Brasil Observer #19 - Portuguese Version

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FREE BEBEL GILBERTO

LONDON EDITION SEPTEMBER 11 – 24

ISSN 2055-4826

Prestes a chegar à Inglaterra para duas apresentações em outubro, cantora brasileira nos concede entrevista exclusiva >> Páginas 8 e 9

HENRIQUE GENDRE

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www.brasilobserver.co.uk LEANDRO DE BRITO

TODOS GANHAM COMO O CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS PODE BENEFICIAR TANTO O BRASIL QUANTO O REINO UNIDO

>> Páginas 10 e 11

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EM FOCO O debate da quinzena

04 05

BRASILIANCE Economia brasileira em xeque

LONDON EDITION 06

BRASIL NO UK Centro cultural brasileiro abre em Birmingham

EDITORA - CHEFE

PERFIL

08 09

Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk

Bebel Gilberto

EDITORES

10 11

CAPA Brasil e Reino Unido estreitam laços pela educação

A trajetória de Aécio Neves

12 13

CONECTANDO

14

ELEIÇÕES 2014

Uma cerveja antes do almoço

15 25

BRASIL OBSERVER GUIDE Orquestra da Bahia e muito mais...

Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk Kate Rintoul kate@brasilobserver.co.uk

RELAÇÕES PÚBLICAS Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk

COLABORADORES Alec Herron, Antonio Veiga, Bianca Dalla, Gabriela Lobianco, Marielle Machado, Michael Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Wagner de Alcântara Aragão

PROJETO GRÁFICO

16 - 17

18

20

22 -23

24

25

16 | 17 CAPA DO GUIA 18 NINETEEN EIGHT-FOUR 20 GOING OUT 22 | 23 NEW CANVAS OVER OLD 24 MUSIC TO WEAR 25 TRAVEL

DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com

DISTRIBUIÇÃO Emblem Group LTD mpbb@btinternet.com

IMPRESSÃO Iliffe Print Cambridge iliffeprint.co.uk

ASSESSORIA CONTÁBIL

E D I T O R I A L

Atex Business Solutions info@atexbusiness.com

BRASIL NO BRASIL E NO MUNDO Por Ana Toledo – ana@brasilobserver.co.uk

Mais uma edição nas ruas. E, desta vez, o destaque vai para educação. Você já ouviu falar do Ciência Sem Fronteiras? O programa do Governo Federal dá oportunidade para estudantes brasileiros fazerem curso de graduação e pós-graduação no exterior. Só em setembro deste ano o Reino Unido vai receber 2,7 mil alunos do Brasil. É sobre a internacionalização das instituições de ensino superior dos dois países que a reportagem de Guilherme Reis aborda. Como já falamos inúmeras vezes neste espaço, 2014 é o ano que o Brasil não para. Estamos cada vez mais perto do dia em que milhões de brasileiros irão às urnas – obrigados, diga-se de passagem, pois nosso voto não é facultativo – para escolher os mandatários de diversos cargos eletivos, entre eles o mais importante para o país, o de Presidente da República. Para você que vem acompanhando

wake up colab digala@wakeupcolab.com.br

nossa cobertura eleitoral, nesta edição o perfil da vez é do candidato Aécio Neves (PSDB), que nesta confusão de conjuntura passou para a terceira colocação de acordo com as pesquisas eleitorais. Em Brasiliance, seguindo a tendência do que está pautando o debate eleitoral no Brasil, Wagner de Alcântara Aragão explica o porquê de o país estar em ‘recessão técnica’. E, também, o que está acontecendo na economia brasileira que afasta o país do risco da ‘recessão plena’. Na capa do Brasil Observer Guide, página 15, Gabriela Lobianco escreve sobre a Orquestra Juvenil da Bahia, que fará apresentação em Londres no dia 17 de setembro, no Southbank Centre. Divirta-se com a edição e mantenha contato!

BRASIL OBSERVER é uma publicação quinzenal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (Company number: 08621487) e não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome do Brasil Observer. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que devidamente creditados ao autor e ao Brasil Observer.

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EM FOCO

QUAL ‘NOVA POLÍTICA’ O BRASILEIRO QUER? Está em curso no Brasil um amplo debate sobre o que seria uma “nova política” na condução do país. O momento, afinal, é extremamente oportuno: em menos de um mês, 140 milhões de eleitores irão às urnas escolher deputados estaduais e federais, governadores, senadores e o próximo presidente da República. Desde os protestos que sacudiram as grandes metrópoles brasileiras em junho de 2013, consolidou-se nos cidadãos um amplo e difuso desejo de mudança. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 30 de agosto mostrou que 80% dos entrevistados preferem que as ações do próximo presidente sejam diferentes das atuais. Mas, afinal, que tipo de mudanças quer a população? E qual candidato presidencial representa mais significativamente esse anseio da sociedade? A reposta a essas perguntas será dada certeiramente dia 26 de outubro, data do provável segundo turno da eleição presidencial. Mas é possível analisar a questão com base nas propostas de cada candidato e nas pesquisas de intenção de voto consolidadas até aqui. No lançamento do livro Brazil: The Trouble Rise of a Global Power, em agosto, no King’s College, o autor Michael Reid discorreu sobre o assunto, afirmando que “os brasileiros querem um novo tipo de Estado”. Questionado sobre qual Estado seria esse, Michael Reid, que também escreve para a revista The Economist, concluiu que seria necessária uma política menos intervencionista por parte do governo federal, que por sua vez deveria reduzir os gastos públicos e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade dos serviços prestados. Ainda que, na ocasião, o jornalista tenha preferido se esquivar de responder qual candidato seria o mais capaz para tal tarefa, é seguro afirmar que seu escolhido seria Aécio Neves, do PSDB. Afinal, o candidato tucano sempre pregou o chamado “choque de gestão”, ou seja, fazer mais com menos. Aécio, aliás, representa a política de Fernando Henrique Cardoso, também do PSDB, que

Mídia Ninja

Por Guilherme Reis

Em Belo Horizonte, recolhimento de voto no plebiscito popular organizado por movimentos sociais: Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político?

governou o Brasil de 1994 a 2002 com uma agenda de privatizações e alinhamento ao mercado internacional, fazendo com que até hoje o partido tenha a preferência dos grandes empresários e investidores estrangeiros. Uma política de austeridade, como sugeriu Michael Reid, não parece, porém, estar entre os desejos da sociedade brasileira – nem mesmo entre as necessidades da população europeia, espremida entre a perda de direitos sociais e taxas elevadas de desemprego. Talvez por isso Aécio Neves figure nas pesquisas em terceiro lugar, com 14% das intenções de voto, segundo Datafolha do dia 3 de setembro. A mesma pesquisa indica que, neste momento, as duas candidaturas mais próximas de representar as mudanças que os brasileiros aspiram são as de Marina Silva, do PSB, e da atual presidente Dilma Rousseff, do PT. Por mais contraditório que isso possa parecer, pois a candidata do PT representa a situação, 35% dos eleitores se dizem inclinados a votar em Dilma, enquanto Marina alcança 34%, configurando um empate técnico no primeiro turno. Em um eventual segundo turno entre as duas, Marina vence-

ria por 48% a 41%. Alçada à candidata presidencial pelo PSB após a morte de Eduardo Campos, Marina Silva tem como principal trunfo a possibilidade de quebrar uma hegemonia que já dura 20 anos: desde 1994, só PSDB e PT foram capazes de eleger presidentes e de construir coligações no Congresso que garantissem a governabilidade. Marina tem amplo apoio entre aqueles que não veem diferenças entre os dois partidos hegemônicos e que consideram a polarização entre ambos algo prejudicial ao país. Não à toa, a candidata afirma ser possível formar um governo com os melhores quadros, sem distinção entre filiação partidária. Para ela e para seus eleitores, isso representaria uma nova política, pois impediria coligações por interesses eleitorais. Vale adicionar, também, outro fator que impulsiona a candidatura de Marina Silva: o voto anti-PT. Após 12 anos no governo federal, o PT tem hoje provavelmente a maior rejeição de sua história, tanto daqueles mais à direita, que condenam o partido por ter supostamente alastrado a prática de corrupção nas instancias governamentais, quanto daqueles à esquerda, que criticam o

partido por ter se comportado como todos os demais quando chegou ao poder, fazendo alianças com antigos rivais e abandonando bandeiras históricas. Não é difícil imaginar, portanto, que a esmagadora maioria dos eleitores que votarem em Aécio no primeiro turno votará em Marina em um eventual segundo turno, para derrotar o PT. Diante desse quadro, Dilma Rousseff tem usado seu tempo na TV para mostrar as conquistas dos 12 anos de PT no governo federal, na tentativa de mostrar que é a mais qualificada para endereçar as mudanças que a população deseja. Chegou, inclusive, a comparar Marina Silva com o ex-presidente Fernando Collor, que alcançou a presidência em 1990 sem maioria no Congresso e acabou sofrendo impeachment dois anos mais tarde. Tal comparação, porém, não parece ser muito inteligente, pois Collor é hoje aliado de Dilma. Na intenção de atender a demanda por maior participação da sociedade nos rumos do país verificada em junho do ano passado, Dilma assinou no primeiro semestre um decreto que institui a Política Nacional de Participação Social. Além disso, declarou apoio ao Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político – consulta organizada por movimentos sociais, nas ruas e na internet, que defendem, entre outras coisas, o fim do financiamento privado para campanhas políticas e uma lei de democratização da mídia (o Brasil Observer publicou uma matéria sobre o tema na edição 18: www.issuu.com/brasilobserver). Tais iniciativas, porém, são tachadas de bolivarianas e autoritárias por praticamente todos os setores da oposição ao governo Dilma, mesmo aqueles que defendem uma “nova política”. Difícil mensurar, portanto, o que exatamente o brasileiro quer que mude. Assim como discernir entre qual dessas novas formas apresentadas é aquela que mais se aproxima do desejo da maioria dos cidadãos. Claro é que exatamente do jeito que está ninguém quer que fique. O risco é eleger alguém que pregue a mudança para que tudo fique como está.


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BRASILIANCE

ECONOMIA EM XEQUE Desempenho ruim do Produto Interno Bruto brasileiro em 2014 coloca o país em ‘recessão técnica’. Geração de

empregos, renda em alta e sinalizações de recuperação no segundo semestre, porém, afastam risco de recessão plena Por Wagner de Alcântara Aragão Divulgação

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ou seja, a soma da produção de todas as atividades econômicas do país acumula no primeiro semestre de 2014 um ínfimo crescimento de 0,5% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado dos últimos 12 meses, a situação é um pouco melhor: alta de 1,4%. No entanto, o desempenho do PIB no segundo trimestre deste ano (abril, maio e junho) acendeu um sinal de alerta e reacendeu uma discussão: o Brasil vivencia ou corre o risco de uma recessão? Para diversos analistas, entre eles o professor Pedro Henrique Evangelista Duarte, doutorando em Desenvolvimento Econômico e docente da Universidade Federal de Goiás (UFG), é correto afirmar que sim, o país passa por um momento de “recessão técnica”. O que não significa, de acordo com ele, que o Brasil se encontra “num quadro de recessão”. Embora o desempenho do Produto Interno Bruto esteja variando entre o crescimento pífio e a desaceleração, a geração de empregos e a renda das famílias seguem crescendo. O próprio professor explica a diferença entre os dois conceitos, tão parecidos “recessão técnica” e “recessão”. Diz ele, ao Brasil Observer: “É preciso entender o que recessão técnica significa. Recessão técnica é um termo utilizado na economia para caracterizar a ocorrência de dois trimestres consecutivos de queda em alguns indicadores econômicos. Como o Brasil apresentou um PIB negativo nos dois primeiros trimestres, então podemos, sim, dizer que estamos nesse quadro. Mas um quadro de recessão técnica não necessariamente significa um quadro de recessão. Assumir que a economia está em recessão plena é uma avaliação rasa e falaciosa”. Duarte continua esclarecendo que um quadro de recessão plena ocorreria “numa situação de queda sistemática da atividade econômica”, em que não só o PIB registraria “comportamento insuficiente” (diminuição em relação a exercício anterior) como também “um aumento do desemprego, queda dos rendimentos e piora nas contas externas”. Na avaliação do professor, essa não é a situação da economia brasileira. Além disso, a tendência é de um desempenho melhor no segundo

Geração de empregos cresce, mas investimentos do setor produtivo e atividade industrial do país continuam em baixa

semestre do ano, “por conta da recuperação da agricultura e pelo crescimento do comércio.” O que, continua o docente, não exclui a necessidade de “atenção e cautela”. “Uma vez que esse quadro se mantenha [de contínua queda do PIB], aí sim podemos entrar numa situação de recessão”, adverte. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou esse risco. “As causas conjunturais que levaram ao desempenho mais fraco do primeiro semestre não vão se repetir no segundo semestre e, portanto, teremos um período melhor. Já começamos o terceiro trimestre de forma positiva e o ano terminará melhor do que começou”, afirmou em coletiva à imprensa no dia 29 de agosto, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados do PIB brasileiro no primeiro semestre.

INVESTIMENTOS E INDÚSTRIA Os dados apresentados pelo IBGE trazem, todavia, índices mais preocupantes do que o próprio desempenho do PIB.

Dois indicadores fundamentais para mensurar o grau de desenvolvimento da economia nacional comportaram-se pior do que o PIB propriamente dito. Tratam-se da Formação Bruta de Capital Fixo, referente aos investimentos feitos pelo setor produtivo, e da indústria nacional. Houve drástica diminuição do primeiro, isto é, dos investimentos das empresas, e significativa diminuição da atividade industrial. A atividade industrial sinaliza recuperação, mas insuficiente para repor as perdas. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em julho, depois de quatro meses consecutivos de queda, a atividade no setor voltou a crescer, conforme apontam os indicadores de horas trabalhadas na produção (alta de 2,6% em relação a junho), faturamento (1,2%) e utilização da capacidade instalada (que alcançou 81%, ou 0,6 ponto percentual acima da utilização no mês anterior). “A expectativa é de crescimento moderado da atividade industrial neste [segundo] semestre; é muito improvável que se reverta esse quadro

[de retração da indústria]”, afirmou o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. Por outro lado, o consumo – tanto governamental como o das famílias, especialmente este último – segue a sustentar a economia brasileira. O consumo das famílias terminou o primeiro semestre deste ano apresentando alta em todos os quatro critérios de comparação (acumulado do ano, acumulado em 12 meses, segundo trimestre de 2014 sobre o trimestre imediatamente anterior e segundo trimestre de 2014 sobre igual período de 2013). A inflação, ainda em relativo controle (mantém-se dentro da meta), e, sobretudo, o aumento da renda e do emprego continuam a garantir que as famílias consumam e aqueçam setores da economia.

GERAÇÃO DE EMPREGOS No primeiro semestre deste ano, a quantidade de empregos gerados foi 1,56% superior à verificada no mesmo


brasilobserver.co.uk 5 José Cruz/Agência Brasil

período em 2013, que por sua vez já tinha sido maior do que em 2012. No acumulado de 12 meses, a elevação foi de 1,82%. Desde 2011, o crescimento nos postos formais de trabalho foi ainda maior: 12,51%. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego e foram divulgados no final de agosto. Para o ministro Manoel Dias, o Brasil tem enfrentado a crise econômica internacional “sem sacrificar a classe trabalhadora”. O número de empregos gerados no país entre janeiro e junho foi de 588.671, bastante superior ao de países como Chile (53.964), Japão (40.000) e Austrália (91.320), segundo comparativo feito pelo ministério, considerando dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O que parece um paradoxo – de um lado, a economia crescendo pouco; de outro, o mercado de trabalho aquecido – na verdade não tem nada de contraditório, diz o professor Duarte. “Não há contradição. É completamente possível, ainda que não comum, que um país apresente melhora em uma dessas variáveis sem que o mesmo ocorra com a outra”, assinala. Uma análise que cruze dados referentes ao PIB e indicadores do mercado de trabalho permite identificar explicações para essa relação entre economia desaquecida e mercado de trabalho em alta. Os empregos estão sendo gerados, sobretudo, em atividades que contribuem positivamente para o PIB, como no setor de serviços. Duarte acrescenta: “Olhando de maneira mais detalhada os dados do Dieese [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] sobre o emprego nas regiões metropolitanas, [observa-se que] houve crescimento do emprego na indústria e nos serviços, e queda no comércio. Analisando os últimos doze meses (julho 2013 a julho 2014), o crescimento do emprego foi mais preponderando nos serviços e na construção. O Brasil apresenta crescimento substancial do emprego no setor de serviços e construção, que têm tido destaque no comportamento geral”. Quanto a perspectivas com relação à retomada dos investimentos pelos setores produtivos, elas são diminuídas pela manutenção em patamares elevados da taxa básica de juros da economia brasileira. Em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica (a Selic) em 11% ao ano. A taxa de juros tem sido, há 20 anos, o principal instrumento da política econômica para controlar a inflação – juros altos encarecem o crédito, segurando o consumo e o preço dos produtos. Há, todavia, efeito colateral. Juros altos desestimulam as empresas a buscarem financiamento para investimento em seus negócios. O setor financeiro acaba sendo o único beneficiado (não à toa os maiores bancos do país acumulam lucros recordes sucessivos). Para a CNI, a manutenção da taxa Selic em 11% ao ano “prolongará as dificuldades da indústria brasileira e a retomada da atividade produtiva”, conforme diz manifestação da entidade, em nota.

INDICADORES DO PIB BRASILEIRO Resultados em cada um dos critérios de comparação

Agropecuária g

2º trimestre 2014 x 1º trimestre 2014: 0,2%

g

2º trimestre 2014 X 2º trimestre 2013: 0%

g

Acumulado em 12 meses: 1,1%

g

Acumulado 2014: 1,2%

Indústria g

2º trimestre 2014 x 1º trimestre 2014: -1,5%

g

2º trimestre 2014 X 2º trimestre 2013: -3,4%

g

Acumulado em 12 meses: 0,5%

g

Acumulado 2014: -1,4%

Serviços g

2º trimestre 2014 x 1º trimestre 2014: -0,6%

g

2º trimestre 2014 X 2º trimestre 2013: 0,2%

g

Acumulado em 12 meses: 1,6%

g

Acumulado 2014: 1,1%

Investimentos g

2º trimestre 2014 x 1º trimestre 2014: -5,3%

g

2º trimestre 2014 X 2º trimestre 2013: -11,2%

g

Acumulado em 12 meses: -0,7%

g

Acumulado 2014: -6,8%

Consumo das famílias g

2º trimestre 2014 x 1º trimestre 2014: 0,3%

g

2º trimestre 2014 X 2º trimestre 2013: 1,2%

g

Acumulado em 12 meses: 2,1%

g

Acumulado 2014: 1,7%

Consumo do governo g

2º trimestre 2014 x 1º trimestre 2014: -0,7%

g

2º trimestre 2014 X 2º trimestre 2013: 0.9%

g

Acumulado em 12 meses: 2,2%

g

Acumulado 2014: 2% Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Primeiro turno está marcado para 5 de outubro

O fraco desempenho do PIB pode influenciar as eleições? Recessão nunca é uma boa notícia para o governo – ainda mais faltando menos de um mês para o primeiro turno da eleição presidencial, marcada para o dia 5 de outubro. Por isso, os principais candidatos de oposição à reeleição de Dilma Rousseff (PT) – Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) – devem ter comemorado silenciosamente os dados oficiais divulgados no dia 29 de agosto, mostrando que o Produto Interno Bruto (PIB) tinha recuado 0,6% no segundo trimestre e outros 0,2% nos primeiros três meses do ano. Tudo indica, porém, que o quadro de “recessão técnica” não deve exercer grande influência na escolha da população por seu candidato. Embora as empresas tenham reduzido sua produção, até o momento elas resistiram ao caro processo de demitir funcionários. Como resultado, o desemprego no Brasil é de apenas 4,9% - o mais baixo da história do país. A renda média dos lares conseguiu acompanhar uma inflação que resiste em baixar. E, embora a confiança do consumidor continue baixa, esta

recebeu um impulso quando a inflação do preço dos alimentos perdeu força e o preço dos serviços caiu após a Copa do Mundo. A taxa de aprovação do governo, que estava em queda desde o início do ano, aumentou em agosto. Mesmo assim, a presidenta Dilma Rousseff tem mostrado crescente preocupação em sinalizar aos grandes empresários do país e aos investidores internacionais que, em um eventual segundo mandato, vai mudar o rumo das decisões econômicas – indicando, inclusive, que poderá substituir o atual Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Dilma não é e nunca foi a candidata preferida dos grandes empresários brasileiros, que naturalmente apoiam, mesmo que de maneira disfarçada, o candidato do PSDB, Aécio Neves. Com a grande possibilidade de um segundo turno entre Dilma e Marina, porém, os mesmos buscam influenciar essas candidaturas a assumir compromissos com o setor, com maior investimento em infraestrutura, menos intervenção estatal e diminuição de impostos.


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BRASIL NO UK

Novo espaço para a cultura Primeiro estúdio de capoeira em Birmingham pretende agregar expressões que promovam a identidade brasileira

Melissa Becker

Por Melissa Becker, de Birmingham

Sob os arcos históricos que sustentam os trilhos de trem na Water Street, na cidade de Birmingham, a mais populosa da Inglaterra depois de Londres, ouvem-se pandeiros, atabaques e berimbaus. Uma faixa estendida na fachada de azulejos esclarece a origem da música. É o novo espaço do grupo Cordão de Ouro Birmingham (CDOB), o primeiro estúdio de capoeira na região de West Midlands, que será inaugurado oficialmente no sábado dia 20 de setembro. Mais do que ter um endereço fixo para a prática do esporte, o objetivo do capoeirista Samuel Mascote, idealizador do empreendimento, é transformar o local em um centro cultural brasileiro – possivelmente, o primeiro na Inglaterra fora de Londres. Apesar de haver eventos que promovam a cultura do Brasil pelo interior inglês – como o Brazilica Festival, em Liverpool, e a FlipSide, em Suffolk –, Mascote nota a falta de um espaço permanente. “Acredito que será o primeiro centro cultural brasileiro, de artes, comunitário, de ensinamento e de eventos, fora de Londres. Existem vários restaurantes, mas essa é só a parte culinária”, observa. A iniciativa proporcionará novas possibilidades, como a organização de um pequeno Carnaval brasileiro e de uma festa junina em Birmingham. Para isso, o capoeirista chamou outros grupos e pessoas da região já envolvidas com a cultura brasileira para juntar forças, como o grupo Forró in Brum e Tessa Burwood, diretora do Brum Spirit, que une diferentes comunidades em um mesmo projeto. Natural de Nottingham, o professor descobriu a capoeira em sua cidade natal e aperfeiçoou o aprendizado ao viver por um ano na Bahia. Com a experiência de dar aulas no conceituado grupo DanceXchange e de ter organizado um festival internacional de capoeira durante um dos principais eventos de dança da Europa neste ano (o Internacional Dance Festival Birmingham, IDFB), Mascote ressalta que o trabalho não vende a imagem estereotipada do Brasil. “Queremos um centro dedicado a transmitir a cultura brasileira para o povo britânico em uma maneira tradicional, uma maneira real, e não só pelo que eles acham que é a cultura brasileira”, ressalta.

Inauguração oficial ocorre dia 20 de setembro

Tessa, que já organizou o evento inglês do projeto cultural capixaba Espírito Mundo e fez parceria com o CDOB no festival de dança, ainda enxerga outro público que sente falta de um espaço como esse. “Tem uma população bastante grande de brasileiros que mora nesta região, que chega aqui por vários motivos. Tenho a impressão de que muitos deles ficam meio dispersos e não têm um ponto de encontro, como em Londres, onde há vários. É bom desenvolver isso”, afirma. Para ela, a localização do estúdio beneficia não apenas aqueles que moram em Birmingham, já que tanto as aulas de capoeira quanto os encontros de forró na cidade registram a participação de pesso-

as de diferentes pontos da região, como as cidades de Coventry e Nottingham. Além de ficar na parte central de Birmingham, o espaço fica próximo à estação Snow Hill e do Jewellery Quarter, o “quarteirão das joias”, que concentra um dos principais negócios históricos da cidade e que tem atraído novos investimentos nos últimos anos. As aulas no estúdio começaram em agosto, mas um final de semana especial está planejado para os dias 19, 20 e 21 de setembro para marcar a abertura oficial, com professores e mestres convidados de diferentes partes da Europa. Entre eles, o coreógrafo Irineu Nogueira, de Londres. No sábado (20), haverá workshop gratuito de capoeira, às 16h, e a festa Tamo Junto

– We Are in This Together, com a participação de DJ Silence, DJ Feva, Sticky Joe e Forró in Brum. “O link é o encontro ao redor da cultura brasileira, mas tem espaço para outras formas de expressão. Temos planos para desenvolver um café no estúdio, onde as pessoas possam se encontrar e continuar a acrescentar valor social e criativo para a comunidade”, diz Tessa. Os ingressos para o final de semana completo custam £40 (£30 para alunos visitantes). Para um dia do evento, o valor é £25. A festa Tamo Junto tem entrada por £5. O estúdio fica no Arco 32 da Water Street, Birmingham (B3 1HL). g

Mais informações em www.cdob.co.uk


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PERFIL

Bebel Gilberto está com tudo

Prestes a chegar à Inglaterra para duas apresentações, cantora brasileira concede entrevista exclusiva ao Brasil Observer e fala sobre seu novo álbum, além da influência decisiva que a cidade de Londres teve em sua carreira

Por Rômulo Seitenfus

A cantora brasileira Bebel Gilberto chega à Inglaterra para duas apresentações que prometem casa cheia em outubro. No sábado dia 4, anima a FlipSide Festival, evento que tem como tema central a literatura brasileira e que acontece em Snape Maltings, Suffolk (leia mais na página 20); dia 6, se apresenta no Barbican, em Londres. Filha de um dos maiores nomes da Bossa Nova, João Gilberto, com a cantora Miúcha – e nascida em Nova York –, Bebel traz o repertório de seu primeiro lançamento em cinco anos, o álbum Tudo. São 12 faixas, entre composições originais e releituras de Tom Jobim, Luiz Bonfá e Neil Young, além da participação especial de Seu Jorge. Em conexão direta entre Londres e Nova York via Skype, começo a conversa com Bebel Gilberto questionando o porquê da escolha do título da música “Tudo” como nome do disco. “Este álbum é muito intenso, muito tudo. Tem uma característica parecida com o momento do primeiro disco. Ocorreu uma entrega. Não que eu não tenha me entregue nos outros, mas este é um momento novo, é gravado depois de cinco anos de eu ter lançado meu DVD no Rio. É mesmo como o nascer de uma nova fase”, explica a cantora. Da varanda de seu apartamento em Nova York, vê-se a construção do novo World Trade Center e ouve-se o canto dos pássaros. Foi esse ambiente sonoro natural, aliás, que inspirou o arranjo da primeira música do álbum, “Somewhere Else”, como conta a própria Bebel. “Nas manhãs dos finais de semana, quando não há muitos carros na rua, ouço bastante os pássaros. Quando estávamos fazendo a demo desse disco, gravamos os passarinhos de verdade, e depois mixamos com os efeitos de violino acrescentados pelo Miguel Atwood-Ferguson, que fez os arranjos dessa música. Miguel é um cara muito esperto, toca como se fosse uma orquestra inteira. E também o [produtor] Mario Caldato. Tinha de começar o disco cantando essa”. Perguntada sobre quais seriam as gravações preferidas de sua carreira, Bebel responde sem titubear: “Começaria com ‘Simplesmente’, do meu segundo disco, que foi todo gravado em Londres. Depois escolheria ‘Aganju’, ‘Winter’ e ‘August Day Song’. Esta última citada é do primeiro disco que

fiz com o Smoke City e com a Nina Miranda (Nina Miranda foi cantora do Smoke City). Desse novo disco, gosto muito de ‘Areia’, ‘Tudo’, e ‘Somewhere else’”. E, por falar em Londres, a cantora diz como a cidade foi decisiva para seu sucesso internacional. “Londres é a grande responsável por eu chegar até aqui. Quando morei em Londres, comecei a desenvolver o som do [álbum] Tanto Tempo. Foi quando conheci o Amon Tobin, logo no começo, até firmar o contrato com a Crammed Discs. Ter feito shows no Barbican (pela primeira vez em julho de 2000) mudou totalmente minha vida. O som que escolhi para minha música, o que resolvi desenvolver e o sucesso que atingi passaram por lá”. Sobre as decisões na organização das letras e nomes de álbuns, Bebel conta ouvir sua intuição. “Sou muito intuitiva. A maioria das coisas eu faço pela intuição. Não sou muito racional, não fico pensando ou elaborando muito. Geralmente penso: ‘Ah, é isso’”. No recém-lançado filme Rio, Eu Te Amo, a cantora aparece como um anjo interpretando, no alto do Pão de Açúcar, a música “Eu Preciso Dizer Que Te Amo”, composta em parceria com Dé Palmeira e Cazuza na década de 1980. Bebel, aliás, coleciona trilhas sonoras de filmes como Eat, Pray, Love e Closer, ambos estrelados por Júlia Roberts. “Quando sua música é escolhida para tocar num filme não há muito controle. Tem que agradecer a Deus e falar: ‘Que bom que vocês usaram a música’. Não é algo que eu tenha algum poder”, diz. Sobre o fato de ter nascido numa família de músicos consagrados, pergunto à Bebel se ela acredita que seu talento venha da genética, ou se foi fruto da prática aperfeiçoada com as técnicas musicais. “Quando você nasce com talento é muito mais fácil, mas isso também se desenvolve. Considero-me uma pessoa abençoada porque, para mim, é muito fácil cantar. Sobre meus pais, eles foram muito responsáveis em me ajudar a lapidar meu talento bruto. Ouvindo-os tocar, principalmente meu pai (João Gilberto), que sempre tocou instrumentos, definitivamente me deu um perfil mais bossa nova, mais dentro do violão dele. Ao mesmo tempo também procurei estudar as influências que tive em Londres. Nasci com talento, mas não teria chegado aonde cheguei se não fosse filha deles”.


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Este álbum é muito intenso, muito tudo. É mesmo como o nascer de uma nova fase

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CAPA

PARCERIA PELA EDUCAÇÃO Número de brasileiros que estudam ou estudaram no Reino Unido pelo Ciência Sem Fronteiras chega a 8,5 mil; segundo especialistas, programa abre cada vez mais oportunidades de colaboração entre universidades dos dois países Por Guilherme Reis

Neste mês de setembro chegam ao Reino Unido 2,7 mil brasileiros que vão fazer um ano de seus cursos de graduação em universidades britânicas pelo Ciência Sem Fronteiras (CsF). Com isso, o número total de estudantes do Brasil a ingressar no país desde o lançamento do programa, em 2011, alcança a marca de 8,5 mil – somando as três modalidades disponíveis: graduação, doutorado e pós-doutorado. O Reino Unido, aliás, é o segundo destino mais popular do programa do governo federal – fica atrás apenas dos Estados Unidos –, cujo objetivo é a concessão de 101 mil bolsas até 2015, sendo que até agora já foram concedidas 83 mil bolsas em todas as modalidades. Até o fim do programa, a expectativa é que o Reino Unido receba mais de dez mil estudantes brasileiros. Hoje cerca de 80 universidades britânicas participam do CsF, recebendo universitários e pesquisadores de aproximadamente 100 instituições de ensino superior do Brasil. As áreas prioritárias cobertas pelo programa são ciência, tecnologia, engenharia, matemática e indústrias criativas, ou seja, o foco está no desenvolvimento tecnológico e inovação. De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem do Brasil Observer, o CsF tem sido peça importante na aproximação e na construção de novas parcerias entre universidades dos dois países. “As universidades britânicas têm se beneficiado bastante ao receber esses talentosos estudantes. Através deles, nossos departamentos e faculdades têm conseguido estabelecer novos contatos com universidades brasileiras, ou seja, estamos nos ajudando na busca pela internacionalização através de programas de intercâmbio como o Ciência Sem Fronteiras”, afirmou a doutora Joanna Newman, responsável pela estratégia de internacionalização do King’s College. Newman citou como exemplo os acordos fechados recentemente pelo King’s College com a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Estamos lançando este ano um programa de doutorado integrado com a USP e organizando um curso de verão com a Fapesp para 2015”, contou. Para Newman, o CsF tem fomentando também o caminho inverso. “Há evidências de um crescente número de pesquisadores britânicos aproveitando as facili-

dades do CsF para realizar trabalhos no Brasil. É sem dúvida o objetivo da grande maioria das universidades envolvidas no programa, inclusive o King’s College, encorajar uma aproximação recíproca e oferecer caminhos para que professores e estudantes possam desenvolver projetos em instituições brasileiras”. Tal fato foi confirmado pela Assessora de Comunicação do UK High Education International Unit, Vikki Challen, responsável pelo programa Ciência Sem Fronteiras no Reino Unido. “Posso confirmar que temos visto claramente um forte crescimento do interesse de acadêmicos britânicos em realizar pesquisas no Brasil. Isso acontece por conta do crescimento do país no cenário científico internacional e também por conta da boa impressão que os estudantes do CsF têm deixado no Reino Unido. Recebemos feedbacks excelentes”, disse. “O CsF tem a capacidade não apenas de aumentar a mobilidade entre Brasil e Reino Unido, mas também de desenvolver mais parcerias e colaborações, o que vai ajudar a pavimentar uma relação mais duradoura e benéfica entre os dois países”, completou Challen.

DESAFIOS Para muitos críticos do Ciência Sem Fronteiras, o principal problema do programa é priorizar o envio para o exterior de estudantes de graduação. Nessa fase da vida acadêmica, argumentam, o compromisso com o desenvolvimento científico é muito pequeno, fazendo com que, ao final de um ano de curso no exterior, o maior ganho seja de ordem pessoal e não intelectual. Além disso, muitos universitários brasileiros não estariam devidamente preparados para sair do país – o que se comprova pelo fato de que parcela significativa desses estudantes faz curso intensivo de inglês antes de as aulas na universidade começarem, sem contar os casos de desistência por não conseguirem acompanhar os estudos no idioma. Nessa perspectiva, o foco deveria ser a atração de pesquisadores de alto nível para o desenvolvimento de projeto no Brasil. É o que pensa James Bramwell, diretor e consultor de educação superior do British Council para as Américas. “Eu acho que existe um modelo para países emergentes onde você pode começar por um programa de mobilidade externa,

como o Ciência sem Fronteiras, mas em algum momento você precisa buscar a atração de pessoas. E isso é muito mais difícil de fazer”, disse em entrevista concedida à revista Pré-Univesp. “Para a mobilidade externa, você precisa de dinheiro e precisa pagar as pessoas para irem. Para trazer pessoas, você precisa se preocupar com idiomas, com a adequação do currículo, uma série de novas questões. Acho que é preciso retomar a ideia inicial do CsF que dizia que também é preciso atrair pesquisadores. No momento, o foco principal está em viabilizar o envio de pessoas”, afirmou Bramwell. De fato, além do objetivo de enviar ao exterior mais de 100 mil estudantes brasileiros até 2015, o Ciência Sem Fronteiras abrange dois outros programas. O primeiro é o Bolsa Jovens Talentos (BJT), cuja meta é levar para o Brasil jovens pesquisadores, de preferência brasileiros, que participem de destacada produção científica e tecnológica no exterior. O segundo programa é o Pesquisador Visitante Especial (PVE), voltado para fomentar o intercâmbio e a cooperação internacional através da atração de lideranças científicas durante um a três meses por ano, por um período de até três anos. Hoje, porém, essas duas modalidades não tem nem de perto a mesma abrangência das modalidades destinadas a mandar estudantes para o exterior. O número de projetos aprovados nas chamadas 2011 e 2013 para PVE e BJT, somados, não chegam a mil (veja o quadro ao lado com as informações mais detalhadas). Para ser ter uma ideia, o Programa Chevening, que financia graduados com potencial para serem líderes influentes e tomadores de decisões para estudar em cursos de pós-graduação em universidades britânicas, irá triplicar o número de bolsas e mais de 1,5 mil pessoas serão beneficiadas a cada ano a partir de 2015. Na opinião da doutora Joanna Newman, “a principal barreira no envio de estudantes e pesquisadores para o Brasil é a falta de conhecimento sobre as fantásticas oportunidades que existem”. “Ao passo que programas como o CsF evoluem, isso vai mudar porque as parcerias não são feitas apenas entre os estudantes, mas principalmente entre as instituições de ensino e pesquisa”.


brasilobserver.co.uk 11 Divulgação

ATRAÇÃO DE CIENTISTAS PARA O BRASIL Dados referentes ao número de projetos aprovados nas chamadas 2011 e 2013 do programa Ciência Sem Fronteiras nas modalidades Pesquisador Visitante Especial (PVE) e Bolsa Jovens Talentos (BJT)

Números do PVE g

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Total Global: 623 Total Estrangeiro: 591 Total Brasileiro: 32 Total Britânico: 50

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Centro-Oeste: 33 Nordeste: 99 Norte: 24 Sudeste: 349 Sul: 118

3 áreas prioritárias g

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Ciências Exatas e da Terra: 100 Biologia e Ciências Biomédicas: 71 Ciências da Saúde: 70

Números do BJT g

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Total Global: 319 Total Estrangeiro: 174 Total Brasileiro: 145 Total Britânico: 17

Por região de destino g

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Centro-Oeste: 24 Nordeste: 40 Norte: 8 Sudeste: 192 Sul: 55

3 áreas prioritárias g

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Biologia e Ciências Biomédicas: 46 Ciências Exatas e da Terra: 45 Ciências da Saúde: 39

MedImmune vai patrocinar pesquisadores do Brasil

OPORTUNIDADE PARA EMPRESAS O programa Ciência Sem Fronteiras (CsF) tem como objetivo financiar 101 mil estudantes brasileiros em cursos de graduação sanduíche, doutorado sanduíche e doutorado pleno em universidades ao redor do mundo em áreas como ciência, tecnologia, engenharia, matemática e indústria criativa. Cada uma dessas modalidades oferece oportunidade para que empresas também se envolvam. No que diz respeito à modalidade de graduação, empresas podem oferecer estágio ou patrocinar projetos universitários que tenham ligação com a indústria. Em alguns casos, estudantes têm se envolvidos com as duas possibilidades. Estudantes de graduação do CsF já fizeram estágio em organizações que vão desde o NHS (Salford Royal Hospitals NHS Trust) g

até instituições locais (Kingston Council), passando por firmas de arquitetura (Barnaby Gunning Architects), engenharia (MWH) e museus (the Science Museum). Muitas vagas foram criadas especialmente para estudantes. As universidades parceiras do programa também conseguiram vagas para estudantes em empresas de liderança internacional, incluindo Rolls Royce, Unilever, Ford, BAE systems, Shell, GlaxoSmithKline, Procter & Gamble e IBM. É o caso de Ricardo Pedreiro, que estudou Ciência da Computação na Universidade de Durham através do CsF. “Trabalhei na IBM por três meses durante meu ano de estudo no Reino Unido. Como estagiário na área de Engenharia de Software, participei de um projeto no qual pude ampliar minhas

habilidades como programador e também melhorar meus conhecimentos no idioma inglês. Trabalhar em uma empresa líder foi muito enriquecedor e me permitiu fazer contatos valiosos”, afirmou. Empresas também podem patrocinar estudantes de doutorado do CsF. Há uma série de exemplos nesse caso, como a MedImmune, que é um braço da AstraZeneca no desenvolvimento de pesquisas biológicas. Trinta pesquisadores brasileiros vão trabalhar para a MedImmune em três diferentes regiões pelo período de dois anos. Outro exemplo vem da Universidade de Aberdeen, na Escócia, que fechou recentemente um acordo com a BG Brasil e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul para oferecer cursos de doutorado.

Para mais informações sobre o programa Ciência Sem Fronteiras no Reino Unido acesse www.sciencewithoutborders.international.ac.uk


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Eleições 2014

DE SEGUNDO LUGAR À ZEBRA O personagem da terceira reportagem da série sobre os principais candidatos à Presidência da República é Aécio Neves, do PSDB, que de maior adversário de Dilma Rousseff na eleição passou à terceira colocação nas pesquisas de intenção de voto após a entrada de Marina Silva na disputa Por Claudia Ribeiro

Mineiro de Belo Horizonte, Aécio Neves da Cunha nasceu em 10 de março de 1960. É formado em Economia. Casou-se duas vezes e tem três filhos. De uma família com tradição política, o destino já parecia traçado desde a infância em São João Del Rey e Cláudio, no interior de Minas Gerais, e depois no Rio de Janeiro, para onde se mudou com a família aos dez anos e permaneceu até parte da vida adulta. O pai, Aécio Cunha, foi deputado estadual e federal. O avô paterno, Tristão da Cunha, foi um dos autores do Manifesto dos Mineiros, importante documento contra a ditadura do Estado Novo, que ocorreu entre 1937 e 1945. Mas o político mais conhecido da família e que teve influência direta sobre Aécio foi o outro avô: Tancredo Neves, ex-presidente da República e um dos principais símbolos do processo de redemocratização do país. Eleito em 1985, foi o primeiro presidente civil e de oposição após duas décadas de ditadura militar.

PRIMEIROS PASSOS Aos 21 anos, Aécio Neves acompanhou o avô Tancredo na campanha para o governo de Minas Gerais. Era 1982 e Aécio vivia sua primeira experiência política. Ao vencer, Tancredo nomeou o neto assessor. Também foi ao lado de Tancredo que Aécio fez campanha pelas Diretas Já. O movimento, porém, não conseguiu número suficiente de votos para aprovar a Emenda Dante de Oliveira, que garantiria a volta das eleições diretas para a Presidência da República. Mesmo assim, todo o país se mobilizou novamente para o retorno à democracia. Surgiu então outro movimento, o Muda Brasil, que lançou a vitoriosa candidatura de Tancredo Neves para presidente. Na véspera da posse, em 1985, Tancredo foi internado com dores abdominais, morrendo depois de quase quarenta dias de internação. Aécio acompanhou tudo de perto e se tornou mais conhecido pelos brasileiros, pois o país viveu naquele momento uma de suas maiores

comoções nacionais, reforçada pela ampla cobertura dos meios de comunicação durante o período de doença e morte do líder mineiro.

RECORDERS ELEITORAIS A partir de 1986, Aécio deixou de ser coadjuvante para se lançar protagonista na vida pública. Candidatou-se a deputado federal e foi eleito com 236 mil votos, a maior votação registrada em Minas Gerais até então. Começava ali um ciclo de recordes na vida do parlamentar, que participou da elaboração da Constituição de 1988 e foi um dos autores da emenda que instituiu o direito de voto aos dezesseis anos. Teve mais três mandatos consecutivos como deputado federal e foi líder do PSDB na Câmara dos Deputados por quatro vezes. Em 2001, aprovou medidas moralizadoras, como o fim da imunidade para crimes comuns cometidos por políticos. Em 2002, Aécio se candidatou ao governo de Minas Gerais e foi o primeiro governador do Estado eleito em primeiro turno. A votação foi a maior da história até então – outro recorde para a vida pública de Aécio. No governo, ele promoveu o chamado “Choque de Gestão”, uma política de redução de gastos públicos, incluindo cortes nos salários, até mesmo o do próprio governador. Foi reeleito novamente em primeiro turno, em 2006, com 77% dos votos válidos no pleito. Em sua gestão, Minas foi o primeiro estado a matricular as crianças mais cedo nas escolas, o que resultou em 93% dos alunos lendo e escrevendo aos oito anos de idade. Quando assumiu o segundo mandato, em 2006, eram 48,7% de crianças nessa situação. De acordo com pesquisas dos Institutos Datafolha e Macroplan, Aécio esteve sempre entre os governadores mais populares do país. Tanto que, quando terminou o governo, Aécio tinha 92% de aprovação da população mineira. Mais um recorde que ele comemorou.

POLÊMICAS

DE SENADOR A PRESIDENCIÁVEL

Por levar uma vida de luxo, seja no Rio de Janeiro, onde mora, ou nas viagens, passeios e festas que sempre gostou de frequentar – na maioria das vezes acompanhado de figurões da alta sociedade, de belas mulheres e de exjogadores de futebol, como Ronaldo –, Aécio ganhou fama de playboy. Mas um assunto que tira o presidenciável do sério são as drogas. Por diversas vezes, circularam boatos de que Aécio Neves seria usuário de cocaína. Ele atribui a acusação a adversários políticos. “Existe hoje um submundo da política, nas redes. Anonimamente fazem qualquer tipo de acusação sobre seus adversários, esperando que alguém possa trazer esse tema ao jornalismo sério. O que nós assistimos é uma guerrilha da internet”, disse certa vez ao jornal Zero Hora, da cidade de Porto Alegre. Em abril de 2011, Aécio se recusou a fazer o teste do bafômetro em uma blitz da lei seca no Rio de Janeiro. E também apresentou uma carteira de habilitação vencida. A assessoria do senador informou, na época, que o presidenciável não sabia que a carteira estava vencida e que ele não fez o teste justamente porque estava nessa condição. Aécio também foi acusado de não cumprir o piso constitucional do financiamento do SUS entre 2003 e 2008, quando ainda era governador de Minas Gerais. Ele respondeu processo em uma ação civil por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Estadual (MPE). Mas a Justiça desistiu da ação por falta de provas. Neste ano, um escândalo envolvendo a desapropriação de terras para a construção de um aeroporto, em Minas Gerais, atingiu o tucano: segundo denúncia publicada pela Folha de S. Paulo, Aécio, quando governador, construiu um aeroporto na fazenda de seu tio-avô Múcio Guimarães Tolentino, em Cláudio, que fica a apenas 50 km de Divinópolis, cidade que já tinha pista de pouso e decolagem.

Em 2010, Aécio foi eleito senador por Minas Gerais. Entre os projetos de destaque estão os que tornam o Bolsa Família um programa de Estado e que ampliam as garantias das pessoas atendidas. Em 2013, foi eleito presidente nacional do PSDB e, em 14 de junho de 2014, em convenção nacional do partido, Aécio foi escolhido o candidato do partido para disputar a Presidência da República. Desde então, as pesquisas de opinião apontavam o tucano como favorito para disputar o segundo turno da eleição presidencial com a presidente Dilma Roussef, do PT. Mas, após a morte do candidato do PSB, Eduardo Campos, e a substituição pela ex-senadora Marina Silva, vice na chapa de Campos, o quadro eleitoral mudou. Segundo a mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em 29 de agosto, Marina Silva e Dilma Roussef têm cada uma 34% das intenções de voto, enquanto Aécio Neves fica com 15%. Aécio não comentou a pesquisa. Cumpre uma agenda extensa pelo país, apresentando propostas e fazendo duras críticas ao atual governo (leia mais ao lado). Depois de mais de vinte anos participando da vida pública brasileira, Aécio não se cansa de repetir que acredita na capacidade transformadora da política. Representa, de modo geral, a política de estabilização econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também do PSDB, que comandou o país de 1994 a 2002 com uma agenda de privatizações e alinhamento com o capital financeiro. Não é à toa, portanto, que Aécio Neves é o candidato preferido dos investidores internacionais e grandes empresários, além de ter amplo apoio entre os mais ricos do Brasil. Não consegue atingir, porém, a grande maioria dos brasileiros que demonstram disposição em votar na oposição ao governo Dilma – pelos menos por enquanto, como evidenciam as pesquisas eleitorais.


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PRINCIPAIS PROPOSTAS DE AÉCIO NEVES As principais propostas de Aécio Neves incluem Agricultura redução de ministérios, continuidade e apriCriação do Superministério da Agricultura para moramento de programas sociais como o Bolsa Família e compromissos na área de infraestru- analisar investimentos em ferrovias e hidrovias com tura, na tentativa de reduzir os entraves para foco em melhoria na competitividade ao agronegóum maior crescimento do país. Aécio promete cio; incorporação da Secretaria Especial da Pesca; também acabar com a reeleição, criada pelo seu modernização da legislação de crédito agrícola; partido. A seguir as propostas mais relevantes ampliar a cobertura do seguro rural. Reforma agrária e propriedade: Fazendas invadivididas em áreas: didas não serão desapropriadas por dois anos; reforma agrária para a geração de renda; apoio Saúde técnico e tecnológico para os assentamentos. Investir na contratação de mais médicos especia- Área Social listas e colocar em prática um plano de carreira para quem vai trabalhar nos menores centros, Programa Digna Idade: Aumento das aposentadorias em valor acima do salário mínimo e com base além de criar centros especiais de saúde. Garantir financiamento do BNDES para a organi- na variação do preço dos remédios; ampliação de zação de uma Rede de Consultórios de Saúde nas instituições voltadas à terceira idade e qualificaperiferias das grandes cidades, nas regiões mais ção de cuidadores. Programa Família Brasileira: Foco em pessoas em pobres e em áreas violentas. situação de extrema vulnerabilidade inscritas no Educação Cadastro Único do governo federal; apoio maior Criação do Mutirão de Oportunidades para para famílias com situações de desemprego e conceder bolsas de estudo a 20 milhões de com adultos com pouca escolaridade. Nordeste Forte: Aécio apresentou 45 propostas jovens, de 18 a 29 anos, que abandonaram a escola. Os beneficiados receberão um salário- para o Nordeste, divididas em sete áreas, entre -mínimo por mês e passarão por cursos de elas Combate à Pobreza, Infraestrutura e Comqualificação profissional. O programa será petitividade e Educação. custeado com recursos do Plano Nacional de Infraestrutura Educação e do Pré-Sal. Implantação do programa Poupança Jovem. Investimento em rodovias, ferrovias e hidrovias; Para participar, o estudante precisará ter definição de regras claras para execução e gesboas notas e não se envolver em atos de vio- tão; aumento da confiança dos investidores. lência ou crimes. A cada ano do ensino médio Resgate do programa de produção do etanol; inconcluído, o governo depositará o valor de R$ centivo a parcerias da Petrobras com empresas 1 mil numa conta. Ao final do Ensino Médio, o médias para a exploração de gás. estudante poderá sacar o montante de R$ 3 Segurança mil para investir num negócio próprio ou para continuar os estudos. Repasses automáticos e mensais do orçamento do Fundo Penitenciário e do Fundo Nacional de SeguEconomia rança; reforma do Código Penal e do Código de ProInflação e câmbio: Política fiscal transparente; cesso Penal; aumento do efetivo da Polícia Federal combate à inflação com foco no centro da meta e e parcerias com as Forças Armadas para fortalecer a vigilância das fronteiras; criação de protocolos de livre flutuação da taxa de câmbio. Retomada das discussões para um acordo co- ação conjunta para as polícias Civil, Militar, Federal mercial do Brasil com a União Europeia e flexibi- e guardas municipais; criação do Fundo de Valorização das Polícias, que vai apoiar a qualificação. lização das regras do Mercosul. Criação de uma secretaria extraordinária para Reforma política elaboração de projeto de simplificação do sistema tributário; correção da tabela do Imposto de Apresentação de proposta de reforma política nos Renda para assegurar isenção a uma faixa maior primeiros dias de governo; defesa do fim da reeleide trabalhadores. ção, sugerindo mandatos de cinco anos; unificação Redução do número de ministérios e diminuição das eleições municipais, estaduais e nacionais num de cargos comissionados. mesmo ano; defesa do voto distrital misto. g

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CONECTANDO

UMA CERVEJA ANTES DO ALMOÇO A seguir um trecho editado do livro ‘A Beer Before Lunch’, que apresenta uma mistura de contos e relatos sobre como se perder em uma Recife ocasionalmente anárquica e invariavelmente inebriante Por James Young g

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busca do que o ex-presidente Lula chamou de vida digna. Então chega a hora de A Ex-Namorada ir embora. Venha conhecer minha amiga Carla amanhã, ela diz, e desaparece no meio da noite. Encontramos-nos novamente no dia seguinte na casa de Carla no Bairro C. Carla é bonita e inteligente, e veste uma camiseta rosa onde se lê Sexy Girl. Ela é o tipo de jovem de vinte e poucos anos que, se nascida em outra família, provavelmente estaria se preparando para entrar na universidade para se tornar, como sonham muitos brasileiros, uma advogada, uma juíza, uma médica. É tarde de sábado. Carla me oferece uma cerveja gelada. Vai ao quintal colher algumas pequenas, tristes flores e as coloca dentro de uma garrafa com água na mesa da cozinha. Sentamos Carla, A Ex-Namorada e eu, e conversamos. Logo chega uma amiga de Carla, chamada Eduarda, que se junta à conversa. Lá fora o sistema de som de um carro toca funk, a música oficial da juventude da favela. As garotas na rua dançam e gritam quando ao som de MC Creu. Observando elas, penso que poderiam ser jovens aproveitando uma ensolarada tarde de sábado como em qualquer lugar do mundo. Depois disso o fim de semana passa rápido. Encontro outros amigos no sábado à noite, visito a família

da Ex-Namorada no domingo. E na segunda pela hora do almoço eu já estou de volta a Recife. Enquanto espero o ônibus do lado de fora do aeroporto e sinto o calor queimar minha pele, penso que estou de volta ao lar, mesmo que não seja exatamente meu lar, e que provavelmente nunca seja. Volto a pensar sobre A Ex-Namora e a tarde que passamos na cozinha da Carla. A ligação chega uma semana mais tarde. A Ex-Namorada me conta como na quinta-feira depois que eu parti de Belo Horizonte ela estava caminhando na rua ao lado de Carla quando foram abordadas por quatro homens em suas motocicletas. Eles atiraram uma vez no ombro da Ex-Namorada e oito vezes em Carla, seis na cabeça. Carla morreu na hora. Ela estava envolvida com o tráfico de drogas e matinha isso em segredo. Os assassinos eram membros de uma gangue de uma favela ao lado. A Ex-Namorada me conta que está evitando sair na rua – embora ela nunca tenha se envolvido com o tráfico, a amizade com Carla a colocou em uma situação perigosa. Fico estático no meio da calçada, com o celular colado ao ouvido. Ouço a voz da Ex-Namorada. Ela fala, fala, até que sua voz fica tão baixa que não posso mais ouvi-la, e então desaparece como uma flor seca. Não tenho nada a dizer, afinal, o que poderia eu dizer?

James Young vive no Brasil há quase dez anos e, além de produzir conteúdo jornalístico para uma série de publicações, escreve ficção.

COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk

Divulgação

Voltei a Belo Horizonte para visitar A Ex-Namorada. Foi A Ex-Namorada – é bom que se diga – a grande responsável por me tirar do Brasil de fantasia onde turistas do exterior normalmente se atolam: aquele dos shoppings centers, dos hotéis caríssimos e dos condomínios fechados de frente para o mar. A Ex-Namorada mora em uma área pobre chamada Bairro A (não é este o nome real, é claro, pois não me parece inteligente usar nomes verdadeiros nesta estória), na imunda Zona Norte da capital mineira. Encontrei-a no centro da cidade por volta da meia noite. Bebemos Antártica estupidamente gelada e conversamos sobre o passado – sobre como o Mineirão parecia estar lotado com 60 mil atleticanos em dias de jogo, se nosso amigo Jamie ainda fabricava aquela cachaça letal no bar ao lado do apartamento que um dia compartilhamos no Bairro B, como o pão de queijo e o café fresco estavam entre as coisas que eu mais sentia falta do tempo em que eu vivia em Belo Horizonte. A Ex-Namorada me conta que fez novos amigos do Bairro C, uma favela ao lado do Bairro A. O que, por si só, não é grande motivo para alarde – já que essas áreas são frequentemente palco de grande pobreza e sofrimento, sem contar a violência entre traficantes de droga e policiais, mas igualmente lar de milhões de pessoas comuns em

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Brasil Observer

GUIDE

METAL WOOD SKIN

DIVULGATION/SOUTHBANK CENTRE

Percussionist Colin Currie (photo) and the Brazil’s Youth Orchestra of Bahia, conducted by Ricardo Castro, perform new work by Julia Wolfe and Mahler’s First Symphony this month at Southbank Centre. >> Read on pages 16 and 17

Percussionista Colin Currie (foto) e a Orquestra Sinfônica Juvenil da Bahia, regida por Ricardo Castro, apresentam novo trabalho de Julia Wolfe e a Primeira Sinfonia de Mahler no Southbank Centre este mês. >> Leia nas páginas 16 e 17


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Bahia’s By Gabriela Lobianco

After four years since their European debut, the Youth Orchestra of Bahia, directed and conducted by the maestro Ricardo Castro, returns for a third concert, this time with the percussionist Colin Currie at London’s Southbank Centre on 17 September. The presentation is part of Metal, Wood, Skin: The Colin Currie Percussion Festival. The young people who make up the philharmonic are aged between 12 and 29 years, but have had a rich and enviable artistic experience from touring the United States and European countries. “Returning to Europe at this moment, with a mature orchestra is always a sign of growth and recognition for our work and dedication,” said Ricardo Castro in an exclusive interview with the Brasil Observer. The Brazilian musicians will present a

Youth Orchestra of Bahia will be conducted by Ricardo Castro, who became the first Brazilian to receive the Honorary Membership of the Royal Philharmonic Society

Orquestra Por Gabriela Lobianco

Após quatro anos de sua estreia na Europa, a Orquestra Sinfônica Juvenil da Bahia (YOBA – Youth Orchestra of Bahia), dirigida e regida pelo maestro Ricardo Castro, retorna para um terceiro concerto no Southbank Centre, em Londres, dia 17 de setembro, junto ao percussionista Colin Currie. A apresentação é parte integrante do evento Metal, Wood, Skin: The Colin Currie Percussion Festival. Os jovens que compõe a filarmônica têm entre 12 e 29 anos, mas carregam experiência artística invejável com turnês pelos Estados Unidos e por países europeus. “Voltar à Europa neste momento, com uma orquestra amadurecida, é sempre um sinal de crescimento e reconhecimento pelo nosso trabalho e dedicação”, afirmou o


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Youth Orchestra performs in London show of the works from the 20th century, by Gustav Mahler, and the 21st century, by Julia Wolfe. The contemporary work of Wolfe, riSe and fLY, was specially composed for percussionist and soloist Colin Currie, who won the Royal Philharmonic Society Young Artist Award in 2000. Taking inspiration from genres of rock, folk and classical, plus American rhythms and beats from New York, the work has been intended to “take Colin to a new place and to bring something earthy and visceral to the orchestra – to break with formality and get down and dirty.” The union of these three talents brings a perfect combination of classical music with the final touch of modernity. Ricardo Castro stressed that “one of the important points of our methodology is to put challenges in front of our youth musicians,” when explaining the choice of Mahler’s

First Symphony as part of the presentation. The conductor said that the invitation to play with Currie was a great opportunity. “We like Bahia’s percussion movements, but it would be a crime to limit ourselves to this unique language when we know that children and young people around the world aspire and need another kind of artistic expression.” Castro also said that since the beginning of Neojibá the number of musicians keeps growing, “today in Bahia we have more young people interested in playing in a symphony orchestra than in other musical groups.”

Neojibá The Youth Orchestra of Bahia is the result of Neojibá (State Centres for Youth and Children’s Orchestras of Bahia), in g

operation since 2007 to “achieve excellence and social integration through collective practice of music”, as described on the institution’s page. The first Brazilian youth orchestra to perform in London played at the Queen Elizabeth Hall in London in July 2010. They also developed a partnership of musical exchange with the National Youth Orchestra of Great Britain (NYO) in order to share experiences and musicality. This pioneering program is based on the acclaimed Venezuelan program, El Sistema created 35 years ago, and has led to social integration through music, on the outskirts of Salvador (Bahia’s capital), which today can be considered an international success. For Gillian Moore, head of the Southbank Centre’s Classical Music

Department, it will be a festival of great importance to the 2014/2015 season. She argues that “the cream of today’s composers coming forward to write new works for Colin, a percussion festival is the perfect vehicle to showcase this undaunted soloist while celebrating Southbank Centre’s commitment to new music”. Other attractions will be part of Metal, Wood, Skin: The Colin Currie Percussion Festival, as the world premieres of Steve Reich’s Quartet for two vibraphones & 2 Pianos and Percussion Concerto Andriessen’s, Tapdance - by James MacMillan and Anna Clyne. Also, on 12 November, at The Clore Ballroom of the Royal Festival Hall, Colin Currie will perform a free concert for schools, showing different ways to use rhythm and music games.

For more information about the presentations, as well as to purchase tickets, visit www.southbankcentre.co.uk

Juvenil da Bahia concerta em Londres maestro Ricardo Castro em entrevista exclusiva ao Brasil Observer. O programa que será apresentado na noite de gala junto aos músicos brasileiros terá obras do século 20, de Gustav Mahler, e do século 21, de Julia Wolfe. Sendo que a obra contemporânea de Wolfe, riSe and fLY, foi composta especialmente para o percussionista e solista Colin Currie, ganhador do prêmio do Royal Philharmonic Society Young Artist Award em 2000. Com inspiração em gêneros do rock, folk e clássico, além de ritmos americanos e batidas das ruas de Nova Iorque, a autora resume ter como intenção “transcender Colin para um novo lugar e trazer algo visceral e terrestre para a orquestra, rompendo com a formalidade e trabalhando profundamente”. A junção desses três talentos traz uma

combinação perfeita entre música clássica e o toque definitivo da modernidade. Ricardo Castro ressaltou que “um dos pontos importantes de nossa metodologia é colocar desafios diante de nossos jovens”, ao explicar a escolha pela Primeira Sinfonia de Mahler como parte integrante do programa. O maestro disse ainda que o convite para tocar com Currie foi uma questão de oportunidade. “Gostamos dos movimentos percussivos baianos, mas seria um crime nos limitarmos a essa única linguagem quando sabemos que jovens e crianças do mundo todo aspiram e precisam de outro tipo de expressão artística”. Castro afirmou ainda que desde o início os números do Neojibá não param de crescer: “hoje talvez tenhamos na Bahia mais jovens interessados em tocar em uma orquestra sinfônica do que em outros grupos musicais”. g

Neojibá A Orquestra Juvenil da Bahia é fruto do Neojibá (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), que atua desde 2007 no intuito de “alcançar a excelência e a integração social por meio da prática coletiva da música”, como descrito na página da instituição. Trata-se da primeira orquestra jovem brasileira a se apresentar no Queen Elizabeth Hall, em Londres – o que ocorreu em julho de 2010. Além disso, desenvolveu uma parceria de intercâmbio musical com a National Youth Orchestra of Great Britain (NYO), a fim de trocar experiências e musicalidades. Esse programa pioneiro baseado no aclamado El Sistema, programa venezuelano criado há 35 anos, levou à periferia de Salvador integração social por meio da música, que hoje pode ser consid-

erado um sucesso de talentos internacional. Para Gillian Moore, chefe do departamento de Música Clássica do Southbank Centre, será um festival de suma importância para a temporada 2014/2015 do centro cultural. Ele argumenta que, “com a nata dos compositores que compõe para Colin, um festival de percussão é a forma perfeita de mostrar o trabalho desse solista destemido no Southbank Centre e seu comprometimento musical”. Outras atrações farão parte do Metal, Wood, Skin: The Colin Currie Percussion Festival, como as estreias mundiais de Steve Reich’s Quartet for 2 Vibraphones & 2 Pianos e Andriessen’s Percussion Concerto, Tapdance – por James MacMillan and Anna Clyne. Dia 12 de novembro, no The Clore Ballroom do Royal Festival Hall, com entrada gratuita, Colin Currie fará um concerto para escolas, mostrando diferentes formas de usar ritmos e jogos musicais.

Para mais informações sobre as apresentações, assim como compra de ingressos, acesse o site www.southbankcentre.co.uk


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NINETEEN EIGHT-FOUR

By Ricardo Somera

These days it seems like everyone you meet is multi talented and working on a range of complimentary projects at one time. Today no one says they are solely musicians, photographers, advertising execs or doctors. Instead we are all commentators, cultural producers, or entrepreneurs. This seems like a practical concept for the “everything together and mixed” philosophy. With a growing number of people more talented, educated, knowledgable and experienced than before, it is in this search for a place in the world that interesting projects arise, here I focus on two and will tell you now to keep an eye on these entrepreneurial creative women because they will give us much to talk about in the future. MANDALA DE NÓS ‘Mandala de Nós’ (roughly translated as Mandala from Us) is not just an art project, but a lifestyle that artist, advertising and art teacher Andréa Tolaini adopted for herself. The project seeks to portray the essence of people by painting mandalas, which are spiritual images that can provide inner recognition. As a consequence, it is thought that they open a path to on-going self-knowledge. I met the artist when she had just graduated, was working as project manager in an advertising agency but was dissatisfied with the direction her life. She dropped the shackles and went to London in search of alternatives for a more simple g

Divulgation

Creative minds and creative life. Back in Brazil, she began her experiments until mandalas came to her and eventually to us all. There is still a long way to walk, but the first step against the pre-established models of life has already been taken. Learn more about this story in the Colors in Motion mini-doc (http://vimeo.com/101410324).

Por Ricardo Somera

Nada nem ninguém é uma coisa só nos dias que correm. Não existe mais músico, fotógrafo, publicitário ou médico. Hoje somos jornalista/produtor cultural/empreendedor/DJ. É o conceito prático do “tudo junto e misturado”. Nessa busca por um lugar no mundo é que surgem projetos interessantes como Mandala de Nós e Salpic Cultural. Podem ficar de olho nas dicas que passo a seguir porque essas empreendedoras/mulheres/criativas vão dar muito que falar.

SALPIC CULTURAL The Salpic Cultural project, by Camila Zupo, winner of the Young Creative Entrepreneur award in 2014 from the British Council in the category Fashion & Design, also came from the desire for transformation. For this, she became a cultural producer split into Salpic Creative Bureau, Salpic Wearable Art and Salpic Social. Salpic Wearable Art is the fashion element of the project and is a sustainable fashion atelier which incorporates upcycling by reusing raw materials, this approach is applied to everything down to the furniture in the studio, which is upholstered in fabrics discarded by the furniture industry. The brand also proposes a deconstruction of gender codes in discussion, seeking to recover the individual expression. Like the mandalas of Andreia Tolaini, Camila Zupo’s bespoke projects are unique, exclusive and the personality of each client is very important. From the 13 to 20 September, Camila will be part of London Fashion Week and will have the opportunity to share, learn and inspire other British professionals in the industry.

1f you want to know more, send a tweet to @souricardo

Criativas mentes

MANDALA DE NÓS Mandala de Nós não é apenas um projeto artístico, mas um estilo de vida que a artista, publicitária e professora de arte Andréa Tolaini tomou pra si. O projeto busca retratar a essência das pessoas através da pintura de mandalas e proporcionar o reconhecimento de si. Como consequência, é aberto um caminho para o autoconhecimento. Conheci a Deia na época em que ela era recém-formada e gerente de projetos em uma agência de publicidade – e insatisfeita com o rumo que estava dando à sua vida. Largou as amarras e partiu rumo a Londres em busca de alternativas para uma vida mais simples e criativa através da arte. Voltando ao Brasil, começou a fazer seus experimentos até que as mandalas chegaram até ela e a todos nós. Ainda há muito chão para caminhar, mas o primeiro Keep your eyes: Andréa Tolaini and Camila Zupo

g

passo contra os modelos de vida pré-estabelecidos já foi dado. Conheça mais essa história no mini-doc Colors in Motion (http://vimeo. com/101410324). SALPIC CULTURAL O projeto Salpic Cultural, de Camila Zupo – vencedora do prêmio Young Creative Entrepreneur 2014 do British Council na categoria Fashion & Design –, também surgiu da tentativa de fazer do seu lado B o seu lado A. Para isso, ela criou uma produtora cultural que se divide em Salpic Creative Bureau, Salpic Wearable Art e Salpic Social. A Salpic Wearable Art – o braço fashion da Salpic – é um ateliê de moda sustentável que tem como base para suas criações o ‘upcycling’, técnica de reaproveitamento de matéria-prima. No caso do ateliê, tecidos de tapeçaria descartados pela indústria moveleira. A marca também propõe a desconstrução de códigos de gênero como discussão, buscando recuperar a expressividade individual. Assim como as mandalas da Andréia Tolaini, os projetos de Camila Zupo são únicos, exclusivos e com a personalidade de cada cliente. Neste mês de setembro, Camila irá acompanhar a London Fashion Week (13 a 20) e terá a oportunidade de compartilhar, conhecer e inspirar outros profissionais britânicos de destaque no setor.

Se quiser saber mais, mande um tweet para @souricardo


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GOING OUT

OBSERVATIONS IN BRAZIL

BRAZILIAN CINEMA

SPECIAL READINGS

12 September – 7 November

17 September, 6.30pm

24 September, 6.30pm

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The Embassy of Brazil and Lucid-ly Productions present a rare collection of 50 photographs by Sir Benjamin Stone. Curated by Rodrigo Orrantia and Pete James from the Stone archive at the Library of Birmingham, the photographs were taken during a Royal Astronomical Society expedition set out to observe a full solar eclipse in the Brazilian Amazon in 1893. Stone also documented his journey by sea to Brazil, photographing the people and places he discovered upon arrival. A keen observer of individuals, Stone captured images that portray different sections of Brazil’s already diverse society towards the end of the nineteenth century.

The lively João Grilo and the sly Chicó are poor guys living in the hinterland who cheat a bunch of people in a small Northeast Brazil town. But when they die, they have to be judged by Christ, the Devil and the Virgin Mary, before they are admitted to paradise. Born as a hit stage play by Ariano Suassuna, made into a hit TV miniseries, the story was then brought to the big screen, where it became one of Brazil’s all-time box office hit. ‘Auto da Compadecida’ (‘A Dog’s Will’) won 7 international awards and was nominated for best film at the Cartagena Film Festival in 2001. Directed by Guel Arraes, it will be screened with English subtitles.

Critically-acclaimed writers João Gilberto Noll and Paulo Scott have teamed up for a special event as part of each author’s 2014 UK tours. They will be reading from their latest works and leading a discussion on subjects including the state of contemporary Brazilian literature, the short story in Brazil, and the country’s multiple social and cultural issues. Noll will be in the UK to promote the short-story anthology The Book of Rio, which contains his story Alguma Coisa Urgentemente (Something Urgently); Scott will be here to launch the UK edition of his Machado de Assis Prize-winning novel Habitante Irreal (Nowhere People).

A family festival with a Brazilian beat! The second FlipSide Festival will take place at Snape Maltings, Suffolk, over the first weekend of October 2014. Literature, art, music, food and drink, children’s events, dance, cooking demonstrations, capoeira and football will all be celebrated. October 5th is the day of the Brazilian Presidential Election, and a panel of eminent Brazilian experts will debate the state of play in South America’s no longer sleeping giant. Throughout the weekend a Brazilian street market will offer delicious street food, drink, crafts, art work and many other attractions on tempting stalls for young and old.

FLIPSIDE FESTIVAL 3 – 5 October Where Snape Maltings, Suffolk Tickets £130 (Wekeend Pass) >> www.flipsidefestival.co.uk

DIVULGATION

ADRIANO COSTA

RIO BRIO

CITY VISIONS

Until 27 September

27 September

25 September – 9 November

Where Sadie Coles HQ, 62 Kingly Street Tickets Free >> www.sadiecoles.com

Where Charleston, East Sussex Tickets £10 >> www.charleston.org.uk

Where Barbican Tickets £9.50 >> www.barbican.org.uk

Brazilian artist Adriano Costa presents his first solo exhibition in London – also his first with Sadie Coles HQ: Touch me I am geometrically sensitive. Made over a period of two months in London during the lead-up to the exhibition, Costa’s latest works harness everyday objects – mostly gathered in situ – so as to magnify their basic geometrical patterns, textures and colors. While probing the imaginative and aesthetic potential embedded in the stuff of daily life, Costa’s sculptures, paintings and installations also allude implicitly to the wider system in which art is made, validated and sold. Adriano Costa lives and works in São Paulo.

Brazil is the destination of the moment and Small Wonder – The Short Story Festival is delighted to be hosting some of its writers. Tatiana Salem Levy (photo) was selected as one of Granta’s Best of Young Brazilian Novelists. Her debut novel, A chave de case, won the São Paolo Prize for Literature and is due for publication in the UK next year. João Gilberto Noll is one of Brazil’s most distinguished and popular authors. He has written nineteen books and won more than ten literary awards. Lucy Greaves won the 2013 Harvill Secker Young Translator’s Prize.

A season of films, talks and debates, exploring the ways in which cinema has engaged with the phenomenon of the modern city and the experience of urban life. Beginning with the cycle of silent films in the 1920s known as City Symphonies, and extending to current-day representations of life in the over-saturated megalopolises of South America, Africa and China. Special Brazilian Film Screenings on October 5: ‘Precise Poetry - Lina Bo Bardi’s Architecture’, ‘São Paulo, A Metropolitan Symphony’, ‘Oscar Niemeyer – Life is a Breath of Air’, ‘Neighbouring Sounds’ (photo).

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New Canvas Over Old

Bye Bye Brazil By Kate Rintoul

So after a whirlwind six months that flashed by far too quickly I’m leaving Rio this week. While I admit things haven’t always been easy here (finding accommodation was a nightmare, the expensive rent didn’t leave much money to enjoy the city as much as I wanted), it has still be an amazing time, one I will cherish for years to come. I’m still undecided if I’ll be returning to Brazil in 2015, every conversation about the pros and cons comes full cycle and I guess we will only know for sure when I’ve had some space to reflect on everything that’s been and could be. As I weigh up all the experiences and think about everything I’ve seen and done it seems like a good time to think about what I’m going to miss most about living like a carioca.

The Bakeries On one of my first days in here, when I was staying with a lovely Brazilian family, I was initiated into the eating of cake at breakfast and knew this was a country I could be happy in. Our apartment in Glória is literally five steps from a 24hour bakery and I have eaten my way through a fair share of Brazilian cakes and breads. It’s great to be able to pop out and buy a sizeable slice chocolate cake at any hour but more I am going to miss the experience of the bakery from practising my Portuguese to people watching, it’s like a little microcosm of life here and sadly there’s nothing like it waiting for me back in London.

New Friends I’ve met some truly wonderful, inspiring and lovely people here and I’m going to miss them so much. Our apartment was basically no more than 15 minutes from all of our friend’s houses so it’s been amazing to be able pop in and see friends

for coffee or dinner and a far cry from London where some of my best friends live over an hour away. Rio is a big city but also a small one at the same time. I lived in the same bit of London for six years and I longed to bump into a friendly face in the street or supermarket, here it’s happened a lot and helped make me feel really at home.

Flamengo So ok, missing the beaches in Rio is pretty predictable, but as this is like 5 minutes from my house it’s become a huge part of my life and for me, Flamengo is not just a beach, it’s a way of living. Flamengo is massively underrated, which is also what makes it so good as it’s full of local people escaping the bustle of nearby downtown and having a break from the stresses of life rather than tourists and expats. From afternoon strolls to meetings to cycling on Sundays and of course the odd sunbathing session I’ve had so many happy times there and it’s probably had the biggest impact on how I live.

The views Rio has to be one of the most breathtaking cities in the world. Nestled between mountains and sea, with a lagoon, rainforest and mini waterfalls, it’s a city of wonderful beauty. There are so many good views here, not just from the big tourist sites but just everyday vistas like looking out from my friend’s house in Santa Teresa to the Niteroi bridge, to seeing the view of downtown in the golden light of dusk to looking up at Cristo from pretty much anywhere in the city. Even when I’ve been super busy, or stressed I’ve always tried to make sure I lake the time to always look around and appreciate these views, I’m hopping they’ll be like mental postcards I can revisit during the wintery days back in London.


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Visit Brazil

Até logo, Brasil Por Kate Rintoul

Eis que, depois de seis meses que passaram mais depressa do que eu gostaria, estou partindo do Rio nesta semana de volta a Londres. Ainda que eu admita sem rodeios que as coisas nem sempre foram fáceis por aqui (encontrar um apartamento foi um pesadelo e o alto aluguel não me deixou muito dinheiro para aproveitar a cidade como eu gostaria), no final a conta é extremamente positiva. Ainda não decidi se volto para o Brasil em 2015. Toda conversa sobre prós e contras vem cheia de altos e baixos, então eu imagino que só saberei com certeza depois de algum tempo de reflexão sobre tudo o que aconteceu e o que pode acontecer no futuro. Já que me encontro considerando toda essa experiência, acho que é um bom momento para pensar sobre as coisas que eu mais vou sentir falta quando me lembrar do estilo de vida carioca.

As padarias

Chinese View (1), Flamengo embankment (2) and Rodrigo de Freitas Lagoon (3)

Em meus primeiros dias no Rio, quando estava na casa de uma amável família brasileira, fui introduzida ao hábito de comer bolo no café da manhã e soube logo de cara que este era um país onde eu poderia ser feliz. Nosso apartamento na Glória fica a exatos cinco passos de uma padaria 24 horas e posso garantir que comi uma justa quantidade de bolos e pães brasileiros. É excelente poder comprar uma boa fatia de bolo a qualquer hora e, mais do que sentir falta de praticar meu português nas padarias, o que me aperta o coração é saber não encontrarei nada semelhante em Londres.

Novos amigos Conheci algumas pessoas verdadeiramente maravilhosas, inspiradoras e amáveis por aqui e vou sentir muita falta delas. Nosso apartamento fica-

va a menos de 15 minutos de todos nossos amigos, então foi incrível poder encontrá-los a qualquer hora para tomar um café, por exemplo, o que será bem diferente em Londres, onde a maioria dos nossos amigos mora a mais de uma hora de distância. O Rio é uma cidade grande e pequena ao mesmo tempo. Morei seis anos no mesmo lugar em Londres e raramente esbarrei um conhecido no supermercado; no Rio isso aconteceu diversas vezes e sempre me fez sentir como se estivesse em casa.

Flamengo Sim, dizer que sentirei falta das praias do Rio é bastante óbvio, mas como havia uma a cinco minutos da minha casa devo confessar que se tornou parte fundamental da minha vida. Pois Flamengo não é apenas uma praia, é um estilo de vida. A praia do Flamengo não está entre as favoritas dos turistas, o que também é o que faz dela tão boa, já que é repleta de moradores locais fugindo da confusão do centro e dos turistas. De encontros no final da tarde a passeios de bicicleta no domingo, e também banhos de sol, foi o lugar onde provavelmente tive os momentos mais felizes.

As vistas O Rio com certeza é uma das cidades que mais tiram o fôlego dos visitantes. Aconchegada entre montanhas e o mar, com uma lagoa, uma floresta tropical e pequenas cachoeiras, a cidade é de uma beleza magnífica. Há muitos lugares para apreciar a vista, desde os pontos turísticos até as janelas das casas dos amigos em Santa Tereza, por exemplo. Mesmo quando eu estava cansada e ocupada, sempre dava um jeito de apreciar a vista. Espero que tenha servido para gravar esses momentos na memória como cartões postais – quem sabe não me aquecem no inverno de Londres.


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MUSIC TO WEAR

By Bia Brunow Dalla Translated by Marielle Machado

Manoella Mariano

Tear up the rules

Sobre padrões Por Bia Brunow Dalla

Há algum tempo ganhei uma promoção de uma revista de moda e fui com tudo pago para a inauguração de uma loja de sapatos em Los Angeles. Acho que me acharam “interessante” e acabaram me pedindo para fazer algumas matérias para o site da revista. Uma das pautas foi sobre uma forma de usar roupas “inadequadas” para meu tipo físico. Engoli minha vergonha e fui aproveitar a chance. Acontece que, quando se fala em segmento “plus size”, já consigo enxergar muitas pessoas se sentindo excluídas da moda tradicional e do circuito convencional de compras. Parece que só é possível encontrar panos para cobrir o corpo em lojas especializadas ou em lojas de tecido... Eis o grande problema de toda publicação nesse sentido – na maioria das vezes, embora não seja a intenção, elas excluem qualquer pessoa fora de um padrão pré-estipulado. Eu compro roupa em tudo quanto é lugar e acho que a maioria das pessoas pode sobreviver além do que supostamente é permitido. Nunca parei para pensar no que posso ou não usar. Para me vestir, geralmente me baseio no humor, ocasião, diversão, nas cores da (minha) moda naquele momento e na produção que vai combinar com aquele maxi brinco que acabou de chegar da lojinha virtual (quem nunca?). E acho que tem dado certo – para mim, pelo menos. Existe uma segunda dificuldade: esse rótulo “plus size”, “curvy”, “tamanho especial”, “gordinha”, e por ai vai... Tende a me reduzir a um número. E quando me olho no espelho, das vezes que me sinto feliz, mas também quando não me sinto, em absolutamente nenhuma delas eu sou um número. Então prefiro ser mais que isso, embora isso seja uma conclusão quase exclusivamente minha. Em 27 anos preferindo não ser igual, acabei me dando conta de umas coisas que podem ajudar mais que um blazer preto chique: Não importa quantos números a cinta modeladora promete diminuir, seu corpo permanece o mesmo; Cores escuras não emagrecem. E, em excesso (e com falta de criatividade), podem deixar você bem chata; Use você um biquíni de lacinho ou um blusê (vestido tido como coringa para quem está acima do peso - QUE EU ODEEEIO), quem for de falar da vida alheia, vai falar; Quando você se olhar no espelho, se olhe no espelho (risos). Não exija 100% de satisfação. Essa coisa de “se aceitar” soa como se você tivesse fazendo um esforço. Esse é seu corpo! Ele funciona? Então está beleza; Quando o mundo te der limões, faça uma torta de limão e jogue na cara da próxima pessoa que achar que você deve mudar. (Essa última soa adolescente, mas é uma boa coisa para se mentalizar).

A while ago I won a fashion magazine competition and got to go on an all-expenses-paid trip to Los Angeles to celebrate the opening of a shoe shop. I think they thought I was “interesting” and I ended up being asked to write for their website. One of the features was about ways of wearing clothes usually considered “inappropriate” for my body type. No matter how much fashion pretends to consider “plus size”, lots of people feel excluded from trends and the conventional way of shopping. It seems like plus size people can only find clothes at specialised shops, which are often not as trend-driven. The biggest problem is that most of the time, even if not intentionally, all fashion publications, exclude anyone outside the pre-set standard of body shape or shopping habits, forgetting that plus size people can’t always shop at standard shops. I buy clothes everywhere, and I believe that most people can actually enjoy more fashion than they are supposedly allowed to - for me, getting dressed has to be fun. Here is my way of thinking: I never stop to think about what I can or cannot wear. To get dressed, I usually start with my mood, the occasion, then consider the colours I’m obsessed with at the time and what kind of look will match those fabulous new earrings that have just arrived. And I think it has worked. I find that labels like “plus size”, “curvy”, “special size”, it goes on and on... tend to reduce me to a number. In reality, when I look in the mirror, whether I’m feeling happy, excited, frustrated or sad, in absolutely no case do I ever feel like a number. So after 27 years of not wanting to be the same, I know a few things and have debunked some fashion myths when it comes to plus size dressing: No matter how many sizes span promise to slim you, your body remains the same Dark colours don’t make you look slimmer and when worn in excess they show a lack of creativity and you can leave the house with a pretty boring outfit It doesn’t matter if you’re wearing a tiny bikini or a big blouse (a no-no for those who are overweight – WHICH I HAAATE) people who get their kicks from talking about other people will still talk about you When you look in the mirror, really look in the mirror. Do not demand a 100% satisfaction. This idea of “accepting” your body sounds as if you have to make an effort to feel good about yourself. This is your body and it’s beautiful When the world gives you lemons, make a lemon pie and throw it in the face of the next person who tells you that you should change. (Okay, this one sounds a bit juvenile. But it’s a good one to think about).

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This conversation continues on www.musicaparavestir.co.uk

Some pictures of me warring things that are usually prohibited for my body shape: horizontal stripes, colourful trousers, white and transparent fabrics

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Essa conversa continua em www.musicaparavestir.co.uk


TRAVEL Coffee country

Coffee is intimately linked to the history of Brazil. During the colonial and republican periods, coffee production had such an impact on the country that to this day, Brazil is the largest producer and exporter and the second largest consumer of coffee in the world. The legacy of this important trade can be seen across Brazil and attracts a high number of tourists and coffee lovers. Both in it’s history and present, Brazil’s agriculture has fed the world, and for Minister of Tourism, Vinicius Lages, celebrating Brazil’s culinary history and gastronomy is an important way of attracting new visitors to Brazil. “The food was one of the features that was best evaluated by the foreigners who were in Brazil during the World Cup, with 93.2% approval,” he said recently. Two of the most visited of these destinations are the Coffee Route in the north of Paraná State, and the Museum of Coffee in Santos (São Paulo State). Visitors not only have the

chance to taste lots of varieties of coffee, they can also learn a little more of its history with special tourist itineraries designed to highlight the importance of coffee to Brazil. The Coffee Route celebrates the coffee culture of a region that thrived thanks to the “green gold” - as the beans were known in the last century. The trip includes visits to historical farms and those still in action, along with museums and memorials. In total the route takes tourists through nine cities, including Londrina, once considered the “world capital of coffee”. The historic centre of Santos is home to the Coffee Museum, where visitors can see a range of exhibits from photographs, objects and documents that show the evolution of coffee production. The collection takes visitors on a journey into the past, linking coffee to Brazil’s wider social history, beginning with the arrival of the first seedlings of the plant, to the mechanisation of plantations

and the arrival of the Japanese and European immigrant workers. The world’s thirst for coffee has continued to grow and the third wave coffee movement of the last decade has made more foodies fascinated to know the origin of coffee and how it is produced, so Brazil’s history and excellent attractions should be drawing coffee buffs from around the world. Coffee Route: The trip includes 34 attractions in nine municipalities in northern Paraná. To purchase the package, look for one of the accredited travel agencies at www.rotadocafe.tur.br. Between 10 November and 7 December, the region will also host the 4th Gastronomy, Culture and Leisure Coffee - Coffee Fest, with various sweet and savoury dishes, all made with coffee. Museum of Cofee: located in the historic centre of Santos. Tickets for tours are priced at R$5. Students and people over 60 years pay half price. http://www.museudocafe.com.br

O café está intimamente ligado à história do Brasil. Do período colonial ao republicano, a produção marcou a história do país de modo que, ainda hoje, somos o maior produtor e exportador do grão – e o segundo maior consumidor em todo o mundo. As marcas desse processo estão em toda parte e geram grande interesse aos turistas. Entre os destinos mais visitados estão a Rota do Café, no norte do Paraná, e o Museu do Café, em Santos (SP). Além de degustar cafés de diferentes tipos, os admiradores do produto podem conhecer um pouco mais desta história em visitas e roteiros turísticos elaborados especificamente para destacar a importância da bebida para o país. A Rota do Café, na região norte do Paraná, é um roteiro turístico que resgata a cultura cafeeira de uma região que prosperou graças ao “ouro verde” – como o grão era conhecido no século passado. O roteiro inclui visitas a

fazendas históricas e produtivas, museus e memoriais. A rota é composta por nove municípios, incluindo Londrina, que já foi considerada a “capital mundial do café”. Para o ministro do Turismo, Vinicius Lages, a gastronomia brasileira ganha ainda mais importância quando atrelada à história, fortalecendo o potencial turístico que pode ser explorado. “A gastronomia foi um dos itens com melhor avaliação dos estrangeiros que estiveram no Brasil durante a Copa, com 93,2% de aprovação”. O centro histórico de Santos, no litoral paulista, abriga o Museu do Café, onde o turista tem acesso a fotografias, objetos e documentos que mostram como a evolução da cafeicultura e o desenvolvimento do país estão ligados. O acervo permite ao visitante uma viagem ao passado, começando com a chegada das primeiras mudas da planta ao país, passando pela mecanização das plantações e a chegada

dos imigrantes japoneses e europeus para o trabalho nas lavouras. Rota do Café: inclui 34 empreendimentos em nove municípios no norte do Paraná. Para adquirir o pacote, o turista deve procurar uma das agências de turismo credenciadas no site www.rotadocafe.tur.br. Entre 10 de novembro a 7 de dezembro, a região também receberá o 4º Festival de Gastronomia, Cultura e Lazer do Café. Museu do Café: localizado no Centro Histórico de Santos. Seu horário de funcionamento é de terça a sábado das 9h às 17h, e aos domingos entre 10h e 17h. Entre os meses de novembro e março, o Museu abre também às segundas-feiras, das 9h às 17h. Os ingressos para visitação custam R$ 5,00. Estudantes e pessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada. A Cafeteria do Museu funciona de segunda a sábado, das 9h às 18h, e aos domingos entre 10h e 18h.

Divulgation

Admirers of coffee may learn a little more of its history in tourist itineraries designed specifically to highlight the importance of the drink to Brazil

País do café

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