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¦ Editorial ¦ Ano XI • nº 60 Maio | Junho 2013

www.graosbrasil.com.br Diretor Executivo Domingo Yanucci Gerente de Marketing Marcos Ricardo da Silva Colaborador Antonio Painé Barrientos Matriz Brasil Av. Juscelino K. de Oliveira, 824 Zona 02 CEP 87010-440 Maringá - Paraná - Brasil Tel/Fax: (44) 3031-5467 E-mail: gerencia@graosbrasil.com.br Rua dos Polvos 415 CEP: 88053-565 Jurere - Florianópolis - Santa Catarina Tel.: +55 48 9945-8565 graosbr@gmail.com Sucursal Argentina Rua América, 4656 - (1653) Villa Ballester - Buenos Aires República Argentina Tel/Fax: 54 (11) 4768-2263 E-mail: consulgran@gmail.com Revista bimestral apoiada pela: F.A.O - Rede Latinoamericana de Prevenção de Perdas de Alimentos ABRAPOS As opiniões contidas nas matérias assinadas, correspondem aos seus autores. Conselho Editorial Diretor Editor Flávio Lazzari Conselho Editor Adriano D. L. Alfonso Antônio Granado Martinez Carlos Caneppele Celso Finck Daniel Queiroz Jamilton P. dos Santos Maria A. Braga Caneppele Marcia Bittar Atui Maria Regina Sartori Sonia Maria Noemberg Lazzari Tetuo Hara Valdecir Dalpasquale Produção Arte-final, Diagramação e Capa Marcos Ricardo da Silva

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(44) 3031-5467 02 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

Caros Amigos e Leitores Hoje uma manhã com chuva e musica de fundo, escrevo estas linhas para vocês, completando o privilégio de fazer o editorial desta publicação de mais de 11 anos. Muitos são os sentimentos e as ideias que vem a minha cabeça e tratando de localizarme, ali, onde vocês se encontram, em seu escritório na Cooperativa, na balança do cerealista, no laboratório do moinho, no comando da azeiteira, na administração de um corretor, nos recintos das bolsas, nas aulas nos centros de capacitação, etc.. Que grande alegria, que satisfação saber que podemos, graças aos prestigiosos profissionais que compartilham suas experiências e as firmas que anunciam fazer chegar com este pequeno grão de areia, na busca de um permanente aprimoramento. O cone sul esta dando um grande exemplo ao mundo no que a produção e comercialização de grãos se refere e desde a Grãos Brasil, a Granos e suas atividades conexas estamos compartilhando um período muito fértil do desenvolvimento tecnológico. Sabemos das muitas limitações de todo tipo, especialmente a logística de um grande país como Brasil, mas apesar de tudo o agronegócio é um pilar fundamental de esta nova etapa. Estamos nos preparativos de um encontro que tem vocês, como protagonistas que é o Grãos 2013, XII Expo Pós-colheita de Grãos e sementes. Previsto para novembro em nossa querida Maringá (PR), compartilharemos palestras, workshop, exposições e estaremos intercambiando experiências, encontrando-nos para promover conhecimentos, para gerar negócios, para acercar-nos e estar em melhores condições de afrontar os desafios que vem pela frente. Por isto os peço que agendem e nos acompanhem como sempre, com a segurança de saber que trabalhamos para que cada ano seja melhor. Nesta edição apresentamos valiosa informação sobre Processos, Mercado, Aeração, Projetos, Qualidade, Segurança e muito mais. Obrigado por nos receber, dando um pouco de seu tempo e abrindo a mente. Lembrem de assinar, enviar suas experiências para publicar e suas duvidas, inquietudes ou criticas. Que Deus abençoe suas famílias e trabalhos. Com afeto.

Domingo Yanucci Diretor Executivo Consulgran - Granos Revista Grãos Brasil



¦ Indice ¦ 06

Correias Transportadoras

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A verdade sobre a super safra brasileira de grãos

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Reforço nas aerações

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Projeto de Fluxo em Silos Industriais

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Milho, arroz, soja e trigo - principais materias primas de alimentos para animais de estimação: qualidade e segurança Cuidados na pós-colheita de grãos de milho

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A produção de grãos e a dinâmica do mercado de sementes Armazenagem do milho 2a safra desafiará produtores nos próximos meses Conservação de trigo em silos utilizando a tecnologia de Resfriamento Artificial

Setores

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Editorial

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Não só de pão...

04 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

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Cool Seed News

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Utilíssimas


GRテグS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 05


¦Transportadores¦

Correias Transportadoras Os transportadores de grãos em unidades armazenadoras são empregados para estabelecer fluxos de produtos entre os equipamentos e as estruturas. Os equipamentos são secadores e máquinas de pré-limpeza e limpeza, enquanto as estruturas são moegas, silos-pulmão, silos armazenadores, graneleiros e caixas de expedição. O fluxo de produto pode ocorrer nas direções horizontal, vertical, ou inclinada, empregando transportadores conforme indicado na Figura 01.

Dr. Luís César da Silva Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Centro de Ciências Agrárias - CCA silvalc@agais.com

Figura 1. Modalidades de transportadores de grãos.

O transporte na direção horizontal é estabelecido entre dois pontos distantes situados em uma mesma cota. Para essa modalidade, as correias transportadoras são o mais indicado. Enquanto o transporte na direção vertical é caracterizado pela necessidade de deslocar a massa de grãos de uma cota inferior para uma superior em linha reta. Dentre os equipamentos destacados na Figura 01, o mais empregado são os elevadores de caçamba. Quanto à modalidade de transporte inclinado, trata-se de uma situação intermediária entre as modalidades horizontal 06 |Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

e vertical, e, basicamente, aplica-se a situações em que as distâncias horizontais e verticais não ultrapassam a seis metros. Na maioria dos casos é utilizado o transportador helicoidal, executando descargas e cargas de caminhões ou de silos de até 6,0 metros de altura. Em unidades armazenadoras, em que os transportadores são fixos, os transportadores de correntes ("redlers") e correias transportadoras podem ser empregados para vencer pequenas elevações. Sendo os transportadores de corrente indicados para inclinação máxima de até 40 graus, 84%, enquanto as correias


Acesse: www.graosbrasil.com.br transportadoras, para inclinação de até 17 graus, 30%. Correias transportadoras As correias transportadoras possuem duas grandes polias, também denominadas tambores, localizadas em cada uma das extremidades. Esses tambores podem ser montados em mancais fixos ou móveis. Os mancais móveis permitem ajustar o alinhamento e a tensão das correias. Ao eixo do tambor motriz é acoplado o sistema de acionamento em configurações como: (a) polias, correias tipo "V" e motor elétrico; (b) corroas, correntes e o motor elétrico; (c) redutor e motor elétrico, o que é denominado motoredutor; ou (d) servomotor - quando se deseja maior precisão no controle da velocidade do equipamento. Entre o tambor motriz e o tambor de calda estende a correia. No mercado os fabricantes disponibilizam correias com lonas poliéster-nylon, nylon-nylon, ou algodão-poliéster. A sobreposição das lonas forma a carcaça da correia. E essa carcaça é revestida em borracha, com especificações definidas de acordo com o material a ser transportado. Para grãos, o revestimento de borracha deve resistir ao contato com óleos vegetais e agrotóxicos; ser antiestático e autoextinguíveis às chamas; e suportar temperaturas de até 90°C. As correias são conduzidas sobre roletes como representado na Figura 02. Os roletes são fabricados em madeira,

aço ou material plástico, e são montados em eixos empregando rolamentos nas extremidades.

Figura 2. Representação de uma seção de correia transportadora, destacando os roletes de carga e retorno.

GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 07


¦Transportadores¦ Conforme a Figura 02, na parte inferior das seções, localizam os roletes de retorno; e na parte superior, dois ou três roletes de carga alteram a configuração correia para aumentar a capacidade de transporte. A inclinação dos roletes no ramal de carga, normalmente, é de 20º, enquanto a inclinação do leito de grãos dependerá do ângulo de repouso do produto. Em projetos de unidades armazenadoras são utilizados três modelos de correias transportadoras: (a) simples - conduzem o produto em sentido único; (b) reversíveis - possibilitam inverter o sentido de condução do produto; e (3) duplas conduzem produtos nos dois sentidos ao mesmo tempo, portanto a correia possui dois ramais com roletes de carga, superior e inferior. Normalmente, as correias transportadoras reversíveis ou duplas são utilizadas quando há restrição de espaço, ou o fluxograma operacional demanda essa necessidade. Uma das maiores vantagens de uso das correias transportadoras é que o carregamento e o descarregamento podem ser executados em qualquer ponto. Para o carregamento é empregado a calha de carga continua, que é fixa, ou a tremonha de carga que é móvel. Quanto à descarga, pode ocorrer na calda do transportador, ou em qualquer ponto utilizando o carro de despejo. A tremonha de carga e carro de despejo possuem rodas e deslocam sobre um trilho. O deslocamento é feito por esforço humano ou por um sistema elétrico. Dimensionamento de correias transportadoras O dimensionamento de transportadores de grãos fundamenta-se em determinar: (a) capacidade horária, t/h; e (b)

potência para acionamento, kW. A capacidade horária de correias transportadoras é calculada em função da massa especifica e ângulo de repouso do produto; velocidade de operação; largura da correia; e inclinação dos roletes no ramal de carga. Enquanto, a potência de acionamento é definida em função do trabalho necessário para transportar a massa de produto; vencer as resistências mecânicas impostas pelas peças móveis e fixas; e elevar o produto a cotas superiores, se necessário. a) Capacidade horária de transporte A capacidade horária de transporte pode ser dimensiona em tonelada de produto por hora (t/h) ou volume de produto por hora (m³/h). Para tanto, pode-se empregar a equação 01. Nota: caso o desejado seja calcular a capacidade horária em metros cúbicos de produto por hora considere o valor da massa especifica igual a 1,0 t/m3.

em que,

Para determinação da área da seção transversal de produto sobre a correia pode ser empregado dados da Tabela 01.

Tabela 1. Área da seção transversal de grãos, com ângulo de repouso de 30°, sobre correia transportadora

08 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013


Acesse: www.graosbrasil.com.br Exemplo aplicativo - Calcule a capacidade horária de uma correia transportadora, com largura de 36 centímetros (14 polegadas). Considere a Tabela 01 e o produto milho como massa especifica de 0,75 t/m³. Empregando a equação 01, têm-se:

b) Potência de acionamento A determinação da potência de acionamento de correias transportadoras pode ser feita utilizando os métodos convencionais de engenharia, ou modelos empíricos como o proposto por WILLIANS & ROSENTRATER (2004) que estimam os valores com confiabilidade, desse modo: - Para determinação da potência de acionamento do equipamento vazio emprega-se a equação empírica 02.

em que,

em que,

- Para determinação da potência de operação em direção inclinada emprega-se a equação 04.

em que,

Exemplo aplicativo - Continuando o exemplo anterior calcule a potência de acionamento considerando que a distância entre os eixos das polias motriz e caudal seja 122,0 m e a inclinação do equipamento seja de 15° (27%). Empregando as 02, 03 e 04 e procedendo a soma das modalidades de potência é calculada a potência total (Pt):

- Para determinação da potência de operação na direção horizontal emprega-se a equação 03.

Tabela 2. das constantes A e B da equação 02

GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 09


¦Transportadores¦ Conclui-se que para uma correia transportadora de capacidade horária de 60,35 t/h, transportando milho a 122 m a uma inclinação de 15° (27 %) a potência necessária será 7,79 kW. Manutenção e operação de correias transportadoras Como recomendado para equipamentos mecânicos, a manutenção preventiva deve ser privilegiada. Normalmente, a manutenção preventiva deve ser executada nos períodos de intersafras, sendo recomendado: (a) verificar o estado de rolamentos instalados em mancais e roletes. Se necessário proceder à lubrificação, limpeza ou reposição; (b) proceder à reposição de roletes danificados, pois quando travados danificam a correia e gera carga eletrostática; (c) tencionar e alinhar a correia por meio dos mancais móveis, e no caso das correias de maior extensão, ajustar o esticador automático; (d) limpar e verificar o funcionamento do motor elétrico; e (e) verificar o sistema de acoplagem do motor elétrico ao tambor motriz. Nesse caso se a acoplagem for por polias e correias em "V" deve ser verificado o alinhamento das polias, desgaste das correias tipo "V" e folga da correia. Caso a acoplagem seja por motorredutor deve ser verificado e completado o nível de óleo do redutor, ou procedida à troca de óleo conforme recomendação do fabricante. Nas manutenções preventivas ou corretivas, ao repor com-

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ponentes, deve-se utilizar peças especificadas pelo do fabricante. E na substituição dos motores elétricos, utilizar modelos com maior eficiência elétrica, mas com característica operacionais equivalentes. Além da condução da manutenção preventiva visando aumentar a vida útil do transportador, outro ferramental atualmente disponível, é o monitoramento eletrônico em tempo real da velocidade e alinhamento da correia, temperatura dos rolamentos e mancais, detecção de movimento, e detecção de metal no produto. Caso ocorra eventualidades, o equipamento de monitoramento aciona alarmes para que o operador intervenha, ou interrompe o funcionamento do transportador até que seja solucionado o problema. Ponderações finais Para condução da manutenção preventiva eficientemente é indicado que a gerência da unidade armazenadora elabore fichas de controle para cada equipamento. Essas fichas devem conter a descrição e caracterização do equipamento, registros das manutenções realizadas e as previsões de datas das próximas revisões. Com esse procedimento diminui as ocorrências de manutenções corretivas, aumenta a vida útil do equipamento e reduz os custos de manutenção.


¦Mercado¦

A verdade sobre a super safra brasileira de grãos Está chegando a hora de se saber o potencial brasileiro de produção de grãos! Os relatórios anunciados até hoje dão conta de que estamos vivendo um momento histórico em termos de produção de grãos, especialmente no que diz respeito a MILHO e SOJA. A última estimativa da CONAB para a safra atual indica uma produção recorde tanto para milho quanto para soja, o que resulta num quadro de oferta/demanda conforme demonstramos abaixo. O Brasil exportou, até março de 2013, cerca de 23 milhões de toneladas de soja; já tem nomeados até junho, mais 10 milhões de toneladas a serem exportadas; pelos reportes de vendas conhecido deveremos ter ainda nomeação de mais 5 milhões de toneladas a serem nomeadas para embarque de julho a dezembro de 2013, o que poderia alterar esse panorama anunciado pela CONAB, praticamente zerando o estoque de passagem para o inicio de 2014. De acordo com as estimativas da ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), está destinado ao processamento nas diversas indústrias brasileiras um total de 38 milhões de toneladas, e 2,9 milhões de toneladas que seriam reservadas para plantio da safra 2013/14. As exportações de soja em grãos para a China já acumularam 19 milhões de toneladas, e ainda temos 9 milhões de toneladas já nomeadas para embarque até dezembro, o que totalizaria 28 milhões de toneladas - recorde absoluto de exportações para a China, que historicamente leva do Brasil ao redor de 23 milhões de toneladas.

Osvaldo J. Pedreiro Novo Horizonte Assessoria osvaldo.pedreiro@uol.com.br

O panorama nos leva a pensar que poderemos ter falta de soja no Brasil para atender a demanda das indústrias, desde que o programa de exportação não se altere e que o país tenha realmente condições logísticas de cumprir com esse volume de exportação. Há ainda um ponta obscuro: a super safra de milho do Brasil que está próxima de ser colhida, vai competir com as exportações de soja simultaneamente, o que deverá resultar numa pressão nos preços das duas commodities, tendo como conseqüência uma oscilação para baixo nos preços internos, e de outro lado a possível força da crescente demanda chinesa para os produtos brasileiros e que poderá contrabalancear essa loucura de preços que aparentemente se avizinha.

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¦ Aeração ¦

Reforço nas aerações Por: Eng. Domingo Yanucci| Consulgran - Grãos Brasil |

graosbr@gmail.com

Poucas coisas podem dar melhor resultado que reforçar as areações. Isto consiste em elevar as vazões específicas de 0,05-0,1 m³/min Tn a vazões na ordem de 0,15-0,20 m³/min Tn. As possibilidades de uso das melhores horas do dia aumentam e paralelamente temos outras opções, como por exemplo: manter os grãos úmidos por períodos maiores ou ajudar a secar lentamente com a aeração.

Não se trata de uma simples troca de ventiladores, já que todo o sistema deve acompanhar. Ao incrementar-se a vazão específica, para um determinado depósito, significa que aumenta a vazão total e, portanto, deve aumentar-se a superfície de passagem de ar (dutos cegos - dutos perfurados). O aumento da potencia instalada ao reforçar e mais que proporcional, já que ao tratar de passar maior vazão por tonelada, as resistências a passagem de ar aumenta e se requer por o tanto vencer uma maior pressão ou resistência. Para esclarecer melhor o assunto vejamos o seguinte exemplo: Um silo de 1.000 Tn, com um sistema de aeração com uma vazão de 100 m³/min (VE: 0,1 m³/min Tn), com um ventilador de 5,5 HP centrífugo e três dutos de chapa perfurada de 3m de comprimento cada um por 0,3m de diâmetro. Permite esfriar um granel em um lapso de: 140 - 170hs. Agora bem no verão implica dispor de 14 noites aptas para esfriar todo o silo. Em muitas regiões e difícil dispor de tantas horas adequadas o que acaba fazendo a aeração em condições climática e horária, onde o sistema é menos eficiente. Se a este silo se duplica sua vazão, incorporando um ventilador de 12,5HP, 200 m³/min, duplicando também a superfície de chapa perfurada, necessitaríamos a metade de tempo de areação para alcançar o objetivo da mesma. Isto permite utilizar só as horas mais adequadas, terminar antes o processo, de maneira de beneficiar-se mais rapidamente do objetivo. Ademais isto nos permitirá colocar um grão com umidade mais perto da norma de comercialização, menos sobre-secagem ou manter um grão com algo de umidade sem que se gerem esquentamentos, já que o ritmo de esfriado superará ao ritmo de esquentamento. Se considerarmos os consumos elétri12 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

cos também se comprovará um menor gasto no caso da aeração reforçada. Claro está que se deve fazer um investimento, para este caso estimado em R$ 7.000,00, para um depósito de R$ 65.000,00, que vai a armazenar RR 300.000,00. Este investimento dará frutos durante muitos anos. O exemplo econômico e contundente. O investimento se paga em 1 a 2 campanhas considerando, menor gasto de energia e menor quebra técnica. Por exemplo, um armazém de silos já tem 4 ou mais silos com a aeração convencional, o que se recorre frequentemente a desarmar duas aerações e armar uma nova (duplicando os sistemas por silo) e liberando então a metade dos silos para colocar uma aeração totalmente nova. Isto reduz notavelmente o investimento necessário por silo e confirma ainda mais a conveniência econômica de reforçar as aerações. Outro elemento que podemos mencionar, mas que é de difícil avaliação nos armazéns, se refere à quebra técnica volátil (perda de peso por respiração). Para cada 5ºC de incremento de temperatura, se duplica o ritmo de respiração e por onde a quebra técnica e a produção de calor. A quebra normal se encontra em 0,0027% por dia. Isto levado a 100 dias, considerando o grão menos valioso, equivale a 4 vezes o gasto de energia elétrica de uma aeração reforçada. Apresentamos as características de ventiladores de primeira marca (centrífugos).


Acesso: www.graosbrasil.com.br

Fonte: 6º livro de actualização - Manual de Prácticas de Manejo Recomendadas Pos-Colheita de Graos - Autor: Eng. Agr. Domingo Yanucci

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¦Tecnologia¦

Projeto de Fluxo em Silos Industriais A armazenagem industrial encontra-se, hoje, inserida em diversos setores econômicos como o da construção civil com a armazenagem de agregados, aglomerantes e adições; na indústria agrícola com grãos, fertilizantes, calcários, rações e seus componentes; na indústria farmacêutica com componentes químicos; na indústria de reciclagens com resíduos e na indústria alimentícia com a armazenagem e manipulação de fermentos, farinhas e seus ingredientes. Este presente cenário impôs mudanças no conceito de armazenagem passando de simples atividade de estocagem de produtos para englobar as tarefas de controle das variáveis microclimáticas, transporte, separação, mistura e até empacotamento dos produtos. Para isso, os silos e demais equipamentos envolvidos neste processo devem ser projetados visando, sobretudo, máxima eficiência de trabalho. Tratando-se especificamente de projeto de silos verticais, é importante que sejam conhecidas variáveis relativas ao(s) produto(s) a ser(em) armazenado(s), às dimensões, material de construção e forma geométrica do silo desejado, ao tempo requerido de armazenagem e à forma empregada para seu descarregamento. O conhecimento conjunto destas informações aliada ao bom senso do projetista é fundamental para garantir um projeto eficiente e seguro de silos verticais de forma a evitar problemas funcionais como formação de abóbadas ou arcos mecânicos/coesivos, efeito tubo (rathole) e descargas incompletas (Figura 1).

Dr. José Pinheiro Lopes Neto Universidade Federal de Campina Grande - UFCG lopesneto@deag.ufcg.edu.br

Eng. Agr. José W. Barbosa do Nascimento Universidade Federal de Campina Grande - UFCG wallace@deag.ufcg.edu.br descarregamento resultando em interrupção inesperada de todo processo de produção, podendo ser do tipo mecânico ou coesivo. As abóbadas ou arcos mecânicos são, em geral, formados por partículas grossas em que, quando iniciado o fluxo, se encaixam umas nas outras impedindo seu movimento vertical e de rotação entre si, sobretudo quando os espaços vazios entre essas partículas são preenchidos por partículas de tamanhos menores. O fenômeno de abóbadas (domos) ou arcos coesivos ocorre com produtos pulverulentos (pós) quando uma porção da massa próxima ao orifício de descarga, sob compressão das camadas superiores, se compacta e desenvolve resistência suficiente capaz de impedir que qualquer partícula seja descarregada. As abóbadas ou arcos coesivos podem assumir diferentes configurações em função da forma da tremonha utilizada, sendo comum o surgimento de abóbadas ou domos em tremonhas de eixo simétrico (Figura 2a) e de arcos coesivos denominados "ponte" em tremonhas na forma de cunha (Figura 2b).

Figura 2. Forma das abóbadas e arcos. (a) abóbada; (b) arco Figura 1. Abóbadas ou arcos, efeito tubo e descarga incompleta

A formação de abóbadas ou arcos são, de longe, um dos maiores problemas enfrentados por indústrias que utilizam silos uma vez que são capazes de interromper totalmente o 14 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

Além de serem prejudiciais ao processo de descarga, tanto as abóbadas como arcos representam grande perigo à integridade estrutural do silo e seus operários uma vez que seu desprendimento tende a gerar um efeito de sucção do ar loca-


Acesse: www.graosbrasil.com.br

lizado na parte logo acima da superfície da massa armazenada, simultaneamente a um acréscimo abrupto de pressão na zona de transição entre corpo e tremonha do silo. Esta sucção pode causar deformações na parede e cobertura do silo, enquanto que a zona de transição fica sujeita a sofrer danos mecânicos. O fenômeno conhecido como efeito tubo (rathole) é caracterizado pela formação de um canal vertical se estendendo da abertura de descarga do silo até a superfície da massa ensilada, enquanto que toda massa ao seu redor forma uma parede estagnada e rígida, impedindo o descarregamento do silo. Assim como a formação de abóbadas ou arcos, o efeito tubo pode ser perigoso caso o produto comece a se mover no sentido da saída; desta forma, as primeiras camadas movidas provocarão sucção do ar na parte superior do corpo do silo e uma expulsão abrupta do ar contido no tubo, pelo orifício de descarga podendo causar deformações e ruptura das paredes, na união tremonha-corpo do silo, no orifício de descarga e nos dispositivos de descarregamento. A descarga incompleta ocorre devido a permanência de parte da massa armazenada no interior do silo; suas consequências, tal como no efeito tubo, vão desde a perda de capacidade efetiva de armazenagem até possíveis contaminações uma vez que uma mesma quantidade de produto pode permanecer no interior do silo por um período superior ao desejado como no caso de perecíveis, como leite em pó, farinhas e outros compostos alimentícios. Geralmente ocorre quando a tremonha é erroneamente dimensionada adotando-se um ângulo de inclinação inferior ao ângulo de atrito interno do produto. Claramente este fenômenos indesejáveis estão relacionados às características intrínsecas ao produto armazenável e o modo como o produto se movimenta no interior do silo, o que torna estas informações de fundamental importância para o correto projeto de fluxo em silos verticais. Em 1964 o

cientista norte-americano A. W. Jenike, definiu dois tipos básicos de fluxo: massa e funil. Entende-se por fluxo de massa aquele cujo produto entra, substancialmente, em movimento, em todas as partes do silo no momento do processo de descarregamento (ocorre quando as paredes da tremonha são suficientemente inclinadas e lisas sem abruptas transições) (Figura 3a). O fluxo de funil é o tipo de fluxo onde apenas uma parte por vez do produto entra em movimento através de um canal vertical permanecendo as outras em condição estática (Figura 3b).

Figura 3. Tipos básicos de fluxo. (a) fluxo de massa; (b) fluxo de funil

Jenike também projetou e construiu uma célula de cisalhamento conhecida como Jenike Shear Cell para determinação das propriedades de fluxo de produtos armazenáveis cuja inspiração baseou-se na hipótese de que um produto ao ser carregado no silo, passa a sofrer sucessivos efeitos de cisalhamento das novas camadas sobre as primeiras enquanto que, ao ser descarregado, novamente ocorre cisalhamento das partes do produto com o produto deslocando-se, cada sobre camada, em direção à saída do silo. No Brasil existem, atualmente, três aparelhos de cisalhamento direto que utilizam a Jenike Shear Cell para determinação das propriedades de fluxo estando um deles localizado no Laboratório de Construções Rurais e Ambiência da Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande PB. Este laboratório presta serviços de consultoria, análise de produtos armazenáveis e projeto de silos (Figura 4).

GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 15


¦Tecnologia¦

Figura 6. Ângulo de deslizamento do produto sobre uma superfície de parede

Figura 4. Aparelho de cisalhamento direto pertencente à UFCG

Seu princípio de funcionamento consiste em submeter uma amostra do produto simultaneamente à esforços de compressão e cisalhamento no intuito de simular uma condição semelhante àquela que esta amostra estaria sujeita no interior de um silo. Assim é possível determinar propriedades como ângulo de atrito interno (Ø), efetivo ângulo de atrito interno (δ), ângulo de atrito com a parede (Øw), coesão de partículas (C), peso específico consolidado (ϒ), Função Fluxo do produto (FF) e índice de fluxo (ffc). O ângulo de atrito interno (Ø) representa o ângulo formado entre a horizontal e o plano de inclinação no qual ocorre o cisalhamento do produto (Figura 5). Seu conhecimento é essencialmente importante por permitir o correto dimensionamento de tremonhas (funil de descarga) uma vez que indica a inclinação mínima necessária para ocorrer cisalhamento (movimento do produto).

A coesão (C) pode ser entendida como a resistência ao cisalhamento desenvolvida pelo produto em função das cargas de compressão exercidas pelas camadas superiores cujo valor já dá indícios do grau de dificuldade ou facilidade com que determinado produto irá fluir. Já o peso específico consolidado (ϒ), ou seja, aquele relativo a densidade de um produto que sofreu efeito de compactação, tem importância principalmente no dimensionamento da capacidade de armazenagem do silo, bem como no cálculo das ações exercidas pelo produto em suas paredes e fundo/tremonha. A Função Fluxo do produto (FF), Figura 7, é uma representação gráfica da capacidade do produto de fluir no silo sendo obtida através das relações estabelecidas entre cargas de compressão e de cisalhamento ocorridas na amostra. Sua determinação é de extrema importância por indicar a forma como o produto irá se movimentar no momento de seu descarregamento sendo esta informação também utilizada para o dimensionamento do orifício de saída do silo a fim de evitar a formação de abóbadas ou arcos.

Figura 7. Função fluxo de dois produtos armazenáveis

Figura 5. Plano de cisalhamento de um produto

O efetivo ângulo de atrito interno representa (δ) um valor de inclinação do plano de deslizamento supondo que o produto apresente condição ideal para tal, ou seja, livre de coesão de partículas. O ângulo de atrito com o material de parede (Øw) representa o ângulo de inclinação de determinada superfície de modo a permitir que o produto vença o atrito existente e comece a se movimentar (Figura 6). 16 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

Outra forma de representação da função fluxo (FF) é através de um único índice, conhecido como Índice de fluxo de Jenike (ffc). Jenike correlacionou faixas de variação deste índice com cada possível padrão de comportamento do produto durante seu descarregamento sendo definido como fluxo do tipo livre aquele produto cujo valor de ffc fosse superior a 10, como fluxo do tipo fácil cujo ffc ficasse entre 4 e 10, do tipo coesivo com ffc variando de 2 a 4, muito coesivo de 1 a 2


Acesse: www.graosbrasil.com.br e sem fluxo cujo valor de ffc fosse inferior a 1. Na Figura 7 é importante observar que a função fluxo do farelo de soja apresenta-se mais próxima do eixo horizontal, considerando os limites descritos por Jenike para o índice de fluxo. Isso indica tratar-se de um produto de fácil descarregamento, enquanto que o farelo de milho apresenta-se como um produto com relativa complicação para fluir adequadamente. Para um fluxo livre, o produto é descarregado sem interrupções e com vazão constante e geralmente elevada (Figura 8). Um produto com fluxo do tipo fácil diferencia-se do tipo livre por apresentar pequenas flutuações na vazão e suaves redirecionamentos da direção do canal de fluxo formado durante a descarga. Tanto o fluxo livre quanto o do tipo fácil podem ser notados observando que a forma da superfície superior da massa armazenada permanece inalterada durante todo o processo de descarga, de acordo com a Figura 8.

(rathole), também instável, como mostrado na Figura 10. Em seguida o produto recomeça a fluir com a visível queda das paredes laterais "empurrando" sua massa permanecendo, geralmente, muito produto ainda armazenado.

Figura 10. Produto de fluxo muito coesivo sendo descarregado

Para um produto "sem fluxo", pode ocorrer a formação de abóbadas ou arcos que impeçam seu descarregamento, sendo estas abóbadas ou arcos estáveis indefinidamente como pode ser observado na Figura 11. Nesta situação recomendase a adoção de "estimuladores mecânicos de fluxo" ou um redimensionamento da tremonha e orifício de descarga.

Figura 8. Comportamento de um fluxo do tipo livre

Para um fluxo coesivo, pode ocorrer a tentativa de formação do efeito tubo em vários momentos além da formação parcial de abóbadas ou arcos no momento da abertura do orifício de descarga (Figura 9).

Figura 11. . Abóbada estável formada impedindo o descarregamento do silo

Observando a formação de obstrutores de descarga e com base nas máximas tensões obtidas nos ensaios com a Jenike Shear Cell, Jenike ainda propôs uma formulação, Equação 1, destinada ao dimensionamento da abertura mínima de descarga a fim de evitar a formação de um elemento de obstrução estável (Figura 12).

Figura 9. Descarregamento de um produto de fluxo coesivo

Para um fluxo muito coesivo, pode ocorrer a formação de abóbadas ou arcos, mas ainda instáveis, vindo os mesmos a sem romper segundos após a abertura do orifício de descarga (Figura 10). Além disso, frequentemente parte do produto tende a fluir e parar logo em seguida formando o efeito tubo

Sendo: D = abertura da saída da tremonha (m); H(θ) = variável dependente da tremonha; σc = tensão crítica de deslizamento (Pa); ϒ = densidade consolidada do produto (N/m³). GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 17


¦Tecnologia¦

Figura 12. Tensão crítica no obstrutor de fluxo

Utilizando-se desta formulação e dos valores de tensões determinadas através da Jenike Shear Cell, Lopes Neto e Nascimento (2013) definiram que uma inclinação mínima de uma tremonha cônica para descarregamento de farelo de soja deva ser de 70° com uma abertura de orifício de 0,11m. Assim, os autores asseguram que independentemente da altura ou diâmetro do silo, o fluxo ocorrerá sem obstruções. É importante destacar, contudo, que diversos outros pesquisadores como Enstad e Walker também apresentam formulações para o dimensionamento de tremonhas com suposições divergentes

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das de Jenike. Apesar dos avanços já alcançados no estudo do fluxo de produtos industriais, é importante que novas pesquisas continuem sendo realizadas e, para tal, a parceria entre instituições de pesquisa e setor privado deve ser cada vez mais fortalecida. Hoje, pela falta de contato entre estes dois lados, muitas empresas comercializadoras de silos e transportadores ainda se utilizam de conhecimento ultrapassado e errôneo como ângulo de repouso do produto para dimensionamento de seus silos. A aplicação desta variável em troca do ângulo de atrito interno acarreta previsão errada do tipo de fluxo e, principalmente, da intensidade das forças utilizadas no dimensionamento de todas as partes dos silos. Como visto, acredita-se que um profundo do conhecimento acerca das propriedades do produto que se deseja armazenar bem como dos problemas que podem ocorrem e suas formas de prevenção são ferramentas fundamentais para o correto dimensionamento de silos. Para isso, o Laboratório de Construções Rurais e Ambiência da UFCG possui corpo técnico treinado e equipamentos necessários para realização dos ensaios de determinação das propriedades de fluxo de produtos armazenáveis além de realizar testes de verificação das ações exercidas por estes produtos na estrutura dos silos a fim de desenvolver projetos confiáveis para cada situação.


¦Rações¦ Milho, arroz, soja e trigo - principais materias primas de alimentos para animais de estimação: qualidade e segurança O comércio de alimentos para animais de estimação tem se tornado um mercado extenso e promissor no agronegócio. Isso é resultado do aumento, tanto da (a) produção de grãos - matéria prima primordial como fonte de carboidratos e energia, sendo os mais utilizados o milho>arroz>soja>trigo os quais correspondem 60 a 70 % do total de ingredientes das rações secas e semi-úmidas, quanto do (b) crescente número de animais de estimação no Brasil.

Msc. Karina Koerich de Souza Doutoranda em Ciência dos Alimentos kakoerich@yahoo.com.br

PhD. Vildes M. Scussel Profa. Ciência dos Alimentos Vildescussel_2000@yahoo.co.uk

Em 2010, a população desses animais foi de 33 e 17 milhões de cães e gatos, respectivamente. A estimativa para 2012 foi de 37,1 milhões de cães e 21,4 milhões de gatos. O número de pássaros também é expressivo, com 17,5 milhões, superando a população de gatos (Pet Food Brasil, 2011). Atualmente, o Brasil possui a segunda maior população de cães e gatos do mundo ficando somente atrás dos Estados Unidos (ABINPET, 2011). Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET, 2011), o Brasil é o primeiro mercado produtor de alimentos balanceados para animais de estimação na América Latina, possuindo grande representatividade no mercado exportador para países Euro-

peus, Americanos e Asiáticos. A projeção de produção para 2020 é de 3,5 toneladas de alimentos, somente para cães e gatos (Sindirações, 2012). Os alimentos comerciais para animais de estimação são encontrados em diversas formas para agradar seus proprietários. No entanto, devem seguir padrões de segurança, como não conter contaminação por fungos, micotoxinas, agrotóxicos ou bactérias, os quais provem de matérias prima (cereais, leguminosas e nozes) ou produto final pelo mal armazenamento e de padrões de qualidade: tais como palatabilidade, digestibilidade e consistência de fezes (Carciofi, 2008). Existem classificações propostas no sentido de agrupar os alimentos e facilitar o entendimento dos proprietários e profissionais da área através de critérios que envolvam (a) teor de umidade, (b) critérios de registro e (c) qualidade (Tabela 1). Alimentos para

Tabela 1. Classificações propostas para os alimentos para animais de estimação

1 National Research Council; 2 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 3 Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 19


¦Rações¦ animais de estimação, que incluem grande quantidade de grãos, podem ser de classificados em dois tipos principais: completos e adjuvantes (Figura 1).

(a)

(b)

Figura 1. Tipos de alimentos para animais de estimação ricos em ingredientes contendo cereais, principalmente milho, soja, arroz e trigo: (a) alimento seco [alimentação diária]; (b) alimento coadjuvante [petisco].

Composição, tipos de nutrientes e ingredientes Grande parte dos alimentos para animais de estimação é formulada à base de cereais, constituindo, portanto a matéria prima principal, já que o amido dos cereais é a mais abundante fonte de energia. Composições diversificadas são encontradas nos alimentos para esses animais de estimação, mas basicamente são utilizadas fontes de origem vegetal (cereais em grãos e suas farinhas - trigo, arroz, sorgo (Figuras 2 e 3) e fontes protéicas de origem animal, tais como carne e seus subprodutos provenientes da indústria de alimentos para consumo humano (frango, bovino, ovino, suíno, peixes, farinha de carne e osso) (Brito et al., 2010).

(a)

(b)

(b)

Figura 3. (a) Proporção de inclusão de grãos e seus derivados como matéria prima na elaboração de alimentos para (b) consumo de animais de estimação (Sindirações, 2010; Scussel et al., 2011).

Qualidade e segurança dos ingredientes e produto final Em se tratando da qualidade de ingredientes utilizados nos alimentos para animais de estimação, tem-se observado que esse mercado necessita de maior atenção, já que não existe regulamentação específica para todos os segmentos da produção, como detalhes da composição e inclusão de aditivos. Convém ressaltar que a dieta diária desses animais é baseada em alimentos industrializados (rações, petiscos), expondo o animal ao contaminante 20 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

(a)

(b)

Figura 4. Condições de conservação de alimentos para animais de estimação comercializados em agropecuárias: (a) sacos/embalagens originais abertos e (b) recipientes tampados (Fonte: de Souza Koerich).

Figura 2. Tipos de ingredientes utilizados em alimentos para animais de estimação: (a) origem vegetal (milho e arroz) e (b) origem animal (carne e subprodutos).

(a)

presente de forma contínua e intermitente (de Souza Koerich e Scussel, 2010). Os contaminantes alimentares freqüentes em alimentos para animais de estimação são de origem: biológica (fungos, micotoxinas, bactérias, toxinas bacterianas, ficotoxinas e aminas bioativas) e química (agrotóxicos, metais pesados e medicamentos) (de Nardi et al., 2002; Withrow, 2007). Fatores responsáveis pela presença de contaminantes biológicos em grãos: o desenvolvimento desses contaminantes são determinados por vários fatores ambientais que afetam significativamente a qualidade e composição dos alimentos. De particular importância é a temperatura, umidade relativa do ar, propriedades dos substratos (grãos), incluindo a umidade e a atividade de água (aw), pH, bem como fatores bióticos (insetos, vertebrados) e formas de conservação das matérias primas e do produto final (Lorini, 1998). A Figura 4 mostra duas formas diferentes de armazenamento e comercialização de alimentos para animais de estimação em agropecuárias, podendo comprometer sua qualidade e segurança.

Fungos e micotoxinas Um dos fatores de risco para a saúde dos animais se refere à contaminação dos alimentos por fungos e micotoxinas (Andrade e Nascimento, 2005). Essa contaminação pode ocorrer desde a produção de grãos no campo e sua armazenagem, do manuseio de matérias primas de origem animal até a industrialização e embalagem do produto final (Scussel et al, 2011). Os fungos são divididos em (a) de campo e (b) de armazenagem: muitas contaminações fúngicas são provenientes das etapas de pré-colheita e colheita, com a origem ainda no campo. Podem predominar os fungos dos gêneros Alternaria, Cladosporium, Fusarium e


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¦Rações¦ Helminthosporium (Li et al., 2000). Os fungos de armazenagem proliferam nos alimentos pós-colheita, sendo menos exigentes quanto à umidade. Exemplos desse grupo: Aspergillus e Penicilium (Figura 5). Os gêneros Fusarium, Aspergillus & Penicillium são responsáveis pela produção de toxinas: deoxinivalenol, toxina T2, citrinina, aflatoxinas, ocratoxina A, zearalenona (Lazzari, 1997; Scussel, 2000, 2002).

Figura 6. Ácaro (agente causador de alergias) isolado de alimento para gatos (Fonte: de Souza Koerich)

Figura 5. Fungos de armazenagem: Aspergillus e Penicillium isolados de alimentos para animais de estimação (Fonte: de Souza Koerich & Scussel)

Os cereais utilizados para produção de alimento animal são ótimos substratos para o crescimento de fungos, tanto os deteriorantes quanto os toxigênicos (produtores de micotoxinas). São os principais responsáveis por perdas nutricionais do alimento para animais de estimação (de Souza Koerich e Scussel, 2013). Insetos e ácaros São importantes agentes bióticos responsáveis pela deterioração dos grãos e alimentos. A presença desses agentes nas rações é um indicativo de descuido com o controle higiênico-sanitário durante o processamento e armazenamento do produto. É considerável também o potencial dos insetos na veiculação de microrganismos patogênicos (Singhi et al., 1980). Os ácaros são responsáveis por reações alérgicas nos cães tanto por contato, ingestão ou inalação desse alimento contaminado. Controle de qualidade dos alimentos para animais de estimação A qualidade e segurança de alimentos para animais de estimação envolvem o controle de vários segmentos da cadeia produtiva, desde as técnicas aplicadas na agricultura, para desenvolvimento de plantas saudáveis, até a produção industrial, transporte do produto final, incluindo seu armazenamento nas

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agropecuárias/pet shops, e o tratamento a nível doméstico. A utilização de ferramentas como Boas Práticas Agrícolas e de Produção (BPA e BPF) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) na produção dos ingredientes (grãos etc.) e dos alimentos para animais de estimação garantem produtos finais com qualidade e segurança alimentar, garantindo também, a saúde humana nos casos de zoonoses (GMP, 2005), alem de manter e/ou aumentar a exportação de alimentos produzidos no país.


¦Milho¦

Cuidados na pós-colheita de grãos de milho O comércio de alimentos para animais de estimação tem se tornado um mercado extenso e promissor no agronegócio. Isso é resultado do aumento, tanto da (a) produção de grãos - matéria prima primordial como fonte de carboidratos e energia, sendo os mais utilizados o milho>arroz>soja>trigo os quais correspondem 60 a 70 % do total de ingredientes das rações secas e semi-úmidas, quanto do (b) crescente número de animais de estimação no Brasil. A produção de grãos de milho vem aumentando nos últimos anos, principalmente devido a grande demanda dos grãos para utilização na alimentação animal, pois cada vez mais produtores deixam de utilizar sistemas extensivos de produção, passando a produzir em sistemas intensivos, como ocorre em confinamentos de bovinos de corte e leite, além das atividades já tradicionais de suinocultura e avicultura, onde a necessidade de grãos para a fabricação de rações ao longo ano é grande. Apesar da grande valorização do preço do milho nos últimos anos, principalmente na última safra, com valores recordes atingidos pela saca do produto, a área cultivada continua praticamente constante, pois a área agrícola expandida na região centro-oeste do país é utilizada para a produção de outras culturas, predominantemente a soja, sendo o milho uma cultura opcional, geralmente utilizada na segunda safra, denomina "safrinha". O aumento da produção total de milho verificada nos últimos anos deve-se ao processo de melhoramento genético nas cultivares utilizadas e ao manejo de cultivo da cultura utilizado, com técnicas de semeadura e adubação avançadas, que elevaram os níveis médios de produtividade inferiores a 2.000 Kg.ha1 da década de 90, para aproximadamente 4.000 Kg.ha-1 na safra 2011/2012 no território nacional (Figura 1), porém, sabe-se que produtores que utilizam altos níveis tecnológicos de produção atingem produtividades acima de 16.000 Kg.ha-1.

Figura 1. Evolução da produção de milho e da área cultivada no Brasil de 1989 a 2012. Dados: Adaptado de dados da Conab, 2012.

Atualmente os grãos de milho são comercializados no Brasil segundo Portaria do Ministério da Agricultura Pecuária e Abas-

Eng. Agr. Dr. Maurício de Oliveira Professor Depto de Ciência e Tecnologia Agroindustrial Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel - UFPel mauricio@labgraos.com.br

Eng. Agr. Ricardo Tadeu Paraginski Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel - UFPel paraginskiricardo@yahoo.com.br

Eng. Agr. Nathan Levien Vanier Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel - UFPel nathanvanier@hotmail.com tecimento (MAPA) nº 845 de 08 de novembro de 1976, com alterações dadas pela Portaria MAPA nº11, de 12 de abril de 1996, que determinam as especificações para à Padronização, Classificação e Comercialização Interna do Milho, porém a partir de 1º de setembro de 2013 passa a vigorar a Instrução Normativa n°60, de 22 de dezembro de 2011, publicada no Diário Oficial da União de 23/12/2011, com alterações dadas pela Instrução Normativa MAPA no18, de 4 de julho de 2012, que estabelecem o Regulamento Técnico do Milho, entretanto não se aplica ao Milho Pipoca, sujeito a regulamentação específica, ficando revogadas a Portaria MAPA n°845, de 8 de novembro de 1976, e a Portaria MAPA nº11, de 12 de abril de 1996. A nova portaria de classificação que entra em vigor deixa de exigir teor de umidade mínimo para a comercialização do produto, entretanto este valor não deve ser desconsiderado pelo produtor durante o armazenamento, pois teor de umidade superior a 13% durante longos períodos de armazenamento pode comprometer a segurança alimentar animal e humana e a qualidade de armazenamento, principalmente intensificando os defeitos metabólicos (que evoluem durante o período de armazenamento), como ardidos, que normalmente se devem ao metabolismo acelerado, ataque de micro-organismos e de atividades de enzimas, e que com a nova portaria de GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 23


¦Milho¦ carcinogênicas, mutagênicas, estrogênicas, anabolizantes e teratogênicas, além de efeitos de menor toxidez, porém prejudiciais à saúde e a produtividade.

(a)

classificação, apresentam maior importância e rigor na tipificação do produto durante a classificação. Para a produção de alimentos destinados ao consumo animal, a qualidade do milho é importante, uma vez que afeta o custo da produção, o desempenho zootécnico e a qualidade da carne, ovos e leite produzido, que muitas vezes podem apresentar resíduos de micotoxinas consumidas na alimentação animal, necessitando de grande controle de qualidade na comercialização do milho, para evitar problemas mais sérios no momento do consumo dos alimentos. Dentre os principais problemas decorrentes do armazenamento incorreto de milho, tem-se a produção de micotoxinas, substâncias resultantes do metabolismo secundário de diversas linhagens de fungos filamentosos, principalmente dos gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium, que migram através de seus esporos junto com os grãos das áreas de cultivos principalmente em anos de intempéries climáticas, que dificultam a colheita e acabam aumentando o período dos grãos na lavoura, que juntamente com a elevada umidade presente, que esta diretamente relacionada à disponibilidade de água nos grãos, que facilitam o desenvolvimento e multiplicação dos inóculos antes mesmo da colheita (Figura 2A). As micotoxinas tornam-se mais importantes ainda por limitarem ou "frearem" a expressão do desempenho produtivo das melhorias desenvolvidas e implantadas pela pesquisa e pelo setor produtivo. Nos grãos de milho armazenados, o desenvolvimento de micotoxinas ocorre por fungos principalmente do gênero Aspergillus, que necessitam de temperatura, umidade relativa do ar e substrato adequados para o desenvolvimento (Figura 2B). Níveis de umidade relativa do ar entre 80 e 85%, juntamente com umidade dos grãos de 17% e temperatura entre 24 e 35ºC são condições ótimas para produção de aflatoxinas, porém sabe-se que com umidade de 12%, temperaturas elevadas, aliado a presença de oxigênio e um longo período de armazenamento, condições facilmente encontradas na grande maioria dos sistemas de armazenamento do Brasil, permitem o desenvolvimento de micotoxinas. Por isso métodos alternativos de armazenamento, como em atmosfera modificada estão sendo estudados e desenvolvidos pelo LABGRÃOS da Universidade Federal de Pelotas. Quando consumidas por ocasião da alimentação humana ou animal, as micotoxinas encontradas em grãos ou derivados de milho podem produzir diversos efeitos deletérios à saúde do consumidor, implicando em enormes prejuízos de ordem econômica, sanitária e comercial, sobretudo pelas propriedades 24 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

(b)

Figura 2. Espiga de milho atacada por fungos em estádio inicial de desenvolvimento ainda na lavoura (A), e grãos de milho com grande quantidade de corpos de frutificação de fungos nas espigas durante o armazenamento (B).

O crescimento fúngico afeta a qualidade e a quantidade de nutrientes presentes nos grãos, como carboidratos, vitaminas, lipídios e proteínas, resultando em um menor rendimento nas indústrias produtoras de rações, além da contaminação por micotoxinas causar problemas de saúde e de desempenho nos animais, podendo apresentar efeitos tóxicos agudos, mutagênicos, carcinogênicos e tetragênicos, sendo o fígado dos animais o principal órgão acometido, reduzindo ganho de peso e qualidade final dos lotes. Para não comprometer o desenvolvimento de cadeias produtivas de animais, principalmente suínos e aves, as indústrias produtoras de rações exigem análises de micotoxinas para comercialização do milho, sendo que a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determina os limites máximos para comercialização, onde para Aflatoxinas B1, B2, G1, G2 no milho em grão (inteiro, partido, amassado, moído), farinhas ou sêmolas de milho o limite máximo de tolerância é de 20 ?g.kg-1. A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vão desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia, sendo que a alimentação animal representa a maior parte deste consumo, aproximadamente 70% do total de grãos produzidos. Assim os grãos precisam ser armazenados para posterior consumo no período de entressafra, seja nas próprias propriedades agrícolas, ou para comercialização, devendo-se empregar processos adequados de pós-colheita para manutenção das características qualitativas e quantitativas dos grãos. Assim, práticas adequadas de pós-colheita devem ser realizadas no interior das unidades de armazenamento, como: - Limpeza dos grãos e da unidade armazenadora; - Secagem dos grãos até níveis de umidade seguros; - Armazenamento em boas condições; - Sistema de termometria adequado; - Sistema de aeração corretamente dimensionado; - Manejo integrado de pragas e roedores; A prática de limpeza muitas vezes é incorretamente realizada nas operações de pós-colheita, não eliminando a fração com sujidades e partículas finas presentes no interior da


Acesse: www.graosbrasil.com.br massa de grãos, mais suscetíveis ao desenvolvimento de fungos, que acabam causando sérios problemas de qualidade do produto ao final do armazenamento, principalmente com o desenvolvimento fúngico. Para evitar perdas de qualidade com o armazenamento, além da limpeza, adequadas técnicas de secagem e armazenamento precisam ser utilizadas, para manutenção da qualidade do produto ao longo do tempo de armazenamento. Por isso é de fundamental importância que os armazenadores possuam profissionais com capacitação técnica adequada, o que muitas vezes não é valorizado. Vale lembrar que apenas a experiência por tempo de serviço não indica que as técnicas empregadas por esses profissionais são as mais adequadas, é possível que muita coisa possa ser melhorada, portanto, a atualização técnica deve ser permanente. A elevada safra de grãos de milho no último ano, principalmente na safrinha, na região centro-oeste do país, resultou em técnicas inadequadas de armazenamento e secagem, pois os armazéns estavam lotados da última safra de grãos de soja, necessitando os grãos de milho ser diretamente comercializados, ou armazenados em condições incorretas, o que acabou comprometendo a qualidade final do produto. O processo de secagem é de fundamental importância para os grãos de milho, deve ser rápida e eficiente, ou seja, no menor intervalo possível entre a colheita e o armazenamento,

porém muitas vezes os grãos permanecem durante o período de safra em caminhões nas filas para descarga, e quando descarregados são colocados em secadores com temperaturas elevadas para a secagem rápida, com objetivo de redução da umidade do produto no menor intervalo de tempo possível, entretanto nem sempre isto acontece, pois a água que está aderida na periferia do grão é facilmente removida por evaporação, já a água que está na parte mais interna do grão, precisa sofrer difusão para a parte mais externa, para atingir a periferia do grão e ser evaporada. A água da periferia é removida, formando um gradiente hídrico no interior do grão, assim a água começa a migrar da parte mais interna para a periferia do grão, e a presença de energia no ar, na forma de calor, acelera o processo, apesar disso, o aumento excessivo de temperatura pode comprometer a camada mais externa do grão, formando uma camada rígida (espécie de crosta), que acaba dificultando o processo de evaporação da água, e consequentemente o processo de secagem, alterando a estrutura interna dos grãos e afetando o comportamento industrial do produto. Muitas vezes a rapidez desejada nem sempre é possível e realizada de maneira adequada, cabe lembrar que se forem utilizadas temperaturas demasiadamente elevadas, o tempo de secagem poderá ser até maior do que quando utilizadas temperaturas adequadas, já que muitas vezes o encrostamento superficial provocado pela

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¦Milho¦ gelatinização do amido (Figura 3) ou pela coagulação de proteínas da periferia dos grãos, que pode dificultar muito a retirada da água dos grãos, por isso nem sempre o aumento da temperatura é a melhor alternativa para a redução tempo de secagem. Para isso podem ser utilizados outros controles como aumento do fluxo de ar ou do fluxo de circulação dos grãos. Estudos relatam que temperaturas elevadas de secagem comprometem a qualidade final do produto, promovendo uma gelatinização parcial do amido presente nos grãos de milho, alterando suas propriedades tecnológicas e também a qualidade de armazenamento, como pode ser observado na Figura 3, onde a utilização de temperatura de secagem elevada provocou desestruturação nos grânulos de amido (Figura 3A), resultando em grânulos menores e mais desuniformemente distribuídos, que podem acarretar em propriedades tecnológicas indesejáveis, seja para uso industrial, ou mesmo consumo animal quando comparados aos grãos secos em temperatura ambiente (Figura 3B).

Figura 3. Microscopia eletrônica de varredura (MEV) de amido isolado de grãos de milho secados em secador artificial com temperatura do ar de 80ºC (A) e grãos em secos com ar em temperatura ambiente (B). Fonte: Setiawan et al., 2010.

O processamento de grãos de milho destinado às indústrias alimentícias exige maiores cuidados com a temperatura na massa de grãos, sendo indicadas temperaturas de massa dos grãos inferiores a 54ºC, para evitar alterações na estrutura interna do grão, pois temperaturas superiores podem causar alterações do complexo amido-proteico, dificultando o processamento industrial devido ao fortalecimento das ligações dissulfídicas, que circundam os grânulos de amido, principalmente no endosperma vítreo dos grãos de milho. O processo recomendado para secagem de grãos de milho colhidos com umidade elevada, geralmente próxima a 25%, é uma redução parcial desta no interior do secador, com apenas uma passagem pela câmara de secagem, e posteriormente, os grãos devem ser alocados em um silo pulmão, ou em outra estrutura da unidade armazenadora que possibilite a difusão da água do interior do grão para a periferia, pois com a energia térmica presente no grão, devido ao calor utilizado, permite uma maior difusão das moléculas de água e juntamente com a diferença de potencial entre a parte mais interna e externa do grão (gradiente hídrico) a água sofre difusão, retornando os grãos após algumas horas para o secador, até atingir os níveis de umidade desejada para o armazenamento. O processo de secagem poder ser otimizado com a utilização de silos pulmões com elevado fluxo de ar, condição essa pouco utilizada pelos produtores, que acelera 26 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

a velocidade de difusão, reduzindo o tempo de secagem. A utilização de práticas inadequadas de secagem, aliada a permanência dos grãos no interior dos silos ou armazéns por longos períodos em temperaturas elevadas, acelera o processo metabólico e intensifica a ocorrência de alguns defeitos nos grãos, principalmente grãos ardidos, mofados, brotados e fermentados durante o processo de armazenamento, comprometendo a tipificação do produto. O processo de armazenamento dos grãos de milho é facilitado quando uma secagem correta é realizada, geralmente até teor inferior a 13%, pois nessa condição a atividade metabólica do grão é baixa, ocorrendo redução da atividade de água para níveis inferiores a 0,61 que permitem maior segurança durante o processo de armazenamento, evitando a ocorrência de alterações, principalmente na fração lipídica do grão, responsáveis pela formação de odores desagradáveis que podem comprometer a aceitabilidade final do produto, além de possibilitar o desenvolvimento fúngico. As alterações no interior da massa de grãos dos silos podem ser acompanhas com sistema de termometria adequado e um sistema de aeração corretamente dimensionado, que possibilite trocas gasosas do interior da massa de grãos para garantir uma boa qualidade de armazenamento, evitando a formação de anaerobiose e de correntes convectivas de ar no interior dos silos, que podem levar a condensação. A condensação ocorre após algumas semanas ou meses de armazenamento. Uma das formas de ocorrência se deve as correntes convectivas de ar na massa de grãos, que é ascendente (Figura 4A) quando a temperatura externa ao silo é maior, principalmente em dias quentes com grande intensidade solar, que provoca aumento da temperatura do ar entre os grãos próximos às paredes que absorve ou recebe calor da parede do silo, e se aquece mais que o ar localizado na parte interna do silo, por sua vez este ar aquecido apresenta menor densidade do ar localizado em regiões mais frias da massa de grãos, sendo formadas correntes ascendentes de ar próximas à parede, e ao ser aquecido, o ar vai passando ascendentemente através dos grãos mais frios, vai perdendo calor e ganhando densidade, de forma que este ar com maior densidade começa descer na parte central dos silos ou armazéns, formando uma corrente descendente de ar mais denso na parte central. As moléculas de ar que circulam são insaturadas (têm capacidade de receber água) e quando passam por regiões mais quentes absorvem calor e têm sua entalpia aumentada, elevando a capacidade de troca de energia térmica pelas moléculas de água dos grãos por onde passam, ocorrendo na região central do terço inferior do silo, no ponto mais frio da massa de grãos, a condensação da água ao atingir o ponto de orvalho, e os grãos localizados nesta região se umidificam, sofrendo então problemas de deterioração. De forma análoga, quando a temperatura ambiente for mais baixa (hora e/ou dias frios), o ar próximo à parede do silo se esfria, formando uma corrente convectiva descendente, provocando uma corrente convectiva ascendente do ar que está no centro da massa de grãos, fazendo com que haja uma região de condensação no


Acesse: www.graosbrasil.com.br topo do silo, já que a cobertura do silo está fria e no cone se forma então uma zona de condensação (Figura 4B).

periodicamente, o ar do microambiente, com a utilização de aeração com vazões de ar adequadas, que auxilia na manutenção da uniformidade da temperatura, prevenindo a condensação, além da utilização de exaustores na parte superior dos silos, que ajudam nas trocas gasosas, possibilitando um armazenamento mais seguro (Figura 5).

Figura 4. Esquema da formação de correntes convectivas na massa de grãos no interior de silos verticais em dias quentes (A) e dias frios (B).

Em climas temperados, os fenômenos de transferência de calor acontecem todos os dias, e o acúmulo de umidade nessas áreas pode oscilar entre 16% e 17%, com consequente proliferação fúngica e formação de massas de grãos mofados e aglutinados, próximos das paredes dos silos. Uma das melhores maneiras de minimizar a migração da umidade e dissipar o calor próximo às paredes dos silos é movimentar,

Figura 5. Silo vertical com exaustores na superfície para auxiliar nas trocas gasosas do silo com o ambiente externo, reduzindo o risco de formação de condensação na superfície da massa de grãos.

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¦Milho¦ As temperaturas elevadas ajudam a provocar condensação na massa de grãos, também aceleram as reações bioquímicas e metabólicas dos grãos, pelas quais reservas armazenadas no tecido de sustentação são desdobradas, transportadas e ressintetizadas no eixo embrionário, reduzindo a qualidade dos grãos quando estes expostos por longos períodos. O armazenamento em sistema refrigerado é uma alternativa para produtores das diferentes regiões do país, principalmente nos estados da região centro-oeste, onde as temperaturas são mais elevadas após a colheita dos grãos, pois a redução de temperatura auxilia na manutenção da qualidade dos grãos, entretanto até o momento poucos estudos tem relatado a eficiência desta tecnologia na qualidade dos grãos de milho armazenados, mas já se sabe que a redução da temperatura do ambiente para a faixa de 15ºC auxilia no controle de pragas, reduzindo praticamente à zero os níveis de desenvolvimento, reprodução e metabolismo dos insetos. Os insetos da espécie Sitophilus zeamais, o gorgulho do milho (Figura 6A), quando não controlados no interior da massa de grãos de milho, causam redução de qualidade, comprometendo a integridade do gérmen, além do aumento da quantidade de partículas finas (pó), que favorecem o desenvolvimento de fungos responsáveis pela produção de micotoxinas durante o armazenamento, além de possibilitarem o desenvolvimento de pragas secundárias, como o Tribolium cantaneum (Figura 6B) e ácaros, que dependendo dos níveis de infestação podem tornar o produto impróprio para consumo. Assim, quando diagnosticada a presença desses, deve-se realizar imediatamente o controle de pragas nos grãos.

Figura 6. Insetos das espécies Sitophilus zeamais (A) e Tribolium cantaneum (B) que podem atacar os grãos de milho durante o armazenamento.

Portanto, para evitar problemas durante a pós-colheita de grãos de milho e manter a qualidade do produto, algumas

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práticas devem ser adotadas, como: 1) Amostragem e classificação inicial para conhecimento das características do produto ao entrar no interior da unidade armazenadora; 2) Limpeza da massa de grãos antes da secagem e armazenamento; 3) Secagem em condições adequadas; 4) Armazenamento em silos com boas condições de operação; 5) Nivelamento da superfície da massa de grãos; 6) Sistema de termometria adequado; 7) Sistema de aeração corretamente dimensionado e operado; 8) Utilização de exaustores na cobertura dos silos; 9) Adequado manejo para controle de pragas; 10) Monitoramento e controle de roedores;


¦Sementes¦

A produção de grãos e a dinâmica do mercado de sementes Resumo da apresentação de André Savino no Congresso Internacional de Sementes da ISF-ABRASEM O Brasil está chegando à colheita de 170 milhões de toneladas de grãos na safra de 2012/13, na qual as produções de soja e milho representam mais de 70% deste total. A grandeza desta produção pode ser avaliada pelo que representa no PIB nacional, 23%. Deste valor, de meio bilhão de dólares, 11% são referentes a insumos, em cujo contexto entra a semente. Felizmente, há consenso de que o agronegócio brasileiro é pujante e merece consideração nas tomadas de decisões estratégicas de governo. O Brasil merece a imagem de um grande produtor de alimentos. O crescimento da produção de grãos, nos últimos 15 anos, ocorreu devido à introdução de novas cultivares e híbridos com maior potencial de rendimento, como também pela utilização de novas áreas de cultivo, tomadas principalmente da pecuária. Assim, em 2007, o país produziu ao redor de 75 milhões de toneladas de grãos, entre soja e milho, em uma área de 25 milhões de hectares. Enquanto, em 2012/13, a projeção é de 153 milhões de toneladas, sendo 80 milhões de soja e 73 milhões de milho, em

André Savino Diretor de Soja Brasil da Syngenta www.syngenta.com uma área de 40 milhões de hectares para essas duas culturas. Pelos números, constata-se que o aumento da produção ocorreu pelo aumento de produtividade e pelas novas áreas de cultivo agregadas. No país são cultivadas pouco mais de 70 milhões de hectares entre todas as espécies, correspondendo a menos de 10% do território nacional; havendo também mais de 100 milhões de hectares com pastagens e outras 100 milhões para cultivo de grãos ainda não utilizadas. Assim, pelo uso das inovações tecnológicas com sementes de alta qualidade das variedades melhoradas, que propiciam o aumento de produtividade (maior produção por área cultivada), não há necessidade de se utilizar, no Brasil, os recursos naturais primorosos. No período de 2007 a 2012 o país passou a utilizar de forma intensiva várias inovações tecnológicas, entre elas os materiais geneticamente modificados - que em soja alcançam mais de 80% da área e em milho mais de 70% -, o tratamento industrial de sementes, que já alcança mais de 90% para milho e 40% para soja, e o emprego de híbridos simples de milho que está ao redor de 30%. Estas inovações, junto com o melhoramento vegetal, foram as ferramentas utilizadas pelos agricultores brasileiros para duplicar, num período de cinco anos, a produção de grãos no país. O Brasil possui clima propício para ter mais de um cultivo por ano na mesma área, como soja seguida de milho, bem como variedades e tecnologia desenvolvidas e adaptadas localmente, permitindo estimar que a produção de grãos deva continuar a aumentar por vários anos. A produção de soja e milho é realizada praticamente em todo o país, que possui uma distância de norte a sul de 5.700 km, envolvendo vários sistemas de cultivo e tamanho da propriedade. Deste modo, além da necessidade da criação e desenvolvimento de materiais adaptados às diferentes regiões, há também a cultura, costume, crenças e o sistema de vida dos agricultores, GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 29


¦ Sementes ¦ res são oriundas de programas públicos; em milho, esse percentual é inferior a 5%; em trigo situa-se ao redor de 30%; em arroz irrigado alcança 40%; e no algodão menos de 10%. Assim, parte da criação e desenvolvimento de variedades é pública; entretanto, a produção e comércio das sementes para os agricultores é 100% privada.

que devem ser considerados nos programas de promoção dos materiais. Por exemplo, em soja, há 22% da produção é realizada por agricultores e/ou empresas que investem mais de 600 milhões de dólares por ano para o cultivo, enquanto para milho há somente 4% dos agricultores que investem esta soma para a produção de grãos. Na categoria de pequenos agricultores, que gastam menos de 100 mil dólares/ano, há 40% em soja, enquanto para milho este percentual é de 67% (tabela no texto). Como pode ser observado anteriormente, o milho predomina na pequena propriedade, enquanto a soja na grande propriedade, demandando assim diferentes estratégias de promoção e uso de sementes. O pequeno agricultor é mais arraigado à sua propriedade, enquanto as grandes propriedades tendem a ser exploradas de forma empresarial. Sementes O negócio de sementes, no período de 2007 a 2012, cresceu na mesma intensidade que o negócio de grãos, demonstrando a confiança das empresas com programas de melhoramento vegetal e os produtores de sementes e dos agricultores para com esta tão importante matéria-prima (em meu entendimento, semente não é insumo). O negócio de sementes no país é predominantemente privado, graças à plataforma legal que contempla a lei de proteção de cultivares, lei de patentes (para materiais GM), à produção e o comércio de sementes e à lei de biossegurança. Atualmente, menos de 15% das cultivares de soja utilizadas pelos agriculto30 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

O negócio de sementes de soja Estamos utilizando a soja para ilustrar o negócio de sementes, devido às peculiaridades do número de empresas de melhoramento vegetal, ao número de produtores de sementes e à forma de comercialização. As empresas de melhoramento vegetal possuem a sua associação denominada Braspov (Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais), que congrega mais de 20 empresas, fazendo parte da Abrasem que, por sua vez, abarca todas as associações sementeiras do país. A Braspov, junto com a Abrasem, são membros da Internacional Seed Federation (ISF), entidade que congrega, em termos globais, os obtentores vegetais e produtores e comerciantes de sementes. A criação das empresas de melhoramento vegetal deveu-se à Lei de Proteção de Cultivares implementada em 1997, com base na convenção da UPOV de 1978. Esta lei viabilizou o melhoramento vegetal pela iniciativa privada, que agrega anualmente novas e melhores cultivares de soja, que possibilitam, em média, um acréscimo de produtividade de 2,5% por ano. Neste sentido, o país possui uma produtividade média de soja de 3t/ha, sendo a maior entre os principais produtores mundiais de soja. A taxa de utilização de sementes (TUS) de soja pelos agricultores é de 67%, ou seja, dos 25 milhões de hectares cultivados com soja, 16,75 milhões são cultivados com sementes que passaram por um sistema de controle de qualidade. Este percentual de TUS ainda pode aumentar, pois há regiões em que o uso é bastante baixo. As empresas de sementes e as empresas de melhoramento vegetal investem tempo e dinheiro para promover o uso de sementes de alta qualidade das variedades melhoradas, o que tem ocasionado o aumento da TUS. Neste sentido, estimase que, em média, cada produtor de sementes realiza 10 dias de campo por ano, em que participam centenas de agricultores que não medem esforços para acompanharem as inovações tecnológicas referentes a sementes. A TUS de 67% para soja é desdobrada, em termos de


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comercialização, para 49% na forma de licenciamento e 18% na forma de verticalização. A forma de licenciamento consiste em permitir que o produtor de sementes comercialize uma cultivar de soja criada, desenvolvida e protegida por um programa de melhoramento vegetal. Esta permissão significa, em termos médios, um pagamento (royalty) de 10% do valor da semente ao dono da variedade, por parte de quem produziu e comercializou a semente. Enquanto no sistema de comercialização vertical, a empresa obtentora da cultivar realiza todas as fases, da criação da cultivar à comercialização das sementes. Em termos de grandeza dos produtores de sementes de soja no país, tem-se que há 12 empresas que produzem e comercializam mais de 400.000 sacas de sementes de 40kg por

ano e 180 empresas que comercializam menos de 100.000 sacas/ano. Em termos percentuais, as 12 maiores empresas de sementes representam 34% do total, e as 180 menores representam 31%. Nos últimos anos houve alto investimento por parte dos produtores de sementes em termos de combinadas colhedoras especiais para semente, secadores para possibilitar a colheita na época oportuna, unidades de beneficiamento de sementes com maior capacidade, unidade de tratamento de sementes (tratamento industrial) e utilização do frio dinâmico para minimizar o processo de deterioração de sementes. Esta tendência mostra que o setor está se profissionalizando, requerendo pessoal treinado e grandes investimentos, o que tira do mercado quem não deseja investir e se atualizar. O Brasil possui dimensão continental, ocasionando que o tamanho do produtor de sementes da região do cerrado brasileiro tenda a ser diferente daqueles da região sul. No cerrado, onde 23% da comercialização das sementes são de forma verticalizada, oito empresas produtoras de sementes possuem 42% do mercado, enquanto no sul, onde 48% dos agricultores utilizam semente salva, 110 produtores de sementes comercializam 45% da produção. A TUS na região sul está crescendo, entretanto de forma um pouco lenta, apesar do grande esforço dos produtores e obtentores de sementes. Isto se deve a costumes e tradições que passam de gerações a gerações. A dinâmica da comercialização de sementes passa pela cri-

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¦ Sementes ¦ ação e desenvolvimento de novas cultivares, pela produção das sementes e pela comercialização propriamente dita. Neste sentido, há no país uma forte tendência de os distribuidores atuarem na comercialização de sementes, o que se deve à importância que este elo da cadeia está reservando à semente. Atualmente, o cartão de visitas de uma distribuidora apresenta com letras destacadas que esta comercializa sementes das melhores cultivares. A semente em primeiro lugar, depois vêm as outras coisas. Conclusão Podemos concluir que: 1. A produção de grãos no país continuará a crescer por vários anos, para tranquilidade daqueles que necessitam de alimento a um preço adequado; 2. O aumento de produtividade é o foco das empresas de melhoramento vegetal e dos produtores e distribuidores de sementes; 3. O sucesso do negócio de sementes requer tecnologia e acesso ao mercado; 4. O negócio de sementes envolve empresas de sementes locais de distribuidores. Os distribuidores, geralmente, comercializam agroquímicos, fertilizantes e sementes, sendo que, em termos de grandeza, o negócio de sementes representa a menor fatia. Entretanto, sua participação nas empresas está crescendo de forma acelerada. Tornou-se comum o treinamento em sementes dos técnicos das

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empresas de distribuição, sobre aspectos científicos e tecnológicos, pois são eles que irão atender o agricultor no caso de alguma reclamação sobre a semente. Nestes casos, os conhecimentos de sementes são essenciais para fundamentar as causas de uma falha no estabelecimento de um bom estande de plantas. O Brasil cultiva 25 milhões de hectares de soja, com uma TUS de 67%, propiciando um pujante negócio de sementes desta espécie. Envolve várias empresas de melhoramento vegetal privadas e algumas públicas, sendo que as privadas participam com mais de 85% da área cultivada com suas cultivares. A forma de comercialização das sementes, que é 100% realizada pela iniciativa privada, envolve o licenciamento de cultivares com 75% do negócio e a verticalização, as quais se utilizam de forma crescente das empresas de distribuição de insumos agrícolas. O Brasil, com sua dimensão continental e diversidade cultural e de costumes, requer para cada região estratégias específicas de promoção e uso de sementes.


¦Atualidade¦ Armazenagem do milho 2a safra desafiará produtores nos próximos meses Por: Gustavo Bonato | Portal Economia R7 Se o principal gargalo logístico do setor de grãos no primeiro semestre foi o transporte, incluindo congestionamentos nos portos, na segunda metade do ano o problema não terá uma dimensão menor, mas um nome diferente: armazenagem.

A avaliação é de empresários e representantes do setor produtivo que participaram de um evento de logística em São Paulo. O Brasil acaba de colher uma safra recorde de 81,2 milhões de toneladas de soja, embarcou nos primeiros cinco meses do ano quase 20 milhões de toneladas, mas ainda restam 15 milhões de toneladas da oleaginosa para serem exportados ao longo dos próximos meses. E, com o início da colheita da segunda safra de milho -com um volume histórico estimado em 43,6 milhões de toneladas, o dobro de dois anos atrás--, novos desafios logísticos e de infraestrutura são colocados aos integrantes do agronegócio. Se o Brasil não tem capacidade logística para armazenar e movimentar rapidamente sucessivas safras recordes no verão, estará ainda mais pressionado no final de 2013 após três semestres consecutivos de produção exuberante. "É uma corrida atrás da outra", disse Luiz Lourenço, presidente da Cocamar, uma das maiores cooperativas agrícolas do Paraná, com sede em Maringá. Os esforços que a equipes comercial e de logística da instituição farão nos próximos meses exemplifica o que acontece no país. Nos silos da cooperativa, que têm capacidade estática de 1 milhão de toneladas, ainda há 600 mil toneladas de soja que os produtores preferiram não vender, à espera de um salto nos preços como ocorreu no segundo semestre de 2012,

após uma quebra na safra dos EUA devido a uma forte seca. Nas próximas semanas começará a colheita do milho de segunda safra na região, e o presidente da Cocamar espera que a cooperativa receba 700 mil toneladas do cereal. "Essa é a encrenca. Você tem a superposição. (...) Uma parte do milho está tranquilo. A outra parte vai ter que dar outra destinação, arranjar um parceiro, entregar para ele, fixar (preços) depois. Não é o processo ideal." Se no Paraná a cooperativa pode recorrer a outros proprietários de silos, a sorte não é a mesma em Mato Grosso, Estado líder na produção do milho segunda safra. "Temos que armazenar esse produto, que vai ter mais do que a gente esperava, em ‘silo bag'. Não tem alternativa!", afirmou o diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, organizado por entidades representativas de produtores de Mato Grosso, Edeon Vaz Ferreira. Ele projeta um maior uso dos chamados "silos-bolsa", grandes bolsas plásticas nas quais os grãos são depositados em áreas externas, mas mais protegidos da umidade da chuva. Mesmo assim, em locais menos úmidos ainda poderá haver estocagem a céu aberto. "Vamos ver também montanhas de milho ao ar livre. Isso vai acabar acontecendo", disse Ferreira. O executivo calcula que a necessidade atual de estocagem em Mato Grosso seja de 48,2 milhões de toneladas de grãos, contra uma capacidade existente de 28,7 milhões. E ele estiGRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 33


¦Atualidade¦

ma que o déficit atual, de cerca de 19,4 milhões de toneladas, triplique na próxima década, caso não ocorram investimentos no setor. ALÍVIO NO MÉDIO PRAZO O governo federal lançou uma linha de financiamento com recursos de 25 bilhões de reais a serem oferecidos ao longo dos próximos cinco anos com juros abaixo do mercado, na expectativa de incentivar o setor privado a investir em armazenagem. Apesar do potencial de estimular o crescimento da capacidade brasileira de armazenagem, os resultados aparecerão a médio prazo, alertam os especialistas. "Não há o que fazer nos próximos cinco anos", afirmou o conselheiro do Instituto de Engenharia de São Paulo Renato Pavan, com décadas de experiência no setor de logística do agronegócio . PREÇOS A safra norte-americana de milho está em fase final de plantio e o mercado ainda especula se haverá alguma quebra, já que, ao contrário da seca de 2012, este ano o período começou com chuvas excessivas. No Brasil , os produtores estão de olho nos prognósticos. Se for confirmada a expectativa de uma boa colheita, haverá menos demanda internacional pelo milho brasileiro no segundo semestre, reduzindo a pressão sobre o transporte (frete e portos), mas derrubando os preços no mercado interno. "Não existe pressão para o escoamento do milho. Ele vai ser conduzido (na armazenagem) até novembro, dezembro... Vai pressionar os preços", acredita Ferreira, do Movimento Pró-Logística. O maior volume de milho mato-grossense no Brasil preocupa o presidente da Cocamar. "Por que temos tanto interesse na logística do Norte? Ele (produtor do Centro-Oeste) acaba tendo que dirigir a produção dele para o Sul e concorre com a gente", comentou Lourenço. Na BM&FBovespa, os contratos de milho com vencimento em setembro estão 1,10 real mais baratos que o milho a ser entregue em julho. SOLUÇÕES EMERGENCIAIS Para as cargas de soja e de milho que forem ser exporta34 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

das nos próximos meses, permanecerá o desafio da capacidade de movimentação nos portos brasileiros. "Para o segundo semestre vamos ter gargalos, gargalos e gargalos. Vamos ter as famosas filas quilométricas em Paranaguá, que são recorrentes todo ano. Agora a novidade são as filas em Santos. A fila em Paranaguá existe, só que não está mais na estrada (está dentro do pátio de triagem)", avaliou Olivier Girardi, sócio da Macrologística Consultoria, contratado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para mapear os projetos prioritários em transportes no país. Já que os investimentos em terminais começarão a se concretizar, por ora o especialista sugere mais coordenação entre as autoridades para a liberação de cargas nos portos. "Se a gente pudesse fazer uma convergência dos sistemas da Receita Federal, Anvisa, Polícia Federal, se você tivesse um único banco de dados onde imputasse (inserisse) os dados apenas uma vez... já seria uma grande ajuda", sugeriu. Uma estimativa apresentada pelo Ministério da Agricultura durante um congresso de logística nesta sexta-feira em São Paulo aponta que na safra 2022/23 o Brasil deverá colher até 113 milhões de toneladas de milho, contra cerca de 78 milhões atualmente, e 151 milhões de toneladas de soja, ante 81 milhões na presente temporada. Com este cenário de pujança no campo e defasagem na capacidade de armazenagem e escoamento, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio , Luiz Carlos Carvalho resumiu o sentimento de produtores e empresas. "A gente está numa fase em que precisa de uma revolução. Fizemos uma revolução verde na agricultura. Precisamos de uma revolução na logística."


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¦Conservação ¦

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¦Utilíssimas ¦ CURSO AUDITORES TÉCNICOS DO SISTEMA NACIONAL DE CERTIFICAÇÃO DE UNIDADES ARMAZENADORAS Coordenação: Prof. Dr. Carlos Caneppele Tel.: (65)3615-8613 | 99830740 e-mail: caneppele@ufmt.br Objetivos: - Formação de Auditores Técnicos do Sistema Nacional para Certificação de Unidades Armazenadoras. A formação do Curso de Auditores Técnicos complementa a qualificação do Engenheiro para serviços de consultoria, assessoria técnica em armazenamento e certificação de unidades armazenadoras. Público-Alvo: - Engenheiros Agrônomos e Engenheiros Agrícolas e estar devidamente registrados no CREA; Os candidatos deverão ter cursado uma disciplina de armazenamento de grãos com carga horária de 45 horas/aula ou similar, na graduação ou pós-graduação; ou ter participado de cursos extra-curriculares na área de armazenamento de produtos agrícolas com carga horária mínima de 80 horas-aula;

Certificação de Unidades Armazenadoras) 2 - Auditoria Líder de Qualidade; 3 - Estrutura de Armazenamento no Brasil; 4 - Avanços Tecnológicos na Conservação; 5 - Amostragem e Determinação de Umidade; 6 - Caracterização de sistemas de recepção; 7 - Sistemas de secagem, aeração e armazenamento; 8 - Sistema de movimentação, beneficiamento e transporte de Grãos; 9 - Identificação, Controle de pragas, fungos e Roedores; 10 - Normas regulamentadoras sobre segurança e preservação de acidentes de trabalho 11 - Classificação física de grãos; 12 - Procedimentos técnicos para certificação de unidades Armazenadoras; 13 - Prática em Unidade nível de Fazenda e Coletora; 14 - Prática em unidade a nível intermediária; 15 - Avaliação do curso e dos participantes A ficha de inscrição está disponibilizada online, no portal da Fundação UNISELVA

www.fundacaouniselva.org.br

Documentação exigida: As inscrições deverão ser efetuadas no site da Fundação UNISELVA: www.fundacaouniselva.org.br/cursos/extensão UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA NÚCLEO DE TECNOLOGIA EM ARMAZENAGEM Av. Fernando Correa da Costa, 2367 CEP. 78060900 Cuiabá-MT 1 - Cópia da RG e CPF. 2 - Cópia da Carteira profissional do CREA; 3 - Cópia autenticada do histórico escolar; Obs. Apresentar os documentos no primeiro dia do curso. Inscrição: 27|05|2013 A 12|07|2013 Inicio do Curso: 22|07|2013 Término do curso: 27|07|2013 CARGA HORÁRIA: 48 HORAS/AULA; As aulas acontecem de segunda-feira a sábado das 8:00 as 12:00hs e das 14: as 18hs. Investimento: Taxa de inscrição de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) Obs. Pagamentos realizado até 05/07/2013. O valor será de R$ 2.250,00 (dois mil e duzentos e cinqüenta reais) Corpo Docente: Professores do quadro de docente da UFMT e com participação de professores de outras Instituições de Ensino e Empresas públicas. Conteúdo programático 1 - Legislação Brasileira de Armazenamento (Normas de 40 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2013

Revista Granos & Postcosecha Latino Americana Já esta circulando a nova edição da Revista Granos & Postcosecha Latino Americana - De La Semilla Al Consumo. No seu 18º ano de existência ela vem rechegada com o mais atual conteúdo sobre a Pós-Colheita de Grãos e Sementes na América Latina. Interessados em assinar enviar email para:

consulgran@gmail.com




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