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A nobreza de D. Nena!

Ela vivia na maio e mais bonita casa da cidade. Situada em um grande terreno, num endereço nobre, em frente à praça que todos frequentavam, inclusive nas noites de sábado e domingo. O jardim imenso rodeava toda a área que ocupava pelo menos 1/4 do grande quarteirão. Nele, havia muito de tudo. A fartura, o luxo e a grandiosidade podiam ser vistos por todos os cantos interno e externos.

A sala imensa, era decorada com longos e vistosos sofás estofados do mais caro veludo ou de couro legítimo, trazendo sobre eles almofadas coloridas do mais fino e diferenciado crochê. O piano era de cauda. A sala de jantar trazia móveis de madeira nobre em meio a lustres e espelhos de cristais. E assim continuava a imensa casa de quatro quartos, um deles uma grande suíte, onde ela podia ter alguma privacidade, afinal, ela tinha muitos filhos. Crianças e jovens a povoar aquele reino onde todos eram bem-vindos.

Era na mesa da grande copa, que dava para uma varanda que terminava numa majestosa rampa repleta de móveis de ferro devidamente estofados que seguia até à rua, na lateral da casa, que todos os dias, por volta das três horas da tarde, ela reunia os filhos para tomar o “café”. E não havia um deles que deixasse de lado as trarefas escolares, a conversa com os amigos e as brincadeiras para ali estar, fazendo a merenda familiar. Ninguém ousava desobedecê-la. Ela era ali a rainha. E todos acatavam suas determinações com respeito, amor e admiração, mesmo que não tivessem essa consciência. Incluindo amigos dos filhos que não deixavam de comparecer todos os dias. Afinal, quem não queria desfrutar de tanta magnitude material e espiritual?

Da sua cozinha, sempre monitorada por cozinheiras que estavam há tempos com a família, saiam muitas refeições. Muitas delas, servidas na linda mesa do pergolado que ficava ao lado do laguinho todo ladrilhado de azul, decorado por plantas e peixes ornamentais. Ali, em meio a flores e à luz do sol, almaçavam os andantes que ali encontravam não apenas um bom prato de comida quente e gostosa, mas respeito, consideração, carinho.

À sua maneira simples e serena, ela cuidava de tudo e de todos. Sempre à frente de pessoas que lhe serviam com gosto, porque eram tratadas como se deve. Como gente, como iguais. Seus seis filhos, três meninos e três meninas, eram donos dos melhores brinquedos, da mais completa coleção de discos e livros, dos mais inusitados e inesperados instrumentos musicais, de bicibletas, patins, motocicletas, patinetes e carrinhos que ninguém mais na cidade possuia. De pianos pequnos a mini guitarras elétricas, aos mais modernos equipamentos de som, tudo, absolutamente tudo era compartilhado com os amigos, que eram dezenas, entre vizinhos, primos, colegas de escola e da vida. Eles aprendiam com ela que o que se tem deve ser compartilhado, sem distinção, sem mequinharia, sem ciúmes, sem soberba.

A casa de dona Nena era, portanto, cheia. Sempre. Repleta de gente. Além de crianças e jovens de todas as idades, havia também os amigos do casal, afinal ela e o marido, Betão, não refutavam a presença de ninguém. Na casa de dona Nena, onde TV em cores chegou antes de todas na cidade, com a maior tela possível, o velho Tomé tinha uma poltrona cativa. Afinal, ele só tinha aquela TV para assistir. E fazia isso todo santo dia. A casa de dona Nena exalava cultura. E arte. E natureza.

Livros de todos os tipos eram devidamente organizados na biblioteca que decorava o escritório, onde havia de livros de historinhas infantis a romances e as mais completas enciclopédias. Na grande vitrola da sala, mais e mais discos, para todos os gostos e idades. Obras de arte ornamentavam as paredes da maravilhosa morada que dona Nena mantinha sempre elegante e renovada. E que deixava encantados todos os que ali zanzavam em meio a farras e brincadeiras.

Era no jardim, no entanto, que a alma de dona Neta mais se materializava. Incontáveis espécies de plantas, árvores de todos os tipos de flores e frutos, animais exóticos e domésticos, brinquedos e recantos eram perfeitamente cuidados e conviviam num entrosamento que só mesmo uma rainha saberia orquestrar. A formosura era tanta que pessoas elegantes da cidade chegavam pedindo para mostrar o lugar a parentes distantes em visita na cidade. Nada conseguia se comparar àquele santuário ecológico que ela tanto prezava.

Em meio a toda a grandeza que essa incrível mulher vivia, o que ela transmitia, ensinava, sem dizer uma só palavra, era que devemos respeitar todas as pessoas. Tratar todos bem. E, de forma alguma, eleger apenas os que podem oferecer o mesmo ou mais do que temos. Para dona Nena, todos eram iguais. Em seu reino, todos podiam habitar. Todos podiam usufruir, todos eram semelhantes. Todos eram respeitados e, por isso, todos sabiam respeitar, partilhar e conviver em plena harmonia.

Dona Nena nos deixou o legado da nobreza que reside na generoisdade de quem tem muito e sabe partilhar com todos. Algo que só mesmo uma rainha benevolente, qual às de contos de fadas, é capaz de praticar por toda a sua vida.

Dona Nena com os netos e os netos e o marido, Betão. o marido, Betão. E, como sempre, E, como sempre, amável e carinhosa, amável e carinhosa, espalhando amor espalhando amor em seus gestos. em seus gestos.