Brasil Observer #33 - BR

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LONDON EDITION

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ISSN 2055-4826

NOVEMBER/2015

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SUMÁRIO 6 8 10 12 14 16 20 22 23 28 30

EM FOCO Desafio da inovação no Brasil é debatido em evento em Londres

LONDON EDITION

COLUNISTA CONVIDADO Marcio Pochmann escreve sobre as oportunidades diante da crise É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

PERFIL Ana Toledo entrevista a cantora brasileira Nina Miranda BRASIL GLOBAL Celso Amorim e o protagonismo brasileiro no tabuleiro internacional

ANA TOLEDO Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk

CONEXÃO BR-UK Na World Travel Market, Brasil foca nos Jogos Olímpicos Rio 2016

GUILHERME REIS Diretor de Redação guilherme@brasilobserver.co.uk

BRASILIANCE O que querem os pastores evangélicos do Congresso Nacional?

ROBERTA SCHWAMBACH Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk

CONECTANDO Movimento feminista brasileiro comanda a ordem do dia NOW Conheça o projeto que ajuda jovens gestantes no Rio de Janeiro

EDITOR EM INGLÊS Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk

GUIA Shaun Cumming revela sua experiência nas Cataratas do Iguaçu

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe peixe@brasilobserver.co.uk

DICAS CULTURAIS Música, cinema e arte com sabor brasileiro em Londres

COLABORADORES Ana Beatriz Freccia Rosa, Aquiles Rique Reis, Franko Figueiredo, Gabriela Lobianco, Nadia Kerecuk, Ricardo Somera, Wagner de Alcântara Aragão

COLUNISTAS Franko Figueiredo escreve sobre a busca pela igualdade Aquiles Reis escreve sobre a cantora Dolores Duran

ARTE DA CAPA

Thiago Goms

flickr.com/photos/goms321

Thiago Goms nasceu em São Paulo em 1984. Na infância, as ruas do centro lhe deram suas primeiras influências. Na adolescência, saiu das folhas de papel para os muros, influenciado por alguns amigos que já pintavam no Grajaú. Aos poucos foi transportando seus trabalhos para outros suportes, influenciado por quadrinhos e desenhos animados, misturando elementos de seu universo imaginário. Da união de suas influencias hoje traz personagens antropomórficos pela cidade de São Paulo que trazem a mescla das características desses animais com personalidades humanas, nada mais do que o reflexo e a extensão de sua própria pessoa.

IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias DISTRIBUIÇÃO Emblem Group Ltd. PARA ANUNCIAR comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 PARA ASSINAR contato@brasiloberver.co.uk PARA SUGERIR PAUTA E COLABORAR editor@brasilobserver.co.uk ONLINE brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver facebook.com/brasilobserver twitter.com/brasilobserver


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brasilobserver.co.uk | November 2015 E D I T O R I A L

DOIS ANOS E CONTANDO

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O Brasil Observer completa nesta edição dois anos de vida. Inicialmente quinzenal e há um ano circulando mensalmente, chegamos à edição 33 confiantes de nossa relevância e seguros para reafirmar aquele que é nosso objetivo desde a primeira linha escrita neste espaço: produzir e distribuir conteúdo de qualidade sobre o Brasil para um público global. Para brasileiros que pensam globalmente. Para todos que amam o Brasil. Este é o nosso mote. Todo mês, circulamos por Londres com 10.000 cópias destinadas aos brasileiros que aqui vivem e a todos aqueles que, leitores da língua inglesa, se interessam pelo nosso país. Aqui, tratamos e continuaremos a tratar do Brasil que acreditamos através da cultura, da política, da economia e das relações sociais. E sempre com uma perspectiva global, interpretando a posição do Brasil no mundo. Tarefa nada simples, aliás. Porém necessária. A globalização abriu caminhos antes inimagináveis e, aliada à tecnologia, transforma a cada dia a maneira como consumimos informação. Os monopólios, ainda presentes e persistentes, agora dividem espaço – senão economicamente, na atenção dos leitores – com meios alternativos que comunicam percepções e vivências antes invisíveis à grande maioria. O Brasil Observer insere-se nesse contexto de novas experiências midiáticas, dialogando com públicos distintos e construindo conexões. E o fato de existirmos no papel – em uma época em que o jornal impresso, assim como o jornalismo tradicional, encontrase em xeque – acrescenta um componente essencial à nossa história e trajetória: resistência. Resistimos acreditando na sabedoria e na inteligência do leitor, pautando temas relevantes para a sociedade e tratando-os com

SILVINO FERREIRA JUNIOR/CANAL LONDRES

honestidade e espírito critico. Resistimos acreditando que o jornalismo impresso é fundamental para gerar uma experiência imersiva e reflexiva. Resistimos acreditando na qualidade, no texto de fôlego capaz de desenvolver conceitos e gerar valores. Resistimos acreditando no Brasil, em nossa capacidade inovadora diante do lugar-comum, do vira-latismo dominante, mas em extinção. Resistimos e compartilhamos, pois assim transformamos o jornalismo em ator de fundamental pertinência. Ao completar esses dois anos, temos muito a agradecer aos nossos leitores, que fizeram com que nosso foco jamais se perdesse com elogios, críticas e sugestões. Agradecemos também ao nosso time de colaboradores, sempre disposto a desbravar uma boa pauta e sugerir caminhos a serem trilhados, assim como ideias a serem desenvolvidas e conquistas a serem celebradas. Agradecemos ainda nossos clientes pela confiança em nosso profissionalismo e capacidade de entregar resultados, e nossos prestadores de serviço pela qualidade acima da média. Nas próximas paginas desta edição, como não poderia deixar de ser, trazemos mais uma rodada de conteúdos de extrema relevância para o atual momento do Brasil. Alegra-nos saber que, no mês de nosso aniversário, um dos principais assuntos em pauta no país é o feminismo. Sim, feminismo, palavra carregada de significado e que a muitos assusta, pois contesta a ordem vigente, coloca o dedo na ferida que a sociedade acreditava estar sarada. Sinal claro, afinal, de que o país avança, apesar de destemperados políticos que serão relegados às notas de rodapé. Assim seguimos o jogo. Fiéis a quem somos. Confiantes de que nossa relevância e resistência continuarão a levar o Brasil Observer adiante.

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EM FOCO

O DESAFIO DA INOVAÇÃO

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Armando Monteiro, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, durante o seminário ‘Innovate in Brasil’

DIVULGAÇÃO

Atrair empresas multinacionais estrangeiras interessadas em introduzir Centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil. Este foi o ponto fundamental do seminário ‘Innovate in Brasil’, realizado no final de outubro, em Londres, que contou com a participação do Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro. Promovido pelo MDIC em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex -Brasil), o evento contou com a organização do Telegraph Business Events e reuniu importantes executivos de empresas multinacionais, entre eles Richard Moore, do BG Group, cujo Centro Global de Tecnologia está localizado no Rio de Janeiro. “Todos os elementos-chave para a inovação estão no Brasil”, afirmou Moore em uma das mesas de discussão, sobre casos de sucesso no país. Ele disse ainda ser preciso criar mais conexões entre startups, universidades e setores da indústria, para que projetos inovadores possam ser monetizados. “É importante encontrar formas de colaboração, pois há muitas empresas em busca das mesmas soluções”, completou. Na abertura do evento, o presidente a Apex-Brasil, David Barioni Neto, destacou o programa Innovate in Brasil, lançado em março deste ano, que apoia investidores com interesse em instalar centros de P&D no Brasil em quatro setores industriais: energias renováveis, tecnologia da informação

e comunicação, petróleo e gás e saúde. Em seguida, Armando Monteiro discorreu sobre os esforços do país no âmbito da Lei de Inovação e do novo Marco Legal da Biodiversidade, além dos programas Inova Empresa – com 10 bilhões de dólares investidos – e Start-Up Brasil. Para Armando Monteiro, em tempos em que “o Brasil enfrenta uma redefinição macroeconômica, o maior desafio é continuar a fortalecer o setor de inovação”. Neste sentido, o ministro valorizou o fato de o país ter aumen-

tado significativamente o número de universitários nos últimos anos, além de contar hoje com 900 empresas em 42 centros tecnológicos. O ajuste fiscal, segundo Monteiro, pretende dar previsibilidade aos agentes do mercado e, assim, gerar os estímulos necessários para a volta do crescimento. Ajuda, neste momento, o superávit da balança comercial acumulado até outubro, acima de 12 bilhões de dólares, assim como a previsão para 2016, de 16 bilhões de dólares, além de reser-

JOAQUIM LEVY E GEORGE OSBORNE APROFUNDAM COOPERAÇÃO ECONÔMICA ENTRE BRASIL E REINO UNIDO O Ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, e o Ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, se reuniram em Londres no final de outubro e chegaram a uma série de acordos para estreitar as relações econômicas entre os dois países – com foco em projetos de infraestrutura, serviços financeiros e nos Jogos Olímpicos Rio 2016. A declaração conjunta, que pode ser acessada na íntegra no site da Embaixada do Brasil em Londres (www.brazil.org. uk), informa que foram discutidos “desafios comuns para alcançar o crescimento sustentável no longo prazo”. “Concordamos sobre a importância das reformas estruturais juntamente com políticas fiscais críveis, de forma a incentivar a produti-

vidade crescente e melhorias de padrão de vida”, completa o comunicado oficial do encontro, primeira edição do Diálogo Econômico e Financeiro Brasil-Reino Unido, que voltará a acontecer em 2016. A questão fiscal, aliás, foi o tema central da coletiva de imprensa concedida por Joaquim Levy em Londres. O ministro da Fazenda afirmou que o Brasil só voltará a crescer quando a questão fiscal for resolvida, mas disse não saber em que prazo será concretizado o ajuste. “O problema fiscal ainda não foi tratado com a energia que deveria: muita gente no Congresso sabe disso”, acrescentou. O governo aguarda a aprovação do Orçamento de 2016 e das medidas fiscais que permitirão a redução dos gastos públicos

e a elevação da arrecadação no país. Depois de dois dias de reuniões em Londres, Levy declarou que o cenário de incerteza gera receio entre os investidores. Ele disse, porém, que, ao mesmo tempo em que trabalha para garantir uma política fiscal sólida, o governo tenta atrair investimentos em infraestrutura para ajudar “o país a se tornar mais eficiente, gerando empregos e incentivando a economia”. Levy citou a área de portos entre as que continuam a receber massivos investimentos privados. Segundo ele, o leilão das 29 usinas hidrelétricas com concessões vencidas, previsto para 25 de novembro, permitirá a geração de recursos sem a necessidade de aumentar impostos.

vas cambiais de 370 bilhões de dólares. Monteiro disse que os estímulos devem vir principalmente no âmbito da nova fase do programa de logística, do novo programa de energia elétrica e do plano nacional de exportação. Entre outros temas debatidos no evento estiveram a superação dos combustíveis fósseis, a necessidade de criar cidades inteligentes (com infraestrutura para todos) e a urgência de se desenvolver formas inovadoras para o trabalho conjunto entre governos e o setor privado.

AGENDA g

BOOK LAUNCH - THE NEW WAR ON THE POOR: THE PRODUCTION OF INSECURITY IN LATIN AMERICA TOMORROW Quando: 18 de novembro Info: www.ilas.sas.ac.uk

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AN EVENING TO GET CLOSER & REIMAGINING PROSPERITY: FUTURES FROM THE GLOBAL SOUTH Quando: 19 de novembro Info: www.kcl.ac.uk/brazilinstitute

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ECONOMIC OUTLOOK FOR LATIN AMERICA AND BRAZIL IN 2016 Quando: 25 de novembro Info: www.canninghouse.org


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s i g a c e r e j a c o ff e e :

@ c e r e j a c o ff e e

f a c e b o o k . c o m / c e r e j a c o ff e e

BRASILEIRO DESDE O PÉ ATÉ A XICARA.

A maior parte da produção brasileira de café arábica de qualidade é exportada como matéria-prima, ou seja, os grãos são industrializados nos países de destino. Nosso Cereja porém, além de ter nascido e crescido no Brasil, foi também beneficiado, classificado e torrado na Mogiana Paulista onde a tradição de se produzir excelente café remonta 200 anos. Nesta região persistem ainda hoje pequenos produtores que cultivam em terreno montanhoso onde máquinas não chegam, onde grande parte do trabalho tem que ser feito à mão, da mesma forma que era antigamente. A paixão das gerações passadas por esta cultura continua viva em seus descendentes que nunca deixam de lembrar que aqueles que chegaram lá primeiro, chegaram por causa do café. É movido por esta mesma paixão que agora este café percorre um caminho diferente, e é para valorizar suas raízes brasileiras que ele vai chegar na sua casa e provar que quem entende mesmo de café somos nós. Cereja Coffee está disponível em grãos ou moído na loja do site: cerejacoffee.com

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COLUNISTA CONVIDADO

CRISE COMO OPORTUNIDADE Três diretrizes gerais de orientação podem conduzir o Brasil a um novo rumo, mais justo e democrático Por Marcio Pochmann

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A crise constitui excelente oportunidade para alterar ritmo e trajetória pregressa. Nesse sentido que o atendimento das seguintes diretrizes gerais de orientação do conjunto das políticas governamentais constituiria – para além da saída da crise atual – um novo rumo para a construção de um Brasil justo e democrático. A primeira diretriz encontra-se comprometida com a estabilização da economia brasileira a ser alcançada por meio da necessária convergência sistêmica entre as políticas cambial, monetária e fiscal. Para isso, a meta de inflação deveria passar a ser de 24 meses, deixando de estar estritamente vinculada ao período de doze meses (ano calendário). Também a medida de inflação que constitui a meta a ser perseguida pelo Banco Central deveria deixar de ser o índice oficial IPCA (cheio) para a adoção de um núcleo do IPCA capaz de excluir os preços de bens e serviços que se encontram fora do controle das autoridades monetárias, como os administrados. No caso do regime cambial, a correção da relação entre o real e outras moedas deveria ser acompanhada de medidas de regulação prudencial no mercado de derivativos de câmbio e tributação para conter a sua volatilidade. Assim, uma forte ação sobre modalidades de swaps cambiais e tributação. Para a meta fiscal, a adoção de uma banda com limites inferior e superior a partir da definição do seu centro deveria ser perseguida. Ao mesmo tempo, a medida “cheia” do resultado primário passaria a excluir os investimentos em infraestrutura e em atividades rentáveis previstas no PPI (Plano Plurianual de Investimentos), bem como variações de receita originárias derivadas de flutuações no nível de atividade econômica e preços internacionais, como o petróleo. A segunda diretriz refere-se ao planejamento governamental orientador de médio e longo prazo, comprometido com o movimento maior da transição ecológica no interior dos processos produtivo e distributivo atualmente em curso no país. Para isso, a redefinição do padrão de financiamento do conjunto dos investimentos que busque a valorização do ambiente de negócios assentados na economia de baixo carbono. Esta determinação deveria contar com a reorientação tanto do sistema tributário e de incentivos governamentais como a constituição de orçamento público que tratem de assegurar a passagem para atividades de produção e consumo ecologicamente sustentáveis. A política de desenvolvimento produtivo deve definir metas que devem assegurar este compromisso governamental. Da mesma forma, a constituição do orçamento de capital, imune aos cortes orçamentários no governo

federal, deveria seguir o estabelecimento de uma coordenação do conjunto dos investimentos em infraestrutura econômica e social para que sejam realmente implementados. O objetivo na redução do custo de vida da população, especialmente aquela de menor poder aquisitivo e residente nos grandes centros urbanos, bem como na ampliação das atividades de produção e distribuição possibilitariam tornar o sistema econômico mais eficiente e competitivo. Isso porque os investimentos em infraestrutura promovem a eficiência e custos menores de produção e distribuição no transporte fluvial e terrestre, melhorando o bem-estar da população frente à habitação, saneamento, saúde e educação. O Brasil segue sendo, ainda, um país em construção. A terceira diretriz reverte-se na recomposição da capacidade de gasto do Estado que deveria ocorrer por meio da progressividade do sistema tributário, objetivando simultaneamente reduzir o peso relativo dos impostos indiretos e elevando os diretos (propriedade e grandes fortunas). Ademais, proceder-se-ia a necessária revisão do sistema de isenções e subsídios adotados atualmente pelo governo federal. Frente a isso, toda a população em idade ativa e com rendimento poderia passar a declarar para a Receita Federal sua renda como medida de contribuição ao sistema de garantia de renda adotado pelo governo federal. Ao mesmo tempo, o não pagamento de impostos, taxas e contribuições de natureza fiscal passaria a ser identificado como crime, assim como a malversação do dinheiro público. A cada ano, estima-se em 10% do PIB o volume de recursos que são sonegados de impostos, taxas e contribuições no Brasil. Também as despesas públicas deveriam estar submetidas ao novo sistema de planejamento e monitoramento capaz de elevar sua qualidade e eficácia distributiva. Em função disso, uma segunda geração de ações no enfrentamento da desigualdade no Brasil estaria de caminho aberto para reduzir tributos dos pobres e elevar dos ricos, sem aumentar a carga tributária geral. Da mesma forma, a simplificação e transparência da gestão pública implicariam elevar eficiência e reduzir custos com o funcionamento do setor público, sobretudo, aquelas vinculadas às atividades meio. Com a passagem para o governo digital e de gestão matricial implicará a coordenação e monitoramento de todo o gasto público. M arcio Pochmann é Professor do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas

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PERFIL LÍVIA RANGEL

Nina e sua banda

NINA MIRANDA QUANDO EU CANTO SOBRE O BRASIL, ELE VEM A MIM Por Ana Toledo

QUEIJO PRATO COM MOLHO INGLÊS Numa brincadeira, perguntamos a Nina três bandas da sua preferência de cada país. Confira as sugestões: Reino Unido The Beatles The Specials Joan Armatrading Brasil Carmen Miranda Nação Zumbi Novos Baianos

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Com a conexão britânico-brasileira intrínseca à sua própria história, filha de pai brasileiro e mãe inglesa, a cantora Nina Miranda teve seus primeiros anos de vida no Brasil e, aos oito anos de idade, mudou-se para Londres. Entre idas e vindas, hoje Nina mora na capital inglesa, mas mantém o país tropical sempre presente na sua vida através da música. “Começar a cantar foi uma maneira de matar a saudade e ter o Brasil perto. Quando eu canto sobre o Brasil, ele vem a mim”, assegura ela. E foi assim, cantando para trazer o Brasil para perto, que Nina venceu a timidez e iniciou despretensiosamente a sua carreira. “Eu era muito tímida, mas como ninguém entendia o que eu cantava, pois era português, tinha liberdade de inventar a letra na hora e não me preocupar com o que estavam achando. Isso me permitia fazer algo muito lúcido, até que saiu uma música e não tive que mudar muita coisa”, explica. “A gente desenha, pinta, canta porque precisamos exteriorizar algo. E aquilo era pra sair”. Suas contínuas visitas ao país de origem também estreitam ainda mais sua relação com a cultura brasileira, o que leva a cantora a rever sua conhecida afirmação de que “viajando era o lugar que me sentia em casa”. Hoje Nina é enfática quando diz que se identifica mais com o Brasil do que com o Reino Unido. “Sinto-me mais viva lá, com uma felicidade mais abrangente. É com Brasil que me identifico mais”. Ao mesmo tempo, o ambiente londrino exerceu um papel fundamental tanto na sua vida pessoal, como na profissional. Nina foi marcada fortemente com a sua mudança do Brasil para Londres ainda criança. Naquela época, em 1989, o Reino Unido era comandado por um governo conservador. “A sociedade respondia ao governo e era muito segmentada. Como minha família sempre teve essa mistura presente, não era um ambiente que nos favorecia”, revela. E acrescenta que “foi quando a banda The Specials lançou a música Ghost Town que começou a aparecer

uma mistura de raças na música. Foi uma forma de dizer não à violência fascista que, na época, era muito presente nas ruas de Londres. Depois disso outras bandas surgiram e começamos a olhar para o mundo”. Da mesma forma que a conexão Brasil-UK é sempre muito clara em sua trajetória, o experimentalismo também, o que é evidente no seu trabalho de grande sucesso com a banda Smoke City (1997), que fazia trip-hop antes mesmo de outras bandas inglesas adotarem o estilo. Com referência ao trabalho com este grupo que deu tempero brasileiro ao som inglês, Nina foi chamada de “mãe do trip-bossa”. Durante toda sua caminhada, Nina conta que criou uma espécie de “baú de referências”, onde sua experiência facilita o entendimento de como relacionar sua música entre os diferentes públicos, além de enriquecer a criação e recriação do seu trabalho. “Fico feliz em ver que mudei muito na minha vida, e hoje consigo entender que cada lugar é diferente. Então precisamos esquecer as regras e temos que voltar às realidades, as verdades mais nítidas”. Hoje Nina trabalha em seu estúdio em casa, que além de ser um ambiente no qual se sente à vontade para as gravações e novas experiências, facilita a convivência e cuidado com seus dois filhos Johan, 12 anos, e Felix, 6. Além disso, a criatividade ganha com a grande movimentação feita através de muitos músicos brasileiros que estão por Londres e visitam o local. “Sou muito aberta às pessoas que estão no ar entre Brasil e UK. Acho interessante essa junção de mundos”, reflete. “Gosto de costurar entre as pessoas e eu acho que a música faz isso. Música é a costura entre esse espaço”, diz. Seu próximo material a ser lançado já está no forno e a previsão de lançamento é para a primavera de 2016, no mês de março. Prepara-se para ampliar a perspectiva através da capoeira, do surf, do cangaço e das religiões de matriz africana, entre outras pitadas brasileiras.


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BRASIL GLOBAL

M BRASILEIRO PROTAGONISMO Embaixador Celso Amorim fala ao Brasil Observer sobre a política externa e as estratégias de defesa do país Por Wagner de Alcântara Aragão

Mostra-se cada vez mais sólida e definitiva a posição que o Brasil assumiu no cenário mundial nos últimos anos – quando passou a ser considerado não só um gigante em território, população e mercado econômico, mas também como referência em política internacional. Mesmo enfrentando, internamente, um ambiente de acirrada disputa política e sofrendo os efeitos da crise econômica global, o país segue a cativar seu espaço entre os protagonistas de um planeta cada vez mais multipolarizado. A análise é do embaixador Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores (2003-2013) e da Defesa (20112014). O ex-chanceler brasileiro esteve em Londres, de 1º a 15 de novembro, atuando como professor visitante do King’s College, onde participou de palestras, mesas-redondas, workshops públicos e tutoriais com pós-graduandos da instituição. Dias antes de embarcar para a Inglaterra, Celso Amorim conversou, por telefone, do Rio de Janeiro, com o Brasil Observer.

RECONHECIMENTO Naquela mesma semana, por sinal, Celso Amorim estivera em Porto Príncipe, capital do Haiti, para acompanhar as eleições (municipais e presidenciais) de 25 de outubro (primeiro turno). Amorim esteve na condição de chefe da missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA). Na avaliação do diplomata, essa indicação e outros convites, além de homenagens e condecorações que têm recebido, são fruto da relevância conquistada pelo Brasil no tabuleiro internacional. Também em outubro, no dia 14, Celso Amorim esteve em Ramallah, na Cisjordânia, recebendo a Ordem da Estrela de Jerusalém, a mais importante comenda oferecida pela Autoridade Nacional Palestina. Para o embaixador, é um caso que ilustra como, até hoje, o Brasil tem sido valorizado pelo papel que passou a desempenhar a partir de 2003. “Há cinco anos não sou mais ministro das Relações Exteriores, e há um ano não sou mais ministro da Defesa, e ainda existe esse tipo de reconhecimento. Não é um reconhecimento pessoal; é o reconhecimento de uma política externa criada no Governo Lula e, de certa forma, continuada no governo da presidenta Dilma”, comentou Amorim. Defensor da solução de dois estados para os conflitos entre Israel e Palestina, o embaixador não alimenta ilusões. Considera tal possibilidade cada vez mais distante e lamenta o fato de a intolerância na região ser maior hoje do que já foi no passado recente, além de criticar o aumento de assentamentos israelenses mesmo após iniciado o processo de paz.

MULTIPOLARIDADE Amorim aponta que um dos grandes méritos dessa política externa brasileira foi o de ampliar e diversificar as relações com o restante do planeta. De 12 anos

para cá o Brasil deixou de focar essencialmente nas relações com o Hemisfério Norte desenvolvido e buscou estreitar laços com países de outras regiões – com condições sociais e econômicas variadas. “O Brasil deixou de trabalhar [em sua política externa] com uma visão ‘eurocentrada’ ou centrada nos Estados Unidos. Não deixamos de nos relacionar com esses países, mas procuramos relações mais amplas”. Com isso, observa Celso Amorim, o Brasil passou a marcar posição justamente neste período em que o mundo vivencia a constituição de uma multipolaridade global. O ex-chanceler cita o clássico exemplo da aproximação do Brasil com a China. Além de intensificar o comércio bilateral entre os dois países, a intensificação dessa relação foi fundamental para que os dois países, mais a Índia, a Rússia e a África do Sul, formassem o grupo dos BRICS. Num mundo multipolar, reitera Amorim, “onde há uma variedade de centros de poder”, tais centros serão constituídos mais por blocos e grupos do que por países isoladamente. Ou seja, na questão da multipolaridade, hoje não se trata apenas da balança de poder entre estados-nações, mas também de grupos e associações.


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ANTÔNIO ARAÚJO / CÂMARA DOS DEPUTADOS

“É um tratado que pega a Ásia, mas deixa de fora a maior economia de lá, a China. Lamento também o fato de que os Estados Unidos tenham colocado, nesse tratado, foco em acordos regionais, desconsiderando questões [reguladas no âmbito] da OMC [Organização Mundial do Comércio]. É um enfraquecimento da OMC”, criticou o embaixador. Amorim considera que a melhor forma de combater a desigualdade em escala global é terminar a Rodada Doha, negociações da Organização Mundial do Comércio que visam diminuir as barreiras comerciais em todo o mundo, com foco no livre comércio para os países em desenvolvimento.

MISSÕES DE PAZ

Embaixador Celso Amorim

BRICS O ex-ministro de Relações Exteriores do Brasil considera o grupo dos BRICS uma das maiores forças desse novo cenário global multipolarizado que está se desenhando. “Neste momento os BRICS não estão tão em alta como estiveram recentemente, em razão da conjuntura econômica atual. Mas isso vai passar. E não há nenhum problema [de relação] entre eles [os países]. Os BRICS continuam e vão ser ainda mais fortes.” Para Celso Amorim, decisões recentes – como a criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de reservas para atendimento dos países do grupo, em contraponto a instituições como o Fundo Monetário Internacional – são sólidas e sinalizam o potencial de crescimento, também do ponto de vista geopolítico, dos BRICS. A existência de diversos projetos de cooperação técnica entre os integrantes é outro fato que exemplifica, segundo Amorim, a robustez institucional do grupo.

AMÉRICA DO SUL Emerge com força na tal multipolaridade a América do Sul – e novamente

o Brasil se destaca por ter papel decisivo no processo de consolidação da integração regional, afirma Amorim. Além do Mercosul, instâncias como a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) são demonstrações de que o processo de fortalecimento do subcontinente é irreversível, acredita o embaixador. Mesmo o iminente crescimento da direita na região não deve ocasionar retrocessos significativos em tal processo, diz ele. Amorim não vê riscos à integração, por exemplo, caso o candidato do campo conservador da Argentina, Maurício Macri, vença as eleições presidenciais da Argentina – o segundo turno está marcado para 22 de novembro. “Às vezes lideranças [nos países da região, do espectro da direita, mais alinhadas aos Estados Unidos e à Europa] falam em rever [o processo de integração]. Mas a integração sul-americana já está tão entranhada nas economias dos países da região, que não tem como. Não creio que haja retrocessos nessa integração”, comentou o embaixador. Para Celso Amorim, o Brasil precisa da América do Sul para ser mais ativo em estágio global, assim como os outros países sul-americanos precisam do Brasil para serem ouvidos nas instâncias inter-

nacionais. O fato de o Brasil buscar parcerias em outras regiões do mundo, na opinião do embaixador, não atrapalha o processo de integração regional. Sobre a suposta dicotomia entre Mercosul (mais protecionista) e Aliança do Pacífico (mais liberal), Amorim rechaça tal visão. E lembra que todos os países do segundo grupo, exceto o México, têm acordos comerciais com o primeiro bloco. Para ele, ainda que o fator econômico seja fundamental, é preciso também considerar outras questões na hora de se criar novas associações entre países, como estágio de desenvolvimento.

TRANS-PACÍFICO Nem o chamado Tratado TransPacífico – entre países do continente americano (incluindo os Estados Unidos) com países da Ásia e Oceania – representa ameaça à América do Sul, sublinha o embaixador. Tampouco põe em risco as relações internacionais do Brasil (que não é signatário do tratado). Para Amorim, trata-se mais de um tratado dos Estados Unidos contra a China do que de um problema à integração sul-americana.

Outra demonstração do protagonismo brasileiro no cenário internacional é a participação do Brasil em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) ou da Organização dos Estados Americanos (OEA). Das recentes, a mais emblemática é a missão de paz do Haiti – liderada pelo próprio Brasil. O trabalho desenvolvido ali credenciou o país a chefiar a missão da OEA que acompanha o processo eleitoral naquele país. O embaixador cita ainda a presença brasileira na missão de paz no Congo e a atuação na força tarefa marítima no Líbano como dois casos também de significativa contribuição do Brasil a questões humanitárias internacionais. Embora a função da força tarefa seja a de impedir a entrada de armas ilegais e outros contrabandos, a equipe da marinha brasileira tem se destacado também pelo socorro aos migrantes da África e do Oriente Médio que tentam ingressar à Europa pelo Mar Mediterrâneo. “Há pouco tempo nossa fragata resgatou náufragos na região. O Brasil está presente em missões de paz em diversas regiões no mundo”.

DEFESA NACIONAL Se a política externa brasileira se sobressai pela atuação em missões de proteção de territórios estrangeiros, internamente o Brasil não pode abrir mão de estabelecer estratégias de defesa nacional, ressalta Amorim. “A política de defesa nacional brasileira tem se sustentado em dois pilares: o da cooperação e o da dissuasão. A cooperação principalmente em relação aos vizinhos da América do Sul e aos da África Ocidental [que estão ‘de frente’ para o Brasil]. E a dissuasão para proteger nossas riquezas.” Não há, adianta-se o ex-ministro da Defesa, nenhuma iminência de conflito envolvendo o Brasil. No entanto, “a memória da Segunda Guerra” ainda é muito presente e, com a fartura de recursos naturais dos quais dispõe, o país não pode deixar de investir no setor. “Temos o maior fornecimento de água doce do planeta. Fontes de energia, riquezas minerais. As reservas de petróleo do pré-sal. Uma biodiversidade incrível. O Brasil tem feito aquisições [de submarinos, por exemplo] importantes.”


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CONEXÃO BR-UK DIVULGAÇÃO

ECOTURISMO E CULTURA

Henrique Alves apresenta potencial do Brasil na WTM

OLIMPÍADA É FOCO DE PROMOÇÃO TURÍSTICA DO BRASIL EM LONDRES Destinos de Ecoturismo também foram destaques do país em sua 20ª participação na World Travel Market

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A importância de um evento olímpico para promover o país para o mundo foi o tema de uma conversa entre o Ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, e o presidente do Visit Britain, a agência de promoção britânica, Christopher Rodrigues, durante a World Travel Market London, uma das principais feiras de turismo do mundo, realizada em novembro. Christopher afirmou que os investimentos no período que antecede os jogos são tão importantes quanto as ações de marketing que ocorrem durante e depois do evento. Segundo ele, a maior parte dos recursos (60%) foi destinada para a promoção do país após a Olimpíada, uma estratégia que aumentou o número de visitantes estrangeiros no país. “Temos de aproveitar exemplos bemsucedidos e adaptá-los à realidade do Brasil e ainda aproveitar ao máximo a exposição que o maior evento esportivo proporciona ao país”, disse o ministro Henrique Eduardo Alves.

Alves citou o recém-inaugurado Escritório Brasileiro de Turismo na Rússia e adiantou que outros países como a Índia também podem receber iniciativas específicas de divulgação. “Queremos, cada vez mais, estar abertos ao mundo. Por isso estamos trabalhando para isentar o visto de turistas no que estamos chamando de Ano Olímpico do Turismo”, disse. O projeto de lei já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Agora o texto segue para a sanção da presidente Dilma Rousseff. No ano passado, durante a Copa do Mundo, cerca de mil atletas de 32 países estiveram no país. Na Olimpíada de 2016 serão 15 mil atletas de 205 nações. Pela projeção da Fifa, estima-se que 3,5 bilhões de pessoas tenham assistido ao mundial de futebol. O Comitê Olímpico Internacional projeta que 4,8 bilhões de espectadores ao redor do mundo estarão de olho na Olimpíada. “Quero que o turista vá ao Rio, mas também visite o Nordeste, conheça a capital Brasília, o Sul e o Norte”, afirmou Alves.

Ao Brasil Observer, o presidente da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), Vinícius Lummertz, confirmou que “a estratégia para a promoção turística internacional do país até meados de 2016 tem como foco a promoção do destino Brasil como sede olímpica”. Mas, “com o intuito de diversificar a oferta turística”, a estratégia de promoção na WTM 2015 deu ênfase também aos produtos e destinos de Ecoturismo. “Esse segmento é hoje o segundo mais citado por turistas que visitam o Brasil como principal motivação de viagem. Em termos mundiais, o Brasil ocupa atualmente o 1º lugar em potencial de recursos naturais, segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial”, comentou Vinícius Lummertz. Os destinos presentes na WTM apresentaram diversificada oferta de produtos de Eco e Aventura, incluindo parques nacionais situados em praias paradisíacas, como Jericoacoara, no Ceará, e destinos que oferecem possibilidades de atividades ao ar livre, como observação de aves, trilhas e visitas a grutas, como a Chapada da Diamantina, na Bahia. As praias do estado de Santa Catarina, que dispõe de equipamentos capazes de atender às necessidades de exigentes turistas consumidores de luxo, e as Cataratas do Iguaçu, no Paraná, atrativo já bastante conhecido entre o público internacional, eleito como uma das sete maravilhas do mundo moderno, foram outros destinos apresentados. Outro importante segmento da oferta, que recebeu especial interesse na estratégia de promoção durante a WTM, foi a Cultura. “Além de estarem intrinsecamente relacionados à promoção de praticamente todos os demais segmentos de oferta ou nichos de demanda, os atrativos turísticos culturais brasileiros constituem importantes produtos turísticos por si só, agregando valor ao potencial competitivo do Brasil”, disse Lummertz. Este ano estiveram presentes no Stand Brasil 61 cooperados, entre destinos, operadores, hotéis e associações do trade turístico brasileiro. Uma das principais novidades foi a parceria entre Embratur e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que realizou ações promocionais da gastronomia brasileira no Bar Brasil.

Vinícius Lummertz, presidente da Embratur


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RESULTADO EM CONJUNTO:

BOTOX, PREENCHIMENTO E LIFTING FACIAL Por Dr. Paul Tulley

O envelhecimento é um processo natural, mas pode ser acelerado por um conjunto de hábitos não saudáveis. Hoje, diversos tratamentos estéticos não cirúrgicos trazem a promessa de manter o rosto sempre jovem. Esses tratamentos lideraram o ranking da ASAPS (Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e Estética). O Botox e o preenchimento facial (Juvederm e Restylane, por exemplo) são os mais populares e têm grande crescimento na medicina estética. Ambas as técnicas são frequentemente utilizadas em conjunto para o rejuvenescimento de toda a face. Para melhorar contornos faciais e proporcionar uma aparência suave, macia e sem rugas. O famoso Botox funciona com relaxamento de músculos específicos na face para suavizar as rugas: entre as sobrancelhas/linhas de expressão, nas linhas horizontais na testa e os conhecidos “pés de galinha”. Além disso, pode ser utilizado em outras áreas, por exemplo, para reduzir a transpiração. Já os preenchimentos não-permanentes faciais (Juvederm) são compostos sem ácido hialurônico (componente normal da derme da pele). São usados frequentemente para aumentar o volume dos lábios e bochechas, suavizar as linhas entre o nariz e os lábios (rugas naso-labiais) e para melhorar certos contornos faciais, por exemplo, no queixo e maxilar em alguns pacientes. O paciente geralmente inicia o tratamento com Botox no início dos seus 30 anos. Em alguns e poucos casos, antes. No entanto, o mais comum é optar por esse tratamento entre os 30 e o início dos 40 anos de idade. Preenchimentos faciais são populares entre os pacientes no período dos 20 anos, que desejam aumentar o volume dos lábios e melhorar a sua forma. Já a partir dos 30, a procura por esses tipos de tratamentos é ampliada pela busca em aprimorar o volume e contorno da bochecha, que são os primeiros sinais de envelhecimento que aparecem. Isso é utilizado - com menor frequência - para alterar o queixo e a linha maxilar.

Esse tipo de tratamento não cirúrgico de rejuvenescimento funciona muito bem para pacientes com mais de 30 e nos primeiros anos dos 40. No entanto, quando o paciente está nos últimos anos de idade dos 40, o tratamento pode deixar de ter o resultado completo esperado. Mas isso é um fator individual e com as exigências específicas de cada paciente. Alguma forma de procedimento cirúrgico, ou o Facelift, podem ser necessárias para atingir o resultado esperado, a correção completa nesta fase. Em pacientes mais jovens, geralmente ação como o Facelift é o suficiente para levantar e reposicionar os tecidos do rosto. Com apenas uma incisão na frente da orelha - na margem da face, e outra na linha de cabelo. Já para pacientes mais velhos, que tendem à flacidez no pescoço, é necessário tratamento em toda face e o Necklift, estendendo a incisão na parte de trás da orelha e na linha do cabelo também na parte de trás. Além desses, outros tratamentos não cirúrgicos podem ser realizados para melhorar a superfície e o tom da pele. Estas opções combinadas com os tratamentos citados acima trazem resultados de excelência para os pacientes.

PARA NÃO ESQUECER! n

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Tratamentos de preenchimento facial com cargas permanentes nunca devem ser utilizados na face. A remoção é difícil e, em alguns casos, é necessário uma extensa cirurgia reconstrutiva para a correção. Preenchimentos temporários, como o Juvederm ou Restylane, podem ser removidos se o paciente está descontente. Duram entre 10 a 14 meses, dependendo do tipo utilizado e em que área da face foi aplicado. No caso de aplicação do Botox é importante confirmar se esta opção é a melhor para o paciente que está sendo atendido. Além disso, injetar a dose certa e no local correto é extremamente importante para assegurar o tratamento seguro e evitar complicações futuras. O paciente deve sempre garantir que o médico responsável pelo procedimento tem as qualificações e experiência com o uso desses tratamentos. Isso significa que, geralmente, o profissional será um cirurgião plástico ou dermatologista, médico com especialização estética e experiência na utilização das técnicas. Ou seja, com capacitação comprovada.

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A Clínica Dr. Paul Tulley oferece todos os tratamentos citados neste artigo. Além disso, trabalham com a combinação de botox e preenchimento facial com o face lifting para excelência no resultado. Para mais informações, marque sua consulta.


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BRASILIANCE

OS PASTORES DO CONGRESSO Como as igrejas evangélicas escolhem seus políticos? Qual o segredo da força da bancada para barrar os avanços sociais e garantir privilégios como a isenção fiscal e a concessão de rádios e TV? Por Andrea Dip, da Agência Pública www.apublica.org

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Homens de terno e mulheres de saia com a Bíblia na mão vão enchendo o auditório. Alguém regula o som do violão e dos microfones. A música que celebra “júbilo ao Senhor” estoura nos alto-falantes, e a audiência canta junto. Em um púlpito no palco, os pastores abrem o culto com uma oração fervorosamente acompanhada pelos fiéis. Uma descrição comum de um culto evangélico não fossem os pastores, deputados, falando de um o púlpito improvisado no Plenário Nereu Ramos da Câmara dos Deputados de um país laico chamado Brasil. E se o (até então) presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), anunciado do púlpito ao entrar no recinto pelos pastores João Campos (PSDB/GO) e Sóstenes Cavalcante (PSD/RJ), não tivesse deixado de lado a agenda oficial para participar da celebração e tirar selfies com pessoas que se amontoavam ao seu redor. Certamente seria bem menos estranho se logo atrás de mim, no fundo do auditório, assessores de parlamentares não estivessem fazendo piadas de cunho homofóbico e rindo alto durante boa parte do evento, que se tornou show com a chegada da aclamada cantora gospel Aline Barros, vencedora do Grammy Latino 2014 e um dos cachês mais altos do mundo gospel brasileiro. Ela tinha viajado do Rio a Brasília com o marido, o ex-jogador de futebol e hoje pastor e empresário gospel Gilmar Santos, especialmente para cantar e orar naquela manhã de quarta-feira no Congresso. Ao final do culto/evento, todos receberiam um CD promocional de Aline. Aline Barros entoou alguns de seus sucessos com o auxílio de um playback, antes da pregação do marido. O tema é a luta do profeta Elias contra Jezebel, a princesa fenícia que se casou com o rei de Israel e, uma vez rainha, perseguiu e matou profetas israelitas. A imagem da mulher poderosa de alma cruel é usada por dezenas de sites religiosos, que comparam Jezebel à presidente Dilma Rousseff, ameaçando-a de acabar como a rainha, comida por cães. “Em Tiago capítulo 5, versículo 17, está escrito que Elias era um homem como nós. Ele orou e durante três anos e meio não choveu. Depois ele orou de novo e Deus manda vir a chuva”, diz o pastor Gilmar, dirigindo-se aos parlamentares. “Muitas vezes a gente tem orado ‘Deus

sacode esse país, traz um avivamento, faz algo novo’. Deus está fazendo. Mas a forma que Deus está fazendo nem sempre é do jeito que a gente quer, da nossa maneira. Muitas vezes a gente queria que Deus fizesse chover dinheiro do céu, que fizesse anjo carregar a gente no colo pra levar a gente pra todos os lados e queria pedir pra Deus pra sentar numa rede, pra ele trazer um suco de laranja e operar, trabalhar. ‘Manda fogo, destrói aquele endemoniado, aquele idólatra’. Mas Deus não faz dessa forma. Por que Deus escondeu Elias? Por que Deus tem escondido muitos de vocês e ainda não estão nos jornais como sonharam ou não tiveram reconhecimento como sempre sonharam? […] Deus está te escondendo, querido. No momento certo tudo vai acontecer. Você vai ser exaltado. Deus sabe como honrar. […] Pode ser o momento mais difícil do seu mandato, mas continua confiando. Muitas pessoas podem estar vivendo uma seca nesse país. Nosso país pode estar vivendo o momento mais seco da história. Vidas secas. Mas o céu nunca vai estar em crise. Nunca tem crise, nunca tem crise”.

SEM CRISE O número de evangélicos no Parlamento cresceu, acompanhando o aumento de fiéis. Segundo os últimos dados do IBGE, que são de 2010, o número de evangélicos aumentou 61% na década passada (2000-2010). Por sua vez, a Frente Parlamentar Evangélica (FPE), encabeçada pelo deputado e pastor João Campos, agrega mais de 90 parlamentares, segundo dados atualizados da própria Frente – os números podem variar por causa dos suplentes – o que representa um crescimento de 30% na última legislatura. A mistura de política e religião é a marca da atuação dos pastores deputados. Campos, por exemplo, é presidente da Frente Parlamentar Evangélica, autor do projeto de lei apelidado de “cura gay” e defensor destacado da redução da maioridade penal, como a maioria da chamada “bancada da bala” – em 2014 ele recebeu R$ 400 mil de uma empresa de segurança para sua campanha. Cavalcante, ex-diretor de eventos do pastor Silas Malafaia, seu padrinho na fé e na política, é presidente na Comissão Especial que trata do Estatuto da Família.

Encorajada por Eduardo Cunha, que assumiu a presidência da Câmara dizendo que “Aborto e regulação da mídia só serão votados passando por cima do meu cadáver”, a bancada evangélica tem conseguido levar adiante projetos extremamente conservadores, como o Estatuto da Família (PL 6.583/2013), que reconhece a família apenas como a entidade “formada a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou de união estável, e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus filhos”, que deve seguir para o Senado nos próximos dias. A PEC 171/1993, que usa passagens bíblicas para justificar a redução da maioridade penal, também foi aprovada na Câmara e aguarda análise do Senado, sem previsão de votação. O próprio Eduardo Cunha é autor do PL 5.069/2013, que cria uma série de empecilhos para o direito constitucional das mulheres vítimas de violência sexual realizarem aborto na rede pública de saúde. Esse está na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara. Também foi nesta legislatura que a bancada conseguiu barrar o trecho que trata do debate sobre identidade de gênero nas escolas no Plano Nacional de Educação. Ainda segundo os dados fornecidos pela FPE, a maioria dos parlamentares pertence a igrejas pentecostais: a Assembleia de Deus é a que mais congrega esses fiéis, seguida pela Igreja Universal do Reino de Deus, que tem como figura de destaque o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). Também tem representantes no Congresso as igrejas Sara Nossa Terra e a Igreja Quadrangular. Como acontece com os partidos na política, os membros também trocam de denominação. Eduardo Cunha recentemente trocou a Sara Nossa Terra pela Assembleia de Deus, onde já estavam os colegas João Campos e Marco Feliciano. Entre os membros das protestantes históricas estão Jair Bolsonaro (batista) e Clarissa Garotinho (presbiteriana). O sociólogo e escritor Paul Freston, professor catedrático em religião e política da Wilfrid Lauries University, do Canadá, explica que as igrejas pentecostais se diferenciam das protestantes históricas principalmente pela ênfase da crença nos dons do Espírito Santo, como “falar em línguas” e agir em curas e exorcismos. “Por ser uma forma mais entusiasmada de religiosida-


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AGÊNCIA CÂMARA

de, depende menos de um discurso racional, elaborado. Você pode não saber ler ou escrever, pode ser alguém que não ousaria fazer um discurso racional em público, mas sob influência do Espírito você fala. Por isso pode-se dizer que a igreja pentecostal também tem esse poder de inverter as hierarquias sociais”, explica o professor. E destaca: “Por ser mais próxima da cultura do espetáculo e menos litúrgica, também são as igrejas pentecostais que se dão melhor com as mídias”.

NOS GABINETES “A Frente Parlamentar Evangélica [FPE] tem exercido um papel muito importante em contribuir com o processo legislativo porque ela priorizou algumas bandeiras que são relevantes para a sociedade brasileira como, por exemplo, a defesa da família tradicional”, diz João Campos, que recebeu a Pública em seu gabinete de número 315 no anexo IV da Câmara, após muitos dias de negociação com seu assessor. “Outra bandeira nossa é a defesa da vida desde a concepção, os direitos do nascituro, a proibição do aborto, do infanticídio, os direitos da mulher também, mas principalmente os direitos

do ente humano que está sendo gerado”, continua o deputado. O segredo do sucesso? “A gente atua a partir desses temas, e isso faz com que a Frente seja ouvida no Parlamento. A Frente nem é a que congrega o maior número de parlamentares, mas é uma das mais ouvidas. Porque não é a quantidade, é a atuação dela”, diz com orgulho. Pergunto sobre sua trajetória política e religiosa, em que momento as duas se misturam. Ele me conta que aos 16 anos já era líder de jovens em sua igreja (Assembleia de Deus) e há quase 20 foi ordenado pastor. Também fez carreira na Polícia Civil de Goiânia. Começou como escrivão de polícia, se tornou delegado, participou de greves – “sempre fui muito ativo”, diz. Passou a atuar na classe, foi presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, até que “naturalmente” se candidatou a deputado federal. “Eu sempre exerci liderança na igreja e na segurança pública. E essas duas vertentes apoiaram minha candidatura e me elegeram”, resume Campos, 53 anos, atualmente no quarto mandato como deputado federal. Quando pergunto se a igreja tem sido um ambiente fértil para a formação de líderes políticos, ele desconversa: “A igreja tem ocupado um espaço

e se colocado mais na política tendo ela própria como referência”. Sua colega de bancada evangélica, Clarissa Garotinho (PR), é uma jovem deputada federal que tem política e religião no pedigree. A filha dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho é da Igreja Presbiteriana, como todos de sua família. E, como fez a mãe, todas as vezes que seu pai, Anthony Garotinho, mudou de partido, ela o acompanhou “mesmo a contragosto”, confessa. E não foram poucas vezes: o radialista de sucesso começou a carreira política no PT, depois foi para o PDT, para o PSB, PMDB e PR. Clarissa fala do jogo da política com a naturalidade de quem viveu isso em casa desde pequena, mas faz questão de dizer que nunca foi pedir voto em igreja. “Visitei algumas igrejas quando me convidaram, mas não foi o foco da minha campanha.” Descreve o início de sua carreira política como a de líder estudantil que se tornou diretora da UNE e foi eleita vereadora – a contragosto do pai, sublinha. “Nessa época, eu tinha me formado em jornalismo e fiz estágio com a Xuxa no programa dela a convite da Marlene Matos.

Eduardo Cunha reunido com a bancada evangélica


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mido aqui. Dizem que ele é vingativo, que tem um temperamento difícil. E ele ainda tem muito apoio aqui apesar dos escândalos”.

O COMEÇO DE TUDO

A Marlene me convidou para ir para um programa na rádio Globo, eu já era gerente comercial da empresa dos meus pais, e ele não queria que eu entrasse na política. Dizia que a vida dos políticos ficava muito exposta, que dava muita dor de cabeça. Comecei a campanha sozinha, eu e a juventude do partido. Pensava: ‘Meu pai foi governador, minha mãe foi governadora, eu não posso perder uma eleição de vereadora porque, se eu perder, eu vou estar comprometendo o nome deles”, conta. De vereadora Clarissa passou a deputada estadual e em 2014 foi eleita deputada federal com a maior votação obtida entre as mulheres. Sobre sua atuação na bancada evangélica, ela diz que só participa das atividades quando acha necessário. “Quando houve algumas manifestações na parada gay que satirizaram a imagem de Cristo. Nesse ponto, a bancada reuniu inclusive católicos. Quando tem alguma causa que a gente entende que precisa se unir, eu participo das reuniões.” Pergunto sua opinião sobre o aborto, e sua expressão se fecha: “Tem temas que para nós não são negociáveis. Eu sou contra o aborto”. Sem que eu pergunte, emenda: “Mas você quer saber do Cunha? Eu não apoiei o Eduardo Cunha para presidente da Câmara só porque ele era evangélico. Não basta ser evangélico e eu presbiteriana para eu votar se acho que a postura dele como político não é boa pra representar a Câmara e não é boa para o Brasil. Fui uma das poucas deputadas evangélicas que não votou nele. Fizeram reuniões com os membros da bancada pra apoiar, mas eu não participei. Não gosto do estilo dele de fazer política. Ele usa chantagem pra conseguir vantagens, é o chantageador geral da República. O Eduardo é considerado um deputado muito te-

A igreja pentecostal começou a se envolver na política brasileira na década de 1960 através da Brasil para Cristo, que elegeu um deputado federal em 1961 e um estadual em 1966. Depois disso, porém, a igreja só voltaria a eleger candidatos na década de 1980, como explica Paul Freston: “A maior participação vem em 1986, no fim do regime militar, com a Assembleia Constituinte. A Assembleia de Deus é o motor disso inicialmente, e se organiza desde a cúpula para ter um candidato oficial em cada estado, um deputado. Eles se organizam e tentam apresentar esse candidato nas igrejas, falar pras pessoas votarem nele. É o que dá origem à bancada evangélica, é a primeira vez que se fala nisso. E a grande novidade é que a maioria é pentecostal”. Os pentecostais deslancharam na política com a Igreja Universal do Reino de Deus, que criou um plano político mais estruturado dentro da instituição, segundo a autora da tese “Religião e política: ideologia e ação da ‘Bancada Evangélica’ na Câmara Federal”, Bruna Suruagy. “No início da década de 1990, a Igreja Universal começou a atuar com um plano político estruturado”, explica. Em sua pesquisa, Bruna chegou ao seguinte desenho do plano político da Universal: “A cúpula da igreja, formada por um conselho de bispos da confiança de Edir Macedo, indica candidatos em um procedimento absolutamente verticalizado, sem a participação da comunidade. Os critérios para a escolha desses candidatos geralmente têm base em certo recenseamento que se faz do número de eleitores em cada igreja ou em cada distrito. E cada templo, cada região, tem apenas dois candidatos que seriam o candidato federal e o estadual. Ela desenvolve uma racionalidade eleitoral a partir de uma distribuição geográfica dos candidatos e a partir de uma distribuição partidária dos candidatos. Isso mudou um pouco agora porque existe um partido que é da Universal, o PRB, que fica cada vez mais forte no Congresso”, explica, destacando também a importância da mídia religiosa como interface entre a igreja e a política. A Pública fez contato com a assessoria de imprensa da Igreja Universal e obteve como resposta que a instituição não se pronunciaria a respeito “porque não se envolve com política”. Ao insistir para obter a entrevista, a assessoria pediu que as perguntas ao bispo Edir Macedo fossem feitas por e-mail e não respondeu mais. Mesmo o site do PRB, que tem grande parte dos filiados ligados à Universal, incluindo o presidente do partido, Marcos Pereira, não deixa clara essa conexão entre o partido e a igreja. Mas, entrevistado pelo deputado federal Celso Russomanno ao vivo durante a festa de dez anos do PRB, no dia 25 de agosto, diante da plateia do auditório Nereu Ramos, Pereira revelou que sua carreira e o PRB caminharam de braços dados com Edir Macedo. Ele contou que é bispo da igreja desde 1999, foi vice-pre-

sidente da Rede Record de Televisão em 2003, ano em que também se tornou sócio da LM Consultoria Empresarial – holding que controla todos os negócios da Igreja Universal do Reino de Deus – e então se tornou presidente do PRB em 2011.

MODELO BRASILEIRO Ainda segundo a pesquisadora Bruna Suruagy, a Universal se tornou um modelo para outras igrejas brasileiras justamente porque a cada novo mandato havia um aumento significativo dos parlamentares. Ela explica que isso não significa que o funcionamento institucional da Assembleia de Deus, por exemplo, seja igual ao da Universal. “A Assembleia é uma igreja com muitas dissidências e muitas divisões internas, por isso não é possível estabelecer hierarquicamente os candidatos oficiais. As igrejas têm fortes lideranças regionais e uma fragilidade do ponto de vista nacional. A sede não tem tanta força e, por isso, eles criam prévias eleitorais. As pessoas se apresentam voluntariamente ou são levadas pela própria igreja, e ainda há a ideia de que alguns são indicados por Deus porque mobilizam grandes multidões, ou contagiam, como dizia Freud, o que também termina sendo um critério. Então tem uma lista, depois uma pré-seleção que passa por um conselho de pastores – isso em cada ministério, porque a Assembleia é uma igreja que tem várias subdivisões internas. É interessante que os que pretendem se candidatar assinam um documento se comprometendo a apoiar o candidato oficial caso ele não seja escolhido, para evitar candidaturas independentes e para manter a fidelidade que se tem na Universal.” O sistema de escolha de candidatos é confirmado pelo pastor Caio Fábio, enquanto conversamos no belo jardim de sua casa, em Brasília. “A maioria dos políticos que temos hoje foi produzida em berço pentecostal. Portanto, eles nascem do único poder que habita esse ambiente que é o do carisma pessoal. E esse carisma não tem absolutamente nada a ver com inteligência, instrução ou cultura. Por carisma entende-se a capacidade de comunicação popular intensa, tanto mais poderosa quanto menos escrupulosa seja. São em geral pastores, bispos e apóstolos. A Universal é um caso à parte, assim como as igrejas neopentecostais, que são igrejas pós-macedianas, porque o projeto político lá é totalitário, vem do Macedo a determinação de quem é e quem não é”, critica. “As igrejas reformadas [também conhecidas como protestantes históricas] são democrático-representativas. A cada cinco anos no máximo, tem uma eleição de pastores. As episcopais [pentecostais] são mais por sucessão, indicação do bispo. E, se os demais acolherem, eles são afirmados. Nas pentecostais, os pastores vão colocando seus filhos na linha sucessória na igreja e na política. Aconteceu assim com Malafaia, por exemplo. O pai dele era pastor e o filho também é. Os protestantes históricos são mais silenciosos, mas não quer dizer que não sejam homofóbicos, por exemplo. O Bolsonaro frequenta uma igreja batista e é… O Bolsonaro.”


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paração política”, destaca a enxurrada de pastores eletrônicos na televisão brasileira nas décadas de 1980 e 1990. “O RR Soares é o mais antigo, está no ar desde o fim dos anos 70, e o Silas Malafaia entra em 1982. Ele é quem fala mais explicitamente sobre política na televisão, apesar da maior articulação política ser da Universal”, lembra. A pesquisadora conta que estudou os programas de Malafaia de 2014 para entender a relação de seus discursos com as eleições. “Ele assume que existe uma briga política e deixa claro que quer influenciar e por isso não se candidata. Ele fala diretamente ao público, mas também fala muito aos líderes religiosos, tanto que Malafaia dá cursos de formação de pastores em locais como a Escola de Líderes da Associação Vitória em Cristo (Eslavec) e está construindo um império, hierarquizando igrejas dentro da Assembleia de Deus, que não tem essa cultura. O Malafaia se coloca no lugar do profeta, que é aquela autoridade que unge o rei e denuncia o sacerdote, e isso é muito forte. Ele incentiva os líderes a influenciar seus fiéis para que Deus possa agir na política.” A hipótese de Larissa é que os pastores midiáticos migram para a política justamente para garantir as concessões de radiodifusão. “Porque as outorgas são ratificadas ou podem ser abolidas pelo Congresso. Então é uma retroalimentação: eles estão na televisão, influenciam a eleição de certos candidatos que vão garantir sua permanência na televisão. A informação hoje é poder. A imagem é uma moeda valiosa. E os evangélicos estão na política como nunca. Basta dizer que o tema da última Marcha para Jesus foi ‘faxina ética’”.

E O QUE QUEREM?

E não é só em âmbito federal que a bancada evangélica tem se fortalecido. O número de projetos de leis temáticos também tem crescido entre os vereadores e deputados estaduais evangélicos, que recentemente também barraram a discussão de gênero em planos municipais de educação em várias cidades, incluindo a capital paulista. E não é só isso. A pastora e deputada estadual Liziane Bayer, do PSB do Rio Grande do Sul, protocolou em abril o PL 124/2015, que prevê o ensino do criacionismo nas escolas públicas e privadas do estado. Liziane, cujo slogan de campanha foi “compromisso com a fé, a família e a vida”, conta que começou a se interessar por política e a conversar sobre o assunto no grupo de mulheres de sua igreja. Ela diz que sabe que o projeto é polêmico, mas defende o ensino do criacionismo para dar uma opção aos alunos. “Eu acho o comunismo ruim, mas ele é ensinado nas escolas. O criacionismo pode ser visto da mesma forma, mas, até pra que tu digas que não é correto, tem que saber”, opina. Em Cuiabá, o vereador Marcrean dos Santos (PRTB) criou um projeto que virou lei instituindo um feriado evangélico na cidade (Lei n° 5.940/15); em Itapema (SC), o vereador Mouzatt Barreto (DEM) também criou um PL para obrigar a leitura da Bíblia nas aulas de história das escolas públicas e particulares; em São Paulo, o vereador Carlos Apolinário, que em 2011

Mais do que os temas morais como aborto, violência, drogas e sexualidade, são os interesses institucionais que unem a bancada evangélica segundo os pesquisadores. “A conquista de dividendos para as igrejas como a manutenção de isenção fiscal, a manutenção das leis de radiodifusão, a obtenção de espaços para a construção de templos e a transformação de eventos evangélicos em culturais para obtenção de verbas públicas estão nesse páreo”, explica Bruna Suruagy. Paul Freston dá um exemplo: “Na época da Constituinte, teve a questão do mandato do Sarney, do quinto ano. Para conseguir esse quinto ano, ele comprou muita gente no Congresso. A moeda de troca para muitos pentecostais era uma rádio, coisas ligadas à mídia”. Um estudo realizado pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser) em 2009 mostrou que de 20 redes de televisão que transmitiam conteúdo religioso, 11 eram evangélicas e 9 católicas. Apenas a Igreja Universal controla mais de 20 emissoras de televisão, 40 de rádio, além de gravadoras, editoras e a segunda maior rede de televisão do país – a Rede Record. Larissa Preuss, autora da tese de doutorado “As telerreligiões no telespaço público: o programa Vitória em Cristo e a estratégia de mesclar evangelização e pre-

MUNICIPAL

MÍDIA NINJA

Freston, por sua vez, não vê influência do modelo americano, como os chamados cinturões bíblicos, na política brasileira. Para ele, o crescimento da bancada evangélica tem mais a ver com nosso modelo político. “Quando a imprensa e os acadêmicos começaram a notar a presença dos pentecostais na política, houve algumas interpretações sobre ser cópia dos Estados Unidos, que já tinha a direita cristã, e a ideia de que isso estava surgindo no Brasil, incentivado por esse modelo. Mas eu sempre achei que correspondia muito mais às peculiaridades do sistema eleitoral brasileiro. Porque você tem o crescimento pentecostal em muitos países do mundo, na América Latina toda, em muitos lugares na África, em alguns lugares da Ásia. Mas só no Brasil você tem esses fenômenos de bancadas nos Congressos. Essa aproximação com a direita é mais recente e tem a ver com essa nova direita, que não tem medo de se chamar de direita”, diz o sociólogo. Outra característica de nosso sistema eleitoral, a de representação proporcional com listas abertas, favorece os candidatos carismáticos, os “puxadores de voto”, que passam a ser cobiçados pelos partidos. “Eles dizem ‘vamos por o pastor candidato que ele traz mais 2 ou 3 mil votos para a gente’. Mas esse cara traz 60 mil votos e se elege sozinho! Esse sistema favorece a eleição desses pentecostais. E muitos países que tem crescimento pentecostal não têm isso. No Chile, por exemplo, onde o pentecostalismo também cresceu muito, você quase não teve políticos evangélicos porque é outro sistema eleitoral. Aqui os líderes pentecostais souberam maximizar suas possibilidades dentro desse sistema.”

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conseguiu que a Câmara aprovasse o “Dia do Orgulho Heterossexual”, vetado pelo então prefeito Gilberto Kassab, apresentou um projeto de lei para criar banheiros públicos em restaurantes, shoppings, cinemas e em casas noturnas para gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. Chegou a declarar: “não é possível minha mãe entrar em um banheiro e encontrar um homem vestido de mulher”. Em Manaus, a vereadora Pastora Luciana (PP), que prefere ser chamada de pastora – “vereadora é só uma promessa, pastora é pra eternidade” –, é autora de três projetos temáticos: o PL 125/15, que visa autorizar por lei manifestações religiosas como palestras e pregações nos terminais de ônibus da capital com o uso de caixas de som; o 075/15, que propõe a instituição de uma capelania na Guarda Civil Metropolitana, e o PL da Cristofobia, que prevê multas para quem tiver “atitudes discriminatórias em face da religião cristã, palavras e práticas agressivas contra a figura de Jesus Cristo, ameaças, estereótipos pejorativos, induzir ou incitar a discriminação contra a Bíblia Sagrada”. Mas o projeto de lei mais bizarro é do vereador de Santa Bárbara do Oeste Carlos Fontes (PSD). O PL 29/2015 proíbe a implantação de microchips em seres humanos, comparando-os à marca da besta prevista no livro de Apocalipse. “Se a presença de um evangélico na política melhorasse a política, humanizasse a política, as igrejas seriam édens, oásis, paraísos de bondade humana, altruísmo, inclusão, tolerância, misericórdia, de amor de verdade, equidade, solidariedade. Mas, enquanto o diabo continuar a existir pra eles da forma como existe, eles podem continuar roubando porque o diabo pagará a conta das acusações. Em nome de Deus, a canalhice é santificada”, conclui Caio Fábio.

Em São Paulo (página 18) e no Rio de Janeiro, mulheres foram às ruas contra Eduardo Cunha e o Projeto de Lei 5069/2013, que dificulta o atendimento às vítimas de estupro


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CONECTANDO

O FEMINISMO BRASILEIRO SE ESPALHA E RESISTE Festivais como o Vaca Amarela crescem ano após ano e rompem com a noção de um Goiás sertanejo e interiorano Por Bia Cardoso, das Blogueiras Feministas blogueirasfeministas.com

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Em 2015, as Blogueiras Feministas completaram cinco anos de existência. No início do ano, ao retomarmos as atividades do blog, escolhemos “resistência” como nossa palavra-chave. Foi um ano difícil, mas também um ano em que vimos cada vez mais pessoas falando sobre feminismo, especialmente mulheres jovens, adolescentes e meninas. O feminismo tem se tornado pop, tem sido mastigado pelo capitalismo, cuspido por pessoas equivocadas, tem sido atacado e também abraçado. Fico feliz que esteja sendo assunto, pois mais pessoas podem ouvir sobre o feminismo, pensar, se sentirem instigadas a buscar mais informações. Sendo um movimento social e político, acredito que o feminismo é construção coletiva, bricolagem, algo que não pode ficar parado, precisa girar constantemente. Por isso, saúdo esses últimos dias em que o feminismo brasileiro esteve tão em evidência com a Campanha Primeiro Assédio, o Enem e as Marchas contra o deputado federal Eduardo Cunha. Resistimos!

PRIMEIRO ASSÉDIO A primeira pergunta que me fiz quando soube dos comentários sexuais a uma participante do programa Masterchef Junior foi: como chegamos num ponto em que homens sexualizam e expressam publicamente sua atração por uma

menina de 12 anos, num programa em que o objetivo é avaliar dotes culinários, sem receio algum? Não acho que a cultura do estupro explique tudo. Há mais. Há nossas relações nas redes sociais, há os limites entre público e privado na internet. Há as regras sociais impostas a homens e mulheres desde a infância. É um conjunto grande de elementos e de ações que levam homens a muitas vezes terem o assédio e a violência como a única forma de resposta. Em vários eventos feministas vi homens se sentirem totalmente à vontade para subirem no palco, pegarem o microfone e defenderem o direito de bater em mulheres. Não há nenhum medo neles ao fazer isso, mesmo estando em frente um grande grupo de mulheres, porque a sociedade permite que ocupem esse espaço. Como resposta aos comentários abusivos a menina de 12 anos, o Think Olga propôs que as mulheres relatassem seus casos de assédio na infância ou adolescência, usando a hashtag #PrimeiroAssedio. A campanha tomou proporções gigantescas e produziu mais de 100 mil tweets. Grande parte dos homens viu suas timelines de redes sociais virarem grandes murais de relatos e demonstraram não saber que o problema era tão grave e tão próximo, o que só mostra o quanto falamos pouco publicamente sobre o assunto, o quanto somos ensinadas a termos vergonha por sermos violentadas.

É claro que esse tipo de ação em redes sociais tem limitações. Como lembrou Djamila Ribeiro: para as meninas quilombolas a hashtag não chega. Também houve quem não pudesse relatar nada em redes sociais, pois seus abusadores fazem parte de seus círculos de familiares e amigos. O assédio e a violência são perpassados por questões de raça, etnia, corpo, idade, classe. Não há ação política perfeita e fatalmente estaremos esquecendo ou dando menos atenção a problemas graves enfrentados por mulheres periféricas. Porém, acredito que para o tão combalido feminismo, isso representa uma inspiração. Uma reação espontânea e coletiva de mulheres que não querem mais permanecer caladas, uma abertura para que diferentes mulheres relatem suas diferentes vivências marcadas pela violência do assédio sexual. Mesmo classificada como ação de marketing, as mulheres se apoderam da hashtag e constroem em cima dela. Também é preciso lembrar que nem todas as mulheres tem uma história de horror para contar. Há mulheres que gostam de gracejos e assobios de estranhos, sentem-se desejadas com o olhar do outro. Porém, é importante repensar tais práticas para nos questionarmos: como tratamos as mulheres na sociedade? E pensar num mundo mais inclusivo e seguro para todas, não apenas para o meu desejo. Acredito que repensar as maneiras como me sinto desejada pelo olhar do outro contribui para uma coletividade maior.


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MÍDIA NINJA

Mulheres contra Cunha em São Paulo

ENEM E ADOLESCENTES FEMINISTAS Faz tempo que vemos a movimentação das adolescentes feministas pelas redes sociais. Perfis em redes sociais, páginas no Facebook, grupos de discussão, blogs, tumblrs. Elas estão por todos os lugares. Discutindo geralmente assuntos do cotidiano, questionando o machismo nas famílias e nas escolas. Também é comum ver críticas a elas dizendo que são pouco politizadas, que se preocupam muito com pormenores como as propagandas de esmalte. Porém, quando você era adolescente preocupava-se com o quê? A construção do feminismo também se dá no questionamento e compartilhamento das vivências, no estabelecimento de laços de amizade com outras mulheres e não apenas na luta por direitos dentro das instituições. Quem não sai para lutar contra leis retrógradas pode estar em outras frentes do feminismo. Num momento em que o gênero está sendo retirado dos planos de educação, em que os Top 10 Vadias demonstram o poder da violência cotidiana nas vidas dessas jovens, são elas quem estão resistindo. No primeiro dia do Enem, uma questão baseada em citação da filósofa e feminista francesa Simone de Beauvoir. No segundo dia, o tema da redação:

“a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Ainda teve poesia sobre resistência negra e a feminista queer mexicana Gloria Evangelina Anzaldúa. A avaliação de 2015 logo ganhou o apelido de Enem Feminista. Para mim, o Enem está totalmente por dentro do que está rolando entre a juventude. Tenho 34 anos, sou de uma geração que ainda foi ensinada que o assédio às mulheres é algo corriqueiro, que faz parte das nossas vidas. Não fui ensinada a reagir, apenas a ignorar, a correr, a pedir ajuda. O que vejo nas jovens de hoje é que elas querem reagir, não querem ficar caladas e sabem que não encontrarão respostas para seus anseios nas delegacias de polícia. Então, talvez nesse momento, a conversa não seja especificamente sobre o que eu ou você achamos melhor para o feminismo. Talvez as ações colocadas em práticas por determinados grupos não sejam as que considero mais estratégicas, mas com certeza tem um objetivo para quem as promove. Fora que não acredito na máxima “isso queima o filme do movimento feminista”, porque o movimento feminista já tem seu filme queimado diariamente pelo status quo, por anos e anos de backlash. Um movimento que questiona relações sociais, que quer promover mudanças nunca será visto com bons olhos, não nos cederão espaços de bom grado, mesmo que hoje o palavrão “femi-

nismo” esteja presente até nas bocas das apresentadoras de programas matutinos. Devemos sempre buscar a inclusão de mais e mais mulheres, lutar contra a invisibilização e o silenciamento. Não há manual, nem cartilha, nem bíblia do feminismo. O meu desejo é deixar a mulherada livre para hackeá-lo, desconstruí -lo, remixá-lo. O que vai sair disso, não sei, mas sigo otimista acreditando que será algo positivo. Por isso, assim como Aline Valek: as adolescentes são minhas novas heroínas.

MULHERES CONTRA CUNHA No fim de outubro, foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, o PL 5069/2013, de autoria do deputado Eduardo Cunha, que dificulta o atendimento a vítimas de violência sexual e prevê penas mais duras para quem induzir ou auxiliar uma gestante a abortar. O próximo passo é ir à votação no plenário. Esse projeto representa um grande retrocesso nos direitos das mulheres. Atualmente, não é preciso fazer boletim de ocorrência em casos de violência sexual e o atendimento na saúde é obrigatório. Essa medida não aumentou o número de abortos legais no Brasil, mas cada vez mais temos menos centros de referência especializados nesse tipo de atendimento e menos informações.

Primeiro houve uma mobilização nas redes sociais: “Pílula Fica, Cunha sai”, para depois organizarem marchas com milhares de mulheres nas ruas de algumas das principais capitais do país gritando: Mulheres Contra Cunha! As imagens são poderosas e mostram o quanto estamos dispostas a lutar para que nossos direitos não sejam retirados. Quando as mulheres se unem somos ameaçadoras, tanto que violência policial se fez presente nos protestos de Belo Horizonte e na 1° Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre. Ainda estamos longe de ter representatividade efetiva no topo das instituições políticas e na mídia, mas ações surgem todos os dias. Por exemplo, o movimento #AgoraÉQueSãoElas, com mulheres ocupando espaços de colunistas homens. Uma ação pequena, mas que pode representar um momento para refletirmos sobre a baixa presença de mulheres como referência em opinião. Sim, estou otimista, talvez ingênua. Acredito que num momento tão tenebroso, com redução da maioridade penal sendo aprovada, estatuto do desarmamento sendo modificado, demarcações de terras indígenas ameaçadas, escolas públicas sendo fechadas ou privatizadas e retrocessos nos direitos das mulheres pululando todos os dias, há o mínimo que comemorar para seguir no feminismo. Resistir é preciso!


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DESBRAVANDO

AFETOS E OPORTUNIDADES Conheça a história de Raquel Spinelli, criadora de um projeto para jovens gestantes que propõe uma nova perspectiva para a gravidez juvenil no Rio de Janeiro

A

Por Juliana Sá, da Agência de Redes para Juventude

DIVULGAÇÃO

Afeto pelo território transformado em ação. É assim que a jovem Raquel Spinelli, de 30 anos, tem reinventado a ideia de liderança comunitária e as formas sociais de agir no Rio de Janeiro. Atuando na comunidade da Providência, região central da cidade, Raquel desenvolve o Providenciando a Favor da Vida, projeto que atende jovens e adolescentes gestantes. Raquel cresceu no Morro do Pinto, comunidade vizinha ao Morro da Providência. Durante a infância e a adolescência, frequentou escolas particulares e igrejas na zona sul por orientação dos pais, que desejavam mantê-la distante da realidade local, à época com pouca presença de políticas de direito à cidade. Mesmo obedecendo, a jovem tinha uma forte atração pelo bairro e curiosidade de desbravá-lo. Esse desejo ganhou força aos 18 anos, quando ela decidiu frequentar o morro, rodar todos os becos. O mergulho na comunidade rendeu novos convívios, entre eles encontros com meninas de 11 a 13 anos através de sua nova igreja. A proximidade conquistada fortaleceu os laços afetivos com as garotas, o que a tornou em uma confidente de vida para assuntos como a descoberta da sexualidade, relacionamentos conflitantes, explorações sexuais e gravidez precoce. Em uma das histórias compartilhadas, ela recebeu o desafio de acompanhar e apoiar uma dessas adolescentes em sua primeira gestação. Foi essa experiência que fez surgir a ideia do Providenciado a Favor da Vida. “Quando ela me disse que estava grávida, veio a mim querendo uma resposta que eu não estava pronta para dar. Mas tomei uma posição de apoiá-la no que precisasse. Percebi as necessidades e comecei a agir conforme a demanda”, conta Raquel.

Sessão fotográfica com uma das turmas do projeto

Levar ao pré-natal, estimular a autoestima, trabalhar o relacionamento familiar e conseguir o enxoval para o bebê foram alguns dos passos para que a adolescente se sentisse encorajada com a maternidade. Os resultados dessas ações foram tão positivos que Raquel teve a ideia de estender essa assistência para incentivar outras jovens. Em 2011, com tutoria da Agência de Redes para Juventude, ela conseguiu transformar essa experiência pessoal em uma metodologia que agora alcança toda a comunidade da Providência e ganha repercussão no Rio de Janeiro. O Providenciando a Favor da Vida atua há quatro anos e já atendeu 13 turmas, mais de 150 meninas. Realizando dois encontros semanais, ele trabalha temas como as mudanças físicas da mãe e do embrião, as mudanças emocionais, as estruturas familiares, o envolvimento dos pais na maternidade e a geração de renda. Um dos grandes objetivos do projeto e o que diferencia seu impacto é abordar o planejamento familiar não só sob a perspectiva dos métodos contraceptivos para relacionamentos, mas também sob a vida profissional e os estudos. PATROCÍNIO

PARCERIA

“O que mais me tocou foi a palestra sobre planejamento familiar. Eu me senti mais motivada a voltar a estudar, a concluir o ensino médio”, relata Daniele Silva, 22 anos. Ela entrou na primeira turma do Providenciando, em 2011, e hoje é uma das colaboradoras do projeto nas oficinas de geração de renda, dando aulas de corte e costura. Junto com Raquel, conduz a Pedacinho de Mim, marca de roupas e acessórios infantis desenvolvidos pelas jovens do Providenciando. A iniciativa, além de possibilitar que as mães montem o próprio enxoval gratuitamente, aponta uma forma de renda que pode ser desenvolvida formal ou informalmente. Ampliar vertentes na temática do planejamento familiar foi uma escolha feita por Raquel a partir da identificação das carências do território. O objetivo é mostrar que a gravidez não é o “fim da vida” e que as jovens podem construir novos planos. O ponto de partida é ampliar o repertório e as informações. “No planejamento familiar, a mulher passar a ter um conhecimento melhor do próprio corpo e a percepção da importância dela. É essa mudança que empodera a busca por direitos, seja

na área da saúde ou na sociedade”, explica Letícia Gadelha, Enfermeira Sanitarista, especialista em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública e responsável pelo Planejamento Familiar da Unidade Básica de Saúde da comunidade Jorge Tucano, em Coelho Neto, zona norte do Rio de Janeiro. O Providenciando a Favor da Vida também tem expandido os planos da própria realizadora. Atualmente, Raquel, que é formada em Fisioterapia, está fazendo uma especialização em Pré-natal na Associação Nacional para Educação Pré-Natal. A dedicação tem como alvo aumentar seus conhecimentos para fortalecer a metodologia que já está sendo replicada com jovens e adolescentes do Instituto Ayrton Senna (RJ) e que já ficou em 1º lugar no Prêmio Nacional Agente Jovem de Cultura, edital do Ministério da Cultura. O projeto que surgiu como reposta a uma realidade vivida tem mostrado o poder de impacto da juventude de origem popular para reinventar formas de agir no seu território, na sua cidade e país. * Colaborou Mayara Ximenes. Edição de Marina Moreira.

REALIZAÇÃO

APOIO INSTITUCIONAL


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B R A S I L S E R V E R ARQUIVO PESSOAL

UM GRINGO NAS

CATARATAS DO IGUAÇU EMENTE AS T N E C E R U O IT CUMMING VIS R E D N A X E L A N SHAU NTAS OUTRAS A T E X U O R T M AÇU, E A VIAGE U IG O D S A T A CATAR PERDÍVEL IM É O IN T S E D E ASSEGURA: O L E E U Q S A S E R SURP

>> PÁGINAS 24 AS 26


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GUIA

AVENTURAS EM FOZ DO IGUAÇU Foz do Iguaçu. O que posso dizer? Vou direto ao ponto: foi uma das mais incríveis aventuras em que eu já estive. Por Shaun Alexander Cumming

Você provavelmente já viu fotos das famosas Cataratas do Iguaçu. Confie em mim quando eu digo, elas não fazem justiça à força impressionante da natureza que se apresenta diante de seus olhos. Se você está pensando em fazer uma viagem a Foz do Iguaçu no futuro, permita-me compartilhar algumas experiências que podem ajudar a persuadi-lo ainda mais. A região de Foz do Iguaçu oferece uma série de atrações diferentes. Claro, as cachoeiras – que são a segunda maior do mundo depois das Cataratas de Vitória, na África – são o principal encanto, mas há muito mais para ver.

ITAIPU A chegada de avião proporcionou a primeira vista espetacular. Marielle (minha esposa) e eu encontramos a jornalista e guia turística Cyntia Braga, que é dona do hostel onde nos hospedamos, o Concept Design Hostel, localizado perto do centro da cidade. Logo pulamos no carro e partimos em direção à Usina Hidrelétrica de Itaipu, aprendendo sobre sua construção e seu impacto em termos de produção de energia. A barragem é uma maravilha da engenharia: assustadoramente grande; poderosa; e engenhosa. Concluída em 1982, a usina produz 90% da eletricidade do Paraguai e 25% do Brasil. O que me impressionou foi como tudo parecia tão verde e quão cheio o reservatório parecia estar. Onde eu moro no Brasil (Vitória, Espírito Santo) e em São Paulo, há uma séria crise de abastecimento de água. Com a seca nacional afetando muito a vida dos brasileiros, uma estatística sobre a barragem de Itaipu me pareceu incrível: ele contém 4.000 litros de água para cada pessoa no mundo. Pense nisso por um segundo. Isso certamente significa que a crise de água no Brasil não está sem solução. À noite, Cyntia levou-nos a um passeio de Kattamaram, que é um restaurante flutuante de casco duplo que navega para o meio da represa. Não comi qualquer coisa a bordo porque estava lá para ver o famoso pôr do sol sobre a barragem. Foi provavelmente um dos pores do sol mais espetacular que eu já vi. De volta ao hostel, passamos ainda algum tempo relaxando na piscina e no bar antes de voltar para nossa suíte.

CAMINHADA NA SELVA Acordamos cedo no dia seguinte, prontos para uma aventura. Rogério, nosso motorista e guia turístico que sabia tudo sobre a área e sua vida selvagem, levou-nos para o Parque Nacional do Iguaçu pela primeira vez. Ele tinha visto recentemente uma onça-pintada cruzar a estrada por onde estávamos passando. A natureza é algo que particularmente me encanta, por isso, fiquei animado quando Cyntia nos disse que caminharíamos pelo parque. A Mata Atlântica é hoje um mero pontinho do que era antes, mas em Foz do Iguaçu cerca de 6.000 hectares estão protegidos e restaurados. Junto com um dos guias do parque, caminhamos 10 km a pé até a parte mais densa da floresta. Poderíamos ter ido de bicicleta ou de carro elétrico, mas preferimos caminhar para observar melhor o local. A trilha ficou imediatamente quente e úmida. O som da floresta era como eu sempre imaginei que a Amazônia deve ser. Milhões de insetos de todas as cores, formas e tamanhos estavam fervilhando. O nosso guia, Renan, explicava tudo sobre o que havia ao nosso redor, desde as espécies de árvores e os frutos que elas produzem até os animais que vivem nelas. Durante todo o tempo pensava em uma coisa: nas espécies de animais incríveis que também vivem na floresta, incluindo três tipos de cobras venenosas, aranhas gigantes e grandes felinos. “Há 18 onças-pintadas com etiquetas eletrônicas aqui, e elas têm filhotes. Há entre 18 e 30 delas vivendo aqui”, disse Renan. Teria sido um sonho – embora assustador – ver uma. Infelizmente, não era para ser. No entanto, um grande gato chamado jaguatirica cruzou nossa frente, e não fui rápido o suficiente com a câmera... A trilha terminou com um passeio de barco pelas ilhas do Rio Paraná, aonde vimos um grande jacaré com cerca de 5 ou 6 pés de comprimento. Ofereceram outro passeio no mesmo rio de caiaque, mas depois de ver o grande carnívoro ficamos menos entusiasmados. O barco rápido passou zunindo ao redor das ilhas. Foi uma enorme diversão. E a primeira espiada na Argentina, do outro lado do rio.


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CAMINHADA NA SELVA Acordamos cedo no dia seguinte, prontos para uma aventura. Rogério, nosso motorista e guia turístico que sabia tudo sobre a área e sua vida selvagem, levou-nos para o Parque Nacional do Iguaçu pela primeira vez. Ele tinha visto recentemente uma onça-pintada cruzar a estrada por onde estávamos passando. A natureza é algo que particularmente me encanta, por isso, fiquei animado quando Cyntia nos disse que caminharíamos pelo parque. A Mata Atlântica é hoje um mero pontinho do que era antes, mas em Foz do Iguaçu cerca de 6.000 hectares estão protegidos e restaurados. Junto com um dos guias do parque, caminhamos 10 km a pé até a parte mais densa da floresta. Poderíamos ter ido de bicicleta ou de carro elétrico, mas preferimos caminhar para observar melhor o local. A trilha ficou imediatamente quente e úmida. O som da floresta era como eu sempre imaginei que a Amazônia deve ser. Milhões de insetos de todas as cores, formas e tamanhos estavam fervilhando. O nosso guia, Renan, explicava tudo sobre o que havia ao nosso redor, desde as espécies de árvores e os frutos que elas produzem até os animais que vivem nelas. Durante todo o tempo pensava em uma coisa: nas espécies de animais incríveis que também vivem na floresta, incluindo três tipos de cobras venenosas, aranhas gigantes e grandes felinos. “Há 18 onças-pintadas com etiquetas eletrônicas aqui, e elas têm filhotes. Há entre 18 e 30 delas vivendo aqui”, disse Renan. Teria sido um sonho – embora assustador – ver uma. Infelizmente, não era para ser. No entanto, um grande gato chamado jaguatirica cruzou nossa frente, e não fui rápido o suficiente com a câmera... A trilha terminou com um passeio de barco pelas ilhas do Rio Paraná, aonde vimos um grande jacaré com cerca de 5 ou 6 pés de comprimento. Ofereceram outro passeio no mesmo rio de caiaque, mas depois de ver o grande carnívoro

ficamos menos entusiasmados. O barco rápido passou zunindo ao redor das ilhas. Foi uma enorme diversão. E a primeira espiada na Argentina, do outro lado do rio.

CATARATAS A caminhada pela selva foi como um sonho para mim, mas apenas uma parte da história do dia, porque depois do almoço na agenda estavam as cachoeiras. Elas têm nomes diferentes dependendo da língua que você fala: Cataratas do Iguaçu em português, Iguassu Falls em Inglês e Cataratas del Iguazu em espanhol. Independentemente disso, são algumas das quedas d’água mais impressionantes do mundo. As Cataratas do Iguaçu são um ícone e a segunda atração turística mais popular no Brasil. Fomos em direção ao centro turístico e a um dos passeios mais deslumbrantes que eu já fiz. Do ponto mais alto, podíamos ver a maioria das quedas em toda sua glória. Mas havia diferentes pontos de visualização, cada um com uma vista distinta. Decidimos descer para a plataforma inferior, onde uma ponte leva você para mais perto das quedas. Neste local, revela-se uma enorme cortina de água que constantemente jogava uma névoa de chuva fina em nossa direção. Todo mundo na ponte ficou encharcado de água, o que foi bastante agradável diante do calor escaldante. Caminhando ao longo da ponte, chegamos até a borda. Olhando para baixo, víamos a água branca em direção à Argentina. Espetacular! Um daqueles momentos na vida em que, como homem, senti-me totalmente insignificante diante da natureza. Afastamo-nos das quedas espantados pelo som e pela vista das cataratas, mas a experiência não tinha acabado. Alguns quilômetros adiante, um trem elétrico estava esperando para nos levar através da selva até uma lancha de alta potência. A partir dali, era hora de ir para debaixo das cataratas. Ainda bem que o barco era potente – precisava ser para enfrentar o imenso fluxo de água. Estávamos em

um grupo de cerca de 20 pessoas no barco, admirando a vista, quando o piloto nos perguntou se gostaríamos de um banho rápido. Ele nos levou diretamente para as cataratas. O ar foi imediatamente sugado dos meus pulmões. O poder da água caindo em cima de nós foi uma experiência emocionante, assustadora. A água estava gelada e batia como um trovão em nossas faces, encharcando cada polegada de nossos corpos – um grande contraste para a área longe das quedas, onde a temperatura estava batendo os 35 graus. Foi uma sensação incrível que não vou esquecer tão cedo.

ARGENTINA No dia seguinte, decidimos ver as cataratas a partir do lado argentino da fronteira. A travessia para Puerto del Iguazu é rápida e fácil, assim como o caminho até as quedas. O lado da Argentina é diferente. Você anda sobre passarelas longas que cruzam o rio até chegar ao topo das cachoeiras em um local chamado Garganta do Diabo. É a parte mais feroz das cataratas. A questão sobre qual dos lados é melhor é difícil de responder. Em minha opinião, o lado argentino é mais potente, mas a vista do lado brasileiro é muito mais bonita. Vale a pena experimentar os dois. O que realmente marcou a minha experiência na Argentina foi a comida. Comemos muito bem durante a nossa estadia em ambos os lados da fronteira, principalmente carne. Os churrascos no Brasil foram incríveis, especialmente considerando a enorme oferta de outros pratos clássicos, como a feijoada. Mas um lugar ficou como campeão para mim. Cyntia nos levou a um restaurante na Argentina chamado El Quincho del Tio Querido. Comi apenas um pedaço de carne que o garçom recomendou chamado bife de chorizo. Foi um enorme pedaço grelhado servido do famoso jeito argentino. Incrível! Comi sozinho, sem deixar espaço para mais nada. Sinceramente, foi a melhor carne que eu já comi na minha vida.

AVES O último dia de viagem envolveu um passeio ao Parque das Aves – um enorme parque que é o lar de milhares de aves, a maioria nativa. Seria uma enorme injustiça para chamar o Parque das Aves de zoológico, porque é muito mais do que isso. Carmel e Oli, os dois diretores do parque que se mudaram para o Brasil desde a Inglaterra para assumir os negócios da família há alguns anos, explicaram que uma das principais funções do local é atuar como um hospital de aves. As aves doentes ou feridas são levadas para o parque principalmente depois de serem resgatadas de traficantes de animais por parte das autoridades. Os pássaros recebem tratamento e, aqueles que podem ser reintroduzidos na natureza, assim o são. Aqueles que são incapazes de voltar para a vida selvagem são libertados em enormes aviários. O parque também ajuda com programas de reprodução de espécies raras e ameaçadas de extinção. Por exemplo, eles reproduziram o primeiro filhote de mutum do alagoas em outubro. Demos uma olhadinha no pássaro bebê, que está crescendo bem. Como existem apenas 300 destas aves, nenhuma na natureza, espera-se que este programa de reprodução possa eventualmente levar a reintrodução da espécie. O Parque das Aves foi outra experiência incrível. Nós estivemos com araras e tucanos, estes últimos meus favoritos. Se você ama tucanos como eu, vai ficar feliz em saber que o parque tem o maior número deles no mundo. E eles são muito simpáticos. Tenho enorme respeito por aquilo que eles estão alcançando no Parque das Aves. Não me interesso por zoológicos, mas isto é tudo menos um zoológico – é mais um santuário para aves dirigido por pessoas que tratam os animais com o mesmo amor e respeito que tratariam seus filhos. Escrever todas as minhas experiências em Foz do Iguaçu em uma reportagem é difícil. O que eu tentei fazer aqui foi dar um gostinho, mas ainda vou cobrir cada aspecto da viagem em postagens individuais e detalhadas, com direito a vídeo, que você poderá conferir no site do Brasil Observer.


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AlĂŠm disso, vocĂŞ pode ver mais fotos da viagem em minha conta no Instagram: @shaunalex.


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DICAS CULTURAIS

MÚSICA

CINEMA UTOPIA CELEBRA O CINEMA DE PORTUGAL Em sua sexta edição em Londres, o festival de cinema português Utopia exibe este ano uma mistura surpreendente: uma homenagem a Manoel de Oliveira (foto), o cineasta mais destacado e premiado de Portugal, e um olhar aguçado sobre o trabalho de mulheres portuguesas cineastas. O tema central do programa é “Mulheres e Cinema”, com o objetivo de chamar a atenção internacional ao recente trabalho de cineastas como Margarida Cardoso, Catarina Ruivo e Marta Pessoa. O festival deste ano conta com dois eventos gratuitos no Birkbeck College: um documentário e um debate sobre a invisibilidade das mulheres no cinema e na história. Quando: 17-22 Novembro Onde: Vários locais Info: www.utopiafestival.org.uk

FRINGE! APRESENTA FILMES BRASILEIROS Fringe! é um festival de cinema e artes enraizado na criativa cena gay de Londres que dá boas-vindas a todos. O Fringe! Fest 2015 tem uma série de eventos, incluindo uma sessão temática chamada ‘Brazil in Focus’. Em Favela Gay (foto), dirigido por Rodrigo Felha, as favelas do Rio de Janeiro são o cenário para as histórias de vida de homossexuais vivendo em um ambiente de homofobia e preconceito. Em Nova Dubai, dirigido por Gustavo Vinagre, quatro amigos gays navegam no ambiente em rápida mutação de seu bairro, tentando recuperar espaços comuns. Haverá também alguns curtas-metragens brasileiros a serem exibidos. Quando: 24-29 Novembro Onde: Vários locais Info: www.fringefilmfest.com

DOM LA NENA, UMA VOZ QUE ENCANTA Acantora e compositora brasileira Dom La Nena tem ganhado a cena internacional com seu novo álbum Soyo, lançado no Reino Unido dia 23 de outubro, pouco antes de sua apresentação na St. Pancras Old Church. Com apenas 25 anos, Dom tem se mostrado uma musicista versátil, com as melodias de Soyo centradas em ritmos folclóricos e tons melancólicos, enquanto mergulhando no indie rock e formas de dança latina. O álbum é cantado em quatro idiomas: português, espanhol, francês e inglês. Coproduzido com compositor e guitarrista Marcelo Camelo (da banda Los Hermanos), Soyo se baseia no vocabulário do álbum de estreia, Ela. Para o Brasil Observer, Dom disse que “em comparação ao primeiro, Soyo é um disco muito mais festivo”. “Eu tinha uma vontade muito grande de trabalhar o ritmo, a sensação das músicas. É um álbum mais afirmativo, mais definido. O primeiro foi quase experimental”, comentou Dom. Sobre o papel do Marcelo Camelo, Dom disse que “foi um luxo poder ter a ajuda do Marcelo Camelo, que soube realmente me mostrar esse caminho mais rítmico, mais em torno da pulsação das músicas”. “Acho que sem ele o disco não teria a cara que ele tem”, acrescentou a cantora. Acompanhada por violoncelos, pianos e outros elementos folclóricos, Dom encontrou inspiração nos muitos músicos com quem ela fez turnê e pode colaborar, como Jeanne Moreau, Etienne Daho e Camille. Gravado na Cidade do México, Paris e Lisboa, mixado em São Paulo e masterizado em Miami, o álbum já é internacional desde o seu núcleo.

EXPOSIÇÃO UM SÍMBOLO DE AFETO CONCRETO Por Bronaċ Ferran, curador da exposição

O título desta exposição (‘A Token of Concrete Affection) foi inspirado por uma carta escrita para Stephen Bann pelo poeta Pedro Xisto há quase cinquenta anos. Neste documento, preservado por Bann dentro de seu pequeno envelope original, Xisto usa o centro, as bordas e as margens da página para se comunicar com palavras e sinais: ele nos obriga a olhar atentamente para os espaços liminares onde a linguagem se desenvolve. A carta de Xisto é um microcosmo da correspondência intensiva que prevaleceu entre as principais figuras do movimento internacional de poesia concreta e visual meio século atrás. Como Augusto de Campos relaciona em uma entrevista, o seu trabalho e o de Edgard Braga Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Pedro Xisto – que são apresentados neste show – eram singularmente subestimado pelo establishment literário no Brasil. Ligações internacionais com poetas e críticos no Reino Unido foram de extrema importância para o trabalho de poetas experimentais e de vanguarda brasileiros. Em troca, eles influenciaram e inspiraram escritores de todo o mundo com obras de visão extraordinária, proficiência linguística e realização imaginativa que receberam reconhecimento na época e que merecem uma atenção renovada agora. Foi com grande prazer que concebi este show para a celebração do 50º aniversário da ‘First International Exhibition of Concrete, Kinetic and Phonetic Poetry’ em Cambridge em 2014. Dá alegria de pensar que a exibição chega agora à Embaixada do Brasil em Londres. As obras estão retornando, poeticamente, pelo menos, para mais perto de casa. Quando: 20 Novembro – 18 Dezembro Where: Embaixada do Brasil em Londres Info: www.culturalbrazil.org


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COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

CRIAR IGUALDADE DÁ TRABALHO

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Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs (stonecrabs.co.uk)

Ao longo de 2015, temos ouvido e lido bastante sobre a atual falta de oportunidades no teatro e nas artes para a classe trabalhadora, assim como para os negros, os asiáticos e as minorias étnicas (ou BAME, acrônimo usado para se referir a membros de comunidades não brancas no Reino Unido). No início deste ano, em janeiro, a escritora e atriz Julie Walters advertiu que “atuar logo se tornará exclusividade de estudantes ‘ricos’ porque a classe trabalhadora não será capaz de se dar ao luxo perseguir tal carreira”. Em fevereiro, o Bafta (British Academy of Film and Television Arts), a academia britânica de cinema e televisão, foi fortemente criticado pela falta de minorias étnicas e pessoas da classe trabalhadora nas premiações. Logo depois, o Acting and Social Inequality Project publicou uma pesquisa que mostra que apenas 10% dos artistas fazem parte da classe trabalhadora. O teatro e as artes, no quesito diversidade, tiveram o pior resultado entre todas as outras atividades profissionais comparáveis. Os resultados são contundentes. Na verdade, basta observar o que é exibido no teatro e na televisão para obter uma imagem clara da atual demografia. Frequentemente, sinto-me sozinho quando vou teatro: olho em volta e sou uma das poucas, se não a única pessoa de cor na plateia. Ver meu reflexo no palco é ainda mais raro. É muito preocupante que as histórias contadas nos palcos e nas telas venham de um conjunto tão restrito de vozes. Em setembro passado, Viola Davis afirmou em seu discurso como primeira mulher negra a ganhar um Emmy de melhor atriz em drama: “a única coisa que separa as mulheres de cor de qualquer outra pessoa é oportunidade”. Simples assim: oportunidade, um momento ou conjunto de circunstâncias que fazem com que seja possível fazer alguma coisa; uma oportunidade de emprego ou promoção. Por que coisas assim estão restritas a um pequeno número de indivíduos de uma determinada classe ou bagagem cultural? A falta de oportunidade é o mesmo que desigualdade. E a desigualdade tem raízes históricas óbvias, no Reino Unido e no Brasil. É uma das mais amargas sequelas do colonialismo e da escravidão. Precisa ser abordada. O Conselho de Artes da Inglaterra anunciou mudança, e uma de suas diretrizes está colocando mais ênfase em promover novas de lideranças, fazendo com que os empregadores sejam os responsáveis por tal transformação, mesmo que isso signifique

inserir cotas de diversidade. A BBC está trabalhando duro para resolver o problema e produzir trabalhos que sejam o reflexo da população do país. Os EUA estão dando passos mais largos nesta área, com maior número de programas de televisão destinados ao público BAME. Tanto é assim que a maioria dos programas de televisão no Brasil com artistas BAME é produzida no país norte-americano. A falta de oportunidades para a classe trabalhadora e artistas BAME não é apenas galopante no Reino Unido, mas também no Brasil. No Brasil, no entanto, raça e classe social andam de mãos dadas, mais do que no Reino Unido. Artigo publicado recentemente pelo The Guardian afirmou que o Brasil está começando a enfrentar lentamente suas profundas questões raciais, dando como exemplo mudanças que acontecem em programas de televisão que parecem estar exibindo trabalhos mais diversificados. Mas não temos que olhar apenas para as artes no Brasil. Fiquei surpreso quando li que dos 39 ministros do gabinete da presidente Dilma Rousseff todos são brancos, exceto um: o chefe da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial. Preconceitos diversos ficaram bem visíveis na reação aos resultados da última eleição presidencial, quando trabalhadores do nordeste foram insultados por burgueses do sudeste. E sim, eu sei que estou generalizando, mas por que isso acontece? Por que é que, dos 100.000 estudantes universitários do Brasil, somente 10.000 são de origens BAME e da classe trabalhadora? Como podemos resolver esta desigualdade? Há quase três anos as universidades brasileiras obrigadas a preencher uma porcentagem de suas vagas para alunos de baixa renda matriculados em escolas públicas, para aumentar o número de estudantes universitários de ascendência africana. Tem havido uma série de críticas. Um dos maiores jornais brasileiros tomou posição firme contra as cotas raciais nas universidades, sustentando que um sistema de estímulo à diversidade socioeconômica seria suficiente. Os críticos têm considerado as cotas como discriminação inversa, preocupados com a possibilidade de elas incitarem ao ódio racial em nossa imaginada “democracia racial”, onde negros e brancos poderiam andar lado a lado nas ruas sem tomarem um tiro no peito. Existe esse mito de que o Brasil é uma “democracia racial” onde todos têm igualdade de oportunidades, mas, nas últimas décadas, mais e mais

brasileiros estão descobrindo a verdade, compartilhando experiências e falando o quanto os fatores de raça ainda afetam a vida dos não brancos. As ações afirmativas têm origem nos EUA, em 1961, quando o termo foi usado pela primeira vez por Kennedy, que introduziu uma política de que fornecedores do governo deveriam “tomar ações afirmativas” para garantir que os candidatos são empregados sem que fossem levados em conta raça, credo, cor ou origem. No Reino Unido, ao longo dos anos 80 e 90 tal método foi amplamente utilizado pelos empregadores, a fim de criar oportunidades para aqueles do grupo BAME, e, embora tenha tido imensos benefícios, ainda há muito mais terreno a cobrir, em particular no campo das artes. O Brasil tem políticas antidiscriminação desde a década de 1950, mas só em 1988 a constituição transformou abuso racial e racismo em crime. E, apesar de todas estas políticas, o país ainda luta para mudar as atitudes. O escritor nigeriano Chimamanda Ngozi Adichie ficou surpreso ao saber, durante uma visita recente, que os brasileiros não falam muito sobre o assunto, como se o racismo não fosse um problema. “Eu não pude deixar de notar que raça e classe estão conectadas no Brasil. Fui a bons restaurantes e não vi uma única pessoa negra. O Brasil está em negação sobre a questão racial”. Infelizmente, eu também vejo o que ele vê quando vou ao Brasil. Namíbia, Não, uma nova peça escrita por Audri Anunciação, lida com essa recusa de uma maneira muito inteligente e direta; Anunciação apresenta dois homens negros muito bem colocados na sociedade até que o governo declara que todos os cidadãos de ascendência negra deverão ser deportados de volta ao seu país de origem no continente africano. Neste cenário, o público é levado através da viagem dos dois protagonistas de uma forma cômica, mas instigante, expondo os preconceitos que existem no Brasil. Se o preconceito criou a confusão em que estamos, ações afirmativas podem corrigi-la? Mais oportunidades são necessárias. Até que o financiamento seja social e etnicamente diverso, nada vai acontecer. Precisamos urgentemente assumir a responsabilidade por uma sociedade mais igualitária. A Parábola dos Polígonos (ncase. me/polygons) coloca tudo de uma forma bastante clara e simples: “Criar igualdade é como se manter limpo: dá trabalho. E será sempre um trabalho constante”.


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AQUILES RIQUE REIS

ROSAS PARA DOLORES DURAN

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Aquiles Rique Reis é músico, vocalista do MPB4

N ew B a l a i o B r a z i l i a n G r i l l 337a Barking Rd E13 8EE

Há uma pérola, o DVD duplo (também em CD) dedicado à música e à memória da carioca Adiléia da Silva Rocha, a inesquecível Dolores Duran (1930/1959): Duas Noites para Dolores Duran – ao vivo, lançamento da Coleção Canal Brasil em parceria com Rodrigo Faour, diretor geral, apresentador, produtor dos shows e biógrafo da artista homenageada. Mesmo com o grande número de intérpretes se revezando nos microfones, o DVD tem boa qualidade sonora. O repertório vai dos grandes sucessos de Dolores até algumas músicas estrangeiras, e muitas histórias sobre ela, ora reveladas por Faour, ora por seus velhos amigos. Musicalmente elegante, tem um roteiro precioso. O DVD 2 foi gravado no Teatro Eva Hertz, em São Paulo. Mas hoje trataremos do DVD 1, registro do show na Miranda, Rio de Janeiro, em março de 2013. Nele, Rodrigo Faour reuniu um eclético grupo de intérpretes –desde os veteranos João Donato, Leny Andrade, Doris Monteiro e Elba Ramalho até os novatos, ou melhor, os ainda pouco conhecidos Márcia Castro, Simone Mazzer e Márcio Gomes. Com direção musical do violonista Paulo Serau, a banda que os acompanha tem ainda Tibor Fittel (piano acústico), Davi Martin (baixo acústico), Alê Cortina (bateria) e José Arimatéa (trompete), além de participação especial do pianista Ricardo Junior. Logo de cara, por meio do apresentador, ficamos sabendo que o pianista e compositor João Donato foi namorado de Dolores. Chamado ao palco, ele interpreta o único número instrumental dos

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dois DVDs: “Too Young” (Sid Lippman e Sylvia Dee). Show de bola do mestre. O show segue. Leny Andrade canta “Estrada do Sol” (Tom Jobim e Dolores Duran) com Donato. Os improvisos vocais dela e o intermezzo do piano já valem a audição. E, em conversa com Faour, Leny fala do bom humor de Dolores. Doris Monteiro canta “Se É Por Falta de Adeus”. Sua interpretação sussurrada emociona. A seguir, ela canta “Conversa de Botequim” (Noel Rosa), e Faour justifica a inclusão do samba, também gravado por Dolores: ela ficara encantada com Aracy de Almeida cantando Noel, num show na boate Vogue, em Copacabana. Simone Mazzer arrasa cantando “Solidão” (DD) e “Canção da Volta” (Ismael Neto e Antonio Maria). Mas o melhor dela vem depois: “My Funny Valentaine”, adoravelmente over, é opulenta. Chamada ao palco por Faour, Lana Bittencourt canta dois boleros com Márcio Gomes, cantor que a antecedeu: “Pecado”, interpretado com voz emocionada e comovente, que tem um belo intermezzo do piano, e “Sabra Dios”, interpretação visceral da dupla. Se ela já cantava de forma tocante, tal atributo se duplica em “Leva-me Contigo” (DD). Convidada por Lana, Leny volta ao palco e, juntas, cantam “O Que É Que Eu Faço” (José Ribamar e DD). Novamente sozinha, Lana traz a emoção de volta com “Castigo” (DD). Por fim, todo o elenco de volta ao palco. Juntos – felizes e agradecidos a Rodrigo Faour, que os reuniu –, cantam a plenos pulmões: Hoje eu quero a rosa mais linda que houver...


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MAIS INFORMAÇÕ BRASILOBSERVER.

MOS TRA BO 2016 INSCRIÇÕES ATÉ 05 DE JANEIRO 2016


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ES .CO.UK/MOSTRABO

CIRCULE SUA ARTE EM LONDRES

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