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1. O QUE ME ACONTECEU, A SÉRIO

No dia 15 de junho de 2021 fui operada a uma criptite. E agora vocês perguntam-me… mas Joana, “ WTF is that?” Bem, eu também desconhecia, mas todos nós temos criptas, pequenos orifícios naturais, situados onde?

Naquele maravilhoso sítio chamado: rabo. Para que servem e qual a sua função...? Acho que ninguém sabe ao certo, ainda.

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Contudo, algumas das minhas criptas estavam infetadas – a chamada criptite – causando muita dor e desconforto sempre que ia à casa de banho ou mesmo depois. Tudo inflamado, dor intensa, dificuldade em sentar-me, um sonho de uma noite de verão... Mas nada que não passasse com descanso, Brufen e cremes.

Costumava dizer durante muito tempo que as gravidezes dos meus filhos me tinham partido o rabo. As crises que tinha eram cada vez mais constantes, fortes e prolongadas no tempo, cheguei a ter crises de três semanas... Resumindo, já todos sabiam lá em casa que: No rabo da Joana ninguém podia tocar.

Devido a estas crises fortes que já tinha há alguns anos, foi-me sugerida uma hemorroidopexia em 2019, que fiz, mas que não resolveu os meus problemas, pois as minhas criptas infetadas não foram tratadas nesse procedimento cirúrgico.

Por isso mesmo, em início de 2021, o assunto: o rabo da Joana, estava de novo em cima da mesa. Literalmente.

Sendo os meus dois pais médicos, sentámo-nos à mesa para discutir o futuro do meu rabo. Um ponto era certo, teria de ser operada. Mas como, quando e por quem, era a questão.

Para o meu pai a cirurgia tradicional às hemorróidas não iria nunca resolver o meu problema, pois essa, parecia não ser a causa das minhas queixas. Não sangrava, mas tinha, sim, dor intensa... Daí surgiu a ideia de ir a um antigo colega do meu pai para uma segunda opinião. Alguém que fosse especializado só nisso.

A primeira consulta foi marcada, fui vista, analisada e o diagnóstico foi o que disse acima. Criptas infetadas. Há que drenar.

Perguntei como seria a intervenção, disseram-me que seria simples e rápida, que poderia sair no próprio dia e que a recuperação seria um pouco dolorosa, mas que poderia fazer a minha vida normalmente.

O dia da sentença foi marcado na agenda, dia 15 de junho, nesse dia fui confiante e com a certeza de que estava a fazer a coisa certa, o que precisava para ficar bem e ter um rabo novo e funcional.

Detesto todo o tipo de tratamentos clínicos, agulhas, soros... eu sei lá. Mas o poder deixar de ter consciência quando somos anestesiados é algo a que me fui habituando com o tempo e que, confesso, até gosto. É o desligar de um botão, que nos deixa completamente knoked out, a zeros, longe de tudo, e que nos permite começar de novo quando acordamos. Um reset, mesmo.

Quando acordei da anestesia, completamente tonta, falaram comigo e disseram-me que tinha corrido bem, tinham-se esclerosado algumas hemorróidas que não eram importantes e tinham também drenado quatro criptas, quatro, sim, quatro. Mas o que é que isso implica? Implica enfiar-se um estilete ou bisturi no orifício da cripta e depois abri-la rasgando-a para fora, ou seja deixando-a aberta para dentro do reto.

Não é um quadro bonito!

Não há costuras, suturas... nada, apenas carne aberta à espera de sarar, num sítio por onde sai muita merda todos os dias... “Isn’t that amazing news!”

Ainda hoje me dói só de pensar nesta descrição. E não era uma só cripta, eram quatro.

Só pensava para mim... como é que um buraco tão pequeno, tem tanta coisa para rasgar... E na minha cabeça surgiam as mais variadas perguntas:

– Como é que eu vou conseguir fazer cocó sem rasgar tudo mais ainda?

– Como é que algo consegue cicatrizar num sítio que está sempre, todos os dias a abrir e a fechar?

– Então e se com tanta coisa aberta, aquilo cicatriza mal e colam-se todas umas às outras?

– Então e se... o meu cérebro tão fértil não parava de se colocar um sem número de questões, para as quais não obtinha respostas.

Quando já me conseguia sentar, deram-me uma receita de antibiótico, Brufen, Benuron para aviar na farmácia, um pote de parafina líquida para tomar à colher, para amolecer a fezes, e mandaram-me à minha vida dizendo: Atenção que vais ter muitas dores, principalmente quando evacuares. Deves lavar-te com água morna com Betadine. E daqui a três semanas já vais estar ótima.

E lá fui eu para casa para começar, o que viriam a ser, as piores oito semanas da minha vida!

NUNCA PERCAM A ESPERANÇA!