Livro \\ Cistermúsica 2016

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programação principal

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Mecenas Programação Principal


Admirável Mundo Novo Shakespeare 400 Anos O brave new world, That has such people in’t! “Oh, admirável mundo novo, Que tal gente nele tem!” William Shakespeare, A Tempestade, Ato V, Cena I


Cistermúsica 2016 Alexandre Delgado e Rui Morais, direção artística Rui Morais, diretor executivo Dulce Alves, assistente do diretor executivo Susana Martins, diretora de produção Henrique Bértolo, Vítor Santos, produção e apoio técnico Inês Silva, assistente de produção (estágio) David Mariano, diretor de comunicação Mário Ferreira (Óbidos Produções), direção técnica Brochura Cistermúsica 2016 Alexandre Delgado, edição David Mariano, coordenação Alexandre Delgado e David Mariano, tradução de textos


Índice Romeu & Julieta de Gounod . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10 Ludovice Ensemble . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Henschel Quartett . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Caricature of She . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32 Vasco Dantas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 The Orlando Consort . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Banda Sinfónica de Alcobaça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Face Two Phase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Play False . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Officium Ensemble . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Alma Mater . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72 Manuel Campos + Alia Kache . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 Coro Gregoriano de Lisboa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Duo Piaolin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 EGO | Orquestra Estágio Gulbenkian . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .102 Elena Kelessidi e João Paulo Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 Orquestra Euro-Atlântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116


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Nota de Abertura O ano de 2016 traz consigo a marca da celebração de duas grandes efemérides da cultura universal, os 400 anos da morte de William Shakespeare e de Miguel de Cervantes. Assinalada oficialmente à data de 23 de abril, a obra destes dois grandes vultos, considerados, respetivamente, os pais do Teatro e da Literatura modernos, é indissociável do tempo em que viveram, o tempo de um Mundo Novo! A grande herança que Portugal deu ao Mundo foi a grande aventura dos Descobrimentos Marítimos e a consequente primeira globalização que se seguiu. Da Península Ibérica para os quatro cantos do Mundo, Portugueses e Espanhóis abriram novas rotas e puseram em contacto diferentes povos, civilizações e culturas. Nesses tempos fervilhantes de mudança, Shakespeare e Cervantes, através das suas obras, deixaram-nos pistas valiosas e intemporais para nos ajudarem a compreender o mundo e a nós mesmos. No que toca ao bardo isabelino, há uma obra que o une definitivamente a Alcobaça. Romeu e Julieta, o par imortal da ficção literária, que serviu de inspiração a maravilhosas obras do génio humano, presta a sua homenagem ao par imortal da nossa História, D. Pedro e D.ª Inês de Castro, no local que os vê aguardar serenamente pelo fim dos tempos, o Mosteiro de Alcobaça. Por certo será uma experiência emocionante assistir aos concertos dedicados a amantes que nos lembram a verdadeira universalidade do Amor neste monumento Património da Humanidade. De 26 de junho a 31 de julho o Festival Cistermúsica volta a ser “um clássico para todos” em Alcobaça, valorizando variados espaços deste concelho. Uma vez mais com a qualidade que a sua Direção Artística nos vem habituando em cada edição e com uma programação que versa grandes obras e autores, compositores e artistas nacionais e estrangeiros, composições raras e novas combinações que unem também a Música à Dança. Um evento para todos e para todas as idades, que este ano dá a volta ao Mundo e nos demonstra que será sempre mais o que nos une que o que nos separa, independentemente de todas as diferenças – a Música cumprirá sempre este desígnio da Humanidade. Venham a Alcobaça participar neste sonho tornado realidade e sejam bem-vindos à XXIV edição do Festival Cistermúsica. Paulo Jorge Marques Inácio Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça

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Apresentação A 24.ª edição do Cistermúsica assinala os 400 anos da morte de William Shakespeare e adota como lema a alusão deste ao “admirável mundo novo” que portugueses e espanhóis mostraram ao mundo, frase que — antes de servir de título à célebre novela futurística de Aldous Huxley — é pronunciada por Miranda em A Tempestade. Mas se há peça de Shakespeare que tem especialmente a ver com a terra onde estão sepultados Pedro e Inês, é Romeu e Julieta; por isso lhe são dedicados os concertos de abertura e de encerramento. A abrir o Cistermúsica, a Orquestra e Coro da Academia de Música de Alcobaça, em coprodução com a OperaTellers, apresentam a ópera Roméo et Juliette de Gounod, numa versão encenada por Carlos Antunes e com narração da atriz Filomena Gonçalves, num espetáculo pensado para toda a família. A encerrar, a recém criada Orquestra Euro-Atlântica, dirigida por Osvaldo Ferreira, interpreta a abertura Romeu e Julieta de Tchaikovski e a 2.ª suite do bailado homónimo de Prokofiev, num programa que culmina com uma das obras mais populares de todo o reportório sinfónico: a Sinfonia do Novo Mundo de Dvořák. Outra ópera, essa oriunda (e emblemática) no novo mundo, é Porgy and Bess de George Gershwin. Sob a direção do seu maestro titular Rui Carreira, a excelente Banda Sinfónica de Alcobaça apresentará a suite que Gershwin compôs com base nesta famosa ópera, Catfish Row, num programa que inclui ainda música de Leonard Bernstein: a abertura de Candide e as danças sinfónicas de West Side Story, musical inspirado precisamente em Romeu e Julieta. Numa programação que tem o luxo de incluir dois concertos sinfónicos, ouviremos o glamoroso e cinematográfico concerto para violino de Korngold e a mais clássica e popular sinfonia de Chostakovich interpretadas pela Orquestra Estágio Gulbenkian, dirigida pela maestrina Joana Carneiro e com a participação da grande violinista Chloë Hanslip, com um programa que contrapõe os Estados Unidos da América e a União Soviética no seu melhor. Ainda em torno de Shakespeare, a cena do túmulo de Romeu e Julieta inspirou o Adagio do 1.º quarteto de cordas de Beethoven e esse foi o pretexto para convidar um dos mais reputados quartetos do mundo, o Henschell Quartett, que na sua primeira vinda a Portugal tocará também Mozart e Schulhoff. No âmbito da música portuguesa, teremos um concerto dedicado a esse exato contemporâneo de Shakespeare que foi Estêvão Lopes-Morago, de quem ouviremos obras sacras em estreia moderna interpretadas pelo Officium Ensemble. A efeméride também é apropriada para recordar a princesa portuguesa que foi rainha de Inglaterra e por isso o Ludovice Ensemble faz-nos ouvir música portuguesa, inglesa e italiana da Capela de D. Catarina de Bragança, com diversas estreias modernas em Portugal. Porque em 2016 se comemoram também os 400 anos da morte de Miguel de Cervantes (já assinalada o ano passado no Cistermúsica com Don Quijote de Richard Strauss), o conceituado Orlando Consort faz o seu aguardado regresso a Alcobaça oferecendo-nos um programa que celebra Shakespeare em paralelo com Cervantes, juntando canções da época, escritas para as peças de ambos. Pela orquestra de cordas Alma Mater, ouviremos a bela Suite para Cordas de Armando José Fernandes — que não é tocada há precisamente quatro décadas — e o arrebatador Concerto em 10


Ré de Joly Braga Santos. E porque é indispensável disfrutar das obras mais conhecidas e apreciadas pelo grande público, no mesmo programa destacam-se — pela primeira vez no Cistermúsica — As Quatro Estações de Vivaldi, tocadas pela talentosa violinista Ana Pereira. No maior mosteiro cisterciense de Portugal (e um dos maiores do mundo) o reportório sacro da Idade Média não pode deixar de estar presente. Por isso o Coro Gregoriano de Lisboa, sob a direção de Armando Possante, apresenta na Nave Central da Igreja de Santa Maria de Alcobaça música da Liturgia de São Tiago Maior, adotando pela primeira vez a disposição em se situava originalmente o cadeiral do coro dos monges. A voz deslumbrante de Elena Kelessidi, a mais destacada soprano da Grécia (nascida no Cazaquistão), será ouvida num recital dedicado à melodia russa e com joias raras de Glinka, Dargominski, Rimski-Korsakov, Tchaikovski e Rubinstein, incluindo canções populares russas em versões do século XIX. Grande interesse suscita o espetáculo criado em parceria pelo percussionista alcobacense Manuel Campos e a bailarina e coreógrafa norte americana Alia Kache (que fará uma residência artística durante o festival), num programa totalmente contemporâneo que, entre outras obras, estreará duas encomendas do festival aos compositores António Chagas Rosa e Dimitrius Andrikopoulos. Da programação de dança, é de salientar também o espetáculo Play False, de António Cabrita e São Castro, baseado em várias personagens criadas por Shakespeare. Continuando a impulsionar jovens intérpretes, o festival acolhe este ano os dois grupos estrangeiros que venceram a mais recente edição do CIMCA, Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça”: o Duo Piaolin (piano e violino), da Coreia do Sul, num programa com Beethoven, César Franck e Saint-Saëns, e o duo de marimbas Face Two Phase, de Espanha, que tocará música das duas Américas. Destaque ainda para o recital de piano por Vasco Dantas, pianista virtuoso vencedor do Prémio de Interpretação do Estoril 2015, que incluirá obras de Beethoven, Listz, Ravel e Gershwin. Contando com a programação paralela do Cistermúsica Júnior e Famílias que prossegue objetivos didáticos, por um lado, e do Cistermúsica Off, que promove laços entre a música e outras formas de expressão artística, por outro, o Festival de Música de Alcobaça prossegue o seu modelo cultural de serviço público, numa edição que pretende atrair um público cada vez mais vasto. A programação de 2016 mantém assim a filosofia habitual no Cistermúsica de conjugar obras raras com outras bem conhecidas do grande público e dar destaque à música portuguesa antiga e recente. Mantém ainda a habitual estratégia de convidar reputados grupos e artistas estrangeiros, mas também de dar oportunidades aos melhores agrupamentos e intérpretes nacionais, bem como de acolher e incentivar jovens valores. Valorizar o Mosteiro de Alcobaça e contribuir para o turismo, levando a música a múltiplos espaços e freguesias do concelho e alargando parcerias com outros Mosteiros de Cister e com outros concelhos do país são, ano após ano, objetivos deste festival. Alexandre Delgado e Rui Morais Direção Artística 11


Romeu & Julieta de Gounod Vamos contar uma ópera... Espetáculo de Abertura 26 de junho, domingo, 21h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro do Rachadouro)

Patrocínio Apoio


Vamos contar uma ópera... Romeu & Julieta a partir da ópera de Charles Gounod

A ópera, graças ao poder da música, afina o sentimento e torna-o apto a bem receber impressões de beleza; aqui o próprio patético se sente à vontade para se exprimir, porque a música o ajuda e o maravilhoso, tão difícil de traduzir no palco, encontra finalmente a forma teatral que lhe convém. Friedrich von Schiller (1759-1805)

Orquestra e Coro da Academia de Música de Alcobaça Carla Simões, soprano (Julieta) Carlos Monteiro, tenor (Romeu) Jorge Martins, barítono (Mercúcio / Frei Lourenço) Rita Pereira e Oxana Khurdenko, direção do coro Renato Tomás, direção da orquestra Armando Vidal, piano e direção musical Filomena Gonçalves, narração Carlos Antunes, encenação Tiago Patrício, adaptação de textos Co-produção: Academia de Música de Alcobaça · OperaTellers Agradecimentos: Associação Musical Lisboa Cantat e OPART/Teatro Nacional de São Carlos Espetáculo de Final de Ano da Academia de Música de Alcobaça

Junior e Famílias

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Sinopse A ação tem lugar em Verona, Itália, no século XIV. O 1.º Ato passa-se em casa da família Capuleto, onde decorre um grande baile de máscaras; é o aniversário de Julieta e toda a gente comenta a sua beleza. Há vários desconhecidos mascarados, entre os quais Romeu e Mercúcio, membros da família rival, os Montéquio. Entre a vontade de abandonar a festa e as brincadeiras do seu amigo Mercúcio, Romeu fica em êxtase com a beleza da aniversariante. Romeu e Julieta falam e declaram o que sentem um pelo outro. Mas Julieta fica chocada, tal como Romeu, ao perceber a identidade da pessoa por quem se apaixonou. O 2.º Ato decorre à noite, no jardim dos Capuletos: Romeu segue a luz do quarto de Julieta, uma luz que compara à do sol. Os guardas dos Capuletos procuram-no, mas, depois de se afastarem, Julieta aparece e os dois declaram o seu amor. Romeu receia despertar daquilo que parece ser um sonho, Julieta propõe-lhe que se casem. Ao despedir-se, Julieta volta para casa e Romeu parte absorto em adoração. É no 3.º Ato que a união acontece: Frei Lourenço, numa cerimónia preparada à pressa a pedido dos jovens, casa Romeu e Julieta; conhece os riscos associados, mas tem esperança que esta união acabe com a rivalidade entre as duas famílias. Montéquios e Capuletos encontram-se na rua e lutam, com um desfecho trágico: Mercúcio morre e Romeu, que tentou evitar a luta, vinga-se tirando a vida do Capuleto que matou o seu amigo. No 4.º Ato, Romeu, que foi condenado ao exílio, passa com Julieta a última noite antes de partir; é a sua noite de núpcias. Romeu ouve a cotovia anunciar o amanhecer do dia, sinal de que terão de se separar; Julieta prefere que seja o rouxinol a cantar e que a noite se prolongue. Declarando amor eterno, Romeu parte e Julieta fica transtornada ao saber que o pai a quer casar com Páris. Vai ter com Frei Lourenço, dizendo-lhe que prefere morrer a casar com Páris. Respondendo ao seu pedido de ajuda, Frei Lourenço oferece-lhe uma poção que fará com que ela pareça morta e assim se mantenha até que Romeu a venha buscar. No 5.º Ato Frei Lourenço tenta enviar uma carta a Romeu a explicar o seu plano, mas o mensageiro morre e não a leva ao seu destino, deixando Romeu acreditar que Julieta morreu de facto. O longo sono dela é retratado num interlúdio musical que introduz a chegada de Romeu ao túmulo dela. Com intenção de morrer junto à sua amada, Romeu leva veneno consigo, que bebe de um trago. Julieta acorda e o reencontro é vivido intensamente, até que o veneno começa a fazer efeito. Julieta declara não estar preparada para viver sem Romeu e apunhala-se; os dois, unidos para a eternidade, entregam-se a Deus, pedindo perdão.

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Notas à Margem Uma história intemporal dá forma a este espetáculo. A tragédia Romeo and Juliet de William Shakespeare (1564-1616) serviu de base a Jules Barbier e Michel Carré para o libreto da ópera Roméo et Juliette de Charles Gounod (1818-1893). À medida que as personagens de Romeu e Julieta ganhavam vida, Gounod sentia-se cada vez mais mergulhado na sua história de amor. Ao terminar um dos duetos, o compositor comentava: “Consigo vê-los tão bem! Sinto-me perto deles... Mas será que os vi com atenção? Se ao menos eles me pudessem responder e dar-me um sinal de aprovação! (...) Li este dueto vezes sem conta, e ouvi-o com toda a minha alma. Está tudo ali, na música: Julieta estreitando o seu amor, a ansiedade de Romeu e os seus beijos de delírio.” A estreia deu-se no Théâtre Lyrique de Paris, a 27 de abril de 1867. Numa colaboração entre a Academia de Música de Alcobaça e os OperaTellers, este espetáculo é um trabalho de conjunto, uma criação baseada na ópera de Charles Gounod e na tragédia de William Shakespeare, concebida como projeto de final de ano. Trata-se de uma “ópera participativa” que envolve músicos, intérpretes, criadores e técnicos. Um projeto que pretende proporcionar novas experiências e vivências a quem nele participa, despertando pessoas interessadas e críticas, seja como intérpretes, seja como ouvintes, para que a música em geral, e a ópera em particular, façam cada vez mais parte do nosso quotidiano.

Carla Simões Aluna de Ana Paula Russo na Escola de Música do Conservatório Nacional, terminou o Curso de Canto com a classificação máxima – 20 valores - em julho de 2005. Trabalhou posteriormente com Sarah Walker, Tom Krause, Elisabete Matos, Rudolph Knoll (Mozarteum de Salzburgo), Mara Zampieri, Jill Feldman, Lucia Mazzaria, Donald Maxwell, Laura Sarti, Lilian Watson e João Lourenço. Da sua lista de papéis operáticos constam, entre outros, Pamina em A Flauta Mágica, Donna Anna em Don Giovanni e Fiordiligi em Così fan Tutte (Mozart), Clarice e Lisetta em Il Mondo della Luna de Avondano, Nora em Riders to the Sea de Vaughan Williams, Condessa Ernesta em As Damas Trocadas e Rosina em O Basculho da Chaminé de Marcos Portugal, Norina em Don Pasquale e Rita na ópera homónima de Donizetti, Paride e Pallade da ópera Paride ed Elena de Gluck, Pepa na Vingança da Cigana e Albina em A Saloia Namorada de Leal Moreira e A Voz da Lua na estreia absoluta da ópera Crioulo de Vasco Martins. Estreou-se no TNSC, como solista, em 2006. Apresenta-se frequentemente em recital com repertório diversificado do barroco ao contemporâneo e, na oratória, destacam-se as interpretações das obras Gloria de Vivaldi, Magnificat de Bach, Hymno Lusitano de Bomtempo, Ode para o dia de Santa Cecília de Handel, Lauda per la Nativitá del Signore de Respighi, Requiem Alemão de Brahms e Requiem de Verdi. Em junho de 2011 recebeu o 2.º Prémio de Voz Feminina no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi e é presença assídua nos palcos nacionais, como o TNSC, TMSL, TNSJ, CCB, entre outros. É licenciada em Direito pela FDL.

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Carlos Monteiro Iniciou os seus estudos musicais no Conservatório Regional de Setúbal e licenciou-se em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Fez o curso de Canto na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa, na classe de Rute Dutra. Concluiu, com nota máxima, a licenciatura em Canto da Escola Superior de Música de Lisboa na classe de Luís Madureira. Trabalhou técnica e estilo com Jill Feldman, Maria Cristina Kiehr, Howard Crook, Susan Waters, Enza Ferrari, Elisabete Matos, Yvonne Minton, Tom Krause e Claudio Desderi. Como coralista destacam-se as participações em várias produções da Fundacio CIMA entre 2014 e 2016 com o ensemble La Capella Reial de Catalunya sob a direção do maestro Jordi Savall, em produções do coro da Fundação Calouste Gulbenkian, do coro do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), do coro da Casa da Música e em produções da Associação Musical Lisboa Cantat. É membro do Grupo Vocal Olisipo e entre vários concertos em que se apresentou como solista destacam-se a Missa em fá maior de Francisco António de Almeida (Cistermúsica 2013), o programa Magnificat & Jubilate de Jordi Savall & Le Concert des Nations (Acadèmia de Formació Professional da Fundação CIMA e cover do tenor solista em 2013), a Serenade op. 31 de Britten, sob a direção de Jean-Sébastien Béreau (Leiria, 2013), o papel de tenor em Le Roi David de Honegger, com o maestro Paulo Lourenço (CCB, 2014), The Messiah de Handel com a Orquestra Clássica do Sul e o maestro Cesário Costa (Faro, 2014); Oster-Oratorium BWV 249 de Bach com a Orquestra XXI e o maestro Dinis Sousa (2014), Cisne em Carmina Burana de Carl Orff com a Banda de Música da Força Aérea, maestro Élio Murcho (Aula Magna, 2014 e 2015, Lagoa, 2015). Em ópera interpretou os seguintes papéis: Peppe em Rita de Donizetti, Pierre em A Vingança da Cigana de Leal Moreira, D. Fábio em O Basculho de Chaminé de Marcos Portugal, Don Ottavio em Don Giovanni de Mozart, Commissario di Polizia em Il Signor Bruschino de Rossini, Basilio e Don Curzio em Le Nozze di Figaro de Mozart. Participou em várias gravações: coleção Compositores Portugueses XX/XXI e Fernando Lopes-Graça – obra coral a capella da Associação Musical Lisboa Cantat; Lux in Tenebris, Obras de Jean-Sébastien Béreau – edição La Mà de Guido; Os Seis Órgãos da Basílica de Mafra, edições RTP; Magnificat & Concerti de Antonio Vivaldi e Johann Sebastian Bach, La Capella Reial de Catalunya, Le Concert des Nations, Jordi Savall – edição Alia Vox; Guerre & Paix, La Capella Reial de Catalunya, Le Concert des Nations, Jordi Savall – edição Alia Vox.

Jorge Martins Natural de Lisboa, tem interpretado repertório desde o barroco ao contemporâneo em oratória e música de câmara, incluindo recitais de compositores portugueses do século XX e algumas gravações em CD. Em ópera já foi Buona Fede (Il Mondo della Luna), Colas (Bastien et Bastienne), Noye (Noye’s Fludde), Gasparo (Rita). Masetto (Don Giovanni) com a Op – Companhia Portuguesa de Ópera (Op) e a Orquestra do Algarve, Uberto (Serva Padrona) e Luka (The Bear) para o CAMJAP – Gulbenkian, Zuniga (Carmen) com a Orquestra do Norte e também com a Orquestra das Beiras, Yamadori (Madama Butterfly), Fiorello (Il Barbiere di Siviglia), Belcore (L’Elisir d’Amore), Brighella (Arlecchinata), Marchese, Barone (La traviata), Silvio (Pagliacci) com a Op., Senhor Milhões (O Doido e a Morte) para a Companhia de Teatro de Almada (CTA), Médecin (Jérémy Fisher), Ogre (Le petit poucet), Tonio (Pagliacci) para a Companhia de Ópera do Castelo, o papel titular de Don Giovanni 16


com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, dois personagens n’O Nariz, Papageno (Die Zauberflöte), Ben (The Telephone), Lesbo (Agrippina), Marco (Gianni Schicchi), papel titular n’O Basculho de Chaminé no TNSC, barítono na estreia absoluta de W de José Júlio Lopes com a Culturgest e Coisa-em-si. Trabalhou sob a direção musical de Teresita G. Marques, José Manuel Brandão, Rui Pinheiro, Pedro Moreira, Armando Vidal, João Paulo Santos, José Ferreira Lobo, Max Rabinovitsj, Etienne Lamaison, Tadeusz Serafin, Donato Renzetti, Osvaldo Ferreira, Jean-Sébastien Béreau, Giovanni Andreoli, Tapio Tuomela, Xaver Poncette, Julia Jones, Nicholas Kok, Fernando Fontes, Martin André, António Lourenço, Ricardo Bernardes, Pedro Amaral e em encenações de Jorge Listopad, Ronny Lauwers, Carlos Avilez, Andrea Lupi, Paula Gomes Ribeiro, Carla Lopes, João Lourenço, Eike Ecker, Francesco Bondí, Karoline Gruber, Michael Hampe, Joaquim Benite, Michel Dieuaide, André e. Teodósio, Pedro Wilson, Figueira Cid e Lígia Roque.

Renato Tomás Renato Tomás nasceu em 1980 no distrito de Santarém, iniciou os seus estudos musicais no seio das bandas filarmónicas do concelho de Azambuja sob a orientação do seu Maestro Manuel Fernandes Valério. Prossegue os seus estudos na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa na classe de Tuba (Eufónio) do professor Nuno Fernandes. Obteve grau licenciatura em “Interpretação musical” pelo Departamento da Escola de Artes e Música da Universidade de Évora no instrumento Eufónio, sob orientação do professor Jarret Butler. Frequentou diversas masterclasses e workshops com diversos Artistas/professores de Eufónio e Tuba: Steven Mead, Jukka Myllys, Adam Frey, Thomas Rüedi, Antony Caillet, Francois Thulliet, Sérgio Carolino, Bastien Baumet, entre outros. Desde do ano de 2009 tem vindo a desenvolver o seu percurso de formação na área da direção de orquestra, participou em diversas masterclasses com os maestros Mitchell Fennell, Jo Conjaerts, Carlos Marques, Alberto Roque, Robert Houlihan, Steven Davis e Dr. Reed Thomas. Colaborou com o Agrupamento de Escolas Fernão do Pó de Bombarral nas AEC’S onde desenvolveu uma orquestra de agrupamento Orff, tendo como modelo o grande Pedagogo Musical “Pieree Van Hauwe”. Participou em várias masterclasses na área da pedagogia musical bem como formação pelo Ministério da Educação DGIDC. No período entre os anos 20122014 prestou serviço na Banda Militar dos Açores, paralelamente assumiu como responsável pela escola de música e Maestro da Banda Nossa Senhora dos Remédios da Bretanha, dirigiu a Banda Lealdade de Vila Franca do Campo e Banda Harmonia Mosteirense, ambas da Ilha de São Miguel, Açores. Atualmente integra os quadros da Banda Sinfónica do Exército (BSE) com o posto de 1º sargento músico, executante em Eufónio. Leciona na AMA (Academia Musica de Alcobaça), no CCR (Conservatório Caldas da Rainha), na Escola de música do CCMB (Circulo Cultura Musical Bombarralense), acumulando nesta escola as funções de Coordenador/Diretor pedagógico. É Diretor Artístico do Estágio para Sopros e percussão da Ribeira Grande, São Miguel-Açores. No ano de 2015 assume a coordenação da escola de música e Maestro da Banda de Música da SFM (Sociedade Filarmónica Maiorguense). No presente ano letivo 2015/2016 encontra-se a frequentar o Curso de Licenciatura em Música na variante Direção de Orquestra de Sopros (DOS) na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML).

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Armando Vidal Fez carreira de pianista colaborando com grandes nomes nacionais e internacionais do canto, principalmente no campo da ópera, tendo sido maestro durante largos anos no Teatro Nacional de São Carlos. Destacam-se recitais e gravações com Oliveira Lopes, Mara Zampieri, Elsa Saque, Fiorenza Cossotto, Ivo Vinco, Carlos Guilherme e Carlo Bergonzi. Foi professor no Conservatório Nacional de Lisboa e na Escola Superior de Música de Lisboa. Gravou música para os filmes Amor de Perdição, Mon Cas e Os Canibais de Manoel de Oliveira, assim como vários CDs, destacando-se A Canção Portuguesa com Carlos Guilherme e Casablanca com o Real Teatro de Queluz, além de programas para a rádio e a televisão. Realizou inúmeros concertos na Europa, em África e na Ásia e desde 1980 dirige orquestras em variados programas de concerto, oratória e ópera tais como Carmina Burana, Barbeiro de Sevilha, Elixir d’Amor, D. Pasquale e Bodas de Fígaro, assim como versões com piano de La bohème, A Flauta Mágica, Così fan tutte, Palhaços e várias óperas portuguesas.

Filomena Gonçalves Iniciou a carreira de atriz há mais de três décadas no Teatro Animação de Setúbal, tendo passado pelo Teatro Experimental de Cascais e pela Barraca, bem como, por várias produções independentes. É sobretudo em televisão que tem um amplo currículo, quer como atriz quer como produtora. Desenvolveu projetos percorrendo caminhos considerados importantes para a afirmação da ficção nacional, abordando temas, personagem e autores portugueses consagrados e momentos emblemáticos da memória coletiva, com títulos como Conde de Abranhos, Alves dos Reis, O Processo dos Távoras, Ferreirinha, João Semana, Pedro e Inês e Quando os Lobos Uivam. Por circunstâncias pessoais, tem vindo a sentir-se próxima do público mais jovem, reconhecendo a importância de cativar novos espetadores informados e com capacidade crítica, tendo aceite com entusiasmo o convite dos OperaTellers para integrar este relevante projeto.

Carlos Antunes Carlos Antunes nasceu em Lisboa, estudou Piano e Canto no Conservatório Nacional e formou-se em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da UTL. Participou no primeiro curso de Encenação de Ópera realizado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Teatro Nacional de São Carlos, no âmbito do Programa Criatividade e Criação Artística. Encenou a ópera Mavra de Stravinsky apresentada na Fundação Gulbenkian, na Madeira, em Palmela e Alcobaça. Em 2007 foi convidado a encenar a primeira audição da ópera A Montanha de Nuno Côrte-Real, apresentada no Grande Auditório Gulbenkian. Trabalhou e estudou nos Estados Unidos com o encenador Robert Wilson. Colabora regularmente com o TNSC, tendo participado em várias produções de ópera, entre elas Rheingold, Das Märchen, La Rondine, Rake’s Progress, Dialogues des Carmélites, Flowering Tree ou Nabucco. Desde 2005 trabalha regularmente com o artista António Viana na produção do seu trabalho e no design de exposições e museus. Atualmente está a realizar o estudo e catalogação de um arquivo de música portuguesa dos séculos XVII/XVIII, bem como o estudo e edição de compositores portugueses do mesmo período. O seu trabalho envolve também a realização de vídeo, cenografia e desenho de luzes. 18


Tiago Patrício Nasceu no Funchal em 1979 e passou a sua infância em Trás-os-Montes. Frequentou a Escola Naval em 1998/1999, foi farmacêutico e concluiu o Mestrado em Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa. Venceu vários prémios em poesia (Daniel Faria, Natércia Freire) e o Prémio Agustina Bessa-Luís com o seu primeiro romance. Publicou vários romances e novelas, entre os quais Trás-os-Montes, Mil Novecentos e Setenta e Cinco, O Princípio da Noite e Pavilhão K. Fez residências em Praga, Skopje, Aizpute, Tunes, Esmirna, Segóvia, Nova Iorque e Edimburgo. Escreve para as companhias Estaca Zero e Ponto Teatro (Porto) e para a companhia teatromosca (Sintra) e publicou as peças Checoslováquia, Paternidade, Estância, UtopiaTM e Eternidade. Escreveu canções para uma cantora japonesa e murais para um projeto de arte contemporânea na Letónia. Alguns dos seus textos foram traduzidos e publicados no Egito, na Letónia, na Eslovénia e na República Checa.

Orquestra e Coro da Academia de Música de Alcobaça A Academia de Música de Alcobaça (AMA) é uma escola de ensino especializado de música e dança, autorizada pelo Ministério da Educação desde 2002, que resultou da iniciativa da Banda de Alcobaça dando assim sequência ao trabalho de formação de jovens músicos desenvolvido desde 1985. Com um corpo docente composto por 60 professores, a AMA conta com perto de 2000 alunos em toda a sua oferta educativa, sendo a sua atividade principal os Cursos Artísticos Especializados de Música e Dança frequentados por cerca de 600 alunos. No âmbito da disciplina de classe de conjunto, a maioria dos alunos do curso de música frequentam diversos Coros, sendo que os alunos de instrumento a partir de um determinado nível podem também frequentar classes de conjunto instrumentais, entre as quais a Orquestra de Sopros e a Orquestra de Cordas. Para este espetáculo de final de ano letivo – Ópera Romeu & Julieta – o Coro é composto por alunos de Coro do 4º e 5º grau do curso básico de música, alunos do curso secundário e dos cursos profissionais, professores da AMA e ainda o Coro da Banda de Alcobaça, num trabalho coordenado pelas professoras Rita Pereira e Oxana Khurdenko. Já quanto à Orquestra ela resulta da junção da Orquestra de Sopros e da Orquestra de Cordas, da responsabilidade dos professores Rui Carreira e Rodrigo Queirós, respetivamente. Foi para a AMA um desafio artístico fantástico construir com a OperaTellers uma produção com esta ambição e uma grande honra poder fazer parte do espetáculo programado para a abertura do Cistermúsica 2016 – Festival de Música de Alcobaça.

Operatellers... no Palco a Despertar o Futuro! A ópera é um dos espetáculos mais completos e apreciados desde a sua génese. A sua extraordinária multidisciplinariedade (envolvendo música vocal e orquestral, texto, cenografia, encenação, coreografia, design e tantas outras áreas) permite criar universos, ambientes e imagens capazes de, facilmente, arrebatar o público, incendiar-lhe a imaginação e fazê-lo sonhar. Certo é que, numa sociedade em que somos diariamente inundados de propostas que competem pelo nosso interesse e tempo livre, a ópera tem cada vez mais dificuldade em ultrapassar 19


os obstáculos que enfrenta: o custo de produção, a complexidade logística, em muitos casos a barreira da língua, a frequente acusação de ser um género elitista. Os Operatellers têm como missão fazer com que as gerações futuras e os públicos menos habituados aprendam a amar a ópera e a vê-la como parte integrante da sua vida cultural. O encanto de ouvir uma história, de seguir as palavras emotivas de alguém que nos fala à imaginação, está enraizado em nós, nas nossas memórias e vivências passadas. Ouvir contar uma ópera é permitir que histórias sobre textos de grandes escritores, como Shakespeare, inspirados em vidas e aventuras de figuras míticas e humanas, deuses e heróis imortais que fazem parte da nossa cultura ancestral e contemporânea, nos possam deslumbrar mais ainda quando acompanhadas pela música magistral dos grandes compositores. É esta a estratégia dos Operatellers: criar espetáculos que lancem a semente de um futuro público que se deixe levar pelos deliciosos arrepios que a voz humana nos arranca do peito, com gargalhadas e lágrimas. Essa é a magia da ópera: sabêmo-lo porque tornou as nossas vidas mais belas e é com essa beleza que queremos encher os corações do público atual e futuro. É essa a nossa vocação e o nosso compromisso.

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Ludovice Ensemble A Capela de Dona Catarina de Bragança 2 de julho, sábado, 21h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Sala do Capítulo)


Uma menina destinada a uma grande missão Manuel Rodrigues Coelho (ca.1555-1635): Kyrie do 1º tom D. João IV (1604-1656): Adjuva nos, Domine a 4 Partida para Inglaterra e bodas dissimuladas João Lourenço Rebelo (ca.1610-1665): Nunc Dimitis a 4 & 5 per versus Filipe de Magalhães (ca.1565-1652): Gloria in excelsis da Missa ‘Ó Soberana Luz’ a 5 Esperanças e temores dos primeiros anos Nicola Matteis (fl.1670-1710): Prelúdio em ré Claude Desgranges (fl.1660-1670): Domini quid multiplicati sunt ** Usquequo Domine * Esplendores soalheiros numa corte gélida Miguel Ferreira (fl.c.1660-c.1710): Suite em sol * Giovanni Sebenico (ca.1640-1705): Laudate Pueri Dominum a 3 **** Política e diplomacia Vicenzo Albrici (1631-1696): Laboravi clamans rauce a 5 *** Henry Purcell (1659-1695): Beati omnes qui timent Dominium a 4 Giovanni Battista Draghi (ca.1640-1708): Sonata a 3 em sol - intervalo Humilhação de uma rainha sem descendência Mathew Locke (1621-1677): Super flumina Babylonis a 4 **** Audi, Domine, clamantes ad te a 5 **** Angústia e embuste: a “conspiração papista” Mathew Locke (1621-1677): Organ Voluntary in a Henry Purcell (1659-1695): Moteto “Jehova, quam multi sunt a 5” Fim de uma missão e regresso a Portugal Diogo Dias Melgás (1638-1700): Memento homo a 4 Recordare Virgo Mater a 8

Ludovice Ensemble Fernando Miguel Jalôto, órgão e direção Orlanda Velez Isidro e Mónica Monteiro, sopranos André Lacerda e Marco Alves dos Santos, tenores Hugo Oliveira, barítono Lilia Slavny e Reyes Gallardo, violinos Sofia Diniz, viola de gamba Jesús Fernandez Baéna, teorba

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* Edição do Professor Doutor Peter Leech; primeira audição em Portugal. ** Edição do Professor Doutor Peter Leech; primeira audição moderna. *** Edição de F. Miguel Jalôto; primeira audição moderna. **** Primeira audição em Portugal.


Notas à Margem An excelent Musique perform’d by the ablest Masters both French and English, on Theorba, Viols, Organs and Voices as an exercise against the coming of the Queene, as purposely compos’d for her chapel. John Evelyn, 1662 D. Catarina de Bragança (1638-1705) foi a filha mais velha de D. João IV e de D. Luísa de Gusmão, e irmã dos reis de Portugal D. Afonso VI e D. Pedro II. Prometida em casamento a Carlos II de Inglaterra no contexto das alianças diplomáticas indispensáveis à reconquista da soberania portuguesa no processo da restauração da independência nacional, D. Catarina partiu em 1662 para Inglaterra, onde se deram as cerimónias (uma católica, em segredo, outra anglicana, em público). Este casamento, essencial para garantir a proteção de Portugal pelas forças inglesas, foi um dos maiores feitos diplomáticos da época e Dona Catarina seguira para Inglaterra consciente (nas suas próprias palavras) de “servir Portugal e os portugueses”. Rainha católica num país protestante anglicano e fortemente hostil para com os “papistas”, foi acusada de conspiração e traição; casou com um homem frívolo, inconstante e infiel; dotada de uma saúde frágil, foi incapaz de gerar um herdeiro para o trono. Por estas e várias razões Catarina foi uma mulher infeliz, que sem nunca menosprezar o seu papel político, apenas encontrou refúgio e consolo na sua fé e na arte da música – ou não fosse filha do rei melómano e compositor D. João IV. Assegurado no contrato de casamento o direito a ter uma capela católica própria em todas as residências reais inglesas por si habitadas, D. Catarina viu para si estabelecida em Inglaterra uma grandiosa capela real com 26 sacerdotes portugueses e ingleses, incluindo seis franciscanos da ordem de São Pedro de Alcântara (Arrábidos), que tinham por missão cantar o cantochão no serviços diários. A capela oficiava sobretudo em St. James Palace, a residência real, e em Somerset House, onde estava sediada a corte de D. Catarina. Numa fase inicial os músicos da capela eram sobretudo portugueses que viajaram com D. Catarina, em número de nove, incluindo um mestre de capela. Vários destes músicos regressaram ainda em 1662 a Portugal, mas D. Catarina conservou junto de si alguns deles – como Miguel Ferreira – durante toda a sua estadia em Inglaterra. Segundo notáveis testemunhos da época – de John Evelyn e Samuel Pepys – o repertório da Capela era de autores portugueses e executados segundo a tradição portuguesa, o que muito chocou os ingleses e granjeou comentários pouco abonatórios. Durante a sua longa presença em Inglaterra, D. Catarina não só dispôs de uma grande capela, com vinte e quatro músicos, incluindo cinco moços de coro, dois violinistas, dois organistas e cantores vários, como esta foi dotada de alguns dos melhores intérpretes, franceses, ingleses e italianos. Teve ao seu serviço alguns dos mais famosos compositores da época. Podemos brevemente mencionar o compositor francês Claude Desgranges, diretor de uma “troupe” de músicos franceses trazidos por Carlos II do seu exílio em França; os compositores italianos Vicenzo e Bartolomeo Albrici, Pietro Cefalo e Giovanni Sebenico (este de origem croata), todos anteriormente ao 24


serviço da rainha Cristina da Suécia; o grande compositor inglês Matthew Locke, autor de várias obras sacras para D. Catarina, e que foi organista da sua capela. Neste mesmo cargo foi sucedido pelo não menos famoso Giovanni Baptista Draghi. Ainda em contacto com D. Catarina estiveram o virtuoso violinista Nicola Matteis e o “Orpheus Britannicus”, Henry Purcell, que compôs algumas obras devocionais católicas para D. Catarina e o seu restrito círculo de católicos ingleses. Regressada a Portugal em 1692, D. Catarina não dispensou no seu Palácio da Bemposta uma esplendorosa – ainda que mais pequena – capela, que interpretava um repertório cosmopolita e variado, como sempre foi o gosto desta extraordinária rainha de Inglaterra. A maior parte das obras selecionadas para este programa nunca foi antes ouvida em Portugal; muitas delas procedem de manuscritos ingleses atualmente preservados em Londres, York e Oxford (Inglaterra) e em Uppsala (Suécia) e são transcritas especialmente para este programa por Fernando Miguel Jalôto e pelo musicólogo britânico Peter Leech. É concedido grande relevo às obras portuguesas de Rebelo, Magalhães, D. João IV e Melgás, aqui confrontadas com o melhor repertório contemporâneo internacional, e interpretadas inovadoramente de forma a ilustrar esse contacto. Obras-primas de compositores consagrados como Locke e Purcell ombreiam com joias desconhecidas de Albrici, Desgranges, Sebenico e Draghi, assegurando assim o deleite um público variado, incluindo melómanos, curiosos e especialistas. Fernando Miguel Jalôto

Ludovice Ensemble O Ludovice Ensemble é um grupo especializado na interpretação de Música Antiga, sediado em Lisboa e criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto e Joana Amorim, com o objetivo de divulgar o repertório de câmara vocal e instrumental dos séculos XVII e XVIII através de interpretações historicamente informadas, usando instrumentos antigos. O nome do grupo homenageia o arquiteto e ourives alemão Johann Friedrich Ludwig (1673-1752) conhecido em Portugal como Ludovice. O grupo trabalha regularmente com os melhores intérpretes portugueses especializados, e também como prestigiados artistas estrangeiros. O Ludovice Ensemble apresentou-se em Portugal em praticamente todos os festivais nacionais – Viana do Castelo, Braga, Porto, Gaia, Espinho, Leiria, Alcobaça, Batalha, Óbidos, Lisboa, Évora, Beja, Loulé, Tavira e Funchal – e é uma presença regular nas duas principais salas de Lisboa: o CCB (Grande e Pequeno Auditório) e a Fundação Calouste Gulbenkian. O Ludovice Ensemble apresentou-se no estrangeiro no festival Laus Polyphoniae na Bélgica (AMUZ, Antuérpia), no festival Oude Muziek de Utrecht (Países Baixos); nos festivais de La Chaise-Dieu, Musiques en Vivarais-Lignon, e Festes Baroques (França); no Festival de Música Barroca de Praga (República Checa); nos Festivais Camiños de Santiago de Jaca, Música Antiga de Daroca, Peñíscola, Ciclo de las Artes de Lugo, Febrero Lirico do Real Coliseo Carlos III de San Lorenzo del Escorial, e Semana de Musica Antigua de Vitoria-Gasteiz (Espanha). Gravou ao vivo para a RDP-Antena 2, a Rádio Nacional Checa (ČRo) bem como para o canal de televisão francês MEZZO. Em 2015 o Ludovice Ensemble comemorou os seus 10 anos com um concerto no CCB, onde apresentou também uma ópera no Grande Auditório em 25


colaboração com o grupo belga Huelgas Ensemble. Em 2016 viaja a Israel para concertos em Telavive e Jerusalém, e apresenta-se de novo em Espanha, desta vez nos Festivais de Aranjuez e Badajoz com a soprano espanhola Maria Hinojososa; regressa ao CCB para dois concertos com o famoso violinista italiano Enrico Onofri e para os Dias da Música, e apresenta-se ainda no Museu Gulbenkian, no Festival Cistermúsica, em Lagos e em vários outros locais. www.ludoviceensemble.com

Fernando Miguel Jalôto Fernando Miguel Jalôto concluiu os diplomas de Bachelor of Music e de Master of Music no Departamento de Música Antiga e Práticas Históricas de Interpretação do Conservatório Real da Haia (Países Baixos) com Jacques Ogg. Frequentou masterclasses com Gustave Leonhardt, Olivier Baumont, Ilton Wjuniski, Laurence Cummings e Ketil Haugsand. Estudou órgão barroco e clavicórdio e foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura. É Mestre em Música pela Universidade de Aveiro e presentemente frequenta o Doutoramento em Musicologia Histórica da Universidade Nova de Lisboa. É fundador e diretor artístico do Ludovice Ensemble. É membro da Orquestra Barroca da Casa da Música do Porto e colabora com grupos especializados internacionais como La Galanía, Oltremontano, La Colombina e Capilla Flamenca. Toca regularmente com a Orquestra e Coro Gulbenkian, a Orquestra Sinfónica do Porto e o Coro Casa da Música. Trabalhou já sob a direção de Ton Koopman, Roy Goodman, Christina Pluhar, Christophe Rousset, Fabio Biondi, Antonio Florio, Harry Christophers, Andrew Parrott, Rinaldo Alessandrini, Chiara Banchini, Enrico Onofri, Alfredo Bernardini, Laurence Cummings, Jaap ter Linden, Elizabeth Wallfish, Christophe Coin, Jacques Ogg, Dirk Snellings, Wim Becu, Marco Mencoboni e Paul McCreesh entre muitos outros. Gravou para as editoras Glossa, Ramée, Dynamic e Brilliant. Apresentou-se em vários festivais e concertos em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Reino Unido, Áustria, Polónia, Bulgária, Israel e Japão.

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Henschel Quartett Música de Câmara 03 de julho, domingo, 18h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Celeiro) ESTREIA EM PORTUGAL

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ALEMANHA


Ludwig van Beethoven Quarteto de Cordas n.º 1 em fá maior, op. 18 n.º 1 Allegro con brio Adagio affettuoso ed appassionato Scherzo. Allegro molto – Trio Allegro Erwin Schulhoff Quarteto de Cordas n.º 1 Presto con fuoco Allegretto con moto e con malinconia grotesca Allegro giocoso alla slovacca Andante molto sostenuto - intervalo Wolfgang Amadeus Mozart Quarteto n.º 22 em si bemol maior, KV 589 Allegro Larghetto Menuetto. Moderato Allegro assai

Henschel Quartett Christoph Henschel & Catalin Desaga, violinos Monika Henschel, viola Mathias Beyer-Karlshøj, violoncelo

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Notas à Margem Ludwig van Beethoven: Quarteto de Cordas n.º 1 Depois dos exemplos de Haydn e Mozart, o jovem Beethoven (1770-1827) sentiu-se algo intimidado antes de abordar géneros como o quarteto e a sinfonia; por isso, só perto dos 30 anos se lhes passou a dedicar. Compostos entre 1799 e 1800, os seis quartetos opus 18 foram dedicados ao Príncipe Lobkowitz, incansável impulsionador da sua carreira. Embora estilisticamente próximos de Haydn e Mozart, já são um manifesto de uma nova época. O n.º 1 (que foi escrito em terceiro lugar) é o mais marcante do conjunto e ganhou uma certa aura primordial para posteridade. Abre com um tema lapidar tocado em uníssono, um dos motivos mais famosos da literatura para quarteto de cordas. Nada podia parecer mais inevitável, como uma ideia caída do céu, mas não foi assim que ela surgiu: Beethoven encheu dezasseis páginas dos seus cadernos de esboços para encontrar a forma definitiva. O resultado revelou potencial para propulsionar o 1º andamento e extravasar para os seguintes. A capacidade de criar um mundo a partir de uma semente veio a ser uma imagem de marca de Beethoven e também por essa razão este primeiro quarteto é profético. O primeiro andamento é uma forma sonata baseada no confronto entre um primeiro tema é afoito e varonil e um segundo tema delicado e feminino. O Adagio affetuoso ed appassionato ilustra o fascínio de Beethoven por Shakespeare. O próprio compositor terá dito a Karl Friedrich Amenda, (dedicatário da primeira versão da obra) que se inspirou na cena final de Romeu e Julieta; num esboço dos compassos finais, encontram-se as palavras (em francês) “les derniers soupirs”, os últimos suspiros. A despedida dos amantes teve uma resonância profunda em Beethoven: este Adagio atinge um “pathos” avassalador para a época, e não só. Forma sonata com dois temas, repare-se na permanência do motivo gerador do primeiro andamento, o característico volteio em torno de uma nota, que dá ênfase ao pungente primeiro tema e delicadeza ao segundo. O modelo do Scherzo (Allegro molto) é herdado de Haydn e Beethoven faz, tal como o seu mestre, desconcertantes tropelias com a métrica. Quanto ao final, Allegro, lembra um comentário que o compositor fez mais tarde acerca destes quartetos: “quando revi os primeiros manuscritos, alguns anos depois, perguntei a mim mesmo se não estaria doido para ter posto num só trecho aquilo que chegava para compor vinte; queimei os manuscritos, para que nunca mais fossem vistos.” Nesta forma rondá-sonata, endiabrada e prolixa, Beethoven parece ter inserido tudo quanto lhe veio à cabeça, divertindo-se como se tivesse chegado a hora do recreio.

Erwin Schulhoff: Quarteto n.º 1 Nascido em Praga numa família de origem alemã e judaica, Erwin Schulhoff (1894-1942) foi um defensor da revolução através da música, abraçando influências do jazz e do dadaísmo num estilo emblemático do modernismo de entre as duas guerras, com uma obra especialmente vasta no domínio instrumental. Schulhoff estudou em Viena e completou os estudos superio30


res em Leipzig e Colónia, tendo regressado a Praga em 1923. Perseguido por ser comunista e judeu (além de homossexual), depois da invasão da Checoslováquia pelos nazis acabou por ser enviado para o campo de concentração de Wülzburg, onde morreu. O quarteto n.º 1 foi composto em Praga em 1924 e denota um experimentalismo inquieto, abarcando referências à música tradicional checa e eslovaca. Enquanto o breve primeiro andamento explora uma energia motórica típica dos anos 20, o segundo evidencia um humor irónico e caprichoso típico do compositor. Depois da explosão de vida “étnica” do terceiro andamento, a obra termina detendo-se numa enigmática meditação com sussurros de laivos expressionistas.

Wolfgang Amadeus Mozart: Quarteto KV 589 1790 foi um ano difícil para Mozart. O abatimento causado pela falta de dinheiro bloqueou-lhe até o ímpeto criativo e entre a ópera Così fan tutte, estreada em janeiro, e o quarteto K. 589, escrito em maio, há um hiato de quase cinco meses durante os quais não escreveu praticamente nada, traduzindo uma crise sem precedentes. Ninguém diria que Mozart escreveu uma música tão desanuviada num dos momentos mais negros da sua vida. Mas por trás dessa fachada descontraída, há uma força em construção: o tema inicial, com os seus requebros amáveis, é decomposto para produzir misturas complexas. O segundo tema é entregue ao violoncelo, instrumento tocado pelo rei da Prússia, Frederico Guilherme II — a quem são dedicados os três quartetos “prussianos”, dos quais este é o segundo. No desenvolvimento soltam-se alguns demónios e somos levados por tonalidades remotas. O Larghetto é uma página poética e sem vislumbre de perturbação. Forma sonata sem desenvolvimento, nela o violoncelo tem de novo a parte de leão: os dois temas principais passam por ele e são melodias dignas de um monarca. O minueto é o andamento mais extraordinário do quarteto K. 589 de Mozart, em especial pela sua secção central, o trio. A energia motora com que o trio arranca lembra a célebre Eine Kleine Nachtmusik: esse tipo de figuração, aqui aplicada a um encadeamento de acordes paralelos, parece fazer ouvir o século XX a rolar ao longe, qual casa de máquinas, com as pontuações nervosas do violoncelo a soar como chispas. No fim Mozart concede-nos um daqueles momentos que parecem planar acima da humanidade, como na Sinfonia Júpiter ou na Flauta Mágica, antes de regressar ao requintado e discreto minueto. O breve final, Allegro assai, faz malabarismos de contraponto em ritmo de siciliana, com imitações compactas a produzir efeitos de harmónio. No seu tom ligeiro e brincalhão, é uma forma sonata complexa e com um alto virtuosismo de escrita. Alexandre Delgado

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Henschel Quartett A carreira internacional do Henschel Quartett começou em 1994, quando Mathias Beyer-Karlshoj se uniu aos membros fundadores Christoph, Markus e Monika Henschel, iniciando a sua dedicação exclusiva ao quarteto. Em 1995 o Henschel Quartett obteve cinco prémios nos Concursos Internacionais de Evian, Banff e Salzburgo e no ano seguinte ganhou o 1.º prémio e a medalha de ouro no Concurso Internacional de Música de Câmara de Osaka. A sua estreia nas capitais mundiais da música, assim como uma aclamada transmissão em direto, em substituição de última hora do Quarteto Juillard, por parte da BBC, marcaram o seu caminho para o prestígio internacional. Em 2016 o quarteto deu as boas-vindas a um famoso músico de câmara e solista, Catalin Desaga, como novo membro do conjunto. Ao longo do seu percurso musical o quarteto atuou no Vaticano, na presença do Papa Bento XVI em março de 2010, viajou repetidamente a Bruxelas como embaixador cultural da República Federal da Alemanha e atuou no Palácio Real de Madrid com os Stradivarius da Coleção Real. Em junho de 2012 foi o primeiro quarteto europeu em vinte anos a interpretar o ciclo completo dos quartetos de cordas de Beethoven na prestigiosa Suntory Hall de Tóquio. No mesmo ano Monika Henschel assumiu a presidência da recém fundada Associação de Quartetos de Cordas Alemães (VDSQ) e em 2013 Christoph Henschel foi nomeado Catedrático de música de câmara da Universidade de Augsburgo. Durante as últimas temporadas cabe destacar atuações em Londres, Amsterdão, Nova Iorque (Carnegie Hall), Washington (National Gallery), Yokohama e Tóquio. Desde 1997 o Henschel Quartett dirige o bem sucedido Festival de Cordas de Seligenstadt, que cada verão traz à cidade vários conjuntos de cordas. As gravações do Quarteto Henschel para etiquetas como a Sony BMG, a EMI e a Deutsche Grammophone têm recebido numerosos prémios, como o Prémio da Crítica do Disco Alemão, uma nomeação para os MIDEM Awards e vários “CD do ano” (International MusicWeb). As suas gravações têm sido recomendadas por publicações tão destacadas como a Gramophone, The Sunday Times e Suddeutsche Zeitung. O Quarteto Henschel dá masterclasses em prestigiosas instituições internacionais, como a Yale University, a MIT Boston, o Royal Northern College of Music de Inglaterra, a Universidade de Melbourne na Austrália e a Universidade Geidai em Tóquio. O grupo tem um forte compromisso social e participa num diálogo permanente com o Ministério da Cultura da Baviera relativamente a projetos musicais com jovens de Munique, cidade onde reside. É desde 2006 Embaixador de Aldeias Infantis SOS. “O Quarteto Henschel é, sem dúvida, um dos melhores grupos do mundo, um magnífico quarteto de cordas!” Los Angeles Times

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Caricature of She

EUA

Alia Kache/Kachal Dance 8 de julho, sexta-feira, 22h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro D. Afonso VI) ESTREIA EM PORTUGAL

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Alia Kache, coreografia Alia Kache, Tyler Brown, Tara Bellardini, Chloe Davis, Shay Bland, interpretação Aphex Twin, Trent Reznor e Atticus Ross, música Alia Kache, paisagem sonora

Caricature of She Uma exploração da feminilidade através do movimento

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Notas à Margem O que significa ser mulher? Será suficiente existir apenas como um membro do género, ou será a natureza feminina apenas aceitável se preenchermos um certo critério de feminilidade? Em Caricature of She, um conjunto de bonecas de papel da moda ganham vida como mulheres, envergando perucas idênticas e vestidos colados à pele que exploram caricaturas femininas, analisando o que significa ser mulher em oposição ao papel de a desempenhar. A seleção áudio nesta apresentação pertence a Perfect 10 Face (a partir do livro How to Be a Perfect 10) do utilizador do YouTube AuthorDianaPolska, e a Why Feminine Women Are Hot do utilizador do YouTube Coach Corey Wade. Caricature of She apenas foi possível graças ao generoso apoio de Kathy Allison, The Beal Family, Daniella Bozonne, Rev. Charles Clark, Anthony & Gwyndolyn Crutcher, Seji Gammage, Denee King, Allan Ledford, Gerald & Diane Mason, Stefan Monsen, Selena Moshell, Colin Ryan, Alissa Brownrigg Small, Marcia Smith, St. Mary’s C.M.E. Church, Neil Totton, Robert Tye, Charmaine Warren, Annette Willis, Mark McClain Wilson, Roderick & Saundra Wilson e Andre Zachery. Agradecimentos especiais a John Sloan III e The Helping Hands Campaign (www.helpinghandscampaign.org), ao meu maravilhoso marido, Ryan Blackwell, e a todos os meus amigos e familiares. Alia Kache

Alia Kache Alia Kache (Chattanooga, Tennessee) teve a sua formação inicial no Center for Creative Arts e no Chattanooga Ballet. Pós-graduada pelo programa Ailey/Fordham BFA em 2004, juntou-se seguidamente ao Ailey II, tendo-se apresentado também com Nathan Trice/RITUALS, Creative Outlet, Genesis Dance Company e CeDeCe (Alcobaça, Portugal). Kache conta com aparições no Laurie Simmon’s Music of Regret – Act III, no DVD Radio City Christmas Spectacular 75th Anniversary e Codorniu Navidad 2007 (Barcelona, Espanha). Foi bailarina destacada em Aida no Big League Theatrical, tendo igualmente atuado em The Lion King (Gazelle Tour). Como co-fundadora do Renegade Performance Group, Kache coreografou Broadway Cares e The Helping Hands Campaign. www.aliakache.com

Tyler Brown Tyler Brown (Owings Mills, Maryland) iniciou a sua formação na Peabody Preparatory em Baltimore; sob a direção de Carol Bartlett. Frequentou a Ailey School como bolseira. Em 2012 juntou-se ao Ailey II. Teve destaque na revista Essence (maio de 2014), no Dancing with the Stars (Bulgária) e na MTVU. Em 2014 estudou dança tradicional chinesa e atuou no Meet in Beijing Dance Festival (2015). 36


Tara Bellardini Tara Bellardini (Mine Hill, New Jersey) estudou no East Movement Coast sob a direção de Billy Larson. Formou-se no Morris County School of Visual and Performing Arts e teve recentemente honras de graduação no The Ailey School Certificate Program. Frequentou ainda cursos intensivos de verão na Cedar Lake Contemporary Ballet, tendo atuado em 2013 na Instalação de Cedar Lake, Chess. Bellardini atuou em Memoria com o Alvin Ailey American Dance Theater durante as temporadas 2014 e 2015 no New York City Center. Tem trabalhado com coreógrafos onde se incluem Adam Barruch, Norbert De La Cruz III, Tracy Inman, Ray Mercer, Jennifer Archibald, Amy Hall e Alexandra Damiani, e participou em obras de Andonis Foniadakis. Está no seu primeiro ano no Ailey II.

Shay Bland Shay Bland (Englewood, New JerseyJ) iniciou-se no estudo da dança no Progressive Dance Studio sob a direção de Jolene Perry. Formou-se na Professional Performing Arts High School e frequentou a Rutgers University, onde foi premiada com a Bolsa James Dickson Carr. Bland estudou também na The Ailey School como bolseira e trabalhou com coreógrafos como Francesca Harper, Christian von Howard, Earl Mosley, Camille A. Brown, Christopher L. Huggins, Ray Mercer, Ronald K. Brown. Em 2013 juntou-se ao Ailey II sob a direção de Troy Powell. Em 2015 Bland entrou para a Elisa Monte Dance. Este é o terceiro projeto de Bland com Kache.

Chloe O. Davis Chloé O. Davis é uma orgulhosa nativa de St. Louis (EUA). Obteve o Bacharelato pela Universidade de Hampton e a Licenciatura em Turismo e Gestão Hoteleira pela Universidade de Temple. Créditos: Cabin In The Sky (Encores); Hello Dolly (Riverside Theatre); Philadanco!; The Addams Family (Tour); Sid The Science Kid Live (Tour). Chloé criou a DANCE FOR ALL: Creative Expressions For The Disabled (DANÇA PARA TODOS: Expressões Criativas para Deficientes) destinada a dar às pessoas com uma gama de deficiências a oportunidade de experimentar a alegria da expressão artística. Um especial agradecimento a toda a família e aos amigos que têm apoiado e mostrado grande bondade!

Alia Kache/Kachal Dance Alia Kache/Kachal Dance é o projeto de uma companhia de dança contemporânea radicada em Nova Iorque. Fundada em 2016, a companhia tem feito progressos notáveis atuando no Harlem Arts Festival, New York International Fringe Festival 2016 e ainda com uma apresentação no Bryant Park Presents Modern Dance (produzido pela Inception to Exhibition). Excêntrica e evocativa, Alia Kache/Kachal Dance baseia-se nas disciplinas do clássico e do contemporâneo para explorar ideias tanto universais como pessoais através de íntimas experiências teatrais.

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Vasco Dantas Recital de Piano 7 de julho, quinta-feira, 21h30 Auditório da Biblioteca Municipal da Nazaré** 9 de julho, sábado, 21h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro D. Dinis)* 14 de julho, quinta-feira, 21h30 Igreja Matriz de Pataias*** *Patrocínio

**Parceria

***Apoio: Paróquia de Pataias e União das Freguesias de Pataias e Martingança.


Ludwig van Beethoven Sonata n.º 30 em mi maior, op. 109 n.º 30 Vivace ma non troppo - Adagio expressivo Prestissimo Andante molto cantabile ed espressivo Franz Liszt/Niccolò Paganini Grandes études de Paganini – Tema e Variações em lá menor - intervalo Maurice Ravel Gaspard de la nuit Ondine. Lent Le gibet. Très lent Scarbo. Modéré George Gershwin Três Prelúdios Allegro ben ritmato e deciso “Blue Lullaby”. Andante con moto e poco rubato “Spanish Prelude”. Allegro ben ritmato e deciso

Vencedor do Concurso de Interpretação do Estoril – Prémio El Corte Inglés 2015.

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Notas à Margem Ludwig van Beethoven: Sonata op. 109 n.º 30 Beethoven cria nesta sonata uma imaginativa jornada por estados emocionais contraditórios, que termina com uma reconciliação entre opostos. O 1.º andamento é uma sonhadora fantasia estelar em ritmo moderado que conduz a um 2.º andamento num agitato assustadoramente focado, com a intensidade de um pesadelo. Todos os antagonismos são, no entanto, curados com um tema e variações finais que dão voz a emoções expandidas e conduzidas a nível lírico e contrapontístico. O 1.º andamento é notável pela sua concentração, com uma exposição de apenas 16 compassos. A obra começa com uma sucessão de afáveis harmonias divididas pelas duas mãos, que parecem flutuar no ar e vibrar como as asas de um jovem pássaro. Mas um assustador arpejo de sétima diminuta apela a uma pausa nestas inocentes reflexões para introduzir como tema secundário um leve dueto de soprano e tenor, antes de uma arrebatadora série de arpejos e escalas virem completar o discurso. E é tudo: a exposição termina quando ainda nem saímos da primeira página da partitura. Esses três elementos contrastantes – harmonias esvoaçantes de acordes quebrados, dueto lírico e figurações que se alastram pelo teclado – formam o conteúdo do andamento, dominando desenvolvimento, reexposição e coda. Num gesto deliberado de aumentar o contraste entre os sons improvisados do primeiro andamento e os sons premeditados do segundo, Beethoven passa de mi maior ao seu gémeo malévolo, mi menor. O drama musical provém agora da luta entre um desenho ascendente e frenético da mão direita e uma linha do baixo severa e descendente, tipo passacaglia, numa oposição entre um clima de grande seriedade e um implacável instinto de avançar. Não se trata de um scherzo (não há ‘trio’ a meio da secção), mas sim de uma forma-sonata, aliás pouco ortodoxa, que parece mais preocupada com o contínuo desenvolvimento contrapontístico do que com o contraste entre primeiro e segundo temas. Apesar do ritmo alucinante, o cromatismo generalizado serve para aproximar-nos da fina margem do pathos deste andamento, feito de misteriosos murmúrios e violentas explosões. O tema com variações do último andamento termina esta sonata num espírito de paz e reconciliação, por vezes com um toque de êxtase religioso. Como poderia não ser assim, dada a sombra de J. S. Bach que paira sobre a sonata desde os seus compassos iniciais? Os desenhos de acordes arpejados do primeiro andamento recordam prelúdios d’O Cravo Bem Temperado, as candentes exaltações de arpejos do terceiro andamento têm equivalente nas explosões de bravura espiritual das tocatas para órgão de Bach. Podemos encontrar mais referências explícitas ao mestre de Leipzig no segundo andamento, que é percorrido por cânones e passagens em contraponto duplo. No final temos uma lenta melodia elegíaca com uma solenidade quase religiosa e a marca rítmica da sarabanda (enfatizando o segundo batimento do compasso), harmonizada como um coral luterano. 40


Se a 1.ª variação é uma ária de ópera italiana para teclado, a 2.ª apresenta uma alternância de mãos ao estilo hoquetus que destaca o tema com lampejos de melodia. Instintos barrocos emergem com mais fervor na 3.ª variação, um vigoroso exercício de contraponto duplo. A 4.ª variação engrossa a textura para um total de quatro vozes imitativas, conduzindo à textura ainda mais severamente imitativa da 5.ª variação. Na 6.ª e última variação, Beethoven passa de uma harmonização de acordes simples para um endemoninhado mar de figuras turbulentas e estrelas cintilantes no registo agudo, antes de regressar pela última vez à melodia original, com toda a sua simplicidade. Talvez um piscar de olhos ao modo como Bach encerra as Variações Goldberg?

Franz Liszt/Niccolò Paganini: Grandes Études de Paganini, Tema e Variações em lá menor Acabado de chegar a Paris em 1831, vindo de Viena, o jovem Liszt aí ouviu pela primeira vez Niccolò Paganini (1782-1840), tendo ficado fascinado com a livre expressividade da sua forma de tocar. Liszt mostrou imediatamente o seu desejo de recriar em piano o equivalente, em termos de agilidade técnica e do potencial expressivo, daquilo que Paganini havia demonstrado no violino. Uma das suas tentativas para atingir os níveis de virtuosismo e génio que havia testemunhado em Paganini foi completada em 1838 e revista em 1851: trata-se do conjunto de seis estudos transcritos dos 24 Caprichos para violino solo, op.1, de Paganini. O n.º 6, incrivelmente virtuosístico, intitula-se Tema e Variações em lá menor, à semelhança do último dos caprichos de Paganini. Liszt escreveu onze variações e uma coda, acrescentando múltiplas camadas de som ao capricho original.

Maurice Ravel: Gaspard de la nuit Gaspard de la nuit é considerada uma das obras mais originais, imaginativas, evocativas e tecnicamente complexas de todo o repertório para piano. O seu compositor não fez segredo do cunho surreal e alucinado da sua música, descrevendo-a como “três poemas românticos de virtuosismo transcendental”, nos quais se empenhou em ultrapassar, em termos de pura dificuldade técnica, a notável Islamey – Fantasia Oriental de Balakirev. O grande pianista francês Alfred Cortot chamou à composição “um dos exemplos mais impressionantes de engenho instrumental já inventados.” Já o pianista Charles Rosen chamou ao segundo dos três andamentos (Le Gibet) “um ataque aos nervos do ouvinte, uma criação de tensão através da insistência, como a tortura chinesa da água”, enquanto o compositor Henri Gil-Marchex chegou a listar nela 27 técnicas de execução diferentes. Claramente, Gaspard de la nuit é algo de muito especial. A inspiração de Ravel para escrever Gaspard de la Nuit derivou de poemas vivos e macabros do poeta romântico francês Aloysius Bertrand (1807-1841), que lhe foram dados a conhecer pelo pianista Ricardo Viñes, seu antigo colega e amigo no Conservatório de Paris. Em 1908 Ravel escolheu três poemas da coletânea homónima de Bertrand, escrita em 1830; Viñes fez a estreia a 9 de janeiro de 1909. Cada andamento é dedicado a um músico diferente, respetivamente Harold Bauer, Jean Marnold e Rudolph Ganz. 41


Ondine é uma bela e matreira fada da água que tenta atrair os homens mortais ao seu reino mágico através de um canto sedutor. Ravel retrata-a usando a tonalidade rara de dó sustenido maior (sete sustenidos!) com brilhante e delicada música aquática, bem ajustada à descrição de Bertrand dessa “Ondine, que desliza sobre as gotas de água ressoando nos segmentos em forma de diamante da sua janela iluminada pelos raios sombrios da lua.” Uma sinistra atmosfera de desolação e terror fantasmagórico impregna Le gibet. As indicações de dinâmica nunca se elevam acima de meio-piano. Em alguns dos sons mais estranhos de toda a música, Ravel retrata um cadáver pendurado duma forca, oscilando ao vento contra um céu encarniçado pelo pôr do sol. O implacável repicar de um sino distante, representado por persistentes oitavas em si bemol maior, desenha-se contra uma rica e variada paisagem harmónica. Tão penetrante é o repicar destas oitavas em si bemol maior que levou Le Gibet a ser apelidado de “fantasia sobre uma só nota”. Scarbo: este andamento, não menos misterioso que Le gibet, retrata as imprevisíveis e relampejantes aparições e desaparições do malicioso anão Scarbo, que muda de forma, tamanho e cor sempre que quer. Os cintilantes efeitos alucinatórios exigem uma tal destreza técnica que granjearam a Gaspard um estatuto quase mítico entre os pianistas.

George Gershwin: Três Prelúdios Gershwin aprendeu a tocar sozinho a sua primeira música ao piano quando tinha 11 anos, olhando apenas para as teclas de uma pianola. Parece pois apropriado que, quatro anos mais tarde, um Gershwin adolescente tenha abandonado a escola e começado a ganhar a vida fazendo rolos de pianola. Atuou também em clubes de Nova Iorque e trabalhou como “plugger”, interpretando músicas para clientes potenciais de partituras na companhia de publicações musicais Jerome Remick. O trabalho melhorou as capacidades de improvisação do jovem compositor, assim como as suas habilidades de interpretação, e aos 17 anos Gershwin publicou a sua primeira música e composição a solo para piano. Na altura em que que compôs Três Prelúdios, em 1926, já causava sensação a nível internacional, tendo estreado Rhapsody in Blue com enorme sucesso dois anos antes. O estilo de Gershwin, que combinou ragtime, blues, jazz e música clássica, soa hoje essencialmente “americano”, mas no seu tempo, os acordes e as escalas que usou não eram nada menos que bizarros. O primeiro prelúdio, uma curta e jazzística exclamação, abre com a uma frase brilhante e direta ao estilo blues. Segue-se uma lenta e maliciosa declaração, tipo piscadela de olho, a que responde um grave e sonoro ostinato. O segundo prelúdio é, segundo Gershwin, “uma espécie de canção de embalar blues”. Começa com um tema melancólico e solitário, a que se acrescenta uma melodia corrida, também em estilo blues, que dá sequência ao humor melancólico num registo mais agudo. Uma breve secção central introduz material mais brilhante, que decai novamente para o ostinato introspetivo, terminando num modo tranquilo e despretensioso.

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O terceiro prelúdio, Agitato, tem uma pequena introdução antes de iniciar as suas frases melódicas de pergunta e resposta. O piano discorre com leveza, numa textura cheia de floreados. No


fim a reafirmação do tema é ostensiva, com o andamento e o ritmo a fazerem o piano subir até às alturas de um arranha-céus. Vasco Dantas

Vasco Dantas Nascido em 1992, Vasco Dantas terminou recentemente a licenciatura com “1.ª classe e distinção” no Royal College of Music (RCM), em Londres, sob a orientação do professor russo Dmitri Alexeev e do professor sul-africano Niel Immelman. Está atualmente a completar o curso de Mestrado em Interpretação sob a orientação do professor alemão Heribert Koch, na Universidade de Münster (Alemanha), após um ano de “Zertifikatsstudienjahr”, obtido com a nota máxima nesta universidade. Obteve mais de 50 prémios e distinções em concursos internacionais, destacando-se a “Medalha de Mérito Dourada” atribuída pela Câmara Municipal de Matosinhos, o “Prémio Casa da Música 2009”, o “Prémio Melhor Português” no Concurso Internacional de Viseu, o “Prémio Antena 2 2013”, o 3.º Prémio no Concurso “Münster Steinway & Sons”, o Prémio “Esther Fisher Prize” (melhor aluno de licenciatura do London Royal College of Music na Chappell Medal Competition 2013), o “Prémio Henry Wood Trust 2011 e 2012”, o “Prémio Bolsa Fundação e Círculo Richard Wagner Portugal” e assim como os seguintes 1.os Prémios: Concurso Internacional do Porto “Santa Cecília”, Concurso de Interpretação do Estoril, Concurso Internacional de Piano do Fundão, Concurso Internacional de Piano do Alto Minho, Concurso de Piano Ría de Vigo, Concurso Internacional de Piano “Florinda Santos”, Concurso de Piano “Marília Rocha”, Concurso de Piano Póvoa de Varzim, Concurso de Piano de Paços’ Premium, Concurso de Piano Elisa Pedroso e Concurso de Música de Câmara “Maestro Ivo Cruz”, entre outros. Em novembro de 2015 estreou-se no continente asiático tocando a solo com a Hong Kong Symphonia no Hong Kong City Concert Hall o Concerto n.º 1 de Franz Liszt. Em agosto de 2014 estreou-se no continente americano tocando a solo com a Orquestra Sinfónica do Espírito Santo, em Vitória – Brasil, o Concerto n.º 2 de Chostakovitch. Em maio de 2013 estreou-se com a Orquestra Sinfónica do Porto (Casa da Música) interpretando o Concerto para Quatro Pianos e Orquestra de Bach. Em janeiro de 2011 fez a sua estreia como solista na “Sala Suggia” da Casa da Música, com o recital de abertura do Ciclo de Piano EDP 2011. Tocou também a solo com orquestras como a Hong Kong Symphonia (China), a Orquestra Sinfónica do Estado do Espírito Santo (Brasil), a Jülich Sinfonieorchester e a Junges Sinfonieorchester Aachen (Alemanha), a Orquestra do Norte, a Orquestra Sinfónica de Cascais e a Orquestra Clássica do Sul. Teve oportunidade de trabalhar com maestros de renome, tais como, Choi Sown Le, Dinis Sousa, Günter Neuhold, Martin André, Nicholas Kok, Nikolay Lalov, Pedro Neves, Peter Sauerwein, Rui Pinheiro e Victor Hugo Toro. Vasco Dantas começou a estudar piano aos 4 anos na escola Valentim de Carvalho no Porto (Portugal) e aos seis anos de idade fez a sua primeira apresentação pública, no Museu do Carro Elétrico do Porto. No ano 2000 foi admitido com distinção no Conservatório de Música do Porto, onde estudou com a professora sueca Rosgard Lingardson, terminando o curso com a nota máxima. Participou em cursos de aperfeiçoamento de piano e violino com professores conceituados como Paul Badura-Skoda, Boris Berman, Peter Donohoe, Luiz de Moura Castro, Álvaro Teixeira Lopes, Pedro Burmester, Ian Jones, John Lill, Cristina Ortiz, Fausto Neves, Phillipe Cassard, Andrew Ball, Yuri 43


Bogdanov, Betty Haag-Kuhnke, Sergei Covalenco, entre outros. Foi diversas vezes aconselhado pelos maestros Ivo Cruz e Martin André. Paralelamente ao piano, aos sete anos iniciou o estudo do violino, trabalhando com o prof. José Paulo Jesus. Destacou-se nas orquestras “Momentum Perpetuum”, “Jovens dos Conservatórios Oficiais de Música”, Orquestra XXI e na Metropolitana de Lisboa júnior, como concertino. Atuou como pianista e violinista em centenas de eventos e em variadas salas de renome na Alemanha, Brasil, China, Espanha, França, Itália, Grécia, Portugal, Reino Unido e Suécia, tais como London Steinway Hall, Whiteley Hall, Amaryllis Fleming Concert Hall, Regent’s Hall e Pallant House Gallery (RU); Hong Kong City Hall (China), Teatro Carlos Gomes e Teatro Municipal de Barueri (Brasil), SchumannHaus Bonn, Düren Schloss Burgau (Alemanha), Stockholm Royal Palace (Suécia), Teatro de San Agustin e Auditório Caixa Nova de Vigo (Espanha), Casa da Música, CCB, Europarque, Grémio Literário de Lisboa, Ateneu Comercial do Porto, Teatro Helena Sá e Costa, Museu Romântico do Porto e Salão Árabe do Palácio da Bolsa (Portugal). Tocou pela primeira vez em direto na RTP1 aos 6 anos de idade. Foi entrevistado pelo New York Times, Düren Zeitung, Aachen Zeitung, RTP1, Antena 2 e Porto Canal. Gravou por diversas vezes em CD a convite da Rádio Galega e da editora KNS Classical, com a la qual lançou o seu CD a solo “Promenade” em fevereiro de 2015 com obras de Liszt e Mussorgski, recentemente transmitido pelas rádios alemãs MDR Klassik e WDR 3 e pela Antena 2 (Portugal). www.vascodantas.com

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The Orlando Consort

REINO UNIDO

Cervantes & Shakespeare 10 de julho, domingo, 18h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro D. Afonso VI)

PatrocĂ­nio


Música do Tempo de Cervantes

Música do Tempo de Shakespeare

Anónimo Corten espadas afiladas

John Milton Fair Oriana in the morn

Francisco de la Torre Adorámoste, Señor

Thomas Weelkes Sing we at pleasure

Juan Vasquez La mi sola Laureola

John Farmer Fair nymph, I heard one telling

Alonso de Mondéjar Oyan todos mi tormento

William Byrd This sweet and merry month of May

Anónimo Teresica hermana

William Cornish Adieu mes amours Ah Robin, gentle Robin

Anónimo Si la noche haze escura Francisco Guerrero Dezidme, fuente clara Gabriel Mena Aquella mora garida Juan Vasquez Gracias al cielo doy Francisco Guerrero En tanto que de rosa Hombres, victoria, Victoria! O dulce y gran con tenta P. Alberch Vila Recuerde el alma dormida

Robert Johnson Defiled is my name Benedicam Domino Thomas Morley Adieu, you kind and cruel John Wilbye Draw on sweet night Thomas Weelkes The Andalusian merchant Orlando Gibbons The silver swan Thomas Morley Hard by a crystal fountain

- intervalo -

The Orlando Consort Julie Cooper e Cecilia Osmond, soprano Angus Smith e Benedict Hymas, tenor Matthew Venner, contratenor Donald Greig, barítono

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Notas à Margem Em finais do séc. XVI e inícios do séc. XVII, dois dos maiores escritores que o mundo já viu trabalhavam em Espanha e Inglaterra – Miguel de Cervantes e William Shakespeare. Neste programa o Orlando Consort examina o fervilhante mundo musical que acompanhou as suas grandes concretizações literárias, marcando o 400º aniversário da morte de ambos, em dias consecutivos de abril de 1616. A música era um dos fatores de entretenimento que o público podia esperar ao assistir a uma peça de Cervantes. Canções a solo, duetos e trios pontuavam a ação e havia grupos de músicos para preencher espaços entre as cenas e os atos. As músicas seculares desse tempo por vezes escolhiam temas heróicos, mas também abordavam romances apaixonados, pastorais e corteses por natureza. Este concerto apresenta música de pequena e grande escala a partir de um número de coletâneas contemporâneas, incluindo o Cancionero Casanatense e o Cancionero de Medinaceli com música de compositores como Vásquez, Flecha (o humorístico La Justa), Guerrero, Gutiérrez, Compañi e Torres. Em Inglaterra, a música era uma parte igualmente importante nas peças de William Shakespeare. Compositores contemporâneos famosos como Thomas Morley, Robert Johnson e Thomas Tompkins contribuíram com canções para peças como A Tempestade, Como Vos Aprouver, O Conto de Inverno, Rei Lear (editados, tal como Don Quijote, em 1605) e Noite de Reis. O Orlando Consort apresenta ainda uma seleção de madrigais de Os Triunfos de Oriana, peças que celebram de forma exuberante o espírito confiante da época da rainha Isabel I de Inglaterra.

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The Orlando Consort Criado no Centro da Música Antiga da Grã-Bretanha em 1988, o Orlando Consort é atualmente um dos mais importantes conjuntos vocais da Europa. O seu trabalho combina a perfeição e a seriedade dos seus programas com a frescura das suas interpretações, que cativam imediatamente o público. As suas propostas imaginativas e originais, somadas à sua mestria vocal, fizeram que sejam uma referência mundial neste domínio. Recentemente, o Orlando Consort recebeu excelentes críticas pelas suas incursões na música contemporânea e no jazz, e pelos seus surpreendentes programas educativos, concebidos para músicos amadores de todas as idades e capacidades. A sua impressionante discografia para as etiquetas Saydisc, Metronome, Linn, Deutsche Grammophon e Harmonia Mundi EUA inclui uma coletânea de música de John Dunstaple e o CD The Call of the Phoenix [cujo programa foi ouvido no Cistermúsica em 2007], selecionados como CDs do ano de Música Antiga pela Gramophone Magazine em 1996 e 2003, respetivamente. As suas gravações de música de Compère, Machaut, Ockeghem, Josquin, Popes and Anti-Popes, Saracen and Dove e Passion também foram candidatas no passado. O lançamento em 2008 da Messe de Notre Dame de Machaut e Scattered Rhymes do jovem compositor britânico Tarik O’Regan, com o Coro de Câmara da Filarmónica da Estónia, foram também candidatos aos prémios da BBC Music Magazine. Recentemente iniciaram um novo projeto a longo prazo de gravação de todas as canções polifónicas de Guillaume de Machaut para a Hyperion Records e o primeiro CD desta série foi incluído pelo New York Times no Top 10 de gravações de música clássica de 2013. O Orlando Consort já se apresentou em muitos dos principais festivais da Grã-Bretanha e fez inúmeras visitas a França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Itália, Suécia, Polónia, República Checa, Estónia, EUA e Canadá, América do Sul, Singapura, Japão, Grécia, Rússia, Áustria, Eslovénia, Portugal e Espanha. Têm sido artistas residentes em várias universidades, incluindo as de Bangor e Durham, realizando frequentemente workshops em universidades e conservatórios de música do mundo inteiro. Outros destaques recentes incluem concertos no Carnegie Hall em Nova Iorque e apresentações do seu projeto Mantra, explorando música histórica portuguesa e goesa ao lado do brilhante intérprete de tabla Kuljit Bhamra, em Singapura e Lisboa.

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Banda Sinfónica de Alcobaça A Tradição Norte-Americana 15 de julho, sexta-feira, 22h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro do Rachadouro) Rui Carreira, direção Carla Simões, soprano Barítono a anunciar Patrocínio


George Gershwin Catfish Row (Suite Sinfónica baseada na ópera Porgy and Bess) (Arranjo de Donald Hunsberger para banda sinfónica e dois cantores) Leonard Bernstein Abertura de Candide (Transcrição de Clare Grundman) Leonard Bernstein Danças Sinfónicas de “West Side Story” (Transcrição de Paul Lavender)

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Notas à Margem George Gershwin: Catfish Row Catfish Row, originalmente intitulado Suite de Porgy and Bess, é uma obra orquestral de George Gershwin baseada na música da sua famosa ópera. Gershwin completou esta obra em 1936 e a sua estreia teve lugar na Academia de Música de Filadélfia em 21 de janeiro daquele ano, com Alexander Smallens dirigindo a Orquestra de Filadélfia. Gershwin fez a parte de piano na estreia, incluindo o solo nos momentos iniciais. Esta obra preserva algumas das músicas mais densas e complexas que Gershwin escreveu. Principais andamentos: Catfish Row contém a Introdução JazzBo Brown Piano Blues, que foi cortada da ópera até 1976 (um motivo desta música é ouvido pela primeira vez na introdução orquestral, que na verdade foi composta depois) e a primeira apresentação de Summertime com uma pequena coda. Em Porgy Signs ouve-se uma das árias de Porgy: I Got Plenty o ‘Nuttin e o dueto Bess, You Is My Woman Now ligados por um solo de violoncelo. Fugue contém a música atonal e sombria do assassinato de Crown que acontece na 1ª cena do terceiro acto. Já Hurricane apresenta a música relativa à sequência do furacão e Good Morning, Sistuh corresponde ao prelúdio do terceiro ato relativo à cena final da ópera apresentando também a canção final: Oh, Lawd, I’m on My Way.

Leonard Bernstein: Candide Compositor, maestro e pianista americano, foi um dos primeiros maestros, nascido nos EUA, que dirigiu grandes orquestras mundiais, conquistando assim fama internacional e ganhando vários prémios, nomeadamente um bom número de Grammys e o Prémio Internacional de Música da UNESCO. Com um papel relevante na divulgação da música clássica através de programas de televisão e livros, num período de afirmação do Novo Mundo, Bernstein é um compositor que liga os mais diversificados caminhos musicais às suas composições, influenciadas pelos mestres que admira – Mahler, Britten, Stravinsky, Gershwin, Ives. As suas obras mais conhecidas são os musicais On the Town (1944), Wonderful Town (1953), Candide (1956) e o popular West Side Story (1957). Candide é uma opereta composta por Leonard Bernstein, baseada no romance homónimo de Voltaire e com libreto escrito por Lilian Hellman. A estreia de Candide foi em 1956, sendo em 1974 apresentada novamente, já com um novo libretto, da autoria de Hugh Wheeler. Candide foi originalmente concebida por Lilian Hellman como uma brincadeira com a música incidental, mas Bernstein ficou tão animado com essa ideia que convenceu Lilian a criar uma ópera cómica. Ouviremos neste concerto a abertura desta opereta que desde a sua estreia se tornou muito popular. Com um ritmo muito marcado, tem uma vitalidade que não é fácil de combinar. A pontuação feita pelos instrumentos de percussão logo a abrir não é inovadora, mas é extremamente detalhada e subtil. O xilofone, triângulo e glockenspiel são utilizados para destacar algumas notas, por um lado, e para acentuar algumas passagens com o resto da orquestra, por outro. Já quanto aos tímpanos, bombo e caixa são combinados de uma forma muito inteligente, criando estruturas rítmicas que, ocasionalmente, se entrelaçam também com o que o resto da 52


orquestra. Após a abertura extremamente viva, é apresentada uma secção central melodiosa. A concluir esta abertura é reexposto o tema inicial que evolui em crescendo e acelerando até ao final apoteótico.

Leonard Bernstein: Danças Sinfónicas do West Side Story Obra orquestral de 1961, onde Leonard Bernstein, de uma maneira absolutamente extraordinária, reúne elementos de jazz, mambo e rumba com uma incrível exuberância rítmica e variedade expressiva. O musical West Side Story obra essencial na história do teatro americano, estreado em 1957, inspirado na história de Romeu e Julieta de W. Shakespeare, acontece em Nova Iorque por volta da década de 50. A rivalidade entre dois gangs de adolescentes e a respetiva intolerância é o tema principal. Deste musical, Bernstein extrai nove danças que ganham autonomia pelo seu caráter sinfónico e assim nasce pela genialidade de Bernstein a famosa obra Danças Sinfónicas de West Side Story, onde este demonstra claramente a sua forte ligação com a orquestra e onde podemos encontrar duas das suas canções mais populares, na secção do Cha-Cha: Somewhere e Maria. Grande parte desta obra foi composta em simultâneo com a obra Candide.

Rui Carreira É natural de Leiria. Começou a estudar Direção Coral com Eli Camargo em 1990. Posteriormente teve aulas de Técnicas de Ensaio e Direção Coral com o Maestro Edgar Saramago e frequentou vários Cursos Internacionais de Direção Coral sob orientação dos Maestros Lluis Virgili, Montserrat Rios, Maite Oca, Josep Ramon Gil, Ger Hovius, John Ross, Vianey da Cruz, Alain Langrée e Hübert Velten. Frequentou, de 1999 a 2004, o Curso de Direção de Orquestra em Dijon (França) e, de 2004 a 2007, os Estágios Internacionais de Direção de Orquestra de Leiria, ambos sob orientação do Maestro Jean-Sébastien Béreau. Fundou e dirigiu o Coro da Casa de Pessoal do Hospital de Santo André e o CcC (Coro de Câmara Colliponensis), ambos de Leiria. Dirigiu os Corais Misto e Masculino do Orfeão de Leiria assim como o Coro de Câmara da Escola de Música do Orfeão de Leiria. Além dos Workshops de Páscoa e de Verão para Sopros e Percussão da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML), dirigiu vários concertos com diferentes formações instrumentais da OML. Dirigiu o X e XI Cursos promovidos pela Federação de Bandas do Distrito de Leiria e INATEL. Foi convidado a dirigir o 1.º Estágio de Orquestra de Sopros e Percussão, em Ponta Delgada, o Festival de Bandas Filarmónicas e Curso de Direção de Orquestra de Porto Judeu – Terceira, o VIII Estágio de Orquestra, da Ourearte – Ourém, assim como a Orquestra das II Férias Artísticas do Município de Tábua. Colaborou com o Maestro J. S. Béreau na Direção da Orquestra Sinfónica de Leiria. Dirigiu em concerto, no âmbito do Mestrado em Direção de Orquestras de Sopro, as Bandas Sinfónicas da PSP, da GNR e do Exército, sob a orientação, respetivamente, dos Maestros F. Hauswirth, J. S. Béreau e M. Fennell. Dirigiu o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, estreando obras de três compositores portugueses. Dirigiu a obra “Au Bois de Cise”, do compositor Jean-Sébastien 53


Béreau, no concerto comemorativo do XI aniversário do Ensemble de Palhetas Duplas, acompanhando no piano solo, Ana Telles. Desde 2002, dirige a Banda Sinfónica de Alcobaça. Na Academia de Musica de Alcobaça é professor das Classes de Naipe e Orquestra dos Cursos Profissionais de Música e dirige a Orquestra de Sopros.

Carla Simões Ver página 13.

Banda Sinfónica de Alcobaça A Banda de Alcobaça (BA) teve, na sua origem, um agrupamento musical composto apenas por instrumentos de metal, a Fanfarra Alcobacense, que se extinguiu pouco tempo antes da fundação da Banda. A sua atividade durou de 1900 a 1912, tendo alcançado um alto nível artístico-musical que lhe valeu o honroso título de Real Fanfarra Alcobacense, concedido pelo rei D. Carlos e pela rainha Dona Amélia. Fundada em 19 de março de 1920, a BA levou a sua música a inúmeras localidades, atuando numa vasta área do território nacional durante quase 40 anos de atividade. Depois de um interregno de 28 anos, voltou à atividade em janeiro de 1985, graças ao empenho de um grupo de alcobacenses que, para o efeito, criou uma escola de música, cujos frutos permitiram à BA afirmar-se no panorama musical português, não só pela qualidade dos seus jovens músicos, mas também devido ao repertório executado, mais próximo de uma orquestra de sopros ou mesmo de uma banda sinfónica do que de uma banda filarmónica tradicional. Foi, por isso, natural a evolução para uma banda de concertos, totalmente assumida pela recente designação Banda Sinfónica de Alcobaça, que explora o repertório específico para este tipo de formação, sem prejuízo de uma forte aposta na música de compositores portugueses contemporâneos. Nos últimos anos, a participação em concursos nacionais e internacionais, onde venceu alguns prémios, consolidou a evolução artística do seu corpo musical, composto por alunos avançados da Academia de Música de Alcobaça (a componente pedagógica da BSA é uma das suas principais prioridades), alunos dos cursos superiores de música e ainda músicos amadores que, através deste agrupamento, mantêm uma forte ligação à música. Uma outra vertente muito importante é a gravação de obras de referência para banda de concertos, tendo a BSA editado três discos, o últimos dos quais com a participação de vários solistas. Para o final deste ano está previsto o lançamento de um quarto disco que contará também com a participação de solistas de referência nacional. É de salientar ainda a participação nas últimas edições do Cistermúsica – Festival de Música de Alcobaça – Cistermúsica, que com a apresentação da Carmina Burana, de Carl Orff em 2015, levou a um recorde de assistência neste festival com mais de mil espetadores. A atual temporada da BSA tem o apoio da Direção-Geral das Artes.

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Face Two Phase

ESPANHA

Duo de Percussão 16 de julho, sábado, 21h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro D. Dinis) ESTREIA EM PORTUGAL

Alto Patrocínio


Anna Ignatowicz Passacaglia Astor Piazzolla The History of Tango Alejandro Viñao Arabesco Infinito Anders Koppel Toccata

Face Two Phase Julián Enciso Izquierdo, percussão Joan Pérez-Villegas Morey, percussão 1.º Prémio da Categoria Júnior do IV Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA)

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Notas à Margem Anna Ignatowicz: Passacaglia Passacaglia, dedicada ao duo polaco Hob-Beats, foi estreada em 2003 no âmbito da Acadeis Internacional de Marimba Katarzyna Mycka. Escreveu Anna Ignatowicz: “Em termos de composição, Passacaglia levou-me muito perto de Bach, mas, em termos de estilo, para mim não se trata de uma obra barroca tardia nem neo-barroca, ou seja, não há nela estilização. Esta é uma peça muito importante para mim, pois encerra uma fase particular do meu percurso composicional.” Embora o trabalho não siga estritamente a forma de uma passacaglia tradicional, um dramático ostinato atravessa-se entre os dois intérpretes na maior parte da peça. Este ostinato poderia ser a representação contemporânea de Ignatowicz da tradicional linha de baixo do ostinato que encontramos nas passacaglias da época barroca. Marcado por ritmos pontuados, começa no vibrafone com a marimba a tocar outros ritmos pontuados que, segundo Ignatowicz, devem soar “atrasados”. Passam de um para o outro durante a peça inteira e são ouvidos na marimba durante a coda final. A compositora polaca Anna Ignatowicz completou o seu doutoramento em composição em 1996 na Academia de Música Frederic Chopin em Varsóvia. Aí estudou composição com Vladimir Kotonski e piano e improvisação com Szabolcs Esztenyi. Participou ainda em programas de verão que lhe permitiram colaborar com Louis Andriessen e com a compositora polaca Hanna Kulenty. Em 1994 recebeu o Prémio do Júri da Crítica no Fórum de Jovens Compositores em Cracóvia por Loss of Memory para percussão a solo e gravação. Muitas das suas obras para marimba, incluindo Toccata (2001) e Passacaglia (2003) foram gravadas pela marimbista polaca Katarzyna Mycka. Atualmente, Ignatowicz é Professora Associada de Composição na sua alma mater e secretária da União de Compositores Polacos.

Astor Piazzolla: The History of Tango O compositor argentino Astor Piazzolla foi introduzido no jazz, no tango e na música clássica ainda muito jovem, tendo começado a sua carreira musical como menino prodígio, tocando bandoneón. Na década de 1940 atuou na banda de Anibal Troilo, um dos grandes grupos de tango do século. Ao mesmo tempo estudou composição com Alberto Ginastera em Buenos Aires, e mais tarde com Nadia Boulanger em França, na década de 1950. Apesar dos seus esforços dedicados na composição clássica, Boulanger fez-lhe a recomendação, que ficou célebre, de prosseguir o tango como a sua principal forma de arte. Esta insistência foi para ele o impulso que lhe serviu para abraçar plenamente o tango e desenvolver aquilo a que chamou Nuevo Tango, um moderno estilo de tango marcado por elementos de harmonia e ritmo do jazz, assim como por técnicas de composição clássica. The History of Tango foi escrito em 1986, quando Piazzolla era financeiramente independente e podia escrever de forma livre. A peça cataloga a história do tango em intervalos de 30 anos. Os quatro andamentos intitulam-se Bordel 1900, Café 1930, Nightclub 1960 e Concert d’aujourd’hui. 58


Bordel 1900 recorda em tom de brincadeira o tango na sua configuração original: os bordéis de Buenos Aires. O compasso binário (2/4) é uma característica dos tangos até 1915, com um ritmo pontuado de habanera e um ritmo sincopado de milonga. Café 1930 é o tango dos fumarentos cafés onde foi criado para ser ouvido em vez de dançado; está repleto de harmonias melancólicas, com grande flexibilidade de ritmos. Nightclub 1960 é o tango apresentado em espaços semelhantes aos do jazz contemporâneo. Esta peça personifica muitos dos tangos maduros de Piazzolla, pelas suas surpreendentes mudanças de tempo, pelos seus ritmos agressivos e pela sua forma (rápido-rápido-lento-coda).

Alejandro Viñao: Arabesco Infinito Nascido em 1951, Alejandro Viñao estudou composição com o compositor russo Jacobo Ficher em Buenos Aires. Em 1975 mudou-se para a Grã-Bretanha onde continuou seus estudos no Royal College of Music e na City University em Londres. Desde então tem residido no Reino Unido. Em 1988 foi agraciado com um doutoramento em composição na City University. Viñao escreveu música numa vasta gama de géneros musicais, incluindo ópera, teatro musical, música coral, instrumental e composições eletro-acústicas. Esteve também envolvido na criação de obras multimédia, tendo composto música para cerca de 20 filmes e produzido vários programas de rádio para a BBC. Eis a sua descrição desta peça: «A primeira vez que pensei em escrever um arabesco para marimba e vibrafone foi ao ouvir o meu filho Matteo estudar Segundo Arabesco de Debussy ao piano. Pouco tempo depois considerei a peça de Debussy inserida num contexto de ideias sobre a repetição derivadas da arte islâmica clássica, da teoria do caos e da geometria fractal. «Na arte tradicional islâmica, texturas ornamentais são muitas vezes construídas a partir de uma única figura geométrica multiplicada em todas as direções, criando um padrão infinito. Em Arabesco Infinito tentei imitar esse tipo de construção. «Ideias semelhantes de ‘repetição imprevisível criativa’ podem ser encontradas na geometria fractal e na teoria do caos. No entanto, a teoria do caos também introduz a ideia de atraentes, definidos como estados no sentido de que um sistema ou processo pode evoluir. O que eu achei fascinante nesse conceito foi que, embora um sistema se possa mover no sentido de um atraente, pode dar a sensação de o fazer de uma forma caótica. Isto sugere que a ordem pode ser criada a partir do caos e que talvez um ato de criação possa fazer do caos uma condição necessária. Quis ter esse tipo semelhante de movimento na minha peça, uma direção que às vezes pudesse parecer caótica, mas sempre impulsionada pela repetição de uma célula inicial ou padrão. Queria criar música onde uma figura rítmica e melódica muito simples – e arabesca – acabasse por evoluir de forma imprevisível, mas sempre no sentido de um foco ou ponto de atração. Estes pontos de atração aparecem na peça como grooves, ritmos periódicos ou quase periódicos repetitivos onde o nosso corpo se pode confortavelmente instalar. O movimento ou a gravidade de um groove para o próximo é o processo central da peça, a sua história complexa, em suma, a sua essência. 59


«Em Arabesco Infinito estava interessado na noção de que a repetição (aquele monstro temido da cultura contemporânea) pode ser irracional e até mesmo desumanizante ou verdadeiramente criativa de uma maneira profunda e misteriosa.»

Anders Koppel: Toccata Nascido em 1947 em Copenhaga, Anders Koppel foi co-fundador em 1967 do grupo de rock Savage Rose. Toca no trio Koppel-Andersen- Koppel, que integra o seu filho, o saxofonista Benjamin Koppel. Koppel recebeu por duas vezes o prémio cinematográfico dinamarquês Robert para melhor banda sonora (1994 e 1996). Koppel compôs a música de oito bailados para o New Danish Dance Theatre e música para mais de 150 filmes, 50 peças de teatro e três musicais. Compôs ainda mais de 90 obras para grupos clássicos, música de câmara e 20 concertos, entre os quais dois concertos para saxofone e quatro concertos para marimba. Esta peça é um dueto para marimba e vibrafone que extrai sons de inúmeras áreas musicais – jazz, tango, música contemporânea e muitas mais. O resultado é uma espécie de caleidoscópio de diferentes estilos musicais reunidos numa única e emocionante peça de música. Independentemente do ponto em que começamos a escutar a peça, tanto podemos ouvir uma valsa, uma caixa de música levemente ameaçadora como algo de agressivamente percussivo. Esta imprime sempre uma forte sensação no público graças à sua vasta gama de estilos e excelente estrutura tonal. Face Two Phase

Face Two Phase Face Two Phase nasceu nos finais de 2014 pela mão de dois estudantes da ESMUC (Escola Superior de Música da Catalunha) com a intenção de explorar o reportório para duo de percussão, especialmente para a formação marimba-vibrafone e marimba-marimba. No início de 2015 decidem apresentar-se no IV Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA), onde obtêm o 1.º Prémio da Categoria Júnior por unanimidade, pelo qual são convidados no Festival Internacional de Música de Câmara de Stellenbosch (África do Sul) e Cistermúsica – Festival de Música de Alcobaça.

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Play False Antรณnio Cabrita e Sรฃo Castro 16 de julho, sรกbado, 22h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaรงa (Claustro D. Afonso VI)


António Cabrita e São Castro, conceito, coreografia e interpretação João Frango, direção técnica Catarina Morla, figurinos Nuno Nogueira, confeção de figurinos São Castro e António Cabrita, música Murcof “Isaías I”, J. S. Bach “Passacaglia in C Minor”, música adicional Patrícia Soares | Vo’Arte, produção e difusão Vo’Arte, produção Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, Teatro Viriato, Pro-Dança, Companhia Nacional de Bailado, apoio a residência artística Catarina Câmara, Cláudio Hochman e Maria de Assis, agradecimentos Espetáculo vencedor do Prémio Autores 2015 - Dança, Melhor Coreografia - Sociedade Portuguesa de Autores

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Notas à Margem O ser humano é o único animal que procura um propósito de vida para além da simples necessidade de sobrevivência. Nesta viagem pela condição humana, pelo que somos e por aquilo que nos condiciona, vemo-nos confrontados com a nossa existência histórica e social. Quem melhor do que Shakespeare para falar sobre os conflitos mentais, as emoções versus razão, ou mesmo o que está para além das palavras? Através do recurso à psicologia e à análise de personagens como Lady Macbeth, Hamlet, Romeu e Julieta e Richard III, somos impelidos a refletir sobre o nosso próprio comportamento. Play False é uma expressão usada por Lady Macbeth no ato I da peça Macbeth. Este espetáculo é uma viagem através da condição humana, em que a matéria de pesquisa é o questionar com o corpo. Algo que trespassa a palavra, que não é escrito, mas que está presente e tem forma. Uma tradução do pensamento pela fisicalidade do corpo. O conflito mental desconstruído e desenlaçado através do corpo. O movimento e a complexidade humana na procura de significado, na busca pela descoberta de uma qualquer verdade, ao responder a alguma pulsação da vida inter-individual. Desenvolver uma forma de descrever com o corpo e suas múltiplas capacidades físicas, todos os conflitos mentais inerentes à condição humana. Tentar encontrar uma ordem, ainda que efémera, até à próxima “guerra interior”. Nesta nova criação pretendemos trabalhar em torno da temática da condição humana. O que somos, o que nos condiciona, de que forma controlamos a definição de nós próprios quando confrontada com o mundo e com os outros. Até que ponto jogamos falso numa tentativa de representação do eu e percecionamos esse jogo como algo autêntico... ou o contrário. Depois de uma primeira residência artística, quisemos recorrer a algo concreto do ponto de vista do estímulo criativo neste tema tão vasto que é a condição humana. Algo que se misture no mundo abstrato da dança. Algo completamente oposto à nossa última criação, Wasteland. Quando pensámos em condição humana, ocorreu-nos automaticamente um nome. Ninguém explorou e conheceu tão bem a temática da condição humana como Shakespeare. Soubemos desde logo que não tínhamos como objetivo utilizar as obras teatrais como base para a criação da peça, mas apenas recorrer a algumas das personagens criadas por Shakespeare. Play False eleva-nos não só à criação de uma personagem, mas também à própria desconstrução da personalidade da personagem. Muitas emoções falseiam-se, mas também se misturam com a realidade. Não queremos apropriar-nos literalmente do teatro, mas talvez retirar personagens que nos estimulem a pesquisar, pensar, experimentar e construir no corpo algo que normalmente se encontra no “layer” do pensamento filosófico – a condição humana. António Cabrita e São Castro

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António Cabrita António Cabrita é licenciado pela Escola Superior de Dança (2008), formado pela Escola de Dança o Conservatório Nacional (2000), estudou dança no Joffrey Ballet School em Nova Iorque (2001), tem o curso de cinema da New York Film Academy (2001), e o curso de Criatividade Publicitária da Restart em Lisboa (2004). Tem desenvolvido trabalho entre Portugal, Alemanha e Bélgica, como bailarino, coreógrafo, ator,“vídeo-designer” e sonoplasta. Trabalhou nos últimos anos com Rui Horta, Né Barros, Silke Z., António Tavares, Tânia Carvalho, Ana Rita Barata, Pedro Ramos, Feliz Lozano, Hofesh Shechter, Paulo Ribeiro, entre outros. Participou em projetos e festivais tais como o projeto “Colina”, “Repérages”, Festival Temps D’image, Festival InShadow, New Age New Time, Festival Dance Dance Dance, “PT2013”. Com o solo Volátil foi convidado a participar no primeiro festival de solos em 2006, no Teatro MalaPosta. Desde 2009 tem colaborado em projetos com intérpretes com paralisia cerebral na companhia CiM. Tem trabalhado como desenhador de vídeo para peças em várias companhias de dança e teatro. Também tem colaborado em projetos multidisciplinares entre dança/linguagem computacional. Em 2009 foi nomeado para a categoria de novo talento, no Portugal Dance Awards. Criou em 2009 o projeto To Fail. Coreografou no final de 2011 a peça 88 para a companhia QuorumBallet. Tem dado workshops de composição coreográfica e de vídeo em vários países europeus. É artista residente na companhia alemã SilkeZ./Resistdance desde 2007. Foi nomeado em 2014 para os prémios SPA como co-autor da peça Abstand de Luís Marrafa. Em parceria com São Castro tem vindo a desenvolver desde 2011 o projeto |acsc|, do qual já foram criadas as peças Wasteland, Play False e Tábua Rasa, esta última em cocriação com Xavier Carmo e Henriett Ventura, coprodução da Companhia Nacional de Bailado e Vo’Arte. Ganhou com a peça Play False cocriada com São Castro o prémio de melhor coreografia 2015 pela Sociedade Portuguesa de Autores.

São Castro São Castro iniciou a sua formação em dança no Balleteatro Escola Profissional do Porto, integrando o Balleteatro Companhia entre 1997/99, em peças de Né Barros e Isabel Barros. Fez parte do elenco de As Lições, peça de Ricardo Pais no Teatro Nacional S. João. Concluiu a Licenciatura na Escola Superior de Dança em 2002. Entre 2001 e 2004 integrou a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo e em 2004/05 foi bailarina do Ballet Gulbenkian. Como freelancer trabalhou com Benvindo Fonseca, Sofia Silva, Rui Lopes Graça, Vasco Wellenkamp, Companhia Paulo Ribeiro, Companhia Olga Roriz, André Mesquita, Tânia Carvalho e Luís Marrafa. Em 2009 cria e interpreta o solo aTempo apresentado no IV Festival Internacional de Solos da Malaposta, no Festival Internacional de Dança Contemporânea de Évora e na Plataforma Coreográfica Internacional da 18a Quinzena de Dança de Almada. Como bailarina convidada, participa no projeto Notion – Dance Fiction de Ka Fai Choy no Festival InShadow 2011.Coreografou para a Companhia de Dança do Algarve, um dueto para alunos da Escola de Dança do Conservatório Nacional, apresentado no International Youth Festival Expression, na Grécia e mais recentemente para o Projeto Quorum. Fez parte do elenco de Durações de um Minuto, projeto de Clara Andermatt e Marco Martins, uma produção do Teatro Municipal São Luiz. Em 2012, como intérprete da Companhia Instável, integra o elenco de Shelters, 3 criações de Hofesh Shechter. Desde 2011 tem 65


vindo a desenvolver o projeto |acsc|, uma colaboração artística com António Cabrita. A peça Play False de antónio cabrita e são castro |acsc| foi reconhecida com o Prémio Autores 2015 de Dança | Melhor Coreografia, da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Numa coprodução com a Companhia Nacional de Bailado é cocriadora e intérprete de Tábua Rasa, com António Cabrita, Xavier Carmo e Henriett Ventura. Dá frequentemente aulas e workshops de dança contemporânea.

João Frango João Frango iniciou os seus estudos de dança clássica no Centro de Formação de Bailarinos da CNB do Teatro Nacional de São Carlos. Ao mesmo tempo, exerceu funções de Assistente do Diretor de Cena da Companhia Nacional de Bailado. Em 1984 rumou a Inglaterra, onde continuou os estudos de dança no Doreen Bird College of Performing Arts. No ano de 1996 entrou no Ballet Gulbenkian onde dançou durante 10 anos. Depois de, em 1994, ter estudado Realização de Vídeo/TV na ETIC em Lisboa, na temporada 1995/96, por solicitação da FCG, fez estágio no departamento técnico do Nederlands Dance Theatre em Haia, tendo no final assumido as funções de Diretor de Cena/Coordenador Técnico do Ballet Gulbenkian, cargo que exerceu até a extinção da companhia. Paralelamente trabalhou nas áreas da televisão e publicidade. Atualmente, enquanto freelancer, trabalha como Diretor Técnico/Cena e Desenho de Luz nas áreas de eventos empresariais, desportivos e espetáculo. Destacando: Direção de Cena da Cerimónia Protocolar dos II Jogos da Lusofonia no Pavilhão Atlântico; Direção Técnico do Musical A Canção de Lisboa, entre outros, de Filipe La Féria; Direção Técnica e de Cena da Opera Crioulo no CCB; Direção de Cena, em 2011/12, do Dutch National Ballet de Amsterdão, temporada comemorativa dos 50 anos da Companhia. Está ligado ao projeto |acsc| desde o seu início.

Vo’Arte A Vo’Arte nasceu da vontade de produzir, promover e valorizar a criação contemporânea, através do cruzamento de linguagens artísticas e do desenvolvimento de projetos nacionais e internacionais, apoiando o intercâmbio e a transdisciplinaridade na criação. A Vo’Arte é um projeto inovador que promove o diálogo e a descentralização cultural, com vista ao estreitamento das relações entre comunidades e à formação de novos públicos. Com 18 anos de atividades artísticas, pedagógicas, sociais e públicas, a Vo’Arte acredita na cultura artística e continua a criar novos espetáculos, festivais, exposições, instalações, performances, filmes, seminários e propostas de programação envolvendo artistas consagrados e criadores emergentes. Participou nas Capitais Europeias e Nacionais da Cultura Porto 2001, Coimbra 2003 e Faro 2005, nas Expos Mundiais Expo’98 e Saragoça 2008, no Euro 2004, no Mundial de Boccia 2010, no Festival Unlimited Dance em Atenas (2015) com propostas de criação na área da dança/performance e cinema e formação e em 2012 obteve em conjunto com a CiM – Companhia de Dança, a chancela do Ano de Portugal no Brasil. A Vo’Arte foi distinguida com o Prémio Nacional de Inclusão 2014 na categoria Cultura Desporto e Lazer pelo trabalho desenvolvido ao nível da criação, inclusão, formação e programação cultural e artística transdisciplinar, nos últimos 18 anos. Foi a grande vencedora do Prémio 66


Acesso Cultura na categoria Acessibilidade Intelectual 2015. Obteve o reconhecimento prestigiante do EFFE – Europe for Festivals, Festivals for Europe, 2015-2016 com o Festival InShadow. A Vo’Arte integra as redes CQD - Ciudades Que Danzam, StudioTrade,REDE - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea e é sócia do Acesso Cultura. Tem Direção Artística de Ana Rita Barata (coreógrafa) e Pedro Sena Nunes (realizador).

|acsc| antónio cabrita e são castro |acsc| é um projeto de colaboração artística entre os dois bailarinos e coreógrafos – António Cabrita e São Castro – que se propõe ao cruzamento de interesses e estímulos criativos como o movimento, imagem e som.

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Officium Ensemble Estêvão Lopes-Morago Redescoberto 17 de julho, domingo, 18h00 Convento de Santa Maria de Cós

Apoio: Paróquia de Cós e União das Freguesias de Cós, Alpedriz e Montes


TENEBRÆ Música inédita de Lopes-Morago para a Semana Santa Estêvão Lopes-Morago (c.1575-1630) Gloria Laus, 4vv Missa Dominicalis, 4/5vv Kyrie Commissa mea, 6vv Missa Dominicalis Credo Versa est in luctum, 4vv Missa Dominicalis Sanctus e Benedictus Agnus Dei Ut quid Domine, 4vv Francisco Martins (c.1620-1680) Tenebræ factæ sunt Filipe de Magalhães (c.1565-1652) Commissa mea, 6vv Estêvão Lopes-Morago 1ª Lição 5ª feira Santa Incipit Lamentatio, 4vv 9º Responsório 5ª feira Santa Seniores populi, 8vv Duarte Lobo (c.1565-1646) Pater peccavi Estêvão Lopes-Morago 1ª Lição 6ª feira Santa De lamentatione Hieremiae, 4vv 9º Responsório 6ª feira Santa Caligaverunt, 8vv Jesu Redemptor II, 8vv

Officium Ensemble Ariana Russo, Inês Lopes, Mariana Moldão e Sara Ramalhinho, sopranos Catarina Saraiva, Manon Marques, Raquel Marques e Rita Tavares, contraltos Bruno Sales e Pedro Matos, tenores Pedro Casanova, Rui Borras e Sérgio Silva, baixos Pedro Teixeira, direção 69


Notas à Margem Nascido em Vallecas (Espanha) por volta de 1575, Estêvão Lopes-Morago detinha um domínio irrepreensível do contraponto. A sua formação foi feita no Colégio dos Moços de Coro da Sé de Évora, para onde entrou com cerca de 8 anos, a idade média de entrada dos moços no colégio. Desempenhou o cargo de mestre de capela da Sé de Viseu nas primeiras décadas do século XVII, desconhecendo-se o ano exato da sua morte, que foi posterior a 1628. A música de Lopes-Morago foi transcrita e publicada pelas edições Portugaliae Musica da Fundação Calouste Gulbenkian, pela mão de Manuel Joaquim. Pensava-se que quase toda a obra teria sido transcrita para notação moderna, mas as investigações de José Abreu (Universidade de Coimbra) vieram trazer a lume um conjunto amplo de obras inseridas numa fonte manuscrita, com música para uma grande parte do ano litúrgico, sistematizada em grande detalhe. O presente programa enquadra-se, assim, num projeto maior que tem como principal objetivo o estudo de uma fonte musical até à sua interpretação musical. O alinhamento foi inteiramente preparado a partir de uma fonte musical manuscrita que contém um conjunto vasto de obras do compositor. As obras selecionadas destinavam-se às celebrações do Domingo de Ramos e Semana Santa, um dos momentos mais intensos do ano litúrgico. Este repertório totalmente inédito, recentemente estudado e transcrito pela primeira vez, inclui música para o ofício de Matinas também conhecido por Triduum Paschal ou ofício das Trevas, incluindo Lamentações e Responsórios e ainda uma Missa, um hino e um motete para as celebrações de Domingo de Ramos. Este repertório revela-nos uma música única e de extraordinária capacidade expressiva de um dos momentos mais distintos da nossa história da música. Pedro Teixeira

Pedro Teixeira Nascido em Lisboa, completou a licenciatura em Direção Coral na Escola Superior de Música de Lisboa, obtendo na mesma instituição o grau de Mestre em Direção Coral em 2012. Iniciou os seus estudos musicais na Academia de Amadores de Música em 1981, interessando-se mais tarde pela prática e direção de música coral enquanto elemento do Coro da Universidade de Lisboa, onde se iniciou na direção como assistente do maestro José Robert. Foi precisamente com José Robert que iniciou a sua formação enquanto diretor de coro, tendo mais tarde trabalhado com Vasco Pearce de Azevedo, António Lourenço e Paulo Lourenço. Foi professor na Escola Superior de Educação de Lisboa, lecionando Educação Vocal e Direção Coral, no curso Música na Comunidade. Pedro Teixeira dirige atualmente dois grupos em Portugal: Coro Ricercare (desde 2001) e Officium Ensemble, agrupamento profissional que fundou no ano 2000 e que se dedica à interpretação de música renascentista vocal dos sécs. XVI/XVII. Dirigiu também o Coro Polifónico Eborae Musica de 1997 a 2013 e o Grupo Coral de Queluz de 2000 a 2012. Com o Officium Ensemble recebeu em 2002 o prémio “The most promising conductor of Tonen 2002” na Holanda, concurso que atribuiu o 3º prémio a Officium nas categorias de música sacra e música secular. 70


Também cantor, estudou canto na Escola de Música do Conservatório Nacional e é elemento do Coro Gregoriano de Lisboa, no qual é solista. Foi cantor no Coro Gulbenkian entre 2005 e 2012. Pedro Teixeira tem sido reconhecido como um dos mais proeminentes maestros de coro do país, não só pela sua intensa atividade enquanto diretor de coro, como também pela sua sólida e característica interpretação da música vocal. Esse reconhecimento tem-no levado a trabalhar a um nível internacional nos últimos anos – em Barcelona, dirige juntamente com Peter Phillips, Ivan Moody e Jordi Abelló o workshop Victoria400 e é responsável pelas oficinas de Ensemble Vocal e Direção Coral no Curso Internacional de Música Medieval e Renascentista de Morella. Colaborou com a Fundação Gulbenkian enquanto maestro preparador convidado do Coro Gulbenkian, tendo preparado o coro para diversos concertos entre 2011 e 2014. É diretor artístico das Jornadas Internacionais Escola de Música da Sé de Évora e responsável pela organização do festival Eboræ Musica da Associação Musical de Évora, que conta já com dezasseis edições. É desde novembro de 2012 maestro titular do Coro de la Comunidad de Madrid.

Officium Ensemble O Officium Ensemble tem-se estabelecido como um dos mais proeminentes grupos vocais portugueses dedicados à música antiga. A pureza do som que lhe é característico advém do trabalho de fusão, emissão e equilíbrio que o grupo tem desenvolvido desde a sua criação, sob a direção de Pedro Teixeira. Aliados a esta característica, o empenho e expressividade dos cantores do ensemble têm levado Officium Ensemble a ser aclamado pelas suas interpretações marcantes, comprometidas e consistentes, em que a resposta ao texto desempenha um papel essencial. O repertório que domina e no qual se especializou estende-se por todo o período do Renascimento e início do Barroco, dedicando-se com especial enfoque à música antiga portuguesa e especificamente à música da Sé de Évora, abarcando também as escolas franco-flamenga, espanhola e inglesa da era Tudor. O Officium Ensemble une uma sólida interpretação a uma reiterada investigação musicológica, recorrendo a impressos e manuscritos da época no sentido de oferecer execuções historicamente informadas, para além de possibilitar ao público primeiras audições de várias obras em tempos modernos. O grupo tem atuado em inúmeros locais e festivais de música antiga, desde as Jornadas Internacionais Escola de Música da Sé de Évora e Festival Música em São Roque, passando pelos festivais Terras sem Sombra, Dias da Música (CCB), Festival de Órgão de Lisboa e Festival AMUZ Laus Polyphoniae em Antuérpia, entre outros. Da temporada 14-15, destacam-se concertos no Festival Internacional de Música de Setúbal e no Ciclo de Música Antiga Reencontros (Palácio Nacional de Sintra). Já esta temporada, atuou no Festival de Música Antiga Oude Muziek de Utrecht e integrou uma vez mais a temporada Música em São Roque. Em 2016 atuará de novo no Festival Oude Muziek (Utrecht), assim como no Festival Internacional de Música de Marvão e no Cistermúsica (Alcobaça). Officium Ensemble gravou para o canal Mezzo, juntamente com a Orquestra Divino Sospiro, assim como para a rádio clássica belga Klara, surgindo também no programa televisivo “Percursos da música portuguesa”. Os seus concertos são frequentemente retransmitidos pela rádio clássica portuguesa RDP Antena2. Gravou recentemente Magnificat, ou a insubmissa voz, obra de João Madureira em estreia absoluta. O mesmo CD inclui obras de Estêvão Lopes-Morago e Magnificat primus tonus, de Filipe de Magalhães, em primeira audição moderna. Recentemente, realizou a estreia 71


absoluta de Tropário para uma pastora de ovelhas mansas, a propósito do centenário das aparições de Fátima, com obras de Alfredo Teixeira, Carlos Marecos, João Madureira, Nuno Côrte-Real, Rui Paulo Teixeira e Sérgio Azevedo, escritas para ensemble vocal, piano e acordeão. A formação base de doze cantores é maleável de acordo com o repertório, juntando mais cantores sempre que necessário. A manutenção de uma estética sonora e interpretativa de excelência é o axioma que rege todo o trabalho de Officium Ensemble, na ambição incessante pela qualidade como veículo de homenagem a um dos mais ricos períodos da história da música ocidental.

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Alma Mater 22 de julho, sexta-feira, 21h30 Centro Cultural Gonçalves Sapinho – Benedita


Armando José Fernandes Suite para Orquestra de Cordas Preludio: Allegro ben misurato Allegretto grazioso Recitativo e Duo: Andantino tranquillo – Andante Capriccio: Poco allegretto e giusto Antonio Vivaldi As Quatro Estações op. 8 Concerto n.º 1 em mi maior RV 689, “A Primavera” Allegro Largo Allegro pastorale Concerto n.º 2 em sol menor RV 315, “O Verão” Allegro non molto Adagio e piano – Presto e forte Presto - intervalo Concerto n.º 3 em fá maior RV 293, “O Outono” Allegro Adagio molto Allegro Concerto n.º 4 em fá menor RV 297, “O Inverno” Allegro non molto Largo Allegro Joly Braga Santos Concerto em Ré para orquestra de cordas, op. 17 Largamente maestoso – Allegro Adagio non troppo Allegro ben marcato

Alma Mater Ana Pereira, violino Pedro Neves, direção Ana Pereira, Romeu Madeira, David Ascensão e Vítor Vieira, violinos I Ana Filipa Serrão, José Teixeira e José Teixeira, violinos II Joana Cipriano, Jorge Alves e Sandra Martins, violas d’arco Marco Pereira e Paulo Gaio Lima, violoncelos Margarida Afonso, contrabaixo

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Notas à Margem Antonio Vivaldi: As Quatro Estações Durante a sua vida, Antonio Vivaldi (Veneza 1678 – Viena 1741) ganhou renome como compositor, violinista virtuoso e personagem fora do vulgar. Cem anos depois da sua obscura morte, foi esquecido. Em meados do século XIX os estudiosos começaram a redescobri-lo, mas apenas como derivado da florescente investigação sobre Bach, pois o mestre alemão havia transcrito várias obras do seu contemporâneo italiano mais velho. Algumas peças ganharam lugar no reportório e, no segundo centenário da sua morte, os musicólogos já tinham uma ideia precisa de quem ele tinha sido, mas para o público em geral ainda era apenas um nome pouco conhecido. Em 1950 o violinista americano Louis Kaufmam despertou interesse tocando As Quatro Estações num programa radiofónico da CBS, mas só com a chegado dos discos LP é que Vivaldi voltou a ser quem era. Os seus concertos, dos quais existem mais de 500, estão por toda a parte. Muitos foram escritos para o Ospedale della Pietà, um orfanato veneziano para raparigas, com o qual Vivaldi esteve associado de 1703 até 1740 e que era famoso pela qualidade da sua música. Antes de juntar à Pietà como maestro di violino, Vivaldi estudara com o seu pai, violinista na catedral de São Marcos, e fora ordenado padre. Nunca celebrou missa, atribuindo isso a uma doença congénita, um aperto de peito (“strettezza di petto”) que pode ter sido angina de peito ou algum tipo de asma. A sua fama como compositor cresceu. As suas óperas eram muito requestadas, a sua música era publicada em Amsterdão, a encomenda do famoso Gloria veio da corte de Luís XV em Paris, foi por duas vezes convidado a tocar para o Papa, e viajou para centros musicais importantes como Dresden, para cuja orquestra escreveu uma série de imaginativos concertos. Com o passar dos anos, porém, as suas relações com a Pietà desgastaram-se e a sua cotação junto do público veneziano declinou. Em 1740 abandonou a sua cidade natal. Não sabemos nada sobre essa sua última viagem, nem para onde foi primeiro, nem que planos ou esperanças acalentava ao começar a percorrer territórios fustigados pela Guerra da Sucessão Austríaca. O seu nome surge nos livros de registos da Pietà a 12 de maio de 1740 e voltamos a encontrá-lo no registo de enterros da paróquia de Santo Estevão, em Viena, a 28 de julho de 1741. Tinha morrido nesse dia, de acordo com o registo do médico legista, de uma inflamção interna (“an Innrem Brand”). Para a maioria dos ouvintes de hoje, Vivaldi é o compositor das deliciosas e pitorescas Quatro Estações e, de forma tão surpreendente quanto imerecida, objeto de muito pouca curiosidade para além disso. Mas as Estações são apenas quatro dos 221 concertos para violino de Vivaldi, e isso não é nem metade do seu catálogo total de concertos. A este há que acrescentar mais de 100 sonatas e obras instrumentais diversas. Chegamos então às suas obras vocais — secções de missas, salmos, hinos, antífonas, motetos, cantatas para solista, serenatas, três oratórias e mais de 40 óperas — tudo terra incognita não apenas para o público em geral mas para muitos profissionais. Os concertos que compõem As Quatro Estações fazem parte de uma coleção com o título pitoresco de Il cimento dell’armonia e dell’invenzione, que se pode traduzir como O Teste da Harmonia 76


e da Invenção, embora possamos reforçar a ideia frisando que cimento sugere um teste particularmente difícil, que envolve uma percentagem de risco, e que armonia significa algo simultaneamente mais vasto e mais específico do que parece à primeira vista, nomeadamente a música em geral, por um lado, e as técnicas caprichosas da armonia imitativa, ou música descritiva, por outro. Vivaldi é altamente engenhoso na maneira como integra boletins metereológicos deliciosamente detalhados e pinceladas de pintura de género na forma do concerto. Os ritornelos estabelecem um “afeto” de base para cada estação, enquanto os episódios a solo permitem a ilustração de detalhes pictóricos vívidos e sempre variados. Ao mesmo tempo, Vivaldi escreveu quatro concertos com notável brilho violinístico, sobretudo se tivermos em conta os ornamentos que ele acrescentava ao texto escrito durante as execuções. É de presumir que o próprio Vivaldi foi o primeiro a tocar estes concertos, muito provavelmente com a orquestra privada do Conde Wenceslas Morzin, dedicatário do opus 8. Morzin era um aristocrata boémio do corpo diplomático, e no decorrer dos seus deveres passou um tempo considerável em Veneza, onde contratou Vivaldi como maestro da sua orquestra privada. (O filho de Morzin deu a Haydn o seu primeiro emprego a sério.) Quando publicou As Quatro Estações, Vivaldi usou palavras para tornar explícitas as suas intenções pictóricas, e cada concerto inclui um comentário que vai indicando exatamente ao violinista quando é que os zéfiros sopram, os pássaros cantam, o cão ladra ou o caminhante escorrega no gelo. Michael Steinberg

A Primavera [I. Allegro]

[II. Largo]

Chegou a Primavera e festejando A saúdam as aves com alegre canto, E as fontes ao soprar dos zéfiros Correm com doce murmúrio.

E eis que sobre o florido e ameno prado, Ao agradável murmúrio das folhas Dorme o pastor com o cão fiel ao lado.

Uma tempestade cobre o ar com negro manto Relâmpagos e trovões são eleitos a anunciá-la; Logo que ela se cala, as avezinhas Tornam de novo ao canoro encanto.

[III. Allegro] Ao som festivo da pastoral Zampónia Dançam ninfas e pastores sob o abrigo amado Da primavera que surge brilhante.

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O Verão [I. Allegro non molto — Allegro]

[II. Adagio — Presto — Adagio]

Sob a dura estação, pelo sol incendiada, Lânguidos homem e rebanho, arde o pinheiro; Liberta o cuco a voz firme e intensa, Cantam a rola e o pintassilgo.

Toma dos membros lassos o repouso O temor dos relâmpagos e os feros trovões; E de repente inicia-se o tumulto furioso!

O doce zéfiro expira, mas uma disputa É improvisada por Bóreas com seus vizinhos; E chora o pastor, porque suspenso Teme feroz borrasca e o seu destino.

[III. Presto] Ah! Que os seus receios são verdadeiros: Troa e fulmina o céu grandioso Quebra as espigas e desperdiça os grãos.

O Outono [I. Allegro]

[III. Allegro]

Celebra o aldeão com danças e cantos Da feliz colheita o belo prazer E inflamados muitos pelo licor de Baco Terminam com sono o seu desfrute.

O caçador, ao amanhecer, na caça, Com trompas, espingardas e cães, irrompe; Foge a fera, mas seguem-lhe o rastro.

[II. Adagio molto] Faz cada um interromper danças e cantos O ar temperado que dá prazer; E a estação convida uns tantos Ao gozar de um dulcíssimo sono.

Já exausta e apavorada com o grande rumor, Por tiros e mordidas ferida, ameaça Uma frágil fuga, mas cai e morre oprimida!

O Inverno [I. Allegro non molto]

[III. Allegro]

Tremer agachado entre a neve argêntea; Ao sopro severo do terrível vento Correr, batendo os pés a todo o momento; E bater os dentes pelo frio excessivo.

Caminhar sobre o gelo com passo lento Pelo temor de cair neste intento; Rodopiar, escorregar e cair por terra; De novo sobre o gelo correr com vigor, Sem que ele se rompa ou se quebre.

[II. Largo] Junto ao lume passar os dias quieto e contente Enquanto lá fora a chuva tudo molha;

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Sentir passando pela porta fechada Siroco, Bóreas e todos os ventos em guerra; Eis o Inverno, mas ainda assim, que traga alegria.


Armando José Fernandes: Suite para Orquestra de Cordas Armando José Fernandes (Lisboa 1906 – 1983) estudou no Conservatório Nacional com Alexandre Rey Colaço, Lourenço Varela Cid, Luís de Freitas Branco e António Eduardo da Costa Ferreira. Enquanto jovem formou com Croner de Vasconcelos, Fernando Lopes-Graça e Pedro do Prado o chamado “Grupo dos Quatro”, que defendia uma modernização da linguagem e do estilo musicais. Armando Fernandes quis dedicar-se especialmente à chamada “música pura”, não mostrando qualquer interesse pela música teatral. Em Paris, onde se instalou em 1931, contactou com músicos como Roger Ducasse, Nadia Boulanger, Paul Dukas e Igor Stravinsky, seguindo os cursos destes na École Normale de Musique e estudando piano com Alfred Cortot. De regresso a Lisboa, lecionou na Academia de Amadores de Música e ingressou em 1942 no Gabinete de Estudos Musicais da recém criada Emissora Nacional, que lhe proporcionou as condições para compor a maioria das suas obras. A partir de 1953 entrou para o quadro do Conservatório Nacional como professor de composição, lugar que ocupou até à reforma. Armando José Fernandes cultivou sobretudo os géneros de câmara e concertantes, aproximando-se estilisticamente dos modelos franceses que mais prezava, em particular Fauré e Ravel. Tinha especial predileção por Ravel e são notórias as afinidades de temperamento entre ambos, marcadas pela discrição e por uma profunda seriedade profissional e artística. No que respeita à costela neoclássica, que é a que melhor o define como compositor, foi sensível às influências de Stravinsky e Nadia Boulanger. No dizer de Nuno Barreiros, nota-se na sua obra um acentuado construtivismo baseado em formas da grande tradição da música europeia dos séculos XVII e XVIII, como a forma-sonata, o rondó, o scherzo, a forma canção, a fuga, o tema com variações e o coral variado. A Suite para Orquestra de Cordas foi escrita para o Gabinete de Estudos Musicais da Emissora Nacional em 1950. O Prelúdio (Allegro ben misurato), em compasso de 3/8, tem ecos de forlanas e barcarolas. O 2.º andamento é um Allegretto grazioso com função de scherzo que alterna os compassos de 6/8 e 9/8. O terceiro andamento começa com um recitativo protagonizado pela violeta (Andantino tranquillo), seguido de um duo de violino e violoncelo (Andante). A obra termina com um Capriccio (Poco Allegretto e giusto). Por razões que custa compreender – sobretudo tendo em conta a escassez do reportório português para orquestra de cordas – esta é uma das obras menos tocadas de Armando José Fernandes e desconhecemos a data da sua estreia. Nunca foi gravada em disco e a última execução integral de que temos notícia deu-se há 40 anos (1976).

Joly Braga Santos: Concerto em Ré Joly Braga Santos (Lisboa 1924 – 1988) fez o essencial da sua sólida formação de compositor como aluno particular de Luís de Freitas Branco, de quem foi o mais importante discípulo. O seu catálogo, iniciado em 1942, foi marcado em 1946 pela estreia da sua 1.ª Sinfonia, que teve o impacto de revelar aos 22 anos um sinfonista nato. 79


A primeira fase da produção de Joly reflecte os ensinamentos de Luís de Freitas Branco e tem como coordenadas principais um idioma modal, com raízes históricas na polifonia renascentista portuguesa e na música tradicional portuguesa, em especial do Alentejo. Entre 1959 e 1960, Joly estudou em Roma com Virgilio Mortari e Gioacchino Pasqualini. O contacto com as novas correntes estéticas contribuiu para uma viragem na sua linguagem musical, em direção a um livre cromatismo por vezes próximo da atonalidade, incorporando coordenadas da nova vanguarda sem abdicar dum estilo pessoal essencialmente lírico e baseado no elán melódico e ritmo. A partir dos anos 70 e até à sua morte, a sua produção conheceu algumas reaproximações ao tonalismo e ao modalismo, num espírito de síntese que pode ser encarado como uma «3.ª fase». A vasta produção de Joly Braga Santos inclui seis sinfonias, numerosas obras sinfónicas e concertantes, três óperas, música vocal, coral e de câmara, música para cinema, etc. Também ativo como regente, estudou com Hermann Scherchen e exerceu o cargo de diretor da Orquestra Sinfónica do Porto. Membro fundador da Juventude Musical Portuguesa, foi professor de composição do Conservatório Nacional e exerceu ainda atividade como crítico musical e articulista. O exuberante Concerto em Ré é uma das obras emblemáticas da primeira fase de Joly, já por diversas vezes gravada em disco. Transcrevemos de seguida (pela sua raridade e relevância histórica) a nota de programa que Nuno Barreiros assinou aquando da estreia, ocorrida no Teatro Monumental a 12 de maio de 1952, num concerto promovido pela Juventude Musical Portuguesa com a Academia de Instrumentistas de Câmara da Emissora Nacional, dedicatária da partitura. Refira-se que a folha de sala desse concerto (cujo programa incluía a Tentação da Morte das Tentações de São Frei Gil de Luís de Freitas Branco e o Concerto em si bemol maior para piano e orquestra de Armando José Fernandes) vinha acompanhada de exemplos musicais autógrafos dos compositores, dos quais aqui reproduzimos aqui os referentes ao Concerto em Ré de Joly Braga Santos. “Este Concerto, em ré, escrito nos fins de 1950 e em princípios do ano seguinte, compõe-se de três andamentos. O primeiro consta de uma introdução – Largamente maestoso – em que é apresentada, nos violinos em uníssono e sobre um desenho rítmico obstinado dos violoncelos e contrabaixos, a raiz cíclica (ex. 1), que desenvolve e fornecerá elementos e sugestões para a maior parte do material temático utilizado na obra. Segue-se uma forma-sonata ditemática. A 1.ª ideia (ex. 2), no modo dório, surge nos segundos violinos; retomam-na os primeiros violinos e depois o violoncelo solo e o violino solo. A ponte é constituída por um diálogo entre o quarteto solista e o tutti orquestral. Ao 2.º tema (ex. 3), que vem nos violinos divididos, justapõe-se um contra-tema dos violoncelos e contrabaixos. Uma reexposição regular sucede ao período do desenvolvimento. “O segundo andamento é um A-B-A (forma canção simples). Os segundos violinos fazem ouvir o tema (ex. 5) pela primeira vez e um desenho rítmico das violas e violoncelos (ex. 4) mantém-se em toda a secção inicial. A parte central, em si menor, é um desenvolvimento contrapontístico sobre um curto motivo de quatro notas (ex. 6). Na reexposição o tema volta na viola solo. 80


O terceiro e último andamento toma a forma de rondó. A orquestra toda e em seguida o quarteto solista entoam o estribilho (ex. 7). A primeira copla, em pizzicati, vem nos violoncelos. A segunda (ex. 8), em lá maior, é confiada ao violino solo. Uma pequena coda conclui o andamento.” Alexandre Delgado

Fig. 01 – Exemplos musicais autógrafos de Joly Braga Santos para o programa da estreia do “Concerto em Ré” em 1952.

Pedro Neves Pedro Neves é maestro titular da Orquestra Clássica de Espinho, assumindo recentemente o cargo de maestro convidado da Orquestra Gulbenkian. Atualmente é doutorando na Universidade de Évora, sendo o seu objeto de estudo as seis sinfonias de Joly Braga Santos. Pedro Neves foi maestro titular da Orquestra do Algarve entre 2011 e 2013, e é convidado regularmente para dirigir a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Filarmonia das Beiras, a Orquestra Clássica do Sul, a Orquestra Clássica da Madeira, a Joensuu City Orchestra (Finlândia), a Orquestra Sinfónica 81


de Porto Alegre (Brasil) e a Real Filarmonia da Galiza (Espanha). Em 2012 colaborou pela primeira vez com a Companhia Nacional de Bailado dirigindo a Bela Adormecida de P. Tchaikovsky. No âmbito da música contemporânea tem colaborado com o Sond’arte Electric Ensemble, com o qual realizou estreias de vários compositores portugueses e estrangeiros, realizando digressões pela Coreia do Sul e Japão , com o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, e com o Remix Ensemble Casa da Música. É fundador da Camerata Alma Mater, que se dedica à interpretação de repertório para orquestra de cordas, e com a qual tem recebido uma elogiosa aceitação por parte do público e da critica especializada. Pedro Neves iniciou os seus estudos musicais na sua terra natal, estudou violoncelo com Isabel Boiça, Paulo Gaio Lima e Marçal Cervera, respetivamente no Conservatório de Música de Aveiro, Academia Nacional Superior de Orquestra em Lisboa e Escuela de Música Juan Pedro Carrero em Barcelona, com o apoio da Fundação Gulbenkian. No que diz respeito à direção de orquestra estudou com Jean Marc Burfin, obtendo o grau de licenciatura na Academia Nacional Superior de Orquestra, com Emilio Pomàrico em Milão e com Michael Zilm, do qual foi assistente. O resultado deste seu percurso faz com que a sua personalidade artística seja marcada pela profundidade, coerência e seriedade da interpretação musical.

Ana Pereira É natural de Lanhelas (8 de agosto de 1985). Iniciou estudos musicais na banda da sua terra natal, ingressando aos 12 anos na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, na classe de violino do professor José Manuel Fernandéz Rosado. Aqui terminou o curso básico com a classificação máxima. Começou logo nesta fase de aprendizagem a ser distinguida em concursos: no Prémio Jovens Músicos 2002 obteve o 3º prémio de Violino Nível Médio e o 3º prémio de Música de Câmara Nível Médio. Participou no 1º concurso de violino Tomás Borba, sendo premiada com o 2º prémio. Selecionada para a Academia Nacional Superior de Orquestra, começou a estudar com o professor Aníbal Lima, licenciando-se com a classificação máxima, no ano de 2007. Ainda no ano de 2005 obteve o 2º Prémio no concurso Jovens Músicos/Nível Superior e um ano depois o 1º prémio. No ano de 2007 venceu a modalidade de Música de Câmara/Nível Superior, como 1º violino do Quarteto Artzen, grupo que fundou na ANSO. Mais recentemente, foi vencedora do Prémio Jovens Violinistas 2011. Fez durante toda a formação masterclasses com prestigiados violinistas, nomeadamente Serguei Arantounian, Anotoli Swarzburg, Evélio Teles, Zófia Kuberska-Wóyciska, Gerardo Ribeiro, Eugene Gratovich, Irina Tseitlin, Michael Tseitlin Carmelo de los Santos, Günter Seifert, Igor Oistrach. As suas qualidades interpretativas levaram-na a ser concertino da Orquestra Sinfónica da Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, da Orquestra Académica Metropolitana, Orquestra Sinfonietta de Lisboa e Orquestra de Ópera Portuguesa. Foi também eleita como concertino para a Orquestra Nacional de Jovens APROARTE 2002 e para o II Estágio da Orquestra Sinfónica Académica Metropolitana. Tocou em diversas orquestras: Sinfonietta do Porto, Sinfonietta de Lisboa, APROARTE, Orquestra Sinfónica da Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra de Ópera Portuguesa e OrchestrUtópica. Apresentou-se como solista com a Orquestra Gulbenkian, Orquestra Académica Metropolitana, Orquestra do Algarve e Orquestra Metropolitana, em Portugal e no estrangeiro. Atua regularmente como concertino da Orquestra Sinfonietta, da Orquestra de Ópera Portuguesa e Orquestra Metropolitana de Lisboa. É membro fundador da 82


camerata de cordas Alma Mater e do quarteto Artzen. Integra desde 2008 a Orquestra Metropolitana de Lisboa, passando em outubro desse ano a ocupar o lugar de Concertino adjunto. Passou em 2009 a fazer parte do corpo docente da Academia Superior de Orquestra da Metropolitana.

Alma Mater Fundada recentemente, a camerata de cordas Alma Mater é constituída por jovens talentos portugueses, já com grande distinção no panorama musical nacional e internacional. Os elementos que integram este ensemble são vencedores de várias edições do Prémio Jovens Músicos, assim como distinguidos com prémios em concursos internacionais. Nos seus currículos contam-se lugares de destaque, entre os quais chefes de naipe de orquestrais profissionais, residências artísticas, e atividade camarística regular e de grande relevo. A Camerata Alma Mater conta ainda com os prestigiados pedagogos destes jovens talentos, Aníbal Lima (violino) e Paulo Gaio Lima (violoncelo), que mantêm ainda uma carreira artística inconfundível. A camerata é dirigida por Pedro Neves, um dos mais promissores maestros portugueses, com uma maturidade e veracidade interpretativa notável. Visível no panorama musical é ainda a sua experiência alargada , tanto como violoncelista, professor e maestro. Tendo-se já apresentado em concerto na abertura do festival Música nos Açores, a Camerata Alma Mater conquistou por parte do público e da crítica uma aceitação e elogio extremamente positivo. A Alma Mater ambiciona a possibilidade de continuação deste projeto de grande profissionalismo, podendo assim abordar repertório e sonoridades de uma formação ainda não existente no nosso país.

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Manuel Campos + Alia Kache Recital de Percussão e Dança 23 de julho, sábado, 21h30 Cine-Teatro de Alcobaça – João d’Oliva Monteiro Manuel Campos, percussão Alia Kache, coreografia

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António Chagas Rosa Dance of the Fool Estreia absoluta – Obra encomendada pelo Cistermúsica Dimitris Andrikopoulos Diálogos Estreia absoluta – Obra encomendada pelo Cistermúsica Christos Hatzis Fertility Rites, 1.º e 2.º andamento Iannis Xenakis Rebonds A e B

Ana Branco, Eduarda Horta, Inês Duarte e Raquel Machado (Academia de Dança de Alcobaça), intérpretes

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Notas à Margem António Chagas Rosa: Dance of the Fool Dance of the Fool (ou Dança do Bobo) é o título da obra para percussão solo que escrevi para Manuel Campos, eminente músico português e meu querido amigo, para integrar a edição de 2016 do Cistermúsica – Festival de Música de Alcobaça. O título da obra revela a filiação numa das temáticas propostas pelo festival – a obra do dramaturgo inglês Shakespeare –, o que me permitiu revisitar a obra deste autor que mais me fascina: King Lear. Nesta tragédia, a dualidade Rei/Bobo desaparece misteriosamente a meio do III ato, precisamente a meio da peça. Para onde terá ido o Bobo, já que ele é essencial para a ação e entendimento de si futuros do personagem Rei? Muitos creem que ambos se fundem na pessoa do Rei daí até ao final do último ato. No meu imaginário, criei uma espécie de “dança final” em homenagem ao Bobo, representando a minha visão interior de um personagem que, mais do que anda, dança agilmente. É como que uma proposta dessa mobilidade do Bobo, antecedendo o momento em que sai de cena. O instrumental utilizado privilegia as peles, às quais se acrescentaram pontualmente sons produzidos por pequenos instrumentos de sopro (uma corneta de brinquedo, um chamariz de pássaro, etc.). Criei um discurso musical rápido e compacto, pleno de assimetrias, cuja sonoridade convoca imagens de música primitiva não ocidental. António Chagas Rosa

Dimitris Andrikopoulos: Diálogos Diálogos é uma obra composta para Manuel Campos. Em Diálogos o músico entra em conversa e interage consigo próprio. A parte da electrónica funciona como um espelho, uma segunda pessoa com quem o intérprete conduz este processo e através desta interação cria uma rede de padrões e ritmos ao longo da obra. Dimitris Andrikopoulos

Christos Hatzis: Fertility Rites Fertility Rites, para uma marimba de cinco oitavas com amplificação, faz parte de uma série de trabalhos compostos nos anos 1990. O fio condutor que atravessa todos estes trabalhos é o canto de garganta Inuit. O meu fascínio pelos Inuit e sua cultura deu-se em 1992 na sequência da criação de um documentário/composição radiofónico para a CBC Radio intitulado The Idea of Canada. Essa foi a primeira vez que ouvi esta estranha e assombrosa música. Anos mais tarde vi-me envolvido num projeto similar, concentrando-me desta vez inteiramente na cultura Inuit, e o canto de garganta Inuit em particular. Este projeto posterior levou o produtor da CBC Keith Horner e eu à ilha Baffin no Canadá onde passámos duas semanas gravando cantores de garganta e entrevistando anciões das comunidades Inuit em Iqaluit e Cape Dorset. O material gravado foi eventualmente usado em quatro composições (incluindo esta), sendo as outras três 86


Footprints in New Snow, um documentário/composição radiofónico de 38 minutos, Nunavut para quarteto de cordas com gravação e Hunter’s Dream, uma miniatura de um minuto encomendada pelo teclista rock Morgan Fisher para um CD de miniaturas que este produziu na altura no Japão. O título da obra deriva das próprias canções de garganta. Numa das nossas entrevistas em Iqaluit, Horner e eu aprendemos que as canções de garganta eram originalmente um rito de fertilidade, um apelo ao acasalamento xamanístico que as mulheres entoavam quando os homens estavam fora a caçar. O katajjaq (jogos vocais) neste peça são usados para evocar esta prática primordial. A sua sugestividade sexual é mais realçada pelo processo eletrónico (baixar o tom uma oitava ou mais dá ao som original uma aparência de respiração pesada), ou justapondo o katajjaq a outros tipos de música afetuosa e estilisticamente mais familiar ao ouvinte, tal como a “sonoridade francesa” do segundo andamento ou o estilo tango do terceiro. A acrescentar às gravações katajjaq, a parte gravada consiste em sons de marimba pré-gravados (normais, ‘dobrados’ e curvados), os quais, em termos de timbre e de tratamento musical, representam uma extensão virtual das capacidades do instrumento. Num sentido programático estes representam os ‘pensamentos’ ou ‘instintos’ do intérprete em contraste com o instrumento em palco que representa a sua voz. Às vezes o que é ‘sentido’ e o que é ‘dito’ é diametralmente oposto, como no primeiro andamento onde a delicada e não possessiva música para marimba e os prolongados e obscuros chamamentos na gravação se contradizem entre si. Mas no fim os dois mundos, interior e exterior, fundem-se num abandono desinibido e na celebração da vida e da sexualidade. Christos Hatzis

Iannis Xenakis: Rebonds Um imenso ritual abstrato, um conjunto de movimentos e de batimentos sem qualquer contaminação folclórica, música pura cheia de ritmos maravilhosos e florescentes, que vão para além do drama e da tempestade. A nova obra-prima. Jacques Lonchampt

Manuel Campos Manuel Campos (1971) é um dos nomes destacados do panorama da percussão portuguesa contemporânea, ao mesmo tempo que ensina e coordena a Área de Percussão da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto, de cujo Grupo de Percussão é diretor artístico. Iniciou a sua formação musical na Escola de Música da Sociedade Filarmónica Vestiariense Monsenhor José Cacella, concluindo esse primeiro estádio na Escola Profissional de Música de Espinho. Obteve, pelo seu desempenho artístico e académico, uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para estudar na Escola Superior de Música de Würzburg (Höchschule für Musik Würzburg), sob orientação dos professores Siegfried Fink e Mark Lutz. Estudou ainda no Rotterdam`s Conservatorium, onde obteve, sob direção de Robert van Sice e Miguel Bernat, o seu Diploma UM (Solista) em Marimba. A sua formação como músico e instrumentista é completada pelas participações em masterclasses de nível internacional, das quais se desta87


cam as realizadas com nomes tão importantes do panorama internacional da percussão como: Evelin Glennie, Keiko Abe, Sunergy, Robert van Sice, Fritz Hauser, Glen Velez, Les Percussions de Strasbourg, Percussion Group Cincinnati, Markus Leoson, Nebojsa Zivkovic, Daniel Berg, Miguel Bernat, Leight H. Stevens, Silvio Gualda, Kroumata Percussion Group. Repartindo atualmente a sua atividade entre a pedagogia e a carreira como instrumentista, destaca-se a sua condição de percussionista no Drumming – Grupo de Percussão, agrupamento de que é co-fundador, e que possui um destacado currículo internacional, para além de músico efetivo do Remix Ensemble Casa da Música, cuja formação integra desde a fundação, no ano 2000, no âmbito da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, deste que é um dos grandes agrupamentos de referência europeia e mundial na música contemporânea. Apresentando-se regularmente nos maiores palcos nacionais, já no plano internacional, o Remix Ensemble possui no seu historial, e entre outras, atuações em Valência, Roterdão, Huddersfield, Barcelona, Estrasburgo, Paris, Orleães, Bourges, Reims, Antuérpia, Madrid, Norrköping, Viena, Amsterdão, Berlim, Paris, Estrasburgo, Orleães, Madrid, Witten, Bruxelas, Huddersfield, Hamburgo e Frankfurt. Presentemente regido pelo maestro titular Peter Rundel, o agrupamento foi já dirigido pelos maestros Stefan Asbury, Ilan Volkov, Kasper de Roo, Pierre-André Valade, Rolf Gupta, Peter Rundel, Jonathan Stockhammer, Jurjen Hempel, Matthias Pintscher, Franck Ollu, Reinbert de Leeuw, Baldur Brönnimann, Emilio Pomàrico, Pedro Neves, Heinz Holliger, Brad Lubman Paul Hillier e Peter Eötvös. Data de 2004, o primeiro álbum (duplo) gravado pelo Remix Ensemble Casa da Música, contendo registos em estúdio e ao vivo de obras de Pauset, Azguime, Nuno Côrte-Real, Peixinho, Dillon, Staud e Nunes, encontrando-se ainda disponíveis registos dedicados a obras de Emmanuel Nunes (editoras Numérica e Westdeutscher Rundfunk WDR) Bernhard Lang (Villa Concordia), António Pinho Vargas (Numérica) e Wolfgang Mitterer (Casa da Música), Klaus Ib Jorgensen (Da Capo) e Janes Dillon (Aeon). A difersificação e ecletismo do repertório do Remix Ensemble Casa da Música e respetivos músicos e diretores ficam amplamente atestados pelas suas incursões pela música cénica, acompanhamento de filmes, dança e jazz, a par da promoção de numerosos workshops com compositores como António Pinho Vargas, Brice Pauset, Emmanuel Nunes, Frédéric Durieux, Heiner Goebbels, Iris ter Schiphorst, James Dillon, Magnus Lindberg, Mark-Anthony Turnage, Luís Tinoco, Georges Aperghis, Helmut Lachenmann, Bernhard Lang, Matthias Pintscher, Harrison Birtwistle, David Horne, Wolfgang Mitterer, Hans Abrahamsen, Karin Rehnqvist, entre outros. Salienta-se ainda a atividade de Manuel Campos como percussionista free-lancer em projetos a solo e/ou em colaboração com orquestras e agrupamentos musicais diversos, bem como a direção artística de diferentes projetos ligados à interpretação musical. Destacam-se as suas colaborações com as Orquestras Gulbenkian, Nacional do Porto, Sinfónica Portuguesa e Metropolitana de Lisboa bem como com as formações de referência no panorama português da música contemporânea como sejam a Oficina Musical (fundada por Álvaro Salazar) ou
 o Grupo Música Nova (fundado por Cândido Lima).

Alia Kache Ver página 34.

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António Chagas Rosa Nasceu em Lisboa em 1960. Concluiu o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional de Lisboa em 1981 e a Licenciatura em História na Universidade Nova de Lisboa em 1983. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, fez entre 1984 e 1987 uma pós-graduação em Piano e Música de Câmara do séc. XX no Conservatório Sweelinck de Amesterdão, sob a orientação de Alexander Hrisanide. De 1987 a 1992, com bolsa da Secretaria de Estado da Cultura, realizou o Curso Superior de Composição no Conservatório de Roterdão com Klaas de Vries e Peter-Jan Wagemans. Durante a sua permanência na Holanda, António Chagas Rosa foi também maestro-repetidor no Muziektheater de Amesterdão e professor na classe de ópera no Conservatório Sweelinck. A sua produção de compositor inclui música de câmara, sinfónica, duas óperas e numerosos ciclos de canções. Recebeu encomendas do Festival Internacional de Música de Macau, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Casa da Música Porto, da Radiodifusão Portuguesa, do Teatro Nacional de São Carlos, da Fundação Casa de Mateus, do Nederlands Kamerkoor (Amesterdão), do Klangforum e Festival Jeunesse (Viena), do Grupo Drumming de Percussão, do coro de câmara Les Éléments de Toulouse, etc. As suas obras têm sido tocadas em festivais de música contemporânea em Portugal, Espanha, França, Holanda, Alemanha, Suíça, Áustria, Suécia, Ucrânia, E.U.A, Venezuela, Hong-Kong e Japão. O seu ciclo de canções Songs of the Beginning foi premiado em 1994 pela Associação Holandesa de Compositores . A ópera Melodias Estranhas, com libreto de Gerrit Komrij, foi-lhe encomendada pelas cidades do Porto e Roterdão, Capitais Europeias da Cultura em 2001, tendo sido estreada no Schouwburg de Roterdão em Dezembro de 2001. Um dos seus discos monográficos inclui As Feiticeiras (Actes-Sud, 2006), uma cantata cénica com poema de Maria Teresa Horta, encomenda do Ensemble Musicatreize de Marselha – valeu ao ensemble uma Victoire de la Musique/2007 (Radio France), tendo a obra sido apresentada em Paris, na Cité de la Musique, em Maio de 2008. Editou em 2010 um CD monográfico com uma seleção de obras escritas na última década entre 1998 e 2008 (Pas-de-Deux, Portugaler). Acaba de ver editado um terceiro CD monográfico com obras para percussão (Mares, com o Drumming GP, MPMP). António Chagas Rosa é professor auxiliar na Universidade de Aveiro (Departamento de Comunicação e Arte) onde, desde 1996, ensina Música de Câmara. Aí se doutorou em 2006 com uma tese sobre as relações entre ritmo e semântica em Os Jardins Suspensos op. 15, de Schoenberg.

Dimitris Andrikopoulos Dimitris Andrikopoulos nasceu em 1971 em Larissa (Grécia). Começou os seus estudos musicais de Viola d’Arco e de Teoria Musical obtendo em 1989 os diplomas em Harmonia e em Orquestração de Orquestra de Sopros. Em 1992 em Atenas, diplomou-se nos cursos de Viola d´Arco e de Contraponto.Continuou os seus estudos de composição na Holanda, na Escola Superior de Música e Dança de Roterdão com Klaas de Vries. Em maio de 2004, concluiu a pós-graduação em Composição e ao mesmo tempo, foi-lhe atribuído o Prémio de Composição da Escola Superior de Música e Dança de Roterdão. Um dos seus interesses principais é a interação das diferentes disciplinas na música e principalmente a combinação da música acústica e electrónica. Foi selecionado como Participante Ativo para o Centre Acanthes 2005 em Metz onde trabalhou com 89


W. Rihm, P. Dusapin e A. Solbiati. A sua obra Nyx para orquestra foi executada no Concerto Final pela Orchestre National de Lorraine. Colaborou com vários grupos, em vários países europeus como, Asko Ensemble, Mondrian Quartet, Remix Ensemble, Nederlands Ballet Orkest, Orchestre National de Lorraine, a Orquestra Nacional de Atenas, Colors Contemporary Music Group, !Ynx Ensemble, Duo Palmos, Jazz Orchestra of Matosinhos, Drumming Grupo de Percussão e intérpretes como Miquel Bernat, Sérgio Carolino, João Barradas, Manuel Campos, Fernando Ramos, Margriet van Reisen, Lefki Karpodini, Lorenda Ramou entre outros. Ganhou vários prémios de Composição como, em maio de 2002, o Primeiro Prémio no concurso NOG para Jovens Compositores, com a obra Antiparathesis para Violino e Orquestra. Em 2010 foi-lhe atribuído o COMPASS Price (Centre for Composition and Associated Studies) da Universidade de Birmingham para a obra Metamorphoses I para Ensemble. Em 2012 foi-lhe atribuído o “ITEA / Harvey Phillips Award for Excellence in Composition” para a obra Anathema I para Contrabass Tuba e Bayan. Foi Artista Residente no ano de 2013 do CCC, Caldas da Rainha. Em 2013 concluiu com sucesso o seu doutoramento em composição na Universidade de Birmingham. Desde 2004 é docente de composição na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo (ESMAE) do Instituto Politécnico do Porto onde atualmente ocupa o cargo do Diretor do Departamento de Música.

Academia de Dança de Alcobaça A Academia de Dança de Alcobaça (ADA) é a designação dada aos cursos de dança ministrados na Academia de Música de Alcobaça (AMA), uma escola de ensino especializado de música e dança, autorizada pelo Ministério da Educação desde o ano de 2002. Para além da sua atividade letiva, a ADA tem produzido anualmente espetáculos, quer para o público infantil quer para o público em geral, que têm sido objeto das melhores críticas, sendo de destacar a coreografia “À Noite No Mosteiro” apresentada o ano passado no âmbito da programação de dança do Cistermúsica. Para a participação na edição deste ano foram selecionadas as alunas que frequentam o curso secundário de dança que interpretarão uma coreografia da responsabilidade da bailarina e coreógrafa norte-americana Alia Kache.

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Coro Gregoriano de Lisboa Liturgia de Sรฃo Tiago Maior 24 de julho, sรกbado, 18h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaรงa (Nave Central)


S. Jacobi, Apostoli Ad Matutinum Antiphona ad Invitatorium- Regem apostolorum cum Psalmus 94 Ad Laudes Hymnus - Te nostra laetis laudibus Antiphona - Dum perambularet Dominus Antiphona - Relictis igitur Antiphona - Sedere autem mecum Antiphona - Assumpto Jesus Petro Antiphona - Occidit Herodes Jacobum Responsorium - Constitues eos principes Ad Missam Introitus - Mihi autem nimis honorati sunt Kyrie IV Graduale - Constitues eos principes Alleluia - Ego vos elegi de mundo Offertorium - In omnem terram Sanctus IV Agnus Dei IV Communio - Ego vos elegi de mundo Ad Vesperas Antiphona - Quicumque voluerit cum Magnificat Ad Completorium Antiphona - Salve Regina

Coro Gregoriano de Lisboa Armando Possante, solista e direção António Gonçalves · Carlos Jorge Ançã · Miguel Pires de Matos · Pedro Santos Ferreira · Miguel Gonçalves Silva · Rui Teixeira · Jorge Rodrigues · Tiago Oliveira · Pedro Rodrigues · Pedro Pombo

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Notas à Margem O Coro Gregoriano de Lisboa apresentará vários momentos musicais da liturgia de S. Tiago Maior, cuja festa se celebra a 25 de julho. São Tiago, também chamado Boanerge (Filho do Trovão), foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Tiago terá viajado até à Hispânia, tendo sido responsável pelo início da sua evangelização. Segundo uma tradição lendária, após o seu martírio e decapitação às ordens de Herodes no ano 44, o seu corpo terá sido transportado de Jerusalém para a Galiza e sepultado no lugar de Compostela que, em sua homenagem, foi renomeado como Santiago de Compostela. Santiago tornou-se um dos maiores destinos mundiais de peregrinação, sendo considerada por muitos como a terceira cidade sagrada do Cristianismo, depois de Roma e Jerusalém, sendo próprio S. Tiago o padroeiro dos peregrinos. O concerto centra-se na recriação da estrutura musical da Liturgia da Missa, passando por todas as peças do Próprio, específicas desta festa e que acompanham os principais momentos da cerimónia, o Introitus na entrada do celebrante, o Graduale e o Alleluia, nos quais o coro e o solista respetivamente respondem à primeira leitura e aclamam a leitura do Evangelho, e o Offertorium e Communio que acompanham as procissões dos momentos correspondentes (Ofertório e Comunhão). Juntámos a estas peças alguns dos cânticos do Ordinário (Kyrie, Sanctus e Agnus Dei), peças de estrutura muito mais simples e que se destinavam a ser cantadas pela Schola Cantorum, o coro especializado, em conjunto com toda a assembleia de fiéis, tendo-se neste caso optado por peças dedicadas aos apóstolos. A Missa será no nosso concerto enquadrada pela Liturgia das Horas, tal como o é na estrutura litúrgica. Cantaremos excertos de vários dos serviços, começando pelo primeiro, as Matinas, do qual interpretaremos o primeiro chamamento à oração, Domine, labia mea aperies, respondido por Et os meum annuntiabit laudem tuam (Senhor, tu abres os meus lábios - E a minha boca anuncia os teus louvores), ao qual se segue imediatamente o Salmo 94, salmo invitatório, que em todos os dias do ano convida os fiéis para o louvor. Serão também interpretadas por nós peças cantadas nos ofícios de Laudes e Vésperas, sendo de destacar o canto do Magnificat, o Cântico de Nossa Senhora, cantado diariamente em Vésperas. Concluímos o nosso concerto da mesma forma que se conclui a liturgia do dia, com a antífona dedicada a Nossa Senhora cantada no fim do ofício de Completas. Salve Regina seria a antífona cantada nesta altura do ano, havendo mais três para outras épocas. Após o canto desta antífona mariana os monges retiravam-se em silêncio para as suas celas, confiantes na proteção de Maria sobre as suas almas e na salvação eterna.

Coro Gregoriano de Lisboa Fundado em 1989 por Maria Helena Pires de Matos, então professora responsável pela cadeira de Canto Gregoriano da Escola Superior de Música de Lisboa e desde 2011 dirigido por Armando Possante, o Coro Gregoriano de Lisboa tem como objetivo a divulgação do Canto Gregoriano através do seu estudo e execução, tendo desenvolvido uma intensa atividade de concertos em mais de 50 cidades no continente e ilhas. Nos seus mais de 20 anos de atividade destacam-se a 94


participação no evento Lisboa 94 Capital Europeia da Cultura, nas Jornadas de Música Antiga da Fundação Calouste Gulbenkian, no Ciclo de Concertos de Páscoa na Casa da Música, a digressão nacional por ocasião dos 300 anos da morte do Padre António Vieira, em colaboração com a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, a organização em 1999 e 2001 do Festival Internacional de Canto Gregoriano de Tomar, a participação nas filmagens e banda sonora do filme Quem és tu? de João Botelho, a 1ª apresentação em Portugal da obra de Messiaen Et exspecto resurrectionem mortuorum, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa sob a direção de Michael Zilm e as comemorações dos 20 anos do Festival Música em São Roque. O Coro Gregoriano apresentou-se já em vários países, nomeadamente no Japão (1995), Bélgica (1997 e 2003, no Festival Internacional de Canto Gregoriano de Watou), Luxemburgo (1999 e 2004 nas Jornadas de Canto Gregoriano da Abadia de St. Maurice de Clervaux), Suíça (2000 no XII Festival de Música medieval e renascentista “Cantar di Pietre”), Itália (2007, no VIII Congresso Internacional de Canto Gregoriano em Florença) e Marrocos (2007, no Festival de Músicas Sagradas do Mundo em Fès). Para além da participação em vários programas de televisão e rádio, com destaque para o programa Percursos da Música Portuguesa da RTP, o Coro Gregoriano editou cinco trabalhos discográficos: uma gravação ao vivo da Missa pela Chuva editada pela EPAL em 1999 e os restantes editados pela DECCA – Liturgia de Santo António (1993) que recebeu o CHOC do Le Monde de la Musique, Missa pela Paz (1997) – contemplado com o Diapason d’Or da revista Diapason , Liturgias de Santos Europeus do 1º Milénio (2004) e Os Apóstolos (2011), nomeado para o prémio Autores da SPA como melhor trabalho de Música Erudita.

Armando Possante Armando Possante fez os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Superior de Música de Lisboa, onde concluiu os Cursos Superiores de Direção Coral, com o Professor Christopher Bochmann, Canto Gregoriano, com a Professora Maria Helena Pires de Matos, e Canto, com o Professor Luís Madureira. Estudou Canto em Viena com a Professora Hilde Zadek e frequentou masterclasses de canto com os professores Christianne Eda-Pierre, Christoph Prégardien, Siegfried Jerusalem e Jill Feldman. Frequentou também cursos de Canto Gregoriano em Itália e Portugal com os professores Nino Albarosa, Johannes Göschl, Alberto Turco e Luigi Agustoni. É professor no Instituto Gregoriano de Lisboa, na Escola Superior de Música de Lisboa e na Fundação INATEL. Orientou workshops de Canto e música coral no Canadá, Inglaterra, Singapura e em Portugal, destacando-se as Jornadas Internacionais de Música da Sé de Évora, onde trabalhou frequentemente ao lado de Owen Rees e Peter Phillips. É diretor musical e solista do Grupo Vocal Olisipo e do Coro Gregoriano de Lisboa e membro convidado do Nederlands Kamerkoor, tendo-se apresentado em concertos na Alemanha, Bélgica, Bulgária, Canadá, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Japão, Luxemburgo, Marrocos, Polónia, Singapura e Suiça. Conquistou o 3º prémio e o prémio para a melhor interpretação de Bach no 1º Concurso Vozes Ibéricas, o 3º prémio e o prémio para a melhor interpretação de uma obra portuguesa no Concurso Luisa Todi de 2003 e o 1º prémio no 7º Concurso de Interpretação do Estoril. Foi-lhe atribuído como maestro o prémio Bärenreiter para a melhor interpretação de uma obra renascentista no concurso C. A. Seghizzi em Itália e, com o Grupo Vocal Olisipo, quatro primeiros prémios e vários prémios de interpretação em concursos internacionais na Bulgária, Finlândia e 95


Itália. Gravou cerca de duas dezenas de discos com grande reconhecimento crítico, pelos quais recebeu, entre outras distinções, o Choc du Monde de la Musique e o Diapason d’Or. Apresenta-se regularmente com a pianista Luiza da Gama Santos em recitais de Lied, tendo já interpretado obras como os ciclos Winterreise de Schubert, Dichterliebe de Schumann e Lieder eines Fahrendes Gesellen de Mahler. Como solista de oratória interpretou com as principais orquestras do país obras como Missa em Si m, Oratória de Natal e Magnificat de Bach, Messias de Handel, A Criação de Haydn, Nona Sinfonia de Beethoven, Petite Messe Solennelle de Rossini, L’enfance du Christ de Berlioz, Carmina Burana de Orff e as missas de Requiem de Mozart, Bomtempo, Fauré, Duruflé, Lopes Graça e Eurico Carrapatoso. Estreou-se em ópera no papel de Guglielmo em Così fan Tutte de Mozart, tendo posteriormente participado em produções das óperas L’Amore Industrioso, As Variedades de Proteu, Dido and Aeneas, The Fairy Queen, Venus and Adonis, La déscente d’Orphée aux Enfers, La Donna di Génio Volubile, La Dirindina, A Floresta, Corpo e Alma, Jeremias Fisher, O Sonho e L’Elisir d’Amore.

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Duo Piaolin

COREIA DO SUL

Recital de Violino e Piano 28 de julho, quinta-feira, 21h30 Igreja Matriz de S찾o Martinho do Porto ESTREIA EM PORTUGAL

Apoio: Par처quia de S찾o Martinho do Porto e Junta de Freguesia de S찾o Martinho do Porto.


Ludwig van Beethoven Sonata para violino e piano n.º 2 em lá maior, op. 12 n.º 2 Allegro vivace Andante, più tosto Allegretto Allegro piacevole Cesar Franck Sonata para Violino e Piano em lá menor Allegretto ben moderato Allegro Recitativo – Fantasia: Moderato – Molto lento Allegretto poco mosso Camille Saint-Saëns Dança Macabra

Duo Piaolin Shinhae Yu, violino MiHyang Yu, piano 1.º Prémio da Categoria Sénior do IV Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA)

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Notas à Margem Ludwig van Beethoven: Sonata para violino n.º 2 Antes de encetar a sua lendária caminhada para desenvolver a sinfonia, durante os seus primeiros anos em Viena Beethoven prosseguiu um caminho como executante e compositor de música de câmara. As obras que daí resultaram serviam não apenas para ser publicadas e utilizadas por outros, mas sobretudo para ser usadas pelo próprio. Nessa época Beethoven estudava com Haydn, Albrechtsberger e Salieri, mestre capela da corte imperial. Também se aproximou de um círculo de aristocratas que o patrocinaram e em cujos palácios atuava. Em finais do século XVIII havia em França, Itália e Alemanha uma longa tradição de sonatas para tecla com “violino obligato”. Prosseguindo essa tradição, as dez sonatas de Beethoven, compostas entre 1798 e 1812, assumiram um lugar chave na história da música de câmara para violino e piano. Não há dúvida de que nas suas primeiras sonatas Beethoven foi influenciado pelas sonatas tardias de Mozart, mas os seus professores queixavam-se de ser excessivamente autoconfiante e mesmo teimoso na sua busca da originalidade. Numa época de crescente popularidade do piano, este estava a ser reforçado com um aumento de extensão e de matizes na sonoridade. A construção do violino também se desenvolvera e este tornara-se um instrumento mais rico e poderoso. Embora o primeiro conjunto de sonatas para violino e piano op. 12, dedicado ao seu professor Salieri, tenha vindo a ser ofuscado pelas posteriores sonatas Primavera e Kreutzer, são composições firmemente assentes nas convenções do estilo clássico, mas com individualidade suficiente para causar admiração e surpresa. O primeiro crítico a escrever sobre o op. 12 queixou-se de que as peças eram “fortemente sobrecarregadas de dificuldades inusuais” e que lhe faziam sentir como se tivesse “saído cansado e desgastado depois de ter caminhado por uma sedutora e espessa floresta.” Cada uma das três sonatas é em três andamentos, com um allegro em forma-sonata, um andamento lento e um rondó final. Sendo o compositor um brilhante pianista, com experiência como violinista e violetista e contando entre os seus amigos e colegas alguns dos melhores violinistas da época, as suas sonatas demonstram uma verdadeira cooperação entre os dois instrumentos. Na Sonata n.º 2 em lá maior o piano arranca com um brilhante tema baseado num motivo de duas notas, enquanto o violino repete acordes no registo médio. Os dois parceiros vão partilhando cada novo desenho e cada nova figuração que vão surgindo. O segundo andamento, em lá menor, oferece uma paisagem mais carregada e temperamental, mas a boa disposição regressa no jocoso rondó final, com simplicidade e múltiplas surpresas. Linda Mack

Cesar Franck: Sonata para Violino e Piano Nascido em Liège em 1822, Cesar Franck teve um início de vida ensombrado por um pai dominador que tinha grandes ambições para o seu filho inegavelmente talentoso. Procurando a fama e a riqueza que esse talento podia trazer à família, o pai de Franck mudou-se com ela para Paris 100


em 1835, acabando por inscrever o filho no Conservatório de Paris em 1837. Em 1845, a falta de reconhecimento geral e a fraca receção que teve a estreia da sua primeira obra de grande fôlego, Ruth, terão contribuído para que o jovem Franck tenha cortado de vez relações com os pais. Magoado pelas críticas e pela permanente pressão a que fôra sujeito, retirou-se quase completamente da vida pública e ganhou a vida como professor e organista até que em 1858 foi nomeado organista de Ste. Clotilde. Instalado no seu novo cargo, Franck foi obrigado a fornecer música para os serviços e os seus dotes de improvisação tornaram-se lendários, mas só muito mais tarde voltou a sério à composição. Apesar da sua obediente participação nos primeiros concertos da Société Nationale de Musique de Saint-Saëns, só voltou a escrever obras de fundo a partir de 1875, prosseguindo até à sua morte em 1890. A sonata para violino de Franck tornou-se uma das mais conhecidas e apreciadas do género. Foi escrita em 1886 como presente de casamento para o seu amigo violinista, Ysayë. Apresentada ao noivo na manhã do casamento, teve a sua primeira execução, depois de um ensaio apressado, durante o copo de água. Teve mais tarde a sua primeira audição pública numa galeria em Bruxelas, sendo de novo executada por Ysayë. O programa era longo e como não eram autorizadas velas na galeria, foi-se instalando o receio de que a execução tivesse que ser interrompida por falta de luz. Ysayë e o seu pianista tocaram na penumbra e felizmente conseguiram concluir quase na escuridão completa, tocando de memória. A obra condensa limpidamente a história dos felizes noivos. O 1.º andamento evoca os primeiros sinais de atração, que acabam por crescer até atingir grandes rasgos de paixão. O casal, agora unido, enfrenta a sua primeira zanga no 2.º andamento, em que ouve o lado rejeitado nas suplicantes passagens suaves, enquanto a fúria violenta das passagens mais rápidas ilustra o conflito. Tudo se resolve no meditativo e tranquilo 3.º andamento, até que o famoso final sugere engenhosamente a própria cerimónia da boda. Escrito em cânone, o violino segue exatamente o piano e depois os papéis invertem-se, espelhando a repetição dos votos de casamento. A escrita suave e solene evoca a oração e de novo há grandes arrobos de emoção que pontuam o discurso, até ouvirmos os celebrativos sinos parisienses pouco antes do fim. Nicholas Burns

Camille Saint-Saëns: Dança Macabra Há quatro poemas sinfónicos escondidos no meio do gigantesco catálogo orquestral do compositor, organista e pianista francês Camille Saint-Saëns (1835-1921). Os primeiro, segundo e quarto colheram inspiração nas narrativas mitológicas de Ônfale, Faetonte e Hércules. O terceiro, contudo, correspondeu a um poema contemporâneo de Henri Cazalis (aliás Jean Lahor). Esses versos narram uma frenética dança demoníaca que tem lugar depois da última badalada da meia-noite – a hora das bruxas. Saint-Saëns completou a sua Dança Macabra em 1875 e publicou a partitura um ano depois. Também fez vários arranjos, entre eles para violino e piano e para dois pianos. Alguns músicos da orquestra indignaram-se com a representação literal da Danse macabre e só relutantemente participaram na estreia a 3 de fevereiro de 1875, num programa do Concert 101


Nacional dirigido por Edouard Colonne. O crítico Adolphe Julien queixou-se de que a peça “tem tudo menos uma ideia musical, boa ou má.” A seguir descrevia-a como uma aberração ou uma aldrabice.” As audiências, pelo contrário, encontraram grande satisfação diabólica partitura orquestral. Os sinos batem a meia-noite na véspera do dia de todos os santos. A morte, tocando num violino bizarramente desafinado, convoca esqueletos das suas sepulturas (sugeridos na versão orquestral pelo chocalhar de “ossos” dum xilofone) para dançar uma valsa macabra – uma paródia ominosa do cântico do Dies irae da Missa dos Mortos. Essas figuras espectrais dançam até que o galo canta a anunciar o amanhecer, fazendo com que regressem aos seus túmulos até ao ano seguinte. Todd E. Sullivan

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EGO | Orquestra Estágio Gulbenkian Concerto Sinfónico 29 de julho, sexta-feira, 21h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro do Rachadouro) Joana Carneiro, direção Chloë Hanslip, violino

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Erich Wolfgang Korngold Concerto para Violino e Orquestra em rĂŠ maior, op. 35 Moderato nobile Romanze Allegro assai vivace - intervalo Dmitri Chostakovitch Sinfonia n.Âş 5 em rĂŠ menor, op. 47 Moderato Allegretto Largo Allegro non troppo

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Notas à Margem Erich Korngold: Concerto para Violino Tal como o eternamente popular Concerto para Violino de Mendelssohn, o Concerto para Violino de Erich Korngold é uma obra tardia de um menino prodígio que contradiz qualquer sugestão de que o compositor tenha perdido o jeito uma vez passada a sua brilhante infância. Parte da riquíssima tradição vienense em que Korngold foi educado dava como adquirido que os grandes artistas eram dotados de um total domínio dos seus recursos técnicos; outra parte partia do princípio de que a grande arte era profundamente expressiva. Por isso, na esteira de Wagner e à sombra de Strauss e Mahler, o jovem Korngold demonstrou dotes prodigiosos de inventiva musical, um domínio magistral de vozes e instrumentos e uma inquestionável devoção a uma expressão romântica e apaixonada. Perfeito para Hollywood, podemos nós dizer hoje, embora devamos recordar que a extraordinária sofisticação e energia romântica que caracteriza as partituras de filmes dos anos 30 e 40 foram em grande medida uma criação de Korngold e de outros refugiados dos teatros de ópera europeus. As suas 23 músicas de filme, escritas sobretudo para a Warner Brothers, não foram uma traição da sua educação vienense, como foi sugerido por muitos críticos petulantes, mas sim uma extensão da mesma estética que ele sempre seguira. Reciprocamente, o seu trabalho para os estúdios enriqueceu a sua produção sinfónica. Nenhuma obra ilustra isso mais claramente que o Concerto para Violino, cujos três andamentos usam temas de filmes produzidos entre 1937 e 1939. Ou será que as partituras dos filmes se basearam em temas do concerto? As origens da obra não são claras, embora o grande violinista Huberman tenha sugerido isso durante vários anos. Em 1945, quando Korngold decidiu dar à obra a sua forma definitiva, os melhores anos de Huberman já tinham chegado ao fim e por isso foi Heifetz que ficou encarregado de fazer a estreia. Esta deu-se em Saint Louis a 15 de fevereiro de 1947, seguindo-se execuções pouco depois em Chicago e em Nova Iorque. Em 1953 Heifetz fez uma magnífica gravação com a Filarmónica de Los Angeles, que permanece inultrapassada apesar das belas e numerosas gravações que têm surgido em anos recentes. Korngold ateve-se à tonalidade favorita de todos os concertos para violino (ré maior) e ao plano favorito em três andamentos. À maneira clássica, o primeiro andamento é alternadamente lírico e enérgico, o segundo é uma Romanza de uma beleza sublime em sol maior, e o final é vibrante e animado, com o seu quê de dança popular. O solista é constantemente chamado a exibir um virtuosismo extremo, com a parte solista a ser muitas vezes colocada no extremo agudo, no qual só o violino, entre todos os instrumentos, é capaz de cantar com a sua voz pura e angelical. A orquestra raramente ocupa o primeiro plano, mas a riqueza de cores do seu acompanhamento, especialmente de vibrafone, xilofone, harpa e celesta, dá-lhe um suporte mágico. Hugh Macdonald

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Dmitri Chostakovitch: Sinfonia n.º 5 O mais destacado compositor da União Soviética foi também um dos maiores compositores do século XX. Dir-se-ia que qualquer outro músico que tivesse aceitado servir de porta-estandarte a uma ditadura feroz estaria condenado ao esquecimento depois da sua morte; mas no caso de Chostakovitch (1906-1975) isso não aconteceu. Quatro décadas depois da sua morte, continua a ser um dos compositores mais tocados do século XX: a sua ópera Lady Macbeth do Distrito de Mzensk é considerada uma das mais importantes do século, os seus quinze quartetos são o mais imponente acervo depois dos de Beethoven e, no topo de uma produção incrivelmente vasta, que abarca concertos, bailados, música de cinema, para piano, para voz, estão as quinze sinfonias, que fazem dele o mais importante sinfonista posterior a Mahler. A sinfonia mais tocada de Chostakovitch — estreada em 1937 em Leninegrado, sob a direcção de Evgeni Mravinski — foi uma obra-charneira para o compositor. Surgiu como resposta àquele que foi provavelmente o momento mais traumático da sua vida, decorrente da reação horrorizada de Estaline à ópera Lady Macbeth do Distrito de Mzensk, em 1936: acusado do pecado mor de “formalismo” num artigo publicado no Pravda, Chostakovitch foi renegado por todos aqueles que antes o haviam elogiado e durante semanas não dormiu e passou as noites vestido, à espera que o viessem buscar para desaparecer sem deixar rasto, como aconteceu a muitos intelectuais e artistas soviéticos. A 5.ª sinfonia significou um renascer para a vida. Elogiada nos meios oficiais como “a resposta de um artista a justas críticas”, com ela Chostakovitch afastou-se das vias mais experimentais e modernistas da sua juventude, procurando dar maior inteligibilidade à sua música, com um uso mais contido da dissonância e acrescida clareza tonal. O compositor concentrou as ideias e deu-lhes uma limpidez como que talhada no mármore, criando um vasto fresco mahleriano com uma estrutura clássica em quatro andamentos. O primeiro andamento é uma forma sonata com uma carga trágica. Começa com um cânone a duas vozes cujos saltos melódicos e ritmo cortante, de uma premência agreste, convergem até atingir um esforçado uníssono. Uma melodia desolada dos violinos plana no registo agudo, com uma solidão entranhada: é a sonoridade de uma música emblemática do século XX, escrita a dois anos da II Guerra mundial e em plena asfixia totalitária. O segundo grupo temático abre com outra longa melodia nos violinos, de uma serenidade sonhadora e melancólica. É notável a capacidade de criar tal diversidade de atmosferas apenas com as cordas, facto que traduz um novo rumo para Chostakovitch, mais expressivo e introspetivo, inflexão curiosamente parecida com a que se deu com Mahler a partir da sua 5ª sinfonia, com o célebre Adagietto para cordas e harpa. O desenvolvimento traz uma progressão militarizante em que os temas vão perdendo o rosto humano. Todos acabam por se sobrepor de forma bélica, as cordas desaparecem e ficamos apenas com a pulsar infernal da percussão e o primeiro tema convertido numa fanfarra sardónica e monstruosa. A reexposição começa com uma distorção frenética do início, quatro vezes mais veloz, como uma loucura agressiva e sem freio; quanto ao sonhador segundo tema, regressa nos metais, num cânone de lentidão granítica. Quando a orquestra irrompe de novo com o 1º tema dir-se-ia a voz de todo um povo, que é cortada de forma brutal e com um acento de 107


catástrofe. Depois do idílio passageiro do segundo tema, a coda é uma metamorfose trágica: sem estridências, aparentemente sem qualquer violência, Chostakovitch regressa a ré menor como um sopro glacial em que os temas pairam como espectros. O 2.º andamento dá largas à verve irónica de Chostakovitch, num minueto entre o pesadão, o rústico e o ridículo. Se Mahler era um dos compositores que Chostakovitch mais admirava, Offenbach era outro: o mestre da opereta fascinava o compositor russo, que o considerava um génio da música satírica. Na secção central há um solo de violino (acompanhado de harpa e pizzicatos, com uma prosaica harmonização) que parece um descendente direto de Orfeu nos Infernos. A sátira tem aqui uma certa dose de bonomia burlesca: é como um olhar malicioso sobre a artificiosidade ridícula do “grand monde” e a bruteza terra-a-terra que esta camufla. O Largo, de reminiscências tchaikovskianas, tem uma dimensão patética diferente de tudo quanto Chostakovitch escrevera até então: um desespero pungente, uma tristeza que se entranha e nos sufoca, por fim uma dolorosa renúncia, o fantasma de um lamento, com um efeito inaudito de celesta e harmónicos da harpa. O que torna essa passagem final mais pungente é o facto de essa fragilidade se aplicar ao tema que antes deu origem ao clímax mais dilacerante e patético do andamento. Entre esses dois extremos, a música erra por atmosferas semi-arcaicas, em que o ar se torna rarefeito como se houvesse um frio que nos cerra a alma, numa dos andamentos mais comoventes de Chostakovitch. O final tem uma certa bombasticidade que contribui para o sucesso da obra. Numa entrevista dada aquando da estreia, Chostakovitch disse que era “uma resposta otimista aos momentos intensamente trágicos dos andamentos anteriores”. Mas a verdade parece estar longe disso; especialmente na coda, que soa forçada e pouco convincente. Tratando-se uma forma sonata, é no mínimo estranho que o luminoso 2.º tema, que devia representar a “vitória”, não seja reexposto no fim do andamento. Se Chostakovitch quisesse simbolizar o triunfo usaria aí esse tema, e não apenas uma simplificação esquemática do 1º tema. Nas memórias ditadas a Volkov (cuja autencidade foi contestada, apesar das verdades que encerram), Chostakovitch confessaria: “Creio que o que se passa na 5ª sinfonia é claro para toda a gente... É como se nos batessem com um bastão dizendo ‘vocês têm é que estar alegres, vocês têm é que estar alegres’ - e uma pessoa se levantasse, tremelicante, e fosse embora a murmurar ‘temos é que estar alegres, temos é que estar alegres’...” Alexandre Delgado

Joana Carneiro Joana Carneiro é Maestrina Convidada da Orquestra Gulbenkian e Diretora Artística do projeto Estágio Gulbenkian para Orquestra. Em 2009 assumiu as funções de Diretora Musical da Sinfónica de Berkeley, sucedendo a Kent Nagano e tornando-se no terceiro maestro a ocupar o lugar nos 40 anos de atividade da orquestra. Esta colaboração irá prolongar-se até 2016-2017. Nascida em Lisboa, diplomou-se em Direção de Orquestra pela Academia Nacional Superior de Orquestra. Concluiu o mestrado na Northwestern University e o doutoramento na Universidade do Michigan. Em 2002 foi Conducting Fellow da American Symphony Orchestra League na Filarmónica de Los Angeles. Trabalhou com os maestros Esa-Pekka Salonen, Kurt Masur e 108


Christoph von Dohnányi e dirigiu a Filarmónica de Londres como uma das três maestrinas escolhidas para a Allianz Cultural Foundation International Conductors Academy. Foi assistente de Esa-Pekka Salonen na estreia mundial de Adriana Mater, de Kaija Saariaho, na Ópera de Paris. Mais recentemente, dirigiu a ópera A Flowering Tree, de John Adams, na Ópera de Chicago, na Cité de la Musique, na Fundação Calouste Gulbenkian e na Ópera de Cincinnati. Em 2010 dirigiu apresentações de Oedipus Rex e da Sinfonia de Salmos de Stravinsky, numa encenação de Peter Sellars para o Festival de Sydney que ganhou o Prémio Helpmann. Em 2004 foi agraciada pelo Presidente da República Portuguesa com a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique.

Chloë Hanslip Chloë Hanslip (n. 1987) estabeleceu-se como uma artista de eleição na cena internacional. Extremamente talentosa, fez a sua estreia no BBC Proms em 2002 e em concerto nos Estados Unidos em 2003, tendo-se apresentado nalguns dos maiores espaços do Reino Unido (Royal Festival Hall, Wigmore Hall), da Europa Continental (Musikverein em Viena, Laeiszhalle em Hamburg, Louvre e Salle Gaveau em Paris, Hermitage em São Petersburgo), assim como no Carnegie Hall, no Metropolitan Arts Space em Tóquio e no Arts Centre de Seoul. As suas apresentações têm incluído a Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks, Philharmonia Orchestra, Royal Philharmonic Orchestra, Filarmónica de Londres, Beethoven Orchester Bonn, Bern Symphony Orchestra, Bremen Philharmonic, City of Birmingham Symphony, Royal Liverpool Philharmonic, BBC National Orchestra of Wales, Lahti Symphony, Moscow State Symphony, Norwegian Radio, Real Filharmonia Galiza, Viena Tonkünstler Orchester, Hamburg Symfoniker, Czech National Symphony, Orchestra Sinfonica Nazionale della RAI, Orchestra Regionale Toscana, Helsingborg Symphony, Royal Flemish Philharmonic e a Tampere Philharmonic Orchestra. Aos seus compromissos acrescentam-se a Cincinnati Symphony, Detroit Symphony, Houston Symphony, Tokyo Metropolitan Symphony, Malaysia Philharmonic, Adelaide Symphony, Auckland Philharmonia e a Singapore Symphony Orchestra. Tem colaborado com maestros como Sir Neville Marriner, Sir Andrew Davis, Mariss Jansons, Paavo Järvi, Charles Dutoit, Michail Jurowski e Jeffrey Tate. Chloe Hanslip grava para a Hyperion e o seu primeiro lançamento na editora apresenta os Concertos para Violino de Vieuxtemps (Royal Flemish Philharmonic Orchestra/Brabbins). O seu CD das Sonatas de York Bowen com Danny Driver foi recomendada pela Gramophone (Choice) e The Strad, e as suas outras gravações para a Hyperion incluem os Concertos de Glazunov/Schoeck e as Sonatas para Violin de Medtner. Outras gravações notáveis incluíram os Concertos de Bruch com a London Symphony Orchestra (Warner Classics), pela qual ganhou o prémio Echo Klassik para “Best Newcomer” (2002) e “Young British Classical Performer” no Classical Brits (2003), e uma gravação altamente aclamada do Concerto para Violino de John Adams com a Royal Philharmonic Orchestra/Slatkin. O amplo e vasto repertório de Hanslip abrange concertos de Britten, Prokofiev, Beethoven, Brahms, Korngold, Shostakovich, Barber, Bernstein, Delius, Mendelssohn, Bruch, Elgar, Tchaikovsky, Walton e Sibelius, assim como obras contemporâneas de Adams, Glass, Corigliano, Nyman, Huw Watkins, Peter Maxwell Davies e Brett Dean. Intérprete empenhada de música de câmara, participa regularmente no Open Chamber Music de Prussia Cove e no Kuhmo Chamber Music Festival na Finlândia. Os seus parceiros de recitais integram Angela Hewitt, Danny Driver, Igor Tchetuev e Charles Owen. 109


Como destaques da temporada 2015-16, tem atuações com a Royal Philharmonic, Kristiansand Symphony, Kymi Sinfonietta, Sinfonia Lahti, Flanders Symphony, Symphony Orchestra of Milan Giuseppe Verdi, Prague Symphony, Ulster Orchestra, Bournemouth Symphony, BBC National Orchestra of Wales e, nos EUA, uma tourné na Florida com a Buffalo Philharmonic Orchestra. Com Danny Driver, seu habitual companheiro de recitais, percorre a Irlanda e o Reino Unido. Chloë Hanslip estudou durante dez anos com o pedagogo russo Zakhar Bron. Trabalhou igualmente com Christian Tetzlaff, Robert Masters, Ida Haendel, Salvatore Accardo e Gerhard Schulz. Toca com um Guarneri del Gesu de 1737.

Estágio Gulbenkian para Orquestra Lançado em julho de 2013, o Estágio Gulbenkian para Orquestra, sob a direção artística da maestrina Joana Carneiro, é um projeto que promove a experiência orquestral de elevado nível técnico-artístico entre a comunidade de jovens instrumentistas portugueses ou residentes em Portugal e facilita a transição entre a fase final da vida académica e a sua entrada no mundo das orquestras profissionais. Cerca de 90 músicos de talento excecional, com idades compreendidas entre os 16 e os 26 anos, são escolhidos através de rigorosas provas de seleção realizadas anualmente em vários locais do país, preparando obras do repertório sinfónico sob a orientação de tutores especializados e de maestros com alargada experiência neste domínio. Em 2014, no seu curto mas intenso percurso, os elementos desta orquestra de jovens tiveram oportunidade de, ao lado da Orquestra Gulbenkian, participar nos concertos de reabertura do Grande Auditório Gulbenkian, realizando igualmente concertos no âmbito do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, do Festival das Artes de Coimbra e do Festival Jovens Músicos. Em 2015, a digressão incluí concertos no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, no Festival Música de Marvão, no Festival de Internacional de Música de Verão de Paços de Brandão, no Festival das Artes de Coimbra e no Teatro Aveirense. Alguns dos elementos do Estágio colaboraram ainda com o Festival Cantabile em Setembro de 2015. Nas palavras de Joana Carneiro “é uma grande alegria participar num projeto que tem a ver com a juventude portuguesa que dedica o seu tempo à música. (…) É um espaço pré-profissional de crescimento”. O presente concerto, com obras chave do repertório sinfónico, é resultado de mais uma edição deste projeto.

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Elena Kelessidi João Paulo Santos

GRÉCIA · ESTREIA EM PORTUGAL

30 de julho, sábado, 21h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Celeiro)

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Mikhail Glinka (1804-1857) Não me tentes em vão A uma lira Recordo um belo momento Alexander Dargomijski (1813-1869) Vejo que ainda o amo O rapaz e a rapariga Nikolai Rimski-Korsakov (1844-1908) Na noite silenciosa op. 40 n.º 3 O vento op. 43 n.º 2 O rouxinol e a rosa op. 2 nº 2 Piotr Ilitch Tchaikovski (1840-1893) No baile op. 38 n.º 3 Se ao menos eu tivesse sabido op. 47 n.º 1 Anton Rubinstein (1829-1894) A noite - intervalo Alexander Varlamov (1801-1885) Não me deixes Bandeira branca Não a acordes ao amanhecer Oh, não me beijes! A neve sopra Pyotr Bulahov (1822-1885) Não quero! Os meus sinos Não, não te amo! Três Velhas Canções Russas Andrew Oppel (1872-1932): Esquecer-te Yevgeny Yuriev (1882-1911): Ding Ding Ding Ivan Vasiliev (1810-1870): Duas guitarras Elena Kelessidi, soprano João Paulo Santos, piano

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Notas à Margem Fora da Rússia, por vezes é surpreendente descobrir, para lá das sinfonias, que o reportório de canções do século XIX cobre um vasta diversidade de estilos musicais e poéticos, embora haja um aspeto que imediamente distinga as diferentes tradições, que é a cor das palavras. A língua russa, com os seus agregados de consoantes e vogais líquidas e escuras, tem um fascínio único, e é também uma das línguas mais compensadoras e expressivas para um cantor. A prática quase universal entre os compositores russos de colocar uma nota por sílaba produz uma união especialmente forte entre palavras e música, com linhas vocais intimamente desenhadas pelos acentos e o fraseio poético. Só a língua já torna a canção erudita russa – que normalente adopta a designação francesa ‘romance’ – muito diferente do Lied alemão e da mélodie francesa. Embora o início do século XIX tenha assistido a um maravilhoso desabrochar de poesia, pintura e arquitetura na Rússia, a música só começou a ganhar um voz verdadeiramente nacional nas décadas de 1830 e 1840, em grande parte nas óperas de Mikhail Glinka. Embora mergulhado desde a infância em sons da música popular russa, Glinka começou por ser atraído pelos estilos francês e italiano que predominavam nos salões cosmopolitas de São Petersburgo. As suas primeiras canções têm uma individualidade e um charme que definem um grande melodista e um grande apreciador da voz humana. Escrita em finais da década de 1820, Para uma Lira foi, na verdade, escrita originalmente sobre versos italianos. Fogo nas minhas veias é de 1838, altura em que Glinka explorava maneiras de compor num idioma essencialmente russo. Também essa foi escrita para um poema diferente, mas Glinka achou mais tarde que o poema de Puchkin se ajustava na perfeição. Os versos de Alexander Puchkin foram tão influentes na música como na poesia: em primeiro lugar, encorajavam qualquer qualquer pessoa que os musicasse a ser clara, concisa e direta. Rapaz e Rapariga de Dargomijski é um modelo de concisão e meiga perspicácia, sem nenhuma palavra ou nota fora do sítio. Vejo que aindo o Amo causa efeito pela sua repetição da frase inicial, sugerindo um estilo cada vez mais desesperado de declamação. Rimski-Korsakov é muito mais conhecido pelas suas óperas e música orquestral do que pelas suas canções, das quais escreveu perto de 80, a maior parte delas muito tarde na sua carreira, já na década de 1890. O Rouxinol e a Rosa é, contudo, uma das suas primeiras, datando de 1866, quando ele era ainda cadete na marinha imperial russa. As quintas vazias do acompanhamento e os intervalos aumentados na parte vocal são elementos chave no vocabulário do orientalismo que atraiu tantos russos enquanto o seu império se expandia a sul e a leste para o coração da Ásia. Quando Cesar Cui acusou Tchaikovski de ter pouco cuidado com as nuances e os acentos dos versos, este defendeu-se: “O mais importante na música vocal”, frisou, “é a reprodução verdadeira da emoção e do estado de espírito.” Tanto na ópera como na canção, os valores puramente musicais são de uma importância suprema. “Não hesitaria um instante em sacrificar a verdade literal à verdade artística. Tais verdade diferem intrinsecamente, e eu nunca conseguiria esquecer a segunda ao procurar a primeira...” Mais ainda, ao comparar verdade ‘real’ e verdade ‘artística’, “as duas são tão completamente diferentes que confundi-las, comparando discurso falado e canção, 114


é simplesmente desonesto.” Das mais de 100 canções de Tchaikovski, muitas são elegantes romances de salão que atraíam intérpretes amadores. Raramente pôs em música poesia de primeira qualidade (musicou poucos poemas de Puchkin, por exemplo), provavelmente por sentir que os versos convencionais lhe deixavam mais liberdade para interpretar musicalmente. Muitas vezes atingiria níveis de expressão e lançaria desafios aos seus intérpretes que fazem da suas canções uma parte importante e muito pessoal da sua produção. Mostram uma invulgar compreensão de vários aspetos do amor (sobretudo amores infelizes) e incluem estilizações de canções populares, cenas dramáticas e muitas vezes a combinação de ambas. Andrew Huthi*

Elena Kelessidi Nascida no Cazaquistão, a soprano grega Elena Kelessidi fez a sua estreia no Covent Garden no papel de Violetta de La traviata depois de ter vencido um concurso, o que levou ao arranque da sua carreira internacional. Outros teatros onde se apresentou incluem a L’Opéra Bastille, a Metropolitan Opera, a Wiener Staatsoper, a Bayerische Staatsoper, a Berlin Staatsoper, a De Nederlandse Opera, a Canadian Opera Company, a Dallas Opera, a Portland Opera, Ha amburgische Staatsoper, a Opéra de Monte Carlo, a Baltimore Opera Company, o Tokyo Bunkamura Hall, a Deutsche Oper Berlin, a Opernhaus Zürich, a Wiener Festwochen, a Opéra de Montpellier, o Bregenz Festival, o Teatr Wielki de Varsóvia, o Odeon de Herodes Atticus e o Megaron Mousikis (Atenas). Os seus papéis incluem Liù de Turandot, Cleópatra de Giulio Cesare, Shamakhan Tzaritza de O Galo de Ouro, Mimi de La bohème, Giuletta de I Capuleti e i Montecchi, Amina de La sonnambula, Tatiana de Evgeni Oneguin, Gilda de Rigoletto, Susanna de As Bodas de Fígaro, Marguerite de Faust, Micaela de Carmen, Desdemona de Otello, Eurídice de Orfée et Euridyce, Donna Anna e Zerlina de Don Giovanni. Nas suas mais recentes atuações está a aclamada aparição no papel de Marta de The Passenger tanto no Bregenz Festival como no Teatr Wielki em Varsóvia. Fez a sua estreia no papel de Adina de L’Elisir d’Amore, Nedda de I Pagliacci – na nova produção de Graham Vick no Odeon of Herodes Atticus, Hanna Glawari de Die Lustige Witwe, Rosalinda de Die Fledermaus, Donna Elvira de Don Giovanni e Fox de Cunning Little Vixen, para a Ópera Nacional Grega. Regressou ao Palais Garnier da Opéra National de Paris como Liouba em La Cerisaie na encenação de Philippe Fénelon para O Jardim das Cerejeiras de Checkov. Tem também aparecido regularmente em concertos e fez a sua estreia portuguesa como Gilda na Casa da Musica um concerto de Rigoletto. Outros concertos incluem um recital em Londres para a série de recitais Rosenblatt tendo a sua estreia indiana dado-se em Mumbai com a 9ª Sinfonia de Beethoven. O seu último CD, A Russian Romance, acompanhado por Malcolm Martineau, está disponível na editora Onyx.

João Paulo Santos Nascido em Lisboa, concluiu o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional desta cidade na classe de Adriano Jordão. Trabalhou ainda com Helena Costa, Joana Silva, Constança Capdeville, Lola Aragón e Elizabeth Grümmer. Na qualidade de bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Paris (1979-84). Depois de ter ocupado o cargo de Maestro Assis115

* Excerto do texto incluído no CD A Russian Romance da etiqueta Onyx.


tente do Coro do Teatro Nacional de São Carlos (1984) foi nomeado Maestro Titular (1990-2004). Atualmente é Diretor de Estudos Musicais e Diretor Musical de Cena do mesmo Teatro. Desde 1990, desenvolve também intensa atividade como chefe de orquestra, tendo-se estreado com a ópera The Bear, de William Walton, encenada por Luis Miguel Cintra, para a RTP. Seguiram-se Let’s Make an Opera (Britten); Help, Help, the Globolinks! (Menotti), na Culturgest; Sweeney Todd (Sondheim), no Teatro Nacional D. Maria II; Albert Herrin (Britten), Neues vom Tage (Hindemith) e Le Vin herbé (Martin), no Teatro Aberto (2001). Tem sido convidado a dirigir estreias absolutas de obras dos compositores António Chagas Rosa, António Pinho Vargas e Eurico Carrapatoso. No São Carlos dirigiu Renard e Les Noces (Stravinsky), The English Cat (Henze), Orphée aux enfers (Offenbach), O Nariz (Chostakovitch) e, em co-produção com a Culturgest, Hanjo (Hosokawa) e Pollicino (Henze) em estreia em Portugal. Na qualidade de pianista, apresenta-se a solo, em grupos de câmara, acompanhando cantores e em duo com a violoncelista Irene Lima desde 1985. Do seu repertório destaca-se a interpretação da integral das Sonatas para piano e outros instrumentos de Hindemith. Gravou vários discos, um dos quais com obras de Erik Satie e Luís de Freitas Branco (EMI Classics). Foi galardoado com o Prémio “Acarte 2000” pela direção musical de The English Cat.

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Orquestra Euro-Atlântica Concerto de Encerramento 31 de julho, domingo, 19h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça (Claustro do Rachadouro) Osvaldo Ferreira, direção


Piotr Ilitch Tchaikovski Romeu e Julieta, Abertura-Fantasia Serguei Prokofiev Romeu e Julieta, Suite n.º 2 do bailado, op. 64b Montéquios e Capuletos Julieta como Menina Frei Lourenço Dança Despedida de Romeu e Julieta Dança das Raparigas das Antilhas A Sepultura de Romeu e Julieta - intervalo Antonín Dvořák Sinfonia n.º 9 em mi menor, “Do Novo Mundo” Adagio Adagio – Allegro molto Largo Molto vivace Alegro con fuoco

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Notas à Margem Piotr Ilitch Tchaikovski: Romeu e Julieta Uma das melhores e mais amadas obras de Tchaikovski, a Abertura-Fantasia Romeu e Julieta, baseada em Shakespeare, não atingiu depressa nem com facilidade a sua forma definitiva. Em 1869, o seu colega e compositor russo Balakirev sugeriu ao jovem Tchaikovski (então com 29 anos) que escrevesse uma peça de concerto baseada na tragédia de Shakespeare. Indo mais longe, Balakirev apontou a Tchaikovski um tema possível, as tonalidades que devia usar e muitos outros detalhes – no fundo procurando moldar a construção da obra. Balakirev, contudo, não ficou satisfeito com os primeiros esboços que Tchaikovski lhe enviou. Quando a obra foi estreada em 1870, o compositor também não ficou satisfeito e decidiu fazer uma grande revisão, publicando-a no verão seguinte. Dez anos depois, Tchaikovski voltou a revê-la e só então foi publicada na sua forma definitiva. Mais do que um poema sinfónico programático que segue o enredo de Romeu e Julieta, a Abertura-Fantasia é uma obra em forma sonata que sublinha três temas memoráveis da tragédia. A introdução, com uma melodia tipo coral declamada por clarinetes e fagotes, representa Frei Lourenço. O primeiro tema principal, incluindo escalas velozes, metais e percussão, coloca em cena a contenda mortal entre Montéquios e Capuletos. Vem então o tema apaixonado dos amantes, seguido de mais um episódio da luta entre as famílias. O tema de amor regressa com intensidade acrescida, e nessa altura a coda é apresentada como uma marcha fúnebre marcada pelos tímpanos, juntamente com o tema de Frei Lourenço, representando o personagem cujas tentativas para ajudar conduziram ao desastre. Aquilo que Shakespeare consegue na peça, Tchaikovski também consegue com a música: um equilíbrio entre o ódio dos clãs e a paixão dos jovens amantes. Linda Mack

Serguei Prokofiev: Romeu e Julieta (2.ª Suite) No início da década de 1930, ao fim de nove anos passados nos Estados Unidos e depois em França, Serguei Prokofiev (1891-1953) começou a pensar em regressar à Rússia. Enquanto jovem audacioso, na Rússia ele havia sido louvado ou rejeitado como modernista; na América e em França fora visto como um representante da velha Rússia que ele deixara para trás. Em 1934 Prokofiev entrou em conversações com o Teatro Kirov em Leninegrado para escrever um bailado lírico; sugeriram-lhe Romeu e Julieta, mas depois recuaram. Em 1935 Prokofiev assinou um contrato com o Teatro Bolchoi de Moscovo para um bailado baseado na peça de Shakespeare, mas o Bolchoi veio a rejeitar a obra, dizendo que era “impossível de dançar”. Em 1937 o compositor acabaria por assinar um contrato com a Escola de Bailado de Leninegrado para fazer a estreia, cujo êxito conduziu a produções subsequentes da companhia de bailado do Teatro Kirov e posteriormente do Teatro Bolchoi. 120


De forma pragmática, Prokofiev adaptou a sua música de bailado para duas suites orquestrais que captam a atmosfera essencial do bailado e se tornaram firmes favoritos do reportório de concerto. A segunda suite abre com “Montéquios e os Capuletos”, música que pertence ao início do bailado e inclui a dança formal de Julieta com Páris, escolhido pela família dela para ser o seu noivo. “Julieta como Menina” pertence à 2.ª Cena do 1.º Ato e ilustra a natureza brincalhona de Julieta, que tem apenas 14 anos. A música termina suavemente com Julieta a ver o seu reflexo num espelho e a perceber que está no limiar de se tornar uma mulher. “Frei Lourenço” representa o padre bondoso que faz amizade com os jovens amantes, primeiro com uma melodia confiada a fagotes, tuba e harpa, depois com outra tocada pelos violoncelos em divisi. Em “Despedida de Romeu e Julieta”, Romeu está no quarto de Julieta pouco antes do amanhecer; juram o seu amor antes de Romeu partir e Julieta contempla o seu destino. Na “Dança das Raparigas das Antilhas”, escravas das Índias Ocidentais dançam na festa de casamento de Julieta e Páris. Este traz pérolas como presente para a sua noiva; quando esta cai inerte, ninguém se apercebe de que a sua morte é só aparente. Richard Thompson

Antonín Dvořák: Sinfonia “Do Novo Mundo” A chegada de Dvořák à América a 26 de setembro de 1892 foi um triunfo da persistência de Jeannette Thurber, fundadora do Conservatório Nacional de Música de Nova Iorque. Ela esperava que a contratação desse exuberante nacionalista de grande reputação daria uma sólida base à sua instituição e formaria compositores americanos que poderiam competir com quaisquer outros do mundo. Antonín Dvořák (1841-1904) mostrou-se inicialmente relutante em deixar a sua amada Praga e enfrentar os rigores de uma viagem marítima até ao Novo Mundo para uma aventura tão incerta, mas as sucessivas propostas da senhora Thurber acabaram por lhe vencer as resistências. Ela também esperava que ele, além de ensinar jovens músicos americanos, compusesse novas obras especialmente para o público americano. Um projeto potencial era uma ópera baseada na Canção de Hiawatha de Longfellow, que Dvořák apreciara anos antes numa tradução checa. A ópera nunca se materializou, mas o assunto teve influência na sua sinfonia mais famosa, composta nos Estados Unidos. Era claro para Dvořák que o consideravam mais que uma celebridade. Esperavam grandes coisas dele. Escreveu a um amigo morávio, fingindo-se aterrado, que os jornais americanos estavam a escrever coisas “simplesmente terríveis — vêem em mim, dizem eles, o salvador da música e sei lá que mais.” Mas ao fim de alguns meses escreveu a amigos em Praga, mais tranquilo: “Os americanos esperam (...) que eu lhes mostre a terra prometida e o reino de uma arte nova e independente, em resumo, que crie uma música nacional. Se a pequena nação checa pode ter tais músicos, dizem eles, porque não poderão eles também, com um país tão vasto e com tantos habitantes?” Nos primeiros meses não houve tempo para compor, mas no fim do outono começou um livro de notas com ideias musicais e a 19 de dezembro fez os seus primeiros esboços na América. Um 121


dia depois anotou, na segunda página, uma das suas invenções melódicas mais conhecidas: a melodia confiada ao corne inglês no início do andamento lento da sinfonia Do Novo Mundo. Nos dias seguintes esboçou outras ideias numa dúzia de páginas do livro, muitas que foram usadas na sinfonia, outras guardadas para obras posteriores e algumas deixadas de lado. Finalmente, a 10 de janeiro de 1893, Dvořák abriu uma nova página e começou a escrever o fluxo contínuo do discurso musical (apenas com algumas indicações básicas do acompanhamento) de todo o primeiro andamento. Daí até concluir a sinfonia, a 24 de maio, conciliou na medida do possível a composição e as aulas. Nenhuma obra de Dvořák causou tanta discussão como a Sinfonia Do Novo Mundo. O próprio compositor deu o pontapé de saída com uma entrevista publicada no Herald de Nova Iorque a 21 de maio, quando estava a terminar o último andamento. Foi citado nos seguintes termos: “Estou contente por saber que o futuro da música neste país tem que se basear naquilo a que chamamos melodias dos negros. Essa tem que ser a verdadeira base de qualquer escola de composição séria e original fundada nos Estados Unidos. Quando vim para aqui no ano passado eu já tinha essa impressão, que agora se desenvolveu e se tornou uma convicção assente. Esses temas belos e variados são o produto da terra... Não há nada em todo o espectro da composição que não possa ser fornecido por essa fonte.” Noutra ocasião Dvořák complicou o assunto declarando que estudara a música dos índios americanos e mesmo que a achara espantosamente semelhante à dos negros. Esta ideia era certamente errónea, ou pelo menos simplista demais — e provavelmente tem mais a ver com a ligação mental do compositor entre esta sinfonia e a sua ópera inacabada sobre Hiawatha do que com citações musicais concretas. Seja como for, os comentários de Dvořák chamaram muito a atenção. Os diligentes repórteres americanos abordaram compositores europeus e perguntaram-lhes a opinião deles e depois escreveram que a maior parte dos compositores achava que as recomendações de Dvořák eram pouco exequíveis ou mesmo impraticáveis. Assim, quando a nova sinfonia apareceu, seis meses depois, toda a gente queria saber se ele seguira os seus próprios conselhos. Apareceram por todo o lado pretensões de que o material melódico da sinfonia era tirado de música negra, ou de música índia, ou talvez de ambas. Noutra entrevista, pouco antes da estreia, Dvořák enfatizou que procurara o espírito e não a letra de melodias tradicionais, incorporando as suas qualidades, mas desenvolvendo-as “com a ajuda de todas as conquistas do ritmo, do contraponto e do colorido orquestral modernos.” Apesar do desmentido do compositor, as descrições da sua busca das fontes da música foram sendo cada vez mais embelezadas e no fim do século podia-se ler, até nas notas de programa da Orquestra Sinfónica de Boston, por exemplo, que o material temático da sinfonia “é em grande parte feito a partir de melodias dos negros das plantações do sul.” E no entanto há testemunhos que merecem crédito relativas a algumas pretensões de influência étnica. Um deles é de Victor Herbert, então conhecido como maestro e o principal violoncelista da sua geração (ainda não começara a compor as operetas que o tornariam famoso). Herbert era responsável pela cadeira de violoncelo do Conservatório Nacional e trabalhava muito de 122


perto com Dvořák no seu primeiro ano na instituição. Herbert recordou mais tarde que o jovem compositor e cantor negro Harry T. Burleigh, então aluno do Conservatório, dera a Dvořák algumas das melodias para a sinfonia. Acrescentou que “já vi isto ser negado — mas é verdade.” É certo que em várias ocasiões Burleigh cantou espirituais para Dvořák, que mostrara grande interesse por ele como um dos mais talentosos alunos da escola. Tenha ou não dado melodias concretas a Dvořák, certamente Burleigh familiarizou-o com os tipos de melodias característicos do espiritual, incluindo a frequente utilização da escala pentatónica. O título que Dvořák acrescentou à sinfonia — quase à última hora — também tem sido muito escrutinado, provavelmente demasiado, em discussões sobre o caráter nacional da obra. O assistente do compositor, um jovem músico checo chamado Kovařik, escreveu que “havia e há muitas pessoas que pensavam e pensam que o título deve ser interpretado como uma sinfonia ‘americana’, isto é, uma sinfonia com música americana. É uma ideia muito errada! Este título significa simplesmente ‘Impressões e Saudações do Novo Mundo’ — como o próprio mestre explicou mais de uma vez.” Tudo somado, a influência americana parece ser essencialmente uma ornamentação exótica num quadro de fundo característico do compositor checo. Hoje, um século depois da estreia da obra, não nos preocupa tanto a questão de esta ser ou não verdadeira música americana, sobretudo agora que os compositores americanos deixaram há muito de funcionar como imitadores da arte europeia. Mesmo assim, há poucas razões para duvidar da óbvia sinceridade de Dvořák quando escreveu a um amigo checo, enquanto a compunha, que “nunca teria escrito a sinfonia ‘tal e qual’ se não tivesse visto a América.” Uma das características mais apelativas das melhores obras de Dvořák é a sua reserva aparentemente inesgotável de invenção melódica. A facilidade aparente com que ele cria ingénuas canções folclóricas esconde o labor que se encontra nos esboços, refinando, triando e escolhendo aquelas que serão realmente utilizadas, muitas vezes modificando-as consideravelmente entre o ponto de partida e o resultado final. Dvořák, contudo, não penava a inventar ideias temáticas tanto como se preocupava com a maneira de as interligar. (As suas incertezas nessa fase da construção revela-se por vezes nos esboços, que por vezes interrompia precisamente na ligação entre os temas para fazer outros esboços preliminares.) Depois de uma introdução lenta que aflora o tema principal, a trompa toca uma suave fanfarra sincopada sobre um trémulo das cordas. Esse é um dos vários temas que irão regressar ao longo da sinfonia como elementos unificadores. O ritmo pontuado que se lhe contrapõe conduz a harmonia para sol menor e para um tema de âmbito reduzido (apresentado por flauta e clarinete) sobre uma pedal. Este ilumina-se ao mudar para sol maior e para o momento mais memorável do Allegro: um novo tema (talvez uma recordação inconsciente do espiritual negro Swing low, sweet chariot) apresentado pela flauta solo no registo grave; também as quatro primeiras notas desta canção irão reaparecer depois muitas vezes. Os dois andamentos centrais inspiram-se parcialmente, segundo Dvořák, em passagens de A Canção de Hiawatha. O andamento lento foi sugerido pelo funeral de Minnehaha na floresta, mas Dvořák também lhe instilou muito da sua saudade da Boémia (talvez não seja mero acaso que a 123


letra que depois se associou a esta melodia seja Goin’ home, “voltando para casa”). A introdução desse andamento é uma das ideias mais lapidares de Dvořák: em sete acordes modula de mi menor, a tonalidade do primeiro andamento, para ré bemol maior, tonalidade do segundo andamento. O mesmo encadeamento reaparece, com modificações, a fechar este Largo. A imagem de Dvořák para o terceiro andamento era a dança índia na cena do casamento de Hiawathe, referindo-se decerto à dança de Pau-Puk-Keewis, que, depois de dançar “num passo solene” começava um passo muito mais animado; mas é quase impossível encontrar algo que se chame “música índia” nesta dança tão checa. A turbilhonante secção inicial tem os mesmos requebros e ambiguidades rítmicas do furiant checo, e as restantes ideias melódicas são valsas, ora graciosas, ora enérgicas. O último andamento é basicamente uma forma sonata, mas Dvořák não se afasta muito da tonalidade de base e usa temas surpreendentemente regulares. O musicólogo Michael Beckerman mostrou recentemente que é possível ler ritmicamente a narrativa poética de Longfellow referente à suprema batalha entre Hiawatha e o seu arqui-inimigo Pau-Puk-Keewis sobre a música da secção inicial, e sugere que esses versos estavam claramente na mente do compositor quando a compôs. Perto do fim, regressam elementos dos três andamentos anteriores em combinações contrapontísticas (a mais surpreendente das quais é a rica progressão harmónica do segundo andamento tocada fortíssimo por metais e madeiras sobre o tumulto da cordas). De alguma forma, nas páginas finais temos o Dvořák checo, o Dvořák americano e até uma forte lufada de Wagner (por momentos parece que a Vénus de Tanhäuser vai irromper do Venusberg) numa inebriante mistura que conduz a sinfonia à sua exuberante conclusão. Steven Ledbetter

Osvaldo Ferreira Osvaldo Ferreira, na qualidade de diretor convidado, irá apresentar-se em 2016/2017 com a Orquestra Filarmónica de S. Petersburgo, a Orquestra do Luxemburgo, a Orquestra Gulbenkian, a Orquestra Sinfónica de Nuremberga e Bühnen-Halle na Alemanha, a Orquestra Sinfónica da Venezuela (onde gravará um novo CD) e com a Orquestra do Estado Russo em Moscovo, entre outras. Atualmente é Diretor Artístico da Orquestra Euro-Atlântica na Europa e da Sociedade de Concertos de Brasília. Foi diretor musical e regente titular da Orquestra Sinfónica do Paraná de 2011 a 2014, Diretor Artístico e Maestro Titular da Orquestra do Algarve de 2005 a 2011 e diretor da Oficina de Música de Curitiba de 2008 a 2014. Gravou vários CDs com obras de autores portugueses com a Orquestra Sinfónica da Póvoa de Varzim para a Editora Numérica e um CD duplo com Sinfonias de Mozart. Com a Orquestra do Algarve, apresentou-se em Viena, Bruxelas, Lisboa, Sevilha, Porto, Curitiba e Londres. No seu percurso destaca-se o seu trabalho à frente de importantes orquestras, tais como a Orquestra Filarmónica de S. Petersburgo, a Orquestra Sinfónica de Roma, a Orquestra Gulbenkian, a Orquestra Sinfónica Brasileira, a Orquestra de Praga, a Orquestra Filarmónica de Lodz, a Orquestra Filarmónica da Silésia, a Orquestra Sinfónica de Nuremberga, a Orquestra Filarmónica da Rádio da Renânia, a Orquestra Nacional do Porto, a Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o Mozarteum de S. Petersburgo, a Orquestra Sinfónica Portu124


guesa, a Orquestra do Teatro Olímpico de Vicenza, a Orquestra da Extremadura de Espanha, a Orquestra da Catalunha, a North Shore Orchestra em Chicago, a Orquestra do Festival de Aspen nos Estados Unidos e ainda a Orquestra Nacional da Venezuela. Realizou Mestrado em direção de orquestra em Chicago e pós-graduação no Conservatório de S. Petersburgo, na classe de Ilya Mussin. Foi laureado em 1999 no Concurso Serguei Prokofiev, na Rússia. Recebeu o “Fellowship” do Aspen Music Festival nos EUA, onde frequentou a American Conductors Academy. Foi assistente de Claudio Abbado em Salzburgo e Berlim. Estudou ainda com Jorma Panula e David Zinman, foi bolsista do Ministério da Cultura de Portugal e da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.

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