Brasil em Código - 5ª Edição

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EDIÇÃO 05

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BRASIL EM

CÓDIGO

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jul/ago/set 2012

GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação

Uma publicação da GS1 Brasil – Associação Brasileira de Automação

BRASIL EM CÓDIGO

www.gs1br.org

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AUTOMAÇÃO

EM BUSCA DE EFICIÊNCIA

CONFERÊNCIA DA GS1 BRASIL APONTA TENDÊNCIAS EM TECNOLOGIA E LOGÍSTICA BRCOD05 capa_empilhadeira.indd 1

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AO LEITOR

Soluções por atacado O nosso trabalho na GS1 Brasil é orientado para o desenvolvimento da automação nas empresas. A cada edição da revista temos mostrado as iniciativas de sucesso em diferentes setores com as mais variadas aplicações da tecnologia. Em mais um projeto para impulsionar a eficiência e a otimização dos serviços na cadeia de suprimentos, desenvolvemos um estudo inédito em conjunto com a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD) para verificar o nível de automação das empresas desse setor, apresentar os benefícios da tecnologia, bem como ajudá-las no desenho e implementação de novas soluções. Ouvimos uma parte representativa dos atacadistas e distribuidores que atuam no País e analisamos todo o processo de suas operações – o relacionamento com fornecedor, a gestão, a logística e as vendas. O segmento atacadista distribuidor evoluiu substancialmente nos últimos anos e muitas empresas já perceberam que sem equipamentos, sistemas e padrões, é impossível atingir a excelência na prestação de serviços ao varejo. Além disso, sabemos que esse setor convive diariamente com as complexas normas tributárias vigentes no País, a falta de mão de obra qualificada e os gargalos na infraestrutura das estradas e de comunicação. Uma missão e tanto. Nesse sentido, é muito importante constatar que 83% das empresas consultadas têm operação logística automatizada e 100% utilizam o código de barras. Na área de vendas, todas utilizam recursos tecnológicos e agora estão em processo de migração para o que há de mais moderno, os tablets. Acreditamos que os dados apresentados ajudarão toda a cadeia a compreender os problemas e a pensar em soluções, mas sobretudo os pequenos e médios atacadistas que ainda enfrentam barreiras culturais e capital escasso para investir fortemente na automação. A tecnologia é um dos pilares para gerar competitividade e redução de custos. A GS1 Brasil está à disposição das empresas para ajudá-las a melhorar a eficiência operacional e o gerenciamento de seus negócios, disseminando as melhores práticas do mercado. Nosso esforço também se revelou no Brasil em Código – 2 ª Conferência Internacional da GS1 Brasil sobre Automação e Logística. O evento foi um sucesso e teve a participação de um público de mais de 300 pessoas que acompanharam, presencialmente e via internet, as novas tendências do setor, apresentadas nesta edição. Um forte abraço, João Carlos de Oliveira

presidente

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EXPEDIENTE

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A revista Brasil em Código é uma publicação trimestral da GS1 Brasil dirigida e distribuída gratuitamente aos seus associados, aos parceiros e à comunidade de negócios. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da entidade ou da editora. João Carlos de Oliveira

Presidente

Antonio Carlos Leão

Vice-Presidente

José Humberto Pires de Araújo

Vice-Presidente

Luiz Carlos Dutra Vice-Presidente

Paulo Pennacchi

Vice-Presidente

Pedro Zidoi

Vice-Presidente

Wanderlei Saraiva Costa Vice-Presidente

Celso Couto

CEO

MARKETING E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS Virginia Villaescusa Vaamonde Gerente

COORDENAÇÃO DA REVISTA Andréa Palmer Rezende

COLABORAÇÃO Luciana Donegatti de Lima Patricia Munhoz Botelho do Amaral

REDAÇÃO, PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO

Padrão Editorial Rua Novo Horizonte, 311 CEP 01244–020 São Paulo – SP Telefone (11) 3125–2244 www.gpadrao.com.br PUBLISHER Roberto Meir

REDAÇÃO

EDITORA Denise Turco

MTB 43.537 REPÓRTERES Flávia Corbó Juliana Jadon Paulo Gratão Raquel Sena AUXILIAR DE REDAÇÃO Juliana Fernandes

COLABORADORES Camila Mendonça, Giseli Cabrini e Kleber Pinto (texto) ARTE

DESIGNER Érika Bernal

Revisora Dora Wild Fotógrafo Douglas Luccena PUBLICIDADE Diretora Comercial Fabiana Zuanon fzuanon@gpadrao.com.br Gerente comercial Zuleica Mazzetti zuleica@gpadrao.com.br PROJETO E DESIGN GRÁFICO Artma Design Gráfico IMPRESSÃO Plural Gráfica e Editora Ltda. TIRAGEM 55 mil exemplares

FALE COM A REDAÇÃO revista@gs1br.org

Os desafios da automação no setor atacadista Pág. 20

GS1 BRASIL

Rua Doutor Renato Paes de Barros, 1.017 – 14º andar Itaim Bibi – 04530–001 – São Paulo Telefone (11) 3068–6229 www.gs1br.org

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SUMÁRIO

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CAPA

Com a concorrência acirrada e as margens baixas, atacadistas e distribuidores se preocupam em melhorar a produtividade e manter os custos enxutos. A tecnologia é a grande aliada nesse aspecto. Pesquisa exclusiva mostra os desafios da automação desde o relacionamento com fornecedor, passando pela logística, gestão até as vendas

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ENTREVISTA

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MARKETING

Mark Harrison, diretor do Auto-ID Lab da Universidade de Cambridge, fala sobre a tecnologia EPC e as suas possibilidades de aplicação

Conheça as vantagens e desvantagens de investir no social commerce, o comércio pelas redes sociais

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SUSTENTABILIDADE Pequenas empresas, que

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GESTÃO Confira as variáveis que devem ser consideradas

foram destaque na Rio+20, mostram que é possível manter a competitividade sem prejudicar o meio ambiente

ao calcular o retorno do investimento da tecnologia de identificação por radiofrequência

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EVENTO A 2ª Conferência Internacional da GS1 sobre Automação e Logística apresentou soluções e tendências para promover a eficiência das operações

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CURTAS DESCONEXÃO COLABORAÇÃO COMERCIAL PERFIL RECURSOS HUMANOS OPINIÃO

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COMUNICAÇÃO

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PERDAS & GANHOS

Aulas de teatro ajudam executivos a melhorar a comunicação e a performance nos negócios

O dono da rede de lanchonetes Black Dog conta como aprendeu a lidar com os desafios da expansão da empresa

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CURTAS

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Brasil em destaque na General Assembly Expandindo os negócios

As cidades de Jundiaí, Ribeirão Preto e região, no interior paulista, receberam ações de orientação sobre a padronização GS1, em parceria com o SEBRAE, ao longo do primeiro semestre. As palestras ministradas na Festa do Caqui, em Itatiba, por exemplo, divulgaram informações sobre o uso do código de barras em frutas, legumes e verduras. Em Ribeirão Preto, a entidade iniciará a partir de agosto um programa em conjunto com os multiplicadores do SEBRAE sobre os processos de filiação e código de barras.

O CEO da GS1 Brasil, Celso Couto, foi o responsável por apresentar os cases da utilização do GS1 DataMatrix nos hospitais Albert Einstein, Santa Joana, Oswaldo Cruz e Moinhos de Vento na GS1 General Assembly 2012, que aconteceu em Cartagena, na Colômbia, em maio. O evento acontece todos os anos e reúne os principais líderes mundiais da entidade para troca de ideias, definição de estratégias e orientação para decisões. O Brasil foi um dos cinco escolhidos para apresentar esse case de sucesso na assembleia, o que reforça o sucesso da atuação da GS1 no País.

Onde tudo começa Disseminar conhecimentos sobre os produtos da GS1 para universitários, que no futuro serão responsáveis por conduzir muitos negócios, é o objetivo da parceria com o Instituto Mauá de Tecnologia, de São Paulo. Nos primeiros seis meses de 2012, a equipe da GS1 promoveu treinamentos nas classes de graduação de engenharia de produção mecânica e pós-graduação de engenharia de embalagem. As informações também chegaram aos alunos por meio das palestras na “Semana de Engenharia Mauá”, que abordaram assuntos como padronização, RFID e Internet das Coisas.

Aquecimento para a Copa

Faltam dois anos para a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, mas é preciso começar a se preparar desde já. O SEBRAE lançou uma cartilha em que apresenta as principais atividades e áreas com oportunidades de negócios em um momento que o País receberá grande número de turistas. São elas: comércio de produtos orgânicos; varejo multicanal com destaque para os canais virtuais; construções verdes; móveis com design arrojado e que revelem a identidade nacional; artesanato e gastronomia regionais; sites, aplicativos e sistemas para informação dos visitantes em diferentes idiomas.

Presença em eventos

A GS1 marcou presença em diversos eventos de varejo espalhados pelo País. A feira Mercosuper, em Curitiba (PR) em abril, recebeu um estande da GS1 com novidades e informações sobre os produtos, assim como a feira da Associação Paulista de Supermercados (APAS) em São Paulo, em maio. Os meses de junho e julho também foram movimentados e produtivos para a entidade que compareceu à Exposuper, em Joinville (SC) e na feira da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), em Serra (ES). Na área da saúde, a GS1 participou da feira Hospitalar, que ocorreu em maio na capital paulista.

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Falta de ideias para o avanço mundial

Cinco das maiores economias mundiais – Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Japão – estão sofrendo com a falta de criatividade, segundo o estudo “State of Create”, da Adobe, que ouviu cinco mil pessoas nesses países. O motivo que mais interfere na criatividade (75%) é a pressão por ser produtivo e não criativo no ambiente de trabalho. A falta de tempo e os sistemas educacionais, que geralmente não estimulam a criatividade, são apontados como agravantes do problema. Quatro em cada dez pessoas acreditam que não possuem as ferramentas necessárias para criar. Nos EUA, mais de 60% dos entrevistados acreditam que a tecnologia ajuda a superar os limites criativos e oferece inspiração.

TI sem controle

A revolução da mobilidade está mudando o papel e as preocupações dos profissionais de tecnologia da informação (TI). A LanDesk Software, fornecedora de gerenciamento de sistemas, entrevistou 193 gerentes e administradores de TI de organizações de médio e grande porte. Dentre eles, 96% relataram que usuários finais de suas organizações usam dois ou mais dispositivos no trabalho. Isso significa que os funcionários estão adotando essas tecnologias em um ritmo mais rápido do que esses profissionais são capazes de acompanhar. Mais da metade dos gerentes de TI (54%) afirmou que não têm nenhuma estratégia de segurança para dispositivos móveis e 37% relataram que lidam com mais de dez incidentes de malware por mês.

O poder do anúncio on-line

No Brasil, menos da metade da população (42%) tem acesso à internet. Mas essa presença é ativa e a interação com as marcas também. Uma pesquisa da ExactTarget, empresa especializada em soluções de marketing, analisou 1,4 mil brasileiros para avaliar o comportamento e suas interações por e-mail e nas redes sociais. Os dados mostram que 91% das pessoas são cadastradas para receber email-marketing e 68% já realizaram uma compra a partir desse tipo de mensagem. Pelo Facebook, 77% dos usuários interagem com alguma marca e no Twitter, apenas 26%. Cerca de 50% dos brasileiros estão mais propensos a recomendarem uma marca a um amigo após segui-la no Twitter.

Conhecendo de perto

O encontro com associados “GS1 Vai Até Você” ganhou sequência em 2012 e chegou a cerca de 200 pessoas em 14 Estados, por meio de palestras e reuniões. O principal intuito é aproximar a entidade dos empresários de várias regiões do País e entender as necessidades locais. Piauí, Paraná, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Ceará e Bahia receberam o projeto nesse primeiro semestre, que terá novas etapas nos próximos meses. Para mais informações e inscrições, visite o site da GS1 Brasil.

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CURTAS

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Contas no tablet

Pesquisa realizada com três mil norte-americanos pelo Fiserv, provedor de soluções tecnológicas para o mercado financeiro, constatou que 45% dos usuários de tablets tem interesse de usar o equipamento para acessar serviços bancários. Os consumidores querem mais do que checar o saldo ou localizar o caixa eletrônico mais próximo. Cerca de 40% dos adeptos da tecnologia móvel já usaram o tablet para pagar contas.

Alimentação pronta e rápida

O crescimento acumulado de food service na última década (2000–2010) foi de 219,4% diante de 183,6% do varejo alimentar, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA). A média anual de crescimento foi de 12,3% para refeições fora do lar contra 11% no varejo. Isso mostra que a tendência do brasileiro é abandonar cada vez mais o fogão e aderir à alimentação pronta e rápida. Outros números do setor serão apresentados durante o 5º Congresso Internacional de Food Service, promovido pela entidade no mês de setembro, em São Paulo.

Trabalho remoto

Trabalhar em casa é uma prática cada vez mais comum no Brasil, segundo pesquisa da empresa de recrutamento Robert Half realizada com 1.876 diretores de recursos humanos de 16 países. Busca por qualidade de vida, evitando longos deslocamentos e congestionamentos, dificuldade de locação de espaços e o amadurecimento dos profissionais são os principais motivos para o trabalhador brasileiro adotar esse novo modelo de trabalho. Confira como está a prática de home office no mundo:

1º China 2º Singapura 3º Brasil 4º Austrália 5º Bélgica 6º Luxemburgo 7º Reino Unido 8º Holanda 9º Chile 10º Suíça

Perfumes e padrões

O tradicional setor de perfumes franceses está em processo de implementação dos padrões globais em toda a cadeia de suprimentos. Um projeto liderado pela GS1 França definiu metas e prazos para alcançar esse objetivo. A primeira tarefa, já realizada, foi descrever as melhores práticas logísticas e como usar os vários padrões na identificação dos perfumes. Grandes companhias começaram neste ano a utilizar a ferramenta de troca eletrônica de dados no padrão GS1, meta que será atingida dentro de três anos. Até 2013, indústrias e varejistas devem adotar a tag EPC (Código Eletrônico de Produto) e a RFID para ajudar na prevenção contra roubos.

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ENTREVISTA

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MARK HARRISON

Por Kleber Pinto

Identidade em toda cadeia Saber o caminho percorrido por um produto desde que ele foi fabricado até chegar

nas mãos do consumidor final. Esse tipo de situação é possível por meio do uso do EPC, o Código Eletrônico de Produto, capaz de identificar um objeto em todo seu tempo de vida. Como uma espécie de RG do objeto, esse código único associa informações específicas como origem, data de produção e destino. É sobre essa tecnologia e todas as suas possibilidades que Mark Harrison, diretor do Auto-ID Lab da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, falou para a Brasil em Código. O PhD em física, que recentemente esteve no Brasil, participou ao longo de sua carreira em importantes projetos mundiais nas áreas de alimentos, aeroespacial, farmacêutica, automotiva, logística e supply chain. Harrison tem um papel ativo no desenvolvimento do EPC e de normas técnicas para a tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID). Brasil em Código Qual é o futuro da automação e quais são as tendências tecnológicas que oferecem vantagem competitiva? Mark Harrison Com as tecnologias como RFID e código de barras, as empresas estão coletando volumes crescentes de informações relacionadas ao histórico e movimentações dos produtos e ativos, bem como dados sobre como eles são usados ou manuseados. Observamos também um aumento na quantidade de dados que são abertos pelo governo e por outras organizações como mapeamento, clima, rotas de transporte, dados demográficos, além do desenvolvimento de ferramentas que podem ser usadas para consultas em fontes de dados heterogêneas e proporcionando visualizações criteriosas desses dados.

BC Você pode citar alguns exemplos de boas aplicações do Código Eletrônico de Produto (EPC)? MH O EPC permite que cada objeto físico tenha um “identificador exclusivo”, de modo que ele possa ser rastreado individualmente e para que um “histórico de vida” completo de cada objeto fique acumulado ao longo do tempo, utilizando-se o EPC como uma referência cruzada que aparece em todos os fragmentos de informação. O EPC é geralmente associado com a identificação por radiofrequência (RFID), mas ele também pode ser utilizado com os códigos de barras, DataMatrix, entre outros. BC Quais são os outros tipos de usos do EPC?

MH Muitas aplicações estão relacionadas à rastreabilidade dos objetos. É óbvio que isso é muito importante para qualquer setor como alimentício ou da saúde, em que queremos ter certeza de que o que consumimos é seguro. Outras aplicações da rastreabilidade servem para compreender a utilização individual de ativos e ajudar na gestão da sua manutenção e inspeção, principalmente, quando isso é exigido por lei com base na segurança pública. Outros usos do EPC dependem mais da conveniência que as tecnologias como a RFID trazem para os processos de automação, que antigamente eram muito mais trabalhosos. Por exemplo: contagem de estoque, verificação dos produtos recebidos, busca por itens faltantes.

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Foto: Marcelo Vigneron

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ENTREVISTA

BC E nos casos em que essa tecnologia está associada aos dispositivos móveis? MH Podemos ter acesso a uma rica variedade de informações relacionadas aos objetos. No varejo, os funcionários podem utilizar dispositivos móveis para que eles possam prestar um melhor atendimento aos clientes e informá-los se os produtos estão disponíveis na loja ou no estoque, sem perder uma venda em potencial. Os consumidores podem se beneficiar com o fácil acesso às informações adicionais relacionadas ao produto, tais como, disponibilidade das peças de reposição e acessórios, da-

O EPC permite que cada objeto tenha um ‘identificador exclusivo’, de modo que ele possa ser rastreado individualmente e tenha um histórico dos relacionados ao impacto ambiental (emissão de gás carbônico, utilização da água e do solo), reivindicações de teor ético (comércio igualitário, orgânico) e informações nutricionais (rastreabilidade de produtos que contêm nozes, glúten, leite etc.). Essas informações valiosas podem ser confrontadas com cada perfil personalizado dos consumidores com o intuito de ajudá-los na escolha do produto mais adequado às suas necessidades e preocupações. BC Esse código também pode ser útil para reduzir erros nas operações? MH Sim, a identificação exclusiva

pode ser utilizada para alertar sobre erros potencialmente desastrosos como, por exemplo, quando uma peça errada é utilizada, quando dois produtos incompatíveis são armazenados juntos (alimentos e produtos químicos), quando instrumentos cirúrgicos são deixados acidentalmente dentro dos pacientes durante as cirurgias. A RFID e o EPC possibilitam o uso de tecnologias baseadas no pedigree eletrônico, que é uma poderosa ferramenta para identificar produtos falsificados e impedi-los de serem introduzidos nas cadeias de suprimentos. BC Na sua opinião, a indústria brasileira deve investir na RFID? MH O Brasil possui um forte setor automotivo e aeroespacial e é evidente que existem benefícios com o desenvolvimento da RFID nesses setores, pois ela permite a rastreabilidade de peças e ferramentas; também automatiza o conjunto de informações exigidas pela lei no que diz respeito à segurança e garantia de qualidade. O setor florestal também é forte e cada vez mais é importante que o País seja capaz de demonstrar que a madeira exportada foi obtida de fontes sustentáveis. Do mesmo modo, o setor agrícola já adotou a tag RFID para fazer a rastreabilidade da movimentação do gado, que é importante tanto para o fornecimento da garantia de procedência como para o controle de doenças transmissíveis. Não devemos nos esquecer de que, a indústria de gás e petróleo e suas cadeias de suprimentos complexas e extensas, estão envolvidas na montagem de plataformas offshore em águas profundas. A RFID e o EPC podem

ajudar na gestão da cadeia de suprimentos e na rastreabilidade, identificando onde os gargalos e atrasos podem ocorrer e garantir também que erros sejam evitados. BC Na sua opinião, quais setores estão mais preparados para adotar a tecnologia RFID? MH A RFID já está sendo adotada pelo varejo e pelo setor de bens de consumo, particularmente para a rastreabilidade dos ativos reutilizáveis, mas também pelos setores de bens com alto valor como vestuário e produtos eletrônicos. Nós já podemos observar alguns exemplos disso no Brasil: a implantação da RFID pela Memove com a rastreabilidade das peças de vestuário desde a fabricação em toda a cadeia de suprimentos até o ponto de venda. Essa tecnologia é utilizada no setor da saúde para proporcionar um elevado nível de rastreabilidade de informações, particularmente, para os produtos altamente perecíveis ou onde a proveniência dos produtos farmacêuticos e hemoderivados deve ser garantida. A Hemobrás já utiliza a RFID para fazer a rastreabilidade das bolsas de sangue. O setor aeroespacial e o Departamento de Defesa, nos EUA e no Brasil, também adotaram a RFID para fazer a rastreabilidade dos produtos e gestão da manutenção com o histórico de informações de peças para aeronave para entender melhor a degradação e a falta de peças. BC Você acredita que alguma região como a América Latina, a Ásia ou a Europa, pode atrasar ou mesmo blo-

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BC Na sua visão, um sistema de automação lançado em um país pode ser executado em outro? MH Desenvolvemos padrões globais para promover um mercado altamente

competitivo de soluções inter-operáveis. A adesão aos padrões globais, juntamente com os testes de conformidade e certificação como os serviços oferecidos pelo Centro de Excelência RFID no Brasil, em parceria com a Hewlett-Packard, são fundamentais para fornecer um alto nível de garantia de que as soluções exportadas pelo Brasil serão utilizadas em todo o mundo. BC Tecnicamente o Brasil está preparado para desenvolver soluções de identificação automatizadas em curto prazo? MH Já observamos muitas iniciativas promissoras no País como, por exemplo, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), que é uma parceria com a X-Fab Semicon-

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Já temos muitas iniciativas promissoras no Brasil na área de RFID

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quear a adoção das mesmas tecnologias de identificação? MH É claro que pode haver diferenças nas regulamentações em regiões diferentes e elas podem acelerar e desacelerar a adoção. No âmbito da radiofrequência, o Brasil tem sorte por ter os níveis e faixas de frequência semelhantes aos dos EUA; portanto ele não está em desvantagem se comparado com aquele país ou qualquer outra região. As leis de rastreabilidade variam conforme o setor da indústria e da região.

ductor Foundries da Alemanha para o desenvolvimento das tags RFID na identificação do gado. A Haco Etiquetas está desenvolvendo as etiquetas para serem utilizadas em peças do vestuário. O Brasil também possui desenvolvedores de middleware, por exemplo: NEC e integradores de sistema como a Seal. BC Em sua opinião, de quem é a responsabilidade pelo financiamento dos estudos sobre os automação? MH A melhor forma de geri-los é por meio de uma parceria conjunta entre o governo e a indústria, assim como vemos no programa brasileiro “Ciência sem Fronteiras”, iniciativa conjunta dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação. As agências governamentais podem direcionar a receita de impostos para investimento em novas tecnologias. Porém os líderes da indústria estão muito mais familiarizados do que os políticos com os atuais entraves. Por isso, uma parceria faz sentido do ponto de vista do compartilhamento do risco de investimento e benefícios. 7 898357 410015

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Por Camila Mendonça

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MARKETING

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REDES SOCIAIS

Diferentemente da venda por meio de lojas virtuais, o social commerce têm o relacionamento com o usuário como principal estratégia de vendas. Antes de investir conheça as vantagens e desvantagens desse tipo de operação

O comércio é social No início de 2011, as especialistas em negócios de moda Fernanda Weber, de 30 anos, e Haldry Martarelli, de 32, começaram um blog para vender acessórios a fim de levantar recursos que bancassem uma marca de roupas a ser criada por elas. A ideia temporária, contudo, começou a requerer cada vez mais tempo das empresárias. “Quando vimos que estava dando certo, começamos a estruturar e a produzir as coleções”, conta Fernanda. Foi assim que nasceu a Badulakit!, de acessórios femininos. Junto com o blog, a marca também foi apresentada ao público no Flickr,YouTube e Facebook. No início, os acessórios eram vendidos por meio de pedidos feitos por e-mail. “Percebemos que a compra de acessórios é feita por impulso e as redes sociais requerem muito investimento de tempo. As meninas não gostam de esperar para obter respostas”, afirma Fernanda. Para agilizar as vendas e não perder o público nascente, as empreendedoras criaram, junto com o e-commerce da marca, uma loja on-line dentro do

Facebook. A ideia era fomentar o relacionamento com as usuárias e, com isso, aumentar as vendas. As sócias verificaram que as respostas às consumidoras são mais diretas e a rede ainda ajuda a identificar as tendências para a criação de novas coleções. “No Facebook, a gente pergunta o que as meninas querem e gostam. Tentamos estabelecer um canal direto com elas.” Ao utilizar redes sociais, como Facebook, Twitter, Flickr e Pinterest, como plataformas de vendas, pequenos empresários, como Fernanda e Haldry, colocam em prática o conceito de social commerce (comércio social). Como o próprio termo diz, a ideia é aproveitar as movimentações das pessoas cada vez mais crescentes nas redes sociais para alavancar vendas e fortelecer o posicionamento da marca. Mas isso ainda é pouco comum por aqui. “O empresário brasileiro é muito temeroso e o social commerce é um terreno que exige maturação. Estamos em um período de transição”, afirma Fábio Mariano Borges,

professor da Escola de Propaganda e Marketing (ESPM), especialista em ciências do consumo. Para o professor, criar aplicativos e tornar o perfil da empresa em redes sociais em mais uma ferramenta depende da estratégia adotada. “É preciso analisar o custo que a companhia terá e os benefícios que conseguirá obter”, afirma. O que não dá para fazer, avalia, é negligenciar as redes sociais. Os números e o cenário atual da internet demonstram que ficar de fora do universo social não é bom negócio para as empresas, ainda que elas não tenham pretensões de realizar vendas diretas. “Se você olhar os números, não há como não ter algum retorno. Não dá para ficar insensível a essa realidade”, considera Miguel Gouveia, especialista em posicionar negócios na internet da consultoria Brains@work. Somente o Facebook tem mais de 900 milhões de usuários e pode alcançar um bilhão ainda neste ano. Desse total, cerca de 5% são perfis de brasileiros. O Twitter

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Fotos: Douglas Luccena/hDivulgação

Fernanda e Haldry, sócias da Badulakit! O diferencial da marca na rede social é justamente o que ocorre fora dela: o serviço de entrega rápida e as embalagens diferenciadas

já ultrapassou a marca de 500 milhões de usuários, sendo ao menos 30 milhões de brasileiros. O Google+ possui mais de 90 milhões de perfis. Além disso, pesquisa global conduzida pela Motorola Mobility, em 2011, mostrou que os brasileiros gastaram seis horas por dia em redes sociais no ano passado. Ainda que nem todos os perfis sejam ativos ou utilizem as redes sociais para fins comerciais, o potencial de consumo nesse ambiente é grande. Para além dos números, o perfil do consumidor também facilita o crescimento do social commerce. Cada vez mais as pessoas privilegiam o conforto e a agilidade do comércio virtual e, por isso, estão mais atentas ao que é oferecido em qualquer meio digital. “Os consumidores estão comprando mais na internet e querem mais interatividade e relacionamento com as marcas”, explica Borges, da ESPM. Apostando nesse cenário, marcas brasileiras consolidadas perceberam que é preciso fazer mais que um perfil oficial nas redes. A Magazine Luiza criou apli-

cativo de vendas diretas em janeiro deste ano no Facebook. O Magazine Você possui cerca de 20 mil usuários mensais. O Pão de Açúcar criou ações diferenciadas para os seguidores da marca Ponto Frio no Twitter – garantindo descontos nas lojas físicas – e intensificou o investimento nessa área, ao criar o Núcleo Digital, em 2010, que somente naquele ano recebeu um aporte de R$ 10 milhões. RELACIONAMENTO X VENDAS Manter um relacionamento ativo com o usuário é o que diferencia o social commerce do simples comércio virtual. Ainda assim, muitos empresários evitam as redes sociais pelo fato de já terem site específico para vendas on-line. “Achar que o e-commerce é suficiente torna a empresa míope, afinal os perfis são diferentes”, avalia o professor Borges. No e-commerce, o cliente não espera relacionamento; ele faz pesquisa de preço e/ou efetua a compra. Na rede social, as vendas são feitas com base em afeição: o consumidor tem uma relação mais

LEVE EM CONTA Criar uma social store é tentador, uma vez que os custos de um aplicativo não ultrapassam R$ 10 mil, e ainda há alternativas de conseguir programas mais simples de forma gratuita. Contudo, é preciso alguns cuidados antes de investir na estratégia:

1. Verifique se na área de atuação do seu negócio existem lojas nas redes sociais e como elas fazem a abordagem com os usuários 2. Avalie se você tem tempo para relacionar-se com os futuros fãs ou seguidores. Nesse negócio, é preciso boa dose de interação 3.Confira se a empresa tem estrutura logística adequada. O atendimento off-line é decisivo para segurar o cliente no social commerce – e ainda rende bons comentários na rede 4.Veja se está disposto a encarar comentários negativos. Eles existirão e precisarão ser contornados de maneira ágil e delicada 5. Faça parceria com meios de pagamento para agilizar o processo de venda 6. Realize pesquisa de mercado, concorrência e do perfil do seu consumidor – será que ele está mesmo nas redes sociais? [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 15

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MARKETING

NÚMEROS GIGANTES FACEBOOK

ERROS COMUNS

AO CRIAR UMA LOJA NAS REDES SOCIAIS, EMPRESÁRIOS COMETEM FALHAS QUE PODEM DERRUBAR UMA MARCA. CONHEÇA-OS PARA EVITÁ-LOS LISTA DE CONTATOS Encarar os fãs ou seguidores como uma lista para envio de spams é erro comum. Nas redes sociais os usuários só vão estabelecer relacionamento se conhecerem a empresa ou a marca PERFIL X FANPAGE No Facebook, muitas pequenas empresas iniciam os negócios fazendo um perfil. A ação é um erro, porque pessoas jurídicas não podem criar perfis, segundo o próprio regulamento do Facebook. O correto é criar uma fanpage, que oferece mais recursos que um perfil FALAR DEMAIS Estar presente na timeline dos fãs é estratégia para ser lembrado. O problema é que muitas empresas encaram isso como justificativa para postarem seguidamente. Cuidado, é fácil tornar-se inconveniente. A maioria das pessoas deixa de seguir uma empresa por conta do volume de publicações FALAR DE MENOS O oposto também é um erro: criar um perfil oficial nas redes sociais não faz a empresa estar presente. Crie uma rotina de postagens, até de assuntos que fogem da divulgação de produtos, faça enquetes, aproxime-se

próxima com a marca: ou ele já curtiu a “fanpage” da empresa no Facebook, por exemplo, ou a segue na Twitter. Esse cliente espera maior atenção. “Nas redes sociais, é preciso usar o poder da recomendação”, enfatiza Rodrigo Demétrio, da WVTodoz, agência de comunicação que criou o Facilime – aplicativo para pequenos empresários venderem por meio do Facebook. Utilizar as páginas sociais para se aproximar dos consumidores ou como meio de venda ainda é dilema entre muitas marcas. Para os especialistas, ainda é preciso ter cautela em transformar a plataforma em mais um canal comercial. “As redes sociais não foram desenhadas para vendas, mas para relacionamento. A partir dele é que é possível gerar vendas, mas em outros meios”, afirma Gouveia, da Brains@work. Apesar de ter aplicativo de venda no Facebook, a estratégia da Centauro nas redes sociais ainda é predominantemente de relacionamento com o cliente, afirma

Na Centauro, ações comunicadas apenas nas redes sociais geram movimentação na loja física

900 milhões

de usuários, sendo 5% perfis de brasileiros

TWITTER

500 milhões

de usuários, sendo

30 milhões de brasileiros

GOOGLE+

90 milhões de perfis

Francis Amado, gerente de marketing do Grupo SBF – que detém a marca esportiva. “A rede social ainda é a casa da pessoa e o e-commerce ainda é o ambiente propício para compra e venda. Cerca de 90% das nossas ações nas redes sociais são voltadas ao relacionamento. Apesar desse posicionamento, a executiva avalia como bom o retorno da loja dentro do Facebook, criada neste ano. A marca traçou estratégia para que o consumidor consiga percerber facilmente que se trata de ação diferente do e-commerce. A loja social é temporária, oferece um mix reduzido e específico de produtos e “abre” de acordo com datas comemorativas do varejo, como

PROMOÇÕES SEM NOÇÃO Não são poucos os casos de empresas que ofertam produtos que nada têm a ver com o perfil dos usuários. Conheça seus consumidores. E limite-se, nesses casos, em atingir quem de fato lhe segue FALTA DE ACOMPANHAMENTO Aproximar-se dos consumidores significa também acompanhar o que eles dizem nas redes sociais. Com isso, fica fácil resolver uma situação desagradável, ou mesmo traçar novas estratégias com base nas suas demandas 16 jul/ago/set 2012 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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MARKETING

Rodrigo Demétrio, da WVTodoz “Nas redes sociais, pequenos empresários podem ousar mais e evitam burocracia”

o Dia das Mães. “Com isso, tornamos a ferramenta mais dinâmica, fazendo com que haja maior engajamento dos usuários”, acredita Francis. Com a ação a marca foi mais lembrada nas redes sociais, mas não houve acréscimos de fãs da página oficial. Os retornos mais significativos, acrescenta a executiva, são gerados a partir de ações promocionais. “Tem muitas ações que comunicamos apenas nas redes sociais e que geram ingresso para a loja física”, conta. SUCESSO SOCIAL Estar mais próximo dos consumidores, conseguir tornar a marca mais visível, verificar gostos e preferências estão na lista das vantagens de constituir uma loja dentro das redes sociais. Lidar com comentários negativos e dar atenção na medida certa são as principais dificuldades, avalia Demétrio. “Nessa área, os pequenos empresários estão na frente porque eles podem ousar mais, evitam burocracia e são naturalmente mais próximos dos consumidores”, afirma. Para ter sucesso nas redes sociais, é preciso criar uma comunidade, o que ge-

ralmente pequenos e médios empresários têm facilidade de fazer. “Se você não conseguir gerar um relacionamento em torno de um tema, não vende”, afirma Gouveia. Por isso, é preciso conhecer o público-alvo e cativá-lo. No entanto, o diferencial de uma marca na rede social é justamente o que ocorre fora dela.

Fábio Borges, da ESPM “O empresário brasileiro é muito temeroso e o social commerce é um terreno que exige maturação. Estamos em um período de transição”

A Badulakit!, citada no início da matéria, sabe o peso do mundo “off-line”. No primeiro ano de atuação da marca, as empresárias notaram que as clientes demoram cerca de dois meses para perderem o interesse por uma coleção, que elas gostam da proximidade com a marca – por isso, as modelos das coleções são clientes – e valorizam a agilidade e a delicadeza na entrega dos produtos. “Pesquisamos a concorrência e vimos que muitas lojas têm uma abordagem semelhante a nossa. Nosso diferencial está no off-line. Entregamos os produtos de maneira ágil e com embalagens diferenciadas, como se fosse um mimo para as clientes”, afirma Fernanda Weber. O acompanhamento do perfil da usuária da marca também é fundamental para o sucesso das estratégias. Por isso, a conversa com as consumidoras é essencial. “Não existem modelos. É preciso criar um relacionamento e não apenas usar aplicativos. É preciso falar sobre os produtos”, afirma Demétrio. “Quem entra nas redes sociais só pensando em conversão do e-commerce para o social commerce não vai se dar bem. É preciso adurecimento e relacionamento.” 7 898357 410015

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CAPA

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DISTRIBUIÇÃO

Por Denise Turco

Responsáveis por abastecer o varejo de pequeno e médio porte no País, atacadistas e distribuidores investem em tecnologia para controlar custos e otimizar processos. Pesquisa da GS1 e ABAD mostra os principais desafios que o setor precisa enfrentar na automação

Automação a favor dos negócios 20 jul/ago/set 2012 [ BRASIL EM CÓDIGO ]

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Fotos: Douglas Luccena/hDivulgação

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tacadistas e distribuidores são os responsáveis por abastecer o varejo de pequeno e médio porte como supermercados, farmácias, lojas de cosméticos, materiais de construção, papelarias, além de bares e restaurantes. Eles compram da indústria grandes volumes e vendem produtos em quantidades pequenas ao comércio de vizinhança. Nos últimos anos, essas empresas ajudaram a desenvolver os pequenos negócios, oferecendo maior variedade de produtos, preços competitivos e conveniência ao consumidor final. As operações dos atacadistas são complexas e envolvem grande volume de informações, atualização de preços e movimentação de cargas. As dificuldades são muitas: lidar com as complicadas questões tributárias, a falta de mão de obra qualificada e os gargalos na infraestrutura das estradas do País. Seguindo a evolução do mercado e a profissionalização dos negócios, os atacadistas se adaptaram às necessidades dos clientes e estreitaram os laços com os fornecedores. Com a concorrência acirrada e as margens baixas – que variam de 1,5% a 2% do faturamento – as empresas se preocupam em melhorar a eficiência operacional e manter os custos enxutos. E isso só é possível com o uso da tecnologia. As grandes empresas do setor já conhecem os benefícios da automação, mas as médias e pequenas ainda têm muitos desafios nesse aspecto. Para verificar o nível de automação de atacadistas e distribuidores bem como os padrões utilizados, a GS1 e a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), com o apoio das empresas MGI e PC Sistemas, realizaram a pesquisa “Tecnologia a favor do setor”. Empresas que representam 28% do faturamento do segmento responderam a um questionário nos meses de junho e julho. O estudo mostra os benefícios da automação em todo processo – relacionamento com fornecedor, logística, gestão e vendas -, além de apontar soluções e tendências. [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 21

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Edson Matos de Lima, da GS1 Automação traz inteligência e eficiência à gestão, além de aumentar as vendas e reduzir custos

Pedro Severini, do Tenda Atacado Da emissão do pedido até a entrega ao cliente tudo funciona via sistema, sem papel

“Os empresários do setor ainda não sabem como lidar com a enorme quantidade de informações que dispõem e como a automação pode trazer inteligência, eficiência à gestão, além de aumentar as vendas e reduzir custos. A pesquisa pode ajudá-los a encontrar respostas e a entender se estão preparados para a automação”, avalia Edson Matos de Lima, assessor de soluções e negócios da GS1 Brasil. O que chama a atenção no estudo, segundo Oscar Attisano, superintendente executivo da ABAD, é que várias empresas ainda acreditam que o investimento em automação é sinônimo de custo. “Elas têm dificuldade de perceber que a tecnologia e o uso de padrões gera uma economia, que não é verificada diretamente, mas ocorre no longo prazo com melhoria da eficiência, agilidade e nível de serviço”. Para Attisano “as empresas devem ter a ousadia de inovar”. “O desafio da tecnologia é manter o equilíbrio entre inovação, valor gerado pelo negócio, risco e custo”, acredita Flávio Martins da Silva, diretor de

AS EMPRESAS SE PREOCUPAM EM MELHORAR A EFICIÊNCIA OPERACIONAL E MANTER OS CUSTOS ENXUTOS. E ISSO SÓ É POSSÍVEL COM O USO DA TECNOLOGIA

Tecnologia da Informação (TI) do Martins, um dos maiores atacadistas do País com sede em Uberlândia (MG) e que faturou R$ 3,5 bilhões em 2011. A tecnologia permeia há muito tempo as operações da companhia, que está há mais de 55 anos no mercado: análise de crédito, vendas, montagem das cargas, carregamento, roteirização, planejamento e gestão. A automação é essencial para lidar com 500 fornecedores, 3,6 mil profissionais na equipe de vendas, 15 mil pedidos/dia e 350 mil clientes em todo o território nacional. Sem revelar números, o executivo diz que o investimento em tecnologia do Martins está no mesmo patamar do das grandes redes varejistas do País. LOGÍSTICA OTIMIZADA Uma das principais constatações da pesquisa é que 83% dos atacadistas e distribuidores possuem Centro de Distribuição (CD) automatizado. Contudo, 17% ainda não têm, em razão de dificuldades

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de uso de tecnologia, de integração dos sistemas e suporte técnico deficiente. Muitas companhias, como Martins e Jotujé Distribuidora, que atua no Estado do Ceará, possuem armazéns equipados com esteiras, leitores de radiofrequência e empilhadeiras, além de contar com sistema de gestão de armazém (WMS) e de roteização e de gestão de frota (TMS). “Imagine uma operação não automatizada com uma movimentação mensal de R$ 10 milhões mensais e acuracidade do estoque de 85%. Com o WMS, a acuracidade pode saltar para 95%, representando uma redução de custo mensal de até R$ 150 mil”, exemplifica Roberto Lechuga, gerente comercial da MGI. Segundo a pesquisa, 39% das organizações realizam a gestão da frota via software e 17% o gerenciamento de entregas e coletas também com apoio de sistemas. “A tendência é melhorar o fluxo com informações significativas no processo de emissão e gestão das informações fiscais a exemplo da Nota Fiscal Eletrônica”, diz Lima, da GS1 Brasil. SINTONIA COM A INDÚSTRIA Já no relacionamento com fornecedor, 57% dos atacadistas utilizam EDI (Troca Eletrônica de Dados) para trocar informações como relatório de vendas e de estoque, pedido de compras e fatura. Do total de 43% de empresas que não usam

a ferramenta, mais da metade justifica não ter sido requisitada pela indústria. O restante afirma que não é uma prioridade. Mas é importante destacar que as grandes indústrias de consumo parceiras dos atacadistas e distribuidores usam EDI com sucesso. “A troca de informações possibilita fazer o planejamento integrado com o fornecedor, traçar painéis, projeção de vendas e investimentos”, conta Josué Albuquerque Junior, diretor de TI da Jotujé. O Martins também aproveita os benefícios do EDI e vai além. O atacadista implementou o CPFR, a gestão colaborativa do planejamento, em conjunto com algumas indústrias. Com isso, o estoque cai e o nível de serviço aumenta acima da média do mercado. GESTÃO INTEGRADA Todas as empresas consultadas na pesquisa possuem sistemas para processamento de pedidos, faturamento, compras, SPED, Nota Fiscal Eletrônica e nas áreas financeira e contábil. As companhias também investem em ferramentas mais sofisticadas que agregam inteligência ao negócio e melhoram a tomada de decisão: 61% usam Business Intelligence (BI), 50% contam com CRM e 28% com sistema para planejamento estratégico. Os sistemas de gestão são integrados com os módulos de logística e vendas e a

NA ÁREA DE VENDAS, OS ATACADISTAS E DISTRIBUIDORES USAM SMARTPHONES, TABLETS OU COMPUTADORES DE MÃO partir disso é possível obter informações para análise e planejamento. Em relação à integração de software, Ezequiel Borges, diretor de estratégia da PC Sistemas, diz que há muitos atacadistas que estão migrando de soluções desenvolvidas internamente para o ERP. É o caso da Jotujé. “Estamos estudando a troca do ERP porque há grande demanda da parte tributária, que gera a necessidade de um sistema mais integrado”, afirma Albuquerque Junior. Segundo o estudo, 24% das empresas declararam ótima satisfação em relação aos sistemas adotados, 47% garantem que têm boa satisfação e 27% dão nota regular nesse quesito. O Tenda Atacado, que opera no segmento cash & carry com 16 lojas e também no modelo de entrega para pequenos varejistas em Minas Gerais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, usa sistema SAP que integra informações de vendas, logística, faturamento e contabilidade. Desde a emissão do pedido até a entrega ao cliente, tudo funciona via

RAIO X DO SETOR De acordo com o estudo anual da ABAD realizado pela Nielsen, o segmento de atacado e distribuição faturou R$ 52,1 bilhões em 2011, um crescimento real de 15,8% na comparação com o ano anterior. Quase 95% das empresas do setor esperam superar essa receita em 2012. As empresas que atuam nesse mercado trabalham com modelos diferentes de operação. O distribuidor e o atacado de entrega atendem clientes por meio de vendedores, telefone ou internet e fazem a entrega ao varejo; a diferença é que o

distribuidor tem vínculo de exclusividade de produtos ou território com a indústria enquanto o atacado de entrega não tem. No cash & carry ou atacarejo, a empresa possui loja e o varejista ou transformador vai até o estabelecimento fazer as compras. Esse formato também atende o consumidor final e foi o que mais cresceu nos últimos anos. Já o atacado de balcão é a modalidade mais antiga e hoje está restrita ao Nordeste. Nela o varejista vai até o depósito do atacadista, entrega uma lista ao vendedor e carrega os produtos em veículo próprio. [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 23

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sistema, sem papel. A empresa possui um CD em Guarulhos (SP) com 45 mil metros quadrados que movimenta 600 toneladas de produtos por dia. Há dois anos, o Martins decidiu descentralizar os armazéns para estar mais perto dos clientes. Até então tudo saía do armazém de Uberlândia (MG). Hoje 60% do volume está na cidade mineira e o restante nos outros CDs (BA, PB, PE, PA e AM). Para evitar aumento de estoque, a empresa fez a previsão de demanda, ou seja, analisou o que e de quem comprar, para quem vender e por qual preço com o aparato de BI e CRM analítico, que faz modelagem estatística do comportamento do cliente. É interessante notar que, apesar dos avanços, os entrevistados ainda apontam necessidade de automação na gestão de vendas, contabilidade, informações gerenciais, estoque e compras. TUDO À MÃO A mobilidade é uma das grandes tendências de tecnologia, isso porque os sistemas estão na nuvem e integrados, o que

torna mais fácil adaptá-los para celulares e tablets. A pesquisa revela que a área de vendas acompanha essa tendência e está bem avançada em termos de automação. Todos os atacadistas e distribuidores disponilizam dispositivos móveis para os representantes comerciais, principalmente smartphones (41%), tablets (26%) e computadores de mão (18%). Depois de usar várias tecnologias, atualmente o setor está em processo de migração para o tablet, que não tem as limitações de tela e processamento de um computador de mão, por exemplo. O equipamento tem capacidade para ler códigos de barras, acessar a internet, tirar fotos, além de outros recursos. Seu uso se estende também para a logística e a entrega. “Não é modismo, mas uma questão de custo. Hoje é barato e fácil desenvolver os aplicativos para tablet”, afirma Pedro Severini, diretor de TI do Tenda Atacado, que se prepara para usar o equipamento. Até o final de 2012, os 180 representantes comerciais da Jotujé deixarão de usar smartphone e estarão com tablet em

mãos. “Por conta disso, estamos criando recursos de software como controle de promoções, acompanhamento de vendas, acesso à internet e e-mail, catálogo eletrônico com informações sobre os produtos, o que reduz o custo com papel e impressão e propicia uma atualização rápida do cadastro. É uma espécie de consultor on-line para auxiliar o vendedor”, conta Alburquerque Junior. O equipamento facilita até mesmo o contato direto entre a indústria e o vendedor, uma vez que o sistema da empresa está interligado com o de alguns fornecedores. A previsão do Martins é de que em dois anos, os mais de três mil profissionais de vendas usem tablet; até o fim de 2012 ano um terço estará com o equipamento. “Esse é o prenúncio de uma revolução. Num futuro não muito distante, o profissional de vendas poderá tirar fotografia da gôndola do cliente e o sistema vai sugerir produtos e a organização ideal da prateleira”, comenta Flavio Silva, diretor de TI. Nos armazéns da empresa, recentemente os supervisores da operação

NÍVEL DE AUTOMAÇÃO EM CADA ETAPA DA OPERAÇÃO

1

Indústria/fornecedor

57%

2

Operação no centro de distribuição Recebimento 100% Conferência 100% Armazenagem 80% Abastecimento 80% Separação 73% Expedição 80%

82%

3

Transporte

43%

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Dific


SISTEMAS UTILIZADOS NAS EMPRESAS

RAZÕES PARA NÃO AUTOMATIZAR A OPERAÇÃO LOGÍSTICA 25% 25% 25% 25%

Custo–benefício inadequado Dificuldade de integração com outros sistemas Dificuldade de uso Suporte técnico deficiente

DOCUMENTOS TRAFEGADOS ELETRONICAMENTE Pedido de compras Relatório de vendas Relatório de estoque Fatura Catálogo de produtos/lista de preços Aviso de despacho

4

24% 21% 21% 21% 9% 3%

Clientes/pequeno varejo/ atacado cash & carry

100%

Smartphones 41% Tablets 26% Coletores 3% Computadores de mão 18% Notebooks 12%

Processamento de pedido/faturamento Compras SPED Nota Fiscal Eletrônica Financeiro Contábil Automação de força de vendas Folha de pagamento Ponto eletrônico Gerador de relatórios WMS (gestão do armazém) Roteirizador Radiofrequência Business Intelligence (BI) CRM TMS (manutenção de frota) Planejamento estratégico TMS (entregas e coletas) Importação

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 89% 83% 83% 78% 61% 61% 61% 50% 39% 28% 17% 17%

BENEFÍCIOS DA AUTOMAÇÃO NA OPINIÃO DE atacadistas e distribuidores Aumento da produtividade Velocidade no ciclo operacional Segurança e redução de erros Redução de custos Visibilidade das informações Redução de papel Aumentos de vendas Aumento da rentabilidade Prevenção de riscos Realocação de recursos

SUPORTE PARA AUTOMAÇÃO

USO DO EDI (TROCA ELETRÔNICA DE DADOS) COM FORNECEDORES

100%

43%

usam código de barras

15% 15% 14% 11% 10% 10% 8% 7% 6% 4%

não utilizam

57%

utilizam

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Supervisores operacionais do Martins já usam tablet no centro de distribuição

ganharam mobilidade e agilidade com o tablet para acompanhar o fluxo do trabalho. O Martins aposta em smartphones para fazer a gestão on-line da entrega, controle de rotas e da jornada do motorista. Esse profissional usa smartphone para registrar a realização das entregas e eventuais ocorrências como falta de produto. O motorista consegue acionar rapidamente o representante de vendas se ocorrer algum problema. “Nesse projeto temos economia de 10% de quilômetro rodado e redução da emissão de carbono”, destaca o executivo.

SOLUÇÕES APONTADAS PELA GS1 PARA ATACADISTAS E DISTRIBUIDORES OPERAÇÕES NO CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO

RELACIONAMENTO COM FORNECEDORES

Curto/médio prazo • Aprimorar o cadastro de produtos e adotar boas práticas de alinhamento de dados com fornecedores (EDI)

Curto/médio prazo • Uso de tecnologia nos processos de negócio como o EDI

• Desenvolver e elaborar padrão de pesos e medidas para utilizar os atributos do produto com base nas normas GS1

Longo prazo • VMI / CMI** • GDSN

Longo prazo • Utilizar RFID e GDSN* *GDSN é a Rede Global de Sincronização de Dados da GS1 ** VMI/CMI são Mensagens de Dados Cadastrais e Comerciais

Flavio da Silva, do Martins “O desafio da tecnologia é manter o equilíbrio entre inovação, valor gerado pelo negócio, risco e custo” A Jotujé está realizando testes em que o motorista usa smartphone ou tablet para receber o roteiro e dar baixa on-line nas entregas realizadas. O sistema possibilita consultar cheques, pois muitos clientes utilizam esse meio de pagamento no ato do recebimento da mercadoria. PADRÕES Dados do estudo mostram que na logística o padrão mais utilizado (100%) é o código de barras; nenhuma empresa usa RFID. “O código de barras é a informação básica para a indústria, atacado e varejo trabalharem. Inclusive o varejo de pequeno e médio porte busca cada vez mais um cadastro padronizado por questões de gestão e tributação”, observa Albuquerque Junior, da Jotujé. “Com a utilização do código de barras, troca eletrônica de dados e radiofrequência, os erros de entradas de dados tendem a diminuir. Automatizar traz inteligência para a gestão; afinal,

hoje não é mais possível compartilhar informações e se relacionar com os clientes sem padrões. Isso é fundamental para o desenvolvimento do setor atacadista distribuidor”, conclui Edson de Lima, da GS1. Severini, do Tenda, concorda com a opinião: “a automação e a adoção de padrões tornou a logística de nossa empresa mais eficiente. O cliente sai ganhando. Nas nossas lojas, diminuímos a ruptura,

57% DOS ATACADISTAS UTILIZAM EDI PARA TRANSMITIR RELATÓRIO DE VENDAS E DE ESTOQUE, PEDIDO DE COMPRAS E FATURA

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MOBILIDADE E INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS SÃO TENDÊNCIAS PARA MELHORAR O NÍVEL DE AUTOMACÃO o estoque ficou mais ajustado e diminuímos as perdas”. A GS1 Brasil pode auxiliar as empresas a melhorar a eficiência logística por meio de um trabalho de assessoria. Recentemente, em conjunto com a Pennacchi Distribuição, de Arapongas (PR), a entidade desenvolveu o projeto “Padronização e Eficiência Logística”. A GS1 fez uma análise da operação da distribuidora desde o momento em que é feito o pedido de produto para a indústria até a entrega ao varejo para identificar oportunidades de melhorias utilizando os padrões globais. A partir disso, apresentou um conjunto de recomendações para automação, que está em análise pela Pennacchi. A empresa já começou a implantar as boas práticas em relação ao cadastro dos produtos. TENDÊNCIAS Algumas tendências do mercado de tecnologia e supply chain podem dar um norte para as empresas que estão preocupadas em melhorar sua eficiência. A

Oscar Attisano, da ABAD Empresas devem ter a ousadia de inovar em relação à automação

Jotujé Distribuidora possui CD equipado com esteiras, leitores de radiofrequência e sistemas de gestão do armazém e da frota mobilidade é a principal delas. Outra tendência forte são os sistemas integrados. “As empresas de software estão desenvolvendo soluções completas com ERP, CRM, força de vendas, armazenagem, transporte em um pacote único, para evitar gargalo de interoperabilidade. Além disso, os sistemas precisam estar disponíveis em qualquer plataforma e armazenados na nuvem”, ressalta Sérgio Loureiro, pesquisador do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes (LALT) da UNICAMP e professor convidado do curso de especialização em gestão da cadeia de suprimentos na mesma universidade. Fora do País, em especial na Europa, começam a serem desenvolvidos os sistemas que dão inteligência aos objetos, que por sua vez tornam-se capazes de reagir às situações. Esse movimento, baseado na internet e na tecnologia RFID, é conhecido como “Internet das Coisas”. “Na Europa há linhas de produção com sistemas que tomam decisões sem intervenção humana e hoje já se estuda isso no transporte. Nesse caso, por exemplo, é o caminhão que decide onde vai fazer a coleta”, diz Loureiro. Pedro Severini, do Tenda Atacado,

acompanha de perto essa tendência. “As transformações que virão com a internet são rápidas e violentas. Cada vez mais vão surgindo ideias mirabolantes, algumas vão vingar, outras não. Aí está o nosso desafio: entender a mudança e não ficar parado”, afirma. Aliás, a empresa intensifica o uso da internet no dia a dia utilizando-a para pagamentos bancários, Nota Fiscal Eletrônica, tráfego de imagens, comunicação interna e externa via Skype e arquivo eletrônico de documentos. Tudo isso ajuda a reduzir custos. Lechuga, da MGI, acredita que a RFID também deve ter uma maior adesão, oferecendo maior controle e rastreabilidade em toda a cadeia. Na opinião de Ezequiel Borges, da PC Sistemas, devem ocorrer mudanças nas ofertas de tecnologia por meio de novos modelos de negócio dos fornecedores. “BI, RFID, voice-picking, e-commerce, EDI, mobilidade, redes sociais, ensino a distância, cloud: a grande tendência será a convergência dessas tecnologias e os fornecedores deverão oferecer soluções simples que ocultam a complexidade das operações da cadeia de abastecimento.” 7 898357 410015

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Em dia com o planeta Conheça duas empresas de pequeno e médio porte que incorporaram o conceito de sustentabilidade à sua gestão e estratégias de mercado Por Paulo Gratão Economia verde, desenvolvimento sustentável e governança foram os três principais temas discutidos na Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu recentemente no Rio de Janeiro e reuniu mais de cem chefes de estado. O evento mobilizou cerca de 63 mil pessoas em 193 países, que participaram opinando sobre as pautas discutidas e colaborando com os diálogos e resultados. Durante um encontro na Assembleia Geral de Nova York, Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, comentou os resultados da conferência, ressaltando que, apesar de o poder continuar

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GESTÃO

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SUSTENTABILIDADE

nas mãos dos governos, as empresas privadas têm grande responsabilidade no sucesso do desenvolvimento sustentável e da economia verde. Isso se estende também para as pequenas e médias empresas, que são maioria no Brasil. Duas organizações que já praticam a sustentabilidade no dia a dia e, inclusive, apresentaram suas iniciativas durante a Rio+20, podem inspirar a inovação nos negócios. A Megamatte e a Ekoa Café já perceberam os benefícios de usar de maneira otimizada os recursos naturais, que traz ganhos de competitividade e impacto positivo na imagem da empresa. NOVO POSICIONAMENTO Depois de 11 anos com lojas próprias, a lanchonete carioca Megamatte iniciou, em 2005, o processo de franquias da sua marca, mas com um novo posicionamento. Com uma abrangência maior, a ideia foi se tornar socialmente responsável. “Formatamos todo o posicionamento da rede com atitudes como alimentação orgânica. A nossa segunda loja de São Paulo ganhou o conceito sustentável com energia solar, temporizador nas torneiras, tinta à base de água, entre outras medi-

das”, explica Lucyana Rebelo, gerente de comunicação da Megamatte. O projeto de eficiência energética, que ainda está como piloto em três lojas, e o gerenciamento de resíduos, foram os responsáveis pelo reconhecimento da rede de franquias como uma empresa comprometida com o meio ambiente. Em relação à eficiência energética, o projeto consiste na elaboração de um diagnóstico do gasto de energia com levantamento de ações que geram economia e produção de relatórios com a performance das mudanças implementadas no dia a dia. “Já temos alguns apontamentos para mudanças nas lâmpadas e no ar-condicionado. Buscamos benfeitorias que podem trazer economia e benefícios para o meio ambiente. A próxima fase será colocar tudo em prática”, explica a gerente. O gerenciamento de resíduos nasceu da necessidade de disseminar a reciclagem entre os funcionários. Após um mapeamento feito pela empresa Rio Sustentável com apoio do SEBRAE na loja do Leblon, na capital fluminense, os colaboradores receberam orientações sobre quais produtos podem ser reciclados.

Um documento com 200 compromissos para a gestão da sustentabilidade empresarial foi criado a partir das discussões realizadas na Rio+20 entre por empresas de setores diferentes. Entre as decisões tomadas destacam-se a adoção de estratégias para uso racional da água e recursos naturais e o comprometimento de inserir o desenvolvimento sustentável no currículo acadêmico

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Marisa Bussacos, da Ekoa Café Destaque na Rio+20, cafeteria adotou a sustentabilidade como filosofia de trabalho

Fotos: Douglas Luccena/hDivulgação

“Fizemos parceria com uma transportadora e o lixo reciclável é separado e levado para a reciclagem no Morro do Alemão. Com isso, o próprio franqueado teve uma redução no custo da coleta de lixo, pois para estabelecimentos comerciais é necessário pagar uma taxa pelo serviço”, explica Lucyana. Agora, o centro de treinamento da Megamatte tem a missão de disseminar esses conhecimentos para todos os franqueados. Lucrar com as ações que agridem menos o meio ambiente não é o objetivo final da Megamatte. Segundo Lucyana, “o franqueado consegue mensurar o retorno financeiro, e nós, o retorno para a imagem da empresa. Hoje somos muito mais conhecidos pelas práticas sustentáveis”. Ela ressalta que a empresa não adota o greenwashing, a prática de garantir ao consumidor muito mais sustentabilidade do que realmente é feito, algo comum no exterior. A Megamatte pode ser considerada engajada com o meio ambiente, pois não se vale de suas ações como mote para fazer publicidade. A rede dissemina suas práticas em palestras e eventos para colaboradores, clientes e outras empresas. “É um tra­balho de conscientização para que as pessoas repliquem em casa.” SUSTENTÁVEL DESDE A RAIZ Assim como a Megamatte, Marisa Bussacos, sócia-fundadora da Ekoa Café, em São Paulo (SP), outro destaque na Rio+20, conta que o estabelecimento promove encontros mensais com o intuito de discutir ações sustentáveis e passar as ideias adiante. “É um encontro feito para os clientes, empresas e organizações. Há dois anos e meio promovemos o Green Drinks,

A cafeteria foi construída com madeira certificada, bambus e ecomateriais. A unidade de São Paulo é ponto de encontro de organizações ligadas à defesa do meio ambiente

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SUSTENTABILIDADE

Megamatte adota o conceito de alimentação orgânica e uso responsável de água e energia

COMO ‘ESVERDEAR’ A EMPRESA?

CONFIRA ALGUMAS DICAS PARA INCORPORAR A SUSTENTABILIDADE NO DIA A DIA, E ASSIM PREPARAR A EMPRESA PARA NOVOS POSICIONAMENTOS EM PROL DO MEIO AMBIENTE:

Procure utilizar aparelhos elétricos nos horários de menor consumo de energia. l Quanto mais profundo o ambiente, maiores e mais altas devem ser as janelas. l Opte por cores claras nas paredes internas e externas para aproveitar melhor a luz do sol. l Recicle o que for possível. l Pense mais de duas vezes antes de imprimir algo. l Troque as lâmpadas incandescentes (amarelas) por fluorescentes. l Sempre avalie a necessidade antes de ligar o ar-condicionado. Desligue-o uma hora antes do fim do expediente. l Nunca jogue o esgoto de sua empresa em córregos ou rios. l

Fonte: SEBRAE

um evento que acontece no mundo inteiro. É um happy hour da sustentabilidade”, explica. Há 20 anos os pais de Marisa tinham uma cafeteria em Campinas (SP) chamada Praça do Café. Em 2007, depois de trabalhar em outras organizações, Marisa viu a sustentabilidade sob diferentes ângulos e decidiu levar esse conceito para a empresa da família. Ela partiu para a ação e fez uma reformulação geral, a começar pelo nome. Ekoa significa morada, em tupi-guarani. Nas lojas, a estrutura que sustenta o ambiente é feita de madeira certificada, bambus e ecomateriais. “Nascemos com essa filosofia, não se trata apenas de uma tendência. Sustentabilidade deve existir sempre, pois está em constante transformação”, comenta. Em São Paulo, o espaço da Ekoa Café, na Vila Madalena, serve como ponto de encontro para organizações ligadas à defesa do meio ambiente. A sócio-fundadora diz que as sugestões de funcionários e colaboradores são sempre bem recebidas e exemplifica com a comercialização de água na jarra, dispensando as garrafas. O conceito foi criado pela ONG Igtiba, que mantém em seu site um contador de garrafas que deixaram de ser descartadas com a prática. O perfil sustentável da cafeteria atrai naturalmente mais consumidores engajados, mas todos os perfis são bem-vindos ao estabelecimento. “A maior parte do nosso cardápio é vegetariano, mas temos algumas opções com carne, para atrair outras pessoas também”, explica Marisa.

CONQUISTAS E DESAFIOS

PESQUISA DO SEBRAE NACIONAL COM 3,9 MIL PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS AVALIOU A PERCEPÇÃO SOBRE SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE. NO BALANÇO GERAL, MUITAS ORGANIZAÇÕES JÁ APLICAM PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, MAS AINDA EXISTEM MUITOS DESAFIOS. CONFIRA ALGUNS RESULTADOS:

70% das empresas realizam coleta seletiva de lixo

72% controlam o consumo de papel

80% controlam o consumo de água e 81% de energia.

65% fazem a adequada

destinação de resíduos tóxicos como solventes, produtos de limpeza e cartuchos de tinta 51% ainda não têm o hábito de usar matérias-primas ou materiais recicláveis no processo produtivo 51% não participam de reciclagem de pneus, pilhas e baterias 83% não realizam captação da água da chuva e/ou reutilização da água 54% não identificam claramente oportunidades e ganhos relacionados à questão ambiental 79% acreditam que ter programas de preservação do meio ambiente atrai mais clientes Fonte: SEBRAE Nacional - maio/2012

Levar a sustentabilidade para a rotina da empresa não é um processo rápido, e muito menos simples. Assim como a Megamatte e a Ekoa, mais do que falar, as companhias precisam se preocupar com o que realmente conseguem fazer. Além disso, atitudes verdes devem também trazer retorno financeiro. Ser sustentável para o mundo e para o bolso: sua empresa está preparada? 7 898357 410015

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DESCONEXÃO

[QUALIDADE DE VIDA

Por Raquel Sena

Corrida do bem Empreendedora se apaixona pelo atletismo e conquista medalhas em competições internacionais

meus treinos no dia do evento e exatamente cinco meses depois eu já tinha emagrecido 20 quilos. Fiquei muito feliz com o resultado”, conta. Diariamente, a empresária acorda às 5h30, corre cerca de oito quilômetros e ainda faz musculação. Nos finais de semana, o treino é mais pesado: ela corre de 12 a 15 quilômetros. Depois de apenas nove meses praticando corrida, Lisa já representou o Brasil em duas meia maratonas internacionais – em Roma e Paris – nesse ano. “Conquistei medalhas em ambas, pois consegui realizar o percurso em menos de 2h30”. Tanta dedicação surpreendeu o marido, que passou também a praticar o esporte e acompanhá-la nos campeonatos. A empresária de 38 anos diz que o atletismo mudou sua vida, pois, além de ter aumentado sua disposição, possibilitou a abertura de novos horizontes e ideias para aplicar no trabalho. “O atletismo virou uma paixão. Até pensei em seguir carreira, mas para isso seria necessário abrir mão de muita coisa. Infelizmente, não posso. Então tenho essa prática esportiva como hobby.” O foco de Lisa agora é treinar intensivamente, pois já garantiu sua participação em três competições nos próximos meses – duas no Rio de Janeiro e uma em Amsterdã, na Holanda. A torcida é grande!

Depois de apenas 9 meses praticando corrida, Lisa já representou o Brasil em duas competições internacionais

Foto: Divulgação

Lisa Vieira Mendonça é advogada, mas atuou pouco tempo na área. Há cerca de três anos, ela estava em casa com a família assistindo a um programa na TV e viu uma reportagem sobre a grife de joias Barbara Strauss. Encantada com a possibilidade de trazer algo novo para sua cidade, Imperatriz, no Maranhão, ela decidiu alçar novos voos. Em 2011 inaugurou uma franquia da grife no Tocantins Shopping. No mesmo ano, ela encarou outro grande desafio: administrar temporariamente o centro de medicina nuclear do marido, que é médico, enquanto ele fazia um curso fora do País. Antes de viajar, o esposo estava organizando uma corrida em homenagem ao Dia Mundial do Coração, com o objetivo de incentivar a prática esportiva. A empresária precisou dar continuidade ao projeto e no dia do evento se surpreendeu. “Eu vi a felicidade e o prazer que as pessoas tinham em correr e fiquei encantada”, revela. Durante esse período de trabalho dobrado, a empresária sentiu mudanças em seu corpo. “Meu peso aumentou, vivia estressada e muito cansada”. E foi em meio a tantas tarefas que decidiu correr também. Disposta a mudar sua rotina, Lisa contratou um personal trainer especializado em atletismo. “Iniciei

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GESTÃO

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RFID

Por Flávia Corbó

Retorno calculado Para mensurar os benefícios obtidos com a adoção da etiquetas RFID, é preciso ir além de contas simples. A tag pode ser utilizada para otimizar diversos processos, gerando uma economia que só pode ser vista no balanço final O resultado da soma de dois mais dois nem sempre é quatro. A afirmação pode soar absurda, mas quando é preciso calcular o Retorno sobre o Investimento (ROI) da implementação de etiquetas de identificação por radiofrequência (RFID), é preciso ir além das simples operações aritméticas. Ao pensar em adotar o RFID nos processos de uma empresa, a primeira coisa a ter mente é que essa tecnologia não traz lucro, mas proporciona economia. Essa característica torna mais complicada a mensuração dos benefícios obtidos, pois só pode ser observada após a aplicação das etiquetas e antenas de radiofrequência. “O retorno sobre o investimento não é muito visível, por isso a tecnologia já nasceu com o estigma de que é cara. Muitos alegam não ser viável colocar

uma etiqueta que vale cinco centavos em um produto que custa um centavo. Dizem que é uma conta de padaria”, diz Renata Rampim, professora associada ao RFID CoE (Centro de Excelência em RFID), e estudiosa do assunto. Em geral, as empresas comparam apenas o custo de uma etiqueta de papel e uma tag RFID. Daí, realmente a diferença no investimento é muito grande. Porém essa relação de custo não é tão direta. A tag gera economia em diversas etapas da cadeia de suprimentos - controle de estoque, prevenção ao roubo de carga, diminuição do erro humano e possibilidade de avaliação da logística reversa. “Com a etiqueta RFID, o custo total é menor, pois a operação torna-se mais eficiente”, afirma Milton Melchiori, gerente comercial da RR Etiquetas, empresa que fornece etiquetas RFID.

“A tag RFID traz benefícios que as empresas nem imaginam, além de fornecer dados para fazer uma boa avaliação. Quantos produtos estão retornando? Qual é a durabilidade deles? A etiqueta faz com que o produto se torne um objeto único”, complementa Renata. Estudos comprovam os benefícios que muitas vezes passam despercebidos aos olhos de empresários que buscam resultados imediatos. Durante um ano, pesquisadores da Universidade de Arkansas analisaram o perfil de 15 empresas do setor de vestuário dos Estados Unidos. Apesar da aplicação das tags representar um custo maior do que é gasto com verificações manuais, o uso de etiquetas RFID em peças de roupas garante o ROI, reduzindo os erros cometidos durante os processos de embalagem e remessa dos produtos.

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Etiqueta RFID traz benefícios que podem passar despercebidos por quem busca resultados imediatos

A empresa CidTech investiu na aquisição de leitores e antenas RFID para monitorar o fluxo de pessoas em eventos e feiras e conseguiu avaliar os estandes mais visitados

O QUE CONSIDERAR AO CALCULAR O ROI DE RFID

Fotos: Divulgação

l Consultoria e planejamento

Com base em dados coletados junto aos fornecedores participantes da pesquisa, a equipe calculou o custo dos erros de um fornecedor em itens avaliados em US$ 2 cada um. Em uma produção anual de cem milhões desses produtos, com uma taxa de erro de 5%, os pesquisadores estimam que os custos totais para corrigir as falhas seriam de US$ 10 milhões. Já com RFID, esse gasto seria de apenas US$ 20 mil. Outra pesquisa, conduzida pela consultoria IDC EMEA com empre-

sas europeias do setor de manufatura, transporte, saúde e varejo, fez diversas descobertas a respeito dos benefícios da etiqueta RFID. O tempo de leitura dos produtos que estão em um palete cai de 20 para cinco segundos com a RFID. Ao mesmo tempo em que se ganha agilidade, a força de trabalho pode ser reduzida em cerca 30%, o que permite realocar funcionários para outros departamentos. E, ainda segundo a pesquisa, todo o investimento feito na adoção do

l Hardware, incluindo as etiquetas e os leitores RFID l Middleware RFID e licenças de software se necessárias para os servidores l Integração de sistemas l Programa de equipe interna para o processo de implementação RFID l Se utilizar o RFID por meio da cadeia de abastecimento, considerar o vínculo associativo à GS1 para obtenção de licença para criação do EPC l Treinamentos l Documentação Fonte: Renata Rampim

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RETORNO SOBRE INVESTIMENTO EM RFID NÃO É APENAS LINEAR

GESTÃO

COMENTÁRIO: EDSON PERIN, EDITOR DO “RFID JOURNAL BRASIL” RFID pode ser recuperado em um período de dois a três anos. Outro estudo realizado por empresas de vestuário norte-americanas, citado por Melchiori, da RR Etiquetas, mostra que é possível verificar o retorno do investimento ao expor corretamente as peças na loja. Empresas que fazem o inventário ou a contagem de estoque da loja poucas vezes não colocam todos os produtos à venda. ESTUDO Um exemplo disso é que quando chega o APONTA QUE inverno, a loja ainda O TEMPO DE tem peças de verão no LEITURA DOS estoque e precisa realizar promoções para PRODUTOS vendê-las por um preQUE ESTÃO EM ço menor. “Mas se a empresa faz o invenUM PALETE tário diariamente com CAI DE 20 o apoio das etiquetas RFID, o risco de não PARA 5 expor determinado SEGUNDOS item é bem menor”, conclui Melchiori. COM A RFID “Para calcular o ROI é preciso comparar o perfil antes e depois da aplicação, fazer um comparativo de todas as etapas que contam com o auxílio da RFID e checar se os números melhoraram. Com a tag RFID o roubo cai 10% e não tem mais falta de estoque. Só essa correção gera 1% de ganho para o supermercado e 0,8% para o distribuidor”, exemplifica Renata. FUTURO O consenso entre os profissionais que trabalham na área é de que a etiqueta RFID é considerada cara por desconhecimento das oportunidades que ela é capaz de criar. Mas há quem acredite que o cenário deve mudar em

breve. “Quando comecei a pesquisar sobre o assunto e também a ter contato com parceiros comerciais que estavam inserindo essa tecnologia no Brasil, o custo elevado de cada componente inviabilizava qualquer projeto. Hoje o setor entendeu o conceito, criou o formato comercial e entendeu que o benefício sempre será levado ao usuário”, explica Miguel Silvestre, diretor da CidTech, empresa que atua no fornecimento de soluções em credenciamento e controle de acesso para eventos. A mais nova empreitada da CidTech é uma prova da amplitude da aplicação da RFID. A empresa investiu na aquisição de leitores com antenas de captura de dados para monitorar o fluxo de pessoas em eventos e feiras. O primeiro teste ocorreu no Centro de Exposições Imigrantes, na capital paulista, que possui uma área de 110 mil metros quadradros. Quinze leitores com 60 antenas de captura de dados, espalhados nas mais diversas áreas, e conectados a uma infraestrutura mobile, geraram um tráfego de mais de 450 mil registros coletados em tempo real durante os cinco dias da M&T Expo 2012 – 8ª Feira Internacional de Equipamentos para Construção e 6ª Feira Internacional de Equipamentos para Mineração. Com isso, foi possível avaliar os setores mais visitados e os que necessitam de investimentos por parte dos expositores. “O maior benefício é a velocidade que a informação pode ser capturada e processada para os mais diversos fins, como geração de estatísticas e relatórios de forma ágil. E quando levamos em consideração a redução de processos de captura e tratamento de dados, aliados à mão de obra necessária para que sejam realizados, na linha do tempo, conseguiremos calcular o ROI”, afirma o diretor da CidTech.

Calcular os benefícios do investimento em uma tecnologia nem sempre pode ser tão simples quanto parece. Ou, ainda, pode ser muito melhor do que se imagina. É o que acontece com tecnologias como RFID, que fazem muita gente se surpreender na hora de checar os resultados do investimento. Motivo: há benefícios que ocorrem paralelamente (intangíveis), simultaneamente ao que podemos chamar de ganhos lineares (tangíveis). Pense, por exemplo, nos ganhos que são obtidos quando se controla com eficiência a cadeia logística de peças de roupas com RFID, do momento da fabricação até o consumidor final. Isso pode ser matematicamente fácil. Basta medir o que a identificação por radiofrequência pode oferecer de economia de tempo, redução de consumo de insumos e de recursos para corrigir erros, o poder de se encontrar o produto certo perdido no estoque e que um cliente aguarda ansiosamente em uma loja etc. Esses são ganhos lineares, previsíveis, diretamente associados aos ganhos da RFID no processo logístico em si. Mas há outros benefícios paralelos, não lineares, que ocorrem simultaneamente a estes processos com RFID. Por exemplo, o sucesso da venda para aquele cliente. que conseguiu a peça de roupa que queria, na cor, no tamanho e no prazo desejado etc. A venda foi realizada com sucesso (ganho linear, tangível) e com a satisfação do cliente em altíssimo patamar (ganho não linear, intangível).

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EVENTO

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AUTOMAÇÃO

Excelência em foco 38 38 jul/ago/set jul/ago/set 2012 2012 [[ BRASIL BRASIL EM EM CÓDIGO CÓDIGO ]]

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Por Denise Turco

Brasil em Código – 2 ª Conferência Internacional da GS1 Brasil sobre Automação e Logística – mostrou como é possível integrar a cadeia de suprimentos com o uso da tecnologia e de padrões globais Companhias do setor público e privado que sabem da importância da tecnologia aplicada à área de logística para promover a eficiência das operações mostraram como conseguem fazer a diferença, apesar de enfrentar barreiras como burocracia, infraestrutura precária, guerra fiscal e falta de mão de obra, durante o Brasil Em Código – 2ª Conferência Internacional da GS1 Brasil sobre Automação e Logística, realizada ueremos em junho, em São Paulo. ser um “O evento é uma das principais referências para as empresas brasileiras em relação à tecnologia aplicatalisador cada aos negócios”, afirmou João Carlos de Oliveira, da linguagem presidente da GS1 Brasil. Cerca de 260 profissionais, especialistas e representantes de instituições de vádos negócios rios setores da economia marcaram presença para no mundo atualizar seus conhecimentos, conferir tendências e trocar experiências. inteiro Entre os convidados, Mark Harrison, diretor do Auto-ID Lab, do Reino Unido, falou sobre os benefíJoão Carlos de cios da visibilidade na cadeia de valor e as tendências O liveira , presidente na área de tecnologia. O capitão Robson Peixoto, da da GS1 Brasil Força Aérea Brasileira, contou sobre o projeto de automação do centro de logística que reduziu custos e aumentou a produtividade. A sustentabilidade e o uso de padrões no relacionamento entre indústria e varejo foram os temas abordados por Flávia Villani, diretora de gestão de serviço ao cliente da Unilever. Hugo Bethlem, vice-presidente-executivo do Grupo Pão de Açúcar, e Luiz Lissoni, vice-presidente de supply chain da Brasil Foods (BRF), falaram sobre os desafios da logística em suas áreas de atuação. A mediação do debate entre os palestrantes e os comentários sobre os rumos da economia ficaram a cargo do economista Ricardo Amorim. Na opinião do presidente da GS1, a conferência se consolidou nessa segunda edição. “Aumentamos o número de palestras em relação ao ano passado, convidamos empresas do varejo, da indústria e da área de defesa e recebemos um público maior nesse ano. Foi um avanço. Para 2013 teremos uma diversidade ainda maior de companhias e profissionais, pois a GS1 atua em 20 segmentos diferentes.” A entidade é responsável por criar e disseminar padrões globais que agilizam os processos na cadeia de suprimentos, aumentam a eficiência na operação logística, reduzem custos e proporcionam melhores práticas comerciais. Presente em 110 países e atuando em mais de 150, a unidade brasileira é a sexta maior no mundo considerando o número de associados – são 55 mil no total. “Assim como a GS1 Brasil é a sexta maior em número de associados, não por coincidência, na minha opinião, o Brasil é a sexta maior economia mundial. Tenho certeza

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Fotos: Marcelo Vigneron

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EVENTO

de que a GS1 cresceu muito nos últimos anos”, afirmou Ricardo Amorim. De fato, a associação evoluiu junto com o País, buscou a vanguarda tecnológica e apresentou inovações para facilitar o dia a dia de toda a comunidade de negócios e do consumidor. Ela foi a responsável por implementar o código de barras no Brasil, desenvolver um trabalho pioneiro com a tecnologia de identificação por radiofrequência, a RFID, e introduzir o processo de sincronização de dados baseado na GDSN, a rede global de sincronização de dados.“Nossa atuação abrangente ganhará um reforço no segundo semestre quando abriremos uma sucursal em Brasília para fortalecermos nossas atividades”, anunciou o presidente. Até o final do ano a entidade vai inaugurar um centro de inovação tecnológica, que facilitará a compreensão sobre o uso dos padrões globais para os associados e o mercado em geral. Outra área de atenção da entidade é a mobilidade “Queremos ser um catalisador da linguagem dos negócios no mundo inteiro”, disse o presidente da GS1 Brasil.

Durante a conferência, o público participou enviando on-line as perguntas para os palestrantes por meio de uma rede sem fio criada especificamente para a ocasião. O evento foi transmitido pela web, com audiência de mais de 70 pessoas, e estava nas principais redes sociais como Linkedin, Facebook, YouTube e Foursquare. FUTURO DA AUTOMAÇÃO Nos últimos anos o Brasil passou por importantes transformações econômicas e sociais. Diante disso, os desafios de agora não são os mesmos do passado. Antes o País não crescia por causa da falta de emprego, hoje um dos problemas é escassez de mão de obra qualificada. “Quando o País começou a crescer é que percebemos os gargalos causados pela falta de investimentos que não aconteceram antes”, disse Amorim. Exemplo disso é que antes a mão de obra era barata e os equipamentos caros. “Por conta disso, a automação não aconteceu. Mas agora essa equação se inverteu e automação vai acontecer”, enfatizou o economista. Duas forças explicam isso: a primeira é a ascensão chinesa e o

impacto na redução de custo de produtos manufaturados, inclusive de equipamentos; e a segunda, é a fragilidade das moedas dos países ricos, em especial do dólar. “Isso significa que fica mais barato importar máquinas e equipamentos. Em épocas de crises agudas, como aconteceu em 2008, e neste momento ocorrem reversões desses processos. Agora o dólar sobe e vai subir mais, porque a crise na Europa está longe de terminar. Mas nos próximos anos o dólar cairá bastante. É por isso que as empresas devem se preparar para a automação. O papel da GS1 nesse sentido se tornará ainda mais importante”, explicou. Segundo Roberto Matsubayashi, gerente de inovação e alianças estratégicas da GS1 Brasil, a associação pode ajudar as companhias a se integrarem às diversas tecnologias por meio de programas de capacitação, grupos de trabalho e materiais informativos disponíveis no site. “Nossa expectativa é que as empresas tenham espírito empreendedor, inovador e atuem de forma mais colaborativa com seus parceiros comerciais.” Confira um resumo das paletras do evento.

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CONTROLE TOTAL

PADRÕES GLOBAIS É consenso no mercado que o investimento em ferramentas de automação gera o aumento da produtividade é essencial para o Brasil continuar crescendo. Nesse sentido, a GS1 pode auxiliar empresas públicas e privadas por meio de projetos que melhoram a eficiência das companhias e beneficiam também o consumidor final. “A eficiência é o nosso objetivo e a inovação é um meio para se chegar lá”, afirmou Roberto Matsubayashi, gerente de inovação e alianças estratégicas da GS1 Brasil. Em parceria com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), a entidade tem um projeto para a adoção do padrão GS1 DataBar que permite controlar a validade dos produtos. Outra frente é o desenvolvimento de soluções que utilizam o código de barras e que possam ser aplicadas em smartphones, de maneira que o consumidor tenha acesso a informações de produtos e promoções. Na área da saúde, disse, a entidade já trabalha em conjunto com hospitais e indústrias farmacêuticas na implementação de padrões para fazer a rastreabilidade de medicamentos. Outras iniciativas da GS1 incentivam o uso de diversas tecnologias e códigos na gestão das operações logísticas e na cadeia de suprimentos com a RFID e o compartilhamento de dados cadastrais. Em relação à troca eletrônica de informações entre parceiros comerciais, também conhecida como EDI, a GS1 está renovando a iniciativa por meio de um programa mundial chamado “Order to Cash” para aprimorar a gestão na cadeia de suprimentos, contou Matsubayashi.

O capitão Robson Peixoto, da Força Aérea Brasileira (FAB), apresentou o projeto de automação do centro de logística localizado em São Paulo (SP). O local armazena e controla a reposição de materiais para 28 postos onde são vendidos uniformes e acessórios para os oficiais. “O projeto pode ser resumido em algumas palavras: rastreabilidade, integração de sistemas, economia de meios e eficiência”, afirmou. A ideia consistiu em unir o uso de transelevadores para movimentação automatizada de materiais com a tecnologia RFID. Cada item possui uma tag EPC com uma numeração única para sua identificação e rastreabilidade em toda a cadeia. O sistema de gerenciamento do armazém (WMS) integrado à RFID envia as ordens de separação de materiais e os produtos são movimentados por esteiras automatizadas e transelevadores. Antes, todo esse processo era manual e levava 28 dias para fechar o ciclo de abastecimento das lojas; agora é realizado em 15 dias. Um dos desafios, contou, foi o trabalho junto aos fornecedores para que os os materiais fossem identificados com a etiqueta RFID na fabricação. “A princípio a ideia era criar um padrão da FAB, mas percebemos que é muito mais fácil usar um padrão já existente, consolidado, e que já possui manuais. Orientamos os fornecedores a entrar em contato com a GS1 para conhecer e implementar os padrões que esperávamos e ainda contamos com a assessoria técnica da entidade.” Considerando apenas a redução da mão de obra, a expectativa é que o investimento retorne em quatro anos. “Outros benefícios foram a diminuição de custos com devolução e a redução do espaço e do tempo de armazenagem. Ganhamos agilidade”. O indicador de eficiência logística OTIF (On Time, In Full), que aponta se o produto foi entregue no tempo determinado e de forma completa, passou de 69%; abaixo da média de mercado (75%), para 100% em seis meses. O projeto iniciado em outubro de 2011 foi objeto de estudos de três universidades, se transformou em case de sucesso e recebeu prêmios.

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EVENTO

OTIMISMO NO LONGO PRAZO Ricardo Amorim, economista e apresentador do programa “Manhattan Conection”, da Globo News, falou sobre as projeções da economia nacional e internacional e a importância da automação do País para impulsionar seu crescimento. “O processo de desalavancagem e redução do consumo nos países desenvolvidos começou em 2008 e vai demorar um bom tempo. O processo inverso acontece no Brasil com o crescimento de renda e do emprego. Isso está só começando.” Porém, nos últimos trimestres, vários segmentos da economia tiveram um recuo nos seus resultados. “Os próximos meses serão piores. Mas isso é passageiro. A perspectiva de médio e longo prazo brasileira, por uma série de razões, continua excepcional e não vai mudar”. Segundo ele, se essa década for igual à passada, em 2022 o Brasil será a terceira economia mundial. A expansão das empresas no País traz a necessidade de planejamento, alertou. “Nós, brasileiros, não temos o costume de planejar o longo prazo por uma razão justa. O Brasil era tão instável que você se preocupava com o amanhã, não dava para pensar daqui a um mês – isso nós começamos a fazer recentemente – e ainda temos dificuldade de pensar a longo prazo. Mas é preciso começar”, enfatizou. Para planejar é preciso ter informação e nesse sentido a automação é a grande aliada das empresas. “A boa informação é a base de qualquer análise. Qualquer tipo de tecnologia que possibilite reduzir a informação à informação útil, em quantidade digerível e que possa ser aplicada, terá um valor infinito.”

O CÓDIGO POR TRÁS DOS NEGÓCIOS Uma das maiores companhias de consumo no mundo, a Unilever, está presente no Brasil há mais de 80 anos fabricando produtos de limpeza doméstica, higiene pessoal, alimentos, sorvetes e bebidas. A operação brasileira é a segunda mais importante para companhia, perde apenas para o mercado norte-americano, segundo Flavia Villani, diretora de gestão de serviço ao cliente da Unilever. Para a executiva, tanto a indústria quanto o varejo têm oportunidade para usar de modo mais intenso a tecnologia e a padronização nas operações logísticas. “Considerando os grandes varejistas e distribuidores clientes da Unilever, 50% usam o potencial total das tecnologias. Ainda temos muita eficiência para ganhar”, afirmou. Em seus armazéns, a empresa adota a RFID para separar caixas, eliminando papel, reduzindo tempo de separação e minimizando erros. A companhia não usa etiquetas RFID para identificar cada item porque a tecnologia ainda é cara para produtos de massa, disse. Uma ferramenta que pode otimizar as operações e eliminar o trabalho manual tanto no varejo como na indústria é o EDI, a troca eletrônica de dados. Hoje 36% do volume de pedidos é enviado eletronicamente; no restante dos casos é o vendedor da Unilever quem digita os dados. Segundo Flavia, a companhia tem um programa para incentivar os varejistas a utilizarem mais essa plataforma, usando o padrão da GS1(confira o case nesta edição). “O código é a chave para indústria e varejo falarem a mesma língua.” As lojas do varejo também podem adotar a tecnologia a seu favor. Em 50% dos casos de ruptura na gôndola, o produto estava na loja fisicamente, mas não estava à disposição do consumidor. “A RFID pode auxiliar nesse processo de gestão.” “A automação traz muitos benefícios e economia de recursos físicos e de capital. A empresa trabalha com estoques mais baixos, causa menor impacto ambiental e gera maior satisfação para o cliente”, concluiu a executiva. Em relação à sustentabilidade, a Unilever criou em 2010 um plano global para reduzir a emissão de CO2 e o consumo de água em suas unidades, entre outras iniciativas. “A distribuição de produtos para o varejo no Brasil é responsável por apenas 2% do impacto ambiental que a empresa gera em termos de gases de efeito estufa. Mas temos metas para diminuir esse percentual na área de distribuição também”, afirmou.

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TRABALHO COLABORATIVO A Brasil Foods (BRF), dona das marcas Sadia, Perdigão e Batavo, é uma das três maiores empresas de alimentos do Brasil e com grande representatividade no mercado externo. A gigante de alimentos abate diariamente oito milhões de animais, possui 60 fábricas no País e 70 Centros de Distribuição (CDs). Os desafios são proporcionais ao tamanho da companhia, que movimenta 1.800 SKUs na categoria de carnes e 650 em produtos lácteos com três temperaturas distintas. “A necessidade de controle de uma empresa com essas características é muito grande, portanto a necessidade de informação é brutal”, afirmou Luiz Lissoni, vice-presidente de supply chain da BRF. Entre os fatores e obstáculos enfrentados para atender com excelência estão os seguintes: a precária infraestrutura dos portos, a tributação complexa, a grande quantidade de fornecedores, a padronização dos animais (em termos de peso e quantidade de gordura), a falta de mão de obra qualificada, a dificuldade de locomoção e restrições de circulação de veículos nos grandes centros urbanos. A área de suppply chain da companhia movimenta oito milhões de toneladas por mês, possui 14 mil colaboradores diretos e 7.500 veículos que percorrem 65 mil quilômetros por mês. Sem contar os outros modais de transporte como o ferroviário e a cabotagem. Em Salvador (BA), possui um projeto piloto de automação do CD para começar, a partir de outubro, a operar com esteiras automáticas. Com isso, espera melhorar a produtividade em 70% na área de separação e ganhar eficiência na seleção do item certo. A ideia é expandir o modelo para outros armazéns da companhia. Outro projeto que otimizará as operações é a integração da distribuição das marcas Sadia, Batavo e Perdigão. Em breve, a entrega dos produtos será realizada ao cliente por um único caminhão. “Para tudo isso funcionar, precisamos de muito controle. A jornada é longa e temos atuado de maneira colaborativa com os parceiros. Acho que estamos no caminho certo.”

SOLUÇÕES SIMPLES PARA OPERAÇÕES COMPLEXAS “A diferença competitiva no varejo se faz com alguns pilares: tecnologia da informação, logística, gente, capital e sustentabilidade”. É dessa maneira que Hugo Bethlem, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar (GPA), falou sobre os fundamentos que norteiam a atuação de uma das maiores empresas varejistas do País. Em 2011, a companhia faturou R$ 53 milhões atuando em diversos modelos de lojas – super e hipermercado, cash & carry, eletroeletrônicos, e-commerce, drogaria, loja de vizinhança e postos de combustível – com as bandeiras Extra, Pão de Açúcar, Assaí Atacadista, Casas Bahia, Ponto Frio e Nova Pontocom. Nos últimos anos, o mercado brasileiro passou por transformações econômicas e sociais que mudaram os hábitos de consumo. As pessoas têm menos tempo para cozinhar e buscam alimentos prontos e congelados. E mais: o consumidor não tem mais estoque de produtos em casa, a loja é o estoque dele. Diante disso, o GPA precisou adequar [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 43

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EVENTO

seus processos logísticos para atender às novas demandas. Depois de 18 meses no processo de conversão das 220 lojas das bandeiras Compre Bem e Sendas para Extra Supermercado, concluído em 2011, a empresa adicionou 22 quilômetros de balcões frigoríficos nas lojas. “Isso muda todo o conceito de logística e distribuição. Precisamos de soluções simples para problemas complexos”, afirmou. A empresa faz isso por meio de um rigoroso planejamento logístico, organização de estoques e da distribuição, além da preparação do recebimento nas lojas. Entre tantas operações, uma das maiores é abastecer os pontos de venda para a “Quarta Extra”, dia de promoções de frutas, verduras e legumes, que movimenta quatro milhões de toneladas na véspera no centro de distribuição de São Paulo (SP). A grande aliada na gestão desse volume gigantesco é uma ferramenta de rastreabilidade. O programa “Qualidade desde a origem” é um banco de dados com informações técnicas dos produtos, desde a produção, passando pela distribuição até chegar à loja. Todas as informações são lançadas em uma plataforma via web e integradas para que o consumidor possa acessá-las via QRCode. “Com essa iniciativa diminuímos dramaticamente a devolução aos fornecedores e podemos garantir a origem dos produtos ao consumidor.”

a GS1 Brasil vai inaugurar um centro de inovação tecnológica, que facilitará a compreensão sobre o uso dos padrões globais

O VALOR DA INFORMAÇÃO No mundo dos negócios, ter a informação correta significa agregar inteligência aos processos e tomar decisões mais assertivas. O valor disso é infinito. Os estudos desenvolvidos pelo Auto-ID Lab, do departamento de engenharia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, vão nessa direção. Foi o que mostrou Mark Harrison, diretor do Auto-ID Lab, em sua palestra sobre as diversas pesquisas desenvolvidas pela instituição e as tendências para a automação (veja entrevista nesta edição). O Auto-ID Lab participa de projetos de relevância mundial em conjunto com companhias de diversas áreas como aeroespacial, farmacêutica, industrial, logística e supply chain, automotiva, alimentícia, entre outros. Os estudos têm foco na tecnologia RFID com base no padrão global EPC (Código eletrônico de Produto), desenvolvido pela GS1. “O benefício do EPC é fazer a serialização e a rastreabilidade de objetos individualmente, o que faz sentido para produtos de alto valor agregado, além de registrar e recuperar o histórico do ciclo de vida de cada produto, peça ou ativo”, explicou. Uma novidade apresentada por Harrison foi o EPCIS (Serviço de Informação do Código Eletrônico de Produto), sistema que compartilha as informações contidas no EPC e fornece ferramentas para melhorar a eficiência, a segurança e a visibilidade nas cadeias de valor. Por meio do EPCIS as empresas têm acesso a um conjunto de mensagens padronizadas para armazenar e compartilhar os dados referentes aos produtos movimentados na supply chain. Com isso, dá para saber onde os produtos estão, por onde passaram, o que aconteceu com eles no caminho, sua autenticidade, quantidade de vendas, etc. Assim a indústria pode produzir na medida certa, sem excesso de estoques. Para exemplificar, Harrison citou o projeto do Auto-ID Lab desenvolvido para a Boeing. Cada peça do avião tem uma identificação única e os pedidos de manutenção e reposição são feitos automaticamente. As informações ficam armazenadas em um banco de dados, que transmite o status de falha da peça para uma estação em terra. O sistema desencadeia o pedido de manutenção, considerando a gravidade de falha, o custo e o fornecedor. Outro exemplo é uma ferramenta que combina EPCIS, geolocalização e Twitter,por meio da qual é possível ver no mapa de Manhattan, em Nova York (EUA), o fluxo de pessoas que transitam pelo local em diferentes horários do dia. 7 898357 410015

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Troca de valor

Depois de investir em nova plataforma de EDI, Unilever estabelece parceria com varejistas de médio porte para otimizar as operações logísticas e melhorar o nível de serviço

A combinação de processos e tecnologia é a aposta da Unilever para melhorar o nível de serviço aos clientes varejistas. Uma das maneiras para viabilizar esse plano, que faz parte da estratégia traçada para esse ano, é o EDI (Troca Eletrônica de Dados). Não é de hoje que a Unilever aproveita os benefícios dessa ferramenta para trocar informações de pedidos com as grandes redes do varejo. Mas em 2010 o investimento em uma plataforma tecnológica mais robusta deu fôlego para a companhia ampliar para outros clientes e, de quebra, colaborar para o desenvolvimento do varejo. “O varejo brasileiro é bastante pulverizado. Há muitos pequenos varejos, redes regionais e familiares que têm grande potencial de desenvolvimento e uso de tecnologias. A ideia é que a Unilever ajude nesse desenvolvimento”, conta Flavia Villani, diretora de gestão de serviço ao cliente da companhia. “Os processos implementados por conta do EDI geram um alinhamento melhor da percepção do serviço por parte do cliente e melhoria dos indicadores”, completa. Com o uso do EDI os pedidos de mercadorias são gerados automaticamente por meio de mensagens com dados padronizados, sem precisar de digitação do comprador do varejista nem do vendedor da indústria. Isso traz uma série de benefícios. Para o varejo, os pedidos trocados de forma automática agilizam o recebi-

mento de carga, porque a empresa sabe previamente o que vai receber e agenda a entrega. A qualidade das informações também é melhor. “Se surgirem divergências de preço, o vendedor consegue corrigir de maneira mais rápida”, exemplifica Renata Franchi, analista da área de gestão de serviço ao cliente da Unilever. Outras vantagens são as seguintes: redução do tempo do ciclo do pedido, controle de estoque, eliminação de papel e redução do custo operacional. Do lado da indústria, por meio do EDI ela consegue verificar quais são as reais ineficiências em relação aos pedidos e se o cadastro está desatualizado. Os tempos na cadeia reduzem também, o que gera melhoria dos processos. “Temos visibilidade dos problemas”, diz Flavia. PROJETO Em 2011, no início do projeto, a meta da Unilever era estabelecer parceria com 40 empresas para utilizar a nova plataforma – 34 redes de médio porte do varejo alimentar e farma aderiram. A maioria nunca tinha utilizado EDI. Por conta do desconhecimento do funcionamento e benefícios da ferramenta, a indústria fez um amplo trabalho de divulgação para explicar as etapas do processo, os códigos envolvidos e a tecnologia utilizada. “As reuniões com clientes para divulgação foram essenciais para o sucesso do projeto”, enfatiza Andreia Franzoe, coordenadora

de gestão de serviço ao cliente da Unilever. Os varejistas aceitaram os desafios e se engajaram. “Não adianta ter a melhor tecnologia se não tiver compromisso”, observa Ana Carolina Freitas, gerente de TI da companhia. Mas várias dificuldades surgiram durante as implementações, tanto do lado da indústria quanto do varejo. A primeira foi uma questão de ordem técnica. A Unilever trafega somente os pedidos via EDI se o varejista tiver o código GLN (Número Global de Localização), padrão da GS1. “Existem outras formas para trafegar os dados, mas o GLN é a única codificação que garante que um determinado cliente tenha um determinado código e que não vai chegar um pedido errado”, explica Flavia. Além disso, a empresa atua em muitos países e o GLN pode ser usado em qualquer lugar do mundo. Assim, os varejistas precisaram aderir ao código da GS1. A Unilever fez um levantamento que identificou que um vendedor eficiente passa o equivalente a três dias do mês digitando pedidos. A maioria leva mais tempo. Portanto promover uma mudança cultural e tecnológica na equipe de vendas foi outro obstáculo enfrentado, dessa vez internamente, pela companhia. O vendedor, que antes digitava os pedidos e tinha total controle sobre isso, precisava acreditar que a ferramenta funcionaria. “Pensando nisso, criamos na plataforma de EDI um sistema de alerta

Fotos: Douglas Luccena/ Divulgação

Por Denise Turco

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no qual o vendedor recebe um SMS no celular confirmando que o pedido do cliente foi enviado. Isso foi uma inovação”, comenta a diretora. Nesse novo cenário, o vendedor passa a ter uma responsabilidade diferente: garantir que o cadastro (dados sobre produtos e preços) esteja correto. Aliás, manter o cadastro atualizado foi outro ponto de atenção do projeto, afinal a Unilever renova constantemente suas linhas de produtos. “O EDI não substitui o vendedor, mas vem para complementar esse trabalho e possibilitar que ele desenvolva melhor o papel de vendas”, conclui Gilberto Rezende, trainee que foi a campo com a equipe de vendas para entender os desafios e as dificuldades envolvidas. As áreas de serviço ao cliente, Tecnologia da Informação (TI), vendas e logística da Unilever trabalharam juntas na divulgação, definição das etapas, elaboração de cronograma e implementação. “Criamos uma estrutura na Unilever, no provedor de tecnologia e também na GS1 que disponibilizou um link em seu site e dedicou um consultor para ajudar a nós e aos clientes”, conta Andreia. A implementação mais rápida foi realizada em 30 dias, outras levaram alguns meses, dependendo das características do cliente, das dificuldades técnicas e estrutura disponível. No balanço final, a indústria conseguiu reduzir o custo operacional, mas o maior ganho foi otimizar a cadeia de valor. Agora é possível saber porque ocorrem as ineficiências, se foi cadastro errado ou se algum processo da cadeia demorou mais que deveria, por exemplo.

Flavia Villani (ao centro) e equipe da Unilever Projeto para troca eletrônica de dados com varejistas uniu esforços das áreas de serviço ao cliente, logística, vendas e TI

Fotos: Douglas Luccena/ Divulgação

CAMINHO SEM VOLTA O Savegnago Supermercados, rede com 29 lojas no interior de São Paulo, é uma das empresas que colheu os benefícios da parceria com a Unilever. A empresa é a sétima maior rede supermercadista do Estado de São Paulo e 17a no Brasil, segundo o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). No ano passado, a rede, pela primeira vez, utilizou o processo de troca eletrônica de dados. Antes, o comprador responsável por uma categoria de produtos gerava um pedido via sistema, mas gastava meio período de seu dia para fazer as solicitações somente para a Unilever, sem contar os outros fornecedores. Com o processo automatizado, ele ganhou tempo para analisar, discutir e traçar estratégias para promover os produtos. “Ao contrário do que se pensava, a venda não diminuiu e o EDI não eliminou a liberdade da negociação dos compradores, porém deu mais foco”, afirma José Sarrassini, diretor comercial e de logística do Savegnago Supermercados. Outra facilidade é que a parceria propiciou ajustes no cadastro de produtos, que hoje está correto, e ajustou os volumes [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 47

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Com EDI, Savegnago Supermercados diminuiu a ruptura nas gôndolas e ganhou agilidade na logística

de mercadorias compradas para um nível considerado saudável. Essa foi uma mudança importante, pois eliminou uma prática comum no varejo brasileiro – as compras no final do mês para fazer volume, que comprometem a operação logística e da loja. A partir daí, o Savegnago e a Unilever estabeleceram um limite de compras mínimo (17%) e máximo (32%) por semana. “Esse equilíbrio é interessante para termos um nível de abastecimento adequado”, diz o executivo. Ou seja, a gestão se tornou mais eficaz e os negócios caminham para a sustentabilidade.

DO PEDIDO AO PAGAMENTO A GS1 Brasil lançou neste ano o programa “Order to Cash” cujo objetivo é ajudar as empresas a implementarem um conjunto de processos desde o pedido, passando pela entrega do produto até o pagamento utilizando o EDI. Cada etapa requer a troca eletrônica de informações comerciais como pedido, aviso de despacho e nota fiscal, entre vendedor e comprador. Agilidade e eficiência nos negócios são os principais ganhos obtidos por meio do programa. Para mais informações, entre em contato com a GS1.

As entregas das mercadorias nos armazéns passaram a ser agendadas, evitando atrasos, o que não era feito anteriormente. “Com o advento da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), o EDI ganhou um aliado maior. Quando recebemos a NF-e antecipadamente é mais fácil porque já sabemos as cargas que chegarão. Ganhamos agilidade também na operação de cross docking. Enfim, o processo gerou confiabilidade, rapidez e facilitou o recebimento e a expedição de produtos para as unidades”, afirma Sarrassini. Os resultados também apareceram nas unidades, que trabalham de maneira mais ajustada e sem ruptura nas gôndolas. A automação possibilitou uma integração total das operações. A maior dificuldade, diz, foi quebrar paradigmas e convencer os colaboradores de que a tecnologia não substitui o trabalho humano, mas possibilita tomar decisões mais tranquilas e claras. Na questão técnica, o Savegnago já utilizava o padrão GS1, mas precisou adotar o GLN. “Tivemos um grande aprendizado e muitos ganhos, porque com o GLN os dados são confiáveis”, acredita o diretor. PLANOS DE EXPANSÃO A parceria do Savegnano com a Unilever foi apenas o primeiro passo para tor-

nar os negócios mais eficientes. Segundo Sarrassini, a expectativa é a de que, até o final do ano, 90% dos negócios sejam feitos via EDI. “Vamos pegar a energia que gastávamos na emissão de pedidos, deixar isso para a máquina fazer e ganhar tempo para se dedicar ao ponto de venda, que é onde tudo acontece”, afirma. A rede supermercadista passou a trocar os dados eletronicamente com mais quatro fornecedores de grande porte. A Unilever também planeja aumentar as transações eletrônicas. Atualmente 30% do volume de pedidos utilizam a plataforma EDI. A meta é fechar 2012 com 19 varejistas. “Temos a ambição de que esse número seja maior, mas damos os passos de acordo com o que cada parceria permite”, acredita Flavia. “Inicialmente a Unilever identificou e convidou os clientes potenciais para fazer EDI. Mas, hoje, são os varejistas que pedem para entrar nessa plataforma”, conta Rodrigo Hong, gerente de gestão de serviço ao cliente. Depois desse caminho sem volta que é o EDI, os varejistas tornaram-se mais exigentes. “Também temos falhas e dificuldades e quando tornamos os processos mais ágeis, aumentamos as expectativas dos clientes. Mas é essa demanda por um alto nível de serviço que nos impulsiona a fazer as melhorias”, conclui a executiva. 7 898357 410015

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PLANEJAMENTO

Fotos: Divulgação/Shutterstock

A arte de planejar

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Em mercados cada vez mais competitivos, traçar estratégias de vendas passou a ser questão de sobrevivência

Fotos: Divulgação/Shutterstock

Por Camila Mendonça Foi-se o tempo em que ser bom vendedor era sinônimo de talento nato e único quesito para fazer uma empresa sobreviver. Em tempos em que a economia brasileira, por mais lenta que esteja, ainda favorece o crescimento acelerado dos pequenos negócios, ter gente talentosa e qualificada não é suficiente para manter as portas abertas. É preciso planejar. Um estudo feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) sobre o tema mostra que o planejamento ganhou mais importância entre os empresários. Mais da metade dos entrevistados considera que uma boa estratégia de vendas é essencial para o sucesso da companhia. A preocupação não é à toa; afinal, as dificuldades de gestão são os principais motivos de falência, principalmente entre pequenas empresas. Com o aumento da qualificação dos empreendedores e da profissionalização dos negócios, a taxa de mortalidade nesse segmento tem caído nos últimos anos, segundo dados de 2011 do SEBRAE. Das 27 unidades da Federação analisadas, 18 aumentaram o índice de sobrevivência de um ano para outro. Na média, a taxa de mortalidade de empresas nos primeiros dois anos de atividade é de 26,9% no País. Na lista dos fatores de gerenciamento necessários para um negócio dar certo está o planejamento de vendas. Mas é importante destacar que planejar não significa apenas estabelecer metas. “Não é só o quanto quero vender, mas como eu farei isso”, ressalta Gustavo Carrer, consultor do SEBRAE–SP.

“Vender hoje é um desafio, porque existem mais variáveis que interferem nesse processo do que antes. Nesse cenário, o mais importante é entregar com qualidade”, explica Rodrigo Geammal, diretor-executivo da Elos Cross Marketing, consultoria especializada em marketing de resultado de vendas. Se antes o empresário tinha de se preocupar em comprar produtos dos melhores fornecedores, de acordo com as principais tendências e novidades do mercado, agora ele adiciona outras preocupações como, por exemplo, um olhar mais atento à concorrência, conhecimentos do câmbio e produtos importados, atenção ao modo de apresentação dos produtos e serviços, relacionamento com cliente para além do ponto de venda, cuidados no pós-venda, entre outros. “A preocupação com a estratégia de vendas surge quando eu começo a ter muita concorrência e muita oferta de produtos e serviços similares aos meus e quando a demanda no meu mercado cai”, explica Alexssandro Mello, consultor e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA). FIQUE DE OLHO Para Maurício Morgado, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV–EAESP), o primeiro passo para traçar a estratégia é fazer uma leitura do mercado. “É necessário pensar em tendências e comportamento do consumidor. O pequeno empresário tem menos dados, porque ele não faz pesquisas. Por

isso para ele é mais difícil lidar com esse planejamento”, afirma. Levantar o histórico de vendas também é fator essencial. “Com isso em mãos, ele consegue fazer uma previsão de vendas futuras mais interessante”, avalia. Com o histórico e as tendências, é hora de definir equipe e metas. “Além disso, é preciso estabelecer que tipo de conhecimento e estrutura ele precisa ter. Com o planejamento, ele consegue antecipar cronogramas”, afirma Carrer. Anote tudo: volume que se pretende vender, mix

Analisar o que foi previsto e o que de fato se consumou é parte da rotina de qualquer empresário. É esse exercício que ajuda a detalhar as metas e a melhorar a estratégia de produtos, disponibilidade de itens na gôndola, canal de distribuição e vendedor. “É preciso entender o produto e saber o que vai acontecer com ele no ponto de venda. Vai haver promoção, lançamento, degustação?”, completa Mello, da FIA. As metas estabelecidas inicialmente devem ser sempre revistas.“O planejamento é uma ferramenta viva dentro da empresa. O empresário tem de acompanhar as mudanças do mercado e adequar as estratégias de acordo com elas”, afirma Geammal, da Elos. Analisar o que foi previsto e o que de fato se consumou deve [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 51

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Rodrigo Geammal, da Elos Cross Marketing “O planejamento é uma ferramenta viva. O empresário tem de acompanhar as mudanças do mercado e adequar as estratégias de acordo com elas”

PEQUENOS ESFORÇOS ATITUDES QUE PODEM FAZER A DIFERENÇA ANTES, DURANTE E DEPOIS DA VENDA l Ouça o cliente e esclareça dúvidas com clareza l Não empurre nada, não insista e não seja

agressivo l Ao falar do produto, considere-o de

propriedade do cliente. Isso ajuda o consumidor a imaginar-se dono e facilita a decisão de compra l Presumir o fechamento da venda com termos como: qual peça separo para o senhor? O senhor quer a montagem para qual dia? l Sugira itens adicionais após o fechamento da venda, aliando-os ao principal produto vendido l Evite frases de fechamento, como: “só isso?”; “o senhor gostaria de ver mais alguma coisa”; “e para o senhor, não vai nada?” l Fale com ênfase a respeito dos produtos que vende, estabelecendo o valor do produto para que se crie um desejo de posse no consumidor l Deixe claro os benefícios do produto que está sendo apresentado l Esqueça os concorrentes. Falar mal deles ao cliente cria um clima negativo, que pode atrapalhar a compra l Converse com o cliente e tente identificar suas necessidades Fonte: SEBRAE-SP

fazer parte da rotina. “É esse exercício que promove a melhora da estratégia e ajuda a detalhar as metas”, analisa Carrer. Ele conta que muitos empreendedores desistem dos planos no meio do caminho quando as metas previstas não se concretizam. “Planejar é lidar com incertezas. As primeiras definições são sempre as mais difíceis. O primeiro planejamento reflete mais expectativa que fatos e pode haver frustração, mas o empresário precisa ter maturidade suficiente para entender que o negócio de sua empresa não é perfeito. O importante é começar a fazer”, recomenda. HORA DA AÇÃO De acordo com o SEBRAE, há quatro fases principais na estruturação das vendas: definição e gerenciamento da equipe, atendimento e relacionamento com o cliente. A primeira fase é a principal e também a mais complicada. As metas de vendas devem ser factíveis e para isso, é necessário munir os vendedores com informação. A equipe que estará à frente do processo deve ser a que detém o maior volume de dados e técnicas de venda. Nesse momento, o treinamento é essencial. Ao contrário do que ocorria no passado, hoje a venda não se concretiza apenas com conversa. Dependendo do produto e serviço oferecido, é preciso

estabelecer estratégias de abordagem. De que maneira a abordagem se relaciona com o produto ou serviço oferecido? E quem da equipe pode desempenhar melhor cada abordagem? “Hoje, o vendedor tem de entregar mais do que o cliente espera. E para isso, o empresário tem de identificar os talentos da equipe e manter a proximidade com o cliente, segurando-o não apenas com apelo técnico, mas emocional”, reforça Geammal. Após coletar informações, definir qual o meio de abordagem, e o papel de cada um da equipe, é hora de colocar o planejamento em prática. A segunda fase da estratégia envolve gestão de vendas e estabelecimento de cotas ou metas fracionadas. Definir um gestor de vendas é necessário para acompanhamento da execução das estratégias traçadas. “Ele estará atento ao movimento de lojas, vendedores e metas”, explica Morgado, da FGV. Esse profissional também ajuda os vendedores no treinamento e os mantém motivados. O estabelecimento de cotas é a meta dividida por vendedor. Caberá ao gestor definir quantos vendedores ele precisa para alcançar a meta de que precisa. Tudo isso atrelado aos objetivos da empresa. É possível estabelecer cotas por volume de vendas, por lucro ou atividades desempenhadas. A terceira fase

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envolve o atendimento e a efetivação da venda. É aqui que o vendedor coloca todo o treinamento e conhecimento em prática. Mas não só. No processo de venda, fatores subjetivos e objetivos devem ser levados em conta. “No ponto de venda é preciso personalizar o atendimento. Hoje, vale a pena investir em consultor de vendas e não apenas em vendedor”, enfatiza Geammal. Isso porque mais do que o produto, quem vende tem de transmitir os valores da empresa, por meio de comunicação objetiva e clara. A organização e limpeza da loja contam pontos, bem como a disposição dos produtos. O modo como a loja se apresenta aos consumidores dependerá do perfil do público que o empresário quer atingir. Essa estrutura também ajudará o vendedor a abordar o cliente, o que deve ser feito de maneira educada e sem pressa. O canal entre empresa e cliente deve se manter aberto para uma relação de confiança. “O vendedor precisa preparar argumentos para a venda, com base nas necessidades do cliente. A partir daí, é preciso assegurar que o consumidor entendeu os benefícios dos produtos”, explica Mello.

Gustavo Carrer, do SEBRAE–SP “Quem não consegue planejar fica refém do mercado e sofre com qualquer tipo de ruptura”

Mauricio Morgado, da FGV É importante definir um gestor para estabelecer as metas por vendedor, fazer o treinamento e manter a motivação

A última fase do planejamento é o pós-venda, uma etapa de relacionamento com o cliente na qual a empresa cria mecanismos que auxiliem o vendedor a conhecer o consumidor – como banco de dados, que podem ser coletados na primeira venda ou por meio de pesquisa.

Mais que o valor da compra, o importante é que nesse cadastro constem a quantidade e o tipo de produto adquirido, o que ajuda a identificar o perfil do consumidor. A partir daí, é preciso estabelecer contato: seja por mala-direta, e-mail ou pessoalmente, quando o consumidor retornar. Realizar campanhas promocionais para os clientes recorrentes ou eventuais ajuda na fidelização. Ferramentas como cartão da loja, cupons de desconto ou outros benefícios também ajudam - e eles devem ser implantados de acordo com a estrutura da empresa. A falta de planejamento da venda de produtos e serviços pode custar caro e acarretar perda de competitividade. “Quem não consegue planejar fica refém do mercado e sofre com qualquer tipo de ruptura. O empresário pode ficar sem ver oportunidades, fica obsoleto e acaba gastando mais e comprando produtos piores”, reforça Carrer, do Sebrae–SP. “Para quem não faz um planejamento de vendas, o risco é ficar à mercê do mercado, de perder a identidade de marca e poder de negociação”, completa Mello. Por isso, o planejamento comercial tem de ser derivado do planejamento estratégico da empresa. 7 898357 410015

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COMUNICAÇÃO TEATRO

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TEATRO

Por Giseli Cabrini

Coxias, camarins e tablados passam a dividir espaço com as ferramentas convencionais do dia a dia empresarial

A nova estrela do mercado corporativo

No lugar das tradicionais salas de reunião ou videoconferências surgem projetores de luz, palcos e espaços cênicos. Computadores, tablets e celulares permanecem desligados. Ternos, gravatas e qualquer vestimenta ou objeto que remetam ao mundo corporativo também são deixados do lado de fora. É hora de entrar em cena e se conectar a uma nova ferramenta corporativa: o teatro. É justamente nesse novo dia a dia que executivos, diretores, gerentes e profissionais em geral encontram uma nova forma de enxergar não apenas o ambiente da empresa, mas a si próprios e aqueles que o cercam. Essa redescoberta promete fazer a diferença na performance desses profissionais e de seus negócios.

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Fotos: Douglas Luccena

Carlos José dos Santos, coordenador de segurança do trabalho, entra em cena no curso da Oficina dos Menestréis “É possível aplicar vários conhecimentos ao dia a dia corporativo, entre eles ser resilente, saber lidar com improviso e frustação”

“Nunca fiquei nervoso quando era preciso falar em público. Saber me comunicar sempre foi uma demanda da minha atividade, mas sentia necessidade de ir além e me tornar uma espécie de showman na hora de fazer apresentações”, revela Daniel Marques, diretor de planejamento do Grupo RAI e aluno do curso desenvolvido pelo Núcleo de Artes Cênicas do Teatro, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). “Nas aulas, aprendi que a plateia não está contra o interlocutor, mas a favor. Ela deseja ouvir a mensagem. Estou tão satisfeito que convenci minha mulher, gerente em uma multinacional, e meu pai, microempresário, a também fazerem o curso”, completa.

Também foi a influência familiar que levou Sueli Carpinelli, executiva do Grupo Alatur, a buscar essa experiência. “Minha filha fez o curso primeiro e me recomendou. Além disso, durante uma apresentação na empresa tive um branco quando percebi que o conteúdo final estava diferente da atualização que eu havia feito. Esse tipo de curso é útil para [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 55

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Deto Montenegro, da Oficina dos Menestréis Curso de teatro desenvolve a reflexão e a percepção

qualquer tipo de profissional que se relacione com pessoas, independentemente do cargo ou do porte da empresa em que ele trabalha.” Séculos atrás, nos primórdios do teatro na Grécia, apenas um ator se apresentava utilizando diversas máscaras para representar cada papel da peça. Hoje em dia o mecanismo é semelhante. Desde que nascemos, passamos a usar máscaras para ter aceitação social, alcançar reconhecimento e evitar julgamentos negativos. Embora o teatro não funcione como psicoterapia, alertam os professores dos cursos, ele é uma ferramenta que leva ao autoconhecimento, processo fundamental para remover essas máscaras que, muitas vezes, passam a ser incorporadas, de fato, pelo indivíduo e que podem limitar seu desempenho, funcionando como uma espécie de trava. “O curso proporciona ao aluno descobrir meios adequados de comunicação, sem que isso signifique manipulação. É

Os cursos de teatro para executivos no Brasil surgiram recentemente como consequência da demanda dos próprios profissionais que resolveram buscar oficinas de teatro, mas que acabavam desistindo por não ter a mesma desenvoltura dos outros alunos uma maneira de auxiliar o indivíduo a não ficar refém das máscaras sociais. Ele aprende a ser um ator não no sentido de representar um papel, mas no de se apresentar a uma plateia de modo satisfatório”, explica Édison Di Faber, criador do curso de teatro para executivos “Apresente-se” realizado em parceria com a UBS – Escola de Negócios. “A pessoa descobre que é maior do que as convenções e, com isso, supera limitações e passa a se comunicar com desenvoltura”, reforça Nany de Lima, professora e coordenadora do curso desenvolvido pelo Núcleo de Artes Cênicas do Teatro da FAAP. O avanço da tecnologia constitui um bônus e um ônus ao processo de comunicação. De um lado, ela amplia e facilita o alcance e a velocidade com as quais as informações são disseminadas. Por outro, leva à impessoalidade das relações, isolamento e solidão. “Não adianta apenas ter uma boa formação. O ser humano só cresce e se transforma por meio do contato com ele próprio e com o outro. As relações precisam ter significado real e não apenas um caráter formal. Essa é uma regra que vale para todos os relacionamentos, inclusive em caso de networking”, alerta Nany. Outro aspecto trabalhado nos cursos busca retirar as amarras que cercam o mundo corporativo e que, em muitos casos, acabam por engessar as pessoas na hora de se expressarem. “As técnicas usadas no ambiente empresarial buscam adequar o comportamento do profissional ao estilo das companhias em que trabalham. Mas muitas vezes, esses treinamentos inibem a comunicação espontânea”, explica Di Faber.

de artes cênicas semelhantes para destravar os profissionais e levá-los ao êxito na hora de se comunicar, habilidade fundamental para obter sucesso seja como executivo ou como um empreendedor. O objetivo não é torná-los atores profissionais. Tanto que nenhum dos dois cursos inclui na grade curricular a apresentação de uma peça ao final das aulas. Entre as ferramentas utilizadas estão exercícios, vivências e treinamentos voltados ao autoconhecimento, expressão corporal e verbal, sensibilização, técnicas de apresentação, respiração e relaxamento. Com isso, os alunos aprendem a melhor maneira de ler um texto, como expressá-lo de diferentes formas e intenções. Os cuidados que se deve ter com a voz, como ouvir o corpo em momentos de tensão e saber relaxar. Além disso, o desenvolvimento da capacidade de improvisação e técnicas para deixar o fluxo criativo se instalar e expressar as melhores soluções para um conflito. No caso da FAAP, o processo de imersão ao mundo das artes cênicas é tão intenso que as aulas acontecem em um ambiente que reproduz o universo teatral. A sala de aula convencional dá lugar a camarins, tablado, palco, espelhos e bancos de madeira semelhantes aos usados por atores profissionais. “Isso é muito importante para que o aluno consiga se desconectar do mundo exterior e passe a ter contato com ele próprio”, ressalta Nany. Embora o curso realizado na UBS seja feito em uma sala de aula tradicional, a forma de aprendizado também não é convencional. A iluminação é reduzida e os alunos também passam por um processo de aquecimento para iniciar os trabalhos.

TÉCNICAS Embora utilizem metodologias diferentes, os cursos lançam mão de técnicas

DEMANDA CRESCENTE Segundo Nany e Di Faber, o surgimento de cursos de teatro para executivos no

Fotos: Fernando Silveira

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Foto: Divulgação

Daniel Marques, diretor do Grupo RAI e aluno do curso de teatro da FAAP “Nas aulas, aprendi que a plateia não está contra ao interlocutor, mas a favor. Ela deseja ouvir a mensagem” No curso de teatro para executivos da FAAP são realizados exercícios, vivências e treinamentos voltados ao autoconhecimento e à expressão corporal e verbal

Fotos: Fernando Silveira

Brasil é recente – surgiu há cerca de cinco anos como consequência da demanda dos próprios profissionais que resolveram buscar oficinas abertas de teatro, mas que acabavam desistindo por não ter a mesma desenvoltura dos outros alunos. A demanda reprimida faz com que a procura por esse tipo de curso seja crescente. A UBS, por exemplo, oferece opção de cursos customizados in company e até mesmo de montagem de grupos teatrais nas próprias empresas.

SERVIÇO FAAP (11) 3662–7232 /(11) 3662–7235 UBS Apresente-se Curso de Teatro para Executivos (11) 3042–0318/ (11) 8649–2525 Oficina dos Menestréis (11) 5575–7472 www.oficinadosmenestreis.com.br

O SHOW TEM DE CONTINUAR Já a Oficina dos Menestréis trabalha de forma diferenciada. O embrião começou em 1981, quando o cantor e compositor Oswaldo Montenegro passou a trabalhar com um novo método para dirigir seu elenco de atores, cantores e bailarinos. Deto Montenegro, irmão e ator de suas peças, adaptou o método para profissionais de todas as áreas, acreditando que o desenvolvimento do reflexo, da percepção e da capacidade intuitiva melhora as condições de vida do indivíduo. Em 1993, nasceu a Oficina dos Menestréis. Atualmente, grupos de cerca de 50 pessoas compostos por públicos diversos participam dos cursos livres de teatro oferecidos ela

Oficina com oito meses duração: quatro meses de treinamento e outros quatro para a montagem da peça ou musical que é encenada ao final do curso. Embora não seja específico para executivos, o curso proporciona conhecimentos, experiências e vivências que prometem fazer diferença na vida profissional. A avaliação é do aluno Carlos José dos Santos, coordenador de segurança do trabalho de uma grande instituição financeira. “É possível aplicar vários conhecimentos ao dia a dia corporativo, entre eles ser resilente, saber lidar com improviso e frustação. Você aprende que o importante é estar no palco e não ser o palco.” Segundo Deto Montenegro, essa é uma das grandes contribuições do curso para quem está no mercado de trabalho. “O brilho do espetáculo não é seu, uma estrela única, mas de toda a constelação. E esse brilho depende do esforço de todos, não só de quem desempenha o papel principal”. Montenegro conta que a Oficina dos Menestréis também oferece workshops nas empresas e planeja criar cursos de teatro corporativo. Diferentemente de um estranhamento inicial, teatro e negócios têm muito em comum. Seja no palco ou nos ambientes de negociações, dominar a arte de encantar com a palavra promete fazer a diferença a cada apresentação, que é única. E que um pouco de drama pode, de fato, trazer benefícios não apenas para a vida pessoal, mas também para o dia a dia empresarial. 7 898357 410015

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PERFIL

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EMPREENDEDORISMO

Por Giseli Cabrini

O guri que virou empresário A primeira grande viagem de um homem promete deixar marcas profundas. Foi o que aconteceu com Eloi D’Avila de Oliveira que, aos oito anos, decidiu iniciar a experiência que mudaria o rumo de sua vida e que o inspirou a criar o Grupo Flytour. Há 37 anos no mercado, a empresa está entre as quatro maiores companhias do setor de turismo no Brasil e se tornou dona de uma grande rede de agências de viagens do País. A trajetória pessoal de Eloi que, à primeira vista estaria fadada a terminar em uma página policial, se transformou em uma espécie de conto de fadas moderno. Hoje, aos 61 anos, a imagem do menino que fugiu de Esteio, interior do Rio Gran1974 Abertura da primeira empresa do grupo

(EDO

Representações Ltda.)

1986 Atinge o primeiro lugar no ranking das maiores emissoras de bilhetes aéreos do

1979 Mudança de nome fantasia para

Flytour Viagens e Turismo

Brasil

Fotos: Divulgação

De menino de rua a fundador do grupo Flytour, a trajetória de Eloi D’Avila de Oliveira é um exemplo de superação

de do Sul, e foi viver nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro divide espaço com a de outros grandes executivos em publicações ligadas ao mundo corporativo e colunas sociais. As dificuldades na infância e adolescência foram decisivas para consolidar o espírito empreendedor de Eloi. Nesse período, ele aprendeu a ser vendedor e comercializava os mais diversos produtos: pastel, jornal, verdura, peixe. Dormia em albergues para garantir, pelo menos, uma refeição ao dia. No entanto, o passo decisivo que serviu para abrir as portas para os negócios ligados ao turismo aconteceu, aos 12 anos, quando ele se mudou para o Rio de Janeiro. Passou a guardar e

1996 Implantação do Sistema de Qualidade Total

1992 Abertura da Flytour Franchising. Início da rede de agências Flytour Business Travel Brasil

Eloi D’Avila de Oliveira, da Flytour “Eu não vendo um produto, mas serviços, então é fundamental que meus colaboradores estejam motivados e comprometidos.” 2005 É eleita pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) a empresa Franqueadora do Ano no Brasil e recebe pela quarta vez o Selo de Excelência em Franchising

2000 É eleita a maior emissora de bilhetes

América Latina pela revista “Gerencia de Viajes” aéreos da

1998 Recebe a certificação IS0 9001 pela qualidade

2001 Lança a emissão

na prestação de serviços

eletrônicos por meio

de bilhetes do

Portal flytour.com

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Fotos: Divulgação

a lavar carros nos estacionamentos próximos ao Hotel Copacabana Palace. A amizade com porteiros garantiu local para dormir nas dependências do hotel, em uma área reservada para os funcionários. Sua vivacidade e esperteza chamaram a atenção de um guia turístico que o apresentou para agência Stella Barros. Retornou a São Paulo, aos 17 anos, onde trabalhou na Bradesco Turismo e nas Linhas Aéreas Paraguaias. Com a experiência adquirida em negociar com agentes de viagens e companhias aéreas, o jovem fundou, em 1974, a Eloi D’Avila de Oliveira Representações (EDO) que, posteriormente, deu lugar à Flytour Agência de Viagens e Turismo. Arrojado e bem articulado, Eloi continuou investindo e acreditando no setor de turismo. Com isso, transformou a Flytour em um grupo que hoje possui quatro divisões: uma área dedicada ao

gerenciamento de despesas em viagens corporativas (Flytour American Express Serviços de Viagens); outra especializada na gestão de franquias e expansão da rede por meio do licenciamento da marca (Flytour Franchising); a terceira dedicada à distribuição de soluções para os agentes de viagens (Flytour Travel Solution); e a divisão mais recente (Operadora Flytour Viagens), que atua na distribuição e comercialização dos produtos por meio de agentes de viagens em todo o País. A Operadora Flytour Viagens, que exigiu R$ 15 milhões em investimentos, entrou em operação neste ano. “O objetivo é atender às necessidades de lazer dos funcionários dos nossos clientes corporativos. O formato é o mesmo que já oferecemos a esses clientes que são pequenas, médias e grandes empresas. Ou seja, prestar um serviço de excelência em turismo que permita gerenciar recursos em viagens por meio de redução de custos e controle de gastos”, diz o executivo. “O consumidor final que deseja usufruir dos serviços Flytour pode fazer isso por meio de agentes de viagem”, acrescenta. Os recentes indicadores que mostram um esfriamento da atividade econômica do País e sinalizam prováveis turbulências para os negócios não esfriam o entusiasmo de Eloi com a nova divisão. “O futuro do turismo no Brasil é promissor. O item viagem ainda não está entre as três prioridades de consumo da população.” O próprio executivo é um exemplo disso. Embora faça cerca de 20 viagens por ano, poucas são para momentos de lazer. Entre os destinos internacionais preferidos estão: Europa e Caribe. Já no

Brasil, Eloi destaca Bahia e Rio de Janeiro. Mas o destino dos sonhos do criador da Flytour fica em Portugal. Trata-se de Vilamoura, que se destaca por sua marina da qual é possível apreciar o sol, o mar e o céu azul do Algarve. VISÃO DE NEGÓCIOS Autoditada, Eloi diz que aprendeu com a escola da vida, mas que na hora de montar um negócio, além da vocação natural e do prazer em estar à frente daquela empreitada, é preciso lançar mão de ferramentas tradicionais. Entre elas, estabelecer um plano de negócios e fazer um estudo sobre os pontos fortes, fracos e oportunidades e ameaças envolvidos. Entre os diferenciais do grupo Flytour, o executivo destaca a capacitação dos funcionários. “Eu não vendo um produto, mas serviços, então é fundamental que meus colaboradores estejam motivados e comprometidos. E, para isso, capacitação é um ponto crucial.” E acrescenta:“o contato direto com as pessoas também faz a diferença. Eu, por exemplo, não tenho sala, nem secretária. O compromisso tem de ser com o cliente e não com o chefe.” Ainda segundo Eloi, a filosofia adotada pela Flytour consiste na seguinte analogia: “a vara de pescar é o hardware; a isca, o software; o funcionário, o pescador e o peixe, o cliente.” Como na letra de autoria de Chico Buarque, o guri de Esteio que na sua meninice disse que um dia chegava lá, afirma estar longe de ter completado sua jornada. Mas que ele chegou lá, isso já é fato e não mais um sonho. 7 898357 410015

2007 Adquire a American Express Business Travel no Brasil e torna-se licenciada da marca no País

2008 O Grupo Flytour é composto por mais de

200 unidades de País

negócios no

2009 Implementação do processo de Business Inteligence (BI)

2011 A empresa embarca mais de 3, 8 milhões de passageiros. A Flytour Franchising torna-se master licenciadora da marca Flytour American Express no Brasil e credencia também a rede de franquias sob a nova marca

2010 A companhia atinge a marca de 2,2 mil colaboradores e mais de 10 mil

2012 Início das operações da Flytour Viagens. O

pessoas treinadas pela academia

grupo possui atualmente

Flytour – Gestão do Conhecimento,

2,6 mil funcionários

entre colaboradores e clientes

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RECURSOS HUMANOS

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COACHING

Assuma as rédeas e encontre o caminho para o sucesso Por Giseli Cabrini Uma expressão em inglês, coaching, tem se tornado cada vez mais popular no Brasil como promessa de diferencial na forma de gerir negócios ou a própria carreira. Mas, afinal de contas, o que isso significa na prática? O que diferencia o coaching de outras ferramentas como consultoria e treinamento? E o mais importante: você está preparado para se envolver nesse processo?

A origem da palavra coach, do inglês carruagem, permite uma analogia com seu significado atual no mundo empresarial: um meio que transporta alguém para o destino final que, no caso, é o sucesso pessoal e profissional. A associação do termo ao esporte, coach virou sinônimo de treinador, também facilita a compreensão da utilidade dessa ferramenta. A função do coach é levar quem o contrata a atingir melhor performance dentro do grupo ao qual pertence. No entanto, diferentemente de outros serviços que também buscam aprimorar desempenhos seja do profissional ou do negócio em si (veja quadro), no coaching atingir metas implica mudança de atitude. Essa transformação, que começa pelo gestor, executivo ou dono da empresa, precisa ser disseminada a todos os que estão envolvidos no negócio. Trata-se de um trabalho comportamental que alia ferramentas e estratégias de gestão, o que o difere de uma terapia convencional.

Antes de buscar um coaching é preciso ter em mente que expectativas distorcidas e comportamentos reativos podem inviabilizar os resultados. Os especialistas são unânimes. Coaching não é remédio, modismo ou uma espécie de babá corporativa. Ser um coachee, ou seja, o indivíduo que passa pelo processo de coaching, demanda assumir responsabilidades pelos próprios atos e problemas, estar aberto para questionamentos e comprometer-se com metas estabelecidas previamente. Além disso, o profissional nunca deve ser forçado a fazer coaching. Antes de contratar esse tipo de trabalho, é preciso sempre se certificar sobre a idoneidade do profissional, colher referências e fazer uma entrevista prévia. Cada sessão de coaching precisa terminar com pelo menos uma ação para ser executada pela pessoa e deve aproximá-la de sua meta de competência. Segundo Edson Carli, sócio-diretor responsável pela área de consultoria da

Fotos: Douglas Lucena/Divulgação

Ao aliar trabalho comportamental a técnicas e estratégias de gestão, coaching promete ajudar profissionais a aprimorar desempenho pessoal e nos negócios

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GDT Brasil e autor de livros sobre o tema, fazer coaching é se abrir para uma nova forma de gerenciar a si mesmo e aos outros. Isso porque a ferramenta representa uma ruptura com o modelo de gestão de “mando e controle”, criado nos Estados Unidos e reproduzido no Brasil. Originado após a Segunda Guerra Mundial, e baseado em fundamentos do fordismo (produção industrial em massa), esse modelo prega que o importante não é o que indivíduo pensa, mas como ele desempenha suas funções. Define padrões, mas não garante que a execução seja feita da melhor forma. “O coaching é justamente o oposto. Ele respeita a história do indivíduo e suas crenças de forma a conectá-las às suas atividades, aos valores e à missão da empresa na qual ele trabalha. Coaching é liderar, servindo.” RESULTADOS Os especialistas garantem que o investimento na ferramenta vale a pena. Em primeiro lugar por demandar menor custo de consultoria, que é calculada por hora. Em segundo, pelos resultados alcançados, que costumam ser mais rápidos e eficazes. Segundo o Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), pesquisa realizada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), em 2009, mostra que em um grupo de dez executivos que realiza-

Fotos: Douglas Lucena/Divulgação

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO

Do universo do transporte ao atual mundo corporativo. Os primóridos do coaching remete a 1400, em Kocs, pequena vila da Hungria, onde começa a produção de carruagens. A novidade recebeu o nome de kocs – em inglês, coach. Em 1830 o termo coach é utilizado em universidades inglesas para denominar o tutor, aquele que conduz e prepara os estudantes para exames. No ano seguinte, a palavra coaching foi utilizada pela primeira vez no âmbito dos esportes e, em 1900, passa a ser usado para denominar técnicos desportistas. Algumas décadas depois, em 1950, o conceito é introduzido na literatura de negócios como uma habilidade de gerenciamento de pessoas. E nos 1980, os conceitos de coaching executivo são inseridos em programas de liderança. Fonte: IBC

ram coaching, 100% aperfeiçoaram a capacidade de ouvir na essência, 80% melhoraram flexibilidade e resiliência, 80% aprenderam a aceitar melhor as mudanças na vida pessoal e profissional e 70% evoluíram na forma de se relacionar. EXPANSÃO Embora o coaching tenha desembarcado no Brasil há poucos anos, sua utilização é crescente. Existem várias modalidades: coaching corporativo e organizacional, coaching in company e desenvolvimento de líderes (também chamado leader coach). Uma das mais recentes é o retirement coaching, voltado aos profissionais em fase de aposentadoria. “Além de prepará-los para essa nova etapa da vida é uma forma da empresa manter o contato com um colaborador experiente e evitar que todo o conhecimento acumulado possa parar nas mãos da concorrência”, explica Carli. Mais de 20 mil pessoas já passaram pelos workshops, palestras, treinamentos e certificações ministradas pelo

Edson Carli, da GDT Brasil Coaching respeita a história do indivíduo e suas crenças de forma a conectá-las à missão da empresa na qual ele trabalha IBC, afirma José Roberto Marques, presidente do instituto. A entidade oferece uma pós-graduação com foco em coaching em parceria com instituições de ensino superior. PARA TODOS Outro aspecto que mostra a popularização do coaching é a procura crescente dessa ferramenta por pequenos e médios empresários, microeempreendores individuais e profissionais liberais. “O coaching não está ligado, diretamente, ao tamanho da organização e, sim, às necessidades reais do profissional que o contrata. Pode ser utilizado inclusive por uma pessoa física para aconselhamento ou plano de carreira. No caso de um empreendedor, o coaching é interessante para avaliar quais as competências que ele [ BRASIL EM CÓDIGO ] jul/ago/set 2012 61

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RECURSOS HUMANOS

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PARA CADA FERRAMENTA, UM RESULTADO

CONHEÇA AS VÁRIAS MANEIRAS DE BUSCAR O APRIMORAMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL Carlos Eduardo Oliveira, da People Right O coaching não está ligado ao tamanho da organização e, sim, às necessidades reais do profissional que o contrata

deve desenvolver. E, na sequência, é recomendado um trabalho de consultoria para a elaboração de um plano de negócios, por exemplo”, aconselha Carlos Eduardo Oliveira, diretor-executivo da People Right. A prova de que o coaching pode ajudar negócios de pequeno e médio porte é que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) adota a ferramenta tanto internamente quanto externamente. Em 2008, o SEBRAE Nacional incluiu o coaching em seu programa de desenvolvimento de lideranças. “Atualmente, temos 50 pessoas participando desse projeto. São gerentes, gerentes adjuntos, assessores, chefes de gabinete e diretores. Entre os resultados já obtidos estão: melhoria na integração entre pares e equipes, gestão de equipes e foco de atuação, considerando as metas institucionais definidas anualmente”, afirma Mara Bauer, analista técnica e responsável pelo programa. Entre as iniciativas para o público externo, no Distrito Federal a entidade promoveu neste ano palestras gratuitas e oficinas subsidiadas de coaching em-

presarial para micro, pequenos e médios empresários locais. A adesão surpreendeu, e inspirou o SEBRAE a lançar o primeiro curso de coaching, com 15 horas de duração. A exemplo das oficinas, o valor final também será subsidiado por meio de parcerias com sindicatos regionais e será de R$ 100. “Temos cerca de 90 mil empresas na região de pequeno e médio porte. A ideia é que, em dois anos, possamos atingir 50% desse universo com ferramentas de coaching”, afirma Ary Ferreira Júnior, gerente de capacitação empresarial do SEBRAE. Há 12 anos à frente da Nova Forma Interiores, fabricante de divisórias, o economista Wilson Soares da Consolação gostou tanto da iniciativa proporcionada pelo SEBRAE, que pensa em estender a experiência aos funcionários. “O coaching abriu meus olhos no sentido de valorizar mais meus colaboradores. É preciso compartilhar ideias e fazer com que os funcionários se sintam satisfeitos e motivados. Afinal de contas, eu passo mais tempo com eles do que com minha própria família. Quero ser, de fato, um líder e não mais o chefe”, conclui o empresário.

COACHING > É voltado para a pessoa física com objetivo de trabalhar aspectos comportamentais. Pode ser contratado pela empresa e oferecido ao executivo ou, diretamente, por ele > Usado como ferramenta de desenvolvimento de habilidades, competências e atitudes, promove transformações duradouras, maior engajamento entre os profissionais da empresa e fortalece o indivíduo CONSULTORIA > Direcionada para a empresa, trabalha aspectos específicos de um negócio ou dele como um todo, a partir de diagnósticos > Fornece conhecimento especializado e soluciona problemas da empresa e lida com a organização como um todo ou com suas partes e não com indivíduos dentro dela MENTORING > É quando um colega de trabalho sênior, considerado mais preparado e detentor de maior conhecimento, dá conselhos e atua como modelo COUNSELING > Trabalha com pessoas que se sentem constrangidas ou insatisfeitas com sua vida, por isso buscam orientação e conselhos. O objetivo é livrar-se de algum sofrimento ou desconforto, mais do que avançar rumo a metas desejadas TERAPIA > Trabalha com quem busca alívio de sintomas psicológicos ou físicos. A proposta é buscar a cura emocional e lidar com a saúde mental da pessoa TREINAMENTO > É o processo de adquirir habilidades ou conhecimentos por meio de estudo, experiência ou ensino. Em geral tem como enfoque desenvolver habilidades específicas para resultados imediatos Fontes: IBC, SEBRAE Nacional e People Right Consulting

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Fotos: Douglas Luccena

PERDAS & GANHOS

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GESTÃO

Por Raquel Sena

MAIS CRITÉRIO NA ESCOLHA DE FRANQUEADOS

COMPARTILHE suas experiências com os leitores da Brasil em Código e conte onde enfrentou dificuldades – operação, tecnologia, gestão, recursos humanos etc. – e qual foi a solução encontrada. Escreva para a redação: revista@gs1br.org

Quem mora ou circula por São Paulo adora comer cachorro quente na rua. Os carrinhos que vendem o lanche já fazem parte da paisagem da capital paulista. Leandro Neves Galvão dos Santos sempre foi fã da iguaria. Em 1993, aos 19 anos, ele trabalhava como Office-boy na loja de tintas do pai e quando precisava ir ao centro fazia questão de comprar cachorro quente no mesmo local. Um dia teve curiosidade de saber sobre os lucros obtidos com a venda do lanche. O dono do carrinho lhe contou que tinha conseguido adquirir vários bens com o negócio. “Pelas minhas contas, era possível ganhar cerca de R$ 3 mil por mês, o que na época era um valor alto. Meus olhos brilharam na hora e pensei: ‘essa é a minha chance’”, conta Santos. Naquele mesmo ano ele comprou um carrinho e começou a vender cachorro quente. Ele escolheu um nome - Black Dog – e pediu para um amigo criar um logotipo. Começava aí uma trajetória de empreende-

dorismo. No início, o rapaz se dividia entre os afazeres na loja do pai, na Vila Santa Catarina, na zona sul da cidade, e seu carrinho que ficava estacionado na porta do estabelecimento. Em 1995, quando o pai fechou a loja, ele passou a se dedicar integralmente ao seu comércio. Depois de mudar de ponto diversas vezes, em 1997 passou a vender cachorro quente na avenida Paulista, um dos pontos mais movimentados da capital. Os lanches fizeram um sucesso inesperado e, naquele ano, Santos abriu sua primeira lanchonete na mesma região, mantendo o nome inicial. O diferencial dos recheios, a diversidade de salsichas e o atendimento conquistaram os consumidores. O Black Dog ficou conhecido na cidade inteira. Vislumbrado com tantos resultados positivos, ele inaugurou várias lojas. Para ajudar na expansão, decidiu trabalhar também com o sistema de franchising e a primeira franquia foi aberta em 2005. Ao final de 2009 a rede possuía 16 lanchonetes.

Tudo parecia estar indo de vento em popa até que os problemas apareceram. “Infelizmente comecei sem conhecer direito como funcionava o sistema de franchising e as reclamações nas franquias pela demora no atendimento, lojas sem gerente, falta de produtos, entre outros, começaram a surgir. Por causa disso tive que fechar 50% das unidades”, revela. As lanchonetes não alavancaram por causa da má gestão. “Por falta de conhecimento, eu não exigia comprometimento por parte do franqueado e isso me prejudicou. Mas serviu de lição”. Com as perdas sofridas, o empresário analisou a situação e corrigiu as falhas. Hoje, aos 38 anos, Santos está mais experiente e criterioso. “Exijo que o franqueado fique à frente do negócio. Se ele não estiver disposto, sugiro que procure outro negócio, porque sei que não dará certo. A gestão é um aprendizado, antes eu agia mais com emoção e agora uso a razão”, conta. Atualmente a rede conta com sete unidades em São Paulo, entre lojas próprias e franquias, e uma em Salvador (BA). A meta, segundo o empreendedor, é fechar o ano com 20 lanchonetes. E não para por aí. Empresários do México, do Japão e da Suíça têm interesse em investir em franquias da marca e experimentar o sabor do sucesso do Black Dog. 7 898357 410015

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OPINIÃO

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VAREJO

O setor de varejo brasileiro vive um acelerado processo de mudança, o que equivale à abertura de boas oportunidades de negócio, mas apenas para as empresas e os grupos que se movimentarem rápido e que estão preparados para as especificidades de nosso mercado. Em 2014, o Brasil promove a Copa do Mundo de futebol, mas não são os animados fãs do esporte que estão transformando as ruas do País em uma espécie de “ONU”. Cada vez mais é possível encontrar pessoas falando espanhol, inglês e outras tantas línguas, o que mostra a face humanizada da maturidade econômica brasileira. Passamos por uma profunda mudança social, que traz consigo oportunidades enormes para as empresas. Estima-se que 35 milhões de pessoas vão ascender à classe média brasileira até 2014, somando-se aos 32 milhões que já se enquadraram nesse grupo social na última década. Esses novos consumidores têm amplo acesso a crédito barato e já demonstraram gostar de comprar. Ao longo dos últimos anos, a valorização do real em relação às moedas estrangeiras, especialmente o dólar, fez despencar os preços de tablets, PCs, TVs e outros produtos. O PIB avançou 7,5% em 2010 e, embora o crescimento da economia tenha desacelerado em 2011, com uma evolução de 2,7%, não há dúvida de que o Brasil conquistou um lugar na mesa de negociações de alto nível da economia global. Os recursos naturais disponíveis têm sido “garotos propaganda” do avanço da atividade econômica, liderado por empresas ávidas por aquisições. Mas as companhias do segmento de consumo, especialmente as varejistas do setor de alimentação, também se beneficiaram desse crescimento. As redes Casino, Carrefour e Walmart formam o grupo no país conhecido como

Tendências no atrativo varejo brasileiro

big three (as três maiores), e a consolidação nesse setor tem sido rápida. Ainda existem oportunidades disponíveis, principalmente em setores não alimentícios. Algumas redes norte-americanas e europeias, desde a Target até a Tesco, tendem a realizar grandes movimentos no Brasil, e certos players indicam que esses grupos podem já estar por aqui “reconhecendo o terreno”. No entanto, as possíveis entrantes devem estar preparadas para eventuais perdas financeiras no início de sua incursão no País. O mercado consumidor brasileiro é generoso, porém difícil de ser conquistado. A tributação é punitiva. Aspectos logísticos estão melhorando, graças, em parte, aos preparativos para a Copa e para a Olimpíada de 2016. Todavia os custos logísticos são equivalentes a aproximadamente 10% do PIB, e o transporte de bens até zonas rurais continua sendo uma tarefa árdua. Alguns economistas se afligem em relação a uma possível bolha de crédito, e o número de brasileiros entrando no mercado habitacional gera certa preocupação. Mas o Brasil conta hoje com estabilidade econômica e um governo que interfere pouco nos mercados – especialmente em relação ao varejo – e está fazendo grandes progressos na questão tributária, onde se percebe existir vontade política para a mudança. Para as grandes empresas e grupos do setor de consumo, a questão que fica não é quando investir, mas como fazê-lo.

Foto: Luiz Machado

Carlos Pires

Sócio responsável pelas áreas de Consumer Markets – Brasil e Audit-SP da KPMG

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