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A solidariedade que precisamos é social, não apenas pessoal

A solidariedade social é indispensável para diminuição das desigualdades e combate à pobreza. Mas, diferentemente da solidariedade pessoal, ela não depende de bons sentimentos ou consciência individual: são mecanismos legais, impessoais e automáticos. Uma sociedade solidária é bem diferente de uma sociedade formada por pessoas solidárias - e isso é uma contradição aparente, que precisa ser desfeita.

A solidariedade pessoal é um valor que se manifesta de diferentes formas (apoio financeiro, material, emocional, afetivo...) a partir de uma decisão subjetiva, movida pela empatia ou desejo de ajudar aos outros. É uma escolha, que pode ser direcionada a pessoas próximas (amigos, parentes) ou desconhecidas (entidades de atendimento, doação em casos de desastres ou tragédias, mesmo esmola).

A solidariedade social, por sua vez, é formada por leis e regras que, obrigatoriamente, redistribuem oportunidades e recursos para quem não tem. Ela não depende de uma decisão ou sentimento pessoal, nem da livre escolha sobre quem vai ser beneficiado.

* O secretário de Meio Ambiente, Cristiano Miranda, com Elizete Rocha, da coordenação de esterilização de animais, e Marcia Gaspar, diretora de defesa dos animais, principais agentes do ProBem de Cães e Gatos, programa de atendimento público que respalda a ação de pessoasda comunidade que atuam na causa animal em Santa Cruz do Rio Pardo *

Um exemplo pode ilustrar essa diferença. Ao pagar os estudos dos filhos de sua empregada doméstica, uma família mais rica está sendo solidária com uma família mais pobre. Já uma lei de cotas para ingresso na universidade é um mecanismo de soli- dariedade social, ainda que isso implique tirar um certo número de vagas de estudantes de famílias mais ricas.

Ou seja, toda legislação que redistribui recursos (como Bolsa Família) ou oportunidades (como lei de cotas raciais ou sociais) é um mecanismo de solidariedade social. Diferentemente da solidariedade pessoal, ele não depende de decisões individuais, não pode ser fornecido nem interrompido por escolhas subjetivas de quem está sendo anonimamente solidário.

Por ser obrigatória, a solidariedade social nem sempre é compreendida como um tipo de solidariedade. Isso cria muitas vezes a situação em que famílias e indivíduos que são muito solidários do ponto de vista pessoal se posicionem contrários aos mecanismos de solidariedade social. Mas uma sociedade precisa dos dois tipos de solidariedade para ficar mais justa, e é a solidariedade social que tem maior potencial de impacto e de transformação.

*Sociólogo e jornalista, diretor da Kairós Desenvolvimento Social