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Uma realidade sem lixo é totalmente viável em todo lugar

Paro na guarita do condomínio mais nobre da cidade para me identificar e explicar ao guarda que estou indo deixar uma moradora em sua casa. Enquanto sou atendida, vejo passar direto uma Mercedes. Preparo o carro para seguir em frente e vejo, a poucos metros adiante, uma lata ser atirada pela janela do motorista. “Uau! Como assim? Alguém num carro desses, deveria ter um mínimo de educação”, comento com minha amiga. Sigo atrás do carro e vejo que está sendo estacionado logo adiante. Ao passar em frente à residência, vejo saindo do carro pai e filho. Nobres senhores da falta de noção de cidadania e limpeza.

Esta cena ilustra um dado muito importante quando pensamos na falta de conduta adequanda em relação ao lixo, praticada por tantos cidadãos numa pequena cidade: não é uma questão de ordem econômica. Muito menos social. É questão de cultura. De hábito. O que significa que exige um plano de ação que vai muito além da sala de aula.

Adultos precisam aprender – Tradicionalmente praticada no ambiente escolar, sob a lógica de que se deve ensinar boas práticas de cidadania – e, no caso, de saúde –, a educação ambiental não surte efeitos efetivos se não for aplicada também aos pais e responsáveis por crianças e jovens que aprendem durante todo o período de formação escolar que não se deve jogar lixo nas ruas, nem em quintais e muito menos em praças, rodovias ou qualquer outro ambiente. O lixo, aquilo que você não quer, que não lhe serve mais, deve ser devidamente acondicionado de modo que siga para o destino que lhe cabe: em empresas de reciclagem, no caso de papel, plástico, metal e vidro; preferencialmente em composteiras, quando se trata de sobras de comida, algo que ainda segue em quase a totalidade, para aterros; e, aquilo que não tem como reaproveitar, nem mesmo para virar adubo, ser destinado ao aterro sanitário que atende cada município.

Como ensinar – A maneira como gestores públicos e organizações que se dedicam à questão ambiental, bem como às que focam em saúde e em educação, pode ser diversa, pautada na criatividade, mas deixar de lado o enorme contingente de adultos quando se trata de promover a educação ambiental é permanecer no vácuo do desenvolvimento urbano, social e cultural.

Ações de marketing – Assim como governos, empresas podem fazer dessa necessidade social, uma grande oportunidade para destacar sua marca. Inclusive as do setor agro, pois não é incomum encontrar lixos que reúnem entulhos de obras, embalagens (muitas vezes tóxicas) e objetos velhos descartados à beira de estradas rurais. Ou seja, a pessoa tem o trabalho de tirar de sua propriedade, mas não tem a decência de transportar até o aterro ou a empresa de coleta. Deixa pelo caminho, geralmente em frente a cerca de algum vizinho.

Muitas empresas já fazem uso dessa carência de trato adequado com o lixo, promovendo recolhimento de embalagens (inclusive não tóxicas), baterias e até óleo usado, que é trocado por óleo novo pela Sabesp, em Santa Cruz do Rio Pardo, numa ação em parceria com a ONG Rio Pardo Vivo.

Muito mais, no entanto, pode ser feito. Farmácias, por exemplo, podem promover o recolhimento de embalagens de remédios, que rende uma coleta muito limpa, de caixas, vidros e papel, além de cartelas de remédios. Com a venda desse lixo reciclável que vai interessar a todo comprador, pode financiar brindes e ofertas para clientes dispostos a colaborar para essa prática. Essa é apenas uma ideia. Muitas outras podem ser postas em práticas, incluindo competições entre equipes dentro de empresas, por exemplo.

Efeito imediato – As administrações públicas também podem agir promovendo melhorias e descontos em taxas para bairros que não deixem lixo acumulado, mal embalado e fora do horário. Assim como não devem se eximir de multar quem comete infrações, como a falta de limpeza de terrenos, a colocação de lixo mal acondicionado ou em horários e locais incorretos e quem o pendura em árvores. O bolso e uma ótima maneira de garantir a atenção, quando se trata de educar gente grande.

O que não se pode permitir, é que toneladas de lixo descartados a esmo seja algo admissível em pleno século 21.

* O coletor de lixo não está a seu serviço. Ele está trabalhando pela cidade. Faça a sua parte. Embale direito seu lixo. Respeite quem lida com ele. *

* Caçambas para coleta de lixo são apenas recepientes para receber o descarte devidamente embalado. Respeite o limite de uso de cada uma *