Brasil Observer #31 - BR

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B R A S I L O B S E R V E R LONDON EDITION

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ISSN 2055-4826

SEPTEMBER/2015

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SUMÁRIO 4 6 8 10 12 14 16 20 22 23 26 28 30

EM FOCO Brasil marca presença em maior feira de petróleo da Europa

LONDON EDITION

COLUNISTA CONVIDADO Kjeld Jakobsen escreve sobre as semelhanças entre Brasil e Grécia É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

COLUNISTA CONVIDADO S. Costa, B. Fritz e M. Sproll sobre a desigualdade no Brasil PERFIL Gabriela Lobianco entrevista a atriz e escritora Fernanda Torres

ANA TOLEDO Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk

BRASIL GLOBAL Qual é a origem da crise migratória? E o Brasil com isso?

GUILHERME REIS Diretor de Redação guilherme@brasilobserver.co.uk

CONEXÃO BR-UK Chevening, Fundo Newton, Intercâmbio, Ciência Sem Fronteiras

ROBERTA SCHWAMBACH Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk

BRASILIANCE Quando o Brasil vislumbrava sair da turbulência econômica... CONECTANDO Ensaio sobre a complexa relação entre língua, linguagem e poder

EDITOR EM INGLÊS Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk

NOW Jovens urbanos de origem popular cruzam fronteiras

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe peixe@brasilobserver.co.uk

GUIA Companhia Café Cachorro apresenta a peça Ondenunca Beckett

COLABORADORES Ana Beatriz Freccia Rosa, Aquiles Rique Reis, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Nadia Kerecuk, Ricardo Somera, Wagner de Alcântara Aragão

DICAS CULTURAIS Música, Cinema, Teatro e Literatura COLUNISTAS Franko Figueiredo em ‘Quando a humanidade toma forma’ Ricardo Somera em ‘Plata o plomo?’

IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias

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ARTE DA CAPA

Onio

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O interesse de Onio (Adriano Cinelli) pelo graffiti surgiu quando ele andava de skate pelas ruas de Brasília, com apenas 13 anos. Não demorou muito para começar a espalhar sua marca pela cidade, na época com seu nome. Assim tornouse um dos primeiros artistas do graffiti na capital brasileira e hoje um dos principais expoentes do Graffiti no Brasil. Onio mistura técnicas com spray, com tinta à base de água. Seu processo criativo é livre e seus desenhos abstratos, coloridos representam o caos urbano. Onio acabou de voltar para o Brasil depois de uma longa turnê na Europa, onde fez residências em diferentes países e mostra em seis cidades. Em Londres participou do LATA Festival, evento organizado pela Pigment e Braziliarty.

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EM FOCO

BRASIL MARCA PRESENÇA NA OFFSHORE EUROPE

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Quase 30 empresas brasileiras participaram, de 8 a 11 de setembro, da Offshore Europe, a maior feira de petróleo da Europa, que foi realizada na cidade de Aberdeen, na Escócia. O evento também sediou a quinta edição do Brazil-UK Oil and Gas Meeting, realizado anualmente pela Embaixada do Brasil em Londres – este ano em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e a UKTI (UK Trade & Investment). Apesar da crise mundial na área do petróleo, muitas empresas inglesas, irlandesas e escocesas têm interesse em estreitar relações com as empresas brasileiras. As negociações foram capitaneadas pela UKTI, que organizou encontros “um a um” entre representantes de empresas do Brasil e do Reino Unido. Também participaram da organização da missão a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).

Entrada da feira em Aberdeen, na Escócia. No detalhe, movimento em frente ao estande da delegação brasileira

A busca foi por novos negócios que podem resultar em desenvolvimento e trocas de tecnologias e criação de joint ventures, para que as empresas britânicas possam chegar ao Brasil e atender ao mercado, seguindo as exigências de conteúdo nacional, sem precisarem aprender o cipoal de taxas, impostos e burocracias. A lista das empresas que fizeram parte da delegação brasileira, em ordem alfabética: Analítica Química, Ápice Projetos de Gestão, Araxá Ambiental, Assess, Azanonatec, Casa do Torneiro, Emalto Indústria, Estel Serviços industriais, Estevão Odone Leuck & Cia, Gaia, Gigante Locadora de Guindaste, HP Parafusos e Abrasivos, JG Martins, Lifting, Mac Log Solutions, Megatherm, MPI Eletrônica, Navium, OAZ Administração e Participações, Ogramac, Ponte Consultoria, Progel – Projetos Geológicos, RP Technologies, Tecnofink, Tecnofil, Valtec.

RODADA DE LICITAÇÕES sinal positivo e pode representar a concretização de investimentos em longo prazo no setor brasileiro de óleo e gás. A maior parte das empresas aprovadas para participar da rodada vem de fora do país: são 22 estrangeiras e 15 brasileiras inscritas. Os países de origem são Angola, Argentina, Bermudas, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Estados Unidos, França, Holanda, Japão, Noruega, Panamá, Portugal, Reino Unido, Rússia e Tailândia. Após a feira Offshore Europe de Aberdeen, a Missão Diplomática Britânica realizaria outros três eventos voltados para executivos brasileiros e ingleses dispostos a aproximar instituições, governos, universidades e empresas: Oil & Gas Mission, de 14 a 18 de setembro; Low Carbon Mission, de 28 de setembro a 3 de outubro; e Seminário sobre o Brasil na IMPA, nos dias 9 e 10 de setembro.

ALAN PEEBLES

A quinta edição do Brazil-UK Oil and Gas Meeting teve como objetivo apresentar a potenciais investidores as oportunidades de negócios na área de petróleo no Brasil, e serviu como primeiro evento oficial do novo Embaixador brasileiro no Reino Unido, Eduardo dos Santos. Entre os tópicos discutidos estiveram as oportunidades criadas pelas futuras rodadas de licitações e os desafios de investimento. O próximo leilão organizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) ofertará às companhias um total de 266 blocos, localizados em 22 setores de 10 bacias sedimentares do Brasil. A soma das áreas é de aproximadamente 125 mil km², que passam por 12 estados do país. Agendado para o dia 7 de outubro, a 13ª Rodada irá reunir um total de 37 empresas de 17 nacionalidades distintas. A atração dos olhares estrangeiros para o certame é um


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COLUNISTA CONVIDADO

OS ALTOS E BAIXOS Por Sue Branford

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A não ser que você seja escocês, não é um bom momento para ser de esquerda tanto no Reino Unido quanto no Brasil. Nos dois países a direita está em ascensão. Depois de surpreendente (embora apertada) vitória na eleição de maio passado, o primeiroministro britânico David Cameron, do Partido Conservador (Conservative Party), está a avançar com políticas sociais de extrema-direita que eram inviáveis durante seu primeiro mandato (2010-2015), quando formava um governo de coalizão em que os liberais democratas, sob a liderança de Nick Clegg, exerciam alguma moderação. Mesmo sob a coligação, a renda já havia sido redistribuída dos mais pobres aos assalariados de renda média e alta, mas desde a eleição este processo tem se intensificado de forma significativa, com a imposição de novos cortes drásticos na área de bem-estar social. No Brasil, a presidente Dilma Rousseff, do PT, conseguiu – apenas – manter o poder na eleição de outubro do ano passado, mas o Congresso moveu-se ainda mais para a direita. Encurralada pela evidência de envolvimento do PT em esquema de corrupção na Petrobras, Dilma tem visto sua aprovação ruir enquanto luta pela sobrevivência no cargo. Qualquer esperança de reformas sociais significativas tem sido abandonada.

CONQUISTAS DO PASSADO

Branford, Sue and Rocha, Jan, “Brazil and the Workers Party – from Euphoria to Despair”, Latin America Bureau and Practical Action Publishing, 2015, available at http://goo.gl/0ou4YO, £7.16p paperback and £6.90 ebook g

Com a esquerda tão desmoralizada nos dias que correm, é fácil esquecer que no Brasil e no Reino Unido os governos de centro-esquerda eleitos desde 1995 alcançaram importantes conquistas. Eu bem me lembro do sentimento de otimismo que tomou as ruas de Londres no dia 2 de maio de 1997, quando o Partido Trabalhista (Labour Party), liderado por Tony Blair, chegou ao poder depois de anos de governos conservadores. Rindo e brincando, as pessoas conversavam com estranhos nos ônibus, algo que raramente acontece no Reino Unido. Por algum tempo pareceu possível reverter reformas neoliberais impostas nos 18 anos anteriores e criar uma sociedade mais igualitária. Mais entusiasmados ainda ficaram meus amigos brasileiros quando Lula foi eleito presidente em sua quarta tentativa. Contaram-me sobre as ruas de São Paulo tomadas por bandeiras vermelhas. E sobre como as pessoas pareciam não acreditar que a esquerda finalmente tinha chegado ao poder. Todo aquele otimismo não foi inteiramente desperdiçado – avanços sociais foram alcançados nos dois países. Olhemos primeiro ao Reino Unido. O Partido Trabalhista cresceu do movimento sindical do final do século 19 e ultrapassou o Partido Liberal como principal força de oposição aos conservadores no início da década de 1920. O auge veio em 1945, após uma vitória esmagadora sob a liderança de Clement Atlee. O governo Atlee expandiu radicalmente o estado de bem-estar social, criou um gratuito Serviço Nacional de Saúde (NHS) e nacionalizou um quinto da economia. As bases para o sustentado período de crescimento do Reino Unido, com aumento da prosperidade e queda dos níveis de

desigualdade, foram criadas. Mas a estreita relação entre o Partido Trabalhista e o movimento sindical eventualmente azedou, quando se tornou claro que, com o declínio da economia do Reino Unido, especialmente mineração e indústria, a aliança não seria, por si só, suficiente para proporcionar uma base de governo. Após a vitória do Partido Conservador sob Margaret Thatcher, nas eleições de 1979, o Partido Trabalhista passou por um longo e doloroso processo de reforma para ampliar seu apelo e neutralizar a influência da esquerda. O partido renunciou ao seu compromisso com o socialismo e endossou políticas econômicas neoliberais. Então, depois de 18 anos fora do poder, o partido que em 1997 voltou ao governo sob Tony Blair, novamente em uma vitória esmagadora, era bastante diferente. Mesmo assim, os sindicatos esperavam se beneficiar com as políticas geralmente mais progressistas do Partido Trabalhista e, em certa medida, foi o que aconteceu – com a introdução do salário mínimo, dos direitos laborais e o reconhecimento legal dos sindicatos. De acordo com um estudo, o governo Blair “acabou por ser o mais redistributivo em décadas”. Junto com outras reformas socialmente liberais, a idade de consentimento para homossexuais também foi reduzida para 16, a mesma que para heterossexuais. O que Lula alcançou em seus dois mandatos, em muitos aspectos, foi mais espetacular – em um país onde as reformas introduzidas pelos trabalhistas no Reino Unido depois de 1945 ainda precisavam acontecer. O PT, no entanto, foi igualmente afetado por um declínio na filiação sindical, provocado por mais de uma década de neoliberalismo que enfraqueceu a indústria brasileira. Uma das primeiras medidas de Lula foi fortalecer o Bolsa Família, um programa de bem -estar em que as famílias mais pobres recebem pagamentos mensais em dinheiro, desde que os filhos estejam matriculados na escola. Até 2012, o programa contava com 15 milhões de beneficiários – cerca de uma em cada quatro famílias. O governo também aumentou o valor real do salário mínimo, o valor de referência para os salários pagos aos trabalhadores mais pobres. O Brasil se tornou uma sociedade mais igualitária, contrariando a tendência global de aumento da desigualdade social. Isso contribuiu bastante para a reeleição de Lula em 2006.

FALHAS DOS GOVERNOS PROGRESSISTAS Nos anos seguintes, porém, os governos de centro-esquerda falharam nos dois países. Para o Partido Trabalhista, um ponto de viragem foi a grande manifestação contra a guerra no Iraque em fevereiro de 2003. Com a participação de quase dois milhões de manifestantes, foi provavelmente o maior protesto na história do país, mas não conseguiu evitar que o Reino Unido se juntasse aos Estados Unidos na guerra. Isso irritou muitas pessoas à esquerda, em particular os ativistas jovens. Outro fator foi a percepção pública de que os trabalhistas haviam se aproximado demais de grandes bancos e grandes corporações. Gordon Brown, que sucedeu Tony


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DA ESQUERDA NO BRASIL E NO REINO UNIDO Blair como primeiro-ministro em 2007, também não teve sorte: a crise econômica global começou apenas um ano depois de ele assumir o cargo. Embora ele tenha respondido rápida e efetivamente a ela, provavelmente ajudando a limitar as ramificações globais, os conservadores culparam repetidamente sua suposta má gestão da economia pela recessão no Reino Unido, uma acusação injusta, mas que o Partido Trabalhista tem sido notavelmente ineficaz em refutar. Como resultado, os conservadores voltaram ao poder em maio de 2010, embora tenham sido forçados a formar uma coalizão com os liberais democratas. No Brasil, a história é mais complexa. Como já descrevi em uma reportagem recente, o sucesso na diminuição da desigualdade social, admirável por si só, não foi acompanhado de outras medidas mais ousadas voltadas para a criação de uma alternativa ao neoliberalismo. O PT pôde financiar reformas sociais enquanto o país se beneficiou do boom das commodities, mas passou a enfrentar sérios problemas quando a economia começou a enfraquecer. Ao mesmo tempo, Lula nomeou funcionários sindicais, seus aliados mais confiáveis, para posições chave na administração. Eles se tornaram responsáveis por grandes orçamentos, particularmente dentro do BNDES, um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo, e passaram a ser aliados da elite econômica do Brasil. Muitos dos sindicalistas enfraqueceram suas ligações com os trabalhadores mais pobres do país, por vezes recusando-se a apoiar greves por causa do dano econômico que causariam aos novos parceiros, o que correspondeu a uma traição chocante à longa história de luta sindical no Brasil. Talvez a decepção mais grave de todas tenha sido a incapacidade do PT para desenvolver uma estratégia de reforma política, a única maneira de quebrar a soberania da direita nas instituições políticas do país, em particular o Congresso Nacional, e de reduzir o impacto insidioso do financiamento massivo de campanhas eleitorais por parte da elite econômica do Brasil. Era quase impossível para o PT, um partido minoritário, alcançar tal reforma através apenas de negociações no Congresso; para ter alguma chance de sucesso, seria necessário organizar-se fora do Congresso, por meio dos movimentos sociais, algo que o PT se recusou a fazer. Sem dúvida, teria sido uma estratégia arriscada, mas era uma opção, dado o apoio que o PT gozava, principalmente nos primeiros dias. Em vez disso, o PT decidiu jogar pelas regras existentes, uma tática igualmente perigosa: a mídia, controlada majoritariamente pela direita, aproveitou as provas de envolvimento do PT em casos de corrupção e agora retrata o partido como o mais venal de todos, o que é falso.

PARA ONDE VAMOS? No Brasil, militantes petistas têm sido profundamente desmoralizados pela evidência crescente de que o partido comprou votos no Congresso e aceitou financiamento eleitoral de grandes empresas em troca de contratos lucrativos. O PT está provavelmente destruído como partido de esquerda radical. A maioria dos analistas acredita que vai demorar décadas para a esquerda se recuperar.

No Reino Unido, o futuro dos trabalhistas é mais incerto. Desde a primeira vitória de Cameron, em 2010, o partido está obcecado em se tornar mais “elegível”. Após consultas intermináveis com grupos focais, modificou suas políticas para que elas se tornassem virtualmente indistinguíveis daquelas defendidas por conservadores moderados. Mesmo que o líder do Partido Trabalhista na eleição de maio deste ano, Ed Milliband, tenha injetado algumas ideias radicais no manifesto do partido, a maioria dos eleitores (inclusive eu) teve dificuldade de citar qualquer diretriz política em que um governo trabalhista seria diferente de um conservador moderado. Um novo – e emocionante – elemento tem sido o crescimento inesperado de Jeremy Corbyn, um verdadeiro político radical do Partido Trabalhista, que conseguiu com alguma dificuldade reunir as indicações necessárias para concorrer à liderança do partido após a renúncia de Ed Milliband. Para espanto de todos (incluindo o do próprio Corbyn), ele tem conversado com audiências enormes e injetado um novo dinamismo e entusiasmo ao debate. Ele tornou possível para os ativistas acreditar no surgimento de uma nova força de esquerda na política britânica, ganhando apoio não daqueles eleitores trabalhistas que desertaram para os conservadores ou UKIP, o partido nacionalista de direita, mas de outras pessoas que simplesmente não se preocuparam em votar nas eleições recentes. Favorecido pelas novas regras que permitem a participação de mais pessoas no processo eleitoral, Corbyn parece determinado a vencer a disputa pela liderança, mas poucos estão arriscando um palpite sobre o que o impacto de sua vitória significará ao Partido Trabalhista. Muitos ativistas brasileiros veriam com agrado a emergência de um líder com o estilo de Corbyn dentro do PT, mas isso parece muito improvável. Agora que a direita está novamente em ascensão, está dominando o debate público. Está claro que um dos principais fracassos dos governos Lula foi a incapacidade de democratizar os meios de comunicação para criar um novo espaço de debate informado e imparcial. Isso foi discutido com frequência, mas nunca colocado em prática. Hoje é difícil ver como o monopólio da direita sobre a mídia será quebrado. Controle da mídia também é uma característica importante do cenário político na Grã -Bretanha. De longe o mais poderoso império da mídia é o de Rupert Murdoch, News Corporation, que detém a rede de televisão por satélite SKY e os jornais Times, Sunday Times e Sun (entre outros). Murdoch foi seriamente afetado por um escândalo de escutas ilegais por seus repórteres, e seu poder é até certo ponto limitado pela existência da rede pública BBC, sem fins lucrativos. Não surpreende, portanto, que Murdoch e o Partido Conservador estejam engajados em um combate mortal com a BBC, cujo financiamento público procuram limitar. O Partido Trabalhista tem tido uma posição ambivalente sobre isso, com Tony Blair, em particular, feliz em agradar a Murdoch e tornar-se padrinho de seu filho mais novo.

KEY POINTS

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A não ser que você seja escocês, não é um bom momento para ser de esquerda tanto no Reino Unido quanto no Brasil. Nos dois países a direita está em ascensão. É fácil esquecer que no Brasil e no Reino Unido os governos de centro -esquerda eleitos desde 1995 alcançaram importantes conquistas. Todo aquele otimismo não foi inteiramente desperdiçado – avanços sociais foram alcançados nos dois países. O que Lula alcançou em seus dois mandatos, em muitos aspectos, foi mais espetacular – em um país onde as reformas introduzidas pelos trabalhistas no Reino Unido depois de 1945 ainda precisavam acontecer. Nos anos seguintes, porém, os governos de centro-esquerda falharam nos dois países. Para o Partido Trabalhista, um ponto de viragem foi a grande manifestação contra a guerra no Iraque em fevereiro de 2003. No Brasil, o sucesso na diminuição da desigualdade social não foi acompanhado de outras medidas mais ousadas. O PT está provavelmente destruído como partido de esquerda radical. A maioria dos analistas acredita que vai demorar décadas para a esquerda se recuperar. No Reino Unido, o futuro dos trabalhistas é mais incerto. Corbyn parece determinado a vencer a disputa pela liderança, mas poucos estão arriscando um palpite sobre o que o impacto de sua vitória significará ao Partido Trabalhista.


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HÁ SEMELHANÇAS ENTRE A GRÉCIA E O BRASIL? Por Kjeld Jakobsen

Kjeld Jakobsen é integrante da Fundação Perseu Abramo/FPA e do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI. Este artigo foi publicado originalmente em www.brasilnomundo.org.br g

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Brasil e Grécia são muito diferentes, porém não é difícil encontrar paralelos ao longo da história e mesmo atualmente no que tange ao manejo das economias dos dois países. Não na sua dimensão, mas na forma como suas dívidas públicas foram erigidas e as tensões geradas na busca de soluções. O Brasil e a maioria dos países da América Latina aumentaram sua dívida externa de forma extraordinária ao longo dos anos 1970, o período do “milagre econômico” brasileiro, quando o dinheiro disponível no mercado internacional era oferecido sob condições de juros e serviços extremamente favoráveis. No entanto, os países latino-americanos entraram em crise de endividamento, o Brasil inclusive, quando os bancos credores decidiram aumentar sobremaneira as taxas de juros, Libor e Prime Rate, e quase todas estas nações, a seu tempo, entraram em moratória. Porém, não sem antes transferir um terço do PIB do continente aos credores internacionais ao longo dos anos 1980, período conhecido entre nós como a “década perdida”, na qual houve a maior transferência de renda Sul – Norte da história. No caso da Grécia, a União Europeia também lhe disponibilizou dinheiro barato para anos atrás se adequar aos ditames do bloco, particularmente para aderir à moeda única, o euro. Posteriormente, diante da ambição do sistema financeiro este dinheiro se tornou extremamente caro. Não adianta dizer que o governo grego da época tapeou as autoridades europeias com dados macroeconômicos falsos, pois foram os mesmos que agora estão tungando os gregos que os orientaram como deveriam apresentar sua contabilidade, pois, interessava às potências econômicas da Europa reunir o maior número de aderentes possíveis à moeda comum. Lembremo-nos da decepção, das ameaças e das negociações que ocorreram na Europa quando o povo dinamarquês e depois o sueco rechaçaram a adesão ao euro. Como disse Luiz Gonzaga Belluzzo num de seus artigos, “não existe devedor sem credor”. Ou seja, nenhum credor empresta dinheiro gratuitamente. Antes que o principal emprestado esteja integralmente pago, ao longo do tempo ele já recebeu este valor várias vezes. Quando o credor percebe as dificuldades do devedor ele o espreme até onde puder para ganhar até o limite. Vivemos isso na América Latina e a nossa dívida externa também serviu de instrumento para forçar nossos países a aderirem a uma série de medidas que interessavam às empresas multinacionais dos EUA, Europa e Japão, por meio do “Consenso de Washington”. Entre elas, moeda atrelada ao câmbio, privatizações, abertura econômica, proteção a investimentos, reforma trabalhista e previdenciária, entre outras. Qualquer semelhança com a política de austeridade imposta aos gregos, não é mera coincidência. Recentemente, para recusar nova ajuda à Grécia e justificar as condicionantes da austeridade impostas sobre o País, as

autoridades europeias argumentaram que “não era justo descarregar sobre os ombros dos contribuintes europeus, o ônus da irresponsabilidade grega”. Ora, a maior parte da dívida grega era com bancos alemães, franceses e outros. Após o recebimento dos dois primeiros pacotes de empréstimo monitorados pela “Troica” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) esta parte da dívida deixou de ser com os bancos e foi assumida pelos governos da Alemanha, França, Holanda, entre outros. Portanto, quem jogou a dívida grega para os “contribuintes europeus” eventualmente pagarem, foram os próprios governantes europeus, em particular, a chanceler Angela Merkel. Os bancos já tiveram seu lucro e graças a governos complacentes, livraram-se do mico. Esse poder dos bancos, melhor dizendo, do sistema financeiro internacional, também é visível aqui. Haja vista a taxa Selic que voltou a subir no Brasil deixando-nos como um dos países com a maior taxa de juros do planeta. O governo aqui também é pressionado, externamente e internamente, para adotar medidas de austeridade. Não pelo FMI, pois a dívida com esta instituição, feita por governos anteriores, foi saldada durante o governo Lula, mas pelas agências internacionais de rating que trabalham para o sistema financeiro e ameaçam em rebaixar as avaliações sobre a segurança dos investimentos se não promovermos medidas de ajuste. A preocupação que, principalmente, o setor financeiro manifesta com o equilíbrio fiscal e que estão embutidas nas agências de rating, não tem nada a ver com o bem-estar do País, mas tão somente garantir que o governo brasileiro reserve os recursos necessários para pagar os especuladores, externos e internos. No entanto, há uma diferença gritante entre a Grécia e o Brasil. A primeira tem a possibilidade de rapidamente consultar a população se ela está de acordo ou não com alguma medida a ser adotada pelo governo como ocorreu no referendo do último dia 5 de julho. O então primeiro-ministro Alexis Tsipras foi negociar o terceiro pacote de empréstimos respaldado pela opinião da maioria da população sobre as políticas de austeridade. Aqui dependeríamos da aprovação do Congresso para consultar o povo se, por exemplo, deveríamos limitar a taxa de juros. Pode-se imaginar a dificuldade que enfrentaríamos. Estas semelhanças na economia e diferenças na política entre Grécia e Brasil sugerem fortemente que é hora de abrir um debate internacional sério sobre as reformas que se fazem necessárias em nível mundial para combater assimetrias e assegurar tratamentos justos para nossos povos. Não é admissível que o sistema financeiro internacional que não distribui riqueza, salvo para uns poucos, que não produz bens e nem empregos possua o poder que tem. A liberalização financeira que se começou a construir, principalmente, a partir da década de 1970 gerou um monstro que precisamos controlar.


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ESCOLHER CIRURGIÃO PLÁSTICO DE CONFIANÇA É ESSENCIAL PARA ATINGIR RESULTADO SATISFATÓRIO A valorização do corpo e da aparência é algo comum à grande maioria das pessoas. A busca é realizada de diversas formas, desde o cuidado com alimentação até a cirurgia estética/plástica em si, passando pelas atividades físicas. Dentre as opções, a decisão de realizar uma cirurgia plástica não é fácil. Procedimentos delicados, anestesia geral e recuperação a longo prazo muitas vezes deixam pacientes com receio. E é neste ponto que a relação com o médico se torna um fator crucial para a tomada de decisão com tranquilidade. Por isso, a busca por profissionais com experiência é fundamental neste processo. Dr. Paul Tulley é um cirurgião plástico, reconstrutivo e estético que atua em Londres. Um dos profissionais mais conceituados da área, com graduação na Charing Cross and Westminster Medical School e com especialização nas cidades de Taipei, Taiwan, e Toronto, Canadá, ele treinou com os melhores cirurgiões nos Estados Unidos. De acordo com ele, existem diferentes causas para uma pessoa buscar a cirurgia estética. “Pode ser por uma característica particular que o paciente gostaria de melhorar (como nariz, peito, orelha), alguma mudança no corpo após o parto ou mudança de peso, por exemplo, além das mudanças com o envelhecimento (facelift, comumente)”,

elenca. E para que a decisão seja feita com confiança, em qualquer uma das situações acima, conhecimento do procedimento desde os preparativos até o pós cirúrgico é fundamental. “Com a forma com que trabalho, normalmente o paciente tem um número considerável de consultas para esclarecer as suas exigências para a cirurgia, para examinar áreas relevantes do corpo e coletar dados para avaliação. Depois disso, o próximo passo é apresentar as melhores opções para atingir aquele objetivo específico. Este período é fundamental para avançar para o processo cirúrgico e atingir um resultado satisfatório”, explica Dr. Paul. Após a cirurgia, a maioria dos pacientes tem um período afastado do trabalho e atividades sociais que pode durar até 14 dias. Uma semana após a cirurgia, o paciente volta ao consultório para remover os pontos e trocar o curativo. Nesse período, é possível notar um pouco de inchaço e hematomas, que diminuem durante esta etapa. Uma quantidade de edema residual pode estar presente em alguns casos, e isso aparece nas semanas subsequentes. Por isso, a instrução para garantir um pós-operatório tranquilo é evitar fumar, ter uma dieta saudável e também evitar medicações anti-inflamatórias não esteróides (Aspirina, Nurofen e Voltarol são alguns exemplos), que podem causar hematomas e sangramento.

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EXISTE IDADE CERTA? A idade apropriada para a cirurgia plástica pode variar de paciente para paciente. Mas algumas indicações são necessárias, por exemplo: não é comum a cirurgia plástica nas mamas antes da paciente completar 20 anos. A rinoplastia, cirurgia plástica indicada para correção estética do nariz, também não é comum antes do amadurecimento do esqueleto facial, que acontece por volta dos 18-20 anos. No entanto, a otoplastia, a cirurgia plástica nas orelhas, são comumente realizadas em adolescentes mais jovens e crianças. A de rejuvenescimento facial com 40 anos, ocasionalmente com pacientes mais jovens, porém com abordagem menos invasivas.

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PERFIL

FERNANDA TORRES “LITERATURA É QUASE TUDO QUE UM ATOR PENSA ENTRE AS FALAS” Por Gabriela Lobianco

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A versão inglesa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a FlipSide, parece realmente ter dado certo. Pelo terceiro ano consecutivo, o festival derivado do evento brasileiro se hospeda em Snape Maltings, pequena cidade do sudoeste da Inglaterra, entre 2 e 4 de outubro. E, como nos anos anteriores, traz autores brasileiros. A dupla brasileira que compõe o quadro de estrelas desta edição está tarimbada em diversas feiras e simpósios de literatura mundo afora: Cristovão Tezza e Fernanda Torres. Autor de livros premiados, aclamado com seu romance semibiográfico “O Filho Eterno”, lançado em pelo menos oito países, Tezza é um dos mais importantes escritores brasileiros contemporâneos. Já a renomada atriz e escritora Fernanda Torres, que conversou com exclusividade com o Brasil Observer, tem mostrado que, no universo das letras, consegue ser uma artista tão completa quanto no palco ou diante das câmeras. Humilde e supersimpática, Fernanda contou que o convite para participar da FlipSide ocorreu por conta da Flip, mas que não sabe muito bem de quem foi a ideia. “Passei anos vivendo o teatro. O meio literário eu boio”, disse, justificando não conhecer os autores com quem irá debater. O mistério sobre o convite, porém, não foi tão difícil desvendar. Liz Calder, idealizadora do festival tanto no Brasil quanto na Inglaterra, disse que ficou encantada quando escutou a Fernanda Torres na Flip, e que não pensou duas vezes ao chamá-la para repetir a dose do outro lado do oceano. “Ela era tão articulada, engraçada, inteligente, divertida, e ao mesmo tempo séria e provocadora, que tive certeza que seria um sucesso na FlipSide”. Modéstia à parte, no ano passado Fernanda Torres foi citada pelo colunista do jornal The Gardian, Ángel Gurría-Quintana, como uma das autoras brasileiras cujo romance de estreia, “Fim”, precisava ser traduzido para o inglês. “Jamais esperei escrever um romance, mas ele aconteceu por ele mesmo”, disse Fernanda sobre o livro. “Fim” gira em torno da história de cinco amigos cariocas. São figuras muito diferentes, mas que partilham não apenas o fato de estar no extremo da vida, mas a limitação de horizontes. Sucesso na carreira, realização pessoal e serenidade estão fora de questão – ninguém parece capaz de colher mais do que um inventário de frustrações. Há graça, sexo, sol e praia nas páginas de “Fim”. Mas elas também são cheias de resignação e cobertas por uma tinta de melancolia. Fernanda Torres também tem um livro de crônicas, “Sete Anos”. São textos

publicados em revistas e jornais, que versam sobre cinema, teatro, política ou assuntos do cotidiano, mas sempre com suas marcas características: o humor, o tom confessional, o olhar irônico.

TRADUZIR OU NÃO TRADUZIR “Leio em inglês e em português”, respondeu Fernanda Torres de pronto quando perguntada. E logo deu uma sugestão de livro excelente que está lendo no momento, “Please Kill Me”, de Legs McNeil e Gillian McCain. “É a história do movimento punk numa edição especial que tem depoimentos de pessoas como o Iggy Pop, o Ramones, a Debi Harry, todos com falas em primeira pessoa”. Voltando ao assunto da FlipSide, o debate do qual a escritora vai participar ao lado de Daniel Hahn, autor, tradutor e presidente da Society of Authors, será em volta do tema tradução. “Acho dificílimo traduzir porque cada palavra tem cinquenta possibilidades”. E continuou se amparando em algo que conhece bem: atuar. “Na verdade, a literatura é quase tudo que um ator pensa entre as falas”. Fernanda Torres comentou ainda os inúmeros textos de William Shakespeare traduzidos do inglês para o português. “A gente tem muito Shakespeare traduzido no Brasil que é incompreensível”. Para ela, muito da cultura de um povo se perde na tradução. “O sentido de realeza, por exemplo, para o brasileiro é muito difícil de traduzir, por isso [Shakespeare] se perde um pouco para nós. Por outro lado, ficariam inadequadas certas questões de poder numa favela”, reflete. Sobre quando o seu livro “Fim” terá uma versão em inglês, a atriz confirma que os direitos já foram comprados por uma editora americana. “Sou a única autora que vou [para a FlipSide] com um livro sem tradução para o inglês, vou mesmo pelo prazer de estar lá e por participar”, disse. E, ao ser lembrada de que há muitos brasileiros no exterior, foi categórica: “Espero que eles tenham lido o livro”. Nessa questão, aliás, entra o fato de o Brasil não ser muito conhecido no exterior por sua arte, como a literatura, por exemplo. Para Fernanda Torres, o Brasil é uma ilha cultural, um gigante que fala quase um dialeto, o português, num continente dominado pelo espanhol. “Esse fechamento acaba por ser ao mesmo tempo a sua maior riqueza e seu maior isolamento. A literatura do Brasil fora do país com certeza vai crescer, porque existe e é interessante”.


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BRASIL GLOBAL

A TRAGÉDIA DE QUEM NÃO QUER

PERDER A ESPERANÇA Para professor de relações internacionais Jorge Mortean, só há uma solução para crise migratória: que os países estrangeiros parem de financiar conflitos nos países de origem dos refugiados

A

Por Andreia Verdélio – da Agência Brasil

A imagem do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos, morto em uma praia da Turquia chocou o mundo e fez com que a crise migratória na Europa ganhasse mais repercussão internacional. Ele, o irmão de 5 anos, a mãe e outros refugiados morreram afogados ao tentar alcançar a ilha grega de Kos. O foco agora está nos líderes europeus e nos debates sobre as soluções para controlar o fluxo de refugiados. Mas a história da família Kurdi e de muitas outras que morreram no Mar Mediterrâneo e em rotas terrestres, saindo do Oriente Médio e da África, começa com as guerras e conflitos nessas regiões. A Síria é o principal país de origem de refugiados, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), com 3,88 milhões, só até o final de 2014. No mundo são quase 60 milhões de pessoas que foram forçadas a deixar seus países, metade delas jovens e crianças. A porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Dibeh Fakhr, disse que o conflito na Síria já dura cinco anos e que a situação humanitária no país permanece “catastrófica”. “Há enormes necessidades por todo o país. A guerra continua e afeta mais fortemente civis”, afirmou, explicando que mais de 7 milhões de pessoas estão sendo afetadas e mais de 4 milhões deixaram o país. O conflito na Síria, entre rebeldes e governo, também tem o envolvimento direto do grupo Estado Islâmico, que tenta derrubar o presidente Bashar Al Assad. A assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional Brasil, Fátima Mello, disse que a população é atacada e usada por essas forças, estando exposta a ataques químicos, detenções, torturas, desaparecimentos e prisões. “Os civis estão expostos a gravíssimas violações de direitos humanos”.

ORIGEM E SOLUÇÕES Segundo o geógrafo e professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado, Jorge Mortean, esse movimento entre a migração de pessoas de regiões em conflito e os países desenvolvidos é retroalimentan-

te. “Os conflitos locais, no Oriente Médio, são causados pela própria interferência e interesse das potências mundiais, principalmente pela demanda energética, pela extração e compra de petróleo e gás natural. Os ocidentais direta ou indiretamente estão fomentando esses conflitos e acabam gerando esse fluxo de pessoas que tentam entrar na Europa”, argumentou. O professor explicou que, estremecendo a política doméstica o preço do petróleo tende a subir, influenciando o mercado mundial. Com os governos locais enfraquecidos, segundo Mortean, a força econômica também penetra melhor na indústria petrolífera local. “Fica um jogo dúbio. O governo local ganha [com a venda] e as potências econômicas não deixam de lucrar [com o mercado aquecido]”. O custo que esses países têm despendido para fomentar as diversas facções e governos envolvidos no conflito, com armas, dinheiro e treinamento, é baixo, comparado aos lucros. Mas, segundo o professor, em determinadas situações essa equação se inverte. “O problema é que isso chegou a uma curva e agora o processo se inverte e não é mais tão vantajoso porque o custo social [de acolher os refugiados] está maior que o custo econômico”, explicou. “A diplomacia tem um lado que não dá

pra ver, esse lado é o que realmente acontece e que, muitas vezes, não pode ser resolvido. Os grandes financiadores de conflitos no Oriente Médio, África, Ásia e até na América Latina são os que estão sentados nas cinco cadeiras permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse. Para Mortean, acolher os refugiados é uma medida paliativa, só há uma solução para essa crise migratória: que os países estrangeiros parem de financiar os conflitos nos países de origem dos refugiados. Já Fátima Mello entende que é preciso um esforço multilateral para desenvolver economicamente esses países, além de “sinais mais contundentes” de participação do Conselho de Segurança da ONU.

REFUGIADOS NA EUROPA A assessora da Anistia Internacional Brasil disse ainda que o número de refugiados que chegam à Europa parece alto, mas são baixos se comparados a países vizinhos da Síria, que já receberam quase 4 milhões de refugiados sírios. Isso fez como que países como Líbano e Jordânia fechassem suas fronteiras, controlando quem entra. Fátima Mello explica que a União Europeia é signatária de todo tipo de acordo in-

ternacional humanitário, de concessão de asilo, e, para conseguir reduzir o número de pessoas que morrem nas suas fronteiras, tem a obrigação de aumentar os vistos de assentamento. Entretanto, segundo ela, os países de entrada na Europa têm fechado suas rotas por terra, o que agrava a situação das travessias pelo Mar Mediterrâneo, para a Espanha, Itália e Grécia principalmente. “O número de refugiados e imigrantes via marítima tem aumentado muito. Os sírios totalizavam 46% das 176 mil pessoas que chegaram à Itália pela ilha de Lampedusa. É o país que, de longe, recebe mais refugiados por mar. Recomendamos que a Europa realize operações humanitárias envolvendo os vários países, mas que sejam operações que forneçam à Itália suporte logístico e financeiro”, disse. Por terra, a Hungria é a porta de entrada para migrantes e refugiados, pois o país é signatário do Acordo de Schengen, de países europeus onde se pode transitar livremente sem passaporte. Para tentar barrar a entrada dessas pessoas, o governo húngaro construiu uma cerca de arame farpado, vigiada por policiais, ao longo da fronteira com a Sérvia. E para aqueles que conseguem entrar na Hungria, a saída para os países mais ricos da Europa Ocidental está sendo limitada às


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BRASIL TEM BOA POLÍTICA DE ACOLHIMENTO DE REFUGIADOS, DIZEM ESPECIALISTAS STEPHEN RYAN/IFRC

Milhares cruzaram a fronteira da Hungria com a Áustria dia 5 de setembro; voluntários Húngaros da Cruz Vermelha distribuíram bebidas quentes, cobertores e roupas à prova d’água

estações de trem em Budapeste. Segundo o professor Jorge Mortean, o Acordo de Schengen já passou por algumas mudanças, tornando-se mais rígido dependendo da nacionalidade do cidadão, e é provável que haja novas alterações. Pio Penna, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, disse que existe um impasse para manejar essa liberdade nos países de entrada (Espanha, Itália, Hungria, Grécia), pois os países para os quais os refugiados pretendem ir, como França, Itália, Reino Unido, Alemanha, Áustria, estão dificultando a entrada. Associada a essa dificuldade existe ainda, segundo Penna, o problema do tráfico de pessoas. “A maior parte dos refugiados segue rotas abertas ou manejadas por pessoas ligadas ao tráfico humano, e essa gente não tem princípios, e aí acontecem outros acidentes”. No final de agosto, 50 pessoas foram encontradas mortas em um caminhão frigorífico na Áustria. O porto da cidade de Calais, por onde passa o Eurotúnel rumo ao Reino Unido, também é rota de atravessadores.

PAÍSES DE ORIGEM Além da Síria, os especialistas citam o Iraque e a Líbia como os países de origem de muitos refugiados. Segundo

Mortean, a Líbia sempre foi um canal de migração ilegal, mas com a derrubada do governo e morte de Muammar Kaddafi, em 2011, o país passou a viver uma crise interna, dividido em mais de 13 tribos que buscam o poder. “Com vários grupos sociais se armando, dá brecha para o surgimento de forças terroristas externas, como o Estado Islâmico”. O professor explica que o Iraque também sofre com as investidas do Estado Islâmico. “O governo iraquiano ficou um pouco enfraquecido com a saída das tropas americanas no ano passado. É um governo fragmentado por causa dos curdos, que têm a autonomia no Norte do país”, disse Mortean. Muitos iraquianos têm se refugiados no Kwait. Já Fátima Mello relaciona também as longas crises econômicas de países africanos e o extremismo religioso como fatores que levam as pessoas a abandonar seus países. “Desde o período da colonização as pessoas são expostas a violações e passam por situações de fome e de insegurança de todos os tipos. Agora, soma-se a radicalização por parte do extremismo religioso, como Boko Haram, e tudo isso expulsa as populações de suas casas e seus países de origem”.

A crise migratória na Europa chama a atenção do mundo, mas o fluxo migratório de regiões em guerras não é incomum e o Brasil é um dos países com uma boa política de acolhimento, segundo especialistas. “A Anistia Internacional e a própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos elogiam bastante o Brasil e o Uruguai por terem resoluções de acolhimento de refugiados sírios”, disse a assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional Brasil, Fátima Mello. Segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça, o número de refugiados no Brasil praticamente dobrou nos últimos quatro anos, passando de 4.218, em 2011, para 8.400, em 2015. As principais causas dos pedidos de refúgio são violação de direitos humanos (51,13%,) perseguições políticas (22,5%), reunião familiar (22,29%) e perseguição religiosa (3,18%). Os sírios formam o maior contingente de refugiados no país, com 2.077 pessoas, seguidos pelos angolanos (1.480), colombianos (1.093), congoleses (844) e libaneses (389). O levantamento não inclui informações sobre os haitianos, uma vez que essas solicitações de refúgio têm sido analisadas pelo Conselho Nacional de Imigração para autorização da permanência por razões humanitárias. De acordo com reportagem da BBC Brasil, “o número [de sírios acolhidos no Brasil] é superior ao dos Estados Unidos (1.243) e ao de países no sul da Europa que recebem grandes quantidades de imigrantes ilegais - não apenas sírios, mas também de todo o Oriente Médio e da África - que atravessaram o Mediterrâneo em busca de refúgio, como Grécia (1.275), Espanha (1.335), Itália (1.005) e Portugal (15). Os dados da Eurostat referem-se ao total de sírios que receberam asilo, e não aos que solicitaram refúgio”. Do total de refugiados acolhidos em território brasileiro, 70,7% são homens e 29,3%, mulheres. Segundo o levantamento, 65,62% têm entre 18 e 39 anos, 19% têm até 17 anos, 13,5% têm entre 40 e 59 anos, enquanto 1,86% dos refugiados têm 60 anos ou mais. Mais de 12,6 mil solicitações ainda aguardam julgamento do Conare. O geógrafo e professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado, Jorge Mortean, disse que o Brasil, por ser um país formado por imigrantes, não poderia deixar de acolher essas pessoas. “A nossa população local indígena ou morreu fuzilada ou por doenças. Depois começou um projeto de imigração através da infeliz escravatura e colonização portuguesa; e, após a abolição, a recolonização com asiáticos e europeus. Até por esse processo histórico temos umas das melhores políticas de acolhimento. E seria absurdo um país como esse virar as costas para os refugiados, apesar de não termos responsabilidade por nenhuma das partes”. Segundo Mortean, é certa essa conduta de “abraçar” os imigrantes, mas a sociedade ainda não é tão receptiva. “O brasileiro ainda pensa com a mentalidade de país colonizado, mas, no fundo, somos todos migrantes. A sociedade brasileira tem uma reticência porque acredita que o migrante vai sobrecarregar um Estado que é falido. Ainda bem que o governo não adota isso e está com as portas abertas”. Para o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, Pio Penna, o Brasil recebe bem o refugiado, ainda um número pequeno, mas é preciso melhorar a estrutura de acolhimento. “Pelo tamanho e pela projeção internacional do Brasil, podemos ter um fluxo maior no futuro, inclusive de refugiados ambientais, de pessoas saindo de seu lugar de origem por falta de condições lá”.


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CONEXÃO BR-UK DIVULGAÇÃO/CONSULADO-GERAL BRITÂNICO

ESTÃO ABERTAS AS INSCRIÇÕES DO CHEVENING

ÍRIS SCHARDT/CONSULADO-GERAL BRITÂNICO

CHAMADA MIRA PESQUISADORES BRITÂNICOS

REPRODUÇÃO

NOVO PROGRAMA DE INTERCÂMBIO É LANÇADO

As inscrições devem ser feitas em www.chevening.org/brazil

O edital pode ser acessado no link http://goo.gl/7pPsFZ

As Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), articuladas pelo CONFAP (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa), lançaram chamada pública para oferecer apoio a pesquisadores britânicos interessados em parcerias de pesquisas com brasileiros. Os trabalhos conjuntos serão desenvolvidos de duas semanas a quatro anos em uma instituição de pesquisa brasileira. As propostas serão aceitas até dia 23 de outubro de 2015 e executadas em 2016. São três as possibilidades descritas

O programa Skills Wihthout Borders (Ensino Técnico Sem Fronteiras) foi lançado na Embaixada Britânica em Brasília no mês de agosto. O projeto vai oferecer a estudantes de ensino técnico de Minas Gerais a oportunidade de estudar no Reino Unido. Os estudantes brasileiros frequentarão as instituições britânicas entre janeiro e março de 2016. No total, serão de 10 a 12 estudantes do estado, que terão a oportunidade de aperfeiçoar sua proficiência em língua ingle-

Inspiração veio do Ciência Sem Fronteiras MARIANA CAMINHA/EMBAIXADA DO REINO UNIDO

Em 2015, o vencedor foi Lucas Leung, 22 anos

Quem planeja fazer mestrado no Reino Unido já pode se inscrever no Chevening, programa de bolsas de estudos do governo do Reino Unido. Os interessados têm até dia 3 de novembro para se inscrever. O programa é direcionado a estudantes de qualquer área que queiram ingressar em universidades na Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte ou Pais de Gales. Pessoas com perfil de liderança são os candidatos ideais do Chevening. A bolsa cobre o investimento com o curso escolhido e inclui ainda aju-

da de custo mensal para passagens, hospedagem e demais gastos ao longo de um ano de estudos. No Brasil há mais de 30 anos, o Chevening já beneficiou 1400 brasileiros de diferentes regiões, áreas e classes sociais. Em 2014, o programa recebeu três vezes mais brasileiros que no ano anterior. “O Chevening acredita no potencial do profissional brasileiro. Estamos muito felizes com a possibilidade de levar mais talentos ao Reino Unido. Sem dúvida, o Brasil é um dos grandes focos do progra-

no edital. São elegíveis os pesquisadores britânicos nas áreas de Engenharia, Ciências Naturais, Humanas, Sociais e Médicas (incluindo pesquisa clínica e orientada a pacientes). Entre outros requisitos, os candidatos devem ter um co-proponente brasileiro, título de doutor obtido entre dois e sete anos atrás (para Young e Senior Researchers, respectivamente), cargo acadêmico ou atividade pós-doutoral que exceda o período que vai permanecer no Brasil. Os critérios de seleção incluem o histórico dos candidatos, a qualidade da proposta e sua adequação

sa e aprofundar conhecimentos em indústria aeroespacial, jardinagem, paisagismo e engenharia elétrica, entre outros. A inspiração para o projeto veio do programa Ciência Sem Fronteiras, que oferece intercâmbio a estudantes brasileiros de graduação e pós-graduação no exterior. O Reino Unido é idealizador do programa Skills Wihthout Borders e deseja, nos próximos anos, estender a mesma parceria para outros estados e regiões do Brasil.

ma”, diz Caroline MacDonald, responsável pelo Chevening no Brasil. Entre as novidades deste ano está a parceria com a Universidade de Loughborough, que receberá brasileiros para estudos relacionados ao legado do esporte. “A realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 abre portas em diferentes áreas, como infraestrutura, marketing, tecnologia e gestão de grandes eventos. Definitivamente, a parceria com Loughborough é histórica“, ressalta MacDonald.

à instituição que acolherá o pesquisador, os benefícios da estada no Brasil à carreira do mesmo e as perspectivas de colaboração em longo prazo. As 17 FAPs que aderiram à chamada vão financiar as propostas de seus respectivos estados como contrapartidas aos valores investidos pelo Fundo Newton – um compromisso assumido pelo Reino Unido para promover iniciativas que fortaleçam o desenvolvimento de países emergentes. Até 2018, o Reino Unido e o Brasil devem investir 27 milhões de libras nos programas do Fundo Newton/CONFAP.

O programa é uma iniciativa conjunta entre a Missão Britânica no Brasil, a Association of Colleges (AoC), responsável por coordenar o ensino técnico no Reino Unido, o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET MG), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG) e o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (CONIF).

CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS QUER NOVO EMBAIXADOR Estão abertas as inscrições para a segunda edição do concurso SwB UK Ambassador. A iniciativa é organizada pela Embaixada do Reino Unido no Brasil, com apoio da Rede CsF. O concurso é destinado a ex -alunos do Ciência Sem Fronteiras – Reino Unido que já retornaram ao Brasil e apresentam histórias interessantes para contar, seja sobre sua experiência no Reino Unido, ou no período de volta ao Brasil. O objetivo é divulgar os projetos e

parcerias dos estudantes que, mesmo após o término de seus programas, continuam a estabelecer laços com a Grã-Bretanha. Em 2015, o vencedor foi Lucas Leung, 22 anos, estudante de Engenharia de Manufatura na Unicamp Limeira. Durante sua viagem ao Reino Unido, Lucas visitou várias universidades britânicas, conhecendo outros bolsistas do programa, além de poder matar as saudades de Sheffield, a cidade que o recebeu durante o intercâmbio.

Ele também fez um tour cultural pelo país, visitou o Parlamento em companhia da baronesa Hooper, além de conhecer o Sr. Roberto Jaguaribe, o embaixador do Brasil em Londres. Atualmente, Lucas se envolve em vários projetos da rede de ex-alunos CsF - Reino Unido (SwB UK Alumni Network), compartilhando suas experiências, por exemplo, no blog Embaixadores da Rainha e representando, de maneira engajada, a comunidade de ex-alunos.


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BRASILIANCE

A A NUVEM QUE NÃO PASSA

LULA MARQUES/AGÊNCIA PT

Quando o Brasil vislumbrava escapar da turbulência, problemas com a economia da China e o ambiente político interno conturbado põem o país diante de mais obstáculos Por Wagner de Alcântara Aragão

A nebulosidade sobre o cenário econômico brasileiro parece que não vai se dissipar tão cedo. Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro semestre deste ano e as projeções feitas pelo próprio governo federal em seu projeto de lei orçamentária para 2016 apontam indicadores pouco confortáveis para o futuro próximo. A conjuntura internacional também não ajuda. A desaceleração da China e as turbulências enfrentadas recentemente por aquele mercado tendem a tornar o horizonte ainda mais turvo para o Brasil. Analistas consultados pelo Brasil Observer coincidem em afirmar – mesmo que de pontos de vista distintos – que a economia brasileira continuará a experimentar maus bocados por um bom período. Na avaliação do doutor em Geografia Zeno Crocetti, professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), o cenário econômico interno é também afetado negativamente pela elevada tensão no campo político e pelo alarmismo – igualmente motivado por razões políticas, assinala o professor – criado pelos veículos de comunicação de maior alcance. Crocetti destaca que os principais conglomerados de mídia vivenciam uma retração de faturamento mais drástica que a queda do PIB nacional, o que estaria contaminando o noticiário econômico produzido por esses veículos. “O faturamento com anúncios caiu 8,5% no primeiro semestre de 2015, em relação ao mesmo período de 2014, segundo o Ibope Media. A crise na mídia tradicional é muito maior do que a crise na economia brasileira como um todo. A continuidade do noticiário alarmista e desequilibrado – como se fosse uma campanha eleitoral da oposição radicalizada – revela-se, na prática, uma campanha publicitária para vender mais e mais crise. Resultado: espantam consumidores, investidores e anunciantes”, explica o professor.

PIB De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o PIB registrou no primeiro semestre deste ano uma queda de 2,1% em relação ao mesmo período de 2014. No acumulado em 12 meses (julho 2014 a junho 2015), a redução é de 1,2%. As projeções do mercado têm apontado para um PIB ao final de 2015 entre 1,5% e 2% menor que o de 2014. A mais recente estimativa feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta para um PIB 1,5% inferior em 2015, em comparação com o ano passado. Apostar em melhora significativa para o ano que vem parece arriscado. O FMI estima para 2016 um crescimento do PIB brasileiro de 0,7%. Trata-se de uma projeção mais otimista que a do próprio governo federal – no projeto de lei orçamentária que o Palácio do Planalto enviou em 31 de agosto último para o Congresso, a previsão é a de um crescimento de apenas 0,2% no ano que vem. Para este ano, o governo federal calcula um decréscimo de 1,8% – índice, portanto, pior do que o estimado pelo Fundo Monetário Internacional.

INFLAÇÃO Ponderando não considerar o PIB como melhor forma de se mensurar o desenvolvimento econômico de um país, o doutor em Economia Nildo Ouriques, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), cita maus


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resultados em outros indicadores para demonstrar que a economia brasileira tende a encarar momentos difíceis por mais tempo. “O desemprego será de dois dígitos no final do ano”, assinala. “E a inflação não cede”. A taxa básica de juros, “a maior do mundo”. O governo federal prevê para este ano inflação de 9,25% – quase três pontos percentuais acima do teto da meta fixada pelo Banco Central (6,5%). Para 2016, o governo trabalha com um índice inflacionário dentro desse limite – o projeto de lei orçamentária cita 5,4%. O projeto, por sinal, gerou bastante repercussão por assumir a perspectiva de um déficit primário (saldo negativo entre receitas e despesas governamentais) de R$ 30,5 bilhões para o ano que vem.

CHINA Por mais que fatores externos inevitavelmente impactem as economias nacionais, tanto Crocetti quanto Ouriques consideram que os efeitos da turbulência chinesa devem ser menos fortes do que o alarmado no país. É o que observa também o assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Rebelo. “Frente aos problemas internos que temos de enfrentar, o impacto da desaceleração chinesa será mínimo”, diz o analista. Zeno Crocetti adverte, porém, para o risco de se diminuir a demanda chinesa por produtos brasileiros – minério de ferro, soja e derivados são os principais itens de exportação do Brasil para o país asiático. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, entre janeiro e julho deste ano as exportações Brasil-China caíram 15% (em receita), em comparação com mesmo período do ano passado, somando US$ 112 bilhões. Desde 2012 esses valores caem anualmente (de 2013 para 2014, queda de 7%). Para Ouriques, o superdimensionamento dos impactos da China chega a ser conveniente para o governo, porque legitima a política fiscal de austeridade. O professor inclui a oposição de direita como cúmplice dessa política. “O governo, com o apoio dos tucanos e dos petistas, está tirando direitos dos trabalhadores, privatizando empresas [há cogitação, por exemplo, de vendas de partes da BR Distribuidora], permitindo um enorme fluxo de riqueza para fora do país de múltiplas formas e subsidiando fortemente as multinacionais enquanto apertam os trabalhadores e a população pobre”, critica.

AGENDA BRASIL A chamada “Agenda Brasil”, conjunto de propostas apresentado sob a liderança do presidente do Senado, Renan Calheiros, como sugestão de contrapartida ao Planalto em troca do apoio do Congresso na aprovação de medidas de interesse do governo, está longe de ser considerada a melhor opção para se sair da crise econômica. O pacote inclui medidas de viés neoliberal – como reforma administrativa que diminui o Estado, aprofundamento do ajuste fiscal e até a cobrança de atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) baseada na faixa de renda do usuário. A “Agenda” tem sido rechaçada por sindicatos, movimentos sociais e lideranças de esquerda, enquanto a oposição parece confortavelmente esperar para que, dos tribunais, surja a prova cabal capaz de tornar juridicamente viável o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

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TRÊS PONTOS DE VISTA SOBRE A CRISE Confira a seguir as avaliações de André Rebelo, da Fiesp, e dos professores Nildo Ouriques e Zeno Crocetti sobre o momento da economia brasileira BRASIL OBSERVER | Qual é o efeito China na economia brasileira? ANDRÉ REBELO | A China é o principal destino dos nossos produtos primários e os preços desses bens é determinado pela demanda chinesa. A desaceleração da China já derrubou o preço do minério e da soja e isso vem causando impacto no câmbio, com a desvalorização do real. Dado o atual cenário, o impacto será pequeno frente aos problemas internos que temos que enfrentar. NILDO OURIQUES | A desaceleração da China poderá se manter ou não, mas não afetará os “emergentes” pela simples razão de que estes países, mantendo suas políticas em favor dos ricos, jamais sairão da condição de países subdesenvolvidos. A propriedade está se concentrando mais; as altas finanças logram mais poder e riqueza com a dívida pública e o endividamento de famílias e empresas. ZENO CROCETTI | Muito pequeno devido ao tamanho do mercado externo brasileiro. E por ser uma crise previsível e forçada pelo mercado de especulação. Desde o início do ano, as ações das empresas listadas na bolsa de Xangai tiveram alta de mais de 140%, apesar da economia do país estar desaquecendo; portanto, um nítido movimento especulativo dos abutres profissionais para expropriar a poupança de investidores incautos e amadores chineses. BRASIL OBSERVER | Quais medidas o Brasil deveria adotar? ANDRÉ REBELO | Para voltar a crescer, porém de maneira sustentada e competitiva internacionalmente, o Brasil precisa implementar reformas estruturais – tributária, trabalhista e da Previdência Social –, vitais para estimular os investimentos produtivos e levar o país a um novo patamar de desenvolvimento. NILDO OURIQUES | Até agora nenhuma medida foi tomada para atenuar os efeitos destrutivos para os trabalhadores. O plano Safra destinou R$ 189 bilhões para a agricultura de exportação, que reforça o latifúndio, e somente R$ 30 bilhões para a agricultura familiar, responsável por mais de 70% dos alimentos que os brasileiros consomem. Quer maior exemplo de quem o governo prioriza? ZENO CROCETTI | O juro mais alto este ano já conseguiu reduzir a expectativa de inflação no futuro e isto é muito importante, tanto para os consumidores voltarem a comprar quanto para os empresários decidirem investir. O dólar mais alto ajudou a melhorar a balança comercial, mas qualquer cenário traçado agora é uma probabilidade. Há muito ainda a ser feito, medidas de ajuste fiscal. BRASIL OBSERVER | Como reverter a desindustrialização?

ANDRÉ REBELO | A indústria brasileira é competitiva internacionalmente, porém a economia brasileira tira essa competitividade ao impor-lhe custos que as empresas instaladas em outros países não encontram. Pensando em uma agenda de curto prazo, eu destacaria a desoneração integral das exportações, desoneração dos investimentos, redução do custo da energia, redução da taxa de juros e uma política cambial adequada ao desenvolvimento da indústria. Dentro de uma agenda de longo prazo estaria a reforma tributária, contenção dos gastos públicos, déficit nominal zero, racionalização do orçamento governamental, taxa de juros interna compatível com a internacional, marco institucional de investimento para infraestrutura, reforma do sistema monetário, mudanças nos compulsórios, previdência e reforma trabalhista. NILDO OURIQUES | O atual governo está precisamente comprometido com a rota da desindustrialização e desnacionalização do pouco que resta da indústria nacional. Portanto, o atual governo não mudará a linha de atuação. Os empresários, por outro lado, tampouco pressionam na direção da proteção da indústria nacional, fato que revela que no DNA da burguesia industrial brasileira não consta a defesa de seus próprios interesses. É incrível observar como eles estão mais interessados em desvalorizar o real para que as mineradoras e os latifúndios exportem mais, mesmo a custa de maior dependência industrial. Obviamente que existem muitas medidas que são tomadas em muitas partes do mundo (Inglaterra, EUA, China, Coreia do Sul, entre outras) que poderiam ser adotadas aqui. Há muitas outras sugeridas pelos economistas brasileiros e mesmo pelos partidos de esquerda. Mas não devemos alimentar dúvidas a respeito: Joaquim Levy, o ministro da Fazenda, era funcionário do Bradesco e foi formado em Chicago. Não há chance noutra direção. ZENO CROCETTI | Para boa parte dos pesquisadores, a causa principal da destruição do parque industrial brasileiro é a crise mundial, redutora de exportações e catalisadora da disputa externa pelo mercado doméstico. Outra questão são os efeitos acumulados da perda da terceira revolução industrial e da crise da dívida externa, entre os anos 1970 e a década de 1980; da abertura comercial com câmbio valorizado e juros altos nos anos 1990; e da manutenção dos juros altos e do real valorizado a partir de 2003. Para alavancar a capacidade ociosa da indústria e colocá-la de pé, somente com o Estado exercendo um papel crucial para fazer a indústria recuperar sua força. Mas o desmonte do Estado promovido ao longo dos últimos 30 anos pelo neoliberalismo tirou parte da capacidade de atuação.


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BALAIO

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BRAZILIAN GRILL Com decoração que traz um aconchegante ambiente de brasilidades e uma cozinha comandada por um chef gaúcho, o Balaio Brazilian Grill abriu suas portas no mês de agosto em Londres. Localizado no east side londrino, o novo restaurante tem diferentes cortes de carnes e apresenta, em grande estilo, o delicioso sabor do churrasco brasileiro. Para decidir seu pedido, o restaurante oferece o Trio – conserva de berinjela, pasta de atum e pão de alho. Já para a entrada, porções de petiscos brasileiros e de frutos do mar são as opções. Na sequência, a variação do cardápio para o prato principal fica por conta dos diferentes cortes de carne (300g), incrementado pelos molhos que a casa oferece: requeijão, gorgonzola, madeira, entre outros. O acompanhamento fica a critério do cliente, que tem opções variadas como purê, batata gratinada, vegetais grelhados e até os acompanhamentos tradicionais brasileiros: arroz branco, arroz a grega, farofa e couve. O cardápio tem também opções vegetarianas. Além das opções de carnes, o restaurante tem uma deliciosa feijoada. Tudo acompanhado de ótimos drinks e MPB ao vivo de quinta a domingo. O custo benefício faz a experiência valer a pena!

CLEO VIZIOLI – CHEF Passou por seis diferentes países da Europa, fato responsável pela construção de referências hoje traduzidas em seu estilo culinário. “O cardápio do Balaio é baseado em alimentos frescos e da estação, como na cozinha mediterrânea. Já as carnes, tipicamente brasileiras, pelo sabor, quantidade e cortes”, explica.

SHOTTIME

RÔMULO SEITENFUS

B y : H e i to r S o a r e s

Com uma equipe completa, a responsável pelo bar do Balaio Brazilian Grill é a Sommelier Rosemeri Souza. Além da indicação do melhor vinho para acompanhar o prato de sua escolha, o local oferece a tradicional caipirinha e drinks variados. No ShotTime, a casa brinda seus clientes com uma inesperada rodada que vale a pena conferir.


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CONECTANDO Esboço de Kara Walker para a peça Norma

OPRESSÕES NA PALAVRA Pensar em linguagem e em língua é pensar em algo que não dominamos totalmente, que nos define e nos identifica, mas onde temos poder limitado

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Por Hugo Monteiro

Comecemos num pressuposto simples, que logo explicaremos: nenhuma linguagem é neutra, nenhuma língua (como forma sistemática, codificada e ordenada de linguagem) é eticamente imparcial, esvaziada de valores ou meramente instrumental. Todas as relações humanas, toda a relação entre seres é linguisticamente mediada, sendo a língua o elemento mais convencional em que toda a relação se estrutura, vive e se determina. Por isso mesmo, porque nenhuma linguagem nem nenhuma língua são isentas de valores, é também pela linguagem que o preconceito subsiste ou, pelo contrário, é ultrapassado. Convém assegurar, por isso, que pensar em linguagem e em língua é pensar em algo que não dominamos totalmente, que nos define e nos identifica, mas onde temos poder limitado. A língua é uma morada, algo que não se domina totalmente, desde logo porque a língua é uma herança. Nós já nascemos numa língua que nos precede e que, de alguma maneira, nos faz crescer nela – na sua configuração ideológica, histórica e identitária – e não simplesmente com ela. A língua não nasce de geração espontânea. Ela é constituída por uma rede complexa e dinâmica de regras e de convenções que ultrapassam o indivíduo e a sua época, mas que os determina com decisiva intensidade. A língua é, frequentemente, a primeira fronteira com que se conta e que, como todas as fronteiras, pode assinalar a linha de convívio entre diferentes ou, pelo contrário, separar universos de forma hostil e decisiva. Daí que língua, linguagem e racismo adquiram uma conexão evidente, quando o conceito menorizador do outro e o próprio conceito equívoco de raça se estabelecem como formas antecipadas de definir o distinto. E o distinto pode ser valorizado, como condição de possibilidade do próprio conceito de relação, ou confinado e regulado na mais restritiva lógica de poder. Tudo se joga, pois, na complexa relação entre língua, linguagem e poder, que aqui encaramos de forma brevíssima.


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REPRODUÇÃO

A ILUSÃO DA NEUTRALIDADE É na linguagem que os poderes se inscrevem. Assumir este pressuposto é uma urgência, principalmente quando verificamos que a linguagem é um dos elementos de potenciação do racismo e de outras formas de discriminação. A assimetria entre as pessoas manifesta-se e sustentase na linguagem, sendo concretamente na língua que se instalam e se naturalizam diferenças simbólicas, sociais, culturais... Que nutrem fenômenos de discriminação. Antigas e novas formas de racismo nascem ou recriam-se na linguagem, alimentam-se nela, sendo a pretensa imparcialidade instrumental da linguagem uma das formas de encobrir e de perpetuar discursos discriminatórios dos mais diversos. Exemplo crescentemente denunciado, mas nem por isso ultrapassado é, de modo evidente, o universal masculino, em que a categoria “Homem” serve para designar todas as pessoas, sejam estas homens, mulheres ou crianças. Na verdade, o que aqui está em causa é um poder em que o único agente é realmente o homem, na hegemonia da sua presença na história, na linguagem da história e nas formas implícitas dessa hegemonia, sendo este “homem universal”, realmente, um homem branco, europeu, autóctone, judaico-cristão, etc. O critério do universal passa a ser o que designa o universal, denunciando-se assim a estrutura masculinizante da maior parte das línguas ocidentais e todos os outros e as outras que desse universal se excluem automaticamente: a mulher, o/a não branco/a, o/a não-ocidental. A linguagem e as línguas mostram, assim, como racismos, sexismos e xenofobias vêm de mãos dadas como formas de exclusão em face de um universal impositivo e normalizador. A linguagem, supostamente cristalina e imparcial, pretendendo despir-se de particularismos em nome de uma espécie de ambição universal, tende a classificar, a hierarquizar e a pré-definir. O racismo e, de um modo geral, discursos discriminatórios como os etnocentrismos, sexismos, homofobia ou xenofobia, dependem de uma visão global e distorcida do outro, apesar de tudo disfarçada no tal álibi da classificação neutra. Tal visão antecipa-se a indivíduos concretos e situações concretas, como uma espécie de processo de rotulagem destinado a anular e a silenciar o outro, na sua voz própria.

PODER DA PALAVRA DITA Para quem a detém, para o detentor da palavra, a língua é decididamente um poder. Se o poder de definir algo ou alguém é uma atribuição linguística, torna-se evidente que esse poder de definição não está equitativamente distribuído. Nem todas as pessoas têm o mesmo direito de definir e de se definirem, fruto das desigualdades sociais e simbólicas que pontuam o viver em comum. E o poder de se definir alguém, sem deixar a esse alguém qualquer escolha no processo da sua própria definição, traduz claramente uma assimetria: o/a professor/a define o “bom” ou “mau” aluno; o/a poderoso/a classifica o/a subordinado/a; o/a legislador/a determina o aceitável – e em cada um destes atos há um poder desigual. É sempre o elemento dominante, o sujeito hegemônico, aquele que detém a palavra e que pode definir e objetivar o outro. Sucede que, no âmbito do racismo, esta assimetria é imensa, desmesurada e particularmente opressiva, quando um discurso de poder produz conceitos prévios à pessoa, baseando-se numa menorização da diferença que anula a própria pessoa. No contexto das sociedades ocidentais, e atualmente no quadro de uma mundialização uniformizadora, o detentor da palavra e do poder é o homem branco, sedentário, escolarizado e heterossexual com privilégios variáveis consoante classe social, país de origem, situação geográfica... g

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A discriminação nasce de uma vontade de poder e vive, atualmente, nesta conjuntura. É na língua, por outro lado, que as identidades se desenham, sendo importante assinalar o risco de se conceber essa identidade como uma clausura excludente e opressora, potencialmente racista porque instalada na ilusão da “superioridade linguística” ou da “pureza idiomática”. A título de exemplo veja-se como um sotaque, ao identificar uma determinada proveniência, serve também de remoque e de depreciação, sendo raramente considerado como signo de riqueza idiomática e de diversidade de posicionamento em face de uma mesma língua. Mais uma vez o poder impõe-se, determinando um padrão fonético tido como critério centralizado e monolítico de correção linguística. Ainda que dentro de um mesmo idioma, vemos neste exemplo uma espécie de incursão do poder no exercício quotidiano de uma língua, estratificando os seus falantes consoante o modo como a pronunciam. E excluindo diferenças em nome da proximidade de um poder. LÍNGUA COMO IMPOSIÇÃO Uma das mais recorrentes ferramentas de opressão racista passa pela negação da legitimidade cultural e simbólica do outro. Hoje, séculos volvidos sobre as práticas colonialistas associadas à expansão marítima, majoritariamente ibérica (na imposição de língua e de religião associada a uma ação “civilizadora”, culminando em espoliação e escravatura), encontramo-nos com formas mais subtis de imposição de poder, no sentido único de uma mundialização mercantil e homo-hegemônica. Parte da estratégia homo-hegemônica passa, precisamente, pela intenção babélica da língua única e universal, com a língua inglesa, reduzida à sua dimensão mais instrumental, a ser imposta globalmente como língua franca e agregadora. Num processo que empobrece a própria complexidade idiomática da língua inglesa, procede-se no sentido de um monolinguismo gerador de uma cultura de face e feição únicas, cultura esta excludente de tudo o que se não reduza ao seu imediatismo pragmático. As implicações são vastas, são imensas, mas importa sublinhar no âmbito deste texto principalmente a anulação simbólica da diversidade linguística e cultural, na reinvenção de certo monolitismo etnocêntrico que não deixa de potenciar, em todo o lado – das redes sociais às academias, aos modos como nos relacionamos – novas e possíveis formas de discriminação etnocêntrica, xenófoba e/ou racista.

O PLURAL DE UMA LÍNGUA Em jeito de conclusão, recordaremos um dos pontos de partida deste texto: toda a língua é herdada e precedente. No sentido contrário ao poder que nela se inocula e que temos vindo a denunciar, esta mesma língua herdada multiplica-se e pluraliza-se na diversidade de quem a fala e que sempre a reinventa. Se é verdade que racismos, sexismos e outras formas de opressão sobrevivem na língua, também é verdade que é pela língua – pelas línguas – que as opressões se desmascaram e se combatem. Como? Deixando fluir, na língua, o seu estrutural, inclusivo e persistente apelo à invenção, à criação e à indomesticável pluralidade que nela se acoita. As identidades, linguisticamente engendradas, não são necessariamente fronteiras estanques, muros erguidos contra outros/as ou muralhas opressoras, mas celebrações da singularidade multicolor de cada ser e de cada pessoa. Daí que, mesmo num só idioma, se apele ao soerguer não de uma, mas de muitas línguas, em múltiplas pronúncias, capazes de reencontrar, deste lado do continente, o registro não hegemônico de uma Europa plurilíngue e diversa.

Hugo Monteiro é Doutor em Filosofia e Professor na Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto. Este artigo foi publicado originalmente em BUALA (www.buala.org). Para mais informações sobre o Projeto CONECTANDO, do Brasil Observer, acesse o site www.brasilobserver.co.uk/about-conectando


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O MUNDO É NOSSO Jovens urbanos de origem popular cruzam fronteiras para contar suas histórias em diferentes linguagens

PATROCÍNIO

PARCERIA

DREAM TEAM DO PASSINHO O Dream Team do Passinho fará duas apresentações em Nova York no mês de setembro. A primeira será como performance especial no Gala Dinner 2015, promovido pela Brazil Foundation (Cipriani). E a segunda é no Joe’s Pub, local onde já passaram nomes como Leonardo Cohen, Amy Winehouse, Norah Jones. DIVULGAÇÃO

“Tem aquela coisa de sessão da tarde, né? De filme de universidade americana”. Ana Paula tem 27 anos e é coordenadora de metodologia da Agência de Redes para Juventude. A jovem tinha o sonho de visitar Nova York e aproveitou a viagem que fez a trabalho à Califórnia, para um curto intercâmbio na Universidade de Stanford, para conhecer melhor os Estados Unidos. Para ela, a realidade vivida lá correspondeu à ideia formada pelos filmes norte-americanos que assistia nas tardes de sua infância. Veruska é uma maranhense de 27 anos que mora no Rio de Janeiro desde os sete. Este ano, ela saiu do Brasil pela primeira vez, ao ser indicada pelo Consulado Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro para participar do IVLP (International Visitor Leadership Program), programa que, em tempos passados, já levou a presidente Dilma Roussef e o ex-ministro Gilberto Gil para dividir experiências com organizações norte-americanas. “Não estava nos meus planos ir aos Estados Unidos agora. Foi tudo um loucura, eu cruzei o país em uma semana”, conta a menina, que coordena a produção da Agência. A circulação de jovens pelo mundo não é novidade pelo menos desde o século passado. Da natureza dessas viagens, no entanto, há muita coisa nova para falar. Se a diáspora negra e latina, que ainda é uma realidade, nos lembra a falta de oportunidades nos países de origem e a desigualdade globalizada, um movimento de jovens urbanos, de origem popular, cruzando fronteiras para trocar experiências é uma realidade nova. Não saem do país somente para procurar em outros territórios o que o Brasil não ofereceu. Pelo contrário, saem para oferecer aos estrangeiros um pouco das suas experiências e construções aqui. Em setembro, os jovens integrantes do grupo Dream Team do Passinho (DTP) viajam para Nova York para realizar duas apresentações. Apenas um entre os cinco jovens já viajou para fora do Brasil. Os demais estão ansiosos e já fizeram uma lista de lugares que querem conhecer no país do Tio Sam. O coral gospel do Harley, o estádio de futebol Lincoln Center, o Brooklyn. “Também quero comprar umas coisas, mostrar o nosso trabalho e deixar um gostinho carioca e brasileiro. Eles vão pirar com o passinho!”,

comenta Lellêzinha, de 17 anos. Diogo Breguete, de 24, dançarino do grupo, conta que sempre quis conhecer outro país. Além do DTP, outros grupos de “passinho” (uma dança típica da juventude de favela carioca) fizeram turnês internacionais em 2015. Para a professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ilana Strozemberg, ter uma cultura popular brasileira apreciada fora do país não é novidade. Afinal, o samba nasceu nos morros e sempre foi a marca da cultura nacional. O diferencial do momento que vivemos é que a cultura popular que aparece agora é profundamente jovem e contemporânea, afastando-se da ideia de uma cultura popular “de raiz” ou “tradicional”. Além disso, hierarquias no campo artístico têm sido quebradas. “Hoje são colocadas lado a lado como expressões legítimas de arte coisas que estavam muito distantes até aqui. É a primeira geração em que isso acontece”, explica a antropóloga. E mais, esses jovens juntam arte com transformação social, fazendo uma arte política. É importante também notar, neste momento, que esses jovens estão conscientes de seu lugar. Eles saem para dialogar num outro patamar. “Não estão se vendo como os brasileiros que finalmente conseguiram sair do país, que, com sorte, conseguirão um emprego lá fora. Estão indo e dizendo ‘vou arrebentar!’, e voltando”, comenta. Esse movimento tem acontecido em diversas áreas, profissões, como vimos aqui, mas ainda em outras, como a fotografia e a literatura. Recentemente, fotógrafos moradores de favela e integrantes do grupo Imagens do Povo estiveram em Londres dando oficinas de fotografia para jovens ingleses. Favelados indo para o velho mundo na posição de professores de fotografia: isso é novo! Para Ilana, as novas tecnologias ajudam muito a explicar esse novo movimento. “O passinho é grandemente potencializado pelo Youtube, e com as novas tecnologias as pessoas podem produzir e criar de uma forma inédita e formar suas redes”. Apesar de ser um acontecimento global, a emergência da juventude pobre está em maior evidência no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e é um fenômeno muito novo – há apenas quatro ou cinco anos tem essa natureza. Por isso, estimular e mediar essas possibilidades é o caminho para que não haja retrocesso e a juventude de origem popular continue circulando pelo mundo expondo suas identidades.

MARGARET DAY

Por Marília Gonçalves – da Agência de Redes para Juventude, em parceria editorial com o Brasil Observer

REALIZAÇÃO

APOIO INSTITUCIONAL


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B R A S I L S E R V E R DIVULGAÇÃO

. r a g u l m u g l a e D . s a i c n â t s n u c r i c Muitas A coisa vem. . e t n e s e r p a n r o t e s Sua forma

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GUIA

NOSSO PROPÓSITO É CAUSAR ESTRANHAMENTO

Ondenunca Beckett, da companhia carioca Café Cachorro, representa o Brasil no CASA Latin American Theatre Festival Por Guilherme Reis

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ONDENUNCA BECKETT Onde Rich Mix (35-47 Bethnal Green Rd, E1 6LA) Quando 8-9 de outubro Entrada £12 adiantado; £15 na porta Info www.casafestival.org.uk

Três atores. Dois módulos. Uma cadeira. Alguns objetos. No quadrado branco que serve de piso, figuras e formas estão em movimento. A luz se transforma em sombra e o som, em silêncio. Nesse espaço/tempo algo inominável pode acontecer: os corpos criam. Ondenunca Beckett é uma obra teatral experimental livremente inspirada na vida e na obra do escritor irlandês Samuel Beckett. “É como se nós três entrássemos na mente de Beckett e fossemos vasculhando esse espaço, vendo fragmentos, memórias e coisas que teriam dentro desse mundo da mente criativa dele. Como se lançássemos luz na escuridão do pensamento de Beckett”, explicou Leandro Fernandes, ator e diretor, em entrevista ao Brasil Observer. Bruno Paiva e Leonardo Bastos completam a trupe. “A companhia somos nós três: atores, diretores, tudo”, esclareceu Leandro, sem deixar de mencionar alguns colaboradores que fizeram a peça virar realidade, como os iluminadores João Marcelo Pallottino e Ricardo Grings, a figurinista Daniela Sant’Mor e Stephany Simões, que vai acompanhar os três atores/diretores durante a viagem a Londres. Sobre o convite para estar no CASA Festival, Leandro contou: “Em 2012 eu estava em Londres e recebi um flyer do CASA na rua. Então eu guardei isso, mas guardei mesmo, tinha até esquecido. Dois anos depois já estávamos fazendo o espetáculo e começamos a inscrevê-lo em todos os festivais que podíamos, inclusive na Europa. Ficamos de olho na convocatória do CASA, inscrevemos a peça e pouco depois o Daniel Goldman [diretor artístico] nos contatou interessado”.

O resultado: uma peça de 45 minutos que flerta com a dança e as artes plásticas. Não há nenhuma fala no espetáculo, nenhum texto verbal, a não ser uma gravação de Samuel Beckett falando em off. Tudo gira em torno do movimento, da presença do ator e da experiência de tempo e espaço, em um processo que vai de encontro ao vazio, à ideia de escassez. “Chamamos nosso processo de ‘work in regress’, por conta da retirada de elementos”, revelou Leonardo. A falta de fala, aliás, é um fator positivo quando se pensa que o público do CASA Festival não necessariamente entende o idioma português. A linguagem de Ondenunca Beckett é universal. Trata-se de uma peça de formas, da poesia do corpo no espaço, da forma como conteúdo e vice-versa, da estética como ato político em si. Sobre o que esperavam das apresentações em Londres, Bruno Paiva comentou: “Estamos com uma expectativa bem grande de ver como será a reação do público por aí, por ser uma plateia diferente. Mas aqui no Brasil também apresentamos a peça para públicos distintos. Em São Paulo, por exemplo, ouvimos de tudo. Uma menina falou que ficou muito irritada com a gente, ela disse: ‘quando eu começava a entender alguma coisa vocês desconstruíam tudo’. Outra pessoa falou: ‘pra mim vocês não são os protagonistas da peça, pra mim os protagonistas são os módulos que vocês usam’”. Para Leonardo Bastos, “rola uma coisa de não conseguir explicar porque não é algo que se entende, mas sim algo que simplesmente se sente”. “Nosso propósito é causar esse estranhamento, uma sensação que vem da contemplação da dinâmica que é colocada”, disse Leandro Fernandes.

‘WORK IN REGRESS’

O REAL ABSURDO

Levados por uma imensa paixão por Samuel Beckett, os três fizeram uma extensa pesquisa através do estudo de seus romances, peças, peças curtas, novelas, poemas, sua biografia por James Knowlson, cartas, livros de teoria, ensaios e demais referências significativas. “Pegamos algumas coisas que identificavamos como características de criação dele – formas de criar, formas de explorar os objetos, as figuras, o espaço, o tempo – e naturalmente acabamos ligando às nossas formas, nossas bagagens teatrais”, disse Leonardo Bastos.

Aproveitando o tom político que sempre permeia as edições do CASA Festival, questionei os três integrantes da Companhia Café Cachorro sobre como eles enxergavam o atual momento vivido pelo Brasil. Disse a eles que havia acabado de ler um artigo de Fernando Gabeira, no site jornal do O Globo, intitulado “Dilma no teatro do absurdo”, e que gostaria de saber a opinião pessoal deles a respeito. Leonardo Bastos começou: “Acho interessante porque quando surge o termo Teatro do Absurdo, ele dá essa

distanciada da realidade, ele lê as coisas que estão acontecendo no palco como coisas absurdas justamente por não fazerem parte do teatro que estava em voga na época. Gostamos muito do Beckett porque identificamos no trabalho dele as nossas sensações, as nossas vontades, muito mais reais do que absurdas. Então fazendo esse paralelo com a Dilma eu acho que estamos um pouco nesse lugar de que parece que é um absurdo, mas é porque agora está mais próximo da realidade. A corrupção sempre existiu naquele lugar obscuro, distante, mas agora deixou de ser absurdo, está mais perto. Aí vem o estranhamento, a revolta...”. “Há várias camadas nessa discussão. Os protestos na orla de Copacabana, por exemplo, trouxeram algumas situações estranhas em que as próprias pessoas foram mais absurdas do que o absurdo que está acontecendo, porque elas não sabem exatamente o que está acontecendo nem por quais motivos estão lá”, opinou Bruno Paiva. Leandro Fernandes sintetizou: “Estamos vivendo um processo de limpeza, então vai surgir muita coisa ainda, porque é o único jeito de reorganizar a sociedade, mas ainda estamos na fase da confusão”. Absurdos à parte, há esperança. “É muito interessante pensar, apesar disso, na quantidade de pessoas criando uma rede de mobilização para viabilizar uma resistência, que sempre existe. No meio desse caos todo tem surgido muita luz, as pessoas se unindo. Você vê uma crise de consciência em cada esquina”, comentou Leandro. De volta à peça, Ondenunca Beckett se justifica, nas palavras dos próprios realizadores, da seguinte maneira: “É isso que temos. Felicidade imensurável diante do caos das possibilidades. É preciso deleitar isso. Nunca achar o lugar das coisas. Não saber o que fazer e ainda assim fazê-lo. Criar. Dar forma às ideias. Experimentar! Quanta beleza nessas tentativas falhas. Encontrar a fonte no interior do outro. Voltar-se para a trilha solitária. Compartilhar essa solidão. Seguir. Seguir fazendo. Sair das águas rasas. Adentrar o mistério. Um caminho para ONDE e para NUNCA. Nunca saber. Ainda assim perguntar. Perguntar com o corpo. Amor. Rigor. Liberdade. Teatro”.


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Contato e Info: 079 8449 6533

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DICAS CULTURAIS

MÚSICA BEBEL GILBERTO

BRIXTON2BRAZIL

Quando: 28 a 30 de setembro Onde: Ronnie Scott’s (47 Frith Street, W1D 4HT) Entrada: £45 – £65 Info: www.ronniescotts.co.uk

Quando: 18 de setembro Onde: Pop Brixton (49 Brixton Station Road, SW9 8PQ) Entrada: Gratuita Info: www.popbrixton.org

JULIANA AREIAS

AMAIA AZCONA & MORGAN SZYMANSKI

Quando: 8 de outubro Onde: Ronnie Scott’s (47 Frith Street, W1D 4HT) Entrada: £8 adiantado, £10 na porta Info: www.ronniescotts.co.uk

Quando: 18 de setembro Onde: St James’s Church (197 Piccadilly, W1J 9LL) Entrada: Gratuita Info: www.sjp.org.uk

DOM LA NENA

DIEGO CARNEIRO & ERALYS FERNANDEZ

Quando: 28 de outubro Onde: St. Pancras Old Church Entrada: £9.50 Info: www.stpancrasoldchurch.wix.com

Quando: 20 de setembro Onde: Omnibus Arts Centre (1 Clapham Common, SW4 0QW) Entrada: £10 Info: http://goo.gl/7H0cGy

OS MUTANTES

BRIXTON COME TOGETHER

Quando: 25 a 27 de setembro Onde: Vários locais Entrada: Gratuita Info: www.facebook.com/brixtoncometogether

Quando: 17 e 18 de novembro Onde: Village Underground Entrada: £19.25 Info: www.villageunderground.co.uk DIVULGAÇÃO

£10 Standard £8 Students

ZÉ BOIADÉ 26th SEPTEMBER 7pm The Forge

3-7 Delancey Street,

Camden NW1 7NL


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CINEMA

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LITERATURA Por Nadia Kerecuk

RIO + FILM FESTIVAL 2015

O Barbican Centre apresenta uma seleção de filmes brasileiros que têm em comum a cidade do Rio de Janeiro como cenário. Do clássico Limite (1931) ao celebrado Cidade de Deus (2002), passando pelo recente O Lobo Atrás da Porta (2014), o público poderá experimentar o melhor do cinema brasileiro desde sua origem até os dias atuais. Quando: 24 a 27 de setembro Onde: Barbican Centre Entrada: £9.50 Info: www.barbican.org.uk

TEATRO HOME THEATRE (UK) 2015

Vem aí mais uma edição do festival de teatro que vai levar 30 diferentes performances para 30 diferentes casas ao redor de Londres ao mesmo tempo. Realizado pela primeira vez em 2013, é produzido pelo Theatre Royal Stratford East com o brasileiro Festival Internacional de Cenas em Casa. As apresentações serão todas filmadas e transmitias no site do Stratford East em 31/10 e 1/11. Quando: 17 de outubro Onde: Vários locais Entrada: Por aplicação Info: www.stratfordeast.com

CLUBE DO LIVRO: ÓPERA DOS MORTOS, DE AUTRAN DOURADO

O próximo encontro do Brazilian Bilingual Book Club da Embaixada do Brasil em Londres discutirá Ópera dos Mortos (1967), traduzido para o inglês como The Voices of the Dead (1980, Londres; 1981, EUA). Waldomiro Freitas Autran Dourado nasceu na cidadezinha de Patos de Minas, passando a maior parte de sua infância nas cidades de Monte Santo de Minas e São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais, e com 17 anos mudou-se para a capital do estado, Belo Horizonte. Estudou direito na universidade enquanto trabalhava como taquígrafo e jornalista; formou-se em 1949. Minas Gerais é o local onde nasceram diversos autores e artistas brasileiros notáveis. Autran Dourado beneficiou-se muito das correntes literárias e artísticas locais. Igualmente, teve sorte, pois foi descoberto em Belo Horizonte por Juscelino Kubitschek (190276), que foi deputado e governador do estado de Minas Gerais e, posteriormente, presidente do Brasil, servindo como seu secretário particular em Minas Gerais e, subsequentemente, de 1958 a 1961, como seu secretário e imprensa e assessor. Autran Dourado mudou-se para a capital federal, Rio de Janeiro, em 1954. Foi casado com Lúcia Campos por mais de 60 anos e tiveram quatro filhos. Ao falecer em 2012, o autor tinha dez netos e dois bisnetos. As obras de Autran Dourado ganharam reconheci-

www.casafestival.org.uk

mento em pouco tempo. O seu romance A Barca dos Homens (1961), uma espécie de comédia humana, ambientado numa ilha ficcional no sul do Brasil, retrata a decadência das classes abastadas brasileiras no século 18. Ópera dos Mortos é considerada a sua obra prima, e foi incluída na coleção de obras literárias representativas da UNESCO. Autran Dourado é um dos principais autores da segunda metade do século 20 no Brasil e sua obra exibe um talento raro. Ópera dos Mortos, ambientada no estado barroco místico de Minas Gerais, é uma bela narrativa de um hábil mestre das palavras. Este clássico certamente arrebatará leitores. Em 2000, publicou seu livro de memórias, Gaiola Aberta e os Tempos de Schmidt, narrando sobre o tempo em que serviu como secretário de imprensa do presidente Juscelino Kubitschek. Constitui uma fonte valiosíssima para a história política e intelectual do Brasil, com estórias deliciosas. Quando: 17 de setembro Onde: Embaixada do Brasil em Londres Entrada: Gratuita Info: www.culturalbrazil.org Nadia Kerecuk é Coordenadora do Brazilian Bilingual Book Club da Embaixada do Brasil em Londres

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COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

QUANDO A HUMANIDADE TOMA FORMA REPRODUÇÃO

A Balsa de Medusa, de Théodore Géricault

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Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs (stonecrabs.co.uk)

Passei o mês de agosto a explorar a peça A Tempestade (The Tempest), de Shakespeare, através de oficinas de teatro com atores japoneses em Tóquio. Nossa pergunta fundamental durante o processo foi: estamos perdendo nossa humanidade? Para os estudiosos, a importância dos escritos de Shakespeare encontra-se em suas influências sobre a literatura e a arte subsequentes; para os linguistas, sua importância reside em suas contribuições para o idioma Inglês – ele inventou novas palavras, metáforas, sintaxe, etc. Para os historiadores, ele deu vida à história inglesa. Para os sociólogos, suas contribuições se dão nas investigações sobre a natureza humana. Para os artistas, importante é o retrato complexo da humanidade e da liberdade que ele nos oferece. As histórias de Shakespeare são universais. Enquanto me preparava para o trabalho, questões de imigração em Calais tomavam as primeiras páginas da maioria dos jornais. Deparei-me então com um artigo sobre uma pintura de Gericault, A Balsa da Medusa – que se tornou inspiração para o nosso trabalho. Perdão e liberdade são temas centrais de A Tempestade. Próspero, Duque de Milão é gravemente prejudicado por seu irmão Antonio, a quem foi confiada a administração de seu ducado. Antonio conspira com Alonso, o rei de Nápoles para roubar de Próspero seu título. Prospero é banido de Milão, juntamente com sua filha recém-nascida Miranda; eles são colocados em uma jangada no meio da noite e jogados aos perigos do mar. É somente através da compaixão e bondade do velho cortesão Gonzalo que eles sobrevivem. Na ilha, Próspero e sua filha são tanto refugiados quanto colonizadores. Com Próspero, Shakespeare cria a versão mais eloquente do caráter humano. Intelectual falho em busca de uma vida espiritual, Próspero também demonstra muitas contradições: em primeiro lugar, ele parece mais como um europeu colonial a escravizar outras culturas, um feiticeiro frio e inteligente, mas, ao passo que sua jornada avança, se percebe mais sobre suas emoções e sua capacidade de compaixão. A raiva de Próspero por seu irmão decorre de seu amor por ele, assim como sua irritação e escravização de Caliban são produtos de suas próprias falhas. Caliban também fica decepcionado com Próspero, por mostrar-lhe amor e abandoná-lo assim que Caliban comete seu primeiro erro. Em cada personagem, a verdadeira humanidade toma forma: seja Próspero, Miranda, Antonio, Alonso, Ariel ou Caliban, todos eles têm a sua própria tempestade interior para superar; eles estão à procura de uma vida melhor. Na verdade, há muitas tempestades em jogo. Além de conflito de classes e explorações colonialistas, há o desejo de criar uma sociedade utópica. A cena de tempestade que abre a peça estabelece a natureza como elemento importante e enfatiza o papel dela na sociedade. Há tempestades emocionais que criam conflitos familiares, tempestades de discórdia, de amor proibido, e tempestades causadas pelo conflito inerente entre diferentes gerações. Para Próspero e os outros personagens resolverem seus conflitos, eles precisam de perdão. Precisam aceitar os próprios erros e aprender com eles; desenvolver a empatia, a capacidade de imaginar-se no lugar dos outros; e acreditar no potencial das pessoas em fazer o bem. A Tempestade nos lembra de que devemos construir uma sociedade além dos lucros em curto prazo; em uma era onde o mercantilismo parece estar tomando conta de tudo, precisamos voltar ao básico, reaprender os valores esquecidos de compaixão e generosidade. Direitos humanos, democracia e paz são partes do mesmo pacote. Podemos estar em diferentes ilhas, com culturas diferentes, mas somos todos membros da mesma família humana, e todos nós estamos procurando o mesmo tipo de felicidade.


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RICARDO SOMERA

PLATA O PLOMO?

“Já viu Narcos?” é a pergunta do momento em (quase) todas as rodas de amigos. Desde 28 de agosto, data de estreia da série no Netflix, não se fala em outra coisa. Aqui no Brasil a “grande” questão é o sotaque de Wagner Moura. Ele fala castelhano bem ou não? O que você acharia se um brasileiro fosse interpretado por outro latino? (Quem se lembra do fiasco de Javier Barden em Comer, Rezar, Amar?) Muita discussão, várias opiniões e uma unanimidade: Wagner Moura está incrível na pele do maior narcotraficante que o planeta já conheceu: Pablo Escobar. Além de Wagner Moura outros brasileiros participam da série. José Padilha (Tropa de Elite e Ônibus 174) é produtor executivo e diretor dos primeiros episódios e André Mattos interpreta Jorge Ochoa, um dos sócios do cartel de Pablo. Outro diretor brasileiro, Fernando Coimbra (O Lobo Atrás da Porta), dirige dois dos melhores episódios da temporada (You Will Cry Tears of Blood e La Gran Mentira). E não podemos deixar de lembra do hermano Rodrigo Amarante, interprete da música de abertura da série, “Tuyo”. Há muita empolgação com os brasileiros, mas a série é americana, o narrador é americano e foi criada por americanos (Chris Brancato, roteirista de Hannibal, e Adam Fierro, de The Walking Dead). Algumas coisas que você só aprende em livro de história colombiana ou em Narcos:

- O cartel de Escobar contrabandeava 15 toneladas de cocaína por dia para os Estados Unidos. - Em 1989 Escobar foi considerado pela revista Forbes o 7º homem mais rico do mundo com uma fortuna avaliada em mais de 25 bilhões de dólares. - Antes de ser preso Escobar construiu sua própria prisão (desculpe aí pelo spoiler!). - Durante uma ocasião em que o narcotraficante teve que ficar escondido em uma choupana nos arredores de uma área montanhosa de Medellín, ele queimou cerca de dois milhões de dólares em dinheiro para poder manter sua família aquecida. - Além das 800 casas ele também tinha 15 aviões e seis helicópteros. - Noventa e cinco por cento de toda a cocaína consumida nos Estados Unidos ainda são produzidos na Colômbia. Parte dela distribuída pelo Brasil, o segundo maior negociador mundial da coca. - Em um comunicado divulgado em setembro, as FARC afirmaram que “o narcotráfico é uma realidade socioeconômica gerada por um modelo capitalista que produz hoje mais de 600 bilhões de dólares por ano”. Estimativas oficiais, no entanto, dizem que o montante total da coca pode ser superior a um trilhão de dólares. Agora é esperar a segunda temporada – já confirmada – e esperar que toda essa minha empolgação não acabe em pó.

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VIAGEM

S O G O J S O A R A P A I U G 6 1 0 2 O I R S O C I P OLÍM

RICARDO STUCKERT/FOTOS PÚBLICAS


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Do Maracanã ao Parque Olímpico, passando por Copacabana: Jogos Rio 2016 vão tomar toda a cidade

Paraty, Ilha Grande e Búzios: opções além do Rio de Janeiro para aproveitar as belezas naturais da região RAFAEL NEDDERMEYER

TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL

Falta menos de um ano para a primeira edição dos Jogos Olímpicos sediado na América do Sul. De 5 a 21 de agosto de 2016, o Rio de Janeiro vai receber mais de 10 mil atletas de 205 nações. A expectativa é de que aproximadamente 750 mil turistas visitem a cidade no período – a Paralimpíada ocorre de 7 a 18 de setembro. A festa começará no lendário estádio do Maracanã, que será palco das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos, e seguirá por Copacabana – onde acontecerão competições como Vôlei de Praia, Ciclismo de Estrada e Canoagem – até a Barra da Tijuca, onde o Parque Olímpico está sendo construído – 87% das obras estão concluídas, de acordo com os últimos números da Prefeitura do Rio. Diferentemente da Copa do Mundo no Brasil, com 12 cidades-sede, os Jogos Olímpicos se concentram apenas no Rio de Janeiro, que tem recebido uma série de melhorias em sua infraestrutura urbana. Com isso, a “Cidade Maravilhosa”, acostumada a receber uma multidão de turistas todos os anos para o Carnaval, estará ainda mais preparada.

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VOOS

DIVULGAÇÃO

FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

A partir do aeroporto de Heathrow, TAM e British Airways operam voos diretos para o Galeão, o aeroporto internacional do Rio. Fora de temporada, o trajeto de aproximadamente 11 horas e 30 minutos custa desde 429 libras pela TAM, ida e volta – durante os Jogos, tal valor deve no mínimo dobrar. Há, porém, alternativas: Air France, Iberia, KLM e Lufthansa também operam voos diretos para o Rio a partir de outras capitais europeias, enquanto a TAP voa de Lisboa para diversas cidades brasileiras, como Fortaleza, Recife e Brasília. Ou seja, encontrar um voo para o Rio de Janeiro não será difícil. Vale a pena, obviamente, comparar valores em sites especializados, assim como considerar chegar ao Rio por outra cidade brasileira, como São Paulo, por exemplo, que fica a quase 450 km da capital carioca.

RESERVA

ALÉM DO RIO Quem estiver no Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos têm também a opção de visitar outras regiões deslumbrantes próximas à cidade. Ao sul da “Cidade Maravilhosa” está a Costa Verde, que se estende de Itajaí até Santos, passando pela colonial Paraty. No roteiro, Ilhabela e Ilha Grande certamente não vão decepcionar. Ao norte do Rio, as duas melhores opções são Búzios e Cabo Frio.

DIVULGAÇÃO

REPRODUÇÃO

Ingressos para os Jogos, com valores que começam em oito libras, podem ser adquiridos pelo site oficial: rio2016.com. Já a disponibilidade da rede hoteleira, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional, será divulgada em outubro, uma vez que as delegações nacionais, os organizadores dos Jogos e a mídia oficial tiverem suas acomodações definidas. Em todo caso, agências de viagem do Reino Unido e do Brasil podem auxiliar durante o processo – acesse o site da Latin American Travel Association: lata.org. Há também a opção de comprar um pacote que combine acomodação e ingressos. O revendedor oficial dos Jogos Rio 2016 no Reino Unido é a Cosport (cosport.com), que tem uma série de agentes. Um pacote de quatro noites – de 11 a 15 de agosto – em hotel quatro estrelas, com ingressos para Atletismo, Natação, Basquete e Golfe, traslados e excursões custa 5.847 libras por pessoa em acomodação dupla. Além disso, o Airbnb foi escolhido o “provedor oficial de acomodação alternativa” para os Jogos. É possível encontrar um pequeno flat no centro do Rio para até cinco pessoas por 166 libras por semana.


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