambiental e de imagem A crise hídrica, o aumento das tarifas de energia, a indisponibilidade de determinadas matérias-primas e a necessidade de reciclagem colocam a sustentabilidade na pauta do governo, da população e das empresas com cada vez mais força. No meio corporativo, as boas práticas nessa área ganharam status de estratégia, começando na presidência e se espalhando entre todos os colaboradores. Assim, coleta seletiva, assistencialismo, economia de recursos naturais, entre outras ações representam apenas uma fração do que é possível fazer em termos de sustentabilidade. Cada vez mais as empresas criam estratégias que se conectem ao seu core business e sejam capazes de atrair investidores. Isso se fortaleceu ainda mais nos últimos anos, com o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, indicador de performance financeira de companhias que adotam as melhores práticas de sustentabilidade em âmbito mundial. Criado em 1999, o índice disponibiliza a lista de empresas de capital aberto que aderem às causas sociais e ambientais, identificando seus resultados e classificando-as como sustentáveis ou não. Mas, além da questão financeira, nas últimas décadas, a sustentabilidade tem sido discutida sob diferentes pontos de vista, em âmbito local ou global, pautada ora pelo governo, ora pela sociedade, ora pelas organizações. Só para citar alguns exemplos, as discussões e acordos mundiais, como o Protocolo de Kyoto, a Rio 92 e a Rio+20; e, mais recentemente, a lei que insti18 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

tuiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Sem contar os inúmeros projetos que envolvem a promoção de trabalho e renda da população mais pobre, iniciativas na área de educação, saúde e defesa dos direitos humanos visando o bem-estar da sociedade. Nesse cenário, a sustentabilidade corporativa tornou-se um tema muito amplo, que mescla vários conceitos de responsabilidade ambiental, social e cidadania corporativa. E hoje, como o assunto é tratado pelas empresas brasileiras? Quais foram os ganhos até o momento e em quais aspectos é preciso avançar? A boa notícia é que, no País, as companhias já entendem que o tema não é voltado somente à proteção ambiental e filantropia, mas envolve aspectos econômicos e socioambientais, fazendo com que a sustentabilidade não seja uma opção, mas uma obrigação para aqueles que querem garantir a sobrevivência no mercado. Segundo a presidente-executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (ABIPLA), Maria Eugenia Saldanha, atualmente, além do tripé da sustentabilidade, que envolve os aspectos econômicos, sociais e ambientais, já se ouve falar em mais dois: o cultural e o político, comprovando que essa prática se faz, de fato, presente e importante em todas as esferas da sociedade. A sustentabilidade, inclusive, pode ser lucrativa se incorporada corretamente nos negócios da empresa, de acordo com a pesquisa “O Estado da Gestão para a Sustentabilidade


Flávia Alvim, da Fundação Dom Cabral Gestão sustentável reduz custos e contribui para a retenção de talentos

Fotos: Divulgação

no Brasil”, realizada pelo Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC) em 2014. Segundo o estudo, a adoção desses conceitos é uma prioridade para 92% das companhias consultadas. Colaboradores e fornecedores têm sido vistos como os stakeholders mais influentes nas atividades das empresas e com papel central nas políticas de sustentabilidade. A pesquisa também revela que a principal motivação para 91% das empresas adotarem a sustentabilidade é a percepção de sua contribuição para a melhoria da reputação e imagem. “As empresas brasileiras compreendem, cada vez mais, o conceito da sustentabilidade e começam a buscar referências para atuar em prol disso em contextos diversos. Os avanços podem, portanto, ser interpretados como um reflexo do próprio amadurecimento da sociedade e de suas expectativas perante as empresas”, afirma a professora do Núcleo de Sustentabilidade da FDC, Flávia Alvim. Mas ainda há espaço para melhorias no que diz respeito a metas, diretrizes e programas que permitam a gestão interna do tema de forma mais estratégica. Segundo Flávia, “um aspecto relevante é que as empresas têm percebido a importância de ir além da legislação, e o papel da liderança é fundamental nesse sentido”. O estudo mostra, ainda, que há uma

distância entre discurso e prática, na medida em que as empresas compreendem que a sustentabilidade deve contem- plar atividades que geram resultados aos stakeholders, porém elas não aplicam, efetivamente, esses pressupostos nos negócios. A amostra da pesquisa realizada em 2014 envolveu 602 entrevistados, representando mais de 400 empresas. A metodologia utilizada foi elaborada pelo Boston College Center of Corporate Citizenship (BCCCC), dos Estados Unidos, que realiza, desde 2002, um estudo similar. Desde 2012, o Núcleo de Sustentabilidade da FDC realiza esse levantamento bianual com o objetivo de traçar um panorama do processo de gestão sustentável nas empresas brasileiras. Visão estratégica A gestão sustentável ajuda a alcançar bons resultados para o negócio. “Se concebida de maneira estratégica, a sustentabilidade permite que a empresa seja consciente de seu papel na sociedade, promova o bem-estar dos colaboradores, contribua para a preservação do meio ambiente e também identifique oportunidades de gerar vantagens competitivas. Algumas empresas com perfil mais transformador percebem, ainda, que podem criar novos mercados ou desencadear mudanças sociais profundas”, projeta Flávia Alvim.

No entanto, a grande dificuldade é traduzir o que é, de fato, sustentabilidade para cada negócio. “Antes as empresas estavam mais preocupadas em promover ações de assistencialismo, voluntariado e medidas ambientais, como compensação de emissão de carbono. Tudo isso é válido, mas agora é o momento delas se questionarem se essas inciativas isoladas têm efeito e estão relacionadas ao seu core business”, avalia o diretor da consultoria Key Associados, Alexandre Hernandez. Pequenas empresas Atualmente, segundo Hernandez, as grandes empresas, que já têm práticas sustentáveis há algum tempo, estão capitalizando esses investimentos. Num primeiro momento, elas tinham projeto para entender o conceito. Depois, passaram pela fase do relatório de sustentabilidade, mas hoje estão preocupadas com o lucro, o valor percebido da marca, a redução de despesas e a diminuição do risco do negócio. A partir disso, elas buscam, dentre outros, por financiamentos com

Alexandre Hernandez, da Key Associados Estratégia de sustentabilidade deve estar ligada ao core business da empresa [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 19


DICAS PARA AS PEQUENAS EMPRESAS COMEÇAREM UMA GESTÃO SUSTENTÁVEL

é preciso que a diretoria esteja à frente e se envolva nos processos de sustentabilidade; do contrário, ela não caminha dentro da empresa. Afinal, os colaboradores dedicam tempo e esforço àquilo que veem como importante para a liderança.

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Por ser um tema amplo, é preciso definir o que a sustentabilidade significa para sua empresa, ou seja, o que é prioridade para organização quando se fala no tema. Para que ela seja vista como uma estratégia, é necessário ter claro quais são as motivações principais para se engajar no assunto.

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Sua companhia possui um responsável ou uma equipe, metas, diretrizes, treinamentos, políticas corporativas e indicadores para gerir a sustentabilidade? Não adianta enxergar o tema como algo estratégico se não houver um sistema de gestão voltado para ele.

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Divulgar resultados demonstra comprometimento com as partes interessadas, ética e responsabilidade.

Ao adotar atitudes e práticas sustentáveis, as empresas tendem a conquistar e fidelizar essa enorme clientela consciente e engajada na mudança de hábitos e comportamento.

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Mapear o que é feito nos aspectos socioambientais ou econômicos é um passo importante para identificar oportunidades. Isso porque os principais desafios nas práticas sustentáveis estão relacionados à diminuição de matéria-prima, emissões de carbono, geração mínima de resíduos e eficiência do uso de recursos.

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A gestão sustentável é inerente ao mundo dos negócios, pois toda empresa visa lucro e depende de recursos naturais para tocar sua operação. Quanto mais sustentável for o empreendimento, melhor serão os resultados em termos econômicos, ambientais e sociais.

Fontes: Lucas Amaral Lauriano e João Henrique Dutra Bueno/ Fundação Dom Cabral; SEBRAE

taxas mais atrativas, atrair investidores com mais facilidade, além de conseguir um engajamento maior da cadeia de fornecedores. “é uma somatória de ganhos financeiros”, ressalta Hernandez. As pequenas e médias empresas são as grandes geradoras de emprego e renda no País e, muitas vezes, já se pautam por princípios sustentáveis, apesar de nem sempre terem essa consciência. Por exemplo: elas já atendem às legislações de meio ambiente, adotam ações para melhorar a eficiência energética (por uma questão de custo) e da água (em razão da escassez). 20 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Segundo a especialista da FDC, há pequenas empresas que já identificaram oportunidades de atuação em nichos específicos nos quais a sustentabilidade é fator de diferenciação. São exemplos os produtos que fazem uso exclusivo de madeiras certificadas ou materiais reciclados, comunidades extrativistas que preservam a biodiversidade, inclusão de minorias no processo produtivo, certificações como o Selo Fairtrade (comércio justo), dentre outros.

No entanto, há organizações menores que acreditam que a sustentabilidade é algo sofisticado e incompatível com os desafios de um mercado cada vez mais competitivo. “Falta uma visão mais estratégica, tendo em vista que uma gestão sustentável traz retorno para o negócio independentemente do seu porte, pois reduz custos e riscos, contribui para a retenção de talentos, facilita o acesso a financiamento, promove inovação e pode ser fonte de inúmeras oportunidades de diferenciação”, ressalta Flávia.


SUSTENTABILIDADE EM CÓDIGO GS1 Brasil fortalece programa estratégico com uma série de iniciativas socioambientais A preocupação em apoiar e desenvolver iniciativas socioambientais sempre foi importante para a GS1 Brasil. Ao longo dos últimos anos, a entidade vem desenvolvendo diversas ações, principalmente com foco em educação e formação de jovens, além de ajudar no crescimento das empresas, melhorando seus processos por meio da automação. Agora, a associação incluiu o tema como pauta estratégica para aprimorar e consolidar essas práticas. Assim, a GS1 Brasil lança o programa Sustentabilidade em Código, com o objetivo de dar um salto das ações pontuais para um conjunto de práticas focadas em seu core business. “trabalharemos na construção de uma cultura organizacional, disseminando a responsabilidade social nos processos da GS1 Brasil para que todos entendam esse tema como parte estratégica da organização e criação de valor para as partes interessadas”, afirma a CEO da entidade, Virginia Villaescusa Vaamonde. “Queremos promover mudanças e criar oportunidades”, completa. Nesse sentido, uma das novidades é a iniciativa que contempla a profissionalização e a automação de organizações não governamentais (ONGs). As parcerias devem começar em breve com três instituições. “As soluções da GS1 já beneficiam mais de 58 mil empresas associadas na identificação de seus produtos, na automação de processos, na rastreabilidade, segurança e redução de custos logísticos. Agora, queremos levar esses benefícios para ONGs”, explica o gerente de comunicação e eventos da GS1 Brasil, Frederico Bellini. Os projetos em desenvolvimento ajudarão as organizações a terem mais controle e informação de seus produtos e vendas, o que abrirá novas perspectivas nas suas estratégias, como, por exemplo, fazer o controle de estoque, movimentação e expedição. Em cada caso será avaliado a melhor solução, que pode ser desde a aplicação do código de barras até a RFID. No pilar ambiental, a entidade, que já faz a reciclagem de lixo, pilhas e baterias, passa a montar um estande sustentável nos eventos que participa, fazendo, inclusive, a compensação do CO2 e o reaproveitamento de materiais.

Segundo o presidente da GS1 Brasil, João Carlos de Oliveira, o Sustentabilidade em Código foi criado no ano passado e entrou na pauta estratégica da entidade. Em 2015, a iniciativa começa a ganhar corpo. “A expectativa é reforçar nossos valores corporativos para ficar em dia com o planeta e com a sociedade, abraçando novas práticas a fim de garantir um futuro mais sustentável para as próximas gerações”, afirma Oliveira. PRINCÍPIOS PRESERVADOS O projeto potencializará as iniciativas que já estão em andamento, como as contribuições mensais para instituições focadas no apoio e à saúde e à educação de jovens. Há 12 anos, por exemplo, a GS1 Brasil mantém parceria com a Associação Nova Projeto, que envolve também a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). trata-se do Programa de Capacitação de Jovens Portadores de Deficiência Intelectual com o objetivo de inseri-los no mercado de trabalho. Para isso, eles participam de um curso com duração de quatro meses, com aulas de práticas administrativas, logística e varejo. A cada turma capacitada, a GS1 Brasil contrata um profissional para fazer um estágio em sua sede. Os demais são encaminhados, principalmente, para empresas varejistas por meio do apoio da ABRAS. Atualmente, a Nova Projeto, instalada na capital paulista, qualifica o 35º grupo, totalizando 415 alunos, com uma média de 330 empregados. “O programa promove a inclusão do jovem na sociedade e gera impactos positivos nas famílias dos jovens capacitados”, reforça Bellini. Para apoiar as aulas práticas, a Siris/Plascar, fabricante de carrinhos e cestos para supermercados, aproveitou a formatura de mais um grupo, ocorrida no mês de maio, e fez a doação de dois carrinhos para auxiliar o curso da Nova Projeto. também na linha da educação profissional, a GS1 Brasil tem parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), no Programa Jovem Aprendiz para oferecer a oportunidade do primeiro emprego para jovens que cursam o ensino médio. Desde que iniciou essa ação, a GS1 Brasil colaborou [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 21


Fotos: Caetano Ribas

Inclusão e capacitação Há 12 anos, a GS1 Brasil e a Associação Nova Projeto mantêm programa para qualificar jovens portadores de deficiência intelectual para o mercado

para a formação de 23 estudantes. Na entidade, eles realizam um estágio com duração de um ano e meio nas áreas de comunicação e atendimento. Outra iniciativa que a entidade pretende reforçar neste momento, a fim de evidenciar o compromisso com as várias frentes que envolvem a sustentabilidade, é o Pacto Global – ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo é mobilizar a comunidade de negócios mundial para a adoção de políticas e práticas empresariais com valores internacionalmente reconhecidos. Há 11 anos, a GS1 Brasil é signatária do Pacto Global, que tem como base dez princípios norteadores: 1) a empresa deve apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos; 2) assegurar que não terá participação na violação desses

direitos; 3) apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento do direito à negociação coletiva; 4) eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório; 5) abolição do trabalho infantil; 6) eliminação da discriminação no emprego; 7) apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; 8) desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; 9) incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis; e 10) combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina. A GS1 Brasil também possui a Certificação ISO 14001, na área ambiental, e a NBR 16001, de responsabilidade social. A busca por essas certificações ocorreu há alguns anos para garantir uma atuação de acordo com as melhores práticas de mercado e, assim, fortalecer seu compromisso socioambiental. Para apoiar todas as iniciativas do Sustentabilidade em Código, a GS1 Brasil preparou um conteúdo voltado para divulgação do programa, já disponível em seu site, e promoverá campanhas para fortalecer o engajamento dos colaboradores. Os resultados de todas as ações serão divulgados em um rela-

tório anual de sustentabilidade. Por fim, para incentivar e reconhecer ações de responsabilidade socioambiental entre as empresas associadas e parceiros, a entidade lançará uma nova categoria no Prêmio Automação deste ano. PADRÕES SUStENtÁVEIS Os padrões e códigos globais também podem apoiar as estratégias de negócios e, ao mesmo tempo, ajudar na preservação dos recursos naturais e financeiros. Assim, com o programa Sustentabilidade em Código, a GS1 Brasil planeja mostrar de forma mais evidente os benefícios inerentes às soluções de automação. “Os padrões GS1 promovem a automação dos processos das empresas e, com isso, ajudam a otimizar os recursos ao longo da cadeia de abastecimento. Assim, é possível obter ganhos de eficiência consideráveis, desperdiçando menos matérias-primas e recursos naturais”, explica o diretor de sustentabilidade do escritório global da GS1, na Bélgica, Jim Bracken. Isso tem impacto em vários aspectos: redução de emissões de CO2, menos retrabalho, menor consumo de matéria-prima, de energia e de outros recursos. O código de barras no padrão GS1, como o EAN-13 e o GS1 DataBar, identifica os produtos, que, quando verificados pelos sistemas dos pontos de venda, ajuda a controlar as vendas com precisão, melhorar o reabastecimento

Foto: Divulgação

Apoio Na formatura do 35º grupo de jovens, ocorrida em maio, a empresa Siris/Plascar fez a doação de dois carrinhos para auxiliar as aulas na Nova Projeto

22 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


das gôndolas, fazer a gestão do inventário em tempo real e reduzir o desperdício de produtos perecíveis. O EDI (troca eletrônica de dados) garante que as empresas emitam ordens de pedido mais precisas, reduzindo os custos associados a entregas desnecessárias e reembalagem. Desse modo, fabricantes, operadores logísticos, transportadores e prestadores de serviços podem planejar melhor suas operações, reduzindo o número de entregas, os custos de energia e as emissões de CO2. A rastreabilidade do produto desde a matéria-prima até o consumidor final é facilitada pelo uso dos diversos tipos padrões gerenciados pela GS1, como o código de barras EAN-13, o DataBar e o EPC (contido na etiquetas RFID e que atribui um único número de série para cada produto, permitindo fazer a rastreabilidade). Outra solução destacada por Bracken é o sistema GS1 EPCIS, que, no futuro, propiciará a visibilidade e a rastreabilidade ao longo de toda a cadeia de abastecimento desde a extração de matéria-prima, passando por todas as etapas de produção até chegar ao ponto de venda, ajudando a ter melhorias significativas em termos de redução do desperdício. Isso é possível porque o EPCIS, que reúne uma série de ferramentas e tecnologias, possibilita às empresas compartilhar dados dos produtos e de sua movimentação de forma automática. Em âmbito mundial, a GS1 lidera ações e soluções para apoiar a sustentabilidade. Segundo Bracken, companhias das áreas de alimentos e bebidas, que enfrentam a escassez de recursos, têm trabalhado em estreita colaboração com os seus parceiros para garantir que o setor agrícola adote boas práticas. A ideia é melhorar a produtividade e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental.

No mundo corporativo, outro exemplo é a Basf, que utiliza os padrões a favor das práticas sustentáveis. A empresa, líder na área química e considerada uma das mais inovadoras do planeta, possui um programa estruturado para fabricar produtos mais sustentáveis há quase duas décadas. Para isso, a companhia buscou compreender o ciclo de vida das mercadorias em toda a cadeia de abastecimento e o impacto ambiental, social e econômico gerado. A partir daí, criou ferramentas e processos para mais de 450 produtos. O uso dos padrões GS1, em especial do código de barras, foi fundamental tanto para fazer a rastreabilidade de cada produto quanto das melhorias de sustentabilidade em vários níveis da cadeia de abastecimento. Outra iniciativa importante é da unidade brasileira da Hewlett Packard (HP), com o programa de logística reversa Smart Waste. No Brasil, cada impressora que sai da linha de produção possui uma etiqueta inteligente desde 2006. Aos poucos, o uso da RFID, no padrão global EPC, foi estendido para outros tipos de mercadorias e processos. No entanto, a empresa queria ir além e

Foto:Diego Rodarte

Virginia Vaamonde, da GS1 Brasil Projeto Sustentabilidade em Código cria oportunidades para comunidade de negócios

desenvolveu novos produtos a partir da reciclagem de itens que foram descartados, gerando assim benefícios para o meio ambiente e para a própria companhia. Usando uma solução padronizada de RFID, a HP consegue socializar a forma de fazer a rastreabilidade do produto, pois instalou uma unidade de leitura de RFID nos pontos de reciclagem. Dessa maneira, passou a saber qual o componente de cada produto está sendo coletado de volta e, assim, aprimorar a sua qualidade final. 7 898357 410015

MOTIVAÇÃO PARA AS EMPRESAS BRASILEIRAS ADOTAREM A SUSTENTABILIDADE

91%

Melhorar reputação e imagem

86% 78%

Importante para clientes e consumidores Faz parte da estratégia de negócios Fonte: Fundação Dom Cabral

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EVENTO

[GLOBAL FORUM

Esforço unificado Da Redação

Com o objetivo de criar uma base comum para os negócios das empresas em todo o mundo, por meio da identificação, captura e compartilhamento de informações sobre produtos, locais e ativos, a GS1 trabalha para continuar a capacitar as companhias, considerando diferentes cenários e culturas. Os valores, as metas e as estratégias da entidade foram reforçados e compartilhados com representantes de seus escritórios espalhados pelo mundo durante o Global Forum 2015. O evento, realizado em fevereiro, em Bruxelas, na Bélgica, reuniu 670 colaboradores da GS1 de 88 países. Durante uma semana, as equipes se reuniram em plenárias e 48 workshops que discutiram soluções para diferentes setores, propiciando a troca de experiências sobre as melhores práticas a partir do uso das soluções globais. Neste ano, a CEO da GS1 Brasil, Virginia Villaescusa Vaamonde, participou da cerimônia de abertura do evento abordando o fortalecimento da marca e a mudança da identidade visual do website da entidade brasileira, que foi pioneira nessa ação, em 2014. O portal está mais interativo e com maior quantidade de informações para associados e 24 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

empreendedores. Elaborado de acordo com as diretrizes da nova identidade visual da GS1 global, a ideia é consolidar o portal como o principal canal de comunicação com associados, empresários e interessados em automação. “O mundo está mudando assim como a forma que as pessoas interagem com a GS1. Essa é uma ótima oportunidade para atuar como uma organização global, adaptando a maneira como apoiamos os mercados locais”, afirmou Virginia durante o evento. O projeto do site da GS1 Brasil também foi apresentado em outro momento do Global Forum, em um workshop conduzido pela assessora de comunicação, Andréa Palmer, e pelo coordenador de TI, Claudio Alves. Eles contaram, em detalhes, os desafios para criar o portal.

Fotos: Divulgação GS1/Davi Plas

Utilizar os padrões para transformar o modo como as pessoas trabalham e vivem é a diretriz da GS1 em todos os países que atua

BRASIL EM DESTAQUE Nessa edição do evento, a participação brasileira foi além. “Nossa presença vem se fortalecendo no Global Forum. Cada vez mais apresentamos cases nacionais que podem servir de exemplo para o mundo”, resumiu Andréa. O uso da tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) e do padrão EPC (o Código Eletrônico de Produto, sistema criado pela GS1 para padronizar as informações armazenadas na tecnologia RFID) no País foi tema da palestra da assessora de negócios da GS1 Brasil, Patricia Amaral Okumura. Ela mostrou as experiências de sucesso da Cooperativa Veiling Holambra, responsável por 45% da comercialização de flores e plantas


“É fascinante participar de um evento como este e constatar como os padrões da GS1 têm transformado a maneira como trabalhamos e vivemos.” Virginia Vaamonde, CEO da GS1 Brasil

no País ( veja o case publicado na edição 9), e da Brascol, um dos maiores atacadistas de vestuário para bebês e infantojuvenil do País ( confira na edição 12). Outra iniciativa importante conduzida pela entidade foi apresentada no evento: o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT). O assessor de projetos da área de inovação e alianças estratégicas da GS1 Brasil, André Lullis, explicou como funciona esse espaço onde é possível experimentar procedimentos operacionais utilizados pela indústria e varejo, mostrando de que maneira o uso de padrões e códigos tornam as atividades mais eficientes. A comitiva da entidade brasileira neste ano foi composta por nove profissionais para levar essas informações e também trazer boas práticas para os associados daqui. FAZER A DIFERENÇA Entre as várias tendências e soluções apresentadas durante o Global Forum 2015, a aplicação dos padrões no setor de saúde ganhou destaque, com apresentação das iniciativas de grandes fabricantes de medicamentos e organizações que atuam nessa área em conjunto com a GS1. Um ponto interessante foi a discussão sobre o uso de códigos de barras para o controle de vacinas com o objetivo de evitar desperdícios e aumentar a visibilidade em toda a cadeia de abastecimento.

Os padrões globais podem também fazer a diferença para ajudar a amparar refugiados, auxiliando a recuperar a dignidade e dar esperança de uma vida melhor. Nesse sentido, a GS1 apresentou um projeto destacando que é possível ajustar os processos logísticos em prol das causas humanitárias, apoiando as operações de distribuição de alimentos e provisões para pessoas nessas condições. A entidade tem um projeto-piloto em conjunto com a Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (na sigla em português, ACNUR) para utilizar os padrões globais desde o fornecedor do produto, passando pelo armazém até chegar aos refugiados. A ACNUR precisa movimentar uma grande quantidade de produtos para levá-los até cerca de 600 mil pessoas em circunstâncias complexas, como situações de emergência, falta de infraestrutura e segurança. Durante o evento também foram ressaltadas as prioridades da entidade até 2016 em âmbito global. No varejo, por exemplo, o foco está nas soluções para e-commerce e omnichannel. Expandir o uso das soluções que atendem às necessidades das empresas no ambiente digital e das que ajudam a aprimorar a qualidade dos dados é também diretriz que a entidade coloca para seus escritórios espalhados pelo mundo. 7 898357 410015

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MERCADO

[BEBIDAS

Copo cheio

Por Denise Turco

Amantes de uma cerveja gelada, os brasileiros sempre estão experimentando novos sabores. Com receitas diferenciadas, as cervejas artesanais enchem cada vez mais os copos nas casas, bares ou restaurantes. Esse toque inovador, fruto do trabalho das microcervejarias que vêm se espalhando pelo País, já rende lucros interessantes e prêmios às marcas nacionais em concursos mundo afora. A maioria dessas empresas é de origem familiar, possui instalações modestas e está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. No processo fabril, elas utilizam maior quantidade de malte por hectolitro quando comparada às fabricantes. Nesse sentido, é possível perceber que o universo das cervejas especiais vai bastante além da tradicional pilsen – leve, de cor clara, pouco amarga e consumida muito gelada – que o brasileiro está acostumado. A proposta da bebida artesanal é oferecer uma experiência sensorial, envolvendo sabor, aroma e cor. Os mestres cervejeiros gostam de ou-

Fotos/Imagens:Thinkstock

Cervejas artesanais começam a cair no gosto do brasileiro e empreendedores veem boas oportunidades nesse segmento


No ano passado, no Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau (SC), conquistou três medalhas de ouro e uma de bronze. “Hoje, quem aprecia a cerveja artesanal são as pessoas que buscam informação sobre a bebida, se interessam por gastronomia e viajam bastante, tendo a possibilidade de experimentá-la pelo mundo afora”, observa o fundador e presidente da Cervejaria Colorado, Marcelo Carneiro. “Há também aquele consumidor que experimenta por curiosidade, motivado pelos amigos.”, completa Ferraro. As mulheres começaram a se interessar por conta de sabores diferenciados e também da comunicação do produto, que, diferentemente das cervejas comuns, não tem propagandas focadas no público masculino. MERCADO Não é só no Brasil que a cerveja artesanal vive um boom mas tam-

Marcelo Carneiro, da Colorado Sabores diferenciados e intensos rendem premiações a vários rótulos da marca bém na França, Espanha, Estados Unidos e região da Escandinávia, locais que não têm tradicionalmente as escolas cervejeiras, a exemplo da Inglaterra, Alemanha e Bélgica. A Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (ABRACERVA) estima que há 350 microcervejarias no Brasil, que respondem por 1% do segmento de cervejas. “O mercado é muito pulverizado e ainda não temos estatísticas”, observa Carneiro, que também é membro do conselho fiscal da entidade criada há quase dois anos. Segundo a Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), na próxima década, a perspectiva é de que as artesanais alcancem 2%

MERCADO DE CERVEJAS ARTESANAIS 350

microcervejarias no Brasil representam

1% dodesegmento cervejas

Foto: Divulgação

sar com ingredientes, como mel, cacau, castanhas, açaí, erva-mate, entre outros. “A ideia é tomar a cerveja artesanal menos gelada para se perceber tudo isso”, diz o sócio-fundador e presidente do grupo Dado Bier, Eduardo Bier. Para se chegar a sabores intensos, há diferentes métodos de produção, estilos, fermentação e teor alcoólico. Uma das tendências, por exemplo, é envelhecer a cerveja em barris de cachaça, vinho ou Bourbon. Com isso, ela “pega” os sabores do barril, resultando em uma cerveja bem peculiar. Com todas essas técnicas e cuidados, a qualidade da bebida artesanal vem ganhando reconhecimento mundial. Segundo o proprietário da Microcervejaria Irmãos Ferraro, Rodrigo Ferraro, cerca de 70% das cervejarias gaúchas mais antigas já foram premiadas em nível nacional e internacional. Há destaques também em outros cantos do País. A revista BeerArt, especializada em cervejas especiais, fez um levantamento dos rótulos nacionais premiados entre 2000 e 2014. Resultado: mais de 200 cervejas ganharam quase 500 medalhas. A Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), por exemplo, faturou, em 2013, prêmios em dois rótulos na primeira edição brasileira do Mondial de La Bière, tradicional evento do setor realizado há 20 anos no Canadá e desde 2009 na França.


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MERCADO

do mercado nacional de cervejas. A entidade observa um movimento de crescimento lento e gradual dessa área nos últimos anos, motivado pela busca por parte dos consumidores de satisfação sensorial, além da melhoria na renda da população e mudanças nos hábitos de consumo. Essa percepção é compartilhada pelos empresários do ramo. Na primeira década de atuação no mercado, a Dado Bier – uma das pioneiras do setor, fundada em 1994 em Porto Alegre (RS) – explorava um universo desconhecido e que não gerava massa crítica. “As pessoas achavam bacana, mas poucas entendiam o conceito e estavam dispostas a experimentar. Mas nos últimos anos, o volume começou a aumentar, confirmando que a cerveja artesanal é uma tendência mercadológica, e não apenas um modismo”, afirma Eduardo Bier. “Hoje, quase todas as microcervejarias estão trabalhando a todo vapor”, diz Carneiro, completando que na Colorado a produção cresce cerca de 30% ao ano. Para dar conta dos pedidos, as empresas que precisam complementar a produção alugam o

Eduardo Bier, da Dado Bier Cerveja artesanal é uma tendência de mercado, e não apenas um modismo espaço ocioso de outra microcervejaria. Essa operação é conhecida no setor como cervejaria cigana e é feita dentro da lei. Atualmente, a Colorado adota essa prática para dar conta da demanda, mas está prestes a inaugurar uma nova fábrica, mais ampla, que possibilitará duplicar a produção em dois anos, segundo Carneiro. A empresa também mantém um bar em Ri-

beirão Preto, onde comercializa seus rótulos e também outras marcas. Já a Dado Bier vende suas bebidas principalmente para bares, restaurantes e autosserviço (supermercados, lojas de conveniência, etc.) das regiões Sul e Sudeste. Na capital gaúcha, possui também restaurante, que acaba tendo uma sinergia com a cerveja. Prova de que o segmento gera interesse e movimento é que as grandes indústrias também não perdem de vista os rótulos artesanais. A Einsenbahn, de Santa Catarina, criada pelos irmãos Juliano e Bruno Mendes, foi vendida em 2008 para o Grupo Schincariol (confira mais na página 54) . No início deste ano, a Ambev se associou à mineira Wäls, em uma tacada que o mercado entendeu como uma ação da gigante para entrar mais a fundo no universo das cervejarias artesanais. ONDA GOURMET Há ainda outros fatores que contribuem para desenvolvimento do setor: o surgimento de publicações e a maior oferta de rótulos importados. A internet também favoreceu tanto o acesso às receitas quanto à

IDENTIFICAÇÃO AUXILIA NO CRESCIMENTO DO SETOR O código de barras é uma das ferramentas de automação mais utilizadas pelos pequenos empreendedores, pois contribui para a agilidade no atendimento ao cliente e o aprimoramento da gestão, que se dá pelo maior controle, diminuição de erros, redução de custos, entre outros benefícios. Outra vantagem é facilitar o acesso dos pequenos negócios a novos mercados, porque o produto identificado com o código de barras ganha mais credibilidade e facilita as negociações com o varejo. No segmento de microcervejarias, adotar o código de barras de padrão internacional e gerido pela GS1 Brasil foi importante para a Irmãos Ferraro, que buscou implementar a solução depois de ser solicitada por supermercados e lojas maiores. “Além disso, não fazíamos a rastreabilidade. Hoje conseguimos acompanhar o produto pelo código de barras”, comenta o proprietário Rodrigo Ferraro.

28 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Fotos: Divulgação

divulgação, com um boca a boca eletrônico positivo. Além disso, produzir cerveja artesanal é uma atividade que tem o seu charme. Comprar os ingredientes (que hoje são de fácil acesso, até mesmo os importados), testar uma mistura inusitada, montar uma estrutura, mesmo que caseira, tem atraído muita gente para o segmento. “Tem muita cerveja boa sendo feita no Brasil, mas sem planejamento e profissionalismo, porque isso se tornou uma atividade glamorosa. No entanto, os empreendedores não analisam se o negócio pode ser rentável”, avalia Bier. Ele lembra que, para ingressar nessa área, é essencial fazer um estudo detalhado do mercado e dos custos envolvidos. “As pessoas acham que é um mercado para ficar rico rapidamente. É muito bom ter empresas novas, mas desde que mantenham

Rodrigo Ferraro, da Irmãos Ferraro Produção caseira tornou-se negócio estruturado, com foco na qualidade

a qualidade do produto”, ressalta Ferraro, que também é consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) na área de cervejas. Aliás, a trajetória da Irmãos Ferraro, com sede em Porto Alegre (RS), mostra que vida de cervejeiro não é moleza. Apreciadores da bebida, Rodrigo e seu irmão Marcelo tinham o sonho de fazer a própria receita. Em 2009, depois de verificar a disponibilidade de matérias-primas, viram que isso era possível, desde que feito com paciência e paixão. “No início, a produção era de, no máximo, 10 litros por vez. A bebida era envasada em garrafas pet de 500 ml de água mineral que eram compradas e esvaziadas para esse fim”, conta Rodrigo. Aos poucos, o que começou como algo caseiro, foi se tornando cada vez mais interessante e desafiador. Muitas receitas foram testadas até que Rodrigo decidiu partir para uma capacitação formal e tornou-se sommelier de cervejas. Em 2012, depois de estudar bastante o mercado, os irmãos decidiram produzir a bebida em escala industrial. Hoje a empresa produz cerca de 15 mil litros/mês e sete estilos de cervejas. Rodrigo conduz a empresa com o apoio do irmão e do amigo Ulisses Bragaglia – que não atuam diretamente no dia a dia do negócio. No Rio Grande do Sul, a empresa faz a venda direta dos produtos. A marca está presente também em Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Bahia. DESAFIOS Quem está no setor acredita que, de fato, há oportunidades de crescimento, apesar dos desafios que a crise econômica coloca neste ano. “Ainda estamos distante do mercado norte-americano. Lá, esse segmento cres-

ce a dois dígitos”, compara Bier. Segundo dados da Brewers Association, entidade que reúne os pequenos cervejeiros artesanais norte-americanos, o market share da cerveja artesanal atingiu 11% em volume, em 2014. Outro desafio é com relação ao preço da bebida. “Nos Estados Unidos, a cerveja artesanal custa 50% a mais que a industrial. Aqui, o preço é três vezes maior do que a comum. Essa diferença de preço combinada com a renda média per capita do brasileiro cria um limitador ao nosso mercado”, acredita o fundador da Dado Bier. A logística de transporte também influencia nos custos, que são elevados para movimentar os produtos pelas estradas do País. A carga tributária tem peso significativo, tanto é que os empresários do setor vinham reivindicando uma tributação específica, já que a operação é totalmente diferenciada da dos grandes fabricantes. Em 2014, foi aprovado pela Câmara um conjunto de novas regras tributárias, que reduz o impacto dos impostos federais do segmento. A lei entra em vigor em maio deste ano e indicará um limite para o volume de produção das microcervejarias e um porcentual específico de malte na composição da bebida para que seja caracterizada como cerveja artesanal. Além da lei federal, a desoneração de impostos já funciona em alguns Estados, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que oferecem incentivos como crédito presumido no ICMS. Mas apesar dessa medida, neste ano, o empresário cervejeiro deverá fazer um esforço extra na gestão dos custos, porque a produção da bebida é dependente de energia e gás, despesas que aumentaram significativamente. Além disso, a cevada é uma commodity com os preços regulados pelo dólar. 7 898357 410015

[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 29


[

GESTÃO

[JURÍDICO

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Sem dor de cabeça no futuro Por Ticiana Werneck

Envolvidos nas questões do dia a dia, pequenos empresários se deparam com problemas jurídicos que podem ser evitados. Saiba como prevenir os riscos O pequeno empresário brasileiro tem muita vontade de dar certo, porém, às vezes, usa essa gana e criatividade de forma equivocada. Seja por esquecimento, seja por desconhecimento da lei, ele não dá a devida importância às questões burocráticas. “Estar bem amparado por um planejamento jurídico significa se proteger de passivos e garantir a saúde do caixa. Ter um negócio não é só saber vender”, avisa o consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (SEBRAE-SP), Arthur Bezerra Júnior. A seguir, confira onde se concentram os principais riscos jurídicos entre as pequenas empresas e saiba como evitá-los. CONTRATO SOCIAL Esse é um dos principais motivos de dor de cabeça para o pequeno empresário. “Muitos querem abrir rapidamente para ter o CNPJ e não elaboram com 30 abr/mai/jul 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

minúcia o contrato social, elemento crucial de todo negócio”, alerta o sócio-fundador da SBAC Advogados, Pedro Mesquita Schaffa. Nesse documento devem constar algumas cláusulas de governança, como, por exemplo, qual sócio deve assinar em nome da empresa, a retirada mensal de cada um, saída ou falecimento de sócio, cotas, regra para desempate de votação e retenção de lucro para investimento, entre outras. “O contrato social deve ser transparente, representar a realidade dos fatos e deixar clara a responsabilidade de cada sócio para não abrir brechas que, depois, são demoradas e trabalhosas para fechar”, ressalta Bezerra Júnior, do SEBRAE-SP. A maioria dos problemas relacionados ao contrato social acaba aparecendo depois que ele está pronto, mas nunca é tarde para fazer ajustes. Antes de estabelecer o contrato social, sempre é bom lembrar: “Tenha

ótimos motivos para escolher seu sócio. Sociedade é casamento, não é apenas compatibilidade”, diz Bezerra Júnior. Ao constituir a empresa, formalize tudo com a ajuda de um advogado, consultor jurídico ou contador de confiança e com experiência comprovada. “Alguns pequenos empresários acham que esses procedimentos estão restritos às grandes empresas e tentam fazer tudo do seu jeito, mas o prejuízo que terão no futuro mostra que esse é um grande erro”, observa Schaffa. Outro aviso importante é: nunca se aventure em adotar modelos prontos de contratos de sociedade disponíveis na internet. “Eles são um perigo”, adverte o consultor do SEBRAE-SP. TRIBUTAÇÃO Nesse tópico, planejamento tributário é a palavra de ordem. Sua influência é tão forte que se reflete, di-


retamente, na saúde do caixa – o que pode significar o sucesso ou a falência de uma pequena empresa. Além de mostrar um raio-X do negócio, evitando surpresas, um bom planejamento tributário pode economizar dinheiro ao aparar arestas de impostos sobrepostos ou diminuir a carga tributária. “O certo é iniciar a empresa já ciente de todos os custos de operação. No entanto, muitos empresários não conhecem a carga tributária ou o custo por funcionário e, quando vão acertar as contas com o Fisco, percebem que o negócio é inviável”, verifica Schaffa. Outro ponto importante é que o planejamento pode indicar a inclusão da empresa no regime tributário adequado. Muitas companhias, por desconhecimento, estão enquadradas na sistemática errada. Isso é até algo compreensível porque, no Brasil, o labirinto de diferentes percentuais de impostos é imenso. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a cada duas horas, há uma alteração de normas tributárias. Isso complica o

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Arthur Bezerra Júnior, do SEBRAE-SP Nunca se aventure em adotar modelos prontos de contrato social disponíveis na internet

acompanhamento de todas as mudanças, especialmente nos segmentos que comercializam vários tipos de produtos, cada um com características alíquotas específicas. Também é importante rever, periodicamente, o que a empresa pratica em termos de apuração e recolhimento de impostos, pois as leis possibilitam mais de um tipo de interpretação. Por isso, a atenção deve ser redobrada. Em alguns casos, a melhor saída para a pequena empresa é terceirizar a área tributária. Além de custos mais acessíveis, a medida não tira o foco dos gestores do negócio principal. ENCARGOS TRABALHISTAS Outro grande deslize de muitos empresários se dá na hora da contratação de um novo funcionário. Assim

é importante não se iludir com a ideia de que ele não entrará com uma ação trabalhista porque sua empresa oferece benefícios ou um salário melhor que o da concorrência. “Se você optou por não formalizar o contrato de trabalho, está criando um passivo para a empresa no futuro”, diz Schaffa. “Ao negar o vínculo empregatício a alguém que claramente trabalha para a empresa, o empregador está burlando a legislação e jogando o problema para frente”, reforça Bezerra Júnior. Antes de contratar, faça uma análise profunda dos custos e tributos a fim de verificar se pode arcar com mais pessoas em seu quadro de colaboradores. Apenas para ilustrar, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), cada funcionário custa, em média, 50% a mais que o salário pago. 7 898357 410015

EVITE PROBLEMAS JURÍDICOS Esmere-se na elaboração de um contrato social que reflita a realidade do negócio e as responsabilidades de cada sócio. Quanto mais detalhado, menores serão os riscos. Faça um planejamento tributário. Ele indicará todos os custos de operação e a carga tributária. Assim, não haverá surpresas. Mantenha os contratos trabalhistas dentro da lei para evitar problemas futuros.

Pedro Schaffa, da SBAC Advogados Empresa pode criar um passivo se não formalizar o contrato de trabalho com os funcionários

Formalize os contratos com clientes e fornecedores. Eles não podem ser feitos apenas informalmente ou na base da confiança, pois pode ser que demore anos para executar o que foi combinado.

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EDUCAÇÃO

[CARREIRA

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tecnologia

Por Kathlen Ramos

Para otimizar os processos com economia e eficiência, empresas buscam profissionais que se dedicam às áreas relacionadas a tecnologia e automação


Flávia Costa, da GS1 Brasil Objetivo da entidade é manter os profissionais atualizados

Renato Giacomini, da FEI Curso de engenharia de automação está entre os mais procurados

Aliás, engenharia de automação foi o terceiro que mais cresceu em procura na última década, considerando os cursos da área tecnológica, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), citados pelo professor titular e chefe do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Universitário da FEI, Renato Giacomini. Sem dúvida, o aumento da oferta de vagas reflete, diretamente, a necessidade do mercado, afinal, hoje as empresas buscam otimizar os processos a fim de gerar economia e eficiência. A automação também é fundamental para viabilizar a competitividade no ambiente globalizado. Tanto é que soluções criadas pela tecnologia são utilizadas em diferentes situações, desde a ampliação da capacidade produtiva e controle de qualidade, passando pela rastreabilidade de lotes e produtos até a padronização de partes e processos. Esse cenário traz oportunidades para quem aposta nessa carreira. “As projeções para profissionais são muito boas, pois as empresas buscam cada vez mais inovar nos processos produ-

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As profissões com foco na automação de processos têm atraído cada vez mais jovens pelo País ao longo das últimas duas décadas. Afinal, eles buscam desafios para trabalhar em um universo que envolve tecnologias sofisticadas e boas expectativas de uma carreira tida como promissora. Desde o final dos anos 1990, quando foram criados os primeiros cursos de engenharia de automação e mecatrônica no Brasil, a demanda por profissionais qualificados e cursos de formação continua apresentando crescimento expressivo. “No início dos anos 2000, o Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) oferecia, anualmente, 60 vagas para a graduação de engenharia de controle e automação. Atualmente são cem vagas”, compara o professor e coordenador desse curso, Fernando Silveira Madani.

tivos, aumentar a qualidade e reduzir custos”, avalia a coordenadora de educação da GS1 Brasil, Flávia Costa. TRABALHO DIVERSIFICADO O especialista da área de automação pode atuar no setor de indústria, comércio ou serviços. “Esse profissional é demandado pela indústria em geral e por empresas especializadas em automação de processos, de desenvolvimento de produtos, de sistemas e equipamentos automatizados”, enumera Flávia. Essa versatilidade já começa na universidade. Segundo Madani, o curso de engenharia de controle e automação, por exemplo, possibilita trabalhar na implementação de um sistema flexível de manufatura; em uma fábrica automatizada; ou no desenvolvimento de produtos que utilize uma ampla combinação de mecânica e eletrônica. E, em virtude do desenvolvimento de novas tecnologias, ainda há muito espaço para automação em áreas antes menos privilegiadas nesse sentido, como automação de residências, na medicina, serviços de assistência a pessoas, entre outras. Ou seja, as oportunidades e o campo de trabalho têm aumentado constantemente. Mas quem decide focar nessa área não pode parar apenas no curso convencional de graduação. Giacomini, da FEI, destaca que a atualização é de suma importância, já que a automação


EDUCAÇÃO

é o elo entre as novas tecnologias de informação e os meios de produção. Segundo ele, “é praticamente impossível para a indústria de transformação, por exemplo, manter uma planta industrial sem inovações tecnológicas por mais de dois anos”. O professor Madani, do IMT, cita um exemplo prático dessa importância. “Apesar de a graduação fornecer uma sólida base de conhecimento e capacitar o estudante para assimilar novas tecnologias, um profissional formado há 17 anos, que está em pleno exercício da profissão, não teve, em seu curso, contato com tecnologias que hoje são amplamente aplicadas, como desenvolvimento para redes e web, comando por dispositivos móveis, bluetooth, entre outros”, diz. FORMAÇÃO DE ESPECIALISTAS A GS1 Brasil oferece cursos e webinars técnicas que complementam a formação do profissional que decide atuar na área de automação. Além disso, no ano passado, a entidade abriu o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT), onde profissionais e estudantes podem ter acesso prático a diversas aplicações existentes na indústria e no varejo. “O nosso objetivo é manter os profissionais atualizados

Luiz Fernando Guerra, do FIT Centro de Excelência em RFID no interior de São Paulo tem reconhecimento mundial

e apresentar soluções que otimizem processos e reduzam custos”, reforça Flávia, acrescentando que a entidade dispõe, ainda, de guias e materiais técnicos que podem ser uma excelente fonte de consulta. Uma área que está crescendo no País e propiciando boas oportunidades de carreira é a de tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID). Ela possibilita fazer a rastreabilidade dos objetos, que passam a ter uma identificação única e exclusiva, com informações como linha de produção ou data de validade. Atualmente há uma demanda grande por soluções de RFID em diversos segmentos, inclusive em projetos com incentivo de órgãos governamentais. Mas para que tudo isso se torne realidade, é preciso mão de obra qualificada. Segundo a consultora em RFID e professora do Centro de Excelência em RFID (RFID CoE), Renata Rampim, quem procura cursos na área, de modo geral, são os implementadores, ou seja, os profissionais responsáveis pela efetiva execução do sistema. Assim, nesse caso, não é necessário que tenham especialização em tecnologia ou graduação em engenharia. “Os interessados são aqueles que estão começando a lidar com essa tecnologia e querem se capacitar, ou empresas que vão contratar um profissional, mas antes querem entender melhor essa solução”, diz Renata. A GS1 Brasil tem apoiado várias iniciativas voltadas para a educação profissional envolvendo RFID. Desde 2005, a entidade tem parceria esta-

Fotos: Divulgação

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belecida com o Centro de Excelência em RFID, que é controlado pelo FIT – Instituto de Tecnologia, associação sem fins lucrativos ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e um dos principais institutos de pesquisa na área de informática do País. Instalado em Sorocaba (SP), o centro tem como um dos parceiros a Hewlett Packard (HP). Esse vínculo entre as instituições foi importante para a consolidação da tecnologia RFID no País. “Hoje o Centro de Excelência é reconhecido no mundo por sua competência e pioneirismo na implementação de soluções para indústria de manufatura, logística, pontos de vendas, entre outros setores, o que já rendeu diversos prêmios nacionais e internacionais”, explica o diretor-geral do FIT, Luiz Fernando Guerra. Além disso, o Centro de Excelência em RFID é o primeiro laboratório no Brasil acreditado pelo EPCglobal, órgão regulador de padrões internacionais para a adoção e o desenvolvimento da tecnologia RFID no mundo. Quem participa dos cursos da instituição se beneficia dessa certificação, que permite o reconhecimento do profissional no mercado e dá maior segurança para as empresas no momento

Fernando Madani, do IMT Capacitação constante é essencial para recém-formados e profissionais experientes


Renata Rampim, do Centro de Excelência em RFID Cresce demanda por soluções de RFID em empresas de diversos segmentos, o que requer mão de obra qualificada 26 anos, já participou dessas aulas e aprovou. “O conteúdo é muito interessante e essencial para entender as aplicações do RFID, principalmente na indústria e nos serviços de transporte e logística”, avalia. NA PRÁTICA O diretor da empresa provedora de soluções para automação de processos TCG do Brasil, Claudio Chaves Junior, fez, recentemente, o curso de certificação profissional no Centro de Excelência em RFID. Apesar de já ter participado de congressos internacionais no segmento e acompanhar a relevância do uso de padrões GS1, ele achou uma ótima oportunidade para validar seus conhecimentos e criar um diferencial na carreira. “A área de automação está diretamente associada à recolocação

Foto: Paulo Pepe

da contratação, comenta Flávia, da GS1 Brasil. Outra frente de ação da entidade é a parceria com universidades, uma maneira de disseminar conhecimentos específicos e práticos sobre os padrões e tecnologias de automação para quem está ingressando na carreira. Em 2013, por exemplo, a GS1 Brasil firmou acordo com o Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia para inclusão de um módulo de aulas sobre RFID no curso de engenharia de controle e automação. “A GS1 Brasil tem uma valorosa contribuição ao compartilhar seu amplo conhecimento na área da automação com visão de mercado”, destaca o professor Madani. Prestes a se formar, o estudante Diogo Shibata, de

de profissionais em atividades mais estratégicas”, acredita Chaves Junior. Diogo Shibata, que ainda está começando, também faz boas projeções para o seu futuro profissional. “Pretendo desenvolver-me até um cargo de alta gestão, preferencialmente no setor da indústria e em plantas de produção automatizadas”, diz. “A automatização melhora todos os aspectos da produção, aumenta o lucro da empresa, reduz os problemas de pós-venda e estabelece um padrão de qualidade mais uniforme”, avalia o estudante. 7 898357 410015

O QUE ESPERAR DA REMUNERAÇÃO E ESTABILIDADE NA CARREIRA? As expectativas para aqueles que ingressam nas áreas que envolvem a automação são bastante positivas. “A carreira garante estabilidade, porque a necessidade de automação ocorre tanto nos momentos de expansão da economia, em que as empresas investem em novas plantas industriais, quanto nos momentos de retração, nos quais é necessário aumentar a produtividade”, justifica o professor titular e chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI, Renato Giacomini. Segundo o professor Fernando Madani, do IMT, a remuneração pode ser atrativa aos iniciantes. “O piso salarial de um engenheiro é de 8,5 salários mínimos, conforme a Lei 4.950-A/66, não havendo limite para o topo de carreira, pois isso dependerá da área de atuação e do desenvolvimento profissional do engenheiro”, afirma.

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ESTRATÉGIA

[FUSÕES

Oportunidades

à vista

Por Epaminondas Neto

Onda de fusões e aquisições ganha volume e alcança pequenas e médias empresas. Conheça os riscos, entenda as vantagens e saiba quais providências tomar


Faz parte da dinâmica do capitalismo a mudança constante da paisagem dos negócios: um líder de mercado pode ser destronado em poucos anos. Uma empresa de garagem pode dominar o mundo depois de amanhã. Nesse sentido, as operações de fusão e aquisição são um elemento essencial desse processo de consolidação. Pesquisa divulgada recentemente pela consultoria PwC mostrou que esse ciclo ganhou velocidade no Brasil. Entre 2010 e 2014, houve uma média de 804 transações por ano, ante 646 no período de 2006 e 2009, e de 384 entre 2002 e 2005. Não se trata somente de operações na casa do bilhão. A PwC registrou um total de 879 transações no mercado brasileiro em 2014. Foram divulgados os valores em 266 casos. Dessa amostra, somente 22 operações ultrapassaram US$ 1 bilhão; e 76 foram acordos considerados de médio porte (entre US$ 101 milhões e US$ 999 milhões). Portanto, a maioria das operações (168) foi de menor monta, envolvendo valores até US$ 100 milhões. Assim, ao lado de um investimento monstruoso, como a aquisição da Chiquita Brands International, empresa norte-americana de banana, por US$ 1,3 bilhão pelos grupos brasileiros Cutrale e Banco Safra, ocorreram dezenas de outros pequenos grandes negócios, como o aporte de R$ 5 milhões no portal imobiliário Properati por dois fundos de capital de risco, ou a compra do Centro de Ensino Unificado de Teresina por R$ 33 milhões pela Estácio Participações. A atual crise econômica (e política) do País pode prejudicar, mas não necessariamente vai interromper essas transações. Enquanto a desvalorização da moeda brasileira torna as empresas nacionais mais baratas para os investidores estrangeiros, o fortalecimento global do dólar dá poder de fogo para interessados em consolidar posições na sétima maior economia mundial. É um mundo novo para pequenos e médios empresários brasileiros. Uma aquisição total ou parcial pode significar o desfe-

cho de uma novela societária, o coroamento de anos de muito trabalho ou uma injeção de capital necessária para aumentar a competividade de um empreendimento. Problemas inadiáveis de caixa ou a pressão da concorrência também entram na lista. O que pode afetar ou inviabilizar uma negociação desse tipo? Entre outros motivos, a complexidade da legislação brasileira e questões típicas das companhias nacionais, como pendências trabalhistas e tributárias. PROCESSO COMPLEXO

Fusões e aquisições são operações que demandam vários meses e muitos especialistas para alcançarem resultados. Podem dar errado, mesmo no caso de operações bilionárias, assistidas pelas melhores equipes. O empreendedor interessado em negociar seu passe (sua empresa) no mercado precisa estar plenamente consciente do quadro acima para evitar frustrações. Ao sentar à mesa para discutir preços, ele deve estar preparado para defender o valor de seu empreendimento e, de preferência, sem encarar o processo como uma solução “rápida” para uma emergência financeira da empresa. O advogado especialista em fusões e aquisições, Robertson Emerenciano, conta o drama de uma empresa familiar em processo de negociação. “Participei de uma reunião com uma empresa que está para ser vendida para uma multinacional italiana. Mas ela está com uma série de problemas: a tecnologia está ultrapassada e possui recursos em caixa para poucos meses. Se o negócio não sair em cerca de seis meses, simplesmente vai ficar sem dinheiro”, relata. Esse caso mostra como são grandes as chances da negociação ficar sem sentido para o próprio vendedor ou de ele ser forçado a vender por um preço inferior o patrimônio construído com o trabalho duro de gerações. Até as empresas em situação mais confortável podem se surpreender negativamente,


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ESTRATÉGIA

CHECKLIST ANTES DE UM PROCESSO DE FUSÃO OU AQUISIÇÃO Faça um balanço auditado por uma empresa independente Considere aderir ao Programa de Recuperação Fiscal (REFIS)

Aprimore a contabilidade da companhia

Regularize a situação patrimonial

porque os donos, eventualmente, encaram o processo de maneira equivocada. “Principalmente no caso de empresas familiares ou de pequeno porte, as pessoas envolvidas nem imaginam como é complexo esse processo de aquisição. Como não conversam sobre os detalhes, quando entra um advogado para cuidar da situação, acham que veio somente para complicar. Mas é preciso tomar cuidado com o preço e com as garantias oferecidas”, acrescenta Emerenciano.

Resolva as pendências trabalhistas

CAMPO MINADO

É uma cena comum entre vendedores e compradores. Os primeiros põem suas melhores cartas na mesa, para maximizar seu valor e elevar o preço a ser pago. Os potenciais investidores, claro, fazem o dever de casa e se debruçam sobre os livros da empresa. É

o chamado due dilligence, imprescindível em processos de fusões e aquisições. A essa altura, os esqueletos começam a sair do armário: ou a companhia tem pendências trabalhistas e tributárias consideráveis,

O VOCABULÁRIO DO MERCADO Transações de compra em que o investidor adquire 100% das ações de uma companhia ou uma participação majoritária (como 50% mais um do total de ações).

Um empreendimento formado por dois ou mais sócios, que mantém suas operações independentes.

Aquisição de par ticipação• Joint-venture• Fusão• Incorporação• Fonte: PwC

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Duas empresas juntam suas operações e deixam de existir separadamente. Quando uma empresa absorve as operações de outra, que cessa de existir.


ou não detém a patente da tecnologia que comercializa, ou seu patrimônio material está irregular e assim por diante. O resultado dessa investigação, claro, reflete no preço inicial desejado pelo vendedor. Mas o pior é quando a empresa à venda não está ciente dos próprios riscos, uma situação mais comum do que se imagina, segundos especialistas. Para minimizar a ocorrência de dramas desse molde, começa a se tornar comum no mercado a prática do vendor due dilligence. “Você contrata uma auditoria para identificar os problemas, arrumar a casa e se preparar para uma venda”, resume o sócio e advogado especialista da área societária do escritório Miguel Neto Advogados, Bruno Guarnieri. A prática do vendor due dilligence não vai substituir a avaliação pelo potencial comprador, mas pode apressar o processo de negociação em

alguns casos. A partir desse ponto, o empreendedor precisa fazer sua lição de casa. “Primeiro, ele deve preparar a empresa para ser vendida. Ou seja, precisa ter os números, as informações bem preparadas, para não perder tempo e aumentar as chances de êxito”, aconselha o especialista da Sunbelt Business Brokers Brasil, especializada na intermediação de compra e venda de empresas, Batista Gigliotti. Depois, o empresário precisa ter o suporte de profissionais habilitados para não quebrar a confidencialidade antes da hora e evitar problemas trabalhistas ou tributários. “Ele também deve fazer uma análise criteriosa do comprador, não somente do ponto financeiro mas também verificar a idoneidade”, completa Gigliotti. NA MIRA DO MUNDO

Conforme revela a mesma pes-

quisa da consultoria PwC, investidores estrangeiros mostram cada vez mais apetite por empresas nacionais. Os investidores domésticos ainda respondem pela maior parte das compras de participação em outras companhias – foram 427 transações em 2014 frente às 337 feitas por estrangeiros. Mas o crescimento no total de transações feitas por estrangeiros aumentou em ritmo mais acelerado: 4,3% ante 3,9% na comparação de 2014 contra 2013. “A dificuldade na relação com um cliente estrangeiro é quando você precisa orientá-lo sobre a legislação brasileira, que é muito complicada. É muito melhor lidar com um investidor estrangeiro, que já teve experiência de negócios aqui no Brasil, do que trabalhar com um investidor brasileiro, que não teve experiência alguma”, diz Guarnieri, do escritório Miguel Neto Advogados. 7 898357 410015

QUAL É A HORA CERTA? Não existe uma resposta pronta para saber quando ou se um empreendedor deve vender uma parte ou a totalidade do seu negócio, ou mesmo começar uma nova empresa fundindo os ativos (e passivos) com outro empreendedor. Especialistas na área apontam que, entre os motivos mais comuns para disparar um processo de fusão ou aquisição, estão as razões societárias: um conflito de sócios em que a separação é o melhor caminho ou por uma questão de herança – as novas gerações perdem o interesse em levar adiante o projeto familiar. Assim, vender é a melhor alternativa ante extinguir o negócio. É bastante comum que o empreendedor tema um aumento da concorrência. Quando novos (e grandes) players estão prestes a invadir um mercado, aliar-se com uma empresa maior pode ser a saída para sobreviver. E, às vezes, um novo sócio pode representar mais que capital novo: é a chance de agregar uma nova tecnologia ou dar um choque de gestão em uma empresa muito atrás de seus melhores dias.

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PERFIL

[EMPREENDEDORISMO

Na contramão da crise Por Juliana Jadon

Em tempos de crise hídrica, reduzir o consumo de água e evitar o desperdício desse valioso bem é uma ação de cidadania. Nesse cenário, as companhias que adotam uma postura ecologicamente correta tendem a se destacar aos olhos dos consumidores mais conscientes. É o caso da AcquaZero, rede que oferece serviços de estética automotiva e limpeza ecológica. A empresa utiliza apenas 300 mL de água para a higienização dos veículos, diluída com produtos biodegradáveis à base de cera de carnaúba e teflon, com pH neutro e certificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Esse método a diferencia da concorrência, já que o processo de limpeza num lava-rápido convencional costuma utilizar 300 litros de água para remoção da sujeira dos veículos. O procedimento de lavagem dura, em média, de 30 a 40 minutos, dependendo do tamanho do carro. Segundo o diretor-executivo da AcquaZero, Marcos Mendes, os preços cobrados 40 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

pelo serviço são compatíveis com a média do mercado, variando de R$ 40 a R$ 60. A comodidade e o conforto oferecidos aos clientes também são alguns dos diferenciais, já que a empresa oferece serviços nos quais vai até o local escolhido pelo consumidor. FECHANDO A MANGUEIRA A AcquaZero deu largada ao seu negócio em 2009 com uma pequena loja, em São Paulo (SP), e, por conta da boa aceitação dos serviços pelos usuários, os gestores decidiram franqueá-lo. Já no primeiro ano de atuação, foram vendidas oito franquias. No ano seguinte, em 2010, a rede ingressou na Associação Brasileira de Franchising (ABF) e deu início a um projeto de expansão mais agressivo, resultando na abertura de mais 26 unidades. A limpeza continuou Brasil afora. “Em 2011, abrimos a segunda loja própria para o fortalecimento da marca no mercado nacional e fechamos o ano com mais de 40 franqueados”, recorda Marcos Mendes.

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Com o serviço de limpeza ecológica de veículos, rede AcquaZero traz novo conceito ao setor e cresce diante da escassez de água no País

Já em 2012, o objetivo foi o de tornar a AcquaZero a maior empresa de estética automotiva. “Devido a isso, passamos a buscar representantes pelo País, além de estabelecer parcerias com shoppings, hipermercados, condomínios comerciais residenciais. Fechamos o ano com mais de 80 unidades”, calcula Mendes. Com o crescimento rápido e um número elevado de franqueados, surgiu a necessidade de criar um departamento de relacionamento com os empreendedores da marca e intensificar o suporte concedido a eles. Com uma consultoria de campo, a empresa encerrou o ano com mais de 120 franquias. Em 2014, a escassez de água no País deu base para o bom desempenho da AcquaZero. Somente nesse período a rede vendeu 56 franquias e 69 licenciamentos. “Devido à crise hídrica, nosso negócio passou a ser mais atrativo. Abrimos a terceira loja própria em um shopping na Granja Vianna, em Cotia, região da Grande São Paulo, e criamos a modalidade de franquia


Fotos: Paulo Pepe

Gold, voltada para o público AB”, conta o diretor-executivo. Para este ano, a alta dos juros e a alta carga tributária preocupam a empresa. Mesmo assim, a limpeza ecológica não para. “Nosso principal objetivo é melhorar o faturamento em toda rede, para isso vamos intensificar o suporte ao franqueado”, conclui Mendes.

Marcos Mendes, da AcquaZero Sistema de lavagem de carros utiliza apenas 300 mL de água

ATUAÇÃO DIVERSIFICADA Para atender a diversos perfis de empreendedores, a empresa dispõe de nove modelos de negócios. O mais básico deles é o de licenciamento, no qual, com investimento de R$ 4.800, um profissional independente se desloca até o local de lavagem estipulado pelo cliente e utiliza a marca e a tecnologia da AcquaZero para execução do serviço. Entre os modelos de franquias, a opção Gold exige aporte entre

R$ 60 mil e R$ 100 mil, o maior entre as modalidades da AcquaZero. Nesse caso, as lojas têm espaço físico amplo e layout diferenciado para atender consumidores de renda elevada. Segundo a rede, o retorno do investimento pode ser obtido no período entre 3 e 24 meses, o que dependerá do desempenho e dedicação de cada empresário. A empresa oferece treinamento para o empreendedor e demais colaboradores. Há várias histórias de consumidores satisfeitos com os serviços da AcquaZero. Uma delas ocorreu na loja própria no shopping The Square Granja Viana (SP). O cliente havia solicitado uma higienização do carro e uma hidratação nos bancos. Quando recebeu o veículo, ficou tão satisfeito que acabou se tornando um franqueado da rede. 7 898357 410015

NOVAS REGRAS PARA LAVA-RÁPIDOS EM SÃO PAULO Os lava-rápidos e postos de combustíveis terão de reutilizar a água destinada à limpeza dos veículos. É o que prevê um projeto de lei sancionado pelo atual prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad. Segundo o texto publicado em 14 de abril, no Diário Oficial da cidade, a Lei 16.160 cria o Programa de Reúso de Água em postos e lava-rápidos e determina que esses estabelecimentos instalem sistemas e equipamentos exclusivos para captação, tratamento e armazenamento, visando o reúso em atividades que admitam o uso de água de qualidade não potável. O projeto ainda precisa ser regulamentado, mas as novas medidas estão previstas para entrar em vigor em 180 dias (a partir da data de publicação do texto). Os estabelecimentos que desobedeceram as normas estão sujeitos à advertência e multa.

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GESTÃO

[CANVAS

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Quadro estratégico

Por Juliana Jadon

Saiba como inovar e ganhar vantagem competitiva diante da concorrência por meio do modelo de negócios Canvas Papéis e post-its coloridos colados em um painel na parede do escritório representavam importantes passos estratégicos que a empresa de Jeff Bezos, sediada em Seattle, nos Estados Unidos, estava pronta para dar em 2010. Dividido em nove partes, o quadro, denominado Business Model Canvas (BMC), apontava caminhos inovadores ainda não percorridos por possíveis concorrentes da empresa. Por meio do uso dessa ferramenta e de um líder visionário no comando, a Amazon, criada para vender livros pela in42 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

ternet e, atualmente, um dos maiores e-commerces do mundo, conseguiu inovar, conhecendo melhor as necessidades de seus públicos envolvidos – consumidores, empresários, desenvolvedores e escritores. Dessa maneira, disponibilizou mais de 450 mil e-books em diversas línguas para o Kindle – seu leitor digital de livros, jornais e revistas. A agilidade e a praticidade com que o equipamento baixa qualquer um desses livros eletrônicos, em apenas 60 segundos, atraiu compradores no mundo inteiro.


Foto: Divulgação

Gustavo Caetano, da Samba Tech Metodologia possibilita ter uma visão unificada do negócio

Com o uso do Canvas e conhecimento sobre as partes envolvidas, a Amazon continua a levar novidades desse tipo para os consumidores, comenta o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Distrito Federal (IBMEC/DF), João Batista Bonono. E isso se reflete em números. Para se ter uma ideia, em 2014, as vendas da companhia cresceram 20%, somando US$ 89 bilhões no período, segundo dados disponibilizados pela empresa em seu site. Globalmente, gestores de novos empreendimentos também aderem ao BMC, assim como fizeram os principais executivos da Amazon. O BMC foi criado por Alexander Osterwalder, considerado um dos maiores pensadores em administração e especialista em inovação aplicada a negócios. “Se olharmos para as estatísticas, mais de 40% das iniciativas falham porque as empresas constroem algo que o cliente não queria. Isso acontece porque os gestores fazem planos de negócios sem testar a ideia”, disse Osterwalder em evento recente que participou no Brasil. É dele o principal guia sobre o assunto, o livro Business Model Generation – Inovação em Modelos de Negócios (editora Alta Books). Trata-se de uma metodologia visual que permite aos empreendedores alterar, de forma fácil, rápida e frequente, a visão sobre as inovações que desejam implantar. Funciona como uma receita da estratégia a ser utilizada para se diferenciar em algum nicho específico. O

BMC é utilizado, principalmente, por empresas iniciantes – as startups. “O modelo Canvas possibilita testar rapidamente as ideias sem ter grandes dispêndios de tempo, dinheiro ou qualquer outro tipo de insumo”, ressalta Bonono. Desse modo, não é preciso investir em softwares, estudos ou consultorias para saber quais os melhores direcionamentos para os negócios. Isso porque o modelo explica, de forma detalhada, toda a lógica empresarial relacionada à entrega, processamento e captura de valor de determinado negócio e os segmentos de mercado relacionados a ele (veja quadro na próxima página). De acordo com o CRO (do inglês, diretor de reestruturação) da Edools – empresa de educação a distância – e especialista no processo de BMC, Maurílio Alberone, o modelo é importante para que as empresas possam substituir um plano de negócios engessado por um processo estratégico mais ágil. INOVAR É IMPRESCINDÍVEL Não é todo dia que alguém tem uma ideia genial de produto ou serviço – assim como Jeff Bezos – e a coloca em prática dentro de uma companhia. Por isso, é preciso indu-

zir novas ideias que tragam diferenciais competitivos. A utilização do BMC se insere nesse contexto. O modelo não é recomendável somente para a manutenção de um empreendimento mas, principalmente, para incluir a inovação como um critério para aumento da vantagem competitiva. “A relação entre inovação e a metodologia é umbilical. Um não sobreviverá sem o outro”, compara o especialista do IBMEC/DF. Exemplo de companhia que aderiu ao Canvas é a Samba Tech, pioneira no mercado de distribuição de vídeos on-line no Brasil e uma das mais inovadoras da América Latina, segundo a publicação americana FastCompany. A empresa, que tem sua base em Belo Horizonte (MG), gerencia 2 bilhões de requisições de vídeos por mês e suporta mais de 300 milhões de visualizações. Por meio da plataforma de vídeos on-line, a marca oferece tecnologia para gerenciamento, distribuição, monetização e mensuração dos conteúdos. “O Business Model Canvas serve justamente para termos uma visão completa e estratégica da empresa no mercado em que atuamos. Ele é utilizado como um direcionamento para ‘dividir’ a empresa em blocos e, dessa forma, ver o todo, aplicando mudanças para melhorar processos e inovar”, conta o CEO da Samba Tech, Gustavo Caetano. Com a metodologia, a empresa mineira conseguiu fazer com que os gestores de todas as áreas (financeira, marketing, vendas, entre

O modelo Canvas possibilita testar ideias e acelerar o processo de inovação [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 43


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GESTÃO

Parcerias-chave

Como alavancar os negócios identificando quem são os principais parceiros e fornecedores, além das atividades e recursos-chave.

NOVE PARTES DE UM TODO A estrutura do modelo de negócios Canvas é dividida em nove quadros que possibilitam discutir, descrever, desenhar, inventar, experimentar e inovar o modelo de negócios. A ideia é que cada parte colabore para formar uma única imagem da empresa. Confira a seguir.

Atividades-chave

O que a empresa precisa para ser capaz de ter um bom desempenho.

Proposta de valor

As soluções, os produtos e/ou os serviços que vão criar uma proposta de valor específico para os clientes.

Recursos-chave A infraestrutura necessária para criar e entregar valor, ou seja, para o funcionamento do modelo de negócios.

Estrutura de custos

Identificar cada custo inerente ao negócio, observando as atividades e os recursos mais caros.

Relações com clientes

O tipo de relacionamento que a empresa estabelece com os clientes e os segmentos de mercado. Como essas relações estão integradas ao modelo de negócios.

Segmentos de mercado O público para o qual a empresa pretende criar valor, os clientes mais importantes.

Canais

Os pontos de contato para interagir com os clientes. Como os canais se conjugam e quais são mais rentáveis.

Fontes de renda

O valor que os clientes pretendem pagar pelo produto ou serviço e quanto as diferentes fontes de renda contribuem para o total da receita da empresa. Fonte: Alexander Osterwalder/www.businessmodelgeneration.com

outras), conhecessem a importância de sua atuação para o desenvolvimento dos negócios. “A relação de inovação com o Business Model Canvas está em poder visualizar todos os campos da empresa e, por meio dessa visão unificada, identificar possíveis problemas ou processos já defasados e aplicar o conceito de inovação sobre eles, aprimorando a experiência da empresa como um todo”, esclarece Caetano. 44 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

LÂMPADA ACESA Rafael Milagre é sócio-fundador e diretor de marketing da Benvenuto, empresa de compra e venda de imóveis que aproxima o proprietário do comprador. O diferencial da companhia é permitir que a negociação seja efetuada diretamente entre os interessados, sem a necessidade de um corretor imobiliário e do pagamento de comissões. “Queríamos criar algo que realmente

pudesse entregar valor para as pessoas que buscam comprar e vender imóveis de maneira tecnológica, inovadora e, ao mesmo tempo, simples”, aponta. Há dois anos, quando Milagre e seus sócios começavam a planejar a Benvenuto e a desenvolver a primeira versão do modelo de negócios, ele leu um livro que abordava exatamente a metodologia Canvas. Empolgado, com apenas dois dias de leitura, começou a


trabalhar em um modelo que, depois de muito trabalho, estudo e pesquisas, o levou a fazer uma avaliação mais concreta sobre o que seria empresa. “Tirar a Benvenuto do plano das ideias e colocar no papel nos ajudou a discutir os problemas, pensar na proposta de valor e analisar como fazer a gestão de todos os elementos chaves para o negócio”, relata. Segundo Milagre, é preciso estudar e dominar o conceito para utilizá-lo a favor do negócio e absorver dados e informações relevantes. “Acredito que, para desenvolver um negócio sustentável, é preciso estudar não só o modelo que pretende desenvolver mas também o Canvas e todos os ele-

mentos contidos nele, como a concorrência, o segmento de mercado, os canais de distribuição, a relação com os clientes, etc.”, avalia. Os principais elementos e valores da Benvenuto não se alteraram do primeiro quadro Canvas até hoje. “O BMC nos permitiu traçar uma direção do que queríamos alcançar, que no caso foi produzir um novo modelo para facilitar a vida das pessoas que querem comprar e vender imóveis”, ressalta Milagre. Atualmente, a empresa conta com um crescente número de imóveis cadastrados e de navegantes do portal. Para ele, os papéis coloridos deram certo. Com a introdução do BMC, a expectativa

Foto: Divulgação

Rafael Milagre, da Benvenuto Modelo Canvas permitiu traçar a direção que a empresa pretendia alcançar

é que um empreendimento seja visto como inovador, que oferece mais do que produtos ou serviços para o mercado. Espera-se que os clientes fiquem mais satisfeitos e que haja algum ganho de competitividade (seja em participação de mercado, em volume de vendas, em melhoria da posição competitiva com relação aos demais concorrentes). “O conceito pode fornecer as ferramentas e os pensamentos necessários para fazer seu empreendimento vitorioso”, conclui Bonono. 7 898357 410015

PRIMEIROS PASSOS PARA INOVAR O Canvas funciona como um mapa das principais estratégias a serem adotadas por uma empresa, de acordo com o segmento de atuação e com os públicos envolvidos. Deve ser alterado e revisado sempre que necessário para que a empresa consiga um melhor resultado. Saiba por onde começar.

1.Para que o empreendedor possa introduzir o Canvas, é necessário que ele já tenha decidido que irá inovar.

2.Sensibilizar os colaboradores internos para a necessidade de mudança no conceito do empreendimento. É preciso total comprometimento do pessoal interno para que a metodologia possa ser implantada.

4.Deve-se escolher um local inspirador em que as pessoas se sintam à vontade para criar e expor suas percepções sem receio dos feedbacks ou de análises mais criteriosas.

3.Depois da sensibilização, é hora de colocar a mão na massa. Neste aspecto é imprescindível que o empreendedor reserve um bom tempo livre para os colaboradores pensarem em inovações a serem adotadas pela empresa.

5.Após a elaboração do Canvas, os resultados devem ser expostos na empresa para que todos possam visualizá-lo e alterá-lo, quando necessário.

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PANORAMA

[TRIBUTOS

Imagens/Fotos: Thinkstock

Avanços no cenário fiscal

Da Redação

A implementação de documentos fiscais eletrônicos no País, há quase uma década, contribui para um controle maior do Fisco, simplifica a gestão das empresas e oferece garantias ao consumidor Nos últimos dez anos, os avanços tecnológicos propiciaram que os processos da administração tributária se transformassem, abrindo uma nova perspectiva para um controle mais apurado e acompanhamento das operações comerciais pelo Fisco. Isso ocorreu a partir da mudança dos documentos fiscais em papel para o meio eletrônico, que também trouxe como benefício a simplificação das obrigações fiscais das empresas contribuintes. A Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e a Nota Fiscal de Consumidor Eletrônica (NFC-e) são destaque nesse aspecto. Hoje já são 11 bilhões de documentos emitidos no sistema da NF-e e mais de 1 milhão de empresas emissoras. Representantes de órgãos da administração tributária do País fizeram um balanço sobre a importância dos documentos fiscais eletrônicos e os impactos gerados no dia a dia de empresas e consumidores em conversa com a reportagem da Brasil em Código.

46 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

O projeto da NF-e começou em 2005 e foi colocado em prática no ano seguinte. Em 2008, tornou-se obrigatório para alguns segmentos, como cigarros e combustíveis. De acordo com o coordenador-geral do Encontro Nacional de Coordenadores e Administradores Tributários Estaduais (ENCAT), Eudaldo Almeida de Jesus, desde então, os ganhos com a implantação da NF-e foram significativos. Para começar, aproximou o Fisco do contribuinte, na medida em que os órgãos de administração tributária tiveram a colaboração de empresas que participaram do projeto-piloto para ajudar a construir o conteúdo normativo do sistema da NF-e. “Além disso, a migração do papel para o documento eletrônico propiciou uma grande redução de custos para as empresas, que não precisam mais arcar com despesas para guardar os documentos fiscais fisicamente por um período de cinco anos”, comenta Jesus. Os documentos ficam armazenados em

um banco de dados e podem ser resgatados quando a empresa necessitar. O coordenador técnico do ENCAT, Álvaro Bahia, afirma que os mecanismos tecnológicos da plataforma da NF-e reduzem, ou até eliminam, os erros de preenchimento, que eram mais comuns na nota fiscal de papel. “O sistema da NF-e possui uma série de regras de validação que avaliam o dado informado pelo contribuinte e identificam qualquer tipo de irregularidade, rejeitando ou autorizando conforme a qualidade da informação”, explica. Segundo ele, o preenchimento incorreto pode gerar um pagamento indevido do imposto pela empresa contribuinte. Nesse sentido, é preciso ter rigor ao lançar os dados no documento fiscal. A implantação da NF-e foi um ganho de aprendizado importante para o Brasil, tanto é que a experiência já é exportada para outros países. “O projeto surgiu no início da década de 2000,


quando uma equipe brasileira foi buscar conhecimentos a respeito da fatura eletrônica no Chile”, conta o chefe da Divisão de Tecnologia e Informações Fiscais da Receita Estadual do Rio Grande do Sul, Vinicius Pimentel de Freitas. O modelo chileno passou por um aperfeiçoamento e transformou-se na NF-e e nos demais documentos fiscais eletrônicos. “Recentemente, outros países desenvolveram seus modelos inspirados no nosso, como México, Equador, Peru e Guatemala”, diz Freitas. INOVAÇÃO A NFC-e é outro projeto importante, pois simplificou as obrigações tributárias dos estabelecimentos comerciais, possibilitando redução de custos para as empresas e melhorando o ambiente de negócios por meio de um controle melhor do Fisco. O líder nacional do projeto NFC-e e agente fiscal de rendas da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, Newton Oller, destaca que esse documento dispensou as lojas da obrigação de usar a impressora fiscal (o ECF, emissor de cupom fiscal) e de outros procedimentos antes obrigatórios. “A NFC-e proporciona um ambiente de inovação para o varejo, que deixa de ter a amarra física da impressora fiscal e pode investir na mobilidade”, reforça

Oller. O fato de poder usar uma impressora comum, em vez da fiscal, possibilita criar novas maneiras de atendimento ao cliente, como, por exemplo, vendedores utilizando tablets, sem a necessidade de ter caixas fixos e físicos. Nesse novo cenário, o estabelecimento também pode ampliar ou reduzir o número de caixas conforme a demanda. Em datas comemorativas, por exemplo, a loja pode ampliar temporariamente o número de checkouts apenas usando um computador e o software da NFC-e, sem precisar solicitar autorização para o Fisco. No momento em que o consumidor paga a compra no caixa, o sistema da NFC-e valida a informação em tempo real na base de dados do Fisco. O cliente recebe um documento chamado Danfe NFC-e, no qual há um QR Code que pode ser lido através de smartphone ou tablet para acessar a validade da nota. É possível escolher a maneira de receber o documento: papel ou mensagem eletrônica (SMS ou e-mail). A primeira NFC-e foi emitida em março de 2013, no Amazonas, e, desde então, o projeto andou bastante rápido. Em março deste ano, atingiu a marca de 251 milhões de documentos autorizados por 29 mil empresas. Atualmente, o sistema funciona em 17 Estados e os demais se preparam para implementá-lo nos próximos anos.

Para o Walmart Brasil, a NFC-e gera uma série de vantagens. A empresa está implementando o sistema nas unidades que operam com as bandeiras Bompreço e Maxxi, em Sergipe. Mas a ideia é expandir para as lojas em todo o País. “A desburocratização da expansão dos pontos de vendas em épocas de sazonalidade é uma das maiores vantagens da NFC-e, pois gera uma flexibilidade para aumentar ou diminuir o número de caixas conforme a necessidade”, afirma a consultora tributária do Walmart Brasil e representante nacional das empresas de varejo no Grupo de Trabalho da NFC-e, Juliana da Rosa Domingues. Com a implantação da NFC-e, a estrutura operacional das lojas em Sergipe não foi modificada, sendo necessárias apenas pequenas mudanças em termos de equipamentos e sistemas. 7 898357 410015

CÓDIGO DE BARRAS: A BASE DE TUDO O código de barras tem importância fundamental para os processos que envolvem a tecnologia da NF-e e da NFC-e. O produto que sai da indústria, passa pelo varejo e chega ao consumidor final com o mesmo código de barras, o que garante informação confiável em toda a cadeia e facilita a automação dos processos. O assessor de negócios da GS1 Brasil, Edson Matos, explica que padrão de código de barras mais conhecido e usado no mercado é administrado pela GS1 e é baseado no GTIN (Número Global de Item Comercial). Essa numeração é uma chave importante para preencher corretamente a NF-e e a NFC-e, pois dá acesso às principais informações cadastrais da mercadoria (descrição, preço, classificação fiscal e impostos, etc.). A partir do código de barras presente nos documentos fiscais eletrônicos, o Fisco garante uma melhor apuração do recolhimento dos impostos, pois consegue identificar, com exatidão, os produtos. [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 47


Imagens/Fotos: Thinkstock/Divulgação

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NEGÓCIOS

[TENDÊNCIA

Moda que veio para ficar? Por Claudia Manzzano

Empolgado com o sucesso de um segmento novo, empresário pode deixar as pesquisas de mercado de lado e ingressar num negócio que corre o risco de ser rapidamente esquecido pelo consumidor 48 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]


Quando se fala em moda, logo vem à mente tendências de vestuário ou comportamento. Mas ela pode estar presente em qualquer situação, até mesmo ditando o futuro dos negócios. E não é de hoje que existem os “negócios da moda”. Já teve a época do boliche e da patinação no gelo, por exemplo. Agora, é a vez do gourmet e da exclusividade. A escalada socioeconômica de grande parte da população fez com que a classe média passasse a buscar produtos com ingredientes sofisticados ou uma experiência que pudesse valorizar sua aquisição. Assim, frozen yogurt, brigadeiro ou pipoca gourmet, paleta mexicana e até esmalteria viraram febre. Grande parte desses produtos e serviços chega ao mercado por meio de franquias e atrai quem está se lançando em um novo empreendimento. O vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Altino Cristofoletti Junior, lembra que todos os negócios que estão na moda se disseminam rapidamente nos países com estrutura de varejo e franchising organizada. “Por um lado, as vantagens são maiores se o empresário entrar logo no início do empreendimento, pois começará a explorar um território promissor. Mas, por outro, também existe o risco de o tipo de produto ou serviço não vingar”, diz. Assim, setores tradicionais são mais seguros se comparados com os modismos, porém podem apresentar resultados tímidos. Ao investir em um negócio que virou mania, o empreendedor aposta em uma tendência. “Se o segmento estiver em crescimento, pode gerar ótimos resultados em poucos meses, dependendo de como o plano de negócios foi estruturado e outros fatores, como localização e preço”, afirma o apoiador a empreendedores da Endeavor, Caio

Jardim. Obter bons resultados é questão de saber aproveitar o momento certo. O professor do Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento da Fundação Instituto de Administração (PROCED/FIA), Antônio Paulo Lage Terassovich, não acredita no sucesso longínquo de alguns negócios. “Quem entra no início do movimento geralmente tem lucro, mas a saturação do mercado torna impossível a sobrevivência”, afirma. Segundo ele, mesmo que o produto seja muito bom, poucas lojas sobrevivem ao canibalismo da concorrência. E, no caso de produtos de média qualidade, somente a novidade estimula as pessoas a comprarem. ATENÇÃO DOBRADA O risco de investir em novos produtos ou serviços sempre existe, porque é mais difícil saber como será a sua aceitação. Mesmo que dê certo, são altas as chances de ter muitos concorrentes no futuro. Por isso, as franquias de empresas já consolidadas são mais caras, pois contam com a experiência dos franqueadores e têm um produto conhecido. Outro ponto a ser considerado, segundo Terassovich, é que o consumidor procura por comodidade e experiência no momento da compra. Assim, quando a novidade é atraente a ponto de gerar uma boa experiência, não importa o preço ou o tamanho da fila. Mas quando a moda passa, o consumidor pensa duas vezes antes de ter um desconforto. Nesse sentido, ele acredita que os food trucks, por exemplo, representam uma moda que vai durar enquanto as pessoas estiverem dispostas a comer na rua. Com o tempo, elas buscarão mais comodidade. Por isso, investir em um “negócio da moda” é uma grande aventura.

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NEGÓCIOS

MODISMO PLANEJADO Apesar dos riscos, pode ser bastante interessante investir em um ramo que está em evidência. No entanto, os cuidados precisam ser redobrados. Confira as dicas de Caio Jardim, da Endeavor. Timing Ter o timing certo significa fazer o investimento no momento em que a moda está no auge. Assim, é preciso estar totalmente preparado para atender ao volume de clientes. Já o timing errado é o investimento feito quando a moda já está passando. Nesse caso, pode ser que dure menos tempo que o break-even (ponto de equilíbrio) do negócio. Franquia Se for apostar nesse modelo, é importante verificar a confiabilidade do franqueador e a satisfação de outros franqueados. Uma boa moda não suporta má estrutura. O franqueador precisa estar preparado para dar total apoio nos momentos de sucesso e também nas crises. Longevidade Independentemente do ramo de atuação, é fundamental fazer um plano de negócios. Para garantir que o empreendimento perdure depois que o modismo passar, é preciso fazer uma gestão financeira apurada. No caso de franquias, o importante é considerar a capacidade de execução do franqueador. Fim Caso o modismo não perdure, grande parte daqueles que investiram no momento de crescimento terão de se desvencilhar do negócio para reduzir riscos e prejuízos. Esse processo é doloroso, pois envolve a demissão de funcionários e a burocracia de fechar uma empresa, por exemplo.

CUIDADOS Em qualquer tipo de empreendimento, seja ele tradicional, seja um modismo, é fundamental planejar antes de investir e apostar em setores em que o empresário tenha afinidade. “Apreciar um determinado tipo de comida não garante que o empreendedor vá gostar de gerir o negócio”, afirma Jardim, da Endeavor. Na fase de planejamento, é necessário analisar se a moda vai durar o suficiente para retornar o investimen-

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to a ser feito. Desse modo, o empresário pode se estruturar para continuar no mercado depois que a onda passar. Portanto, é preciso fazer um plano de negócio, pesquisar a concorrência, verificar o território de atuação, o valor total de investimento, o fluxo de caixa e, se for uma franquia, como será o suporte do franqueador. Caso o empreendimento envolva toda a família, será necessário fazer um orçamento familiar detalhado para avaliar a disponibilidade de recursos e

os novos hábitos de consumo que devem ser adotados. DOCE SONHO Há algum tempo, o tradicional brigadeiro, tão apreciado pelos brasileiros, ganhou um novo olhar, com os mais variados sabores e apresentações, entrando para o universo dos produtos gourmet. “O brasileiro adora participar da onda do momento, mesmo que o preço seja mais alto. Nesse sentido, é pre-


ciso muito cuidado, porque a moda pode passar”, afirma a proprietária da Madame Brigadeiro, Renata Meirelles. Apesar de a marca ter sido lançada há cinco anos, quando a paixão pelo doce estava mais acesa, Renata acredita que esse segmento deve se manter. Por enquanto, a empresa possui uma loja no bairro de Perdizes, na capital paulista, mas tem planos para ampliar o número de unidades e também se tornar uma franqueadora. “Trabalhamos com produtos de moda, mas também com os tradicionais, que as pessoas sempre procuram, como bolos, tortas, sorvetes, doces finos,

Foto: Paulo Pepe

Renata Meirelles, da Madame Brigadeiro Mix de doces da moda com tradicionais é a aposta para se manter no mercado

lembrancinhas, etc. Por isso, nossa expectativa é que a marca permaneça por muito tempo”, aposta. Para começar a Madame Brigadeiro, Renata investiu R$ 180 mil, montante que retornou em dois anos. “Acredito que vale a pena montar um negócio

que está na moda logo no início do modismo e com investimento acessível. Mas é preciso estar ciente de que a operação terá aquele escopo por um determinado período e que depois será necessário buscar alternativas para não fechar as portas”, conclui. 7 898357 410015


Não basta existir, tem de aparecer

SEO

Foto/Imagem: Paulo Pepe/Thinksotck

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JOGO RÁPIDO

[WEB

Por Mariana Izidoro

Na imensidão da internet, ficar bem posicionado nos resultados das buscas não é para poucos, mas para quem entende do assunto. Saiba como o SEO pode ajudar o seu negócio “Ter um site que ninguém consegue achar é como ter um belo outdoor dentro de um porão.” A frase é atribuída a John Audette, considerado o pai do SEO, que começou, em 1995, a criar as primeiras técnicas para que uma página fosse encontrada na internet. Hoje, SEO – sigla em inglês para Search Engine Optimization (em português, otimização de buscas) – é uma das principais ferramentas de marketing digital. O objetivo é fazer um site ficar bem posicionado nos resultados do Google, Yahoo, Bing ou outro buscador. A lógica que move o mercado de SEO é simples: não basta existir na internet, é preciso ser encontrado. E quem aparece bem é mais lembrado pelo consumidor. O serviço de SEO é acessível a empresas de qualquer porte. Em geral, as agências digitais trabalham com pacotes a custo mensal. Uma pizzaria de bairro, por exemplo, pode ser beneficiada pela geolocalização – uma das tendências do SEO para 2015, na avaliação de Denis Casita, presidente da Performa Web, agência especializada em marketing digital. Um buscador que usa a geolocalização 52 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

computa os dados do local onde o usuário está para mostrar nos resultados os sites de estabelecimentos próximos. As técnicas de SEO se baseiam em informações divulgadas pelos buscadores (ou discutidas em fóruns especializados) que dão ideia de como os algoritmos de busca funcionam. O algoritmo é um modelo matemático que define o critério usado por um mecanismo de busca. Por meio dessas regras, o buscador pune sites que tentam ganhar relevância de forma não natural e beneficia aqueles que valorizam o bom conteúdo para o usuário. As regras que regem o algoritmo são constantemente atualizadas para que o usuário receba sempre o melhor conteúdo possível. No ano passado, por exemplo, o Google passou a valorizar mais os sites com formato amigável a celulares e tablets. Páginas com muitas propagandas, no entanto, são depreciadas e jogadas para o fim da fila dos resultados. Confira a seguir mais informações sobre SEO na entrevista de Casita à Brasil em Código.


Qual é o objetivo do SEO? O SEO é umas das atividades que contempla o marketing digital. As técnicas, métodos e estudos visam melhorar o posicionamento de páginas nos resultados do mecanismo de busca. Quando um usuário digita uma palavra-chave no buscador, o objetivo do SEO é fazer com que uma ou várias páginas do website em questão apareçam entre os primeiros resultados da busca orgânica. É chamado de resultado orgânico todos aqueles sites que aparecem no Google e que não são pagos, diferente dos links patrocinados. Assim, a busca orgânica mostra que o algoritmo do Google reconheceu a relevância do site. O que as pequenas e médias empresas podem esperar de um trabalho feito a partir dessa ferramenta? Elas podem ter vários resultados interessantes. Sites que aparecem nas primeiras posições dos resultados do Google são mais visíveis e tendem a passar mais credibilidade. Por consequência, têm chances de serem mais clicados. Além disso, páginas bem posicionadas nas buscas orgânicas tendem a se tornar uma referência para o público que faz pesquisas por produtos e serviços. Se sua empresa é referência, permanece na cabeça do consumidor. O trabalho de SEO influencia diretamente no bom resultado da estratégia de negócio, pois um site mais fácil de navegar, em geral, tem uma melhor conversão em vendas. O SEO deve ser integrado com o marketing e a publicidade, para que a marca seja reconhecida pelo consumidor. Quais são as tendências de SEO para 2015? Podemos citar conteúdo em vídeo, foco em dispositivos móveis, como celulares e tablets, e geolocalização. Hoje, o Google não considera só o conteúdo mas também o contexto. Por exemplo: se uma pessoa faz uma busca pelo celular, a geolocalização vai usar o endereço em que ela está para mostrar os estabelecimentos mais próximos.

“O SEO deve ser integrado com o marketing e a publicidade, para que a marca seja reconhecida pelo consumidor” Denis Casita, presidente da Performa Web

Como o SEO evoluiu nos últimos anos? Uma década atrás, uma página teria grandes chances de aparecer bem no Google se fossem inseridas algumas palavras-chave no site e em alguns diretórios, que eram páginas que agrupavam milhares de links por temas. Com o passar do tempo, o Google foi refinando seu algoritmo e outros fatores ganharam importância, como, por exemplo, a experiência do cliente, a qualidade do conteúdo, a popularidade do site e da marca, além de estratégias integradas de SEO, redes sociais e links patrocinados. As ferramentas de busca também passaram a “entender” o conteúdo de imagens e vídeos. Tudo foi ficando mais complexo. Hoje, o Google faz alterações praticamente diárias de algoritmo para tentar se livrar de spam, que é quando um site sem qualidade tenta manipular as regras do algoritmo para aparecer bem nos resultados. Qualquer um pode ficar em primeiro lugar nos mecanismos de pesquisa? Sim, desde que faça um trabalho qualificado nesse sentido. Mas há alguns mitos sobre isso. Um deles é que um projeto de SEO tem começo, meio e fim. Na verdade, ele deve ser um trabalho recorrente. Outro mito é de que a quantidade de links é melhor que a qualidade. Antigamente, um critério que o Google usava para mensurar a popularidade era o número de páginas que continham links para o site. Mas muita gente passou a burlar esse sistema. O Google descobriu essa manipulação e, por isso, hoje não adianta ter uma grande quantidade de links que façam referência a seu site. O importante é que sejam páginas confiáveis e populares. 7 898357 410015


Fotos: Divulgação

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perdas & ganhos

[INOVAÇÃO

É de família! Por Patricia Lucena

Uma família cheia de novas ideias, uma viagem e uma grande paixão por cervejas. Esses foram os ingredientes que lançaram Bruno e Juliano Mendes para o mundo do empreendedorismo. Formados em administração de empresas, os irmãos contam que a vontade de ter o próprio negócio foi uma consequência natural do meio em que cresceram. “Nosso avô já foi um ‘empreendedor serial’ e meu pai seguiu os mesmos passos. Nascemos e convivemos em um ambiente em que eles sempre estavam pensando em novos negócios”, lembra Juliano. A herança eles já tinham, mas faltava a grande ideia. Foi em uma viagem a Boston, nos Estados Unidos, que o primeiro insight aconteceu, quando Bruno e Juliano descobriram que naquela cidade acontecia uma revolução no mer54 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

cado de cervejas artesanais, que estavam conquistando os consumidores. Assim, voltando para casa, a ideia virou realidade. “Adoramos cerveja e Blumenau, nossa cidade, é colonizada por alemães. Temos aqui a Oktoberfest, e o Brasil oferecia, naquela época, apenas cervejas industriais. Decidimos, então, abrir uma cervejaria”, relembra. Após algumas pesquisas, conversas e visitas a cervejarias da Alemanha, Bélgica e Estados Unidos, em 2002 nascia a Einsenbahn, que, em alemão, significa ferrovia. O nome foi inspirado no lugar onde a fábrica estava localizada: uma antiga linha de trem em Blumenau. Os empreendedores contrataram um consultor e também fizeram algumas viagens para desenvolver cervejas adaptadas ao paladar brasileiro.

Imagem: Thinkstock

Apaixonados por empreender, os irmãos Bruno e Juliano Mendes já criaram uma cervejaria, um pub, dois restaurantes e uma linha de queijos finos. Em meio a erros e acertos, a vontade de trazer algo novo ao mercado nunca acaba


Empreendedores seriais Os irmãos Bruno e Juliano Mendes, com o pai Jarbas (centro), sempre têm novas ideias que conseguem transformar em negócios

Logo no início, as dificuldades apareceram. “Um erro que cometemos foi na previsão de investimento. Como não conhecíamos o ramo, nos apoiamos no que ouvimos no mercado. No final das contas, o montante foi bem maior que o planejado. Mas conseguimos focar na educação do consumidor e mostrar às pessoas como é a cerveja tradicional e artesanal, aquela que se bebe na Europa”, conta Juliano. A partir daí, tudo deu certo. Aos poucos, o interesse dos consumidores aumentou e a cervejaria se fortaleceu. Tanto é que, seis anos depois, em 2008, foi vendida ao Grupo Schincariol. NOVOS RUMOS Logo após a venda, Bruno e Juliano foram trabalhar no Grupo Schincariol. Quase um ano depois, a vontade de empreender falou mais alto e, em 2009, fundaram o pub The Basement. “Encontramos um porão histórico no centro de Blumenau, com paredes de pedra. Resolvemos trazer o conceito dos gastropubs, que são pubs bem decorados, com comida e serviços de qualidade. Esses lugares estavam ganhando muito destaque na Inglaterra e aqui não tínhamos nada muito parecido”, conta Juliano. Pronto, eles tinham uma nova empreitada. Mas não se contentaram com apenas um negócio. Assim, lá estavam os irmãos inaugurando dois restaurantes: um italiano e um japonês. No entanto, a tentativa não deu certo. “No italiano trouxemos um conceito diferente do que o mercado brasileiro estava acostumado. O formato até existia em São Paulo, mas os consumidores de Blumenau ainda não estavam prontos para recebê-lo. Acabamos fechando”, lembra Juliano. Já o japonês foi vendido. A principal dificuldade foi contratar mão de obra qualificada para o preparo dos pratos. Investir em dois restaurantes ao mesmo tempo pode ter sido um erro. Mas Juliano acredita que a vontade de sempre criar algo novo pode ser um diferencial importante no mercado. E, com base nisso, no início de 2013, os irmãos lançaram o blog Diário do Queijo (www.diariodoqueijo.com.br), com o objetivo de antecipar a expectativa dos consumidores em relação a uma fábrica de queijos que pretendiam construir e estimular os leitores a trilhar o caminho do empreendedorismo. Eles só não previram que o blog fosse abrir as portas para o desenvolvimento do próximo negócio. Em agosto do mesmo ano, surgiu a oportunidade de comprar a Laticínios Pomerode, tradicional empresa catarinense. Os irmãos não tiveram dúvidas para começar mais um empreendimento. “A empresa já tinha registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF), o que permite a venda dos produtos em todos os Estados brasileiros, uma clientela de excelente nível, uma rede de distribuição de Porto Alegre a São Paulo e uma linha de produtos muito inte-

Novo conceito Instalado em um porão histórico em Blumenau, a dupla criou o The Basement, pub que serve boa comida e bom atendimento

ressante. Além disso, tinha uma área ociosa que possibilitava implantar a fábrica de queijos finos que pretendíamos”, conta Juliano. Era hora de reinventar. Bruno e Juliano redesenharam todas as embalagens, mudaram a identidade visual da empresa e migraram a área comercial, que era feita por representantes, para distribuidores. Hoje a marca está presente em quase todo o País. A linha de dez produtos foi ampliada para 17 e o objetivo é chegar ao final de 2015 com 50 itens Outra mudança importante foi a troca do nome da companhia, que passou a se chamar Pomerode Alimentos, o que abre possibilidades para atuar em qualquer ramo alimentício. “Investimos em uma empresa que estava adormecida, sem muitas novidades há algum tempo. Por esse motivo, sua imagem estava bem desgastada. Tivemos um árduo trabalho para convencer os compradores do varejo de que as coisas mudariam. A história da Eisenbahn e nossa credibilidade ajudaram muito a ganhar esse voto de confiança. E conseguimos mudar essa imagem, apresentando planos concretos de mudanças na estratégia comercial e de marketing.” Hoje, os irmãos administram o pub The Basement e a Pomerode Alimentos. Mas nunca se sabe o dia de amanhã, já que, sem dúvida, eles são “empreendedores seriais” natos. 7 898357 410015

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suas experiências com os leitores da Brasil em Código e conte no que errou – operação, tecnologia, gestão, recursos humanos, etc. – e qual foi a solução encontrada. Escreva para a redação: revista@gs1br.org [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 55


[

INSTITUCIONAL

[EVENTO

Análise setorial Por Kathlen Ramos

A GS1 Brasil promoverá, no dia 30 de junho, a 5ª edição do Brasil em Código – Conferência Internacional sobre Automação e Logística, evento que reúne líderes de diversas áreas para um grande debate sobre os principais setores e rumos da economia. Neste ano, o encontro será realizado no Hotel Unique, em São Paulo (SP), e a novidade fica por conta dos vários painéis segmentados por temas, que prometem trazer uma nova dinâmica ao evento. “Cada painel terá um moderador que fará uma série de perguntas para os participantes debaterem”, conta a assessora de eventos da GS1 Brasil, Poliana Nogueira. Com esse novo formato, a entidade busca trazer exemplos reais de como a tecnologia e a automação estão criando novas oportunidades e transformações nos setores de varejo, indústria, logística e saúde, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. “Os temas dos painéis refletem questões-chave para as empresas, como redução de custos, melhorias na gestão de estoques, aumento das vendas e a busca pela perfeita experiência de compra do consumidor”, comenta o presidente da GS1 Brasil, João Carlos de Oliveira. Realizado anualmente, o Brasil em Código já se tornou uma referência nacional em apresentar tendências em tecnologia da informação, destacando a importância de adotar processos padronizados para a eficiência de empresas de todos os portes. O evento é uma importante ocasião para conhecimento e networking, já que estarão presentes representantes de entidades do varejo, indústria, parceiros e membros da GS1 Brasil. Neste ano, as expectativas são bastante positivas. “Esperamos receber mais de 300 pessoas, com maior presença de especialistas nas áreas em que atuamos com mais foco e também tomadores de decisões”, projeta Poliana.

Fotos: Arquivo

Neste ano, o evento Brasil em Código terá nova dinâmica com painéis sobre vários temas, a fim de traçar um panorama da conjuntura atual no País

PROGRAMAÇÃO Com uma variedade maior de temas, a expectativa da entidade é que o público se identifique com os assuntos abordados, aprenda e compartilhe suas experiências para entender melhor a oferta e as oportunidades de automação propostas pela GS1 Brasil. O painel sobre varejo, por exemplo, abordará temas que envolvem experiência de compras do consumidor, métricas para o omnichannel e importância da implementação tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) para driblar a concorrência. Já no painel que envolve os segmentos de agricultura, indústria e logística, estão previstas discussões sobre as mudanças de processos para produtores e fabricantes e os avanços na rastreabilidade, permitindo assim visualizar a realidade brasileira frente a outros países no mundo. No debate do setor de saúde, a ideia é tratar de assuntos como a automação e os impactos da implementação da RFID na indústria farmacêutica, além do combate à falsificação de medicamentos. Durante o evento, haverá também um momento dedicado para um debate entre as associações parceiras da GS1 Brasil. Para finalizar, será realizado uma espécie de talk show, conduzido pelo economista-chefe do Bradesco Asset Management, Fernando Honorato Barbosa. “O moderador fará perguntas já escolhidas pelo economista, que responderá sobre as perspectivas econômicas para o Brasil nos próximos três anos”, explica Poliana. Para saber mais informações, acesse www.gs1br.org/brasilemcodigo. 7 898357 410015

56 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]



Música da m ontanha

Por Juliana Jadon

Além do clima frio, da paisagem exuberante e de uma culinária de dar água na boca, Campos do Jordão sedia o maior evento de música clássica da América Latina Em pleno inverno, a natureza, o chocolate quente, o fondue, o aconchego de uma lareira e a arquitetura ao estilo europeu já seriam suficientes para atrair milhares de viajantes à cidade mais alta do Brasil, Campos do Jordão. Um dos destinos paulistas mais procurados durante o inverno, a cidade conta com áreas verdes, diversas opções de passeios e uma refinada estrutura hoteleira e gastronômica que a transformaram no sexto destino mais procurado na América Latina. Somente no ano passado, 1,8 milhão de turistas passaram pela cidade na época de frio. Em 2015, a expectativa é de que o número se repita. “Campos do Jordão é um consolidado destino turístico, sobretudo no inverno. Por isso, a economia da cidade gira em torno do turismo. 58 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Nos últimos dois anos, houve grande procura pela cidade”, afirma o prefeito Frederico Guidoni. Para receber mais de 2 milhões de visitantes durante o ano, a cidade possui uma infraestrutura que satisfaz aos mais exigentes. São 212 pousadas e hotéis, bares e restaurantes, além de uma intensa programação cultural que convida turistas de todas as idades para a montanha. Em julho, a principal atração do local se resume ao maior e mais importante evento de música clássica da América Latina: o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, organizado pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Em sua 46ª edição, contará com mais de 60 concertos, totalizando mais de 2 mil músicos de diversos países em seis diferentes palcos espalhados por toda cidade.

Algumas apresentações também ocorrem em igrejas, no Centro Cultural Dr. Além ou, ainda, no majestoso Auditório Claudio Santoro. A construção de vidro coloca o público em meio aos pinheiros e bromélias da mata nativa. O festival acontecerá entre os dias 4 de julho e 2 de agosto, e a maioria das apresentações é gratuita. A cidade também possui um valioso acervo de obras de escultores e pintores brasileiros e estrangeiros distribuídas ao ar livre e em museus. Há ainda boas opções de compras, em shoppings, boutiques e malharias. Natureza Existem diversos destinos em Campos do Jordão para quem tem a intenção de desfrutar a viagem junto à natureza. A Hípica Tarandu, por exemplo, oferece 25 atrações que vão

Foto: Divulgação

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radar

[TURISMO


Foto: Sérgio Biagioni

alamedas e jardins, que somam cerca de 35 mil m². As esculturas ao ar livre do Museu Felicia Leirner atraem um público amplo. O local foi considerado o mais importante do mundo pela Revista Sculpture, do International Sculpture Center de Washington, em 1987. Um dos passeios mais procurados é o de trem. A centenária Estrada de Ferro de Campos do Jordão oferece duas opções de passeio. Um no bondinho que corta a cidafeito por carro ou pelo teleférico, de de ponta a ponta e o outro é uma viagem pela Serra da que foi o primeiro do Brasil. Outra atração é o Parque Mantiqueira até a vizinha SanAmantikir e seus 26 jardins to Antonio do Pinhal. O Palácio Boa Vista é a de diversas partes do mundo e paisagens da Serra da Man- residência oficial de veraneio do tiqueira, em meio a bosques, governador do Estado. Funciona como museu, onde os visitantes podem observar obras de tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Anita Malfatti, entre outros. Na mesma área, o visitante também poderá visitar a Capela de São Pedro Apóstolo, construída em Um dos lugares em que a paisagem chama atenção em Campos do Jordão é o Morro do Elefante, de onde é possível apreciar uma bela vista da cidade. O acesso ao local pode ser

do arvorismo – esporte radical que consiste na travessia entre plataformas montadas no alto das árvores – ao passeio com cavalos. Outro local interessante é o Centro Hípico Golf, que oferece hipismo clássico ou de lazer com atendimento personalizado. Já no Horto Florestal,

a paisagem exuberante da Serra da Mantiqueira também cede espaço à aventura, com arvorismo, tirolesa e trilhas para passeio de bicicleta ou caminhada com diferentes níveis de dificuldade. São cinco trilhas abertas à visitação. O centro também conta com restaurante, lanchonete e criação de salmão. 7 898357 410015

1989, com grande acervo de arte sacra da época colonial. Movimentado dia e noite, o bairro de Vila Capivari é um dos principais pontos de encontro de moradores e turistas. Com arquitetura inspirada nos alpes suíços, por lá, é possível desfrutar de lojas, bares ao ar livre e cafés, sempre concorridos na alta temporada. Os amantes de chocolate não podem deixar de visitar a tradicional Fábrica Araucária, criada em 1991. Durante o passeio, é possível conhecer a produção dos doces e a história da empresa. As visitas são realizadas em grupos de até 15 pessoas e não necessitam de agendamento.

A SEÇÃO RADAR

é voltada a temas relacionados a turismo e cultura. Participe! Mande sua sugestão para revista@gs1br.org [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2014 59

Foto: Juliana Cintra

Foto: Juliana Cintra

PRINCIPAIS ATRAÇÕES


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DESCONEXÃO

[QUALIDADE DE VIDA

Das ondas do mar às curvas da estrada Por Adriana Bruno

Fotos/Imagens: Thinkstock

Apaixonada por esportes, a empresária Danyelle Van Straten mudou de cidade e trocou a prancha de surfe pela potência de uma moto. Mas o que ela não troca por nada é a sensação de confiança e liberdade que essas atividades lhe trazem

Ela nasceu na bela cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Teve o mar como companheiro durante boa parte de sua vida e, assim, apaixonou-se pelo surfe e pelo mergulho – esportes que praticou até se mudar, há 14 anos, para a mineira Belo Horizonte. A empresária Danyelle Van Straten é sócia-diretora da DepylAction, a primeira rede de franquias especializada em depilação no Brasil, e, apesar de tantos compromissos profissionais e pessoais, encontra tempo e disposição para curtir uma nova paixão: a sua moto Harley-Davidson. “Sempre gostei muito de esportes ligados ao mar, mas, morando em Minas Gerais, distante das águas, encontrei no motociclismo a mesma sensação de liberdade do surfe e a paz interior que sentia no mergulho”, afirma. Para ela, o novo esporte a fez descobrir outra capacidade: a coragem. “Percorrer novos caminhos sem saber o que você vai encontrar é um exercício de desapego”, conta a empresária, que pratica o motociclismo há um ano. A trajetória profissional de Danyelle, administradora e especialista em gestão de rede de franchising, começou no

ano de 1983, em Balneário Camboriú, quando ela e sua mãe Glacy Van Straten fabricavam ceras depilatórias naturais e revendiam para pequenos salões de beleza e farmácias da cidade. Com o passar do tempo e a participação em feiras de negócios, o produto tornou-se mais conhecido e o número de pedidos cresceu tanto que, em 1997, elas abriram a primeira casa especializada em depilação. Hoje, a DepylAction conta com 88 lojas no Brasil e duas unidades na Venezuela. Além de tocar a empresa, ela é diretora da Associação Brasileira de Franchising (ABF), em Minas Gerais. E mais: seu perfil empreendedor a levou a ser palestrante sobre temas como empreendedorismo feminino, franchising, varejo, entre outros. Dessa forma, compartilha seus conhecimentos com público de vários locais do País. ENERGIAS RENOVADAS Segundo Danyelle, o esporte lhe dá uma boa dose de adrenalina e liberdade. “Com tantos compromissos como empresária, mãe, mulher, filha e amiga, sentia a necessidade de ter um momento só meu para reflexão e reencontro. Para


Foto: George Varela

Danyelle Van Straten, da DepylAction “Gosto de pegar estradas para sentir a mudança da temperatura e o cheiro da natureza.”

mim o esporte é vital. É uma forma de renovar as energias. Gosto de pegar estradas com curvas onde posso sentir a mudança da temperatura e o cheiro da natureza”, completa. Mãe de dois filhos, ela conta que os estimula a praticar atividades físicas. “Tenho dois meninos pequenos e quero que eles tenham contato com todos os esportes para, depois, escolherem algo que realmente gostem.” O motociclismo ajuda Danyelle a superar os medos e a ter mais concentração. “É um momento em que você não pode errar, pois pode ser fatal. Por isso, foco, visão e atenção são trabalhados e, com isso, aumento a percepção no meu dia a dia”, afirma. A empresária conta que escolheu a Harley-Davidson porque, além de toda a atmosfera mítica que envolve a marca, há alguns aspectos positivos para sua atuação profissional. “A Harley me provocou pelo estilo, pela marca icônica e pela história de mais de cem anos. Do ponto de vista empresarial, acho importante entender o mito e viver a experiência com uma marca tão afetiva. Isso gera um conhecimento no ambiente corporativo”, afirma.

Além disso, pilotar uma moto de 300 quilos requer bem mais do que habilidade e desperta emoções especiais. “Sinto uma sensação de poder e domínio que me dá segurança. Gosto de entrar em um universo que até pouco tempo atrás era exclusivamente masculino, pois rompe com o machismo e me torna mais competitiva”, revela a empresária, que elegeu a Serra do Rola Moça como seu percurso preferido em Minas Gerais. Para quem ainda não encontrou um hobby ou esporte para se dedicar, Danyelle dá uma dica: “Um olhar curioso para a vida e para a cidade onde vive pode despertar uma nova paixão.” 7 898357 410015


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COMPORTAMENTO

[EQUILÍBRIO

Agente de mudanças Recente no Brasil, a prática do mindfulness promove transformações pessoais e profissionais intensas, aumentando a concentração e a forma de controlar as emoções

Nesses tempos de vida agitada, cheia de compromissos e uma rotina multitarefa, não é raro ver casos de forte estresse, que podem levar a problemas mais sérios, falta de concentração e de habilidade para resolver as mais diversas situações e, no limite, desenvolver doenças. Para tentar minimizar isso, muitas pessoas têm buscado uma prática ainda recente no Brasil, o mindfulness, palavra da língua inglesa que pode ser traduzida como “estar com a mente focada”, “atenção plena” ou, ainda, “consciência do momento presente”. Segundo a coach executiva e educadora corporativa, Regina Giannetti, a técnica é utilizada pela neurociência, pela psicologia e até pela medicina para designar um treino mental que aumenta o poder de foco e con-

centração, combate o estresse e a ansiedade, amplia a capacidade de percepção e favorece a autorregulação emocional, entre outros efeitos benéficos. “O mindfulness é como um antídoto para a agitação mental do cenário contemporâneo. A vida parece cada vez mais acelerada e temos de lidar com muitas informações, demandas e mudanças”, observa a coach. Para dar conta de tudo isso, as pessoas fazem várias coisas ao mesmo tempo – enquanto estão em um supermercado, pensam na pauta da reunião de trabalho ou então trocam mensagens eletrônicas com várias pessoas e sobre assuntos diferentes. E, a qualquer momento, param tudo o que estão fazendo para checar e-mails e redes sociais.

Imagens: Thinkstock

Por Adriana Bruno


VANTAGENS NO TRABALHO Os benefícios associados à prática do mindfulness se estendem para a vida profissional. Isso porque ele torna os indivíduos capazes de, por exemplo, gerenciar melhor o tempo e realizar tarefas com mais atenção e qualidade. “Há maior abertura para criatividade e insights porque a mente está mais estável e calma. Nos comunicamos melhor e cometemos menos erros”, explica a coach Regina Giannetti. Ela comenta que o livro Mindful Work, escrito pelo jornalista norte-americano David Gelles, traz uma ampla reportagem sobre os benefícios da prática para o desempenho e o ambiente do trabalho. “Não por acaso, sobretudo nos Estados Unidos, cresce o número de empresas que oferecem programas de mindfulness para os funcionários, como Google, Unilever, Intel, General Mills, Chase Manhattan Bank, Ford e Goldmann Sachs”, exemplifica. Adepta do mindfulness há um ano, Alessandra Furtado é gerente-geral do Galleria Shopping, localizado em Campinas (SP). Ela procurou a técnica para diminuir o estresse e ampliar a capacidade

Equilíbrio A executiva Alessandra Furtado pratica diariamente o mindfulness

de concentração. “Hoje pratico diariamente 15 minutos de meditação pela manhã e, eventualmente, se tiver alguma situação que me deixe muito agitada”, conta. Segundo ela, o mindfulness ajuda a garantir que ela faça suas atividades de uma única vez e de forma certa. Desde que começou a praticar, a executiva sente que tem mais clareza para enxergar outros pontos de vista em momentos críticos, o que a auxilia na tomada de decisões. “Acredito que o desenvolvimento pode vir de muitas maneiras e temos de quebrar paradigmas. O mindfulness é uma técnica de desenvolvimento comprovada e tem feito diferença na minha vida”, afirma. A experiência está sendo tão positiva que a equipe de Alessandra está participando de um treinamento de oito semanas para começar a praticar o mindfulness. [ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 63

Foto: Divulgação

De acordo com Regina, que também ministra o programa Training Your Mind para o gerenciamento da atenção e das emoções com base em mindfulness, o hábito de dividir a atenção dificulta quando é preciso focar em uma única tarefa do começo ao fim. “Ficamos impacientes e entediados. Com muita frequência funcionamos no piloto automático, em que a mente pensa uma coisa enquanto o corpo faz outra. Ironicamente, fazemos malabarismos com a atenção achando que assim daremos conta do recado, mas o que acontece é justamente o contrário”, alerta. Estudos mostram que a multitarefa e as distrações do mundo digital diminuem a produtividade, nos tornam mais propensos ao erro, restringem a capacidade de percepção, prejudicam a tomada de decisão e consomem brutalmente energia. Essa rotina pesada vicia o cérebro, que se acostuma a mudar constantemente o foco de atenção. A prática de mindfulness vem justamente para transformar esse cenário. É um tipo de meditação que promove mudanças na estrutura cerebral, permitindo ter mais domínio sobre a atenção. “Conseguimos nos concentrar melhor e passamos a fazer as coisas intencionalmente, o que reduz as manifestações do piloto automático. Nos tornamos capazes de inibir impulsos e reações emocionais indesejadas e a ter atitudes mais conscientes”, afirma Regina. Como resultado, a agitação mental, a ansiedade e o estresse diminuem. De acordo com a coach, as transformações que o mindfulness promove se explicam pela neuroplasticidade, a propriedade do cérebro de modificar ou adaptar sua estrutura e funções em resposta aos estímulos recebidos. “Tudo o que o cérebro faz repetidamente se fortalece, enquanto aquilo que ele faz pouco, enfraquece”, diz. Como lembra o psicólogo e escritor americano Daniel Goleman, autor do livro Foco, a Atenção é Como um Músculo. Quanto mais você a usa, mais ela se desenvolve.


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COMPORTAMENTO

Regina Giannetti Mindfulness é um tipo de meditação que promove mudanças na estrutura cerebral Assim, uma prática que, a princípio, melhora o desempenho da atenção acaba favorecendo também a saúde, o equilíbrio psíquico e a inteligência emocional. TREINO MENTAL A prática de mindfulness consiste em manter a atenção nas sensações corporais da respiração, de partes do corpo ou de movimentos. A maneira mais comum para sua execução é sentar-se confortavelmente, mas numa postura ereta, com os olhos fechados, num ambiente tranquilo, onde não seja incomodado. O ideal é treinar diariamente em torno de 20 minutos. A dica é começar praticando por três minutos e aumentar o tempo gradativamente a cada semana. É importante focalizar a atenção na experiência do momento, como, por exemplo, o ato de respirar e as sensações decorrentes da respiração. “Ao colocar a atenção naquilo que está presente, ativamos o modo de funcionamento cerebral que a neurociência chama de ‘experiência direta’, que é a percepção do aquiagora”, explica Regina. Isso neutraliza o outro modo de funcionamento do cérebro que é a “divagação”, quando pensamos em coisas diferentes daquilo que estamos fazendo. “Divagar é uma

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faculdade essencial para o ser humano, mas se não tivermos domínio sobre ela, entra-se, facilmente, no piloto automático”, alerta. O instrutor que ministra o curso de mindfulness dá as orientações a respeito da respiração, dos pensamentos e dos objetos de atenção. Com o tempo, o praticante já consegue realizar o treino sozinho. Pesquisas mostram que o mindfulness promove mudanças fisiológicas, como o aumento da variabilidade da frequência cardíaca, indicando um melhor desempenho do sistema nervoso e mudanças cerebrais funcionais e morfológicas, refletindo numa maior eficiência do cérebro. A afirmação é da psicóloga do grupo Iniciativa Mindfulness e doutoranda em psicobiologia, Víviam Vargas de Barros. Segundo ela, a literatura científica aponta para a adoção dessa prática como auxiliar no tratamento de doenças, como, por exemplo, na melhora de qualidade de vida de pacientes com câncer, na redução de ansiedade em pessoas com doenças cardíacas e em distúrbios do humor, mais especificamente para depressão, especialmente para prevenir recaídas. Para atingir esses ganhos, no entanto, é preciso disciplina e treino regular. “Os praticantes aprendem a

observar seus pensamentos, emoções e comportamentos, como um espectador externo, sem se deixar levar por eles”, diz Víviam. Ela faz a seguinte comparação: é como se a mente fosse um rio e o praticante estivesse sentado do lado de fora da água, apenas observando a correnteza levar as pequenas folhas que caem das árvores (que seriam os pensamentos e as emoções), sem se jogar na água ou ser levado pela correnteza. Dessa maneira, é possível aprender a regular melhor a atenção e, consequentemente, as emoções, uma vez que a pessoa torna-se consciente de tudo que está acontecendo em seu corpo e mente. “Todos esses benefícios podem ser levados para o âmbito profissional, pois os praticantes conseguem se organizar melhor, fazendo uma atividade por vez, sofrer menos com as demandas, ter mais consciência dos seus limites e equilibrando melhor a vida pessoal e a profissional”, avalia Víviam. ORIGENS Muito difundida nos Estados Unidos, onde a prática é disseminada em escolas públicas, consultórios, empresas e lares, as raízes do mindfulness encontram-se nas tradições orientais, especialmente do budismo. Segundo Víviam, a partir dessa


matriz, foram criados protocolos estruturados que se utilizam da meditação e de alguns ensinamentos sem cunho religioso, aumentando o escopo de pessoas que podem praticar o mindfulness. Há dois americanos que são considerados criadores da técnica. Um deles é o médico Jon Kabat-Zinn, da Universidade de Massachusetts, que pesquisou a fundo os efeitos da meditação de atenção plena na saúde e criou um programa de redução de estresse Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR). Desde 1979, o MBSR é oferecido numa clínica liga-

da à universidade e de lá se espalhou para o resto dos Estados Unidos e outros países. No Brasil, o programa é ministrado por núcleos ligados às Universidades Federais de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A outra criadora do mindfulness é Ellen Langer, professora de psicologia da Universidade de Harvard, que desde a década de 1970 estuda os efeitos cognitivos da meditação e aplica o mindfulness no contexto do trabalho e do mundo corporativo. Regina Gianetti conta que, na esteira de Kabat-Zinn e Langer,

Fotos: Divulgação

Víviam Barros, da Iniciativa Mindfulness Praticantes aprendem a observar seus pensamentos, emoções e comportamentos

vieram muitos outros, que desenvolveram aplicações do mindfulness em campos tão diversos, como educação, liderança, inteligência emocional e combate à depressão. 7 898357 410015

COMECE A PRATICAR A prática de mindfulness consiste em manter a atenção nas sensações corporais da respiração, de partes do corpo ou de movimentos. Confira as orientações da coach Regina Gianetti.

1 - Sente-se, confortavelmente, numa cadeira ou poltrona, com as pernas descruzadas, pés paralelos, mãos pousadas sobre as pernas ou unidas no colo. Mantenha a coluna ereta e a cabeça erguida, com o queixo apontado para frente.

3 - Supondo que o objeto da atenção seja a respiração, a prática começa percebendo como está o corpo naquela cadeira e também prestando atenção no ato de respirar.

4 - Nessa ação, o corpo está no modo experiência direta, sem divagação. Mas, em instantes, a mente irá divagar. Quando perceber que isso aconteceu, retorne a atenção para a respiração. É um treino mental.

2 - Feche os olhos para evitar distrações.

[ BRASIL EM CÓDIGO ] abr/mai/jun 2015 65


[tecnologia & negócios

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RFID para sustentabilidade

O caso de sucesso da fábrica de impressoras da HP, em São Paulo, é mundialmente reconhecido pelo uso inovador da tecnologia em sua cadeia de suprimentos

De julho de 2011 a janeiro de 2015, houve um incremento de 312,76% na coleta e segregação de impressoras pela HP Brasil, no âmbito do seu projeto SmartWaste, que controla a reciclagem das máquinas fabricadas no País após o seu descarte. Os insumos, que podem ser reinseridos como matéria-prima em novos produtos HP fabricados no Brasil, já renderam 178,5 toneladas no mesmo período. A iniciativa de sustentabilidade da HP usa a tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) para rastreabilidade e garantia de qualidade. O projeto SmartWaste tem reconhecimento internacional e foi o caso de sucesso vencedor do prêmio RFID Journal Awards 2012, na categoria Solução Verde, destinada à melhor utilização da tecnologia para aprimorar as condições do meio ambiente. A premiação é concedida pelo RFID Journal, mídia com foco total na tecnologia de identificação por radiofrequência e suas aplicações em negócios do mundo. O sistema desenvolvido em conjunto com o RFID Center of Excellence (RFID CoE), em Sorocaba (SP), que foi a fonte dos dados acima, permite gerenciar todo o processo de reciclagem das impressoras por meio de uma interface na internet, que informa a quantidade de máquinas recicladas e a quantidade de material resultante que pode ser reaproveitado. A HP optou pela adoção de tecnologia genuinamente brasileira de microeletrônica para realizar as operações de rastreamento de equipamentos. A Ceitec, empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que desenvolve e produz circuitos integrados para identificação por radiofrequência, fornece os chips RFID usados para identificar os produtos de imagem e impressão fabricados pela indústria no Brasil. Os chips da Ceitec percorrem todo o processo produtivo da HP, desde a manufatura, passando pela distribuição, até chegar ao retorno dos itens para reciclagem. O uso dessa solução pelo projeto SmartWaste permite o rastreamento do retorno de equipamentos eletrônicos em fim de vida, assegura o seu descarte adequado e, principalmente, quantifica o material recolhido. Assim, o fabricante pode localizar cada componente reciclável, como vidro, metal e plástico, e reinserir esses materiais em sua cadeia produtiva, para permitir a fabricação de novas impressoras e, também, direcioná-los a outros segmentos industriais para reciclagem. Quem diria que o Brasil seria o precursor do uso de alta tecnologia para controle da chamada cadeia de suprimentos reversa? Parabéns às equipes da HP, da Ceitec e de outras empresas que participam do projeto SmartWaste, por promoverem esse avanço para todo o País.

Quem diria que o Brasil seria o precursor do uso de alta tecnologia para controle da cadeia de suprimentos reversa?

66 abr/mai/jun 2015 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

Foto: Paulo Pepe

Edson Perin

Editor do RFID Journal Brasil e escritor do livro TI para Negócios

As opiniões deste artigo não expressam o pensamento da GS1 Brasil ou da editora.

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