Brasil Observer #41 - BR

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LONDRES

www.brasilobserver.co.uk

ISSN 2055-4826

AGOSTO/2016

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Conteúdo

AGOSTO/2016

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King’s College London debate sobre o futuro do Brasil

Chega à Europa a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo

OBSERVAÇÕES

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COLUNISTAS CONVIDADOS

Marco Aurélio Nogueira sobre a crise política Carolina Gottardo sobre as imigrantes latino-americanas

É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

CULT

Ana Toledo Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk

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DICAS CULTURAIS

Guilherme Reis Diretor Editorial guilherme@brasilobserver.co.uk

Rio 2016, cinema, música... tudo com toque brasileiro e londrino

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Jean Wyllys, deputado federal e ativista pelos direitos humanos

Franko Figueiredo sobre a filosofia wabi-sabi Heloisa Righetto sobre os significados de feminismo

ENTREVISTA

COLUNISTAS

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Qual será o legado dos Jogos Olímpicos Rio 2016?

Rafa Maciel conta curiosidades de Londres

REPORTAGEM

LONDON BY

Editor em Inglês Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk Design e Diagramação Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com Colaboradores Andrew Linghorn Franko Figueiredo Gabriela Lobianco Heloisa Righetto Nathália Braga Wagner de Alcântara Aragão

Arte da Capa João Lelo www.leloart.com

Arquivo Pessoal

João Lelo é artista carioca autodidata, mais conhecido por seu trabalho de arte urbana, que faz desde 1999. Sua produção abrange murais, pinturas, desenhos, gravuras, vídeos e, recentemente, esculturas e objetos. As obras de João Lelo têm como característica a composição de animais e pessoas, escolhidas por terem alguma simbologia interessante, e que possam ser retratadas de forma sintética, representadas pela interação de formas chapadas, texturas e padrões, algumas criadas e desenvolvidas pelo artista, outras reaproveitadas de algum material encontrado. Seus trabalhos já foram exibidos em exposições e publicações no Brasil, Argentina, Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Áustria, Grécia e África do Sul. E seus murais podem ser vistos por todo o mundo, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde tem seu estúdio atualmente.

APOIO:

A capa desta edição foi feita por João Lelo para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e com apoio institucional da Embaixada do Brasil em Londres. Cada uma das 11 edições deste jornal em 2016 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados através de uma chamada pública. Em dezembro, os trabalhos serão expostos na Sala Brasil.

Roberta Schwambach Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk

IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias Distribuição Emblem Group Ltd. Para anunciar comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 Para assinar contato@brasiloberver.co.uk Para sugerir pauta e colaborar editor@brasilobserver.co.uk Online 074 92 65 31 32 brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver facebook.com/brasilobserver twitter.com/brasilobserver O Brasil Observer, publicação mensal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.


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OBSERVAÇÕES

King’s College debate o que vem a seguir para o Brasil Geraldo Cantarino

Estudantes e pesquisadores do Brazil Institute e da Dickson Poon School of Law do King’s College London realizaram em junho o simpósio Brazil, What’s Next? - From the Turmoil to the Near Future para explorar o que o futuro reserva para o país, rodeado por desafios e oportunidades. Em meio à realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016, o Brasil enfrenta profunda recessão econômica com elevado desemprego; instabilidade política com um processo de impeachment em andamento e um governo interino; investigações de casos de corrupção de larga escala; violência urbana e rural; e um surto de vírus Zika, entre outras questões. O simpósio de três dias reuniu acadêmicos para discutir a atual situação do país e as perspectivas para o futuro próximo, incluindo desafios para democracia, direitos humanos, cultura, desenvolvimento e economia. O simpósio foi aberto com uma sessão do filme Retratos de Identificação, de Anita Leandro, um documentário sobre as fotos de identificação tiradas pela polícia depois da prisão de guerrilheiros durante a ditadura militar. Os dois dias seguintes tiveram oito painéis apresentados por mais de 20 estudantes, pesquisadores e especialistas, inclusive de universidades da Alemanha e da Espanha. Recebidos pelo professor Anthony Pereira, diretor do King’s Brazil Institute, os convidados especiais incluíram o professor Maurício Dieter, da Universidade de São Paulo, a jornalista

Jan Rocha, ex-correspondente da BBC e do Guardian no Brasil, a professora Carolina Matos, da City University London, e o economista Marcos Felipe Casarin, diretor de América Latina da organização Oxford Economics. O Embaixador do Brasil no Reino Unido, Eduardo dos Santos, abriu a sessão Democracy & Human Rights, comandada pelo doutor Octavio Ferraz, da Dickson Poon School of Law, seguido pelo deputado federal e ativista pelos direitos humanos Jean Wyllys, que veio do Brasil especialmente para o evento (leia entrevista com ele na página 10).

O Brasil Observer acompanhou os dois principais debates e concluiu, em primeiro lugar, que o King’s Brazil Institute tem feito um excelente trabalho em aprofundar o conhecimento sobre o país no Reino Unido. Em relação às discussões realizadas, é justo dizer que o Brasil tem um longo caminho pela frente para se tornar uma democracia consolidada. É verdade que o Brasil nunca havia experimentado um período tão longo de democracia como agora. O fim da ditadura militar (1964-85), porém, não eliminou os vícios autoritários do Estado brasileiro. Por isso podemos concluir que deixamos uma ditadura autoritária para entrar em uma democracia autoritária, como alguns dos convidados afirmaram durante o simpósio. Para mudar isso, o Brasil precisa enfrentar o problema da desigualdade que afeta todos os aspectos da vida dos brasileiros, desde as oportunidades econômicas e de ensino até a democratização dos meios de comunicação e a operação da Justiça e seu aparato de segurança. Do ponto de vista econômico, há consenso de que no curto prazo o Brasil precisa equilibrar suas contas para reduzir sua dívida, mas seria uma ilusão achar que o país pode alcançar um desenvolvimento mais sustentável sem realizar uma reforma progressiva do sistema tributário, por exemplo, assim como uma auditoria cidadã da dívida pública. O que vem a seguir, afinal? É difícil prever qualquer melhora significativa sem uma reforma política que faça o Congresso brasileiro representar o que a sociedade brasileira realmente é. Ainda não é este o caso.

David Munn

LIVERPOOL EM MODO CARNAVAL

Milhares de pessoas foram às ruas de Liverpool no sábado dia 16 julho para aproveitar a nona edição do Festival Internacional de Samba, também conhecido como Brazilica. A cidade foi tomada por uma atmosfera carnavalesca e parou para ver o desfile principal, que contou com mais de 750 pessoas do Reino Unido, Brasil, Europa e até Singapura. Maeve Morris, diretora do festival, se mostrou bastante satisfeita: “É incrível receber tantas bandas e escolas de samba, Brazilica é uma celebração de cores, música, dança, amizade e alegria!”. Maior evento de carnaval brasileiro no Reino Unido, o festival Brazilica se tornou um dos mais importantes do calendário de Liverpool, atraindo mais de 60 mil pessoas. Os organizadores, agora, já estão preparando o de 2017.


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IMIGRAÇÃO Novo produto para celebrar os 15 anos da LondonHelp4U. É a nova opção para quem sonha em morar em um país europeu.

Invista no Chipre

e consiga o passaporte europeu em 3 meses Conheça o novo produto oferecido pela LondonHelp4U. Francine Mendonca, diretora e fundadora da LH4U, garante: este é um dos métodos mais práticos e rápidos de adquirir a cidadania européia. Iremos apresentar como e quais são as vantagens de investir no Chipre, com a garantia e segurança de uma empresa de imigração à 15 anos no mercado, com 99% de vistos aprovados.

Vantagens de obter a cidadania no Chipre através do programa de investimentos: A dupla cidadania é permitida Processo rápido, a cidadania é concedida em até 6 meses, sendo que, no geral,

Desde 2001, quando foi criada, a LondonHelp4U tem um propósito: ajudar imigrantes que possuem o sonho de morar em outro país. O programa de cidadania por investimento concede a cidadania cipriota para aqueles que investirem mais de 2,5 milhões de euros em imóveis. Os candidatos aprovados, e sua família, ganham o direito de viver, trabalhar e estudar em todos os 28 países membros da UE. Uma das grandes vantagens deste produto é a não obrigatoriedade de viver em Cyprus para conseguir a cidadania. É muito fácil de adquirir o passaporte europeu para você e sua família.

a aprovação sai em 3 meses. Cidadania vitalícia Filhos dependentes com idade inferior a 28 anos estão incluídos Inexistência de requisitos de entrevista Livre circulação nos países da União Europeia

Regulamentado pela Office of the Immigration Services Commissioner (OISC)

Isenção de vistos para mais de 150 países Não há restrições à nenhuma nacionalidade

A LondonHelp4U tem total convicção de que este produto é o melhor e o mais prático investimento para empresários que procuram o passaporte europeu em 2016. E garantimos: é o seu visto na mão ou seu dinheiro de volta.

A LondonHelp4U é uma agência de imigração com 15 anos de experiência em processos de vistos para o Reino Unido. Nossa missão é proporcionar, cada dia mais, acesso ao Reino Unido para imigrantes brasileiros.

Francine Mendonça Immigration Adviser

Não há requisitos de residência

Nossos serviços incluem:

Assessoria de Imigração

Vistos para o Reino Unido, Brasil & EUA

Vistos para negócios, investidores e empreendedores

Vistos de estudante Vistos de familiar envolvendo crianças e parceiros do mesmo sexo

Quer falar com a gente?

0207 636 8500 (UK) +55 11 3283 0906 (Brasil) info@londonhelp4u.co.uk 28A Queensway - Londres - W2 3RX

Serviços notariais:

Homologação de divórcios

Casamento e divórcio por procuração no Brasil

Renovação de passaporte

www.londonhelp4u.co.uk

Procuração 2ª vias de documentos

INTERCÂMBIOHELP4U

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CONVIDADOS

Normalização sem entusiasmo

Paulo Pinto/AGPT

Manifestação pela democracia em São Paulo

A sociedade brasileira se mostra anestesiada, à espera de atos que a ajudem a se reposicionar e, eventualmente, a se repactuar com a política e os políticos Por Marco Aurélio Nogueira g

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Depois de ter encontrado seu ápice nos dias que antecederam à decisão do Senado de afastar preliminarmente Dilma Rousseff, em 12 de maio, o movimento “contra o golpe” perdeu força. Hoje é mantido por conveniência. Buscou-se reforçá-lo com os slogans “Fora, Temer” e “não reconheço governo golpista” com o objetivo de ferir e deslegitimar o governo interino, mas nada foi capaz de animar o debate público ou a vida política. O movimento não se apoiou em análises realistas e banalizou a ideia de “golpe”, deixando-se esvaziar de sentido. Seus slogans passaram a servir tão somente como música de fundo para alguns atos de protesto e certas assembleias de reivindicação. Aos poucos, a opinião pública brasileira, os políticos do país e mesmo os partidos que sustentaram o governo Dilma Rousseff – a começar do PT, partido pelo qual se elegeu – foram se curvando às circunstâncias e aos dados duros da política, que estão a dar outro rumo e perspectiva para a governabilidade democrática e a institucionalidade política do país. Depois de um início claudicante, em que mostrou pouca habilidade e compôs um ministério inexpressivo, repleto de suspeitos de corrupção e de acusados de obstrução da Justiça, o governo interino de Michel Temer conseguiu alcançar um mínimo de estabilidade.

A melhoria de sua posição foi consolidada no dia 14 de julho, com a eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados. Eleito com boa maioria, o deputado de centro-direita Rodrigo Maia (DEM-RJ) não só substituiu o afastado Eduardo Cunha (envolvido em inúmeros processos de corrupção) como submeteu os parlamentares fisiológicos (que integram um bloco independente junto com trânsfugas dos partidos maiores) a uma nova dinâmica parlamentar, na qual sobressaem os partidos que faziam oposição ao governo Dilma (PSDB, DEM, PPS, PSB), juntamente com o PMDB, partido de Temer. A eleição na Câmara também ressaltou as dificuldades operacionais e os erros de condução política do PT e dos demais partidos de esquerda, que não só foram derrotados como ficaram em posição subalterna, sem opinião e sem um projeto político que funcionasse como guia. Tudo somado, o governo interino ganhou uma mais consistente base de apoio. A batalha em torno do impedimento de Dilma Rousseff não está, evidentemente, encerrada. Espera-se que até o final do mês de agosto seu afastamento será votado pelo Senado, em caráter terminativo. Ainda que a hipótese de uma absolvição de Dilma não deva ser descartada, os cálculos políticos atuais dão como praticamente certa a aprovação de

Marco Aurélio Nogueira é professor de Teoria Política e coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Este artigo foi publicado originalmente em www.opendemocracy.net, e editado pelo Brasil Observer.

seu afastamento. A própria opinião pública demonstra estar, hoje, convencida de que a troca presidencial representa o início de uma nova fase no país. Segundo dados do Datafolha, 50% dos brasileiros avaliam que seria melhor para o país que o peemedebista Temer continuasse no cargo até 2018, ao passo que 32% acham melhor que Dilma retorne ao Palácio do Planalto. A gestão de Temer não foi bem avaliada, depois de dois meses no cargo, mas sua reprovação é inferior à que Dilma obtivera antes de ser afastada. A pesquisa mostra também que o afastamento definitivo de Dilma é defendido por 58% dos brasileiros, e 35% se opõem à saída. Independentemente da posição sobre o assunto, 71% acreditam que Dilma será afastada em definitivo, contra 22% que acham que ela será reconduzida. Outras pesquisas revelaram um dado ainda mais importante: os brasileiros, em sua maioria, acham que seria melhor a realização de uma nova eleição para a Presidência, o que, na prática, indica que são favoráveis tanto à cassação de Dilma quanto de Temer. A normalidade e a rotina parecem, assim, estar voltando a Brasília, mas o novo governo abre caminho em meio a muitos obstáculos e dificuldades. É uma volta à normalidade marcada pela frieza, sem espaço para manifestações de euforia ou declarações de apoio. A sociedade se mostra anestesiada,

à espera de atos que a ajudem a se reposicionar e, eventualmente, a se repactuar com a política e os políticos. Os cidadãos olham para o Planalto – o Executivo e o Legislativo – com tédio, decepção e desdém. Não há motivos para comemoração: a democracia funciona, seus ritos e instituições têm sido respeitados, mas o sistema não se mostra ágil o suficiente para responder às demandas da sociedade. O governo interino mantém o foco concentrado na formação de uma ampla base parlamentar e na recuperação da economia, valendo-se enfaticamente da ideia de trazer de volta a “confiança”, tanto entre os políticos quanto entre os agentes econômicos, sem deixar de considerar também a opinião pública. Acredita que, com tal procedimento, terá como obter a aprovação do impedimento definitivo de Dilma e, a partir de então, reorganizar seus apoios, seu ministério e suas políticas. Se o plano dará certo é uma incógnita. O governo continua com muitas arestas e perfil mal definido: ainda não se “arredondou” e pode ser que jamais consiga se tornar um todo harmonioso. Se passar pela prova final do impedimento, é bem provável que continue a flutuar como um polígono convexo irregular, impelido por uma base instável, por ministros inexpressivos, pela dificuldade de coordenar uma sociedade


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sem eixo, pela carência de líderes e articuladores competentes no Congresso, pelas pressões do fisiologismo político. A prática política tradicional está sob fogo cruzado: deslegitimada pela sociedade e combatida pela Operação Lava Jato. As investigações em curso mantêm os políticos em estado de suspense, ameaçam a situação e a oposição. São uma variável independente que não tem como ser politicamente controlada. A própria recuperação da economia – com a volta de melhores indicadores de emprego, a redução da inflação e dos juros, a amenização da crise fiscal e o retorno do crescimento – não é líquida e certa, até porque sempre dependerá do que ocorrer no cenário internacional. O governo interino organizou uma equipe econômica sintonizada com o mercado, mas as reformas e os ajustes por ela concebidos para superar a crise precisam ser discutidos e aprovados no âmbito político. Há, além disso, a situação geral do país, suas desigualdades sociais extremas, seus sistemas públicos e suas políticas pouco eficazes, particularmente no terreno da educação, da saúde e da habitação, seus déficits em termos de infraestrutura e de produtividade. Tudo isso retira competividade da economia, encarece os custos de produção e deixa a população sem as devidas proteções sociais e sem serviços básicos. A favor do novo governo estão o tamanho do mercado interno e a força da economia brasileira, o peso estratégico do país no mundo e a disposição ao sacrifício da população, que se reproduz sem que se supere o quadro de desarticulação e passividade das grandes maiorias. A própria crise política poderá contribuir para a ação governamental, na medida em que vier a facilitar que o governo cresça por meio de negociações seletivas, privilegiando ora uns, ora outros dos mais de 30 partidos políticos, sem ser hostilizado pela oposição, hoje desestruturada. Essas, porém, são vantagens relativas. A disjunção entre Estado e sociedade jamais favorecerá a democracia, especialmente se se reproduzir no longo prazo. Cabeça e corpo da nação precisarão sempre se retroalimentar. Se, no momento atual, há um novo clima político no Brasil, o ponto que se projeta como desafio principal é a de saber de que modo o país chegará às próximas eleições presidenciais, no final de 2018. Haverá algum movimento virtuoso para reformar a prática e a cultura dos políticos e de seus partidos, ajudando ao mesmo tempo a que se reduzam a fragmentação parlamentar, o fisiologismo, o alto custo das campanhas eleitorais, o afastamento dos cidadãos do círculo de tomada de decisões? Que novidade efetiva virá com o novo governo? Ele trará consigo melhores procedimentos governamentais, uma estrutura administrativa mais eficiente, novos hábitos e mentalidades, que auxiliem a que se racionalize e se aperfeiçoe a atuação do Estado, não em sentido neoliberal, ou seja, mediante cortes que façam sangrar programas e políticas sociais, mas sim mediante a

eliminação de desperdícios, de gastos suntuosos, de privilégios e concessões aos que já são socialmente privilegiados? A democracia voltará a conhecer ímpeto mais substantivo e melhor qualidade, de modo a que se valorizem a atividade política e o debate público entre as diferentes correntes de opinião? Nenhuma dessas questões pode ser hoje categoricamente respondida. Um pequeno, mas importantíssimo teste terá lugar com as eleições municipais que ocorrerão em outubro. Nelas, todos os principais partidos disputarão o voto dos eleitores e mostrarão, ou não, sua real capacidade de renovação. Os candidatos terão de se adaptar às novas regras eleitorais, que restringem o financiamento das campanhas e encurtam o período das propagandas de rádio e televisão. A própria população demonstrará sua disposição para respaldar novas propostas e examinar com olhos mais críticos os compromissos dos diferentes candidatos. O Brasil atual é uma sociedade que não tem como conviver com governos favoráveis unilateralmente ao mercado ou que se dediquem a praticar políticas que não se voltem para uma melhor distribuição da renda, da justiça e das oportunidades. O país pede por renovação nas práticas políticas e nas orientações governamentais. Poderá continuar a aceitar que isso não venha no curto prazo, mas não se mostra disposto a esperar tempo excessivo. Sociedades dinâmicas, heterogêneas, repletas de carecimentos e desejosas de direitos igualitários, como o Brasil, não costumam ser tolerantes ou proceder de forma sempre racional. Das várias questões que não podem ser categoricamente respondidas hoje, uma se destaca: que caminho seguirão os partidos para administrar os efeitos das investigações e recuperar os vínculos com as forças vivas da nação? Quem sobreviverá para bloquear os germes da “antipolítica” que ameaçam a população? Qual esquerda emergirá da crise do PT? Até o momento, o partido que governou o país nos últimos 13 anos em nome de um programa de reforma social não se mostrou disposto a fazer a avaliação crítica de seu desempenho. Salvo algumas vozes isoladas (como a do ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro), o PT continua paralisado, vendo-se como vítima de golpes e artimanhas de elites egoístas e da “mídia oligopolizada”, sem empreender qualquer esforço para olhar dentro de si, analisar a sociedade e o Estado que se constituíram no Brasil e, a partir daí, elaborar um novo projeto político. A paralisia da esquerda despoja a democracia brasileira de um protagonista que poderia fazer a diferença. E deixa o governo interino – assim como o governo que se definir depois que o impedimento de Dilma for votado – sem um contraponto precioso, que seria indispensável para o país chegar mais forte a 2018 e ir além. O jogo está aberto, pronto para ser disputado por quem se mostrar qualificado teórica e politicamente.

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Tom Evans/Crown Copyright

Theresa May entra na residência oficial

O caso das imigrantes latino-americanas O que o Brexit e a ascensão de Theresa May significam para as mulheres latino-americanas que vivem no Reino Unido? Por Carolina Gottardo g

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Carolina Gottardo é diretora da Latin American Women’s Rights Service (LAWRS) – www.lawrs.org.uk

O voto pela saída do Reino Unido da União Europeia provavelmente terá um impacto negativo sobre as mulheres latino-americanas que vivem no país. Como mostra nosso recém-lançado relatório Towards Visibility, muitas mulheres latino-americanas residem no Reino Unido com passaporte europeu. O Brexit tem aumentado os níveis de ansiedade e incerteza que muitas de nós sentimos como imigrantes em um país onde a política foi manchada por uma retórica negativa em relação à imigração, assim como pela real deterioração dos direitos dos imigrantes. Mais do que nunca é importante agora continuar lutando pelos nossos direitos. Outro efeito preocupante tem sido o aumento dos casos de racismo e sexismo após o referendo. Temos recebido na LAWRS (Latin American Women’s Rights Service) muitos relatos de mulheres e meninas latino-americanas vítimas de ódio racial e sexual no trabalho e na escola. Isso não acontecia com frequência – o aumento dos casos é alarmante. A ascensão de uma primeira-ministra mulher vai mudar as coisas para melhor? Não no caso de Theresa May. Uma das pessoas que permaneceu por mais tempo à frente do Ministério do Interior (de 2010 a 2016), May realizou algumas ações positivas em certas

áreas. Ela acumula, porém, um histórico espantoso no que diz respeito aos direitos dos imigrantes. Do lado menos negativo, May demonstrou interesse pela área de violência contra mulheres e meninas com um plano de ação para lidar com questões como violência baseada na honra, casamento forçado, mutilação genital feminina, entre outras. No entanto, demonstrar interesse pelos direitos das mulheres não é suficiente quando se leva em consideração que esses direitos deveriam ser aplicados a todas as mulheres independentemente da raça e do status imigratório. Não é suficiente ter uma sociedade onde algumas podem exercer seus direitos e outras não. Os direitos das mulheres devem estar acima do controle imigratório. Theresa May é a mulher que trouxe o Modern Slavery Act e tem se mostrado comprometida na luta contra o tráfico humano (embora o projeto tenha muitas brechas e não enfrente a exploração endêmica que afeta muitas mulheres latino-americanas que vivem no Reino Unido). Do lado mais assustador, Theresa May tem sido uma das mais ferozes oponentes dos direitos dos imigrantes. Ela foi a mulher por trás das vans “go home” que trouxeram tantas tensões para a comunidade latino-americana,

violando flagrantemente os direitos dos imigrantes. Ela também encorajou uma política hostil contra os imigrantes e está por trás do Immigration Act 2016, que criminaliza imigrantes sem documentos e converte landlords e autoridades de saúde em oficiais de controle. Mesmo durante sua curta campanha pela liderança do Partido Conservador, May usou os direitos dos imigrantes europeus como parte da negociação. Theresa May é uma mulher, mas de forma alguma ela é uma feminista, muito menos alguém que se importa com os direitos de todas as mulheres independentemente de raça, condição física, idade ou status imigratório. É positivo ter uma mulher na liderança de um sistema político dominado por homens, mas Theresa May não é aquela que vai responder pelas necessidades das mulheres e das meninas ou nos ajudar a exercitar nossos direitos. Pelo contrário, ela ficará feliz em reduzir a entrada de imigrantes o máximo possível e em pechinchar com nossos direitos. O que precisamos é de uma liderança feminina que também seja feminista, e que acredite que os direitos das mulheres são direitos humanos independentemente do status imigratório, de modo que possam ser aplicados a todas. É tão difícil assim entender este princípio universal?


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ENTREVISTA

Eles me toleram porque pertenço à raça da pedra dura Deputado federal Jean Wyllys, em entrevista ao Brasil Observer, fala sobre impeachment, esquerda e luta LGBT

À

Por Guilherme Reis

Às 12h35 da quinta-feira dia 21 de julho o deputado federal Jean Wyllys entrou no saguão da Embaixada do Brasil em Londres em ritmo acelerado. Estava ligeiramente atrasado, por isso se desculpou com o repórter que o aguardava. A agenda apertada do político reservava para logo mais um almoço na residência do embaixador Eduardo dos Santos. Sentados em uma sala do terceiro andar do grandioso edifício número 14-16 da Cockspur Street, o gravador ligado dava o sinal de que a entrevista, que duraria aproximadamente 20 minutos, havia começado. Eleito e reeleito deputado federal pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) para representar o Estado do Rio de Janeiro, Jean Wyllys está certamente entre os políticos mais populares do Brasil. Prova disso foi dada nas duas ocasiões em que falou para o público durante sua passagem de alguns dias pela capital britânica – primeiro para debater o filme Febre do Rato, de Cláudio Assis, em sessão na própria embaixada, depois para falar sobre direitos humanos em simpósio organizado por estudantes do King’s College London. As palmas e assovios invariavelmente interrompiam a fala de Jean – e da intérprete. E os inúmeros pedidos de foto após o encerramento dos debates desafiavam a noção de que as pessoas perderam a fé na política e nos políticos. Mas Jean Wyllys, obviamente, não é uma unanimidade. Único político brasileiro assumidamente homossexual, Jean é ferrenho defensor dos direitos humanos, particularmente da causa LGBT, e faz parte do que ele mesmo chama de esquerda 4G, ou seja, de quarta geração. Em um país como o Brasil, é de se imaginar o tipo de oposição que ele recebe. De volta à sala do terceiro andar da Embaixada do Brasil Londres, a entrevista começa com o julgamento final, pelo Senado, do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, previsto para o final de agosto. “Acho que há uma possibilidade da presidenta Dilma voltar”. Jean cita a última pesquisa Datafolha, que revelou que 62% dos brasileiros

apoiam a realização de novas eleições. “Esse dado pode influenciar bastante os senadores. Além desse anseio popular por novas eleições, tem o fato de que Dilma foi inocentada no caso das pedaladas fiscais pela perícia do Senado, pelo Ministério Público Federal e pelo próprio Tribunal de Contas da União, que a princípio tinha condenado as contas de Dilma, mas agora emitiu parecer de que não houve pedaladas”. No mês passado, o procurador da República no Ministério Público do Distrito Federal, Ivan Marx, que investigava se o governo Dilma Rousseff havia cometido crime ao não quitar dívidas junto a bancos públicos, a chamada pedalada fiscal, arquivou os processos informando que os atos não são criminosos, mas constituem improbidade administrativa. “Dilma tem que retornar em nome da democracia. As regras democráticas foram rompidas e precisam ser reconstituídas. Há de haver um pedido de desculpas a ela e Dilma decide convocar novas eleições, faz um plebiscito, uma consulta à população e antecipa as eleições”, afirma Jean Wyllys. A antecipação das eleições, porém, é bastante improvável. De acordo com a Constituição, eleições presidenciais diretas só podem ser antecipadas se os cargos de presidente e vice ficarem vagos antes de completarem dois anos de mandato – no caso de Dilma Rousseff e Michel Temer, antes do início de 2017. Novas eleições também poderiam ser convocadas se os dois sofressem impeachment ou se o Tribunal Superior Eleitoral decidisse, ainda em 2016, cassar a chapa por irregularidade na campanha de 2014. Outro caminho seria alterar a Constituição para permitir a antecipação das eleições, mas isso dependeria de apoio de três quintos da Câmara e do Senado, em duas votações em cada Casa – um fato político difícil de imaginar nos dias que correm. A convocação de um plebiscito depende de apoio menor – maioria simples do Congresso –, mas não teria força para antecipar as eleições, apenas para expressar a vontade da população.

ESQUERDA 4G Seguindo adiante, Jean é questionado por que a esquerda, quando chega ao poder, governa como a direita. “Não acho que os partidos endireitam. Há uma distinção entre você ser governo e ser oposição. Os governos são governos para todos, então de alguma maneira um partido acaba abrindo mão de alguma parte de seu programa. No caso do Brasil, temos um presidencialismo de coalizão em que o presidente precisa de ampla base para governar. Sendo um sistema financiado por corporações comerciais, é óbvio que o PT, ao chegar ao poder, teve que ceder a esse modus operandi do sistema político brasileiro. E com isso incorreu em práticas antirrepublicanas, em esquemas de corrupção que já estavam lá. Não foi o PT que inventou as práticas de corrupção. O sistema político brasileiro sempre esteve envolto em esquemas de corrupção que têm a ver com a promiscuidade entre o público e o privado, porque as campanhas eleitorais eram financiadas pelas grandes corporações comerciais”. E a esquerda, como fica? “O PT não é a única esquerda. O PT faz parte das esquerdas. Eu acho injusto que se tenda a culpar todas as esquerdas pelos erros e traições do PT, a gente precisa fazer essa distinção”. “A gente está vivendo um momento de desvantagem das esquerdas do ponto de vista da participação no sistema, mas não quer dizer que as esquerdas estejam mortas. É um momento das esquerdas renovarem seus pressupostos. Essa desvantagem tem a ver com triunfo do neoliberalismo, acompanhado por uma onda conservadora. Tem a ver, quero crer, com a última renovação do capitalismo”, completa Jean. Mas como explicar, então, o domínio conservador mesmo após a crise econômica de 2008? “Para citar aqui o filósofo Jacques Derrida, a plutocracia, os neoliberais, as elites econômicas, ou seja, o sistema financeiro detém os aparelhos ideológicos, os instrumentos que constroem o imaginário das pessoas.


brasilobserver.co.uk | Agosto 2016 11

LGBT NO BRASIL De janeiro a julho deste ano, 173 pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais foram vítimas de crime de ódio no Brasil, o equivalente a uma morte a cada 29 horas. Em 2015, foram 319 mortes. Nos últimos quatro anos, 1.600. Os dados foram coletados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), uma das poucas organizações que divulgam informações sobre crimes motivados por LGBTfobia no país. Os números, porém, podem ser ainda maiores, pois não existe uma lei federal que obrigue as delegacias a registrarem crimes motivados por LGBTfobia. No Brasil, o casamento igualitário ou homoafetivo existe desde 2013, quando o Conselho Nacional de Justiça emitiu uma resolução determinando que todos os cartórios do país realizassem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Mas a decisão não tem a mesma força do que uma lei e pode ser contestada por juízes, dificultando o processo.

Ainda assim, é cada vez mais comum ver beijos gay em novelas, assim como casais do mesmo sexo sendo representados em comerciais de TV. “Ser LGBT no Brasil continua não sendo fácil. E todos os avanços que temos em termos de visibilidade e de organização dependem de nós mesmos, nós fizemos esses avanços. Se a publicidade hoje abre espaço para nós, nos reconhece como nicho de mercado, se a televisão nos reconhece como audiência e por isso nos representa, não é porque o mercado e a televisão são bonzinhos. Eles fizeram concessões diante da nossa pressão, cederam diante da pressão do movimento LGBT, que se organizou politicamente. Agora, no Brasil, diante dessa visibilidade cada vez maior da comunidade LGBT, a reação é também da mesma proporção. Há muita violência contra LGBTs, o número de assassinatos por homofobia e transfobia vem aumentando – ou ganhando visibilidade graças às novas tecnologias da comunicação e da informação”, diz Jean. E como é ser um deputado homossexual? “Para mim não é uma das tarefas mais fáceis ser um parlamentar abertamente gay em um Congresso com ampla maioria formada por homens heterossexuais, brancos, ricos. Os poucos homossexuais que têm estão dentro do armário, portanto não me interessam nem interessam a ninguém. Quando eu entrei no primeiro mandato era mais difícil, porque além de tudo tinham as piadas. Eu meti o pé na porta e eles tiveram que pelo menos conter isso. Eles me toleram porque pertenço à raça da pedra dura, tenho estofo intelectual, tenho argumentos, não é fácil discutir comigo, não sou uma caricatura. Sou uma espinha na garganta”. Antes de o gravador ser desligado, já em movimento a caminho do carro que aguardava Jean Wyllys em frente à embaixada, o deputado responde a pergunta do leitor Emerson Zanette, que quer saber como ele lida com as ameaças que recebe nas redes sociais. “Não ando com segurança, não deixei de fazer nada do que eu faço, apesar das ameaças, porque eu acho que a função das ameaças é simplesmente disseminar o medo e me fazer retroceder. Então eu respondo como os franceses diante das ameaças terroristas: ocupamos as ruas para mostrar que não estamos com medo”. E qual seria a ambição política de Jean Wyllys? Será que ele já pensou em ser candidato à presidência? “Eu não posso dizer que eu não vou ser. A gente não pode prever o futuro e talvez haja circunstâncias específicas que lancem meu nome para presidente. Mas não é algo que eu ambicione, eu não me imagino presidente. Eu nem me imagino muito tempo como deputado federal. Eu estou deputado, não sou”. A porta do carro se abre e não há tempo para mais nada. Jean Wyllys segue para a roda gigante da política brasileira. E ônibus número 12 se aproxima do ponto, apressando o passo de quem segura o gravador.

Geraldo Cantarino

As pessoas estão contaminadas pela ideologia neoliberal, da meritocracia, da ideia de mercado livre, de estado mínimo, de que você constrói sua própria riqueza. Isso é uma falácia porque primeiro as pessoas não partem do mesmo lugar. Falar em livre mercado e em liberalismo é muito bonito se todas as pessoas partissem do mesmo lugar. A gente não pode apagar o passado colonial que nos afeta, a escravidão, todas as desvantagens que produziram, sem falar de outras desvantagens que vêm das deficiências físicas, das vulnerabilidades do gênero. As mulheres têm uma desvantagem em relação aos homens porque foram excluídas do sistema de representação e do voto durante muito tempo. Os homossexuais têm desvantagens. Tudo isso distorce o sistema liberal. É lamentável que a classe média adote esse discurso [neoliberal]. Ela adota o discurso do estado mínimo quando na verdade não vai ser vantagem nem pra ela mesma”. O que fazer? “Primeiro a gente tem que reparar os nossos erros, os erros dos partidos de esquerda que chegaram ao poder. Esses partidos têm que fazer uma autocrítica inclusive em relação à conciliação que fizeram com as elites econômicas. Tem uma esquerda anacrônica, com o coração e a mente em 1917, que não revê os erros do socialismo real e suas distorções, que sacrificaram algo inato do ser humano que é a liberdade”. “Uma esquerda 4G não tem que aceitar o capitalismo, mas tem que considerar as liberdades individuais. A gente tem que fazer uma gestão socialista do capitalismo, já que a revolução não é possível, como os países nórdicos. Pensar no estado de bem estar social. Há que se por freio ao mercado, e isso só pode vir de um estado que não é mínimo”.

Jean Wyllys em palestra no King’s College London


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REPORTAGEM

O que esperar de herança da Olimpíada do Rio Roberto Castro/ME

Inauguração dos aros Olímpicos na praia de Copacabana

Pela primeira vez os Jogos Olímpicos acontecem na América do Sul, em um momento em que o Brasil atravessa uma de suas mais graves crises, política e economicamente. O que ficará? Por Wagner de Alcântara Aragão

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Os Jogos Olímpicos Rio 2016 se desenrolam de 5 a 21 de agosto em um ambiente bem diferente daquele de sete anos atrás, quando o Rio de Janeiro foi escolhido como cidade sede pelo Comitê Olímpico Internacional. Se em 2009 o país experimentava um processo de crescimento econômico e desenvolvimento social, despontando como uma das regiões do planeta mais prósperas para investimentos, hoje uma aura de mau humor e pessimismo substitui a utopia de antes. Pela primeira vez uma Olimpíada ocorre na América do Sul. Mas, afetada pela grave crise política que paralisa o país desde o ano passado e por uma crise econômica que tem aumentado o desemprego e feito diminuir a renda nacional, a população tem poupado empolgação com o evento. É bem provável, porém, que o início

dos Jogos amoleça o coração de parte considerável da nação. É da natureza do brasileiro saber distinguir situações, separar problemas de bons momentos. A tendência é que haja uma recepção calorosa, assim com ocorreu na Copa do Mundo de 2014. A herança que se espera da Olimpíada do Rio pode ser dividida em pelos menos dois conjuntos. O primeiro está relacionado diretamente ao propósito dos Jogos, ou seja, o esportivo. O Brasil se preparou para fazer bonito nas competições? O país se atinou para a importância do esporte não apenas como produto comercial, mas também como instrumento de educação, saúde, qualidade de vida, inclusão e solidariedade? O outro diz respeito à relação custo-benefício: o que se gastou será compensado pela geração de empregos,

pelo aquecimento de atividades econômicas como turismo, por exemplo? O que se construiu para abrigar os Jogos terá utilidade posterior? As intervenções para obras de mobilidade urbana e imobiliárias, que exigiram desapropriações de famílias, foram feitas a serviço da coletividade ou de interesses privados?

NO ESPORTE Atuando em casa, o Brasil se propõe a fazer sua melhor campanha na história dos Jogos Olímpicos, terminando entre as dez primeiras colocações no quadro geral de medalhas. Não se pode esperar, porém, um desempenho avassalador. O país está longe de ser uma potência esportiva, ainda que obtenha avanços consideráveis a cada ciclo olímpico. Todavia, investimentos


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recentes indicam um desenvolvimento mais acentuado na área, e mostram maior disposição do poder público em concentrar esforços no esporte de base, principalmente. Há mais de dez anos, por exemplo, o governo nacional instituiu o programa Bolsa Atleta, auxílio financeiro que beneficia tanto esportistas em formação como competidores de alto rendimento. O programa acabou com um problema recorrente: talentos que precisavam largar atividades esportivas porque tinham que trabalhar para se sustentar, sustentar a família. Antes do Bolsa Atleta, o apoio do poder público era esporádico, esparso. Ao final de cada Olimpíada, sempre havia cobrança da sociedade por maior participação do Estado na formação esportiva da nação. A mais recente edição dos Jogos Pan -Americanos (em 2015, em Toronto, no Canadá) demonstrou a relevância do programa. Sete de cada dez atletas brasileiros que disputaram o Pan-Americano eram beneficiários do Bolsa Atleta. Destaque ainda para a atuação das Forças Armadas e de estatais e companhias públicas como Furnas, Eletrobrás, Petrobrás, Correios, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil no patrocínio de equipes. Desde 2007, o Brasil mantém a terceira posição no quadro geral dos Jogos Pan-Americanos (Rio 2007, Guadalajara 2011 e Toronto 2015). Além do apoio financeiro a atletas e equipes, fica como herança a infraestrutura esportiva erguida para abrigar as competições. São centros de treinamento, ginásios, arenas, parques aquáticos e outros espaços que dão o país condições materiais para a formação de atletas, assim como a realização de eventos de alto rendimento. É verdade que essas instalações estão concentradas em sua maioria no Rio de Janeiro, o que cria uma desigualdade no processo de desenvolvimento do setor. Há, entretanto, legados importantes fora da cidade. Em Santos, litoral de São Paulo, investimentos em espaços para abrigar delegações estrangeiras de judô e natação, por exemplo, vão deixar instalações nessas atividades. Mas é na capital paulista onde está, talvez, a mais emblemática herança dos Jogos Olímpicos do Rio: o Centro Paralímpico. O Centro Paralímpico de São Paulo tem 95 mil m² de área construída e é

apontado como um dos mais modernos do mundo. Segundo o Ministério do Esporte e a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, o centro “segue o conceito de países potência no esporte adaptado, como Ucrânia, China e Coreia do Sul, e é um dos quatro maiores centros de treinamento existentes no mundo”. É o que vai abrigar a maior quantidade de modalidades – 15 no total.

MOBILIDADE URBANA Os Jogos vão deixar algumas marcas na infraestrutura urbana do Rio de Janeiro. Uma das mais significativas deverá ficar com a mobilidade. As competições estão distribuídas em quatro áreas – Zona Barra da Tijuca, Zona Deodoro, Zona Copacabana e Zona Maracanã – distantes, em alguns casos, dezenas de quilômetros entre si. Isso exigiu investimentos em transporte público e em abertura e revitalizações de vias. Nem tudo, porém, saiu como o prometido. Tida como essencial para os Jogos e citada pelas autoridades como principal legado, a ampliação da Linha 4 do metrô não foi concluída a tempo. A entrega completa da extensão da linha foi adiada para 2018. Parcialmente, ela deve estar funcionando durante os dias de competições, mas só o público com bilhete específico para os Jogos tem acesso ao sistema. O mesmo vai ocorrer com o BRT (sigla para Bus Rapid Transit, corredor exclusivo de ônibus) Transolímpica, entre a Zona Deodoro e a Zona Barra da Tijuca. Já o BRT Transbrasil (Deodoro ao Centro da Cidade) não ficou pronto. Questiona-se também a ênfase aos investimentos em BRT em detrimento de modais com maior capacidade e menos poluentes, como o próprio metrô e os Veículos Leves sobre Trilhos (VLT). Embora mais baratos e mais rápidos de serem construídos, os BRTs têm prazo de saturação de capacidade menor, ainda mais para grandes distâncias. O BRT Transcarioca, por exemplo, inaugurado para a Copa do Mundo de 2014 e que liga o Aeroporto Internacional Tom Jobim à Zona Oeste, dois anos depois já está marcado pela superlotação dos ônibus e excesso de veículos (para dar conta da demanda) congestionando o corredor. A ampliação do metrô, modal de maior capacidade e velocidade, foi

mínima. Um ramal de VLT até foi implantado, mas percorre um curto trajeto entre a zona portuária revitalizada e a rodoviária do Rio de Janeiro – tem servido mais como um modal para passeio turístico do que para o transporte urbano coletivo. Também não foram feitos investimentos mais significativos no sistema de trens – apenas intervenções pontuais para dar conta do aumento da demanda nas duas semanas de Olimpíada.

DESCONFIANÇA O VLT, aliás, tornou-se mascote de uma modificação importante trazida pelos Jogos: a revitalização da região portuária, às margens da Baía de Guanabara. Da Praça Mauá até a Rodoviária Novo Rio, no lugar de galpões abandonados o que se vê hoje é o surgimento de empreendimentos culturais (como o Museu do Amanhã) e empresariais. A via elevada Avenida Perimetral foi derrubada e arejou a região. Nos últimos meses, a área virou polo turístico; nos dias dos Jogos Olímpicos, shows e outras atividades são realizados ali – o que deverá ser incorporado à rotina da cidade, depois que a Olimpíada se encerrar. Os métodos que viabilizaram a revitalização, porém, receberam críticas. De acordo com movimentos sociais, o poder público, em favor da especulação imobiliária, promoveu uma espécie de “higienização”, inviabilizando a permanência na região de moradores de baixa renda, que se viram forçados a migrar para a periferia da cidade. A especulação imobiliária norteou também obras na região oeste, na Zona da Barra da Tijuca. Lá está a Vila Olímpica, que foi erguida por construtoras privadas ao custo de intervenções urbanas públicas (desapropriações para abertura de vias, por exemplo) que ocasionaram remoções de famílias que ocupavam áreas irregulares. Movimentos de luta por moradia e direitos sociais condenaram a retirada de moradores em nome de uma necessidade de legalização. Não à toa, nesses segmentos os Jogos Olímpicos foram apelidados de “Jogos da Exclusão”. Pairam no ar, na opinião pública, dúvidas quanto aos reais custos para se viabilizar a Olimpíada no Rio de Janeiro. Corrupção, superfaturamento

de obras e aditivos contratuais suspeitos são práticas antigas no Brasil, mas recentemente ganharam maior visibilidade e repercussão. Assim, a desconfiança coletiva em torno de qualquer obra ou investimento – com fundamentação concreta ou não – tem contribuído para tirar o brilho e a empolgação dos brasileiros para com os Jogos Olímpicos. O não cumprimento de promessas e prazos reforça tal desconfiança. Além das obras de mobilidade urbana inacabadas, ações destacadas pelas autoridades como legado na área de meio ambiente não foram implementadas. Investimentos em saneamento básico para a despoluição da Baía de Guanabara, por exemplo, não se concretizaram.

SEGURANÇA PÚBLICA Em segurança pública, por sinal, o legado esperado é duramente criticado por entidades sociais. Para os que fazem essa crítica, em nome de garantir a ordem, as forças de segurança adotam a truculência e a violação de direitos. “O Brasil repete graves erros na política de segurança pública e no uso da força policial, que se tornaram ainda mais explícitos em grandes eventos como a Copa do Mundo em 2014”, assinala, em texto divulgado em 2 de junho, a Anistia Internacional. “Em 2009, quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas 2016, as autoridades prometeram melhorar a segurança para toda a população. No entanto, ao longo desse período, 2.500 pessoas foram mortas pela polícia somente na cidade e a justiça foi obtida em uma parcela mínima dos casos”, afirma no texto o diretor executivo da entidade, Atila Roque. Segundo informações oficiais, 65 mil policiais e 20 mil soldados das Forças Armadas compõem a força de segurança durante a realização dos Jogos Olímpicos. “O plano prevê o envio de parte deste contingente a incursões e operações em favelas, o que no passado resultou em uma extensa lista de violações de direitos humanos, cujas investigações ainda estão em andamento”, acrescenta a Anistia Internacional. Segundo fontes oficiais, os Jogos Olímpicos Rio 2016 custaram R$ 39 bilhões. Isso equivale ao que Brasil paga, por mês, de juros da dívida.


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Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo para a Europa Concertos trazem toque brasileiro para festivais em Londres, Edimburgo e Lucerne Por Nathália Braga

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A Europa será neste mês palco de apresentações da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) – uma das mais prestigiadas da América do Sul. A passagem pelo velho mundo começa no Festival Internacional de Edimburgo, no dia 22 de agosto. No dia 24, é a vez de Londres receber a Osesp no Royal Albert Hall, com dois concertos na mesma noite. No dia 26, a orquestra segue para a Suíça para o Festival de Lucerne. As apresentações tem como foco a música brasileira. Ao todo serão cem músicos presentes nos concertos. O grupo é bastante diverso, com maioria formada por brasileiros, mas conta também com músicos de 17 nacionalidades diferentes. Representar a música e a cultura do Brasil em um momento de instabilidade política e econômica é ainda mais importante. “É crucial representar o país em de uma forma positiva. Estamos muito orgulhosos em poder representar o Brasil no mundo dos palcos”, diz a diretora musical e regente titular da Osesp, Marin Alsop. No dia 22 de agosto, será a primeira vez da Osesp na Escócia, durante o Festival

Internacional de Edimburgo. A apresentação terá como destaque os compositores Villa Lobos, Christopher Bell e Shostakovich. No dia 24, no Royal Albert Hall, em Londres, serão dois concertos dentro do BBC Proms, o primeiro às 19h e o segundo, às 22h15. Na primeira apresentação, será realizada a estreia do compositor brasileiro Marlos Nobre no Reino Unido, com sua composição própria Kabbalah, além de um concerto de piano com a venezuelana Gabriela Monteiro. No segundo evento da noite, o Late Night Concert, às 22h15, membros da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo irão se juntar à Osesp em uma apresentação para celebrar a música popular brasileira dos últimos 100 anos, com composições de Pixinguinha, Dorival Caymmi e Tom Jobim. Os ingressos para o show das 19h estão esgotados, mas é possível tentar comprar na porta do Royal Albert Hall no dia da apresentação. Os ingressos são limitados e estarão disponíveis por ordem de chegada. O ingresso custa £6 e garante a entrada para assistir a apresentação em

pé. O evento também será televisionado pela BBC Four. Os ingressos para o Late Night Concert ainda estão disponíveis no site da BBC Proms. Será a segunda vez que a Osesp participa do BBC Proms, sendo que a primeira vez foi em 2012, ocasião que foi também a primeira participação de uma orquestra brasileira no festival. Desde então, a Osesp ganhou ainda mais visibilidade e tem sido convidada para eventos em toda a Europa. “Tenho muito orgulho de ter um relacionamento com o BBC Proms e ter me apresentado no evento desde o início dos anos 2000. Nossa estreia em 2012 foi empolgante, com fãs brasileiros segurando a bandeira do país e nos apoiando. Neste ano deve ser ainda mais animado, já que estaremos nos apresentando duas vezes na mesma noite, sendo o segundo concerto focado em música popular brasileira”, comenta Marin. Após a participação no BBC Proms, a Osesp segue para a Suíça, onde se apresentará no Festival de Lucerne. O concerto será no dia 26 de agosto e o programa será o mesmo apresentado na capital britânica.


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Natalia Kikuchi

Tulipa Ruiz + DJ D.Vyzor Quinta-Feira 8 de Setembro Rich Mix comono.co.uk

MARIA DOMINGO 23 DE OUTUBRO

Nelson Antoine

‘Sublime’ The Times “Mágico” The Independent

Segunda-Feira 26 de Setembro

A orquestra e sua regente, Marin Alsop

AGENDA DA OSESP NA EUROPA Festival Internacional de Edimburgo 22 de agosto, às 19h30 – www.eif.co.uk

BBC Proms

24 de agosto, às 19h e às 22h15 – www.bbc.co.uk/events/epbhn3 Ao vivo na BBC Radio 3 e no canal BBC Four

Festival de Lucerne

26 de agosto, às 19h30 – www.lucernefestival.ch/en

ANTÓNIO ZAMBU O TERÇA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO UNION CHAPEL COMONO.CO.UK


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DICAS

RIO 2016 Onde assistir aos Jogos Olímpicos em Londres g

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Beach East | Localizada no Queen Elizabeth Olympic Park e com mais de dois mil metros quadrados de areia, a área decorada como o Rio de Janeiro oferece entretenimento para toda a família. Além de grandes telões disponíveis para assistir à cobertura ao vivo dos Jogos, há dois bares para manter os espectadores refrescados. (Até 4 de setembro / todos os dias das 10am às 10pm / adultos pagam £2 e crianças de 3 a 12 anos pagam £1; entrada gratuita para crianças com menos de 3 anos). Team GB Fan Zone | A área oficial de torcida pelos atletas britânicos na London Bridge City é um local fantástico para aproveitar toda a ação e atmosfera dos Jogos Olímpicos Rio 2016. A Fan Zone vai transmitir algumas competições ao vivo em horários específicos, oferecendo a chance de compartilhar momentos históricos do esporte olímpico, assim como praticar alguns deles no local. (London Bridge City, More London Riverside, Southwark, SE1 2DB / www.lbcsummerfestival.com). Divulgação

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Rio Lounge | Durante a Olimpíada Rio 2016, a Embaixada do Brasil em Londres abre suas portas para o público assistir aos Jogos em uma atmosfera carioca. O Rio Lounge vai apresentar também outras atrações turísticas do Estado do Rio de Janeiro, como suas praias, cidades históricas e florestas. (6 a 20 de agosto / segunda a sábado, das 10am às 7pm / entrada gratuita / 14-16 Cockspur Street, SW1Y 5BL).

Pop Brixton | Um paraíso de verão para os amantes do esporte no sul de Londres, com uma tela enorme para transmitir grandes eventos esportivos e um espaço para que os visitantes se exercitem. Os visitantes podem ainda comer e beber entre uma competição e outra. (53 Brixton Station Road, SW9 8PQ / free admission / www.popbrixton.org). Boxpark | Além de diversas opções de comidas e bebidas, há cadeiras disponíveis para você se sentar ao ar livre e curtir os Jogos Olímpicos Rio 2016 em um telão, ao lado da Shoreditch High Street Station. (2-10 Bethnal Green Rd, E1 6GY / www.boxpark.co.uk). Made in Brasil | Durante os Jogos Olímpicos, o Made in Brasil (12 Inverness Street, NW1 7HJ) e o Made in Brasil Boteco (48 Chalk Farm Road, NW1 8AJ) vão transmitir as competições em telões – com muita música brasileira para acompanhar. Além disso, o Made in Brasil Boteco faz o Festival da Cachaça nos dias 4, 11 e 18 de Agosto, a partir das 6pm.

CINEMA Dirty Movies apresenta ‘O Som ao Redor’ e ‘Boi Neon’ Em mais duas sessões realizadas pela Embaixada do Brasil em Londres em parceria com o site Dirty Movies (www.dirtymovies.org), o público poderá assistir em agosto aos filmes O Som ao Redor, escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho, e Boi Neon, dirigido por Gabriel Mascaro. No primeiro, a presença de uma milícia em uma rua de classe média na zona sul do Recife muda a vida dos moradores do local. Ao mesmo tempo em que alguns comemoram a tranquilidade trazida pela segurança privada, outros passam por momentos de extrema tensão. No segundo, Iremar (Juliano Cazarré) é um vaqueiro de curral que viaja pelo Nordeste, ao lado de Galega (Maeve Jinkings) e a pequena Geise (Samya de Lavor). Por onde passa Iremar recolhe revistas, panos e restos de manequins, já que seu grande sonho é largar tudo para iniciar uma carreira como estilista no Pólo de Confecções do Agreste. Quando: 16 (O Som ao Redor) e 31 (Boi Neon) de agosto Onde: Embaixada do Brasil (14-16 Cockspur Street, London SW1Y 5BL) Entrada: Gratuita (reserva via culturalbrazil.rsvp@gmail.com) Info: www.brazil.org.uk


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MÚSICA

PARA CELEBRAR A EXPOSIÇÃO

GANHE UMA UNDER THE SAME SUN: SACOLA COM ART FROM LATIN AMERICA TODAY BRINDES NA SOUTH LONDON GALLERY

O Rappa Depois do enorme sucesso do show do ano passado na capital inglesa, a O Rappa volta a Londres para tocar músicas de seu mais recente álbum, Nunca Tem Fim, além de outros hits como ‘Me Deixa’. Quando: 13 de agosto Onde: Electric Brixton (Town Hall Parade, London SW2 1RJ) Entrada: £25 Info: www.electricbrixton.uk.com

Tulipa Ruiz Tulipa Ruiz está na vanguarda das novas cantoras brasileiras – sua voz é lúdica e teatral, variando ritmos leves e badalados. Sua levada pop se expande sobre os impulsos estilísticos da Tropicália, fundindo uma gama de influências em suas composições próprias. FOTO: ANDY STAGG

Quando: 8 de setembro Onde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road, London E1 6LA) Entrada: £12-15 Info: www.richmix.org.uk

Maria Gadú Na vanguarda da Música Popular Brasileira, Maria Gadú apresenta seu novo álbum, Guéla, com sua banda. As músicas acústicas e sentimentais de Gadú caberiam confortavelmente na categoria indie pop, mas sua voz apaixonada e violão são notavelmente brasileiros. Quando: 23 de outubro Onde: Barbican Hall (Silk Street, London EC2Y 8DS) Entrada: £15-35 Info: www.barbican.org.uk

Estamos oferecendo aos leitores do Brasil Observer a chance de ganhar 1 de 3 sacolas com brindes para celebrar a exposição Under the Same Sun: Art from Latin America Today, que apresenta trabalhos de mais de 40 artistas da América Latina da coleção do Solomon R. Guggenheim Museum, em Nova York. Cada sacola contém um bloco de notas, um catálogo da exposição em capa dura e alguns lápis – as ferramentas perfeitas caso você se sinta inspirado pela exibição. Em cartaz na South London Gallery até dia 4 de setembro, a exposição inclui desenhos, instalações, formatos multimídia, pinturas, performances, esculturas e vídeo, apresentando uma variedade estética desde os anos 1970 até o presente. A exibição considera a diversidade das respostas artísticas às realidades moldadas pela história colonial e moderna. Para participar do sorteio, acesse www.hotticketoffers.com/competition/slgbrasilobserver e insira o código promocional SLG. A competição se encerra às 5pm de segunda-feira dia 22 de agosto. Boa sorte!

Boa sorte!

UNDER THE SAME SUN: ART FROM LATIN AMERICA TODAY Zeca Pagodinho Um dos sambistas mais populares do Brasil e quatro vezes vencedor do Latin Grammy, Zeca Pagodinho retorna a Londres para uma apresentação única pela primeira vez em uma década. Escolhido para cantar na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, Zeca Pagodinho e sua música continuam a encarnar o espírito livre do carioca. Quando: 29 de novembro Onde: Hammersmith Apollo (45 Queen Caroline St., London W6 9QH) Entrada: A partir de £29.50 Info: www.eventimapollo.com

Até 4 de setembro de 2016 South London Gallery 65-67 Peckham Road, London, SE5 8UH www.southlondongallery.org Termos e condições: O prêmio consiste em 1 de 3 sacolas com brindes concedidas pela South London Gallery. Os vencedores devem coletar o prêmio pessoalmente na loja da South London Gallery durante os horários de funcionamento: terça a domingo, das 11am às 6pm. Os prêmios não podem ser entregues a domicílio. Uma entrada no sorteio por pessoa – múltiplas entradas não serão aceitas. O vencedor será notificado através dos contatos fornecidos na entrada do sorteio. Todos os prêmios não são transferíveis e não podem ser dados, nomeados ou vendidos a outra pessoa. Se um vencedor não buscar seu prêmio em até 10 dias a partir da notificação, o prêmio será transferido para outro vencedor.


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COLUNISTAS FRANKO FIGUEIREDO

Estilo de vida wabi-sabi Como desenvolver uma atitude mais positiva em relação à vida em um mundo dominado pelo consumo, onde as diferenças são destacadas e comparadas diariamente, onde tanto a mídia quanto os políticos instigam mais divisão e ódio?

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Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs

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Perguntei para alguns amigos japoneses como eles definiriam a expressão wabi-sabi. Depois de um longo silêncio, obtive uma resposta: “o significado é muito complexo para ser explicado em poucas palavras”. Descobri esse tal de wabi-sabi há uns 20 anos e, de fato, não se trata de algo que podemos definir facilmente. Mas vale a pena investigar seu significado e tentar aplicá-lo em algumas circunstâncias do dia-a-dia. Como desenvolver uma atitude mais positiva em relação à vida em um mundo dominado pelo consumo, onde as diferenças são destacadas e comparadas diariamente, onde tanto a mídia quanto os políticos instigam mais divisão e ódio? Podemos ver as complexidades do mundo e amá-las do jeito que são? A estética wabi-sabi nos ajuda a fazer isso. Wabi-sabi é uma filosofia estética ancestral com raízes no Budismo, particularmente na cerimônia do chá, um ritual de simplicidade no qual o mestre valoriza as tigelas feitas à mão e em formato irregular, com polimento desigual e rachaduras. A beleza estaria nas imperfeições. Wabi-sabi, de acordo com o meu entendimento, celebra a beleza em seu estado natural, com todas as suas falhas. O artista e escritor Leonard Koren definiu a filosofia wabi-sabi como “a beleza das coisas imperfeitas, não permanentes e incompletas, a antítese de nossa visão clássica ocidental de beleza como algo perfeito, duradouro e monumental”. Na Wikipedia, você encontrará a seguinte definição (em inglês e aqui traduzida): “Wabi refere-se originalmente à solidão de viver na natureza, longe da sociedade; sabi significa ‘frio’, ‘magro’, ‘seco’. Por volta do século 14 esses significados começaram a mudar, ganhando conotações mais positivas. Wabi agora se refere à simplicidade rústica, frescor e tranquilidade, e pode ser aplicada tanto para objetos naturais como feitos pelo ser humano, ou elegância discreta... Sabi é a beleza ou serenidade que vem com o tempo, quando a vida do objeto e sua impermanência são evidenciadas pelo desgaste, ou em qualquer reparo visível”. De volta para casa, na Ilha de Wight, temos essa mesa de jantar cheia de marcas de vinho e cavidades de acidentes passados. Cada marca traz sua própria memória. Enquanto algumas pessoas podem vê-la como um velho pedaço de lixo, para mim a mesa carrega uma história e sua beleza reside em sua própria existência desgastada. A tradição japonesa do wabi-sabi oferece uma nova maneira inspiradora de enxergar a vida, não apenas do ponto de vista material como também espiritual. Felicidade e realização não vêm da mera aquisição de coisas nem da conquista de qualquer forma de poder, mas do profundo entendimento e aceitação da vida. No momento estou coproduzindo Luna Park, de Donald Margulies, para o Festival de Edimburgo. Na peça, um homem infeliz tenta mudar sua condição de vida atual viajando ao passado e interferindo na vida de sua mãe, mas acaba percebendo que ele só pode mudar a

vida mudando a si próprio, suas próprias atitudes. Não podemos mudar os outros, mas podemos mudar a nós mesmos. Temos todos os dias a oportunidade de começar de novo, apreciando aquilo que temos, optando pela gentileza em vez do ódio, pela solução em vez do conflito. Aceitação e transformação fazem parte da estética wabi-sabi. Tem um comercial de TV tailandês fazendo grande sucesso nas redes sociais no qual um homem passa o dia fazendo coisas boas: ele é molhado pela água vazada de um prédio, mas em vez de reclamar ele encontra um vazo de planta maltratada e posiciona-o em baixo do vazamento; ajuda uma mulher a subir sua carroça de comida na calçada; encontra uma mãe e sua filha pedindo esmola para educação e dá dinheiro a elas; dá parte de seu almoço a um cachorro; deixa um cacho de banana para a vizinha. O personagem continua fazendo atos de gentileza durante o dia, a semana, o ano e nos é dito que “ele não ganhou nada, não ficou rico, não apareceu na TV”. Ainda anônimo, o homem começa a perceber os resultados de suas ações: a jovem menina não está mais ao lado da mãe pedindo esmola, mas vestindo o uniforme da escola; o cachorro, a senhora da carroça e a vizinha se tornam amigos; e a planta que estava morrendo agora está cheia de vida. O comercial então diz “o que ele recebe são emoções; ele testemunha a felicidade; ele atinge um entendimento mais profundo; sente o amor; recebe o que o dinheiro não pode comprar”. O que ele ganha é um mundo mais bonito. Você poderia dizer que o homem do comercial estava vivendo um estilo de vida wabi-sabi, vendo e fazendo coisas boas diariamente. Ele parece ter desenvolvido uma compaixão inerente por tudo que o cerca sem buscar nenhum poder, aceitando a vida com todas as suas falhas e transformando-a da melhor maneira possível com ações. Não é preciso ter dinheiro ou habilidades especiais para praticar um estilo de vida wabi-sabi, mas talvez algum tipo de treinamento seja necessário. Treinamento que envolve desacelerar, mudando a balança do fazer para o ser, da multitarefa para a tarefa única, do perfeccionismo para a apreciação. Wabi-sabi é vida, nos lembra de que somos todos passageiros, que estamos todos no mesmo ciclo de crescimento e decadência, e como a vida é muito mais bonita se aceitarmos as marcas do tempo – em vez de tentarmos embalsamar nossos corpos para que sejam sempre jovens. Nos ajuda a olhar o outro, encontrar as semelhanças e aprender a amar as diferenças. Não é fácil. Se fosse, não teríamos Luna Park para nos mostrar que podemos alcançar muito mais ao aceitarmos e nos responsabilizarmos por nossos sonhos. O comercial de TV tailandês termina perguntando: “e você, o que você deseja?”, para então mostrar os detalhes da marca de seguro de vida e dizer “nós acreditamos no bem”. E você, acredita?


brasilobserver.co.uk | Agosto 2016 21

HELOISA RIGHETTO

‘Feministês’ O mais importante é entender que feminismo não é o contrário de machismo. O machismo domina, o feminismo liberta “Se machismo não é bom, por que seria o feminismo?”, pergunta a pessoa (que você não conhece, mas por algum algoritmo mal resolvido aparece em sua timeline) que nunca buscou informação sobre a luta feminista e a desigualdade de gênero. Além dessa, é comum encontrarmos também a afirmação “acredito que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos, mas não gosto de rótulos”, assim como outra que se tornou mais comum nos últimos anos: “eu sou humanista”. Apesar do crescimento do movimento feminista, seria arrogante partir do princípio de que todo mundo sabe o que isso significa. Afinal, se todos nós nascemos em um meio extremamente machista, não é surpresa o fato de que muita gente sequer sabe que existe uma alternativa à sociedade patriarcal, na qual o homem é visto como chefe de família, o provedor e comandante de todas as engrenagens que fazem o mundo funcionar. O mais importante é entender que feminismo não é o contrário de machismo. O machismo domina, o feminismo liberta. O machismo enxerga as mulheres como cidadãs de segunda classe que não devem ter os mesmos direitos dos homens. Votar, trabalhar, dirigir, liderar são alguns exemplos. E o objetivo do feminismo não é inverter essa ordem e oprimir os homens. O feminismo quer igualdade entre homens e mulheres, e para isso identifica e traz à tona disparidades (desde a cobertura da mídia aos salários e casos de violência) e cria ferramentas para as que as mulheres contestem e superem essas diferenças. O empoderamento é uma dessas

ferramentas. Dar espaço para mulheres em conferências, colocar mais atrizes em papéis principais de filmes e peças de teatro, patrocinar eventos esportivos com participantes mulheres, criar projetos online que deem voz para mulheres, comprar produtos criados e confeccionados por cooperativas de mulheres etc. Tudo isso empodera. Cada mulher se sente empoderada a sua maneira, o que às vezes pode gerar ações contraditórias. Por exemplo, algumas eliminam maquiagem e produtos de beleza por completo, enquanto outras os veem como aliados no empoderamento. E o feminismo permite isso porque não é um conjunto de regras escritas na pedra. Como escrevi anteriormente, o feminismo liberta e está em constante evolução. A sororidade também é uma ferramenta feminista. Nada mais é do que a ideia de que juntas as mulheres são mais fortes. Como em quase todas as esferas da sociedade, certo? Um indivíduo raramente alcança seus objetivos sem contar com ajuda de outros. O machismo há tempos encoraja a rivalidade entre mulheres e às vezes nos vemos concordando com ideais completamente sexistas (como “odeio trabalhar com mulheres” ou “todas as mulheres falam mal umas das outras”), sem nunca termos questionado sua veracidade. A sororidade faz com uma mulher empoderada ajude outra a buscar empoderamento, criando assim uma rede de apoio enorme, algo que transcende diferenças. A sororidade é elemento chave para que a gente continue a aprender. É por causa dessa união que ultimamente as mulheres têm conseguido identificar e combater o gaslighting, por exemplo. Gaslighting é um termo em inglês que identifica situações onde a mulher é diminuída. Tachada como “louca”, “histérica” e “desequilibrada” quando na realidade está enfrentando uma situação difícil, expondo seus sentimentos ou dando duro em busca de um objetivo. Quantas vezes você ouviu um homem falar de uma amiga ou ex-namorada assim? Na próxima vez, duvide. E o humanismo? O humanismo é a teoria de que o ser humano está no centro do mundo, ou seja, nada tem a ver com igualdade de gênero. Então pare de usar essa expressão e assuma logo que você é feminista. g

Heloisa Righetto é jornalista e escreve sobre feminismo (@helorighetto – facebook.com/conexãofeminista)


22 brasilobserver.co.uk | Agosto 2016

LONDON BY

Londres está nos detalhes

Rafa Maciel é gaúcho e mora em Londres desde 2014. É guia de passeios temáticos para brasileiros e faz o canal no YouTube Guri in London e o podcast Chá dos 3 (www. guriinlondon.com).

g

Rafa Maciel explora algumas curiosidades da capital britânica

Estátua do Rei Charles I, o baixinho

Reprodução (Wikimedia)


brasilobserver.co.uk | Agosto 2016 23

L

Ex-menor estação de polícia do Reino Unido

Reprodução (Wikimedia)

Reprodução (Wikimedia)

Jazz After Dark, no coração do Soho

Memorial de John Snow

Roman Hobler/Flickr

Reprodução (Wikimedia)

Londres é uma cidade que vai além. A comida vai além de fish & chips, a terra vai além da rainha e o turismo vai além do Big Ben – e do fato de ele ser o sino, não o relógio. Nestes dois anos e meio que trabalho como guia de passeios temáticos pela cidade eu descobri muitos pontos interessantes e curiosidades bacanas. Estou sempre buscando algo novo para contar e entreter os participantes. O que acho espetacular em uma cidade como Londres é o respeito às tradições e o significado de cada um de seus monumentos. O Rei Charles I da Trafalgar Square, por exemplo, é de onde são medidas as distâncias de Londres. Algo como se fosse o marco zero da cidade. O que poucas pessoas sabem, no entanto, é que este rei tinha uma característica, digamos, anormal para um rei: ele tinha uma altura da qual não se orgulhava muito, não passando de 1.63m. Se você reparar com cuidado na estátua de Charles I dá pra ver que a cabeça do cavalo no qual ele está montado é ridiculamente menor em proporção ao resto do corpo. Isso justamente pra dar a impressão de que o rei era maior. Em algumas pinturas do rei esta mesma técnica é adotada. Ainda na Trafalgar Square está localizada aquela que foi a menor estação de polícia do Reino Unido. Se você reparar no lado sudeste da praça há um espaço parecido com uma cabine, com duas portas e uma luz em cima. Isso era para o policial ficar de olho no que estava acontecendo na praça durante os protestos, que no passado aconteciam principalmente ali. Se ele precisasse chamar atenção de outro oficial, ele piscaria a luz que está em cima da estação. Hoje em dia infelizmente esta não é mais a função da “estação”. O espaço serve de armário de vassouras de Westminster. Outra coisa que também me desperta muita curiosidade em Londres são as marcas de guerras que ainda estão presentes na cidade. Mas creio que isso vai muito além de partes reconstruídas e marcas de bombas. Na margem sul do Rio Tâmisa, por exemplo, do lado oeste da Southwark Bridge existe um cinzeiro que era originalmente um canhão francês. Este navio foi derrotado durante a Batalha de Trafalgar (que dá nome à praça central de Londres) e como “prêmio” trazido às terras britânicas. Como os canhões dos navios franceses não serviam nos navios ingleses, eles utilizavam pra colocar nas ruas, pra cavalos ou carroças não subirem na calçada; ou então como cinzeiro, como é o caso deste exemplo. Os troncos que existem nas ruas hoje em dia são inspirados nos canhões, inclusive. Também é impossível não reconhecer que o rock britânico tem uma importância fundamental pra música mundial! Um belo local para ter um gostinho disso e viver uma daquelas noites de vinho e boa música é o Jazz After Dark, no coração do Soho (9 Greek Street, W1D 4DQ). Amy Winehouse já mostrou sua voz nesse bar, junto com braços sem tatuagem e cabelo sem cachopa. Ela se apresentava no local ainda antes de lançar o primeiro disco, Frank. Depois seu falecimento, a família dela foi até o bar para celebrar a vida da artista. Por falar em bar, se você já passou em frente a um pub chamado John Snow, no Soho, saiba que ele não é aquele Jon Snow. O John Snow do Soho foi responsável pela prova de que a cólera era uma doença transmitida pela água e não pelo ar, como muita gente pensava. Isso porque depois de uma epidemia de cólera em 1854 ele mapeou todas as vítimas e viu que o que havia em comum entre elas é que todas passavam por uma bomba d’água que ficava bem em frente ao pub. Ele isolou esta bomba, impedindo as pessoas de beber dela, e ninguém mais contraiu a doença. Na próxima vez que passar pela Broadwick Street, repare na pedra de granito avermelhada em frente ao pub. Aquele é o exato local onde a bomba d’água ficava. A relação com séries do pub é na verdade na série Sherlock, da BBC. Ele aparece em algumas cenas do primeiro episódio. O mais interessante (e irônico) é que apesar de o nome do pub ser o nome de John Snow, ele não bebia álcool. Outra rua que tem história pra contar é a Brune Street, em Whitechapel. De um dos lados dessa rua o prédio tem uma inscrição que registra a época em que ele servia como uma cozinha comunitária que servia sopa aos imigrantes judeus. A inscrição diz “kitchen soup for the Jewish poor” com o ano 1902 (e 5662, que é o ano 1902 no calendário judaico). Do outro lado da rua, ao lado de uma porta tem uma inscrição que diz “entrance to shelters”. Este é um dos resquícios de entrada de um dos abrigos utilizados pela população durante os bombardeios alemães na Segunda Guerra Mundial. E ainda acredito que isso tudo seja apenas o início da exploração. Espero cada vez mais poder descobrir segredos e histórias da cidade que ajudam a renovar meu amor por ela. Isso seja nas grandes histórias ou naqueles que nos levam mais além.

Cozinha que servia sopa aos imigrantes judeus


24 brasilobserver.co.uk | Agosto 2016

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brasilobserver.co.uk | Agosto 2016 25

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