Brasil Observer #27 - Portuguese Version

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B R A S I L O B S E R V E R LONDON EDITION

WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK

ISSN 2055-4826

MAY/2015

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BRUNO DIAS / ESTÚDIO RUFUS (WWW.RUFUS.ART.BR)

PADRÃO L A I D N U M TAKUMÃ KUIKURO Do Alto Xingu a Londres, a missão de um cineasta indígena ALICIA BASTOS

POR QUE UNIVERSIDADES BRASILEIRAS ESTÃO SE INTERNACIONALIZANDO

FLAVIA COELHO Com mais batida, cantora brasileira apresenta novo álbum BERNARD BENANT


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SUMÁRIO 4 6 8 10 12 14 16 18 21 24 26 28 30

EM FOCO O papel do BRICS em um mundo em transição

LONDON EDITION

COLUNISTA CONVIDADO Atila Roque escreve sobre a redução da maioridade penal no Brasil

É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

PERFIL Takumã Kuikuro e a preservação das tradições indígenas BRASIL GLOBAL Especialistas explicam o sentido da internacionalização do ensino superior

ANA TOLEDO Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk

CONEXÃO BR-UK British Council estreia programa de capacitação em São Paulo

GUILHERME REIS Diretor de Redação guilherme@brasilobserver.co.uk

BRASILIANCE A pauta da terceirização avança no Congresso Nacional

ROBERTA SCHWAMBACH Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk

BRASILIANCE Debate sobre reforma política tem dois projetos antagônicos CONECTANDO Em Marabá, um coletivo de jovens faz a diferença na comunidade

EDITORES EM INGLÊS Kate Rintoul Kate@brasilobserver.co.uk Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk

GUIA Entrevista exclusiva com a cantora brasileira Flavia Coelho DICAS CULTURAIS Para curtir Londres com um toque brasileiro

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe peixe@brasilobserver.co.uk

COLUNISTAS

COLABORADORES Alicia Bastos, Ana Beatriz Freccia Rosa, Aquiles Rique Reis, Átila Rique, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Ítalo Moraes, Michael Landon, Raquel Britzke, Ricardo Somera, Wagner de Alcântara Aragão

BEM-ESTAR VIAGEM

IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias DISTRIBUIÇÃO Emblem Group Ltd.

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PARA ANUNCIAR comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 PARA ASSINAR contato@brasiloberver.co.uk PARA SUGERIR PAUTA E COLABORAR editor@brasilobserver.co.uk ONLINE brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver

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EM FOCO

O PAPEL DO

BRICS E Evento organizado pelo Global Diplomatic Forum reuniu em Londres, no final de abril, altos funcionários e um acadêmico para debaterem o papel evolutivo do BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em um cenário internacional em mutação. Participaram Obed Mlaba, Alto Comissário da África do Sul em Londres; Virander Paul, Vice-Alto Comissário da Índia em Londres; Alexander Kramarenko, Vice-Embaixador da Rússia em Londres; Alexandre Parola, Ministro-Conselheiro da Embaixada do Brasil em Londres; e Jan Knoerich, Professor de Economia Chinesa no King’s College. Younes El-Ghazi, Executivo-Chefe do Global Diplomatic Forum, conduziu a conversa com perguntas e participação do público. De forma geral, todos fizeram questão de salientar, logo no princípio, que o BRICS não é um grupo contra hegemônico. Ou seja, não é a intenção dos países membros criar mecanismos que substituam o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional – instituições criadas após o chamado Acordo de Bretton Woods, que na prática deslocou o controle da economia mundial para os Estados Unidos, depois da Segunda Guerra. A ideia é criar formas complementares de governança global – principalmente com o Novo Banco de Desenvolvimento, ou simplesmente Banco do BRICS, criado no ano passado durante a sexta reunião de cúpula do grupo, no Brasil. “Não somos uma aliança no significado tradicional da palavra. Não estamos em uma guerra contra outras nações. É uma questão de desenvolvimento econômico, de promover os interesses nacionais dos países membros”, afirmou Alexander Kramarenko. A mesma linha foi seguida por Alexandre Parola, que adicionou: “A imprensa geralmente nos retrata como um grupo contra hegemônico, mas não é verdade. Não somos contrários a ninguém, somos a favor de nós mesmos”. Mas e a China? Qual é o interesse chinês? Para Jan Knoerich, que, vale lembrar, não estava representando a posição oficial do país, o ponto central do interesse chinês é a alta demanda por investimentos em infraestrutura nos países membros e nas regiões em que eles estão inseridos. “A China tem a expertise necessária e precisa do BRICS para aumentar sua influência em outros fóruns”, opinou

Knoerich. “Mas a ideia é suplementar, não substituir. É mais eficiente reformular a o sistema atual do que criar algo novo”, completou. Nesse sentido, Obed Mlaba lembrou que o plano do Banco do BRICS não é financiar apenas projetos de infraestrutura dos países membros, mas também de outros países emergentes. “Há muitas oportunidades na África. De norte a sul, de leste a oeste, o continente africano não está conectado. Há uma demanda enorme em infraestrutura, para que os países façam negócios entre si”, apontou. Em seguida, os palestrantes ressaltaram que não há impedimentos para que um país membro feche acordos bilaterais com outras nações. Neste momento, ficou evidente que a percepção geral é de que o atual sistema global é insuficiente para promover os avanços necessários para as populações dos países emergentes. “A austeridade do Ocidente não traz desenvolvimento”, afirmou Alexander Kramarenko. Para Virander Paul, “o simples fato de o grupo do BRICS ter sido criado é a prova de que o mundo mudou”. Perto do encerramento do debate, um membro da plateia perguntou se a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), entre os Estados Unidos e outros 11 países, inclusive o Japão, pode afetar as ambições econômicas do BRICS. Diante do fato de que a tal parceria não foi ainda acordada, ninguém pareceu disposto a fazer suposições. Mas Alexandre Parola aproveitou o gancho para fazer uma reflexão que certamente resume o que está em jogo. Disse ele que o mundo do século 21 é pós-hegemônico, não mais centralizado em uma ou duas super potências. A própria ideia de cooperação Sul-Sul nada mais é do que uma forma de quebrar a centralização político-econômica, ou seja, não é preciso intermediários quando se trata de dois países da mesma região – ou com os mesmos desafios – fazendo acordos; é uma questão de decidir interesses em comum de forma soberana. Nessa perspectiva, o papel do BRICS parece ser contribuir para um mundo que caminha rumo a uma ordem multipolar, onde a atuação dos países não será mais em blocos, mas em redes interconectadas. Sairá na frente quem conseguir atuar e exercer influência no maior número de redes possível, nos mais variados temas de interesse.

AGENDA g

Jantar de Gala e Prêmio Personalidade do Ano 2015 A Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha premia dois líderes – um brasileiro e um britânico – por suas conquistas recentes. Os vencedores são Marcos Molina e Sir Martin Sorrel. O ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, fará o discurso principal da noite. Quando: 12 de maio (19:00) Onde: London Hilton – 22 Park Lane Entrada: Membro Individual: £215 Não Membro: £270 Info: www.brazilianchamber.org.uk

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John Hemming apresenta ‘Naturalists in Paradise’ Especialista sobre a região amazônica, John Hemming apresenta seu novo livro, que reúne as aventuras e conquistas de três naturalistas britânicos (Alfred Wallace, Henry Bates and Richard Spruce) na América do Sul na metade do século 19, recontando a experiência dos três e como suas pesquisas mudaram a concepção do mundo. Quando: 12 de maio (18:30-20:00) Onde: Canning House – 14/15 Belgrave Square Entrada: Gratuita, mas reserva é necessária Info: www.canninghouse.org

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Brasil: O que aconteceu? O Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, retorna ao King’s College, em Londres, para discutir os recentes acontecimentos no país. Alex vai focar principalmente no porquê de o Brasil ter passado, aos olhos da comunidade internacional, de “potência emergente” para um país que parece atolado em crises política e econômica. Quando: 13 de maio (18:00-21:00) Onde: King’s Building Strand Campus Entrada: Gratuita, mas reserva é necessária Info: www.kcl.ac.uk

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O papel do Brasil Marcelo de Almeida Medeiros, da Universidade de Oxford, revisa os anseios do Brasil para se tornar um player global através da procura por novos parceiros; apresentando uma visão geral da história, cultura e política no país; e analisando a participação brasileira em duas grandes crises, a constitucional no Haiti e a nuclear no Irã. Quando: 19 de maio (18:30-20:30) Onde: King’s Building Strand Campus Entrada: Gratuita, mas reserva é necessária Info: www.kcl.ac.uk

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Memórias da Ditadura no Brasil A Canning House e o Instituto Cervantes estão apresentando uma série de palestras com foco nas ditaduras militares do século passado na América Latina e suas consequências. Em maio é a vez do Brasil, cuja ditadura durou de 1964 a 1985. O palestrante será Anthony Pereira, Professor e Diretor do Instituto Brasil do King’s College. Quando: 20 de maio (18:30-20:00) Onde: Instituto Cervantes, 102 Eaton Square Entrada: Membros: £5 Não-membros: £10 Info: www.canninghouse.org


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COLUNISTA CONVIDADO

DO PROGRESSO AO RETROCESSO A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos no Brasil seria um passo trágico em direção à barbárie Por Atila Roque g

Atila Rique é Diretor Executivo da Anistia Internacional no Brasil

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Desde a redemocratização, o Brasil vem avançando na aquisição e manutenção de direitos humanos. É verdadeiro dizer que, muitas vezes, o progresso anda a passos lentos, porém firmes. No entanto, a eleição, no ano passado, do Congresso Nacional mais conservador desde a ditadura militar nos coloca diante de sérios riscos. A redução da maioridade penal talvez seja o mais escandaloso dos exemplos. É preciso desconstruir os estereótipos sobre quem são estes adolescentes de 16 a 18 anos e todos os argumentos que manipulam demagogicamente o medo legítimo existente na sociedade – um medo amplificado artificialmente que coloca nas costas dos jovens e adolescentes uma falsa responsabilidade pela violência. Afinal, estes jovens (16 a 18 anos) são responsáveis por menos de 1% dos crimes cometidos no Brasil. Jovens que, dia após dia, são relegados à margem da cidadania; cujos direitos humanos fundamentais, como saúde, educação, cultura, moradia, esporte e mobilidade, são reiteradamente negados; e que, ainda assim, acabam sendo injustamente acusados de alçar o crime a altos patamares no Brasil. A resposta das autoridades à crise da segurança pública não pode ser a redução da maioridade penal. Estes jovens, geralmente negros, pobres e moradores de favelas, são as principais vítimas da violência. Só em 2012 foram registrados 56 mil homicídios no Brasil. Em mais de 50% dos assassinatos (30 mil), as vítimas foram jovens de 15 a 29 anos; 77% deles, negros. Dados do Índice de Homicídios na Adolescência mostram também que mais de 42 mil adolescentes de 12 a 18 anos poderão ser vítimas de homicídios no país até 2019. E a curva de crescimento continua ascendente. Nos últimos dez anos, por exemplo, a violência letal entre os jovens brancos caiu 32,3% e entre os jovens negros, aumentou 32,4%. Ou seja, os homicídios de jovens negros são um dos principais pilares que sustentam o aumento da violência letal. O outro pilar é a indiferença com a qual a sociedade e o Estado geralmente tratam essas mortes, como se já tivessem passado a fazer parte da paisagem natural de nossas cidades. Alguns pensam: “O mundo é mesmo um lugar violento”. Não. Violento mesmo, atualmente, é o Brasil. Somos responsáveis por mais de 10% dos homicídios do mundo. Como se essas mortes fossem destino. Não eram. Foram resultado das escolhas que fizemos ou deixamos de fazer. A criminalização da pobreza e o racismo operam reforçandose mutuamente no discurso do ódio e do medo que colocam a classe média em uma posição contrária à defesa de direitos previamente conquistados. São eles os que mais temem a violência, apesar de não serem os que mais sofrem com ela.

CONTEXTO E CENÁRIOS O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos em 2015. A legislação brasileira se tornou uma referência internacional, entretanto ainda há hiatos na sua aplicação. O que já é realidade: o ECA prevê que a menor idade de responsabilidade criminal é 12 anos. Os jovens com idade entre 12 e 18 anos devem ser atendidos por um sistema de justiça juvenil, que é adequado a seus direitos e características de desenvolvimento social e psicológico, inclusive com a privação de liberdade como último recurso. O crime deve ser punido, mas é preciso considerar as diferenças de desenvolvimento físico e psicológico dos adolescentes em relação aos adultos. Já o sistema prisional do Brasil é um dos mais violentos do mundo. Somos o quarto país em população carcerária, atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia. E as condições são péssimas: alojamento, alimentação, justiça. Ali as pessoas são desumanizadas. O sistema de justiça e segurança pública no Brasil tem sido historicamente marcado por uma distribuição seletiva da justiça e da impunidade. Trata-se de um sistema altamente ineficaz no combate à criminalidade, profundamente marcado pela violência policial e prisões conhecidas por suas condições medievais. A redução da maioridade penal resultaria em maior encarceramento de jovens em um sistema prisional falido, superlotado, com claras evidências de maus tratos, condições desumanas e práticas de tortura. Colocar os menores de 18 anos em privação de liberdade nas mesmas instalações dos adultos deixaria esses jovens vulneráveis a abusos e aliciamento por parte de facções criminosas organizadas dentro das prisões, comprometendo dramaticamente suas perspectivas de reabilitação. O índice de reincidência de egressos das prisões é muito maior do que de egressos do sistema socioeducativo. Ao reduzir a maioridade penal, o Estado e a sociedade brasileira mandam um sinal de que estariam desistindo de uma parcela de suas crianças e adolescentes, abrindo mão de suas responsabilidades na educação e promoção de seus direitos. A juventude dos territórios periféricos e das favelas carece de oportunidades de acesso ao lazer, cultura e educação, condições essenciais na construção de uma vida livre da violência. O potencial de criatividade e inteligência desses territórios precisa ser estimulado, com valorização das iniciativas já existentes e criação de novas. Deveria ser essa a prioridade. Não se promove justiça e segurança pública às custas da redução dos direitos justamente daqueles que mais necessitam do apoio e da solidariedade da sociedade: as crianças e adolescentes em situação de risco. Isso seria um passo trágico em direção à barbárie.


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NO CAMINHO DE SEUS SONHOS Por onde começar quando a vontade de estudar em uma universidade britânica não sai da sua cabeça? Por Roberta Schwambach

Desde que terminei o mestrado em Portugal, a ideia de dar continuidade aos meus estudos no Reino Unido ronda minha mente, juntamente com inúmeras dúvidas sobre como realizar este plano. A primeira grande questão é quanto ao processo de entrada num PhD: quais documentos preciso traduzir ou escrever, e como apresentá-los? A escolha da universidade também é fator crucial, assim como o contato com tutores e os custos do processo e do próprio curso. Sentia-me sozinha, mas logo percebi que essas dúvidas se repetem na cabeça de inúmeros estudantes estrangeiros que tem esse mesmo sonho: estudar numa instituição de nível superior no Reino Unido. A primeira luz chegou por e-mail: uma amiga me enviou um convite para a Feira de Universidades (University Fair) promovida pela SI-UK. No convite, vi que várias univer-

sidades britâncas pelas quais eu já havia me interessado estariam presentes. Era a minha chance de conhecer mais de perto esse mundo. Então eu fiz minha inscrição para a feira, gratuitamente, e recebi uma confirmação eletrônica. Achei que bastava esperar o dia da feira chegar. No entanto, alguns dias depois recebi outro e-mail, no qual a equipe da SI-UK me convidava para uma orientação personalizada. Como eu estava bastante confusa, resolvi aceitar. No email, eles me pediam que levasse uma série de documentos, entre eles Transcripts (Histórico Escolar), Graduation Certificate (Diploma), Letters of Reference (Cartas de Referência), Personal Statement (Carta de Apresentação), CV e Passport. Eu não tinha esses documentos. Na verdade, alguns eu nem sabia o que eram. Então fui com a cara e a coragem.

Ao chegar ao escritório da SI -UK, em plena Oxford Street no centro de Londres, recebi todo o apoio e percebi que eu não precisaria estar sozinha durante o processo de me candidatar ao PhD. A orientação foi oferecida em inglês, mas eu poderia ter optado pelo português. Em apenas uma hora eu já podia ver claramente quais seriam os próximos passos em direção ao meu curso. Recebi uma explicação minuciosa sobre como funciona o processo de admissão das universidades, além de orientação sobre a documentação que eu deveria reunir. Entendi finalmente, então, qual documento era pra quê e como eu deveria redigí-lo (ou traduzí -lo, a partir dos originais), quais eram as universidades que ofereciam os cursos do meu interesse e como seria a escolha de um orientador para o PhD.

Quando finalmente o dia da feira chegou, me sentia pronta para olhar para o futuro. O salão estava repleto de mesas e cada uma delas com as respectivas logomarcas, materiais e orientadores de cada instituição de ensino. Não resisti e parei em para conversar com uma universidade que eu não havia pré-selecionado. Sentei, perguntei sobre o processo de aplicação para uma vaga e constatei que já sabia quase tudo o que eles me disseram. Ter sido orientada pela SI-UK antes de participar da feira valeu a pena e me fez ganhar tempo. Algumas mesas e muitas conversas depois, confirmei alguns interesses que já tinha, descobri outros. Ainda não submeti a minha aplicação para o doutorado. Mas já me sinto mais confortável. O caminho em direção ao meu sonho agora é muito mais promissor.

Feira de Universidades Britânicas 2015 Para Estudantes Internacionais

Lancaster London Hotel

Sábado 16 de Maio de 2015 De 12:00h às 17:00h Lancaster Gate

Universidades presentes: University of Bath Brunel University London University of Exeter King’s College London

University of Leeds University of York University of Southampton University of Warwick University of Surrey + Entre outras... UCL

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PERFIL

A MISSÃO DE TAKUMÃ KUIKURO Do Alto Xingu para Londres, cineasta indígena traz a certeza de que povos tradicionais do Brasil estão preservando e expandindo o alcance de sua cultura Por Alicia Bastos g

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Londres pode ser uma cidade caótica para muitos de nós. Imagine, então, o que pode significar para um homem indígena que cresceu em uma aldeia na região do Alto Xingu, no Estado do Mato Grosso. “Quando cheguei a Londres, a primeira coisa que pensei foi: não falo inglês, não posso ler, não sei o que dizer quando alguém se aproximar, nem como pegar um ônibus sozinho ou andar nas ruas”. Takumã Kuikuro não estava sozinho, porém. Apoiado pelo Ministério da Cultura do Brasil e pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) em parceria com o programa Transform do British Council, o índio brasileiro passou os meses de março e abril na capital britânica para a realização de uma residência artística, que teve ainda o suporte decisivo do People’s Palace Projects, capitaneado por Paul Heritage. “Estou aqui em Londres filmando e promovendo o meu trabalho, a nossa cultura indígena”, explica ele. Membro do povo Kuikuro, Takumã cresceu na aldeia de Ipatse e foi treinado pelo projeto Vídeo Nas Aldeias, da ONG Centro de Trabalho Indigenista. Documentando os costumes e a cultura de seu povo, recebeu atenção internacional com seus filmes, entre eles os curtas-metragens ‘O Dia em que a Lua Menstruou’ (2004) e ‘Cheiro de Pequi’ (2006) e o longa ‘As Hiper Mulheres’ (2011). Este último, aliás, foi apresentado em sessão especial realizada na Embaixada do Brasil em Londres em abril. Mas como tudo começou, afinal? E o que motiva Takumã Kuikuro a deixar sua família em terras brasileiras para apresentar do outro lado do mundo sua visão tão particular em relação ao nosso planeta?

PAIXÃO PELAS IMAGENS

Alicia Bastos é fundadora e diretora artística do Braziliarty (www.braziliarty.org)

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Takumã Kuikuro nasceu em 1983. Durante quase toda sua infância, na aldeia de Ipatse, não teve escola para frequentar. Até os oito anos de idade, nunca tinha ouvido outro idioma que não o de sua tribo. Em 1992, porém, um líder indígena local foi ao Rio de Janeiro para a conferência ecológica ECO-92 e por lá acabou ficando para estudar. Quando retornou para a aldeia no Alto Xingu, mais ou menos um ano depois, decidiu organizar aulas para transmitir seus conhecimentos e ensinar aos jovens aquilo que havia aprendido na cidade grande.

“Ele trouxe alguns lápis e cadernos, mas não o suficiente para todos. Costumávamos cortar os lápis em pedaços para que todos pudessem ter um; também os cadernos. Foi muito difícil para nós aprendermos, pois as pessoas mais velhas não podiam nos ajudar. Nós não tínhamos como procurar mais informações”, relembra Takumã. Em 1996, o Instituto Socioambiental (ISA) criou um curso de formação de professores indígenas, dando apoio à iniciativa educacional em Ipatse, com aulas de português e matemática. Nos anos que se seguiram, outras organizações foram chegando à comunidade indígena, inclusive o projeto Vídeo nas Aldeias (VNA), que desde 1986 promove o encontro dos povos nativos com suas imagens, ensinando modos de filmar, documentar e contar histórias. “Desde a primeira oficina na aldeia, em 2002, me senti muito curioso. Quando comecei a filmar, não consegui mais parar. Foi Vincent Carelli quem me ensinou como segurar uma câmera pela primeira vez”.

QUESTÃO DE IDENTIDADE A paixão de Takumã pelas imagens continuou crescendo e ele sentiu que sua missão era ajudar a sua comunidade a manter a própria cultura. Não era uma missão qualquer. O próprio Cacique Kuikuro, chefe da comunidade, se preocupava, pois os jovens estavam perdendo o interesse pela cultura tradicional, pelos cantos e rituais. “Meu papel é arquivar a cultura de nossa comunidade. Sou responsável pela documentação e por ensinar como documentar. Temos dois tipos de trabalho: primeiro documentamos os rituais, passo a passo, e depois fazemos uma sequência simples para editá-los. Nossos arquivos são então usados para ensinar nossos jovens. Para eles eu sou um exemplo, sou o primeiro que fez isso acontecer, então eles querem fazer como eu. Eles me veem fazendo esse trabalho e querem aprender, viajar também. Eles me veem representando a cultura Kuikuro, toda a cultura indígena brasileira”. Takumã explica que os materiais do arquivo também são compartilhados com outros povos indígenas. Por outro lado, não compartilham nem vendem para as pessoas que não são indígenas, simplesmente porque o conteúdo não seria ser compreendido.


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ALICIA BASTOS

Outro tipo de trabalho são os filmes que, além de serem mostrados nas comunidades indígenas, rodam o mundo – contando fatos do cotidiano nas aldeias, apresentando a cultura tradicional e os rituais. “Quando viajamos pelo Rio Xingu para compartilhar nosso trabalho com outros povos indígenas, levamos tudo: gerador, equipamentos, todos os filmes. Quando chegamos às aldeias podemos ouvir os geradores ligados e o povo assistindo meus filmes. Isso é muito importante. É um processo muito profundo para os indígenas. Eles são mal influenciados pelos canais de televisão comerciais e perdem interesse pela sua própria cultura. Ver a nós mesmos na tela nos faz perceber coisas, nos faz aprender com nossas próprias imagens”. Takumã comenta sobre as várias questões que a televisão traz, como a idealização de pessoas não indígenas, seus nomes e a tentação do estilo de vida consumista. Nomes indígenas começaram a se tornar raros e o medo da violência e do abuso começou a crescer. Consequentemente, pela falta de informação e pelas experiências anteriores, os indígenas criticavam o trabalho de Takumã no início. “Foi muito difícil no começo. Achavam que eu ia vender tudo. Às vezes até quebravam minha câmera ou me colocavam para fora da aldeia. Alguns ainda têm a impressão de que eu estou recebendo um monte de dinheiro, porque eu viajo muito, internacionalmente também. E eu preciso explicar que não se trata de ganhar dinheiro, mas sim de preservar e promover nossa cultura para o mundo, representar o povo Kuikuro e a cultura indígena. Muitos não sabem como é nossa vida diária e as coisas que acontecem na aldeia”.

CÂMERA COM ALMA Takumã levou muitos anos para obter confiança. Ele explica que todos os gastos com viagens são pagos, mas que não ganha nada, nem vende seus filmes. Ao ensinar as pessoas nas aldeias, ele espera

que cada vez mais indígenas sejam capazes de experimentar o cinema de forma autêntica, pois entende que o ato cinematográfico não se trata apenas de uma pessoa por trás da câmera, mas de um grupo trabalhando em conjunto, contando sua história para o mundo. “Agora somos bem-vindos, eles [os indígenas] podem compreender melhor e confiar em mim. Eles nos convidam para documentar seus rituais e eu faço, ensinando como fazer. Eles me contam suas histórias e querem estar em meus filmes. Para explicar por que essas coisas acontecem, só posso dizer que deve ser um dom espiritual”. De fato, Takumã alcançou algo inimaginável para a maioria. “Aprendi observando. Nunca tinha deixado a comunidade e, de repente, estava dentro de um avião, que era como um sonho, eu estava voando”. O sonho continuou. Em Londres, durante sua residência artística, o índio cineasta brasileiro percorreu a cidade com uma câmera na mão para mostrar a capital britânica como uma aldeia, com seus diferentes povos e rituais. O resultado poderá ser visto em seminário do People’s Palace Project dia 10 de junho. Quando isso acontecer, porém, Takumã Kuikuro estará no Brasil, pois é lá que tem uma missão inadiável: documentar e dar vida eterna ao seu povo. “Não precisamos de pessoas não indígenas vindo fazer seus filmes e virando donas das nossas imagens. Podemos fazer nossos próprios filmes. Digo isso ao meu povo, para que possamos valorizar nosso trabalho de documentação e filmes indígenas. Mas para isso precisamos de patrocínio e equipamentos. Quando as pessoas querem vir e filmar, elas enviam uma proposta e nós dizemos o que queremos. Normalmente são câmeras, cabos, microfones. Acreditamos que a câmera é alimentada com a alma das pessoas, ou seja, quando nós filmamos alguém, desde que os filmes sejam vistos, aquelas pessoas filmadas viverão para sempre na comunidade”.

SAIBA MAIS Desde o período colonial até as recentes batalhas no Congresso em Brasília, os direitos indígenas estão sob constante ameaça no Brasil. Para entender melhor a questão, acesse www.brasilobserver.co.uk


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BRASIL GLOBAL

Especialistas ouvidos pelo Brasil Observer explicam o sentido dessa quase obsessão e os desafios a serem superados Por Guilherme Reis

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O processo de internacionalização das universidades brasileiras está em alta. Mesmo que recente, é nítido o interesse das instituições de ensino superior do Brasil em alcançar o status de “universidade padrão mundial” (do inglês “world class university”). Ou seja, construir instituições capazes de fazer a diferença no desenvolvimento científico, tecnológico e industrial em escala global. Trata-se, afinal, de uma necessidade que surge naturalmente à medida que os países se desenvolvem. Diante do imperativo de ampliar o alcance do ensino superior para uma parcela maior da população, aumentar a qualidade de produtos e serviços, a competitividade e o padrão de vida geral, a existência de pelo menos algumas instituições com esse perfil pode beneficiar todo o sistema. Nos dois primeiros dias de junho, a conferência Going Global 2015, organizada pelo British Council, vai debater exatamente essa questão. Por isso, o Brasil Observer conversou com representantes de universidades brasileiras que virão a Londres para o evento, além de especialistas britânicos e um estudante do Ciência Sem Fronteiras, para entender o sentido dessa busca pela internacionalização, assim como os desafios que estão postos para esse processo no Brasil.

POR QUE INTERNACIONALIZAR Para o professor de física e ex-diretor de relações internacionais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Leandro Tessler, o maior benefício da internacionalização é a abertura do Brasil para o mundo. “O Brasil foi uma economia auto-referenciada por décadas. Isso teve consequências nefastas para o desenvolvimento de nossa indústria e atingiu indiretamente o ensino superior. Nossas melhores universidades ficaram irrelevantes”. Na avaliação de Tessler, “formar gente conectada com o que acontece no mundo qualifica a formação e permite integrar nossos formados com o que há de mais avançado”. Já Carlos Alexandre Netto, presidente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que a ciência é uma narrativa universal, portando as universidades não devem conhecer fronteiras. “O esforço de internacionalizar é extremamente benéfico, pois dá oportunidade ao Brasil de contribuir com a ciência. A real integração entre os povos – que é maior do que o relacionamento econômico entre os países – depende da academia e da vivência de jovens, no caso, nossos estudantes. Eles são embaixadores da cultura e criam condições para o melhor entendimento e a aceitação mútua”.

Visão semelhante foi compartilhada por Maria Inês Gariglio, professora dos cursos de graduação e responsável pelas relações internacionais do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), para quem as universidades brasileiras precisam aumentar o nível de internacionalização para se tornarem mais competitivas, além de gerarem bons frutos de seus investimentos em pesquisa. “A presença de trabalhadores, professores, pesquisadores e alunos internacionais propicia, em qualquer país, o desenvolvimento de competências interculturais, o que, em última instância, irá contribuir para a superação de preconceitos, para o aumento da tolerância. A sociedade só tem a ganhar com esses aprendizados”. Os três salientaram ainda o valor estratégico do processo. “No passado, foi fomentada a formação de doutores em áreas de pesquisa relacionadas a óleo e gás, aeronáutica e agricultura; hoje o Brasil tem real protagonismo nesses campos. Os grandes desafios científicos e tecnológicos são locais e globais. Se pudermos construir as soluções em parceria, independentemente de língua e de fronteiras, muito melhor. A universidade nada perde”, disse Carlos Alexandre Netto. “Não acredito que haja tal conflito [entre a internacionalização e a defesa dos interesses nacionais], uma vez que o que se busca é uma relação de parceria e,

portanto, de igualdade. Em trabalho colaborativo são as competências de cada um dos partícipes que definirão a relação. Há, sim, um pensamento de uma relação colonizador/colonizado que precisa ser superada”, ponderou Maria Inês Gariglio. Para Leandro Tessler, “o país não vai realizar nenhum interesse estratégico mantendo-se isolado do mundo acadêmico”.

PONTO-CHAVE: DINHEIRO O que faz, então, uma universidade obter sucesso no processo de internacionalização? Phil Baty, editor da Times Higher Education (THE), revista britânica dedicada à classificação de universidades, afirmou ao Brasil Observer que haja talvez um único ponto-chave: dinheiro. “As universidades precisam de recursos para atrair e manter talentos acadêmicos de ponta e oferecer infraestrutura adequada para pesquisa e treinamento. Não há saída para esse simples fato de que o dinheiro fala alto no sistema de ensino superior global”. Phil Baty apontou, porém, outros elementos que, em sua avaliação, são essenciais. “Penso que as universidades precisam de autonomia, não podem ser excessivamente controladas pelo Estado, nem sufocadas pela burocracia. Precisam ser dinâmicas para responder às mudanças globais, oferecendo soluções inovadoras rapidamente. E precisam


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Não há fórmula perfeita para o sucesso da internacionalização, mas uma necessidade é inevitável: dinheiro

REPRODUÇÃO

fomentar um espírito acadêmico de livre investigação”. Sobre as universidades brasileiras, Phil Baty disse que elas ainda são muito introspectivas. “Os salários não são atraentes o suficiente e é muito difícil para os acadêmicos internacionais construir carreiras no Brasil. O idioma inglês ainda não é amplamente falado. Mas pelo menos há um reconhecimento de que mais precisa ser feito”. O desenvolvimento mais notável, segundo Phil Baty, foi a criação do programa Ciência Sem Fronteiras, lançado pelo governo federal em 2011 com o objetivo de enviar mais de 100 mil estudantes de graduação e pós-graduação para cursos de intercâmbio no exterior. “Essa iniciativa não apenas ajuda os talentos brasileiros a ganharem experiência internacional como ajuda as instituições de ensino a formarem parcerias duradouras em uma rede de colaboração global”.

PANORAMA HETEROGÊNEO Os desafios das universidades brasileiras são consideráveis. E o processo está longe de ser uniforme, uma vez que as diferenças entre as instituições são grandes. Isso faz com que, entre outras coisas, não haja no Brasil um modelo nacional para a internacionalização. “A partir da autonomia institucional, cada universidade busca estratégias e parcerias para atender às suas metas.

Há instituições que foram desenvolvidas com a vinda de professores de outros países, sobretudo da Europa e dos Estados Unidos: essas já nasceram internacionalizadas, lideram o processo e têm, certamente, maior visibilidade no mundo. Outras, bem mais novas, estão a dar os primeiros passos e se apoiam principalmente no Ciência Sem Fronteiras para iniciar seu percurso”, disse Carlos Alexandre Netto. Leandro Tessler ponderou que, para muitas instituições, a internacionalização se resume a mandar estudantes para o estrangeiro. “Nesse sentido, o programa Ciência sem Fronteiras é bastante original pelo tamanho e pelas intenções. Na prática, porém, ainda está tendo um impacto abaixo do que eu esperava sobre os programas de graduação em engenharia no Brasil”, comentou. Questionado sobre quais eram essas expectativas, Leandro Tessler respondeu: “Como é possível, no Reino Unido ou nos Estados Unidos, formar um engenheiro mais capacitado que os brasileiros em menos tempo e mantendo-o em sala de aula não mais de 15 a 20 horas por semana? A formação de engenheiros no mundo desenvolvido é voltada para competências, enquanto aqui as pessoas ainda se preocupam com conteúdos. Infelizmente a maioria dos coordenadores resiste a entender isso e acaba não reconhecendo os créditos trazidos pelos estudantes que não sejam exatamente equivalentes aos que são oferecidos aqui. Ora, se é para fazer a mesma coisa, então para que gastar dinheiro mandando os alunos para o estrangeiro?”. O professor da Unicamp afirmou ter esperança de que isso mude, principalmente pela pressão dos estudantes que voltam do Ciência Sem Fronteiras. “Formar engenheiros mais criativos, com consciência social e ambiental, é fundamental para o país gerar riqueza”, disse. Na avaliação de Maria Inês Gariglio, a maioria das universidades está trabalhando para a construção de parcerias internacionais e não apenas ao intercâmbio de alunos e professores, para a construção de projetos conjuntos de pesquisa e para que a relação seja duradoura. “Talvez possamos dizer que todas estão buscando a construção de um campus universitário multicultural e multilíngue. O esforço para a utilização do Inglês como Meio de Instrução (EMI) se tornou peça chave. Além da utilização do inglês, repensar currículos acadêmicos e novos formatos de cursos já são ações que se colocam na pauta da internacionalização das universidades”, comentou a professora.

PARCERIAS INTERNACIONAIS A relação do King’s College London com universidades brasileiras é um exemplo. A instituição, que tem mais de 8.650 alunos estrangeiros procedentes de 140 países (33% do total de seus estudantes), inclusive abriu um escritório no país no ano passado. A vice-reitora para assuntos internacionais, Joanna Newman, explicou

ao Brasil Observer que, antes de uma parceria, são considerados os rankings e as avaliações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), agência de fomento à pesquisa ligada ao Ministério da Educação do Brasil. “Nossas parcerias são com as universidades melhor posicionadas nos rankings, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”. Joanna Newman contou que alguns acordos são amplos, enquanto outros são focados em áreas específicas. “Uma tendência recente tem sido o programa de PhD conjunto. Neste ano começa o programa de PhD em parceria com o Instituto de Relações Internacionais da USP, com a vinda de quatro pesquisadores brasileiros em setembro. Estudantes do King’s College devem cumprir o período de estudo na USP no ano que vem – e as aplicações para isso já estão abertas”. Outras parcerias ainda estão sendo estudadas, segundo a vice-reitora. Uma delas seria um programa similar de PhD conjunto, com a mesma USP, na área de farmacologia. Já o departamento de estudos latino-americanos do King’s College está buscando um acordo com o departamento correspondente na UFMG. “Esses programas não apenas promovem a mobilidade de estudantes, mas representam grande potencial para parcerias de pesquisa”, disse Joanna Newman.

DADOS E INFORMAÇÕES g

Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil não teve nenhuma universidade entre as 200 melhores do mundo no ranking internacional Times Higher Education (THE). Considerado um dos mais respeitáveis rankings de avaliação de produção acadêmica, o ranking mostra em sua mais recente edição (2014-2015) uma leve melhora da Universidade de São Paulo (USP), que subiu da faixa dos 226º a 250º lugares para a faixa de 201º a 225º lugares. A outra universidade brasileira que aparece no ranking é a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que repete a colocação do ranking anterior (301º a 350º lugares). A lista tem ao todo 400 universidades.

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De acordo com o Ranking Universitário Folha 2014, as cinco melhores universidades brasileiras no quesito internacionalização – que avalia as citações internacionais por docente e a proporção de publicações em coautoria internacional – são, pela ordem: Fundação Universidade Federal do ABC (UFABC); Universidade São Francisco (USF); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Universidade Federal do Ceará (UFC).

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O total de bolsas implementadas pelo programa Ciência Sem Fronteiras desde 2011 já chegou à marca de 78.173. A grande maioria delas, 61.542, foi para a modalidade graduação sanduíche. Em segundo lugar está a modalidade doutorado sanduíche, com 8.064 bolsas. Estados Unidos e Reino Unido são os dois destinos mais populares, com 22.064 e 9.115 bolsas implementadas, respectivamente. A principal área de estudo é “Engenharias e demais áreas tecnológicas”, com 34.545 bolsas.

LÍDERES DO FUTURO Bruno Belmonte Martinelli Gomes tem 21 anos e mora Uberaba, em Minas Gerais. Atualmente cursando o sétimo período do curso de Biomedicina na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, ele passou um ano no Reino Unido entre 2013 e 2014, fazendo parte de sua graduação na Durham University, pelo Ciência Sem Fronteiras. Ao Brasil Observer, Bruno revelou que, ao voltar ao país, teve um “choque de realidade”. Tal situação, porém, não é necessariamente negativa. “Imagino, e acho que não sou o único com esse pensamento, que o maior legado do Ciência Sem Fronteiras é o desejo de mudanças”, disse Bruno. “É encarar nossa realidade e querer mudá-la com as próprias mãos, seguindo os exemplos que tivemos no exterior. Há muito que podemos fazer e há muito mais que precisa ser feito. Quem vai tem a oportunidade de experimentar o que funciona e a obrigação de propagar essas mudanças por aqui”. Como disse o presidente da UFRGS, Carlos Alexandre Netto, os grandes desafios que se impõem à sociedade são locais e também globais. Fomentar um ambiente de ensino internacionalizado, portanto, é essencial para que, avaliando o que é feito ao redor do mundo, o Brasil seja capaz enfrentar de forma mais eficiente e estratégica as demandas nacionais, sendo consequentemente um player internacional mais relevante. Os futuros líderes globais certamente estão sendo formados em salas de aula globais.

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CONEXÃO BR-UK CAMILA PICOLO

Apresentação World Voice Brasil 2015

WORLD VOICE ESTREIA EM SÃO PAULO Programa desenvolvido pelo British Council em mais de 12 países capacitou professores da rede pública de ensino para o uso do canto em sala de aula Por British Council

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Desenvolvido pelo British Council em mais de 12 países, o programa de capacitação de professores para o uso do canto em sala de aula, World Voice, foi realizado pela primeira vez em São Paulo de 23 de março a 2 de abril. A edição foi promovida com a Secretaria Municipal de Educação (SME) e com o Programa Guri Santa Marcelina. Com o intuito de assegurar a crianças e jovens a oportunidade de usar o canto em sala de aula, o World Voice é um programa de efeito multiplicador. A professora britânica Sharon Durant promoveu workshops no Centro Educacional Unificado (CEU) Caminho do Mar, com crianças do 2º e do 4º anos do Ensino Fundamental e com professores dos Ensinos Infantil e Fundamental da Rede Municipal. Com o objetivo de mostrar como a metodologia pode ser aplicada em sala de aula, a formação de professores iniciou com a observação das atividades com as crianças para seguir com o ensino de exercícios e canções do programa. Participaram 32 alunos do 2º ano (crianças por volta dos 7 anos de idade) e 31 alunos do 4º ano (9 anos), em quatro dias de workshop (com carga horária total de 10 horas). Na formação de professores, foram 54 participantes, divididos em duas turmas, com carga horária de 18 horas ao longo de seis dias de atividade. Esta ação pode atingir, indiretamente, mais de 1.000 crianças. Como parte dos preceitos do programa, o British Council buscou, em parceria com a SME, desenhar o mais indicado formato para a ação nessa primeira edição; e Sharon Durant, junto aos professores, buscou compreender as necessidades curriculares para melhor direcio-

nar a escolha das canções e jogos musicais. A partir das especificidades dos Ensinos Infantil e Fundamental, diferentes focos foram abordados, ensinando músicas e jogos brasileiros e ingleses, e também canções do Senegal, Argentina, África do Sul e Jordânia. No sábado, 28 de março, o auditório do CEU Caminho do Mar foi palco de uma apresentação de coral dos alunos, que trouxe o resultado e parte do processo do workshop com as crianças. O evento contou com público de mais de 160 pessoas, entre pais e familiares. Em entrevista ao portal da Secretaria Municipal da Educação, Cissa Carlini, coordenadora de Programas Especiais e CEUs, afirmou que que a música deve estar cada vez mais presente nas escolas. “Foi emocionante! A gente percebe que a arte abre uma janela da vida deles que nunca mais vai se fechar. Percebemos a alegria deles de mostrar, para as suas famílias, que estavam cantando; a alegria de ter convivido com essa regente e de fazer parte de um conjunto”. “Os pais saíram emocionados”, destacou Viviane Oliveira Santos, coordenadora de projetos do núcleo de cultura do CEU Caminho do Mar, que acredita que “o projeto despertou o interesse de toda a comunidade – pais, alunos e professores. Para o professor Michel Rodrigues Curcho, foi muito gratificante. “Gosto muito de música e, se eu puder usá-la a favor da aprendizagem do meu aluno, acho que vai mudar minha aula e minha dinâmica. E para o aluno vai ser muito significativo”. Para a professora Ana Cristina da Silva, “a vontade é que não termine! Mas agora é nos aprofundarmos mais”.

A formação de multiplicadores (Master Trainers) foi realizada simultaneamente em parceria com o Programa Guri Santa Marcelina. Ao longo de duas semanas, quatro professores do programa Guri – Luciana Elisa Hoerner, Valéria Zeidan Rodrigues, Lidiana Mincov Elbert e Alexandre de Oliveira Leite – participaram e ajudaram na condução dos workshops do World Voice com as crianças e os professores. Além dos professores do Guri, quatro jovens talentos do projeto (Young Leaders) participaram do treinamento; são eles: João Júnior, Daniele de Almeida, Vanessa Albino e Lucas Borges. Para Valeria Zeidan, coordenadora pedagógica do Programa Guri e Master Trainer do World Voice, “é uma alegria a possibilidade de ampliar o programa para outras cidades e estados”. E ressaltou a importância da volta da música no currículo escolar depois de 30 anos de ausência. “Sabemos da necessidade de ensino de música nas escolas, bem como as limitações dos professores. Por isso, a importância de programas que levem música e ensino de qualidade”. Valéria também destacou a rede que se forma a partir da atuação do British Council em diferentes países. “O World Voice procura aprender a cultura local e, quando viaja para outro país, leva essa cultura adiante. Ou seja, vai criando uma rede de repertório e de pessoas interessadas em música, de sua cultura e de outros povos. Isso é muito especial. Músicas de cada um desses países fazem parte do banco de canções, que reúne gravações, letras, traduções e partituras das canções tradicionais ou representativas de cada lugar.”


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BRASILIANCE

TERCEIRIZAÇÃO AMPLA E IRRESTRITA BATE À PORTA Manifestações devem se intensificar contra projeto de lei aprovado na Câmara que libera as empresas para contratarem mão de obra terceirizada. Em nome da redução do “custo Brasil”, país corre risco de precarizar relações trabalhistas Por Wagner de Alcântara Aragão

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No mês em que se comemoram o Dia Internacional do Trabalho e a abolição da escravatura no Brasil, o país deve assistir a um duro embate em torno de uma proposta que tende a precarizar as relações entre trabalhadores e empresários. Está no Senado, depois de ter o texto final aprovado pela Câmara dos Deputados em 22 de abril, um projeto de lei que libera amplamente a terceirização da mão de obra. A proposta tem acirrado a luta de classes na sociedade e servido também de instrumento de negociação entre os diversos interesses políticos-partidários no Congresso – e entre este e o Executivo. A própria retirada do projeto da gaveta denota oportunismo. O projeto de lei foi apresentado em 2004 pelo então deputado federal Sandro Mabel (PSDBGO). Depois de dez anos passando por todos os trâmites, o projeto estava parado na Mesa Diretora da Câmara desde abril de 2014. Coincidência ou não, a proposta foi desarquivada e colocada em pauta pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), exatamente no momento em que o governo precisa contar com o apoio maciço do Legislativo para aprovar medidas de ajuste fiscal. Cunha, em 2013 (quando ainda não era presidente da Câmara), tinha apresentado requerimento pedindo tramitação de urgência da matéria, mas só agora conseguiu fazer a proposta andar – diante do enfraquecendo da base de apoio ao governo da presidenta Dilma Rousseff no Congresso, dominado por um PMDB “independente”. Ficou implícito, ou quase explícito, um acordo que seguiu por este caminho: em troca da aprovação do ajuste, o governo não criaria maiores empecilhos à apreciação do projeto da terceirização. Se criasse, o ajuste estaria em risco. Por meio do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o governo chegou a acordar com os parlamentares que no texto não se incluísse nenhum item que representasse diminuição de recolhimento de tributos por parte da União. É verdade, por outro lado, que o PT e outros aliados como o PCdoB, o Pros e, por úlitmo, o PDT, orientaram suas bancadas a rejeitarem o projeto na íntegra (mesma posição do Psol e do PSB). Não houve, porém, nenhum tipo de ação mais ofensiva da bancada governista nem do próprio governo para impedir a aprovação da medida. A presidenta Dilma Rousseff não tem assumido um discurso de rechaço ao projeto. Nem durante reunião com representantes das centrais sindicais brasileiras, ocorrida no Palácio do Planato

na véspera do 1º de maio, Dilma deixou claro se vai vetar ou não a matéria, quando chegar em suas mãos. A presidenta criticou pontos do projeto aprovado pela Câmara, entretanto ressalvou que o país carece de uma regulamentação da terceirização – em torno de 12 milhões de brasileiros atuam hoje como terceirizados. “A regulamentação precisa manter, do nosso ponto de vista, a diferenciação entre atividades fim e meio nos mais diversos ramos da atividade econômica. Para nós, é necessária [a diferenciação] para assegurar que o trabalhador tenha a garantia dos direitos conquistados nas negociações salariais. E também para proteger a Previdência Social da perda de recursos”, ponderou a presidenta. O coro pelo veto, todavia, engrossa entre sindicalistas, parlamentares e militantes de esquerda, movimentos sociais progressistas e defensores de causas trabalhistas. Dada a goleada que marcou a aprovação do projeto na Câmara – 324 votos a favor, 137 contra e duas abstenções – e ao perfil conservador do Senado, os trabalhadores calculam que, pelo Legislativo, vai ser muito difícil reverter a situação. Se nas últimas semanas manifestações contra o projeto levaram milhares às ruas das maiores cidades do país, não deverá ser diferente agora que a matéria está entre os senadores.

fim do negócio – o texto final aprovado pela Câmara dos Deputados prevê essa possibilidade – a empresa se vê livre a obrigação de gastar com recolhimento de previdência social e fundo de garantia, pagamento de salário educação e provisões de férias e 13º – isso tanto para funcionários fixos quanto para contratações para suprir férias ou afastamentos. Os encargos trabalhistas são apontados pelos empresários como um dos principais componentes do chamado “custo Brasil”, isto é, um conjunto de despesas que encarecem a produção e a prestação de serviços e que, dessa forma, travam a expansão de empreendimentos e o desenvolvimento econômico. De acordo com levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) – denominado “O impacto do ‘custo Brasil’ na competitividade da indústria brasileira de bens de capital” – neste setor os encargos trabalhistas respondem por até 20% da receita líquida de vendas. Ainda segundo o estudo, praticamente 4% dessas despesas se referem ao que o levantamento classifica de “tributos não recebíveis”, isto é, gastos sem qualquer tipo de retorno à atividade empresarial. O desenvolvimento do setor de bens de capital mecânicos é o balizador do desenvolvimento industrial de um país e, por consequência, da própria economia, assinala a Abimaq.

‘CUSTO BRASIL’

UMA CHINA

Do lado da classe empresarial, os industriais estão entre os defensores mais fervorosos da regulamentação e ampliação da terceirização. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) chegou a veicular na televisão, em horário nobre, em meados de abril, peças publicitárias em que o presidente da entidade, Paulo Skaf, aparece pessoalmente enaltecendo e pedindo apoio ao projeto da terceirização da mão de obra. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), tão logo a proposta passou pela Câmara, também comemorou publicamente o feito. A Fiesp, a Firjan e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre outras entidades empresariais, argumentam que a regulamentação da terceirização vai fomentar a geração de empregos e, além disso, assegurar aos terceirizados as garantias trabalhistas dos demais trabalhadores. As manifestações dessas entidades não têm ressaltado, porém, o ponto que mais agrada o setor: a diminuição das despesas com encargos trabalhistas. Podendo, por lei, contratar um funcionário terceirizado inclusive para a atividade-

Ainda que a necessidade de reduzir o “custo Brasil” seja consenso entre trabalhadores e empresários, entre progressistas e ortodoxos, o corte por meio da flexibilização trabalhista está longe de ser a saída apropriada, na avaliação de um representante do próprio governo Dilma, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. Se a presidenta tem sido comedida em suas palavras, Mangabeira Unger não tem poupado críticas ao projeto de lei da terceirização do trabalho aprovado pela Câmara dos Deputados. Um dia depois da sessão que chancelou o texto base do projeto, publicamente o ministro condenou a medida. “Nós não podemos avançar apostando na precarização do trabalho, no aviltamento do salário e na desqualificação do trabalhador. Não podemos prosperar no Brasil como uma China com menos gente”, declarou à imprensa. Semanas depois, em entrevista ao jornalista Luís Nassif, na TV Brasil (emissora pública), Mangabeira Unger classificou o projeto da terceirização como um “eufemismo neoliberal da flexibilidade”. Para o ministro, ao mesmo tempo


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em que a informalidade no mercado de trabalho caiu de 60% a 40% nos últimos anos, houve um aumento da precarização, representada principalmente pelo processo de terceirização. Mangabeira Unger até defende um marco regulatório para isso, desde que esteja em consonância com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) brasileira, a qual fixa os direitos dos trabalhadores formais do país. “A questão é o seguinte: nós vamos permitir que a maioria dos trabalhadores brasileiros sejam jogados na insegurança econômica radicalmente, ou nós vamos resgatá-los, criando um novo regime de leis que protejam, representem e organizem esses trabalhadores organizados?”, questionou.

‘PEDALADA’ Seja por convicção ideológica semelhante à de Mangabeira Unger, ou pelo embate político-partidário com Eduardo Cunha e com o Executivo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB -AL), tem se posicionado contra o texto aprovado pela Câmara dos Deputados. Mais que isso: contrariando a vontade de Cunha, Renan Calheiros advertiu, assim que o projeto chegou ao Senado, que não tem pressa na apreciação da proposta. “Ter pressa nessa regulamentação significa, em outras palavras, regulamentar a [terceirização da] atividade-fim, e isso é um retrocesso, uma pedalada no direito do trabalhador”, argumentou Calheiros à imprensa, assim que recebeu a matéria. Segundo ele, o projeto terá “tramitação normal” no Senado, e será amplamente debatido. Um primeiro grande debate envolvendo diversas entidades estava marcado para o dia 12 de maio. Em 28 de abril último, Renan Calheiros manteve dois encontros com partes que divergem sobre o projeto da terceirização do trabalho. Primeiro, reuniu-se com o presidente da CNI, Róbson Braga de Andrade.

Um aspecto que tem preocupado o governo federal no projeto de lei que regulamente a terceirização do trabalho no Brasil é o risco de a União perder em receitas com tributos. A presidenta Dilma Rousseff tem dado declarações nesse sentido e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em audiência pública na Câmara dos Deputados, admitiu ser esse um temor eminente. “O importante, do ponto de vista da Fazenda, é que a terceirização só terá chance de sucesso se for tributariamente neutra. O projeto não pode servir de artifício para pagar menos imposto”, afirmou o ministro, segundo a Agência Brasil. Para o ministro, o texto que saiu da Câmara não contempla as necessidades do governo. “Fizemos proposta de simplificação fiscal, que é a retenção na fonte. Antes de pagar a empresa contratada, a contratante retém [os tributos] na fonte. Isso reduz a exposição, a incerteza jurídica e simplifica o processo inteiro”, defendeu o ministro. De acordo com Levy, do jeito que está o

O QUE DIZ O PROJETO

FONTE: AGÊNCIA SENADO

O projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados estabelece, entre outras, as seguintes regras para a terceirização do trabalho: g

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PERMISSÕES As empresas podem contratar trabalhadores terceirizados em qualquer ramo de atividade para execução de qualquer tarefa, seja em atividade-fim ou meio. Atualmente, a terceirização só é permitida em atividades de suporte, como limpeza, segurança e conservação. A terceirização da atividade-fim é o ponto que gera mais polêmica, pois possibilita que uma empresa não tenha empregado nenhum, terceirizando todas as funções de sua atividade. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA A fornecedora de mão de obra terceirizada e a empresa contratante têm responsabilidade solidária: ambas podem responder judicialmente por direitos não honrados. FISCALIZAÇÃO A contratante deve fiscalizar se a contratada está em dia com salário, férias, valetransporte, FGTS e outros direitos. SINDICALIZAÇÃO Quando a terceirização for entre empresas que pertençam à mesma categoria econômica, os empregados da contratada serão representados pelo mesmo sindicato que representa os empregados da contratante. Foi retirada do texto a necessidade de observar os respectivos acordos e convenções coletivas de trabalho. Esse aspecto fragiliza a relação trabalhador-empregador, o que leva à precarização do trabalho e põe em risco direitos trabalhistas. DIREITOS Os trabalhadores terceirizados têm direito às mesmas condições oferecidas aos empregados da contratante: alimentação em

projeto vai provocar perda de receitas, o que não seria nada oportuno neste momento em que o governo se esmera para viabilizar o aperto fiscal. Além de evitar perdas de receitas, o governo segue empenhado em passar a tesoura nas despesas, nem que isso acarrete em diminuir recursos que possam prejudicar a prestação dos serviços públicos ou mesmo frear investimentos. Até 20 de maio, a presidenta Dilma Rousseff deve definir quais os cortes de verbas serão aplicados no Orçamento Geral da União de 2015, sancionado por ela em 20 de abril, depois de uma tensa tramitação no Congresso Nacional. Os cortes são a única saída do governo para cumprir a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto em 2015. Superávit primário é o que governo economiza para pagar juros da dívida pública. Com os cortes no Orçamento e as medidas adotadas até agora, a União deverá deixar de gastar até 80 bilhões de reais.

refeitórios, serviços de transporte, atendimento médico ou ambulatorial, cursos e treinamento, quando necessários. g

SUBCONTRATAÇÃO A empresa que fornece mão de obra pode subcontratar trabalhadores de outra empresa em casos de serviços técnicos altamente especializados e se houver previsão contratual.

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DEFICIENTES As empresas terão que contabilizar todos os empregados diretos e terceirizados para calcular a cota de funcionários com deficiência a serem contratados, de 2% a 5%.

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PREVIDÊNCIA As fornecedoras de mão de obra pagarão alíquota de 11% sobre a receita bruta para a Previdência Social.

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MULTA Se as normas forem violadas, a empresa infratora estará sujeita a multa igual ao valor mínimo estipulado hoje para inscrição na dívida ativa da União (mil reais) por trabalhador prejudicado.

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VEDAÇÃO A contratante não pode usar os trabalhadores terceirizados para tarefas distintas das previstas em contrato.

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DOMÉSTICOS A lei não vale para trabalhadores domésticos. Emenda também vedou a aplicação para guardas portuários.

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TRIBUTOS A empresa que contrata terceirizados deve recolher antecipadamente parte dos tributos devidos pela contratada.

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

GOVERNO TEME PERDA DE ARRECADAÇÃO

Depois, recebeu presidentes de centrais sindicais. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, saiu do encontro demonstrando otimismo quanto à possibilidade de correções no projeto que possam ser feitas no Senado. “[Renan Calheiros] colocou claramente que a desregularização é ruim para o Brasil. No momento em que o Brasil precisa de arrecadação e desenvolvimento econômico, rasgar a legislação trabalhista não trará nenhuma arrecadação nesse sentido”, disse Freitas à imprensa. “O Brasil tem alguns valores importantes que a gente foi construindo ao longo da história. Getúlio Vargas deixou um legado, a carteira assinada e a CLT, que agora corremos risco de perder”, frisou. Além de tema recorrente nas celebrações de 1º de maio, o projeto da terceirização do trabalho ainda promete ser pivô de embates nas próximas semanas. A própria CUT, por exemplo, não descarta incluir entre as estratégias de resistência ao projeto a convocação de uma greve geral. A classe empresarial, com expertise em lobby no Congresso, parece também disposta a investir no convencimento da opinião pública, por meio, inclusive, de anúncios publicitários. É de se esperar que Senado e Câmara, ou mais precisamente Renan Calheiros e Eduardo Cunha, também sejam colocados em choque, caso os senadores não tratem o projeto com a prioridade esperada pelos deputados, ou promovam mudanças substanciais no texto. Dependendo do resultado disso tudo, aí será a vez, então, de a presidenta Dilma Rousseff ser convocada a assumir uma posição definitiva: satisfazer o interesse econômico e tentar recuperar o apoio da classe empresarial ou fazer valer o compromisso de campanha – fundamental para sua vitória, diga-se de passagem – de não mexer nos direitos dos trabalhadores. Eis a questão posta à presidenta.

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O ministro da Fazenda, Joaquim Levy


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REFORMA POLÍTICA, SIM, MAS QUAL? Deve-se notar quão diferentes são os projetos em pauta: o de Eduardo Cunha, assentado no “financiamento privado” e no “voto facultativo”, e o da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, cuja lógica é o financiamento público e o empoderamento dos partidos e do cidadão comum

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Por Francisco Fonseca g

O atual sistema político do Brasil foi estruturado no último governo militar (1979-1985), comandado pelo general João Baptista Figueiredo e articulado pelo general Golbery do Couto e Silva. O objetivo era contemplar demandas democráticas (caso do pluripartidarismo), mas fundamentalmente manter o status quo, o que implicou, por um lado, impedir punições às barbáries impetradas pelos militares e, por outro, vetar grandes reformas estruturais: políticas, sociais e econômicas. Deu-se a redemocratização, e a espinha dorsal do sistema político nacional não foi alterada, pois: a) o pluripartidarismo foi levado às últimas consequências, a ponto de termos hoje 28 partidos legais com participação no jogo político, dos quais grande parte é considerada “partido de balcão”; b) o financiamento dos partidos políticos se consolidou de forma mista (fundo partidário público e financiamento privado legal), mas com uma terceira e decisiva forma de financiamento, ilegal: o chamado caixa dois. As prioridades governamentais passam pela composição dos governos (distribuição de nacos de poder a grupos com interesses muito distintos) e pela lógica da chamada “governabilidade”, por meio de “bases de apoio” amplíssimas, tornando o caixa dois uma verdadeira instituição informal. Independentemente de partidos e governos, o que se vê, desde a redemocratização, é uma sucessão de escândalos, cuja lista é longa e perpassa todos os governos, e cuja raiz é o financiamento de partidos/campanhas tanto por meio de doações privadas legais – cuja lógica é beneficiar-se após as eleições – como por meio do caixa dois; c) a “governabilidade a qualquer custo”, anteriormente referida, aprofundouse de tal forma que qualquer governo de coalizão paga um custo político alto – notadamente os partidos ideológicos, quando vencem eleições ao Executivo – para governar, a ponto de perder sua identidade, construída quando de oposição (caso notório do PT). d) distorções as mais distintas foram

ocorrendo: coligação nas eleições proporcionais, que implica que o eleitor vote num candidato e eleja outro, de outro partido; a lógica de que os partidos derrotados também governam, em razão da referida necessidade de maioria parlamentar a qualquer custo; a controversa desproporcionalidade da representação na Câmara dos Deputados; entre outros; e) os mecanismos institucionais/legais de fiscalização, embora tenham avançado, não foram capazes de desfazer a lógica privatizante da vida pública, a ponto de “engavetadoresgerais da República” serem possíveis, uma vez que, em boa medida, dependem do perfil de quem está no poder das instituições fiscalizatórias; f) o papel despolitizante, simplificador ao extremo dos problemas nacionais e antidemocrático da grande mídia formou gerações e gerações de cidadãos manipulados e incapazes de minimamente refletir sobre os aspectos basilares do processo político. Em razão desse conjunto de problemas, tem havido intensos debates e propostas de reforma política desde a redemocratização. Dessa forma, duas grandes propostas se consolidaram, desde o ano passado, como projetos claramente antagônicos – e que devem ganhar atenção agora que o Congresso avalia uma série de medidas que podem em breve mudar as regras do jogo político no Brasil. Do lado conservador, existe a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n. 352/2013, de autoria do ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e encampada pelo atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Tal proposta institucionaliza o financiamento privado por meio de um sistema de “escolha” da forma de financiamento, isto é, se público, misto ou privado; institui o “voto facultativo”; e impede a reeleição a cargos executivos; entre outras medidas, mais ou menos conservadoras, mas de menor relevância, pois as duas primeiras são suficientes para derrogar toda a luta por reformas e institucionalizar o que há de pior na vida política do país. A chamada “privatização da vida pública” tem no financiamento privado (legal e ilegal) verdadeiro pilar, uma vez que torna estratosférico o preço das

campanhas; impede que os pequenos partidos ideológicos tenham a mínima chance de concorrer com os grandes partidos que “jogam o jogo”; transforma os poderes do Estado e boa parte de suas ações verdadeiros “balcões de negócios”; estimula a existência ao infinito de partidos e atrai políticos sem qualquer compromisso com a democracia e sem o mais tênue sentido de “esfera pública”; elitiza fortemente a política, dificultando estruturalmente reformas populares ao blindar as elites de qualquer possibilidade de “reformas radicais democráticas”; desestimula a participação política do cidadão comum, abrindo caminho para os lobbies e toda forma de tráfico de influência. Tudo isso amparado, coordenado e amplificado pelo aparato midiático, espécie de “intelectual orgânico” do capital e das classes médias gestoras deste. Quanto ao voto facultativo, trata-se de verdadeira derrubada de qualquer vestígio popular de democracia, o que é um paradoxo. Afinal, num país em que historicamente se descrê, e de maneira vigorosa, das instituições estatais e do sistema político, o voto facultativo – cuja imagem é a ideia de que “direitos não se obrigam” – tenderia fortemente a excluir os pobres da vida política. A plutocracia fecharia o círculo: pela origem, via capital privado, e pela dinâmica, por meio do voto das classes médias e dos ricos. De maneira oposta, diversas organizações vêm se articulando em torno da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, que reúne mais de uma centena de entidades, entre as quais a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), centrais sindicais e inúmeras outras, das mais distintas naturezas, mas com um único propósito: reformar o sistema político brasileiro numa perspectiva de fato democrática. Os pilares da proposta, que necessita de 1,5 milhão de assinaturas para ser apresentado ao Congresso, baseiam-se na proibição do financiamento empresarial a partidos e candidatos; o voto em lista em dois turnos para cargos legislativos: no primeiro turno o eleitor vota em uma lista de candidatos apresentada pelo partido e, no segundo turno, em um candidato específico; fim das coligações proporcionais; paridade entre homens e mulheres nas listas partidárias; e fortale-

cimento dos mecanismos de democracia direta com a participação da sociedade em decisões nacionais importantes. O projeto procura empoderar dois atores: primeiro, os partidos políticos, por meio do voto em lista preordenada, em que os partidos se tornam protagonistas, em vez de os candidatos como indivíduos. Segundo, as mulheres são igualmente empoderadas ao se estatuir paridade entre homens e mulheres na lista ofertada aos eleitores. O projeto considera fundamental que as mulheres sejam protagonistas na vida político/institucional, uma vez que não apenas são maioria da população brasileira (51%, de acordo com o último Censo), como sua participação – nas três esferas do Estado – é historicamente diminuta. Apesar da lei dos 30% de vagas reservadas às mulheres candidatas aos parlamentos por partido, a participação feminina continua extremamente aquém de seu número e importância. Quanto aos mecanismos de participação, procura-se equalizar a democracia representativa (institucional) e a democracia direta (ou de base) de forma que se complementem. Não há incompatibilidade entre ambas, visto que conselhos gestores de políticas públicas, conferências locais, regionais e nacional, formas diversas de participação, incluindo-se as digitais, entre outras, já fazem parte da dinâmica social brasileira, embora sem a formalização de uma lei, que seria o caso do decreto presidencial que os institucionalizaria. Deve-se notar quão diferentes, isto é, opostos, são os projetos. Embora em ambos haja outras questões, tal como proibição da reeleição, os pilares de ambos os projetos ancoram-se na forma de financiamento, na obrigatoriedade ou não do voto e na formatação do sistema eleitoral. São dois projetos de Brasil. A vitória de um ou de outro impactará gerações. Não é pouco o que está em jogo.

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Francisco Fonseca é mestre em Ciência Política e doutor em História, professor de Ciência Política na FGV-SP. Este artigo foi publicado originalmente no jornal Le Monde Diplomatique Brasil.


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ELEIĂ‡ĂƒO GERAL E O VOTO BRASILEIRO NO REINO UNIDO

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ARTE DE PERNAMBUCO

SAUDADES DO VERĂƒO

Embaixada do Brasil em Londres apresenta nova exposição

Um tour pela praia de Jericoacoara para esquecer o frio

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PEDALADA OS ESFORÇOS E DESAFIOS DE SĂƒO PAULO E LONDRES PARA TRANSFORMAR A MOBILIDADE URBANA PELO USO DAS BICICLETAS

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INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS VISITAM CENTRO AVANÇADO DE PESQUISA NO REINO UNIDO E COGITAM PARCERIAS

QUEBRA-CABEÇA BRASIL Nas ruas, população reage ao ajuste fiscal e Ă corrupção ELZA FIĂšZA/AGĂŠNCIA BRASIL

FUTEBOL MOLEQUE Uma visĂŁo bem humorada para o jogo entre Brasil e Chile RAFAEL RIBEIRO/CBF

ECONOMIA ESTAGNADA Para voltar a crescer, Brasil precisa recuperar investimentos REPRODUĂ‡ĂƒO

EMICIDA EXCLUSIVO Rapper brasileiro vem a Londres e fala ao Brasil Observer DIVULGAĂ‡ĂƒO

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CONECTANDO

Marabá

AUTOAFIRMAÇÃO COLETIVA Como um coletivo de jovens está mudando a história da comunidade amazônica de Cabelo Seco, no Pará Por Thiana Biondo – de Marabá, Pará g


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Em uma pequena cidade próxima a Serra dos Carajás, região amazônica onde está a maior jazida com ferro de qualidade do mundo, jovens do coletivo Rios de Encontro promovem arte e reflexão para preservar a cultura ribeirinha local. Esta reportagem foi visitá-los pessoalmente em Cabelo Seco, comunidade onde atuam na cidade de Marabá, no Pará, para conhecer melhor seus projetos. O coletivo, fundado pela arte-educadora e gestora cultural Manoela Souza e o pelo escritor e artista plástico Dan Baron, tem 14 microprojetos em andamento, com o objetivo de disseminar a ideia de que o desenvolvimento não precisa destruir rios e matas locais. Entre esses projetos em curso, estão a banda Latinhas de Quintal, vencedora do premio nacional da UNICEF em 2011, e a Companhia de Dança AfroMundi, vencedora do prêmio nacional de Jovem Agente de Cultura (MinC 2012). Juntos, os dois projetos também conquistaram o prêmio anual da Organização Internacional de Ensino Cultural Creative Connections, em 2014, com o álbum musical Amazônia Nossa Terra e o espetáculo de dança Lágrimas Secas. No dia 16 de abril, aliás, o grupo viajou para apresentar o espetáculo Lágrima Secas em Nova Iorque. Com apoio de Dan Baron, as coreografias foram elaboradas pela coordenadora jovem da companhia, Camylla Alves, de 19 anos. “O projeto mostrou isso, que a gente tem a capacidade de sonhar e realizar nossos sonhos. A gente pode dançar, cantar e ser livre. Lágrimas Secas dramatiza os grandes rios do mundo secando e pegando fogo depois da construção das hidrelétricas e assassinatos das nascentes”, conta Camylla. Em seu trabalho, a jovem coordenadora combina músicas e coreografias africanas com linguagens contemporâneas, refletindo a história do seu povo e suas próprias raízes. Assim como outros jovens coordenadores, ela ganhou uma bolsa do coletivo Rios de Encontro para realizar pesquisas artísticas, o que garante o seu sustento. Em uma cidade classificada como uma das dez mais violentas para jovens negros no Brasil, o Rios de Encontro fornece ferramentas de autoafirmação e autoestima para esta população. “Hoje somos uma família, tudo a gente compartilha. A comunidade ainda tem fraquezas, brigas e rixas, muita preocupação em casa e nas ruas, mas a gente tenta passar por cima disso”, diz Camylla. Outro projeto é a Rádio Arraia, que ganhou uma das bolsas do Rising Voices Amazonia de 2014. A rádio funciona como uma grande difusora da produção artístico-cultural da turma. Jingles são feitos para espalhar a notícia sobre as apresentações ou trazer mais consciência sobre práticas ecológicas como o uso da energia solar. A ideia é contrapor o discurso oficial a favor da construção de hidrelétricas e debater alternativas sustentáveis de desenvolvimento. Os encontros do coletivo acontecem em dois locais na comunidade de Cabelo Seco. Próximo à orla, onde os Rios Itacaiúnas e Tocantins se encontram, fica a Casinha de Cultura. Lá acontecem reuniões do grupo facilitadas pelos coordenadores adultos Dan Baron e Manoela Sousa. É onde se fica sabendo de tudo que acontece na vizinhança. “A janela é nosso grande meio de comunicação”, brinca Manoela.

Com 14 microprojetos em andamento, o objetivo do coletivo Rios de Encontro é disseminar a ideia de que o desenvolvimento econômico não precisa destruir rios e matas locais


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MAIS ENVOLVIMENTO Enquanto o trem da Vale do Rio Doce, uma grande empresa brasileira de mineração, cruza 892 quilômetros entre os estados do Pará e do Maranhão carregando mais de 120 milhões de toneladas de minério por ano, toda a movimentação artístico-cultural do Rios de Encontro busca reafirmar a memória amazônica em Marabá e o modo de vida ribeirinho local. O foco é o desenvolvimento pessoal e a capacidade de construir vínculos saudáveis como grupo. “Queremos mais envolvimento e não desenvolvimento”, diz Manoela Souza. Além de lidar com os problemas causados pela construção de hidrelétricas em rios locais, a comunidade corre o risco de ser desfeita porque muitos moradores estão indo morar em um bairro do Minha Casa, Minha Vida, projeto de habitação do Governo Federal. Sem escola, hospital e muito menos um belo rio próximo, o bairro construído pelo governo tem o nome de Morada Nova. Distante 15 quilômetros de Cabelo Seco, para se deslocar entre um local e outro, é preciso viajar até duas horas dentro do ônibus. Assim, irmãos, primos e até mesmo amigos começaram a conviver cada vez menos. Para o mestre da comunidade, Zequinha Sousa, Cabelo Seco corre o risco de virar ponto turístico: “Cabelo Seco é uma área perigosa, mas todo mundo quer. É um lugar privilegiado de beleza. As pessoas não têm consciência do lugar onde moram. Muitos foram e estão arrependidos, porque o rio deu vida à cidade. Eu fui pescador, meu pai foi pescador. Ele sofreu por causa da barragem, não tem mais aquela fartura, mas ainda é um lugar com um pôr do sol especial”.

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Este artigo foi publicado originalmente pelo Global Voices (www.globalvoicesonline.org), e editado pelo Brasil Observer

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A 50 metros dali fica o outro ponto de encontro: um barracão com área coberta, onde acontecem as apresentações artísticas. Elisa Dias, 18, e Caroline Valente, 18, também conversaram com a reportagem. Elisa coordena o Roupas ao Vento, projeto dedicado às questões de gênero, e costuma aconselhar as garotas sobre como evitar violência em casa e nas ruas. Ela conta como Dan e Manoela foram marcantes na vida dela: “Quando engravidei, com 15 anos, recebi muito apoio de Dan e Manoela, o que não recebi em casa. Decidi ficar com o bebê (Pietro). Já estava acostumada a tomar conta dos meus irmãos. Eu cuidava dos meus irmãos enquanto minha mãe ia lavar roupa no rio”. Já Caroline gosta de contar histórias e por isso se tornou a jornalista social do projeto. Ela chegou também a criar o projeto Nem um Pingo para documentar a vida dos moradores locais: “O Rios de Encontro fortaleceu mais o que quero pra mim. Criei o Nem um Pingo e foi bem legal. A gente filmava, documentava e apresentava para a comunidade toda. Escutava várias histórias diferentes e engraçadas”. Camylla, Elisa e Caroline fazem parte do coletivo Rios de Encontro há sete anos, desde que fundaram o grupo musical Latinhas de Quintal, formado por cinco meninas. Todas continuam juntas: Camylla e Caroline são as cantoras principais, equanto Elisa toca percussão.


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B R A S I L S E R V E R BERNARD BENANT

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GUIA

SIMPLES INTENSIDADE Com disco novo, Flavia Coelho canta em Londres neste mês e fala ao Brasil Observer: ‘Quando fazemos as coisas de coração, com vontade, acabamos contaminando as pessoas... O brasileiro contamina’ Por Gabriela Lobianco

A cantora brasileira Flavia Coelho, erradicada na França desde 2006, retorna à Londres com a sua banda para o show de lançamento do seu segundo álbum, ‘Mundo Meu’, no dia 18 de Maio, no Rich Mix. O disco será oficialmente liberado na Inglaterra a partir do dia 11 de maio. Mas o primeiro single, ‘Por cima’, já é um sucesso no iTunes. “É uma música que escrevi pensando nesses amores impossíveis, essa parte feminina mais exagerada”, conta ao Brasil Observer, por telefone, da sua casa em Paris. “Mas numa nota positiva já que essa mulher não destrói o muro, ela pula”, ri em tom meio sapeca e doce. A carioca escreveu quase 90% das músicas desse novo trabalho durante a turnê do seu primeiro disco, o ‘Bossa Muffin’ – que foi muito bem recebido pelo público europeu, inclusive britânico. “Precisava voltar à batida boom boom do baile funk, dos estilos de cantores americanos que escuto, e só percebi isso enquanto estava em turnê, compondo e experimentando”. Esse processo demorou dois anos e meio, tempo de duração do tour do projeto inaugural. ‘Mundo Meu’ se difere completamente do disco anterior porque a artista aumentou os sons elétricos e se concentrou mais em batidas frenéticas. “Precisava de coisas mais simples, porém intensas”, diz.

Flavia Coelho deixou o Brasil para se descobrir e encontrar seu estilo musical, ou seja, a vertente que gostaria de seguir. Basicamente, “me encontrar como mulher”, afirma. Mas bate no peito para dizer que é brasileira. Fala o tempo todo apaixonadamente sobre o país. E homenageia a terra natal misturando os ritmos, um mix de samba, bossa nova, rap, reggae e a inconfundível batida dos morros do Rio de Janeiro. “O meu coração pediu para eu deixar o meu país para poder descobrir a minha herança musical. Mas eu amo o Brasil”. Todavia, Flavia Coelho tem muita gratidão pelo sucesso alcançado no exterior, como era de se esperar, afinal. “Meu primeiro CD rolou super certo em Londres e as pessoas começaram a acompanhar. Fiz tour pela África, pela Nova Zelândia, fui tocando em vários lugares”. Com orgulho, fala das parcerias, graças aos “encontros naturais da vida”. Além do produtor Victor Vagh, responsável pelos dois trabalhos em estúdio de Flavia Coelho, o novo disco tem

participações de renome, como o cantor alemão natural de Serra Leoa Patrice, o rapper Speech, do grupo Arrested Development, e o lendário baterista Tony Allen. Este, inclusive, flerta com muitos artistas contemporâneos brasileiros, como o trio paulista Metá Metá, que recentemente fez show em Londres. “O Tony Allen é um dos maiores artistas do mundo. Escutei tudo o que ele gravou e fiz muita pesquisa. Escrevi a canção com raiz afrobeat e meu produtor mostrou para ele, que foi super receptivo. Num processo natural, gravamos”. Flavia Coelho, para arrematar, mostra convicção de que o brasileiro é um povo desenrolado, que brilha em qualquer lugar. “Quando fazemos as coisas de coração, com vontade e paixão, acabamos contaminando as pessoas... O brasileiro contamina”. Revela ainda que precisa reverenciar os seus conterrâneos e a sua nação cantando apenas na sua língua nativa. “Cresci nessa ebulição do Brasil e isso também se revela na minha linguagem. Tenho que cantar em Português”. Contudo, fica reticente quando indagada sobre uma possível turnê no país tropical: “Gostaria muito! Mas nada em vista. Até rolou comentários no Twitter, Facebook, mas nada agendado. Acho que tem um público bom. Vamos ver”, encerra esperançosa.

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BENA

Quando: 18 de maio Onde: Rich Mix (35-47 Bethnal Green Road) Entrada: £15 Info: www.richmix.org.uk

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BERN

FLAVIA COELHO


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£10 Standard £8 Students

30th MAY 7pm The Forge

3-7 Delancey Street,

Camden NW1 7NL

StoneCrabs Theatre Company and Bots and Barrals Theatre presents

Skin in Flames the award winning political thriller by Guillem Clua

directed by Franko Figueiredo & Silvia Ayguadé

at Park Theatre Finsbury Park

Book now parktheatre.co.uk 020 7870 6876

A school-girl. A civil war. An award winning photograph.

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DICAS CULTURAIS

CINEMA

ARTE

‘FUTURO BEACH’, COM WAGNER MOURA, ESTREIA NO REINO UNIDO

BLAU PROJECTS, MERCEDES VIEGAS E ZIPPER GALERIA EXPÕEM NA ART15

Estreia dia 8 de maio o filme ‘Futuro Beach’ (Praia do Futuro, em português), dirigido por Karin Ainouz e estrelado por Wagner Moura (Donato), Clemens Schick (Konrad) e Jesuita Barbosa (Ayrton). Com cenas gravadas no Brasil e na Alemanha, o longa-metragem foi apresentado em 2014 no Festival de Cinema de Berlim, a Berlinale, e conta a história de uma relação florescente entre dois homens. A espetacular e traiçoeira Praia do Futuro, em Fortaleza, serve de pano de fundo para o enredo. Quando um

A terceira edição da feira global de arte Art15, de 21 a 23 de maio, reúne 150 galerias de 40 países que vão expor em Londres trabalhos de mestres da arte moderna e novos artistas da cena contemporânea internacional. Duas galerias de São Paulo e uma do Rio de Janeiro estarão presentes no evento com obras de seis artistas ao todo. A paulistana Zipper Galeria traz

salva-vidas brasileiro, Donato, salva o motociclista alemão Konrad de se afogar, o par desenvolve imediatamente uma forte atração. A paixão entre os dois se intensifica e Donato decide deixar para trás sua mãe e seu irmão mais novo, Ayrton, para começar uma nova vida ao lado de Konrad em Berlim. Anos depois Ayrton chega à capital alemã em busca de respostas, e os três se veem forçados a confrontar o passado. Para saber onde assistir ao filme acesse www.peccapics.com

obras de James Kudo. Também de São Paulo, a Blau Projects traz Macone Moreria e Eder Oliveira (autor do mural na foto). Já com a carioca Mercedes Viegas Arte Contemporânea vem Robert Kelly, Marcia Thompson e Julio Viallni. Para mais informações sobre a feira acesse www.artfairslondon.com


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MÚSICA O RAPPA

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AUTORAMAS

Quando: 17 de maio Onde: Made in Brasil (12 Inverness Street) Entrada: Gratuita Info: www.madeinbrazil.co.uk

Quando: 11 de julho Onde: Electric Brixton (Town Hall Parade) Entrada: £25 Info: www.electricbrixton.uk.com

CLELIA IRUZUN

RODRIGO AMARANTE

Quando: 20 de maio Onde: St. James Theatre (12 Palace Street) Entrada: A partir de £15 Info: www.stjamestheatre.co.uk

Quando: 22 de julho Onde: Hoxton Square Bar & Kitchen (2-4 Hoxton Square) Entrada: £12 Info: www.hoxtonsquarebar.com

BROTHERS OF BRAZIL

DONA ONETE

Quando: 21 de maio Onde: The Dome (2 Dartmouth Park Hill) Entrada: £13 Info: www.dometufnellpark.co.uk

Quando: 24 a 26 de julho Onde: Womad Festival (Charlton Park, Malmesbury) Entrada: £165 para o fim de semana Info: www.womad.co.uk

CAETANO VELOSO & GILBERTO GIL

MARCELO D2

Quando: 1º de julho Onde: Eventim Apollo (45 Queen Caroline Street) Entrada: £45.75 – £67.75 Info: www.eventim.co.uk

Quando: 22 de agosto Onde: Electric Brixton (Town Hall Parade) Entrada: £25 Info: www.electricbrixton.uk.com

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COLUNISTAS Cena de Clybourne Park, escrita por Bruce Norris

ANDREW H WILLIAMS

FRANKO FIGUEIREDO

DUAS ORELHAS PARA UMA BOCA O ponto mais importante para a construção de um diálogo no palco ou na vida real é ser um bom ouvinte. Apesar de parecer fácil, ouvir é difícil

Como profissional do teatro estou constantemente observando as nuances da voz: tom, ritmo, entonação. Nos ensaios medimos a transmissão das palavras, ou seja, como as características vocais afetam o significado do discurso apresentado; estudamos a dinâmica dos diálogos e as inúmeras possibilidades de construção dos mesmos. Para uma peça se tornar viva, cada ator deve reagir verdadeiramente àquilo que está ouvindo. No ato de ouvir, porém, é onde a maioria de nós falha. Normalmente se diz no teatro que “agir é reagir”; eu acrescentaria que “reagir é ouvir” – e ouvir bem o que o outro fala. O ponto mais importante para a construção de um diálogo no palco ou na vida real é ser um bom ouvinte. Apesar de parecer fácil, ouvir é difícil. Zenão, um filosofo da Grécia Antiga, costumava dizer: “A natureza deu-nos duas orelhas e uma só boca para nos advertir de que se impõe mais ouvir do que falar”. Ouvir é decodificar não apenas o significado das palavras, mas também a intenção com que elas chegam pelo humor e pela bagagem social, política e cultural. O diálogo de uma peça de teatro tenta se aproximar o máximo possível do diálogo da vida real. Não é comunicação perfeita – a comunicação falha é geralmente é o motor da trama. Em 2013, dirigi Clybourne Park, de Bruce Norris. A peça é uma sátira afiada que aborda questões de raça e imobiliárias num bairro fictício de Chicago. A história começa em 1959 quando uma família negra se muda para um bairro branco. O segundo ato nos leva de volta à mesma casa em 2009, quando a gentrificação se desenvolve e os papeis se invertem. O diálogo é excelente. O segundo ato se desenrola em torno de uma reunião entre o casal que está comprando a propriedade em Clybourne Park, seu advogado e outro casal que está se opondo à venda. O que parece começar como um encontro civilizado termina em guerra. Tudo porque os envolvidos não conseguem se comunicar, não conseguem ver o absurdo de suas ações e se mantêm imersos em suas visões preconceituosas. Os personagens pensam que estão tendo um diálogo, mas o objetivo real de cada casal é apenas provar um ponto e ganhar a argumentação. Eles não ouvem; pelo contrário, gritam palavras abusivas ao outro, o que

leva para um briga de fato. A audiência podia ver o quão ridículo a discussão era. No fim, os personagens pareciam animais que se mordiam sem nada a ganhar. Eles deixaram de falar e ouvir com honestidade porque falavam quando deviam estar fazendo perguntas, transmitindo ideias apenas a partir de pressuposições e pensamentos rígidos, sem ouvir o outro. Infelizmente, Clybourne Park reflete o que acontece no Brasil e no mundo: falta de diálogo aberto, generoso. Em vez de nos aproximar, nossas conversas têm nos dividido. A arrogância prevalece. Pessoas arrogantes se sentem bem apenas quando afirmam sua superioridade em relação aos outros. Somos muito rápidos em julgar de nossos tronos de hipocrisia. Não paramos para pensar, queremos provar nosso ponto sem considerar se o outro tem algo válido a dizer. William Isaacs, líder no estudo de diálogos, diz que um grande erro que a maioria de nós comete é que “frequentemente sabemos o que queremos dizer e esperamos nossa vez para falar. Somos fechados para ouvir o inesperado dos outros, nos podando de trocas honestas que nos deixariam inspirados para tomar ações”. Dialogar é mais do que falar. Isaacs diz que dialogar “é absorver diferentes pontos de vista – literalmente a arte de pensar junto”, e que “problemas entre empregados e patrões, cidadãos e políticos eleitos, e entre nações, normalmente nascem da incapacidade de se conduzir um diálogo”. Para conduzir um diálogo de forma eficiente, Isaacs diz que precisamos ouvir não apenas os outros, mas nós mesmos, rompendo nossas resistências; respeitando em vez de tentar mudar pessoas com visões diferentes; mudando de opinião e vendo com outros olhos distintas questões; encontrando nossa própria voz e autoridade, sem a necessidade de exercer qualquer tipo de domínio sobre o outro. Você pode pensar que isso é impossível. Mas penso que devemos ser vigilantes de nosso próprio comportamento, praticando diariamente o exercício do diálogo até que ele se torne um hábito natural. g

Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs


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AQUILES RIQUE REIS

O ENCANTADOR DE OUVIDOS No mais recente disco do compositor e violonista Guinga, viaja-se como que sem hora para chegar

RICARDO SOMERA

HÁ VIDA EM MEIO A CRISE Casa Grande, de Fellipe Barbosa, escancara de forma direta, e bela, a desigualdade social do Brasil

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O compositor e violonista Guinga lançou recentemente seu primeiro disco solo, Roendopinho. Gravado na Alemanha, pela Acoustic Music Records, o álbum revela um músico que a maioria ainda desconhece, posto que não teve a ventura de ouvir suas composições tocadas apenas por ele ao violão. Com este CD, Guinga despe a sua obra. Parceiros inseparáveis, músico e violão agigantam-se pela confiança que um tem no outro. Feito unha e carne, os dois tocam muito. E, de fato, Guinga e seu violão colocam as canções no osso. Nada nelas é excessivo, tudo é fruto do carinho do instrumentista pelo violão. O que se ouve é uma obra grandiosa; o extrato de uma inspiração que vem à luz como um filho gerado pelo amor entre duas pessoas. Espanta o fato de que ele nunca estudou música – Carlos Althier de Sousa Lemos, dentista de profissão, mas para a música apenas Guinga, é autodidata. Exemplo de que aos diferenciados é dado o direito de tornar-se genial. Gênio, sim, sem recear exceder o ponto. Guinga é um encantador de ouvidos. Para ele, um compositor de obras de referência, não basta criar belas frases musicais, há que fazê -las soar como nunca se ouviu antes. Aí está a verdade. Para Guinga, o violonista, não basta inverter belos acordes e dar-lhes ar de modernidade, há que recriá-los com sonoridade compatível com o saber de seu criador; e assim ele toca. Guinga não busca o novo, ele é o novo. E é isso que encontramos em Roendopinho. Em suas quinze faixas, Guinga junta o verbo ao

substantivo, unindo-os feito uma metáfora que traduz as suas músicas para os ouvidos atentos. Dessas quinze músicas, treze inéditas são só dele e apenas duas têm letra (muito embora na gravação Guinga prescinda dos versos para tocá-las, enquanto apenas cantarola as melodias). As belas “Cambono” (Guinga e Thiago Amud) e “Lendas Brasileiras” (Guinga e Aldir Blanc) mostram o porquê das melodias de Guinga atraírem versos sempre especiais – beleza atrai beleza. Logo, provavelmente, as novas melodias desse CD também ganharão letras escritas por grandes compositores, pois Guinga ocupa hoje um lugar privilegiado na música brasileira, lugar que é seu por absoluto merecimento. Requintado concerto para violão é o CD de Guinga. Solando músicas com um som límpido, elas ora resvalam no erudito, ora no popular. Embora ele se veja como um músico “nada especial”, a audição do álbum, com músicas de gêneros tão variados quanto belos, indica que sua humildade parece não lhe autorizar ver o esplendor de sua obra. Mas ele segue, deixando boquiaberta uma legião de músicos, seus contemporâneos, e de fãs que reconhecem a genialidade de suas composições: sinuosas, repleta de subidas e descidas, quase sempre inesperadas, mas com pequenas retas para repouso. Em Roendopinho viaja-se pela genialidade musical de Guinga, como que sem hora para chegar a lugar algum, apenas indo, ouvindo...

A luta de classes existe desde que o mundo é mundo – ou desde que Marx e Engels cunharam o termo. Como não poderia deixar de ser, tal questão vem sendo discutida há tempos por estudiosos, políticos, artistas e demais setores da sociedade. O tema é também frequente no cinema brasileiro, mas raros são os momentos em que a desigualdade social do nosso país é transmitida de forma tão direta e bela como em Casa Grande, de Fellipe Barbosa, em cartaz no Brasil. Para começar, não tem como ler o nome do filme e não se lembrar do clássico estudo de 1933, Casa-Grande & Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre, sobre a importância das relações entre a casa-grande e a senzala na formação política e sociocultural do povo brasileiro. No filme, Jean (Thales Cavalcanti), um adolescente branco e rico da classe média alta carioca, devido às circunstâncias descobre um novo mundo fora de seu carro blindado e de seu condomínio fechado. Por conta de uma crise financeira na família – causada por investimentos em ações das empresas de Eike Batista – sua rotina é transformada e ampliada. Sai o motorista particular e entra o ponto de ônibus; saem baladas caras e garotas desinteressantes e entra o forró na Lapa. Mas, além das transformações na vida de um jovem, o filme mostra como a sociedade brasileira se vê e se comporta em 2015. Nem o premiado O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, foi tão claro ao escancarar o preconceito velado que

vivemos diariamente no Brasil. Cotas raciais, empregados domésticos tratados “como se fossem da família”, o relacionamento de um jovem branco com uma negra e a cultura da aparência são algumas das questões retratadas com sutileza escancarada. Nada que não possa ser visto diariamente em ambientes de trabalho, bares, escolas e universidades brasileiras. Em seu estreante longa-metragem de ficção, Fellipe Barbosa nos presenteia com um dos grandes filmes brasileiros do ano, em que roteiro, direção e atuação dos atores nos impressionam do começo ao fim. Os atores são um espetáculo à parte com suas características únicas e com novos talentos latentes. Sai do cinema sem saber se estava mais apaixonado por Clarissa Pinheiro – cuja personagem Rita adora ter a poupa da bunda beijada – ou Bruna Amaya, que interpreta Luiza e na primeira cena já te faz querer aprender forró e/ou morar em São Conrado pra ver se a encontra na lotação. Em tempos de multiplex lotado de Vingadores e Velozes e Furiosos, vale procurar um lugarzinho numa sala escura e relembrar que a vida, mesmo em crise, é uma grande e ótima descoberta.

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Aquiles Rique Reis é músico e vocalista do MPB4

Ricardo Somera é publicitário e você pode encontrá -lo no Twitter @souricardo e no Instagram @outrosouricardo


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BEM-ESTAR REPRODUÇÃO

CORTAR CARBOIDRATOS PARA EMAGRECER? Apesar da popularidade, dietas “low carb” não são melhores para a manutenção da perda de peso em pacientes obesos do que dietas balanceadas Por Raquel Britzke g

LIVRE-SE DO MAU HÁLITO A maioria dos enxaguantes bucais só disfarça o cheiro desagradável. Fatores bucais e não bucais irão determinar se teremos hálito agradável ou não Por Ítalo Moraes g

Fatores bucais e não bucais irão determinar se teremos hálito agradável ou se causaremos má impressão ao conversar com as pessoas mais de perto. Dentre os fatores bucais, a causa mais comum de mau hálito é a higiene oral deficiente – e a consequente formação de saburra lingual e placa bacteriana dentária. É bastante comum pensar que higiene oral correta significa limpar restos de alimentos. O mais importante, no entanto, é limpar as bactérias de todas as superfícies dentais. Caso não usarmos fio dental todos os dias para desorganizar essas bactérias nas superfícies interdentais, certamente teremos produção de mau cheiro. O mau hálito matinal não é um problema, pois é fisiológico. Acontece devido a leve hipoglicemia (redução do nível de açúcar no sangue) e a redução do fluxo salivar durante o sono, além do aumento das espécies bacterianas mais patogênicas. Esses microrganismos atuam sobre a descamação natural da mucosa bucal e sobre proteínas da própria saliva, gerando componentes de cheiro desagradável. Alimentos como alho e cebola também podem aumentar o problema. Fumar é uma das principais causas do mau hálito, juntamente com certas doenças, como as doenças gástricas. Também são fontes de mau cheiro as próteses mal adaptadas e as restaurações defeituosas, pois aumentam a retenção de placa bacteriana. A escovação e o uso do fio dental são muito importantes para manter o hálito fresco. Mau hálito também pode ser causado por alguns problemas médicos. Boca seca (xerostomia) é uma condição que afeta o fluxo de saliva. Isso faz com que as bactérias acumulem-se na boca levando ao mau hálito. Boca seca pode ser causada por medicamentos, problemas nas glândulas salivares

ou pela respiração continua pela boca. Outras condições médicas incluem infecções na garganta, nariz ou pulmões, sinusite, bronquite, diabetes, problemas no fígado ou nos rins. Se você tem mau hálito, vai precisar de algumas mudanças na maneira de limpar e manter sua boca limpa e fresca. Procure seu dentista para que ele possa realizar uma avaliação, descobrir a causa do seu mau hálito, limpar as áreas que são difíceis de alcançar e lhe indicar o melhor caminho para manter sua boca limpa. A maioria dos enxaguantes bucais só disfarça o mau hálito por um tempo curto. Alguns bochechos disponíveis são especialmente formulados para combinar com os compostos voláteis de enxofre responsáveis pelo mau hálito. Portanto, não tratam o problema. As escovas interdentais podem ser usadas como alternativa ou complemento do fio dental para limpar entre os dentes. Um dos sinais de alerta da doença gengival é que você sempre tem mau hálito ou gosto ruim na boca, normalmente associado a sangramento ao toque. Mais uma vez, seu dentista será capaz de diagnosticar e tratar o problema. Quanto mais cedo os problemas forem encontrados, mais eficaz será o tratamento. Escove os dentes e gengivas efetivamente pelo menos duas vezes por dia com um creme dental com flúor. Não se esqueça de escovar a língua também. Use fio dental uma vez por dia para a limpeza da superfície interdental, em todas as áreas. Lembre-se que limpar entre os dentes significa limpar bactérias, não somente restos de comida. g

Ítalo Moraes é dentista, registrado no Reino Unido desde 2008. Para mais informações, acesse www.smilepod.co.uk

Dietas com pouco ou quase nada de carboidratos são normalmente definidas como uma eficiente forma de reduzir os níveis de gordura corporal. Mas, afinal, quão boas são as evidências da eficácia dessas dietas? Além disso, existem quaisquer possíveis efeitos adversos? Considerável discussão tem tomado lugar sobre a segurança de seguir uma dieta baixa em carboidratos para conseguir emagrecer. O conselho de consumir pouca quantidade de carboidratos e dietas ricas em proteínas vem sendo dado por parte de alguns profissionais de saúde, pela mídia e por livros populares, apesar da falta de dados científicos sobre a segurança do consumo excessivo de proteínas. Muitas reivindicações foram feitas em relação à superioridade de uma dieta ou outra para induzir a perda de peso. Os estudos científicos não demonstram que dietas altamente ricas em proteínas, sem diminuição concomitante da ingestão calórica, ajudam na manutenção da perda de peso ou melhoria da saúde. É importante notar que a perda de peso não é igual à manutenção de peso. Dietas com baixos teores de carboidratos e ricas em proteínas parecem resultar na mais rápida perda de peso entre os primeiros 3-6 meses em indivíduos obesos, mas, posteriormente, o peso é geralmente recuperado. Inúmeras estratégias de marketing têm sido usadas para vender produtos que levariam ao emagrecimento. O termo “low carb” tornou-se popular e começou a ser usado até mesmo nos rótulos dos alimentos. Devido a esses fatores, existe um enorme equívoco por parte do público sobre a eficácia das dietas que restringem carboidratos. Mas por que a perda de peso parece ser mais rápida e eficaz em dietas “low carb”, como Dukan e Atkins? Um dos possíveis motivos é que dietas ricas em proteínas e pobres em carboidratos induzem a cetose metabólica – e esta é inicialmente atraente porque pode levar ao emagrecimento mais rapidamente. Outro aspecto que pode contribuir para essa inicial perda de peso pode ser atribuído, em parte, a efeitos diuréticos da baixa ingestão de carboidratos, e seus efeitos sobre o sódio e a perda de água e depleção de glicogênio. Não podemos esquecer que a redução da carga glicêmica e a diminuição da secreção de insulina podem possivelmente explicar os rápidos resultados deste tipo de dieta. A insulina inibe a oxidação de gordura. Dietas “low carb” minimizam a secreção de insulina. Como resultado, a oxidação das gorduras é aumentada. A proteína extra, no entanto, não é utilizada de forma eficiente pelo corpo e pode sobrecarregar os rins e o fígado. As dietas ricas em proteínas também podem ser associadas com o aumento do risco de doenças cardíacas devido à ingestão de gordura saturada, colesterol e outros fatores dietéticos associados. Apesar de sua popularidade, podemos concluir que as dietas “low carb” não são melhores para a manutenção da perda de peso em pacientes obesos do que dietas balanceadas, pois podem colocar o paciente em risco de desenvolver outros problemas de saúde. g

Raquel Britzke é Bacharel em Nutrição pela Universidade Estadual do Centro-Oeste; Pós-graduada em Nutrição Esportiva pelo Comitê Olímpico Internacional; Diretora e Nutricionista Esportiva na Britzke Nutrition Clinic, em Londres. Para mais informações, acesse: www.raquelbritzke.com


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VIAGEM

ATRÁS DO ARRANHA-CÉU A Dubai que você não vê nas revistas tem mesquitas, casas antigas e mais gente vestida dos pés à cabeça do que você pode imaginar – e muita areia, é claro

DICAS g

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O transporte oficial é o taxi. Não há ônibus e o metro tem apenas duas linhas que não passam pela maioria das atrações. Em caso de conexão, há visto de transito de até 96 horas. Sexta-feira é feriado. A cidade só começa a “acordar” às 13h. Não há bares e bebida alcoólica é coisa rara; se quiser tomar umas, só conseguirá nos bares dos hotéis de 4 ou 5 estrelas. Há praias liberais e outras nem tanto, portanto tome cuidado aonde você vai levar o seu biquíni para passear.

Por Ana Beatriz Freccia Rosa g

Ouvir a palavra Dubai já traz à mente a ideia de construções magníficas, arranha-céus e modernidade por todos os lados. Não deixa de ser verdade. Mas, apesar de ser considerada a Europa do Oriente Médio, Dubai ainda preserva fortemente a religião e a cultura. Ao sair do aeroporto – que mais parece um shopping – e entrar na cidade, tem-se a impressão que tudo é da mesma cor. Tudo é meio bege, e o que se vê são novas e antigas construções intercaladas: casas, prédios e uma cidade em construção. Aonde quer se vá, algo está sendo levantado. É uma agitação interminável, 24 horas por dia. Muitos viajantes dizem que Dubai é uma cidade para se passar um dia, pois é um dos principais pontos de conexão entre longos voos vindos da América e da Europa com direção à Ásia – ou seja, um lugar ideal para relaxar ente um voo e outro. Mas esqueça! Um dia apenas é pouco – a não ser que você esteja acostumado a correr maratonas, ou é aquele viajante que gosta de conhecer somente as principais e mais famosas atrações. Dubai tem mais a oferecer e você consegue preencher facilmente uns quatro dias do seu calendário. A “Cidade-Velha” tem construções bem preservadas (ou bem reformadas) e vale a pena passar por lá e ver o que era a cidade antes da dominação do petróleo. Comece sua visita pela Gold Souk em Deira, um dos mais tradicionais mercados árabes. Se você gosta de joias, é o lugar para fazer compras e barganhar, já que são mais de 300 lojas e muito ouro – se não gosta, vai ficar de olhos cheios mesmo assim. Visite também a loja Najmat Taiba, que possui o anel de ouro mais pesado do mundo, de acordo com o Guinness Book. Ao sair da Gold Souk, caminhe em direção a Deira Grand Souk. Não preciso nem dizer como chegar lá, pois no caminho você consegue sentir o delicioso cheiro de temperos e especiarias. A Deira Grand Souk também é conhecida como a Spice Souk. Aproveite para provar as tâmaras, tomar chá de menta e se deliciar com o café árabe. Depois, uma boa opção é seguir ao Dubai Creek, uma espécie de riacho que conta parte da historia de Dubai. O riacho serviu por muito tempo como área de pescaria e um portão de entrada de produtos na cidade. Hoje é uma das áreas mais visitadas e o legal é que ainda mantém a característica da cidade antiga. Esqueça o transporte moderno e passeie de Abra

– um barquinho de madeira – observando os locais e as belas construções. O passeio é bem curtinho, mas é barato e você vai curtindo a paisagem enquanto atravessa até chegar ao Bur Dubai, um distrito histórico e uma das regiões mais populares. Chegando ao Bur Dubai, caminhe em direção ao Al Shindagha District. Dica: ande sempre ao longo do riacho e você estará no caminho certo! Passeie pela vila árabe que ainda preserva sua tradição e você entenderá a verdadeira história de Dubai, desde sua criação até se transformar em uma potência. Ali na vila ainda está intacta a casa que pertenceu ao Sheikh Saeed Al Maktoum’s, que governou a cidade até 1958, ficando no poder por mais de 40 anos. Prove a comida em uma das muitas barraquinhas de rua ou restaurantes. O Museu de Dubai fica perto, junto das mesquitas, e você certamente verá diversos pares de sapatos nas escadarias, já que há cinco horários em que os islâmicos rezam durante o dia. Bastakiya Quarter hoje é a área mais moderna da cidade antiga – costumava ser o local onde ricos comerciantes moravam. Lá você observa as mais ricas e lindas casas árabes, com maravilhosos jardins. Não deixe de provar o hambúrguer de camelo. Ou, caso esta opção não agrade ao seu paladar, passe a tarde provando os deliciosos chás da Arabian Tea House, que é linda e vale uma visita. Claro que Dubai não é Dubai sem as magníficas construções então se você tiver pouco tempo visite o Burj Khalifa, o prédio considerado o mais alto do mundo construído totalmente pelas mãos do homem. Se você estiver em Dubai numa sexta ou num sábado, não deixe de assistir ao por do sol lá de cima. Ande no trenzinho de superfície que passa pelas principais atrações e termina no Palm Atlantis, um portal magnífico localizado na ilha de Palm Jumeirah. Se você gosta de aventura, faça o Safari pelo Deserto, assista a um espetáculo de dança do ventre e prove a deliciosa culinária oriental. A Global Village, uma feira gigante, fica um pouco mais afastada, mas em um só lugar reúne comidas e souvenires de todos os cantos do mundo. Quem diz que um dia é suficiente para conhecer Dubai é porque não teve mais tempo para curtir e se apaixonar por essa incrível mistura. g

Ana Beatriz Freccia Rosa é jornalista e escreve suas histórias de viagens no blog ‘O mundo que eu vi’ (www.omundoqueeuvi.com)


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ANA BEATRIZ FRECCIA ROSA

Um dia é pouco para conhecer Dubai: a parte velha da cidade tem construções bem preservadas e vale a pena passar por lá para descobrir como era a vida antes do petróleo

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