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Controle de Roedores

Estações de Isca Ignoradas por Roedores

As caixas porta iscas são implementos amplamente utilizados, recomendados e utilizados no Manejo Integrado de Roedores em todo o mundo. Compreender seu papel, pontos fortes e limitações permitirá um trabalho mais eficiente no campo. Compartilho com os profissionais técnicos minhas reflexões e comentários com base na experiência de campo e na bibliografia que trata deste importante tema.

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Esses implementos foram projetados para:

• evitar que crianças e animais tenham acesso ocasional às iscas;

• permitir a fixação das iscas, prevenindo que acidentalmente se movam para área externa;

• proteger as iscas e prevenir seu deterioramento em decorrência dos efeitos do meio ambiente, tais como chuvas, ventos, calor e entre outros;

• facilitar o mapeamento dos pontos de iscagem para melhor organização e planejo bem como para programas auditáveis;

• monitorar de forma mais simplificada o consumo e reposição das iscas;

• evitar furtos das iscas caso o porta isca ofereça dispositivo de segurança;

• conceder em seu interior um ‘espaço protegido” para o roedor consumir as isca de maneira abrigada. Mas coloco esse ponto em discussão, por dois fatores, o comportamento dos roedores em mover as iscas a suas tocas e/ou abrigo que o considerem mais seguro e a própria neofobia (medo de qualquer coisa nova).

Responsável Técnico de Higiene Ambiental BASF Argentina SA Consultas: ambiental-ar@basf.com

Revisão e correção: Jefferson Andrade BASF Brasil S.A

As formulações, formatos e tamanhos comerciais são diversos. Em algumas indústrias são exigidas uma certa resistência a impactos, golpes, quebra e trava de segurança.

Por muitas vezes recomenda-se a fixação das porta iscas ao piso, estabelecendo o que se chama de ponto de iscagem entre outros nomes como, ponto de monitoramento, ponto permanente de envenenamento (PPE) e etc.

Os pontos de iscagem comumente levam adesivos ou placas com inscrições relacionadas às empresas de controle, contendo a o número ou identificação do porta isca, data do monitoramento e legendas alertando “Cuidado Veneno”

Mas, nestas descrições, não é indicado o real papel que os porta iscas desempenham no controle de roedores à campo. Podem-se pensar que os roedores encontrarão e consumirão em seu interior iscas rodenticidas, ou que ficarão presas em placas de colas ou até mesmo que os roedores serão aprisionados e mortos em seu interior. Isso parece ideal, mas sabemos que nem tudo é tão linear.

Na prática tudo se torna mais complexo e aspectos relacionado a caixa porta iscas, o tipo de isca utilizada e sobretudo ao comportamento dos roedores devem ser analisados.

Determinar os pontos de iscagem sistematicamente ao longo das áreas a serem tratadas não nos garante total controle das colônias de roedores que infestam o ambiente infestado em questão. Equivocadamente podemos ter falsos negativos, ou seja, nem sempre o não consumo das iscas dentro das caixas porta iscas é sinônimo de um ambiente controlado, pois muitas vezes, os roedores ao menos o visitaram.

Roedores frente as caixa porta iscas.

Uma pergunta recorrente que os profissionais de controle de pragas nos fazem é: em certos casos os roedores estão ativos, mas não entram nos dispositivos porta iscas.

Nem sempre os roedores entram nos dispositivos porta iscas, mesmo quando bem localizados. A decisão dos roedores de fazê-lo ou não, depende de múltiplos fatores. Os comportamentos dos membros de uma colônia diferem uns dos outros no mesmo ambiente.

Os roedores têm diferentes atividades e papéis para os quais a decisão de entrar em uma caixa porta iscas com iscas ou placas de colas (com atrativo) pode não ser uma prioridade para eles.

A neofobia a caixas ou até mesos as iscas poderia ser uma das muitas explicações, mas podemos analisar outras relacionadas a hábitos circunstanciais dos roedores nos quais eles investem seu tempo em aspectos que descrevemos a seguir:

• Tempo dedicado à reprodução. Quando as fêmeas entram no cio há um ambiente caótico com brigas e correrias. Os adultos concentram-se na cópula;

• Tempo dedicado a lutas por território ou disputas entre os dominantes da mesma colônia. Nem tudo é harmonia;

• Tempo gasto em tarefas de construção de ninhos, tocas e passagens, que consomem energia;

• Tempo investido na limpeza e manutenção das tocas;

• Competição com outras fontes alimentares. Pode haver alimento suficiente para a colônia e não necessitarem buscar por fontes novas, como as próprias iscas;

• São metódicos e memorizam suas rotas de forrageamento, se o ponto de iscagem não estiver próximo aos seus caminhos pode não haver o interesse ou necessidade de ingressar nas caixas porta iscas;

• Nem todos os indivíduos saem para explorar o ambiente em busca de alimentos, pois há hierarquias e idades diferentes. Roedores jovens, por exemplo, são muito receosos, transitam normalmente são ao redor ou muito próximos fora de seus ninhos;

• Roedores dominantes (como alfas e betas) são normalmente os que podem acessar os pontos de iscagem longe de seus ninhos e de fato, esses representam apenas uma parte da colônia;

• A presença ou medo de predadores. As trilhas e caminhos por eles marcados são locais por vezes expostos a predadores e os roedores preferem correr por eles com velocidade suficiente até chegarem ao abrigo transitório, caverna de passagem, toca ou local de alimentação. Os roedores se movem sabendo que correm o risco de serem predados.

• Os roedores exploram o ambiente sabendo que correm riscos. Suas trilhas e caminhos marcadas por eles são muitas vezes ambientes expostos a predadores, portanto, por muitas vezes preferem correr em altas velocidades entre os pontos de alimentação e seus ninhos ou abrigos, o que impedi exploração a fontes novas de alimentos.

Outros aspectos relacionados a nossas atividades de controle.

• A caixa porta iscas é um elemento geralmente feito de material plástico que pode perturbar a arquitetura do ambiente colonizado. Isso pode gerar neofobia que pode ser temporária ou até mesmo permanente;

• Que elementos ou tipo de iscas está dentro que poderia encorajar um roedor a entrar nas caixas porta iscas? Bloco rodenticida ou apenas uma placa de cola?;

• A relativa abundância de alimentos disponíveis em relação à presença e qualidade nutricional das iscas no porta iscas;

• Quantos blocos de rodenticidas (dose por ponto de iscagem) são colocados dentro dos porta iscas. Quanto mais blocos houver, maior será o interesse do roedor em entrar;

• Possível rejeição devido a caixas de iscas contaminadas com odores estranhos à colônia (por exemplo, cheiro de inseticidas, combustível, etc.);

• A localização das caixas porta iscas estão de acordo com locais estratégicos ou está distante deles? Isso é frequentemente visto em programas de controle de Rattus rattus, onde as caixas são colocadas apenas no nível do solo e não contemplam iscagens em partes altas, por onde essa espécie pode frequentar;

• Aspectos sobre a qualidade da isca rodenticida utilizada é outro ponto que não é considerado e se expressa em sua palatabilidade/atratividade e propriedades nutricional da isca, bem como seu estado (deterioração). Existem muitos aspectos que devem ser considerados ao escolher uma isca de qualidade;

• As aberturas de acesso à caixa de iscas podem ser pequenas. O tamanho das aberturas nos porta iscas, se forem muito pequenas, podem limitar a entrada dos roedores;

• As iscagens fixas em perímetros (pontos mais tradicionais) nem sempre abrangem os locais de atividades dos roedores. Em “fases de ataque” (quando estamos iniciando o controle ou há um pico de in- festação) esses sistema de iscagem fixas em perímetros não são tão funcionais, pois não permitem a flexibilização ou adaptação de pontos de iscagem mais efetivos, conforme o programa de controle e diagnósticos aferidos anteriormente que levam em consideração o comportamento e como os roedores exploram o ambiente.

Para que um roedor seja controlado após consumir uma isca raticida localizada dentro de uma caixa porta iscas, uma cadeia de decisões prévias deve ser estabelecida:

1. Que o roedor encontre um dispositivo porta iscas em sua área de confiança ou segurança;

2. Que acesse ao interior do porta iscas sem inconvenientes;

3. Que ao fazer o contato com a isca permita manipulá-la de forma segura;

4. Que o roedor consuma a isca de forma confortável e a deguste sem rejeição;

5. Que por fim, consumam minimamente a dose letal da isca utilizada. A dose letal dos produtos comerciais pode variar aproximadamente de 1,3g a 9g por roedor. Ou seja, a dose letal muda dependendo do ingrediente ativo anticoagulante e de sua quantidade presente na formulação, além da espécie alvo a ser controlada. Se o roedor não chegar a consumir a dose letal estabelecida pelo seu peso corporal, o roedor não será intoxicado.

Sabemos que esse processo linear é afetado por muitos fatores. Sabemos que as iscas rodenticidas comerciais têm diferentes qualidades e conteúdos nutricionais e isso define claramente o interesse: neofilia/consumo, ou neofobia/rejeição as iscas.

Muitos blocos são feitos com uma base com alto teor de parafina e este produto não é um alimento palatável e nutritivo para o roedor. Não é o caso dos blocos prensados onde 99,9% do bloco é alimento nutritivo à base de grãos e farinhas, como apresentado no rodenticida Storm® com formulação exclusiva.

Resumo

Em resumo, acredito que antes de analisar a questão das caixas porta iscas, devemos começar com um bom diagnóstico prévio a cada visita, pois esta é a base de qualquer programa profissional de manejo integrado. Dessa forma, será possível determinar a escolha e o uso correto dos porta iscas, escolher o melhor rodenticida, definir a localização estratégica de acordo com as espécies presentes e analisar o risco potencial da infestação considerando o comportamento dos roedores dominantes e a colônia como um todo.

O diagnóstico correto permite, entre outras coisas, como, definir o código de comportamento específico para cada colônia dentro da espécie e entre espécies. O conhecimento desses padrões é a essência do programa de controle. Sem diagnóstico não há programa de controle bem sucedido.