Brasil Observer #46 - BR

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LONDRES

www.brasilobserver.co.uk

ISSN 2055-4826

FEVEREIRO/2017

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brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017

Conteúdo LONDON EDITION É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

Ana Toledo Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk Guilherme Reis Diretor Editorial guilherme@brasilobserver.co.uk Roberta Schwambach Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk Editor em Inglês Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk Design e Diagramação Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com Colaboradores Ana Freccia Rosa, Aquiles Reis, Christian Taylor, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Heloisa Righetto, Nathália Braga Bannister , Wagner de Alcântara Aragão

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FEVEREIRO/17

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Do Brexit às pichações, de Trump ao Carnaval

Como a redução da imigração pode afetar as contas do Reino Unido

OBSERVAÇÕES

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COLUNISTA CONVIDADO

Júlio Miragaya: Por que as contrarreformas de Temer são injustas

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COLUNISTA CONVIDADO

Leonardo Ramos: Brasil e Estados Unidos: livre comércio à vista?

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ENTREVISTA

Alex Ellis, ex-embaixador do Reino Unido no Brasil

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REPORTAGEM

Superlotação, violência e descaso: a tragédia anunciada nos presídios

REPORTAGEM

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CONECTANDO

Lindy Hop, dança dos anos 20, conquista o Rio de Janeiro

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DICAS CULTURAIS

Música, teatro e fotografia... Com toque latino

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COLUNISTAS

Franko Figueiredo sobre teatro e vida Heloisa Righetto sobre feminismo Aquiles Reis sobre música

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EURO TRIP

Um passeio com Ana Freccia Rosa pela Suíça

Arte da Capa Arquivo pessoal

IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias

Ricardo Humberto

Distribuição Emblem Group Ltd.

Artista gráfico e ilustrador, frequentou o curso Superior de Pintura e o curso Superior de Gravura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, mas considera-se autodidata em formação. Nasceu e vive em Curitiba.

Para anunciar comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 Para assinar contato@brasiloberver.co.uk Para sugerir pauta e colaborar editor@brasilobserver.co.uk Online 074 92 65 31 32 brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver facebook.com/brasilobserver twitter.com/brasilobserver O Brasil Observer, publicação mensal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.

APOIO:

A capa desta edição foi feita por Ricardo Humberto para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e com apoio institucional da Embaixada do Brasil em Londres. Cada uma das 11 edições deste jornal em 2017 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados através de uma chamada pública. Em fevereiro de 2018, os trabalhos serão expostos na Sala Brasil.


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OBSERVAÇÕES Divulgação

Amigos para sempre... A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, visitou no final de janeiro o recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. May aproveitou o “relacionamento especial” entre americanos e ingleses para pular na frente da fila e tentar emplacar um acordo comercial com os Estados Unidos, tido como fundamental em tempos de Brexit. A visita gerou muita repercussão e protestos devido à postura no mínimo desrespeitosa de Trump em relação às mulheres durante a campanha eleitoral. A mídia inglesa, de maneira geral, considerou que a visita podia ter sido pior do que foi e que Theresa May saiu quase ilesa. Mas não é bem o que parece quando se leva em conta o calor das ruas.

Reprodução

...ou não: ele que se Trump! Dezenas de milhares de pessoas protestaram em Londres e outras cidades britânicas contra o decreto do presidente norte-americano, Donald Trump, que proíbe a entrada nos Estados Unidos de refugiados e pessoas de sete países de maioria muçulmana. Milhares de pessoas se reuniram em Downing Street, onde fica a casa da primeira-ministra Theresa May, a primeira líder mundial a visitar Trump. Alguns gritavam palavras contra May por seu convite a Trump para visitar o Reino Unido, enquanto 1,5 milhão de pessoas assinaram uma petição pedindo que a viagem — que envolverá suntuosas demonstrações de ostentação da realeza e um banquete da Rainha Elizabeth — seja cancelada.

Reprodução

O juiz mandou avisar A Alta Corte do Reino Unido decidiu que o país não poderá iniciar o processo de saída da União Europeia (UE) sem aprovação do Parlamento. A decisão vai de encontro aos planos da primeira-ministra, Theresa May, de iniciar em março as negociações formais de retirada. O veredito, anunciado pelo juiz Thomas de Cwmgiedd, promete criar polêmica, pois a maioria dos 650 deputados britânicos se declarou favorável à permanência britânica no bloco político-econômico. Especialistas legais afirmam que a decisão poderá criar meses de debates que em tese colocariam obstáculos para as negociações de saída. Na foto, Gina Miller, a economista que iniciou o processo legal contra o governo britânico.


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Divulgação

Pintaram tudo de cinza Querendo mostrar serviço em seus primeiros dias de mandato, o novo prefeito de São Paulo, João Dória, vestiu o uniforme para dar início ao programa “Cidade Linda”. A principal e mais polêmica ação foi apagar grafites e pichações da Avenida 23 de Maio, que havia se tornado um mural a céu aberto durante a gestão anterior, de Fernando Haddad. Sem fazer muita distinção entre pichação e grafite, o atual prefeito deixou muita gente irritada, pois os desenhos davam cor a uma cidade predominantemente cinza. De qualquer forma, Dória afirmou que vai criar um programa para grafiteiros realizarem seus trabalhos novamente. Mas segue com discurso duro contra os pichadores da maior cidade do Brasil.

Reprodução

Era uma vez um bilionário Após três dias considerado foragido, o empresário Eike Batista, que já foi o homem mais rico do Brasil, foi preso pela Polícia Federal no aeroporto internacional do Rio de Janeiro na manhã de segunda-feira dia 30 de janeiro. Eike estava em Nova York e é alvo da Operação Eficiência, um desmembramento da Operação Lava Jato no Rio, acusado de ter irrigado o suposto esquema de corrupção do ex-governador Sergio Cabral, preso desde novembro. O empresário é acusado de ter repassado em propina 16,5 milhões de dólares (mais de 52 milhões de reais) ao ex-governador Cabral através de uma conta estrangeira a nome de terceiros.

Divulgação

Quanto riso, quanta alegria O Carnaval vem aí e os preparativos já estão rolando no Brasil. A temporada de acerto de marchas dos blocos líricos no Pátio de São Pedro, na região central do Recife, começou na quinta-feira dia 12 de janeiro. Os ensaios para a folia, marcados pelo saudosismo e poesia dos antigos carnavais, são gratuitos e acontecem toda quinta até o dia 16 de fevereiro, semana anterior à abertura do Carnaval. Os blocos líricos têm como marca um coral de vozes femininas, acompanhado de uma orquestra de instrumentos como violão e bandolim. Surgido na década de 20, esse tipo de agremiação se inspira nas tradições europeias e capricha nas fantasias sofisticadas, diferenciando-se dos clubes e troças.


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CONVIDADO Presidente Michel Temer

Por que as contrarreformas de Michel Temer são injustas É preciso retomar o crescimento econômico o mais rapidamente possível, mas preservando a inclusão social Por Júlio Miragaya g

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O Brasil precisa retomar o quanto antes o crescimento econômico, mas não a qualquer preço, e sim promovendo a inclusão social e avançando na distribuição social e espacial da renda. Somos 207 milhões de habitantes, com contrastes sociais profundos; não obstante alguns avanços na última década, mais de 35 milhões de brasileiros permanecem na pobreza. A razão de quadro social tão grave é a enorme concentração da renda e da riqueza nas mãos de uma minoria. Segundo estudo da OXFAM, o 1% mais rico da população concentra cerca de 40% da riqueza nacional, ao passo que os 50% mais pobres detêm cerca de 3%. Nesse contexto, o Brasil persiste como um dos países de maior desigualdade, mas aqui há uma cortina de fumaça que esconde um dos principais mecanismos de concentração da renda e da riqueza: o nosso modelo tributário, altamente regressivo, economicamente irracional e socialmente injusto. Há que se destacar que em 1988, quando o povo brasileiro tentava se livrar do arcabouço da ditadura militar, a classe dominante teve que fazer uma concessão, ainda que pequena, permitindo a instituição de um tímido sistema de seguridade social e de educação pública, que hoje ela tenta destruir. Embora tímido, é este sistema que impede que, mesmo com forte queda do PIB e do nível de emprego, não


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Marcelo Camargo/Agência Brasil

tenhamos hordas de flagelados, saques de supermercados e quebra-quebras nas periferias das metrópoles nas dimensões que ocorriam em passado recente. Mas não há como atender as crescentes demandas sociais sem mexer em nosso arcaico modelo tributário. Não é problema e nem sequer é verdade que nossa carga tributária seja elevada ou tenha crescido de forma exagerada nos governos do PT. De 1988 a 2002, ela elevou-se de 26% para 33%, mas de 2003 a 2015, manteve-se rigorosamente neste percentual, tendo oscilado levemente para 35% em 2009. O problema reside em que 72% da arrecadação de tributos se dão sobre o consumo (56%) e a renda do trabalho (16%), ficando a tributação sobre a renda do capital e a riqueza com apenas 28%, na contramão do restante do mundo. Na média dos países da OCDE, por exemplo, a tributação sobre a renda do capital representa 67% do total dos tributos arrecadados, restando apenas 33% sobre consumo e renda do trabalho. Contudo, em lugar deste debate, direciona-se a discussão para uma suposta e inexistente gastança do setor público, em particular em relação às despesas com educação, saúde, previdência e assistência, responsabilizadas pelo aumento do déficit público, omitindo-se a razão maior, que são os gastos com juros da

dívida pública (responsáveis por 80% do déficit nominal), as excessivas renúncias fiscais, a frustração da receita em decorrência da crise, o baixo nível de combate à sonegação fiscal e a corrupção. Para buscar o reequilíbrio das contas públicas, propõe-se um conjunto de ações cujos efeitos negativos recairão sobre os mais pobres e a classe média. A ampliação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) para 30%, e sua extensão para estados e municípios, e a emenda do teto dos gastos (PEC 55), que estabeleceu o congelamento em valores reais das despesas, incluindo os recursos destinados à saúde e à educação, resultarão em profundos cortes nos gastos sociais, sendo que o atual volume de recursos já é insuficiente para ofertar à população um serviço de melhor qualidade e que atenda de forma plena a demanda. Na área de saúde, por exemplo, temos uma população que envelhece rapidamente, demandando recursos crescentes, e, segundo o Fórum Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde, a medida reduzirá em R$ 650 bilhões os recursos do setor nos próximos 20 anos. O “Novo Regime Fiscal” joga o ônus do ajuste sobre as camadas mais carentes de recursos e de oportunidades e provoca redução de direitos sociais já conquistados dentre os estabelecidos em nossa Constituição.

Também a proposta de reforma trabalhista pode representar perda de direitos para dezenas de milhões de trabalhadores. O projeto de lei da terceirização, por exemplo, reverterá o avanço conseguido nos últimos anos na formalização das relações de trabalho, trazendo a precarização dessas relações. Também a prevalência do negociado sobre o legislado ameaça conquistas trabalhistas de milhões de trabalhadores, especialmente daqueles integrantes de categorias profissionais pouco numerosas e, consequentemente, representadas por sindicatos com reduzida capacidade de mobilização e negociação. Outro retrocesso vem com a proposta de reforma previdenciária. A Previdência Social começou a ser instituída no Brasil em 1923 (com a chamada Lei Elói Chaves), portanto, há 93 anos, e é inadmissível que se busque alterar de forma tão profunda um sistema que funciona no país há quase um século “a toque de caixa”. Ademais, é inaceitável que mudanças na Previdência Social que afetarão a vida de dezenas de milhões de brasileiros fiquem a cargo de um Congresso Nacional absolutamente ilegítimo, corrupto, eleito pelo poder econômico e o mais conservador desde 1964, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP).

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A proposta do Governo foca exclusivamente nas despesas, desprezando as receitas. Aliás, o equacionamento do financiamento da Previdência Social deveria começar exatamente pela receita. Também deve ser destacado o caráter conjuntural da queda da arrecadação previdenciária, decorrente da forte queda do nível de emprego em 2015 e 2016, pois tão logo a economia retome seu ritmo de crescimento, com a recuperação dos empregos formais perdidos durante a crise econômica, a receita previdenciária dos trabalhadores urbanos deverá retomar o patamar existente anteriormente à crise. Outra falácia da proposta governamental é a de que a Previdência Social apresenta enorme déficit. O que ocorre é que o governo, propositalmente, omite que a Constituição Federal, em seu art. 195, previu um sistema tripartite, com empregados, empregadores e governo contribuindo para custear a Seguridade Social (que inclui a Previdência Social), e esta é superavitária. O governo recorre ao discurso falso e terrorista de que a reforma previdenciária é necessária e inadiável e que, se não for feita logo, não haverá dinheiro para pagar os benefícios. De forma cínica, analistas reconhecem que ela é impopular (segundo pesquisa do SPC Brasil, 73% são contrários) e, sendo assim, deve ser feita logo, por um governo impopular e em ano não eleitoral. A proposta do governo veio ainda mais draconiana que o esperado. Equiparam-se, para efeito de aposentadoria, as mulheres aos homens e os trabalhadores rurais aos urbanos; propõe-se a desvinculação do salário mínimo em diversas situações, como o Benefício da Prestação Continuada (BPC); eleva-se a comprovação de contribuição previdenciária de 15 para 25 anos e, o mais grave, para 49 anos de contribuição para obter o direito ao benefício integral. Caminha-se para uma proposta de Reforma Previdenciária que representa injustiças, sobretudo com a população mais pobre, ao se buscar elevar a idade mínima para aposentadoria ao patamar praticado em países com expectativa de vida bem superior à brasileira. Como sugerir que o trabalhador rural se aposente aos 65 anos se a expectativa de vida dessa população, no Norte-Nordeste, é de 63 anos? Em suma, o país precisa retomar o crescimento econômico, mas preservando a inclusão social dos últimos anos e avançando na distribuição da renda. Experiência de crescimento do PIB, com exclusão social, tivemos no início da década de 1970, o “Milagre Econômico” sob a ditadura militar, feito a partir da retirada de direitos, da repressão política e de uma brutal concentração da renda. Não é este, certamente, o desejo de nosso povo. g

Júlio Miragaya é presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon)


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Leonardo Ramos é professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Potências Médias (GPPM). Este artigo foi publicado originalmente em www. brasilnomundo.org.br

Wikimedia Commons

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Brasil e Estados Unidos: livre comércio à vista? Trump vem aí, e Temer e Serra buscam inserir o Brasil no cenário internacional de uma forma subordinada Por Leonardo Ramos g

Em 7 de dezembro, ocorreu a 34ª reunião plenária do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (Cebeu). Fundado em 1976, o Cebeu é o mais conhecido e mais antigo espaço de articulação empresarial entre Brasil e Estados Unidos. Por ocasião da reunião, foi entregue a Marcos Pereira, atual ministro do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), uma proposta elaborada conjuntamente pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), U.S. Chamber of Commerce e Câmara Americana de Comércio do Brasil (AmCham Brasil). Tal Roteiro para o Alcance de um Acordo de Livre Comércio é visto como um importante passo nas negociações bilaterais entre Brasil e EUA rumo ao estabelecimento de uma agenda mais ampla de liberalização comercial e de investimentos entre os países. De maneira geral, o Roteiro apresenta dois grupos amplos de iniciativas: (i) negociações visando o estabelecimento de um amplo acordo de parceria econômica entre Brasil e EUA, incluindo acesso a mercado de bens, regras de origem, agricultura, medidas (fito)sanitárias, barreiras técnicas ao comércio, subsídios, comércio de serviços, investimentos, propriedade intelectual, e mecanismos de solução de controvérsias; e (ii) uma série de temas que podem ser implementados bilateralmente no curto prazo, paralelamente às negociações mais amplas. Esta é a primeira vez que setores privados de ambos os países elaboram um estudo desta natureza, e o objetivo deste grupo é que o Roteiro seja debatido na reunião entre as autoridades brasileiras e estadunidenses em 2017 (há uma reunião prevista entre MDIC e DOC para a primeira semana de abril de 2017).

Da perspectiva destes setores empresariais, os EUA seriam um parceiro extremamente significativo pra o Brasil, já que ocupa atualmente o segundo lugar dentre os principais destinos das exportações brasileiras. Além disso, estudos feitos pela Fundação Getúlio Vargas a pedido da AmCham afirmam que um acordo de livre comércio entre Brasil e EUA seria importante para a integração do Brasil nas Cadeias Globais de Valor (CGV). Neste ponto é fundamental destacar que, embora seja um termo sempre presente, em nenhum momento tais “cadeias globais de valor” são descritas em detalhe, ou é dito que “elo” de tal cadeia corresponderia ao Brasil, hoje ou em um futuro hipotético. Em última instância, as CGVs são uma espécie de Shangri-La, onde todos querem chegar mas não sabem muito bem como fazê-lo. Em suma, tal iniciativa, embora tenha se originado na esfera privada, se encontra intimamente relacionada a um tópico central da política externa do governo Temer: no caso, a crítica à política externa adotada pelo Brasil durante os governos petistas. Nos termos da “quinta diretriz de política externa” anunciada por José Serra quando de sua posse como ministro de Relações Exteriores, ao priorizar as negociações multilaterais na área comercial (ênfase nas negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio) os governos petistas teriam deixado o Brasil de fora das “grandes negociações contemporâneas” dos Acordos Preferenciais de Comércio (PTAs), das quais são exemplos a Parceria Transpacífico (TPP) e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTPI) capitaneadas por EUA e União Europeia.

Como consequência de tal comportamento supostamente negligente com relação às mudanças na economia mundial, o Brasil amargaria contemporaneamente uma posição significativamente periférica nas tão sonhadas CGVs. Neste sentido, e tendo em vista o contexto internacional contemporâneo, na visão de tais elites (bem como do governo Temer) o Brasil deveria buscar alternativas à estratégia multilateral, que vem sofrendo com o Brexit e a eleição de Donald Trump, por exemplo. Assim, um acordo de livre comércio com os EUA, por exemplo, ajudaria o Brasil não apenas a exportar mais mercadorias e serviços para o mercado estadunidense, mas também a se integrar às CGVs “por meio de importações de intermediários com mais conteúdo tecnológico”, que poderiam ser reexportadas para tal mercado (Alternativas do Brasil – AMCHAM, p. 10). Mas nem tudo são flores – se é que há alguma flor neste charco. De fato, duas questões devem ser consideradas. Primeiro, as incertezas políticas tanto acima quanto abaixo do Rio Grande: acima, do lado dos EUA, Donald Trump se elegeu afirmando que retiraria os EUA do TPP. Assim, caso seu discurso de campanha se concretize – mesmo que minimamente – em práticas políticas, é de se esperar um esfriamento de iniciativas como as propostas pelo Roteiro. Já abaixo, do lado do Brasil, embora a (re)aproximação com os EUA seja um dos pontos de destaque da política externa do governo Temer, sua baixa legitimidade interna, associada às crises políticas correntes, parece limitar sua capacidade de negociar tratados de maior robustez. Neste sentido, é provável que, das negociações apresentadas pelo Roteiro,

ganhem destaque aquelas associadas aos temas de menor escopo, passíveis de implementação no curto prazo – o que acabaria reproduzindo a “oitava diretriz de política externa” do governo Temer: “Com os Estados Unidos, confiamos em soluções práticas de curto prazo, eu repito, para a remoção de barreiras não-tarifárias, e de regulação que entorpecem o intercâmbio”. Segundo, a economia política de negociações desta natureza. Em última instância, embora para alguns possa parecer uma novidade, os argumentos subjacentes ao Roteiro acabam reproduzindo uma agenda de política externa já conhecida, defendida por certos setores da sociedade brasileira (muitos deles ativamente presentes no golpe e hoje significativamente representados no governo Temer) que enxergam na parceria econômica com “parceiros tradicionais” como os EUA não apenas o aumento dos fluxos de investimentos para o Brasil, mas também a entrada do Brasil nas idílicas CGVs. Em suma, tal parceria seria um passo sine qua non para a retomada do crescimento. Ora, uma ação nestes termos implicaria possivelmente um retrocesso na política externa brasileira dos últimos anos, em especial quando pensamos em ações exitosas de inserção internacional que foram adotadas e que claramente rompiam com essa visão de política externa defendida pelo Roteiro – vide, por exemplo, BRICS, Unasul e os avanços do Mercosul. Ou seja: a despeito do ar de novidade, e dos “novos” termos utilizados (como as shangrilescas CGVs), o Roteiro – e as visões de mundo a ele subjacentes – parecem apontar para uma inserção internacional subordinada, disposta a abrir mão dos ganhos de autonomia auferidos nos últimos anos.


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ENTREVISTA Alex Ellis durante o Rock in Rio

No Brasil nĂŁo se pode antecipar nada, ĂŠ uma montanha-russa de surpresas


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Divulgação

Caro Embaixador, o senhor serviu no Brasil durante um período bastante “agitado”, digamos. Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, manifestações, impeachment, crise política e econômica... Qual é a avaliação que o senhor faz agora que está deixando o cargo? Eu vejo muita mudança. Muita mudança de nomes no poder, mas também mudança de atitude em relação à impunidade. Cheguei durante a fase de julgamento do ‘Mensalão’ e desde então tem sido forte o ataque a práticas tradicionais no Brasil, o que tem sido muito positivo. Outra coisa que tenho visto é a resiliência das instituições brasileiras e também do povo brasileiro. As instituições de maneira geral e os tribunais têm funcionado como devem funcionar. E ao mesmo tempo o povo consegue se adaptar (com dificuldades, é claro) a uma recessão enorme. O Brasil correspondeu às expectativas que o senhor tinha antes de assumir o cargo ou te surpreendeu em algum aspecto? O Brasil vende uma imagem meio estereotipada para fora, de praia, futebol, samba e carnaval. Como qualquer estereótipo, existem elementos verdadeiros. Mas o que eu descobri foi a criatividade. O Brasil talvez seja o país mais criativo onde eu vivi. E não só a elite, mas toda a gente. Criatividade pode ser uma coisa ruim ou boa, dependendo do contexto, mas em relação à arte, cultura, dança e música é absolutamente fantástico. É uma riqueza profunda. Acho que o Brasil pode mostrar ainda mais. Mostrou em parte durante as Olimpíadas, mas pode mais. Outro ponto é a complexidade do país. O Brasil é um país complexo. As pessoas aceitam e até gostam dessa complexidade. E o calor humano, que é um clichê, mas é importante. Quando eu cheguei, nas primeiras semanas fui ao supermercado comprar algumas coisas e tinha uma lista que não sabia direito, então um senhor me ajudou a encontrar o que eu precisava. Isso é uma das coisas que vai ficar na minha memória. Ainda vivemos um período de grande turbulência política e econômica. Em sua opinião, o Brasil pós-impeachment está mais perto ou mais longe de resolver seus problemas?

Ex-embaixador Alex Ellis fala sobre sua experiência em terras O Brasil passa por uma enorme recessão. brasileiras e o que espera da saída do Reino Unido da UE Sem resolver o déficit orçamentário é muito

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Por Guilherme Reis

Alex Ellis serviu como embaixador britânico no Brasil por três anos e meio. Foi um período, no mínimo, agitado, com Copa do Mundo, Olimpíada, impeachment, entre outros fatos mais ou menos gloriosos. Convidado para fazer parte da equipe que negociará a saída do Reino Unido da União Europeia, Alex Ellis deixou o posto brasileiro no mês passado – e que será preenchido por Dr. Vijay Rangarajan, ex-diretor para a Europa no Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido. Nesta entrevista exclusiva ao Brasil Observer, o ex-embaixador conta suas impressões sobre o Brasil e o que espera das negociações do Brexit.

difícil resolver outras questões econômicas. Tivemos uma situação parecida no Reino Unido em 2010 que obrigou uma forte política de redução de gastos, então acho isso inevitável e necessário para avançar. A questão da Lava Jato tem um grande apoio popular e precisa de mais tempo. Acho que o Brasil está avançando muito nesta área. O problema é que se você olha de um ano para o outro tem a sensação de que não avança. Mas olhe 20 anos atrás, no início da década de 1990, e verá que o país está totalmente transformado. Qual sua expectativa para o Brasil em 2017? Você vai continuar sugerindo que as empresas britânicas invistam no Brasil? Eu aprendi que no Brasil não se pode antecipar nada, é uma montanha-russa de

surpresas. Já temos enormes investimentos de empresas britânicas no Brasil: Shell, Unilever, BP, Land Rover... Nós somos o quarto maior investidor no Brasil. Então sim, eu digo que deve continuar investindo. Alguns investidores pararam por conta das incertezas políticas, o capital em geral não gosta de incertezas, mas eu acho que o Brasil é um país não só de potencial, mas tem um mercado consumidor grande, riquezas naturais e muitas oportunidades. Vejo uma oportunidade muito grande na área de serviços públicos básicos, educação, saúde... Mudando de assunto, o senhor agora vai ter um papel importante nas negociações do Brexit. O que o senhor pode adiantar sobre qual estratégia será adotada pelo Reino Unido? O voto foi claro e decisivo para nossa saída da União Europeia. A participação foi alta para nossos padrões (72%), então temos que avançar. Temos a realidade de hoje, somos membros da União Europeia, e temos um desejo muito grande do governo de manter uma relação muito próxima dos países membros da UE. Como chegar daqui para lá é a grande pergunta. Exige negociação. Temos de tentar resolver o maior número de problemas possível. Será possível fazer tudo em dois anos? Não é impossível, mas é difícil. Será que precisaremos de mais tempo? Teremos de criar um regime transitório? Essas são grandes questões. Tudo vai ficar mais claro ao longo das negociações. Não vai ser fácil. Há muitas incertezas sobre o futuro do Reino Unido por conta do Brexit, especialmente para os imigrantes. Que tipo de garantia os cidadãos europeus que já vivem no Reino Unido podem ter? Por enquanto nada muda. Os brasileiros com passaporte europeu no Reino Unido têm os direitos mantidos até o dia em que sairmos da União Europeia. O depois ainda vamos determinar. Temos sido um país aberto, não exigimos visto para o turista brasileiro, por exemplo. Os europeus precisarão de visto para entrar no Reino Unido? Depende do que a pessoa vai querer fazer, turismo ou trabalho. Evidentemente que os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido vão mudar quando sairmos da União Europeia. Vamos avaliar que direitos e oportunidades poderemos oferecer para os cidadãos da UE e de fora. Como o Brasil pode aproveitar esta situação do Brexit? Vejo nossa saída da União Europeia como uma grande oportunidade para fortalecer a relação com o Brasil. E acho que o Brasil também vê o Brexit como uma grande oportunidade, como disse o Itamaraty. O Brasil está se internacionalizando rapidamente e o Reino Unido, que já é um país internacional, vai se adaptar a uma nova realidade, se aproximando ainda mais de países como o Brasil. Já temos feito muita coisa e acho que a próxima década vai ser de ainda mais aproximação.


12 brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017

REPORTAGEM

Superlotação, violência e descaso: a tragédia anunciada nos presídios Brasil inicia 2017 com onda de rebeliões em penitenciárias de norte a sul do país. Os mortos já passam de uma centena

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Uma panela de pressão que explodiu. Aliás, que segue em processo de combustão. A metáfora é válida para ilustrar a situação do sistema prisional brasileiro neste início de 2017. Desde os primeiros dias do ano até o fechamento desta edição, passavam de cem os mortos em rebeliões em penitenciárias de sete estados. Chegava à casa da centena também a quantidade dos foragidos. De norte a sul do país, nas conversas em família, nos bares, na feira, na fila do banco, nos pontos de ônibus a sensação é a de que a situação está incontrolável. O tom pessimista, fatalista, predomina em tais rodas de conversas. Não para menos. O choque não é só pelas rebeliões, nem pela quantidade delas, que não deixa de ser assustadora. É principalmente pela violência, pela crueldade dos motins. As fotografias e os vídeos mostram homens decapitados, corpos esquartejados, quando não carbonizados. Revelam penitenciárias sob o domínio absoluto de facções. Confirmam ambientes superlotados, insalubres, muito longe de serem espaços de detenção de criminosos e de ressocialização de condenados. As imagens apresentam para o lado de fora das grades verdadeiros caldeirões, jaulas as quais em vez de recuperar seres humanos, puni-los por seus erros, os transformam em pós-graduados no crime, em feras irracionais. Contribui para a desolação geral a postura dos governantes. Na esteira das rebeliões, vêm denúncias de corrupção nas administrações das penitenciárias. Secretários de Estado, ministros, governadores e o presidente

Por Wagner de Alcântara Aragão

da República, quando não se omitem, afundam-se – e afundam o país – em declarações (e decisões) descabidas. Michel Temer, por exemplo, só se manifestou diante da matança de presidiários três dias depois da primeira rebelião que deu início à onda de motins, a de Manaus (AM), eclodida no segundo dia do ano. Minimizando os fatos, classificou a brutalidade evidente como um “acidente pavoroso”. As rebeliões seguintes – em Roraima, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Ceará, São Paulo, Pernambuco e Paraná – comprovaram que não se tratava apenas de um “acidente”. Trata-se de um caos absoluto. Maior aberração ainda foi a declaração do até então secretário nacional de Juventude do Governo Temer, Bruno Júlio, revelada pelo jornal O Globo. O titular da pasta, vinculada diretamente à Presidência da República e que deveria se basear em princípios humanitários, defendeu a matança em curso nos presídios. “Eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de polícia, né? Tinha que matar mais. Tinha que fazer uma chacina por semana.” Depois dessas estarrecedoras palavras e das naturais críticas que recebeu por tê-las dito, Bruno Júlio pediu demissão.

NEGAR NÃO RESOLVE Por sua vez, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e autoridades responsáveis pela administração dos presídios estaduais têm procurado rechaçar as evidências de que as cadeias brasileiras estão sob domínio de fac-

ções como Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC), Amigos dos Amigos (ADA) e Família do Norte. Pior: seguem negando que as prisões se tornaram praça de guerra entre essas facções, que, aliás, controlam negócios do lado de fora das grades (postos de combustíveis, cooperativas de transporte por lotação, tráfico de drogas, entre outros), fato também não admitido pelos gestores de segurança pública. Para especialistas na área, minimizar o poder dessas facções, e dessa forma não enfrentá-lo, não resolve o problema. Ao contrário. Se negar a gravidade da situação significa não assinar atestado de incompetência do Estado, tal omissão tem permitido com que as facções, antes concentradas no eixo Rio-São Paulo, espalhem-se pelo país, ampliando e acirrando a disputa entre elas, por domínio territorial. O próprio PCC, protagonista da atual onda de rebeliões, quando se constituiu, há mais de duas décadas, estava restrito a São Paulo. À medida que foram promovendo rebeliões, seus integrantes foram sendo transferidos para unidades em outros estados, e nelas se estabelecendo, ramificando-se.

MEDIDAS PALIATIVAS Não há mínimos sinais de que a crise será resolvida tão cedo. As medidas anunciadas até agora – o uso da Força Nacional de Segurança e a criação de um “grupo nacional de intervenção penitenciária” para combater os motins em andamento – estão soando mais como


brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017 13

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mesmo com a suspensão de visitas aos detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, familiares formavam filas no dia 12 de janeiro para tentar entregar alimentos e roupas

ações protocolares e paliativas. Até porque entre o anúncio de tais medidas e a efetiva implementação delas a matança e as fugas seguem em massa. O uso da Força Nacional de Segurança, por exemplo, foi decidido pelo governo em 18 de janeiro, mas só no final do mês de fato integrantes do Exército, Marinha e Aeronáutica passaram a estar em ação. “Os homens [das Forças Armadas] estarão à disposição dos governadores para procurar e apreender armas, drogas, aparelhos celulares e outras substâncias e produtos ilícitos”, declarou à imprensa o ministro da Defesa, Raul Jungmann. Especialistas em segurança pública e juristas têm o pé atrás quanto à atuação das Forças Armadas em distúrbios civis e urbanos, como as rebeliões em presídios. Em tese inconstitucional – a segurança pública ostensiva é dever das unidades de federação e suas polícias –, o uso das Forças Armadas é questionado porque militares do Exército, Marinha e Aeronáutica são preparados para combates com inimigos externos, em situações de conflitos bélicos. Em desvio de função, é grande o risco de cometerem excessos. O presidente Michel Temer, em declaração pública, argumentou que os homens das Forças Armadas não entrarão em contato com rebelados. “[As Forças] não terão evidentemente contato com os presos, mas terão, isto sim, a possibilidade da inspeção em todos os presídios brasileiros.”

PLANO NACIONAL Como que buscando dar uma resposta à assustada sociedade, o Ministério da Justiça anunciou também um conjunto de objetivos e medidas a compor um Plano Nacional de Segurança Pública. Em teoria, o plano fala em três propósitos básicos: “redução de homicídios dolosos e de feminicídios; o combate integrado à criminalidade organizada internacional (em especial tráfico de drogas e armas) e ao crime organizado dentro e fora dos presídios; e a racionalização e modernização do sistema penitenciário”. Apesar de, em tese, inspirar otimismo, ao se analisar a realidade tem-se o pé atrás quanto à viabilidade e a efetividade de um plano como esse anunciado no calor do pavor nacional. Primeiro, porque o plano dá muita ênfase a operações de forças de segurança, ignorando que a violência pública decorre acima de tudo de problemas sociais como a desigualdade econômica, o desemprego, a falta de perspectivas. Segundo, porque é de se perguntar como um governo que fez de tudo, e conseguiu aprovar no Congresso, uma emenda constitucional que congela os investimentos públicos por 20 anos, poderá agora sustentar um plano que requer, evidentemente, recursos financeiros extraordinários. Ademais, na avaliação de especialistas

e de entidades como a Pastoral Carcerária, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a atual tsunami de motins nos presídios brasileiros é mais do que uma crise conjuntural, a ser resolvida com medidas pontuais. É, na verdade, resultado da falência do sistema prisional do país. Em nota divulgada no último dia 24, a Pastoral Carcerária denuncia a “sistemática violação de direitos” nas penitenciárias, pano de fundo da violência agora escancarada nas rebeliões que se sucedem desde janeiro. “O principal produto do sistema prisional brasileiro sempre foi e continua sendo a morte, a indignidade e a violência”, frisa a nota. “Esse massacre se desenrola há tempos.” A Pastoral Carcerária continua: “Em números bastante subestimados, fornecidos pelas próprias administrações penitenciárias, no mínimo 379 pessoas morreram violentamente nas masmorras do país em 2016, sem que qualquer ‘crise’ fosse publicamente anunciada pelas autoridades nacionais (...) Não foi por falta de avisos ou ‘recomendações’ que as pessoas privadas de liberdade deixaram de ser mortas e vilipendiadas em sua dignidade.”

TORTURA A Organização das Nações Unidas (ONU), em relatório divulgado em agosto de 2015, já alertava para os riscos de explosão do sistema prisional brasileiro. Inspe-

ções feitas pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU apontavam que a prática de tortura nas detenções era “endêmica”, assim como a superlotação das cadeias. A população carcerária cresceu rapidamente nas últimas décadas, fazendo com que o Brasil seja hoje o quarto país do mundo em número de presidiários. O aumento da população carcerária não foi, entretanto, acompanhado da expansão da infraestrutura do sistema. Agora em janeiro, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH), diante da onda de motins nos presídios brasileiros, reafirmou essa avaliação de caos do sistema carcerário do Brasil. O representante regional para América do Sul da ACNUDH, Amerigo Incalcaterra, em nota oficial condenou os massacres em curso, pedindo “imediata investigação dos fatos, visando à atribuição de responsabilidades pela ação e omissão do Estado, principal responsável pelos presos sob sua custódia”. Diz o representante da ONU: “A ausência de implementação de uma política penal e carcerária de acordo com as normas internacionais de direitos humanos no Brasil tem sido apontada de forma reiterada pelos órgãos das Nações Unidas, o que leva a uma crescente crise do sistema penitenciário no país. Essa crise é evidenciada pelos recentes episódios de massacres”.


14 brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017

Brexit

As condições em que o Reino Unido se retirar da UE podem permitir políticas imigratórias mais restritivas para europeus

como a redução da imigração pode afetar as contas públicas do Reino Unido A redução da imigração líquida faz com que a população diminua e altere sua composição. As consequências podem vir tanto do lado das receitas quanto das despesas Por Ian Preston g

A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) terá altos custos fiscais e uma grande parte disso será consequência do que acontecer com o número de imigrantes. Essa foi a conclusão do último estudo “Economic and Fiscal Outlook” (Panorama Econômico e Fiscal) realizado pelo Escritório de Responsabilidade Orçamentária (Office for Budget Responsibility) publicado no final de novembro – o primeiro desde o referendo de junho. O mesmo foi iluminado ainda mais por uma análise complementar publicada no dia 8 de dezembro. Mais precisamente, prevê-se que o Brexit vai gerar um aumento acumulado de 59 bilhões de libras em empréstimos do setor público nos próximos cinco anos – dos quais 16 bilhões de libras são atribuídos à redução da imigração devido ao equilíbrio desfavorável entre os seus efeitos nas receitas fiscais e gastos governamentais. Enquanto o impacto negativo de outros fatores do Brexit deve atingir um pico em 2018-19, prevê-se que o efeito da imigração continue a aumentar até 2020-21.

O QUE ACONTECERÁ COM A IMIGRAÇÃO

Ian Preston é Professor do Departamento de Economia da University College London. Este artigo foi publicado originalmente pelo site The Conversation (www.theconversation.com). g

A queda provável da imigração é difícil de quantificar, dada a incerteza sobre as negociações do Brexit. A mudança de atmosfera política desde a votação pode desencorajar a imigração, uma vez que os potenciais imigrantes esperam uma recepção menos acolhedora. Eventualmente, as condições em que o Reino Unido se retirar da UE podem permitir políticas imigratórias mais restritivas para as chegadas de cidadãos europeus. Sem o Brexit, a estimativa de imi-

gração futura aumentaria em cerca de 80.000 por ano. Este número é influenciado pelos recentes níveis elevados de imigração. Levando em conta o resultado do referendo, este aumento já não acontecerá, de acordo com o estudo. Essa redução está longe de satisfazer a aspiração declarada do governo de cortar a imigração líquida para dezenas de milhares, então pode ser que as consequências fiscais do Brexit estejam subestimadas substancialmente. Por outro lado, esse alvo é politicamente controverso e visto como incrivelmente ambicioso – ou praticamente impossível. A redução da imigração líquida faz com que a população diminua e altere sua composição. Uma vez que os imigrantes são em sua maioria jovens bem educados que chegam para trabalhar, a população ficaria mais velha e menos susceptível a participar do mercado de trabalho. As consequências sobre as finanças públicas podem vir tanto do lado das receitas quanto das despesas.

IMPACTO SOBRE AS RECEITAS FISCAIS O efeito deletério no lado das receitas é mais fácil de entender. Uma população menor significa menos atividade econômica sobre a qual impostos são cobrados. Dado que os imigrantes tendem a ser mais jovens do que o cidadão médio do Reino Unido, a entrada reduzida de imigrantes deve gerar um declínio na taxa de emprego, o que reduziria ainda mais as receitas fiscais. Como o influxo continuará reduzido ano após ano, o efeito sobre a população vai se acumular, razão pela qual o efeito anual sobre as receitas fiscais seguirá crescendo.

De acordo com o estudo, cerca de metade do impacto negativo sobre as receitas fiscais vem através de impostos de renda e contribuições previdenciárias mais baixas, e cerca de um quarto através de menores receitas fiscais sobre o consumo, como o VAT. Até 2020-21, a queda acumulada nas receitas fiscais deverá atingir 17,3 bilhões de libras. Este é o fator mais importante a impulsionar o aumento de 16 bilhões de libras na previsão de empréstimos por conta da menor entrada de imigrantes causada pelo Brexit.

POUCA MUDANÇA NOS GASTOS Do lado da despesa, as coisas são mais complicadas. As despesas com benefícios sociais são tratadas como sensíveis à imigração porque as reivindicações são afetadas pelo tamanho e pela composição da população, embora a despesa média com o bem-estar social dos imigrantes seja menor do que com a população como um todo. Até 2020-21, as despesas de bem-estar acumuladas deverão ser menores em 2,1 bilhões libras como resultado da menor imigração. Ao mesmo tempo há um aumento de 0.6 bilhão de libras com pagamentos de juros da dívida em consequência das receitas fiscais mais baixas. No entanto, a maior parte dos gastos – em serviços públicos como educação, saúde, segurança etc. – está fixada por planos anteriores. De acordo com o estudo, a redução da imigração não levará a cortes nos gastos com esses itens no horizonte considerado. É claro que os imigrantes têm o direito de usar os serviços públicos, ainda que, contrariamente à percepção popular,


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David McKelvey

FEVEREIRO

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As projeções do Escritório de Responsabilidade Orçamentária ignoram muitos possíveis efeitos econômicos da imigração. Se a imigração afeta os salários dos trabalhadores britânicos ou os retornos do capital, se isso afeta a inovação e a produtividade, ou se afeta os custos da prestação de serviços públicos. Embora o estudo indique que menos imigração pode reduzir a demanda habitacional e reduzir os preços das casas, não há considerações a respeito dos efeitos sobre as receitas do imposto stamp duty, por exemplo. As projeções também não consideram mudanças na composição dos imigrantes. Se os imigrantes menos qualificados são mais desencorajados pelo Brexit do que os imigrantes altamente qualificados, então as consequências fiscais podem ser menos pessimistas, uma vez que os imigrantes desanimados pagariam menos impostos. No entanto, as reduções necessárias para aproximar o governo do seu objetivo de imigração líquida em dezenas de milhares teriam de cobrir além das pessoas pouco qualificadas. Os imigrantes internacionais são, em geral, o tipo de indivíduos produtivos e economicamente motivados que os governos deveriam atrair. Fazer do país um lugar menos acolhedor e adicionar burocracia às relações econômicas com seus vizinhos mais próximos não é uma rota promissora para atrair os imigrantes mais fiscalmente lucrativos.

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Talvez seja útil comparar os números do estudo com as projeções dos economistas Christian Dustmann e Tommaso Frattini. Seus cálculos sugerem que a imigração para o Reino Unido a partir do Espaço Econômico Europeu (EEE) durante o período 2001-2011 beneficiou o Tesouro em cerca de 22 bilhões de libras – com os impostos pagos superando os gastos em 34%. Ao longo do período considerado, o benefício líquido foi da ordem de 3 mil libras por imigrante adicional por ano (preços de 2011). Para comparar, o estudo prevê um aumento de 16 bilhões de libras com empréstimos durante 2016-2021 para cerca de 1,2 milhão menos imigrantes por ano. Isto sugere um impacto previsto de 13 mil libras por imigrante ausente por ano. Trata-se de um número significativamente maior, mas isso acontece porque é uma resposta a uma pergunta diferente e avaliada em um período diferente que vem depois de uma década de crescimento e aumento

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dos preços. Entre 2011 e 2021, o estudo prevê que o PIB nominal aumente em cerca de 40%.

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haja pouca evidência de que eles façam demandas excessivas. Assim, a redução da imigração sem qualquer mudança nas despesas planejadas significa que a pressão sobre esses serviços públicos poderá diminuir um pouco. A queda do número de pessoas não está sendo compensada por cortes nos gastos com esses serviços e o aumento projetado do endividamento não pode, portanto, ser diretamente interpretado como o custo das mudanças imigratórias. O estudo faz uma previsão de empréstimo, não avaliando o custo da menor imigração após o Brexit.

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16 brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017

CONECTANDO Amanda Baroni

Lindy Hop

com sotaque carioca Danรงa dos anos 1920 nascida no Harlem, em Nova York, vem conquistando cariocas que amam o passado Por Luciana Bezerra


brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017 17

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Domingo de sol e calor no Rio de Janeiro, dia perfeito para uma praia ou um passeio em um parque da cidade. Mas, para um grupo de fãs de jazz e Lindy Hop, é uma oportunidade para dançar e fazer uma viagem ao passado. Todo primeiro domingo do mês é dia de Swingin’ on Sundays, evento que já se tornou tradição e existe há dois anos. O Lindy Hop é uma dança afro-americana que remonta as décadas de 20, 30 e 40 e une pessoas que amam o estilo e movimentam a cena vintage em todo o mundo. Os Estados Unidos e a Europa são as regiões onde o Lindy Hop é mais forte, mas para quem não sabe, a cena do Lindy Hop no Brasil vem crescendo muito nos últimos anos. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e agora também o nordeste, terra do forró, já têm seus primeiros passos de swing que são marcados por um bounce viciante, com bases tradicionais de movimentos, mas que permite que você use a criatividade e seu freestyle em nome da diversão. Que o Rio é muito conhecido pelo samba e carnaval, todo mundo sabe, mas um baile de Lindy Hop é algo inesperado. O Lindy Hop começou na cidade em 2008 com poucos alunos, mas muita vontade de dançar, dando início a um movimento que hoje conquista cada vez mais novos hoppers e deixa turistas surpresos ao ver que não temos só samba no pé. Foi o caso de Peter Saunders, 55, britânico que já veio ao Brasil mais de 10 vezes e conheceu o Lindy

Hop em 1995, em Londres. Mais uma vez em visita ao Rio, aceitou o convite de uma amiga para conhecer o Swingin’ on Sundays, no dia 8 de janeiro, que para ele foi uma surpresa. “A atmosfera foi tão relaxante e simples que me senti em casa. Boa estrutura para dançar. Grupo bem receptivo e que curte uma cultura de fora, mas com o seu estilo próprio e toque brasileiro. No meu voo, eu assisti ao filme ‘Café Society’, de Woody Allen, sobre a época de ouro e, ao chegar ao evento, me senti como no filme. Eu recomendo a todos que viajam para o Rio e gostam de Lindy Hop e jazz”, comentou Peter. O evento acontece no Castelinho do Flamengo, um prédio que por si só é vintage, do século 20 e histórico na cidade do Rio, contrastando com outras construções mais modernas no litoral da cidade. O evento começa com a exibição de um curta relacionado à história do jazz ou Lindy Hop, seguido de uma aula aberta, com os passos básicos da dança e depois um super baile até o final. E não tem essa de iniciantes e avançados, todo mundo dança. Cinthia Santos, 30, uma das organizadoras do evento e do movimento Lindy Hop no Rio reforça a importância de ter um evento gratuito: “É muito bom porque nem todos podem pagar as aulas e é aberto a todos com o objetivo de promover o Lindy e o acesso à dança. É um dos eventos mais receptivos que temos e o lugar é tão lindo que traz todo clima vintage junto”, disse Cinthia.

Gabriela Novellino, 25, já pratica Lindy Hop há mais de quatro anos e atualmente é uma das professoras, além de ser premiada em várias competições no Brasil e fora do país. Segundo ela, o evento no Castelinho é muito importante. “O lugar é lindo, tem um chão de madeira ótimo, tem um feeling vintage e para o movimento é muito importante ter um baile mensal com aulas começando do zero para as pessoas conhecerem e saberem o que é. É um evento muito importante para a cena do Lindy Hop”, afirmou Gabs, como é conhecida pelo pessoal. Além deste evento mensal, a cena de Lindy Hop no Rio é movimentada por outras atividades, como o Pic Lindy (encontro mensal em parques da cidade), Jazz na Rua, Lindy na Lapa (prática semanal), além das turmas frequentes organizadas pelos grupos Lindy Riot e Luiz & Denise danças. Além de ser uma dança, o Lindy Hop é algo mágico para as pessoas que praticam, por unir jovens que amam uma época em que não viveram e sentem que a conexão não está somente no casal na hora da dança, mas na amizade que fazem, além de conhecerem pessoas de outros estados e países quando viajam para dançar. De acordo com Lucas Merquior, 27, dançarino de Lindy Hop, a cena vintage no Rio é muito inspiradora, mas ainda é pequena e o evento Swingin’ on Sundays é muito importante para a divulgação e ampliação do universo vintage.

Não dá pra dançar sem uma boa música tocando, ao som de ukulele, contrabaixo acústico, banjo e outros instrumentos clássicos. Essa é a fórmula de sucesso do som do Digga Digga Duo, dupla que arrasa nas festas vintage do Rio e faz todo mundo dançar ao som de clássicos do foxtrot e charleston dos anos 20 e 30. A dupla se apresenta nos locais mais charmosos do Rio e além de tocar clássicos antigos, eles trazem todo revivalismo através do estilo, dos instrumentos e também contando as histórias das músicas e o contexto em que foram criadas. E para quem curte um som mais lento, de rosto colado, tem blues também, com a Caravana Cigana do Blues, banda com um repertório de qualidade (B.B. King, Etta James, entre outros) e o vocal marcante de Sonja, que leva todo pessoal do Lindy para a pista de dança.

Divulgação

BANDAS QUE AGITAM A CENA

Digga Digga Duo

CONECTANDO é um projeto criado pelo Brasil Observer que busca fomentar experiências de comunicação ‘glocal’. Em parceria com universidades e movimentos sociais, nosso objetivo é fazer com que pautas locais atinjam uma audiência global. Para participar e/ou obter mais informações, escreva para contato@brasilobserver.co.uk


18 brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017

DICAS

Música La Linea anuncia atrações de 2017

O festival La Linea retorna em abril com uma mistura de estrelas em ascensão e estrelas consagradas da música latina. Comemorando seu 17º aniversário, o La Linea foi criado pelo coletivo Como No em 2001 para mostrar a contribuição latina ao mundo musical e celebrar novos artistas, novas colaborações e novos projetos. La Linea também reconhece e comemora o crescente status de Londres como uma das grandes cidades latinas do mundo, lar de muitos artistas latinos e um público diverso. O festival acontece em abril em diversos locais no centro de Londres, desde clubes a salas de concerto, apresentando sons do México, músicas tradicionais da Colômbia, rock e rumba da Espanha, jazz de Cuba, tango argentino misturado com ópera, indie-mambo psicodélico das terras fronteiriças EUA/ México e música eletrônica latina de Londres. As atrações anunciadas até agora: 18 de abril Julieta Venegas – Barbican Hall 20 de abril Future Latin Sounds – Concrete, E1 21 de abril Antonio Zambujo canta Chico Buarque – Cadogan Hall 21 de abril Orkesta Mendoza – Rich Mix 23 de abril Estopa – Shepherds Bush Empire 25-29 de abril Violetta’s Last Tango – Wilton’s Music Hall 28 de abril Totó La Momposina y sus Tambores – Cadogan Hall 29 de abril Eiane Correa & London Lucumi Choir – Rich Mix Informações e ingressos em www.lalineafestival.com g

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Seu Jorge em homenagem a David Bowie

Seu Jorge é um dos artistas mais talentosos e aclamados do Brasil, tendo chamado a atenção internacional pela primeira vez como um dos protagonistas do filme Cidade de Deus e, em seguida, como o enigmático cantor de músicas de David Bowie no filme The Life Aquatic. No filme, Seu Jorge executa as músicas de Bowie, incluindo Rebel Rebel, Life On Mars? e Starman, acompanhado de seu violão. Em uma homenagem profundamente pessoal, o cantor e compositor brasileiro coloca sua toca vermelha para levar sua audiência a uma viagem emocional através de suas versões de David Bowie. Tudo isso no encantador Royal Albert Hall. Quando: 30 de maio Onde: Royal Albert Hall Entrada: A partir de £25 Info: www.royalalberthall.com

teatro Condor Theatre apresenta ‘Don Quixote in Algiers’

Muitos anos antes de “Dom Quixote” ter surgido, enquanto servia como soldado, Miguel de Cervantes foi capturado por piratas e levado para Argel. Depois de cinco anos vivendo como um escravo e quatro tentativas de fuga mal sucedidas, seu resgate foi pago e ele voltou para sua família em Madrid. Anos após a sua libertação, Cervantes escreveu “The Captive’s Tale”; uma das histórias de “Dom Quixote de la Mancha”. “Don Quixote in Alger” estreia no recentemente renovado White Bear Theatre, no sul de Londres, e reedita “The Captive’s Tale”, enquanto se inspira em outras obras de Cervantes e também em Arabian Nights (um dos primeiros exemplos “storytelling” na literatura) para criar esta nova peça. Parte história real, parte ficção, a peça usa elementos da história e da biografia de Cervantes para imaginar uma relação longa, desconfortável e tensa que ressoa ideias e tensões contemporâneas. Ricamente detalhado e convincente na criação de seu mundo, este trabalho atmosférico é rico com linguagem lírica e emoção humana. Quando: 7 de fevereiro a 4 de março Onde: The White Bear Theatre Entrada: £15 Info: www.whitebeartheatre.co.uk

EXPOSIÇÃO Tapetes voadores da floresta tropical

Nesta exposição Cristina Schleder apresenta uma de suas atuais pesquisas e produções artísticas, intitulada Os ‘The Flying Carpets of the Rain Forest’. Sua paixão pela natureza lhe permitiu penetrar na floresta. Estes são os elementos essenciais da sua produção artística desenvolvida nos últimos anos com o objetivo de criar uma obra singular e incomum. O trabalho criado e apresentado neste compêndio visual enobrece detalhes que existem na singularidade da Mata Atlântica brasileira, apresentada pela artista em uma linguagem única em termos de seus resultados artísticos e da técnica utilizada. O resultado é um trabalho pictórico com características precisas, como o contraste entre luz e escuridão, estrutura, composição de cor, desdobramento espacial, perspectiva de fundo, transparência, uma mistura entre abstração e figuração. O trabalho é, no entanto, fotográfico e criado por Cristina Schleder como resultado de uma busca que brota de seu impulso subjetivo. Isso permite que ela descubra e veja detalhes que eram previamente desconhecidos, ou despercebidos por olhares desatentos. Quando: 10 a 23 de fevereiro Onde: Embaixada do Brasil em Londres Entrada: Gratuita Info: www.brazil.org.uk


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COLUNISTAS FRANKO FIGUEIREDO

Na próxima vez que você for ao teatro, experimente o ‘fringe’

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No momento em que esta edição for impressa, minha produção de ‘Don Quixote in Algiers’ estará sendo encenada no White Bear Theatre (ver Dicas Culturais), um espaço “fringe”. Mas o que isso significa? O que é o London Fringe? O teatro fringe passou a ser conhecido no Reino Unido como uma apresentação teatral não convencional ou distinta do mainstream. Geralmente refere-se a espetáculos de teatro produzidos fora do West End. Em Nova York, é muitas vezes referido como off-Broadway. No Reino Unido, particularmente em Londres, há uma série de renomados teatros fringe que encenam peças novas e estimulantes, assim como reproduções de musicais antigos. Na verdade, muitas produções encenadas nesses locais íntimos têm sido transferidas para os palcos do West End. Por exemplo, a peça ‘BU21’ foi recentemente transferida do Theatre 503 para o Trafalgar Studios. Os teatros fringe vêm em todas as formas e locais, em cima de um pub ou dentro de seu próprio edifício, de pequenos teatros produzindo peças novas até grandes casas revivendo clássicos. Há muitos teatros apresentando trabalhos incríveis e contribuindo para a característica multifacetada de Londres. O teatro fringe é o pulso da cena teatral de Londres e fornece espaço ara muitas estrelas em ascensão. É no fringe que você vai encontrar a vanguarda do teatro contemporâneo. A cidade está viva e repleta de companhias emergentes de teatro, escritores, atores e diretores que fazem seus nomes no mundo fringe. Rufus Norris, atual diretor artístico do National Theatre, passou mais de dez anos trabalhando no fringe antes de dirigir em palcos maiores. O termo “fringe” se deve ao crescimento de produções teatrais não convencionais à margem do Festival de Edimburgo na década de 1940. Aparentemente, quando oito companhias de teatro apareceram no Festival Internacional de Edimburgo na esperança de obter o reconhecimento do público, um jornalista descreveu a situação como “o drama à margem do festival oficial”. E em 1947 foi fundado o primeiro Festival de Edimburgo Fringe.

O primeiro teatro “marginal” foi o Traverse Theatre em Edimburgo, um local que trouxe muita vitalidade ao drama britânico na década de 1960. A maioria dessas produções criticava o establishment e apelava para públicos mais jovens. No início dos anos 80, havia mais de 50 teatros fringe em Londres: Tricycle Theatre, Bush Theatre, Gate Theatre, The Hampstead Theatre e muitos mais. O que muitas pessoas não percebem é que, comparativamente, é tão caro produzir teatro marginal quanto algumas produções do West End. No fringe de Londres, pode custar vários milhares de libras por semana apenas para contratar um espaço, o que, financeiramente falando, é quase nada fringe. Algumas pessoas até parecem pensar que qualquer coisa produzida fora de Londres é fringe, e outros pensam que fringe é amador. Eles estão errados em ambos os casos: você vai encontrar as suas versões de teatro West End em muitas cidades em todo o Reino Unido, e o fringe é produzido por muitas empresas profissionais, algumas das quais são patrocinadas pelo Arts Council. O teatro fringe tem tantos tesouros escondidos que há algo para todos: o Union Theatre é especializado em musicais, enquanto The Finborough, The Brockley Jack, The White Bear e Theatre503 oferecem programas com peças novas e clássicas. New Diorama, Arcola e Southwark Playhouse abraçam a diversidade e a juventude. Há algo para todos. O fringe de Londres permanece radical, forte e vital, e como sempre um catalisador para provocar mudanças no teatro. Devemos celebrá-lo, indo visitá -lo com mais frequência. Da próxima vez que você decidir ir ao teatro, tente ir ao fringe. Na verdade, por que não vir apreciar ‘Don Quixote in Algiers’ no White Bear Theater? Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs g


brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017 21

HELOISA RIGHETTO

O que é feminismo interseccional? Muitas mulheres não se identificam com o feminismo porque partem do princípio de que essa é uma causa individual, e enxergam argumentos feministas como vitimismo. Afinal, se eu nunca tive grandes problemas com o machismo, por que vou levantar essa bandeira? Se eu escolhi ser dona de casa e cuidar dos meus filhos, ou se eu tenho um emprego que me paga bem e posso focar na minha carreira, se eu nunca sofri assédio ou nunca fui discriminada por ser mulher, se meu companheiro me respeita e se a vida é boa assim, como o feminismo vai mudar na minha vida? A resposta é: o feminismo não é sobre você, o feminismo é uma causa coletiva que busca desfazer desigualdades plantadas há séculos por uma sociedade patriarcal. Muitas vezes, mulheres privilegiadas (algo que sempre procuro ressaltar), ou seja, mulheres brancas, de classe média, que tiveram acesso à educação de qualidade, que são heterossexuais e cisgênero, não sentem os efeitos dessas desigualdades da mesma maneira que mulheres que não possuem esses privilégios. Mesmo depois de nos

descobrirmos feministas (geralmente em decorrência de uma experiência pessoal), ainda há dificuldade em reconhecer que não, não estamos todas no mesmo barco. Sim, somos todas feministas, mas as necessidades de algumas mulheres, que além do machismo enfrentam outras opressões (racismo, xenofobia, lesbofobia), devem ser tratadas como prioridade por todas nós. E a vertente do feminismo que abraça essa teoria é o feminismo interseccional. O termo “interseccionalidade” apareceu pela primeira vez em 1989, em um livro da professora norte-americana Kimberlé Crimshaw: “A visão de que as mulheres experimentam a opressão em configurações variadas e em diferentes graus de intensidade. Padrões culturais de opressão não só estão interligados, mas também estão unidos e influenciados pelos sistemas intersecionais da sociedade. Exemplos disso incluem: raça, gênero, classe, capacidades físicas/mentais e etnia.” Mas o que isso significa na prática? Primeiramente é preciso repensar a questão das escolhas. Há quem ache g

que ser feminista é sinônimo de ser livre para escolher. Esse é um tema delicado, pois nossas escolhas geralmente estão interligadas com a cultura machista e com privilégios. E afirmar que ser feminista equivale à liberdade de escolher é ignorar milhões de mulheres que, antes de terem o luxo de poder escolher, precisam sobreviver. E não basta reconhecer os privilégios. É preciso utilizá-los para beneficiar mulheres que tem experiências de vida tão diferentes das nossas. Da mesma maneira que nos atinge o comportamento machista dos homens, a maneira que nós – as mulheres privilegiadas – moldamos nossa luta pode ser muito negativa para quem vem enfrentando opressões acumuladas desde que nasceu. Precisamos entender que muitas das conquistas que atribuímos ao feminismo foram feitas sem levar em consideração a necessidade de mulheres negras, mulheres pobres, mulheres deficientes, mulheres imigrantes. Somos gratas às mulheres que tanto lutaram e conquistaram direitos, mas agora não podemos permitir que o fe-

minismo seja um movimento elitista, comandado por mulheres brancas. Lembre-se da desigualdade salarial entre homens e mulheres, por exemplo. Ela fica ainda mais evidente quando comparamos os salário de homens brancos e mulheres negras. Mulheres brancas, inclusive, ganham mais do que homens negros, o que nos mostra que o feminismo não pode utilizar a situação de mulheres privilegiadas como base. O feminismo interseccional abraça outras causas, e reconhece que é impossível alcançar igualdade de gênero individualmente. Como o feminismo pode vencer sozinho em uma sociedade racista, xenofóbica e homofóbica? Faça da interseccionalidade seu próximo passo feminista. Inclua, converse, questione, dê voz, dê espaço. Acompanhe nas redes sociais grupos e coletivos de mulheres feministas diferentes de você. Questione representatividade: não exija apenas a presença de mulheres na política, em conferências e premiações, mas também mulheres negras, mulheres deficientes, mulheres trans. Exija diversidade.

Heloisa Righetto é jornalista e escreve sobre feminismo (@helorighetto – facebook.com/conexãofeminista)

AQUILES REIS

Maria Teresa Madeira desvenda Ernesto Nazareth A pianista Maria Teresa Madeira nos chega com um trabalho de fôlego impressionante, Ernesto Nazareth – Integral por Maria Teresa Madeira (independente). Gravados ao longo de dois anos, com direção musical da própria Maria Teresa e de seu marido Márcio Dorneles (ele que foi técnico de gravação, mixagem e masterização), os doze CDs vêm numa bela caixa. Profunda conhecedora da obra do carioca Ernesto Nazareth – compositor que deixou marca indelével na música brasileira –, Maria não só realizou um trabalho de referência como demonstrou maestria e cumplicidade com a genialidade do autor, ele mesmo também um pianista que teve grande influência na evolução do manuseio do instrumento e na diversidade da música brasileira. Com tangos, polcas, valsas, qua-

drilhas e lundus, Nazareth plantou sementes que derivaram no choro que, desde então, se moderniza através do legado gerado por ele e por alguns outros grandes compositores pioneiros. São ao todo 215 obras concebidas por Nazareth entre 1882 e 1924, todas agora reunidas. São obras já conhecidas de Nazareth, como “Odeon”, “Confidências” e “Batuque”; inéditas, como “Encantador” e “Capricho”, dentre outras; e algumas que, por não terem sido finalizadas por Nazareth, Maria tratou de concluir e adaptar para o piano. Exemplo disso são dois tangos, criados entre 1910 e 1920, uma cançoneta e um noturno. A todas Maria dedicou sua perseverança, seu desvelo e sua competência. Embebida que estava da música de Nazareth, Maria conseguiu uma simbiose que fez com que suas artes se

amalgamassem e viessem à luz numa só identidade. Coisa de fazer chorar a mais ranheta das criaturas. No estúdio, era como se cada obra gravada fosse um parto sem dor, mas com ilimitado amor. Filhos mesmo, daqueles a quem orgulhosamente é dado o próprio nome e sobrenome. E foi assim que vieram ao mundo as crias de “Maria Nazareth Ernesto Madeira Teresa”. No primeiro CD, sobressaem-se as valsas “Recordações do Passado” e “Primorosa”, a polca-lundu “Você Bem Sabe” e a quadrilha “A Flor dos Meus Sonhos”. No segundo, brilham “Brejeiro” (note-se que esta composição, que hoje faz parte do repertório dos choros, foi composta por Nazareth como um “tango brasileiro”) e “Crê e Espera”, outra linda valsa. No sexto disco tem vez a conheg

cida “Ameno Resedá” e a valsa lenta “Turbilhão de Beijos”. Já no sétimo, uma perfeita interpretação de Maria do clássico “Apanhei-te, Cavaquinho”, além da bela valsa “Divina”. No nono, Maria arrasa no samba carnavalesco “Mariazinha Sentada na Pedra” e no samba “Arrojado”. No CD onze, o belo tango brasileiro “Plangente” e o tango de salão “O Alvorecer” se sobressaem. Já no álbum doze, “Resignação”, outra valsa lenta e bonita, fecha a tampa do soberbo trabalho de Maria Teresa Madeira. Meu Deus! Vivas a ela por ajuntar e nos apresentar toda a obra de Ernesto Nazareth. E vivas a ele, um gênio da música popular brasileira! Mais informações em www.mariateresamadeira.com.br.

Aquiles Reis é músico, vocalista da icônica banda MPB4


22 brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017

EURO TRIP

Em apenas três dias, conheci muito mais do que imaginava ser possível. O Golden Pass Line, ou Swiss Travel Pass, permite que você aproveite o que o país tem de melhor a oferecer. Para quem mora na Europa e quer dar uma escapada durante um fim de semana ou feriado, a Suíça é surpreendente Por Ana Beatriz Freccia Rosa g

Ana Beatriz Freccia Rosa é jornalista e escreve suas histórias de viagens no blog ‘O mundo que eu vi’ (www. omundoqueeuvi.com)

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INTERLAKEN

LUCERNE

Um dos destinos mais visitados da Suíça, a região fica entre três grandes montanhas: Eiger, Mönch e Jungfrau. A vista é de encher os olhos e parece que tempo nenhum é suficiente para apreciar a paisagem, realmente impressionante. Por estar localizado no centro do país, é ali que começa grande parte das atividades, tanto para quem viaja de trem e quer fazer trekking quanto para quem pretende subir ao topo das montanhas de bondinho ou teleférico. Para quem gosta de descobrir novos caminhos e estar em meio à natureza, a região de Interlaken é conhecida pela enorme quantidade de trilhas, que ficam cheias durante o verão. Já se você é adepto das águas, há a opção de fazer passeios de barco, incluindo barcos a vapor que possuem rodas de pás que cruzam as águas dos lagos Thun e Brienz.

Bem perto da estação, no burburinho da cidade, você avista lojas de relógio por todos os lugares. Alguns passos adiante e lá está a ponte que atravessa o principal rio de Lucerne, de onde se vê o mais conhecido cartão postal da cidade: a Chapel Bridge. Uma das mais antigas pontes cobertas da Europa, esta foi totalmente reconstruída – mantendo-se a pintura original no teto – depois de ter sido destruída pelo fogo. Ao redor do rio você encontra bares e restaurantes que ficam lotados durante os dias de sol. Do centrinho de Lucerne saem os barcos para o Monte Rigi, onde vagões ou cable cars permitem que você aprecie a cidade lá de cima. Outra atração é a Museggmauer Wall, uma parede preservada desde suas origens. Caminhe pelas ruas até chegar à principal praça da cidade, a Weinmarkt, onde não são permitidos carros. Lá, preste atenção à primeira igreja barroca construída na Suíça e às torres Hofkirche.


brasilobserver.co.uk | Fevereiro 2017 23

Divulgação

Percorra as linhas Golden Pass Line que têm vagões com janelas enormes para uma visão incrível do caminho

Ana Beatriz Freccia Rosa

BERNA

CHATEAU D’EOX

GENEBRA

Não é à toa que o centro histórico da cidade entrou para a lista de Patrimônios da Humanidade da Unesco: a cidade mantém características históricas muito bem preservadas. Pegue um mapa e caminhe até o Jardim das Rosas para ter uma vista incrível de uma das cidades mais bonitas da Europa. Outro local que pode ser explorado é a plataforma da torre da catedral em volta do qual flui o rio Aare. Grande parte da cidade pode ser percorrida a pé e, durante o caminho, vale a pena fazer uma pausa em um dos muitos cafés ou restaurantes localizados no centro histórico. Em Berna, o urso – o animal heráldico da cidade – está sempre presente. Por isso, a visita ao Fosso dos Ursos é parada obrigatória. A cidade foi casa de Albert Einstein no início do século 20, e o museu Zentrum Paul Klee, na periferia, abriga a mais completa coleção de obras do artista.

Não estava nos planos, mas ao passar pelos Alpes Suíços e avistar aquela paisagem, aquelas casas aos pés da montanha, inclui no roteiro. A cidade tem 5.000 habitantes e qual não foi minha surpresa quando descobri que foi ali que começou a primeira volta ao mundo de balão? Em 1º de março de 1999 começou a primeira circunavegação do mundo, sem escala. Os pilotos Bertrand Piccard e Brian Jones levantaram voo em um Breitling Orbiter 3 em Chateau d’Oex, nos Alpes Suíços, e sobrevoaram Itália, Espanha, Marrocos, Argélia, Líbia, Sudão, Mar Vermelho, Arábia Saudita, Iêmen, Mar da Arábia, Índia, Bangladesh, Birmânia, China, Tailândia, Oceano Pacífico, México, Guatemala, Belize, Jamaica, Haiti, República Dominicana, Oceano Atlântico, deserto do Saara, Mauritânia e Níger até finalizarem o trajeto no Egito depois de 19 dias percorrendo 45.755 km. Não por acaso a cidade tem um museu de balonismo.

Conhecida como a capital da paz pela tradição humanitária e atmosfera cosmopolita, Genebra abriga a sede europeia da ONU e o quartel general da Cruz Vermelha. Na margem direita do lago principal, você encontra hotéis e restaurantes. Já do lado esquerdo estão a Catedral de São Pedro e a Place du Bourg-deFour, a praça mais antiga da cidade, além de parques, bares, restaurantes, lojas e as áreas comercial e financeira. O destaque vai para o Horloge Fleuri, grande relógio em forma de flor localizado no Jardin Anglais (Jardim Inglês) e que é um símbolo mundialmente famoso da indústria de relógios de Genebra. E, claro, preste atenção ao Jet d’Eau, outro símbolo da “menor metrópole do mundo” – uma fonte cujo jato d’água chega a 140 metros de altura. Passeie também pela Grand Rue, uma das ruas mais preservadas da cidade e conhecida por ser o local de nascimento do filósofo e escritor Jean-Jacques Rousseau.


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