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Doutor Gama

“Doutor Gama” é um filme extremamente necessário. Luís Gama (1830 - 1882) foi um dos primeiros intelectuais negros do Brasil e pouco – muito pouco – aprendemos sobre sua história. O advogado autodidata, poeta, jornalista e patrono da abolição da escravatura no Brasil, que libertou mais de 500 pessoas da escravidão, teve sua história contada no filme lançado no mês de seu nascimento, dirigido por Jeferson De.

Nascido de ventre livre, o filho de Luisa Mahin – mulher africana, de luta, presente nas articulações da Revolta dos Malês e Sabinada – Luís Gama foi escravizado aos 10 anos de idade, após ser vendido por seu pai – um homem branco - para quitar suas dívidas. Assim começa o primeiro tempo do filme, pautado em sua infância. No segundo tempo, temos Gama adulto, trabalhando ainda escravizado em uma casa onde, com a ajuda de Antônio Araújo, aprende a ler e escrever e tornam-se grandes amigos. No último tempo do longa, temos Gama já advogando na causa abolicionista.

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Caroline Rodrigues Ferreira

Psicóloga(CRP 07/32861), mestranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e pós graduanda em Terapia Familiar (FAVENI). Atua na área Clínica e Social. Pesquisa sobre feminismos negros, Psicologia Social, Música e Políticas Públicas.

A temática do racismo como é expressa no filme nos mostra o quanto ainda enfrentamos situações muito parecidas com as do século XIX. Frases que ainda permeiam nosso cotidiano como “você é praticamente como um membro da nossa família”, direcionada a Gama quando reivindica sua liberdade, nos ajudam a pensar o racismo estrutural no Brasil, a relação com a escravização e seus efeitos na História, visto que muitas empregadas domésticas (classe trabalhadora em que a maioria das mulheres é negra) ainda se deparam com esta expressão enquanto buscam por seus direitos trabalhistas.

Doutor Gama nos captura com a sensibilidade e com o cuidado da direção em evidenciar as lutas de Gama sem a espetacularização da violência extrema contra corpos negros, algo que, infelizmente, é comum em produções audiovisuais que tratam do período escravocrata. Esse é um dos principais pontos positivos do filme: mesmo retratando um dos períodos mais violentos da história do país, não se perde nessas cenas e enfatiza as lutas, conquistas e os afetos do abolicionista.