Desterro

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Desterro Finalistas de Escultura Faculdade de Belas-Artes ULisboa

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ESCULTURA NO DESTERRO É com grande satisfação que, em nome da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, apresento mais uma exposição de finalistas do curso de Escultura. Desta vez, a exposição que reúne os estudantes que terminaram a sua licenciatura no ano letivo de 2013-2014. Esta satisfação tem uma tripla razão: pela qualidade da formação ministrada e dos resultados alcançados; pela possibilidade dos novos artistas se apresentarem num espaço da cidade com a importância histórica, social e patrimonial do antigo Hospital do Desterro; e, finalmente, pela capacidade de uma arte tão antiga como a escultura continuar a reinventar-se perante os nossos olhos. De facto, através do seu talento e criatividade, estes novos artistas tornam incontestavelmente contemporânea uma área de estudo, de investigação e de criação cuja existência académica recua à fundação da própria escola de belas artes em 1836.

Victor dos Reis Presidente da FBAUL

A Escultura no Desterro não deve ser confundida com o Desterrado1 nem com o desterro da escultura. As obras que agora se exibem no Mosteiro de Santa Maria do Desterro, constituem, pelo contrário, um sinal de vitalidade da escultura, que aceitou o repto de sair do Convento de S. Francisco, no Chiado, (onde funciona a FBAUL) e de trabalhar, durante o último semestre de 2014, outro contexto de referência. Volvido cerca de século e meio sob a modelação desse marco do naturalismo, ícone do êxodo português, a escultura passou, entretanto, por inúmeras transformações e prossegue hoje por caminhos bem diversos. A prática contemporânea, já pouco tem a ver com a representação e mimese do primado clássico, ou com a praxis construtiva do modernismo, que exacerbava a autonomia do médium; a prática contemporânea, pós fluxus, tornou-se cada vez mais abrangente e miscigenada e reflecte um clima de indiferenciação de meios, materiais e técnicas; na crescente expansão de campo, a escultura passou hoje a integrar práticas tão diversas como a fotografia, o vídeo, a performance ou a instalação. Para estes jovens artistas, recém-licenciados, a experiência de trabalharem junto à Mouraria, com tudo o que isso significa (nomeadamente, em termos de multiculturalidade) num espaço marcado pela arquitectura quinhentista, cistercense, mas que ao longo dos séculos se foi adaptando a outras funções2, como bem o demonstram as profundas cicatrizes que apresenta, constituiu, simultaneamente, um desafio e uma oportunidade de aprendizagem.

1. Escultura oitocentista de Soares dos Reis – O “ Desterrado” — mármore de Carrara, 178 x 68 x 73 cm, (Porto, Museu Soares dos Reis / bronze e gesso, Lisboa, Museu do Chiado) Roma, 1872. 2. Desde 1591, momento da construção, até ao terramoto de 1755 o edificado serviu de mosteiro aos frades bernardos da ordem de Cister. Entre 1789 a 1806 foi Hospital da Marinha; entre 1814 a 1834 pertenceu à casa Pia de Lisboa e serviu como colégio dos meninos órfãos; durante o mesmo período parte do edifício fez parte dos anexos hospitalares de S. José destinado a doenças infecto-contagiosas e venéreas. Entre 1895 e 1951 na sequência de uma empreitada de obras públicas o edifício foi adaptado a hospital agregado ao subgrupo ‘Capuchos — Desterro — Arroios’; No século XXI o Hospital foi desactivado e em 2007 foi adquirido pela Sagestamo; Em 2013 na sequência da parceria entre a Sagestamo a Mainside e a CML foi desencadeado um projecto de reabilitação para ocupação temporária do edifício.


DESTERRO +500 — A revelação O desafio teve, sobretudo, a ver com a possibilidade de se realizarem propostas de intervenção e/ou integração que estabelecessem conexões com o legado histórico arquitectónico e cultural do edifício. A oportunidade de aprender, fora do contexto académico, resulta, mormente, da possibilidade de se sedimentarem noções que em abstracto são, por vezes, difíceis de entender. Além das questões formais (que têm a ver com o acerto da escala e da proporção, com a adequação das tecnologia aos materiais, com o enquadramento no espaço, com a percepção das obras instaladas, etc.), o terreno da praxis confronta-nos com a necessidade de se conciliarem vontades e de se reunirem sinergias para se ultrapassarem diferendos idiossincráticos e se resolverem problemas logísticos que, só in loco, se deparam. Olhando, retrospectivamente, para o projecto, agora concluído, imagino que os participantes se sintam gratificados pelo que aprenderam na interacção com the real thing e se sintam mais encorajados a intentar novos projectos. Este já está!3 Por muito desânimo e incredulidade que algumas vezes visse estampado em alguns rostos, reparo, agora, como se abrem em sorrisos de satisfação e isso é o bastante para esquecer as agruras do processo e continuar a acreditar que tudo é possível. Recordam-se do início? Das dúvidas e da descrença? A satisfação de ver agora a exposição de ‘finalistas de 2013-2014’, in situ, constitui um motivo de satisfação acrescida, até porque se ultrapassaram, finalmente, os diversos constrangimentos, que inibiram a sua realização na data inicialmente prevista (Setembro / Outubro de 2014). Afinal o que são uns meses comparados com os 500 anos do lugar (1500-2000) e o propósito de devolver o mosteiro, com novas funcionalidades, à cidade de Lisboa, por mais quinhentos?

José S. Teixeira Professor Auxiliar, FBAUL

3. Graças, nomeadamente, ao especial empenho da Margarida Fragueiro que nunca desistiu de mobilizar os colegas, sacrificando inclusive, o tempo de se dedicar ao seu trabalho.

Passados 500 anos de utilização como mosteiro e como hospital, revela-se agora um novo ciclo de +500 anos para o antigo Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro. Em 2014 iniciou-se a revelação do Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro, começando a libertá-lo dos acrescentos sem interesse patrimonial que o aprisionavam. Uma boa parte da arquitetura original já voltou a ver a luz do dia, mas este trabalho não tem um final à vista. O respeito que o edifício exige fez com que a Arqueologia tenha sido incorporada na obra e, no futuro, será possível aos visitantes acompanharem de perto e até envolverem-se nos trabalhos arqueológicos. Uma faceta bem visível do peso que a cultura, em todas as suas dimensões, terá no Desterro. Quanto ao conjunto de experiências pensadas para o edifício, baseiam-se sobretudo nas várias histórias que o Desterro viveu ao longo dos passados 500 anos. A hospedagem, contida no ADN do edifício, construído em 1591 para albergar os monges da Ordem de Cister que vinham a Lisboa, fará nascer um novo conceito de alojamento através de cápsulas habitáveis, instaladas nas naves dos antigos dormitórios do Mosteiro; das antigas hortas dos monges nasce o conceito de maternidade de plantas; o grande refeitório comunitário vai renascer, com o fogo como elemento central; a típica independência dos mosteiros inspira à criação do centro de produção, onde os ofícios antigos ressurgem adaptados aos dias de hoje. Da filosofia de cura e bem-estar, decorrente das funções hospitalares a partir de 1856, surgiu a ideia de implementar projetos ligados às medicinas alternativas e naturais. Aqui se inserem conceitos como a biblioterapia, o uso de livros como remédios, ou as terapias expressivas através das artes. O ensino e a investigação, presentes quer enquanto mosteiro quer enquanto hospital, inspira ao acolhimento de projetos em diferentes áreas da formação. Estas são algumas das ideias traçadas para o futuro do Desterro, que depois de ser mosteiro e hospital, se revela agora um centro experimental aberto ao Mundo.


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FINALISTAS ESCULTURA FBAUL 13’14

“Multiculturalidade” Instalaçao site specific found object, composta por quatro áreas de interligação e um corredor. Em primeira instância, a instalação pretende sugerir uma relação entre o conceito de multiculturalidade, a história do edifício e o seu futuro.

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Alexandre Piçarra


Pensamento, recolha, aplicação Dimensões variáveis 2015

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FINALISTAS ESCULTURA FBAUL 13’14

“424” Baltazar Álvares (1560-1630), autor da projecção arquitectónica da Ordem de Cister, vê hoje a sua obra arquitectónica alterada ao longo de 424 anos de História. Um edifício outrora Mosteiro-Hospital da Marinha-Quartel Militar-Colégio da Casa Pia e Hospital Civil de Lisboa, este espaço esconde assim a sua história nas várias intervenções arquitectónicas nas suas paredes desde a sua construção até aos dias de hoje, que não foram apagadas, mas sim ocultadas com o tempo por baixo de massas e paredes sobrepostas, escondendo assim uma sobreposição histórica. 424 é uma escultura que tem como base a construção do edifício.

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André Domingues


Pinho, metal DimensĂľes variavĂŠis 2015

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FINALISTAS ESCULTURA FBAUL 13’14

“LIFELESS” O projecto, baseado no conceito da doença, ou nas doenças sexualmente transmissíveis, procura adoptar formas e cores que se relacionam com a morte. As formas, inspiradas em imagens e moldes realizados a partir das doentes do Desterro, representam assim tumores e células infectadas. As cores assumem um papel simbólico, o sangue e a morte. É importante ter em conta que o próprio material (collants) se classifica como uma peça de roupa feminina, sexual e erótica, o que acaba por se relacionar inteiramente com o tema da prostituição. A dimensão da peça foi criada com a preocupação de estabelecer uma maior relação e uma experiência mais íntima e intensa com o observador.

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Beatriz Coelho Palma


Esferovite, collants, corda 300 Ă— 250 Ă— 130 cm 2014

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“take care of your belongings” 1. Molhe as mãos com água. 2. Aplique sabão para cobrir todas as superfícies das mãos. 3. Esfregue as palmas das mãos, uma na outra. 4. Palma da mão direita no dorso da esquerda, com os dedos entrelaçados e vice-versa. 5. Palma com palma com os dedos entrelaçados. 6. Parte de trás dos dedos nas palmas opostas com os dedos entrelaçados. 7. Esfregue o polegar esquerdo em sentido rotativo, entrelaçado na palma direita e vice-versa. 8. Esfregue rotativamente para trás e para a frente os dedos da mão direita na palma da mão esquerda e vice-versa. 9. Com a mão direita agarre o pulso da mão esquerda e esfregue com o polegar da mesma na bochecha lateral. 10. Esfregue com o punho fechado na palma da mão, para retirar o gesto do murro sobre a mesa. 11. Esfregue com o polegar direito na palma da mão esquerda num movimento circular e vice-versa. 12. Esfregue no dedo indicador da mão esquerda com os dedos da mão direita, para limpar o gesto de apontar e vice-versa. 13. Limpe o pecado do médio da mão direita com os dedos da mão esquerda e vice-versa. 14. Esfregue o dedo anelar da mão esquerda com os dedos da mão direita e vice-versa. Mesmo havendo partes do corpo que não são usadas com a mesma frequência, devem ser limpas com o mesmo nível de preocupação. 15. O dedo erecto do vício trés-chique em caso de muito uso, deve ser esfolado para uma maior contenção. Esfregue o dedo mindinho da mão esquerda com os dedos da mão direita e vice-versa.

16. Assegure-se que o escoamento da água suja que se encaminha para os braços, não deixando que a mesma contamine o resto do corpo. Pulso da mão direita contra o pulso da mão esquerda. 17. Aperte a mão esquerda em forma de punho, esticando a pele dos nós para lavá-la, com dedos na mão direita, na sua melhor condição e vice-versa. 18. Entrelace os dedos e junte as palmas das mãos, fazendo efeito vácuo para sugar as impurezas das palmas da mão. 19. Pressione palma contra palma, com força. 20. Estique os dedos da mão direita e esfregue-os com a mão esquerda, para limpar a actividade caso exerça a profissão de carteiro e vice-versa. 21. Coloque punho contra punho, para uma limpeza sonora, lavagem em reco-reco. 22. Arraste as unhas da mão esquerda na mão direita para uma recolha mais profunda das impurezas, utilize a unha como instrumento agriculta, lavrar a mão, e vice-versa. 23. Retire a sujidade das unhas, usando os dentes no intervalo, entre unha/dedo. Depois deverá lavá-los também. 24. Enxague as mãos com água. 25. Seque as mãos com toalhete descartável. 26. Utilize o toalhete para fechar a torneira, se esta for de comando manual. 27. Agora as suas mãos estão limpas e seguras.

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Carolina Garfo


42 desenhos Lápis de cor s/ papel 42 × 59.4 cm (cada)

Texto com cântico, voz de Almeno Gonçalves, Hospital do Desterro Lisboa 00:09:48, loop 2014

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“Shelter” Obra constituída por três peças semelhantes inspiradas numa semi-esfera seccionada em partes iguais, que coincidem numa aresta central, criando assim um “ponto de equilíbrio”. Parte da escultura é construída em cartão dando a percepção de fragilidade da natureza humana evidente em todos aqueles que viram no Desterro a sua casa. O espaço negativo resultante da disposição das peças procura transmitir a sensação de conforto. Esse mesmo espaço central é iluminado, graças à luz que penetra por entre

as três brechas da peça. Desta forma, procura-se transmitir uma ideia de esperança, de um novo rumo, para todos aqueles que por motivos de carência, doença fisico-mental, ou outras circunstâncias da vida, foram abandonados pela sociedade e aqui encontraram um porto de abrigo. Shelter pretende assim homenagear a história do Desterro, exponenciando e glorificando toda a a sua contribuição ao longo destes 500 anos na luta pela preservação dos direitos humanos.

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Carolina Meireles Ladeira


Contraplacado de pinho, cartão 110 × 200 × 200 cm 2014

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"3 MOMENTOS"

"(DES)CONSTRUÇÃO" Hoje em dia os locais de passagem e entrada tornaram-se meros “objectos” sem outro sentido ou função que a do próprio caminho de que fazem parte. Perderam o seu simbolismo e deixaram de merecer atenção, meditação, ficando só “aptos” pelo seu lado funcional.

Bailarinos e actores, respondem/interpretam/ improvisam e reagem a estímulos vocais, estímulos sonoros mecânicos ou naturais, a relação com o exterior, com pessoas, com o quotidiano, com elementos naturais ou não naturais, e com o interior, criando, conhecendo e envolvendo-se com o espaço.

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Catarina Correia


Oliveira brava e dois abrunheiros DimensĂľes variĂĄveis 2014

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“Bladder” No Hospital do Desterro surgiu a primeira consulta de urologia do país, em 1902. A Bexiga, presente no Sistema Urinário, funciona como um reservatório temporário para o armazenamento da urina.

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Fábio Maçorano


Metal, cimento, tijolo 170.5 Ă— 75 Ă— 75 cm 2014

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“Sem título” Reinterpretação de silhuetas e/ou vultos de gente que outrora vivia no espaço, cujas figuras e suas vestes se transformaram, através do desenho, em panejamentos a risco metálico — materialização da linha gráfica.

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Francisco Barahona


Ferro, varão liso 200 × 130 × 160 cm 2014

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“O Canto na Esquina” Fotografei um canto, projectei-o numa esquina situada no piso 0 da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e verifiquei que era possível provar a existência de outro espaço. Para além disto, quis ir mais longe e experimentar a vivência nesse espaço ilusório. Para tal, delimitei no canto um triângulo de 80 × 80 × 112 cm que constituía o espaço onde me poderia colocar de maneira que, ao encaixarem os dois espaços na projecção, o meu corpo coubesse e desse a ilusão de que estaria confinada nesse sítio. O meu intuito ao ser protagonista do meu próprio vídeo foi o de sentir o espaço criado e de avaliar a minha imaginação, dado que o espaço ilusório é constituído por quatro paredes, onde duas delas só se tornam parte do espaço quando projectadas na esquina.

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Inês Vera-Cruz Pinto


Projeção de vídeo 300 × 100 cm 2014

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“Entre(valo)” Entre (valo) surge na sequência da criação de uma escultura para o Antigo Hospital do Desterro. Criada a partir de uma primeira absorção dos elementos arquitectónicos do espaço — os arcos —, manifesta, numa segunda absorção, a memória e o intervalo entre passado/futuro. Essa barreira entre espaços e tempos distintos permanece, ainda que desprovida de matéria. A escultura parece estar parcialmente enterrada no espaço onde se encontra, manifestando a barreira entre o que se passou e permanece e o que se espera num futuro próximo. Barreira ténue em que as memórias imateriais e leves jogam com a matéria enchente do mesmo espaço, mesmo tempo.

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Janice Rocha


Pinho 90 × 150 × 250 cm 2014

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“Desterro” A reabilitação deste espaço a fim de o transformar, isto é regenerar, passa pela necessidade da limpeza do mesmo. Procedi à limpeza do espaço, recolhendo a água impura, os seus restos e detritos. Armazenei toda a água suja. A água armazenada utilizei-a para materializar a peça; à água suja adicionei o gesso. A escultura compõe-se por camadas e cada uma corresponde à gradação de limpeza dos espaços. A quantidade de sujidade tinge o gesso e as camadas traduzem a gradação da reabilitação, isto é a limpeza do espaço. As restantes camadas que vão aclarando correspondem às limpezas feitas sucessivamente, até á ultima camada branca, limpa, que resulta do espaço quando limpo, purificado, regenerado. A sua forma guarda em si, e na sua matéria, os detritos do espaço e a sua temporalidade, podendo-se assim considerar uma escultura que marca não só a memória do espaço antigo, aquilo que este já foi, bem como a sua regeneração, aquilo em que o espaço se está a tornar.

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Joana Oliveira


Gesso, água do Desterro 160 × 65 × 60 cm 2014

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“Sem título” Uma dissertação sobre a dicotomia entre interior/exterior, entre liberdade física e o enclausuramento, uma peça sobre uma vista de Lisboa e o seu respectivo ambiente e também sobre a imaginação, despertada pelos passeios tomados num antigo e ruinoso convento, onde os ecos da avenida vibram nos longos corredores de arcadas, contando a história rotineira que é o frenesim da cidade.

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João de Lemos


Gesso, terra, alumínio 100 × 250 × 200 cm 2014

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“DESERRO” Um trabalho de arquivo, em que sobrepus as minhas inquietações às fichas médicas dos antigos pacientes — arquivando-me sobre os arquivos anteriores, utilizando desde impressões em preto e branco, acrílicos, a máquina de escrever para cobrir a informação obsoleta com a minha informação irrelevante.

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"FLUXO" Como indica o nome, a instalação amplifica o impacto de um conjunto de gotas ao cair. Recolhem-se no penico as vibrações da água que cai dos sistemas de soro e daí resulta um ritmo que é captado pelo microfone para ecografias (“Dopptone”) e amplificado pelo dispositivo, bem como pela caixa que o contém. Regista assim o fluxo praticamente inaudível das gotas de água como um acontecimento à escala macro-escópica.

João Viotti


1. Registos de pacientes antigos, ficheiro 25 × 18 × 75 cm 2014

2. Garrafas de soro, perfil de metal, penico, caixa de madeira, microfone p/ ecografias, água 75 × 75 × 250 cm 2014

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“Se a tivesse não saberia o que fazer com ela” Instalação multimédia / escultura espacial composta por tubos de metal torcidos ligados de forma amovível às paredes paralelas e ao chão da sala “super-nova”, como uma linha conectora ou um contentor. Propondo-se a ligar o espaço àqueles que o habitam com a sua experiência, através de uma projeção de caráter humorístico e alienativo. Projeção audiovisual de elementos aleatórios luminosos na parede do fundo da sala. Áudio compositivo de trechos sonoros de filmes do cinema atual de efeitos dramáticos, fundamentando uma ligação entre todos os elementos apreendidos como: imagem, som, objeto e espaço, em sincronia.

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Jonas Leão


Instalação multimédia 500 × 500 cm 2015

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“Ecdise” O edifício do Desterro foi essencialmente duas entidades: primeiro um convento e mais tarde um hospital. E agora, com o projecto +500 segue-se a sua reabilitação. A soma destes factores, em adição ao estado do espaço quando nos foi apresentado, resultou na minha vontade de desenvolver um trabalho relacionado com regeneração. Seguindo essa perspectiva parti da serpente como referência, tanto na sua vertente simbólica como biológica. Na sua significação simbólica, um tanto maléfica no Cristianismo, assim como a sua presença no símbolo da Medicina (o Bastão de Asclepius), ressoa com o passado do local. Além disso, um dos enfoques do Hospital do Desterro era a Dermatologia, o que me levou à ecdise. Ecdise é o nome do processo da muda de pele pelo qual a serpente passa periodicamente. Ao libertar-se do antigo exosqueleto, regenera-se e fica apta para a próxima fase da sua evolução. O mesmo também se aplica dado o contexto atual do espaço do Desterro. Assim como a serpente continua a ser a mesma depois da ecdise, o Desterro permanece, de uma forma ou outra, um local de cura.

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Margarida Fragueiro


Cola branca, betadine DimensĂľes variĂĄveis 2014

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“INSIDE-OUT” Considerando o contexto histórico, social, religioso e espacial do Hospital do Desterro, direcionei o projeto para o enclausuramento das prostitutas, bem como para o refúgio dos monges enquanto procuravam ajuda espiritual. Tomei como ponto de partida a apropriação de portas e portadas velhas e utilizei a sua morfologia como uma característica da própria linguagem de “INSIDE-OUT”. A peça em si remete tanto para um lado mais sexual e voyeurista, como também, na sua falsa percepção de espaço, para todas as sensações agregadas ao enclausuramento dos que já lá passaram, tanto as prostitutas como os monges.

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Maria Taborda Ferreira


Portas, portadas, espelhos 225 Ă— 160 Ă— 160 cm 2014

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“Fungo” Sendo o antigo Hospital do Desterro um espaço onde eram tratadas doenças dermatológicas, nomeadamente venéreas, causadas por vários tipos de agentes infecciosos, esta peça é a representação de um fungo a uma grande escala pretendendo mostrar o crescimento, desenvolvimento e alastrar de uma dessas infecções. A obra tem um ar pesado visto que este espaço nunca foi belo nem feliz, e é produzido com materiais pobres como toda a história da população local. Esta peça espelha toda a amargura vivida neste espaço e o sufoco sentido por aqueles que por aqui passaram e viveram.

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Miguel Santos


Papel DimensĂľes variĂĄveis 2014

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“Suspiro” / “E” A performance decorre com a presença pessoal, estática, centrada e constante no interior do plástico manga (forma insuflada), que se enche de ar com o apoio da bomba elétrica em tempo real, até atingir a sua forma máxima, o que permite a ocupação do espaço sempre num sentido continuo, dandose em seguida o seu esvaziamento e assim consecutivamente. Ar — insuflar — paragem — esvaziar — — Permanência

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Rafaela Pousado


4:3, cor, som 00:05:05 2014

Plástico manga, bomba de ar elétrica Ø 250 × 500 cm 2014

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“Sem título” O trabalho é uma evocação dos tempos em que a casa Pia de Lisboa foi instalada no Convento do Desterro, devido às invasões francesas. Sendo, formalmente, um objeto que está ligado aos estabelecimentos de ensino, o material é referente a um dos vários tecidos utilizados pela Casa Pia para a produção de vestuário para os seus alunos.

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Rui Freitas Ferreira


Tecido, espuma 85 × 150 × 125 cm 2014

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“Sete Mosteiros, seis dias e 938 km” Sete Mosteiros, seis dias e 938 km representa os seis dias de viagem pelos sete mosteiros visitados. Em cada mosteiro instalei um desumidificador com o intuito de recolher a humidade do local e, através do processo de condensação, o ar deu origem à água. Armazenada em recipientes de vidro, foi selada e trazida de volta a Lisboa.

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Sebastião Borges


1. Tijolo, cimento 200 × 250 × 80 cm 2015

2. Caixa em mogno, recipientes com água recolhida, gravuras em vidro 30.5 × 26.5 × 50 cm 2014

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FINALISTAS ESCULTURA FBAUL 13’14

“Licenciado” Esta obra é expressa através de quatro vídeos que documentam uma performance efectuada no local, onde em é lançada de formas diversas a, ou as pedras, demonstrando a possível existência de vários acontecimentos ou sentimentos, que podem existir ou terem existido no mesmo local, marcados pela sua história, pelo seu ambiente ou até pela sua arquitetura, através de “o lançar da primeira pedra”, onde a pedra toma a forma de uma metáfora do passado.

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Valente


VĂ­deo/performance 4:3, cor, som 00:03:29 2014

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ALEXANDRE PIÇARRA

CATARINA CORREIA

910 237 119 / alpicarra@gmail.com

anacatarina491@gmail.com

Lisboa, 1990. Reside em Lisboa. FORMAÇÃO: Concluiu em 2014 a licenciatura de escultura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

Lisboa, 1991. FORMAÇÃO: Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2014). EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: Exposição de Ilustração, Desenhar a Poesia, Biblioteca Municipal de Loures (2013); Exposição Abril Hoje na Reitoria da Universidade de Lisboa, com a participação da Associação 25 de Abril (2014); Projeto Memorial a José Afonso, apoiado pelo Orçamento Participativo 2013, com a parceria da Associação José Afonso Lisboa (2014); Edições 7ª, 8ª e 9ª dos GAB-A, FBAUL.

ANDRÉ DOMINGUES andredomingues3@hotmail.com

Lisboa, 1991. Reside no Conselho do Seixal. FORMAÇÃO: Curso Humanístico de Artes Visuais na Escola Secundária de Vila Real de Santo António; finalista da Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Conclui no presente ano, 2015, a licenciatura de Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

BEATRIZ COELHO PALMA 912 138 926 / beatrizpalma93@gmail.com

Lisboa, 1993. FORMAÇÃO: Conclusão do secundário no Colégio Valsassina (2011); Licenciada pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2014); Participação no programa de Erasmus 2013 em Budapeste, Hungria, na instituição Hungarian University of Fine Arts (2013). EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: Museu Casa das Histórias Paula Rego (2011); Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no Festival Experience (2014). PRÉMIOS: Atribuição do primeiro prémio de escultura com o projeto Com3paço no Concurso ArteMAr 2013.

CAROLINA GARFO

FÁBIO MAÇORANO 927 283 413 / fabiomacorano@hotmail.com

Lisboa, 1988. FORMAÇÃO: Em 2014, concluiu a licenciatura de Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: Exposição de Ilustração — Desenhar a Poesia, Biblioteca Municipal de Loures (2013); Festival FDUL EXPERIENCE, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (2014).

FRANCISCO BARAHONA franciscobarahonafranco@gmail.com

Lisboa, 1992. Reside no concelho de Cascais e estuda em Lisboa. FORMAÇÃO: Conclui em 2011 o ensino secundário na Escola Secundária de São João do Estoril. Actualmente estuda na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: Exposição de Ilustração, Desenhar a Poesia, na Biblioteca Municipal de Loures (2013); Libero Libri Essegi, Bolonha (2014).

carolinagarfo@gmail.com

Paradela, 1993. FORMAÇÃO: Concluiu em 2014 a licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

CAROLINA MEIRELES LADEIRA 966 476 638 / cscml@hotmail.com

Portalegre, 1993. Reside e estuda em Lisboa. FORMAÇÃO: Concluiu em 2014 a Licenciatura de Escultura na FBAUL, Workshop de Geometria Construtiva e Encaixes de Madeira, na FBAUL (2014); Workshop de Fundição em Chumbo, na FBAUL (2014); Workshop de Artes Plásticas em Portel (2008). EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: Exposição de Artes Plásticas em Portalegre (2008); Exposição internacional online de Medalhística (2013); Exposição no Festival FDUL Experience (2014). CONCURSOS: Concurso de Artes Plásticas do INATEL (2011); Concurso de Medalha Comemorativa dos 500 anos da Embaixada de D. Manuel I ao Papa Leão X (2013); Concurso para o Troféu LUMEN, da RTP (2014). RESIDÊNCIAS: Convidada para a participação na Intervenção na Paisagem em Proença-a-Nova (2014).

INÊS VERA-CRUZ PINTO 915 151 977 / inesvcpinto@gmail.com

Almada, 1993. FORMAÇÃO: Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: exposição de Ilustração Desenhar a Poesia na Biblioteca Municipal de Loures (2013); Exposição Libero Libri na Faculdade de Belas-Artes de Bolonha (2013); Exposição na Faculdade de Direito de Lisboa no Festival Experience (2014).

JANICE ROCHA 917 922 393 / janicecrocha@hotmail.com

Oliveira de Azeméis, 1992. Reside em Oliveira de Azeméis e estudou em Lisboa. FORMAÇÃO: Concluiu em 2014 a licenciatura em Escultura pela FBAUL.


JOANA OLIVEIRA

MIGUEL SANTOS

912 275 083 / joanapolv@gmail.com

miguel_santos12@hotmail.com

Lisboa, 1993. FORMAÇÃO: Concluiu o Ensino Secundário na Escola Secundária Artística António Arroio (2010); Licenciatura pela FBAUL (2014).

Lisboa, 1993. Concluiu em 2014 a licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Assistente Escultor no Simpósio Internacional de Escultura em Pedra — Simppetra, Caldas da Rainha 2014; Colectiva Festival FDUL experience 2014; Exposição Escultura em Pedra no Vestígios Bar 2015.

JOÃO DE LEMOS Lisboa, 1991. Actualmente estuda na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

JOÃO VIOTTI cargocollective.com/joaoviotti

Lisboa, 1993. Estuda em Lisboa. FORMAÇÃO: Concluiu em 2014 a Licenciatura de Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: Festival FDUL Experience (2014).

JONAS LEÃO 919 491 629 / j.arcary@gmail.com

Almada, 1988. FORMAÇÃO: Licenciado pela Faculdade de Belas-Artes Universidade de Lisboa (2014). Produção e participação: Reduce all creation to ash — Produção, direcção e actuação em equipa do espectáculo performativo pirotécnico com “espadas de fogo”, Covil Bar Almada (2009); Participação no espectáculo do grupo de teatro Cenas da Areia com Direcção Cénica de Francis Select, com representação simultânea de manipulação Pirotécnica, Casa da Juventude de Cacilhas (2010). Dirigente associativo no departamento de eventos da Associação de Estudantes de Belas-Artes (2012/13). Bolseiro no apoio a diversas acções do Gabinete de Relações Públicas da FBAUL (2012/2014).

RAFAELA POUSADO Lisboa, 1990. FORMAÇÃO: Actualmente estuda na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

RUI FREITAS FERREIRA 960 376 272 / ruifilipeferreira1@gmail.com

Lisboa, 1991. Reside em Rio de Mouro, Sintra. FORMAÇÃO: Frequenta o 1º ano no Mestrado de Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Licenciado em Escultura pela mesma Faculdade (2013/2014). Frequência do 1º ano da Licenciatura em Artes Plásticas, na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (2010/2011). EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: INTRATRE — Exposição de Arte Contemporânea do 50º Aniversário das Aldeias de Crianças S.O.S. de Portugal (2014); Damage is Done, VAAG Galeria de Arte Contemporânea; LiberoLibro Essegi , Bolonha, Itália (2014); 17º Concorso Internazionale Scultura da Vivera 2013 Vecchio/Neovo, Fondazione Peano, Peano, Itália; Desenhar a Poesia: A Poesia Ilustrada por Alunos da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Loures (2013); 3ª Edição das GAB-A, Lisboa (2012).

SEBASTIÃO BORGES sebastiao.borges.pires@gmail.com

MARGARIDA FRAGUEIRO margaridafragueiro@hotmail.com

Lisboa,1993. FORMAÇÃO: Concluiu em 2014 a licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

Angra do Heroísmo, Terceira, 1992. Estuda na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. VALENTE 917 030 023 / joaovalente_1@hotmail.com

MARIA TABORDA FERREIRA taborda.maria@gmail.com

Lisboa, 1993. FORMAÇÃO: Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2014); Participação no programa ERASMUS na Hungarian University of Fine Arts (2013). PRÉMIOS: primeiro prémio no concurso ArteMar Estoril 2013 com o projeto Com3Paço.

Lisboa, 1992. Reside no concelho de Sintra em Lisboa. FORMAÇÃO: Licenciado pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2014). EXPOSIÇÕES COLECTIVAS: Exposição de Ilustração, Desenhar a Poesia, na Biblioteca Municipal de Loures (2013); Concurso Internacional de Escultura em Cuneo (2013); exposição coletiva na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no Festival Experience (2014); Concurso de Artes Plásticas do INATEL (2104); Assistente convidado para o simpósio Simpetra nas Caldas da Rainha (2014).


FINALISTAS ESCULTURA FBAUL 13'14

7—30 maio de 2015 Antigo Hospital do Desterro Lisboa Organização e edição Faculdade de Belas-Artes Universidade de Lisboa Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Lisboa Tel. [+351] 213 252 108 grp@fba.ul.pt · www.fba.ul.pt

© FBAUL, 2015. © dos textos e das fotografias, os autores.

Coordenação Prof. Auxiliar José Teixeira Comissão de finalistas Margarida Fragueiro, Sebastião Borges Relações públicas Isabel Nunes, Teresa Sabido Fotografia Tomás Gouveia, exceto pp.: 4, 11, 14, 16, 21, 25, 28, 39, 43 Design de comunicação Tomás Gouveia Impressão e acabamento LST artes gráficas ISSN 2183-5276 Depósito legal 391959/15

Lisboa, maio 2015


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