Brasil Observer #18 - Portuguese Version

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FREE HENRIQUE CAZES

LONDON EDITION AUGUST 28 – SEPTEMBER 10

ISSN 2055-4826

Um dos maiores cavaquinistas do Brasil vem a Londres para tocar com o Clube do Choro UK e nos concede entrevista exclusiva >> Páginas 8 e 9

RÔMULO SEITENFUS

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DIVULGATION

NOVA CORRIDA PRESIDENCIAL APÓS A MORTE DE EDUARDO CAMPOS, MARINA SILVA ASSUME CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA E, COM ALTAS TAXAS DE INTENÇÃO DE VOTO, COMPÕE UMA DISPUTA MAIS ACIRRADA COM DILMA ROUSSEFF E AÉCIO NEVES >>

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UKstudyBrazil

Páginas 10 e 11


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BRASILIANCE Reforma política de volta à pauta

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BRASIL NO UK Estudantes brasileiros chegam ao Reino Unido

LONDON EDITION PERFIL

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Henrique Cazes

EDITORA - CHEFE

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CAPA Disputa presidencial muda com Marina Silva

Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk

EDITORES

A trajetória de Marina Silva

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CONECTANDO

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ELEIÇÕES 2014

A experiência de um território autônomo

Kate Rintoul kate@brasilobserver.co.uk

RELAÇÕES PÚBLICAS Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk

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BRASIL OBSERVER GUIDE CASA Night Of Ideas e muito mais...

16 - 17

Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk

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22 -23

24 -25

16 | 17 CAPA DO GUIA 18 NINETEEN EIGHT-FOUR 19 GOING OUT 22 | 23 NEW CANVAS OVER OLD 24 | 25 TRAVEL

COLABORADORES Alec Herron, Antonio Veiga, Bianca Dalla, Gabriela Lobianco, Marielle Machado, Michael Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Wagner de Alcântara Aragão

PROJETO GRÁFICO wake up colab digala@wakeupcolab.com.br

DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com

DISTRIBUIÇÃO Emblem Group LTD mpbb@btinternet.com

E D I T O R I A L

IMPRESSÃO

VIRADA ELEITORAL?

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Por Ana Toledo – ana@brasilobserver.co.uk

ASSESSORIA CONTÁBIL As expectativas de que o ano de 2014 seria agitado para o Brasil superaram-se depois do trágico acidente aéreo que levou à morte do candidato à Presidência da República pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos. Pegou o Brasil inteiro de surpresa – inclusive nós do Brasil Observer, que já estávamos com a última edição impressa quando soubemos da notícia da morte de Campos. Desde então, seguimos acompanhando de perto os desdobramentos políticos do caso, afinal, Eduardo Campos estava em posição de destaque, concorrendo ao cargo mais alto da democracia brasileira. E sua substituição por Marina Silva alterara radicalmente o jogo. Conforme pesquisa Ibope, divulgada pouco antes desta edição chegar à gráfica, a nova candidata do PSB já tem 29% de intenções de votos, atrás de Dilma Rousseff (PT), com 34%, e à frente de Aécio Neves (PSDB), com 19%. Em um eventual segundo turno, Marina venceria Dilma por 45% a 36% dos votos, segundo a pesquisa. Podemos estar caminhando para um cenário nunca visto na história do país: duas mulheres na disputa real e a possibilidade de um terceiro partido quebrar a hegemonia PT-PSDB, que

se alternam na presidência do país desde Fernando Henrique Cardoso em 1994. Resta pouco mais de um mês até o dia da eleição, no dia 5 de outubro, e muita coisa pode acontecer. Nas páginas 10 e 11 desta edição, confira a matéria de Wagner de Alcântara Aragão, que explica as consequências dessa situação com base na primeira pesquisa Datafolha, divulgada no dia seguinte à morte de Eduardo Campos. Lá estão também reflexões sobre o que Marina representa e os desafios que ela terá pela frente, independentemente das pesquisas eleitorais. No especial Eleições 2014, onde estamos apresentando os cinco principais candidatos à presidência, seria a vez de Eduardo Campos, conforme foi pré-estabelecido pela equipe do Brasil Observer e divulgado aqui. Por isso, a bola da vez é Marina Silva. Confira nas páginas 12 e 13 a trajetória de vida e a carreira política da candidata que em 2010 teve quase 20 milhões de votos e que, neste ano, surge como uma terceira via política com reais chances de vitória. Siga em contato conosco através das nossas redes sociais (facebook.com/brasilobserver | twitter.com/brasilobserver).

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BRASILIANCE

PLEBISCITO DA REFORMA POLÍTICA VOLTA À PAUTA Movimentos organizam consulta à sociedade entre os dias 1º e 7 de setembro, em meio a um período eleitoral guiado por influência das doações privadas, e esperam fomentar debate que não será feito no Congresso Nacional Por Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual MÍDIA NINJA

O movimento pelo Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político entrou na reta final, no último dia 12 de agosto, com um ato no centro de São Paulo. O objetivo declarado é o de colocar na agenda nacional muito mais do que faz supor a única pergunta que os cidadãos irão responder na consulta, marcada para ocorrer entre os dias 1° e 7 de setembro: “Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político?”. Segundo a Secretaria Operativa Nacional do movimento, 373 entidades – movimentos sociais e sindicais, associações e partidos políticos – trabalham pelo plebiscito. Já foram criados cerca de mil comitês populares no país. Os ativistas que trabalham no movimento por uma reforma política ampla e com participação popular não acreditam que mudanças possam ocorrer no âmbito do Congresso. “O conservadorismo dentro do Legislativo impede que existam mudanças com esse caráter de ampliar a participação popular. Eles até têm propostas de reforma política, mas não com participação popular. A única forma de criar essa participação popular é através de um processo pedagógico. É por isso que os movimentos sociais constroem essa ferramenta do plebiscito popular”, explica Alberto Marques, integrante do Levante Popular da Juventude de São Paulo. A proposta do plebiscito foi apresentada pela presidenta Dilma Roussef, em junho de 2013, quando a juventude brasileira saiu às ruas por mudanças na política, mas o Congresso Nacional rechaçou a ideia. Na época, a presidenta apresentou cinco tópicos a serem decididos em plebiscito: a forma de financiamento de campanhas a ser adotado; definição do sistema eleitoral; continuidade ou não da existência da suplência no Senado; manutenção ou não das coligações partidárias; fim ou não do voto secreto no Parlamento. A consulta popular de setembro não tem

Ato em São Paulo pela Constituinte Exclusiva

caráter oficial. A convocação de um plebiscito é competência exclusiva do Congresso Nacional. Porém, a avaliação dos movimentos é de que uma representação real da sociedade brasileira no Congresso, com negros, mulheres, indígenas e jovens, somente pode ser concretizada pela reforma política feita por um parlamento eleito exclusivamente para esse fim. A intenção é conseguir mais de 10 milhões de “votos”, número atingido pelo plebiscito popular realizado em 2002 contra a adesão do Brasil à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A iniciativa de 12 anos atrás é considerada por ativistas a principal referência. Na ocasião, 98% disseram não à assinatura do acordo de interesse dos Estados Unidos, descartado pelo então presidente Lula em 2005. Embora o movimento seja amplo e, por isso, muitas entidades tenham sugestões para uma reforma política, existem cinco pontos considerados consensuais e que teriam, para o movimento, necessaria-

mente de ser introduzidos no país por mudanças a partir de uma Constituinte Exclusiva, caso ela venha a funcionar de fato (leia sobre esses pontos no quadro da paginado ao lado). Para os organizadores, as coligações proporcionais são um exemplo das contradições do sistema político brasileiro. Em São Paulo, por exemplo, o PSB é coligado ao PSDB; no Rio de Janeiro, ao PT. Assim, uma votação expressiva de um candidato a deputado federal pelo PSB em cada estado pode ajudar a eleger petistas no Rio e tucanos em São Paulo. Uma possibilidade que “deseduca” os cidadãos na identificação dos programas dos partidos e dos candidatos. Já o financiamento público exclusivo de campanhas é o primeiro a ser mencionado praticamente por dez entre dez militantes em qualquer ato político pelo plebiscito, como o que ocorreu no dia 12 em São Paulo. “As mudanças verdadeiras não vão ser feitas por esse Congresso das em-

preiteiras e do fundamentalismo religioso. Precisamos acabar com o financiamento privado de campanhas”, discursou na ocasião Thiago Aguiar, do Movimento Juntos. Não é por acaso que o financiamento privado das campanhas políticas é considerado a mais nociva fonte de corrupção decorrente do atual processo eleitoral brasileiro. “Temos de esclarecer ao eleitor que a corrupção, muitas vezes, nasce da obrigação dos eleitos de retribuírem aos financiadores aquilo que receberam na campanha e que a moralização do processo eleitoral passa pela sua desprivatização e por tornar a atividade partidária e eleitoral uma atividade pública”, afirma o deputado federal Renato Simões (PT-SP). “O financiamento privado assegura ao poder econômico a influência sobre o poder político. Isso faz com que as empresas elejam seus candidatos. Quem paga a banda, escolhe a música. (Os políticos) são eleitos por doações que, na verdade, não são doações, são inves-


brasilobserver.co.uk 5 timento. A empresa investe numa campanha e depois cobra um retorno muito grande que compromete os interesses do povo no Legislativo”, acrescenta Marques, do Levante Popular da Juventude. Empresas como Camargo Corrêa, OAS, Andrade Gutierrez, Gerdau, Bradesco, Itaú/Unibanco, Santander, Friboi, Ambev e Votorantim são algumas das que mais contribuem com as campanhas eleitorais. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2010 o gasto com a campanha de um deputado federal era, em média, de

R$ 1,1 milhão. A estimativa subiu para R$ 3,6 milhões em 2014. Para um senador, o gasto foi de R$ 4,5 milhões para R$ 5,6 milhões. De acordo com dados divulgados durante os votos do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, os gastos totais das eleições de 2002 para presidente da República, governadores, deputados e senadores foram de R$ 827 milhões. Em 2010, os valores chegaram a assombrosos R$ 4,9 bilhões.

JULGAMENTO A questão do financiamento privado de campanhas está em julgamento no STF. A ação foi ajuizada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A maioria do Supremo já considerou inconstitucional a previsão de doações de empresas privadas a partidos e candidatos no processo eleitoral. O placar está em 6 votos a 1 pela proibição dessa possibilidade e poderia, no máximo, chegar a 6 a 5, caso os demais restantes sejam contra o relatório vencedor do ministro Luiz Fux.

O problema é que o julgamento foi suspenso por pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, no dia 2 de abril. A intenção do ministro seria evitar a discussão do tema em pleno processo eleitoral de 2014. Renato Simões vê intenções mais preocupantes no pedido de vista. “A manobra de Gilmar Mendes pode ter por objetivo que o próximo Congresso, em 2015, legalize, por meio de uma emenda constitucional, o financiamento privado”, afirma o deputado federal.

MULHERES Tirando os cinco pontos consensuais, há questões ligadas às bandeiras específicas dos movimentos sociais, como maior participação de mulheres, mas também de negros e jovens, no Congresso Nacional. “Cada movimento tem algumas pautas específicas. Achamos que numa reforma política teria muita importância a questão do estado laico. No Brasil, o estado é laico no papel, mas, na prática, tem muita dificuldade de fazer valer isso”, diz Maria Júlia Monteiro, militante da Marcha Mundial das Mulheres. Segundo ela, a paridade de gênero na legislação eleitoral forçaria que os partidos pensassem na formação de quadros políticos femininos. “É preciso preencher espaços e, para isso, formar mulheres. Quando se institui a paridade, existe a obrigação de formar mulheres para fazer política, tanto nas organizações como nos partidos”, avalia.

Para Maria Júlia, a sistemática para se instituir a paridade na eleição seria com lista partidária fechada e pré-ordenada e, além disso, com alternância de gênero. “Se o primeiro candidato da lista é um homem, a segunda é uma mulher e assim por diante”, explica. Segundo números que têm sido divulgados pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), em 2014 foram cadastrados, para todos os cargos nas eleições, 13.642 candidatos, dos quais apenas 3.955 (28,99%) são mulheres. Dos 118 candidatos a governador, 15 são mulheres. Atualmente, dos 26 governadores dos estados e no Distrito Federal, apenas duas são do sexo feminino: Roseana Sarney (pelo PMDB do Maranhão) e Rosalba Ciarlini (DEM do Rio Grande do Norte).

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e também alega não haver uma diretiva específica para isso. O artigo 54 é um pouco vago e propício a interpretações”, explica Ana Claudia Mielke. A interpretação do coletivo é de que as concessões de rádio e TV para políticos ferem o artigo 54. “Por isso, junto com o Psol, entramos com a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n° 246, no STF, em 2011. O parecer do STF foi de que havia problemas processuais na nossa ADPF e, por isso, não foi possível julgá-la, mas eles apontaram para a concordância com o mérito da ação e estamos reescrevendo para apresentá-la novamente”, destaca Ana Claudia.

Financiamento de campanha Como é: Partidos recebem recursos do Fundo Partidário, do orçamento do Tribunal Superior Eleitoral. Partidos e candidatos também recebem doações de pessoas físicas e de empresas privadas. Como ficaria: Seriam vetadas doações de pessoas físicas e de empresas. O custeio do processo eleitoral seria integralmente proveniente dos orçamentos do Tribunal Superior Eleitoral.

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Candidaturas proporcionais Como é: As convenções partidárias definem candidatos proporcionais (vereadores, deputados estaduais e deputados federais). Como ficaria: As convenções partidárias indicariam os postulantes a cargos proporcionais. A lista partidária classificaria os candidatos conforme a votação obtida nas convenções. O eleitor votaria na legenda, e os eleitos seriam os mais bem colocados na lista.

Igualdade de gênero Como é: Não existe. Como ficaria: Os partidos teriam de assegurar paridade entre homens e mulheres na composição de sua lista.

Coligações proporcionais Como é: Somam-se os votos obtidos por todos os partidos que compõem uma coligação. São eleitos os mais votados entre os partidos coligados. Em cada estado ou cidade qualquer partido pode se coligar com outro, mesmo que tenham programas diferentes. Como ficaria: Não seriam permitidas coligações para eleições proporcionais. Cada candidato dependeria apenas de seus próprios votos para eleger parlamentares.

COMUNICAÇÕES Para o coletivo Intervozes, o principal tema a se considerar numa reforma política no Brasil é o estabelecimento de regras que proíbam que políticos sejam donos de concessões de rádio e TV, o que deturpa radicalmente o processo político eleitoral. “Hoje, nós temos o artigo 54 da Constituição federal, que diz que deputados e senadores não poderão firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, mas a interpretação atual do Ministério das Comunicações sobre isso é de que vale apenas para os cargos de direção nas emissoras de rádio e TV,

CINCO PONTOS CONSENSUAIS DO PLEBISCITO

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Democracia participativa Como é: Apenas o Congresso Nacional pode convocar referendos e plebiscitos (por exemplo, o da proibição de venda e porte de armas). Como ficaria: Projetos de lei de iniciativa da sociedade organizada poderiam ser submetidos a plebiscito ou referendo.

Para mais informações sobre o movimento pela Constituinte Exclusiva acesse o site www.plebiscitoconstituinte.org.br


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BRASIL NO UK

FUTUROS LÍDERES EMBARCAM PARA O REINO UNIDO Bolsistas brasileiros do Programa Chevening para o ano letivo 2014/2015 chegam em setembro para um ano de mestrado

SOBRE O PROGRAMA Chevening é um programa global do governo do Reino Unido focado em oferecer a potenciais líderes de diferentes áreas do conhecimento cursos de pós-graduação em universidades britânicas. O programa, criado em 1983, adquiriu prestígio em todo o mundo e hoje contempla 150 países. Para o ciclo 2015/2016, serão oferecidas cerca de 1.200 bolsas para alunos com nível superior em todo o mundo. As inscrições para as Bolsas Chevening 2015/16, o programa global de bolsas de estudo financiado pelo governo britânico e organizações parceiras, estão

DIVULGAÇÃO/BRITISH CONSULATE

Vinte e seis brasileiros embarcam para o Reino Unido para iniciar em setembro o ano letivo de mestrado financiado pelo Programa Chevening nas áreas de Mídia, Planejamento Urbano, Relações Internacionais e Direitos Humanos. Os estudantes foram selecionados pelo governo britânico para adquirirem expertise nas melhores universidades da Inglaterra, da Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte e tornarem-se líderes em diferentes áreas de atuação. Antes de viajarem para o Reino Unido, os selecionados compareceram a evento pré-embarque nos Consulados Britânicos em São Paulo, Rio de Janeiro e na Embaixada do Reino Unido em Brasília. O objetivo foi proporcionar troca de experiências entre alunos e representantes do Chevening. Existem hoje cerca de 1.400 “Chevening Alumni” brasileiros trabalhando em posições de liderança por todo o Brasil, de acordo com informações do Consulado Britânico.

Celebração de despedida dos estudantes no Brasil

abertas desde o primeiro dia do mês de agosto. Os interessados podem se inscrever até o dia 15 de novembro. As bolsas Chevening oferecem oportunidade de fazer um curso de mestrado de um ano em qualquer das principais universidades do Reino Unido e cobrem desde passagens aéreas às taxas das universidades. São concedidas a pessoas com perfis de líderes estabelecidos ou emergentes em uma variedade de áreas: política, governo, negócios, mídia, meio ambiente, sociedade civil e academia. Existem mais de 42.000 ex-alunos do Chevening em todo o mundo. Juntos, formam uma rede global altamente conceituada e influente. Dentre os egressos mais proeminentes pode-se citar o ex-presidente

da Colômbia, Álvaro Uribe Velez, o Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Lélio Bentes, e o Diretor de Redação da Revista EXAME, André Lahoz Mendonça Barros, entre outros tantos nomes.

A SELEÇÃO Os bolsistas são selecionados pelas Embaixadas Britânicas e Alto-Comissariados em todo o mundo, às vezes em parceria com organizações patrocinadoras. As inscrições para as Bolsas de Estudo Chevening podem ser feitas em www.chevening. org. O site também apresenta informações sobre os requisitos e critérios de seleção.

As áreas definidas para o Brasil: Comércio e investimento; Negócios, Finanças, Economia e Administração Pública; Segurança Global e Relações Internacionais; Desenvolvimento; Crime; Administração em Esportes para legado de grandes eventos esportivos. Os candidatos para as Bolsas de Estudo Chevening 2015/16 devem: Ter um diploma equivalente a, no mínimo, um bom diploma com honras de segunda-classe do sistema britânico; atingir a proficiência mínima em língua inglesa exigida para o Chevening; ter completado pelo menos dois anos de trabalho ou experiência equivalente; ter uma oferta incondicional de uma universidade britânica.


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PERFIL

Henrique Cazes e seu cavaquinho Em Londres para se apresentar junto ao Clube do Choro UK, um dos mais importantes cavaquinistas brasileiros conversa com o Brasil Observer sobre sua música e carreira, passando pelas origens do choro e de seu instrumento de trabalho RÔMULO SEITENFUS

Por Guilherme Reis

O cenário poderia muito bem ser um botequim no Rio de Janeiro. Quem sabe até o Amarelinho, bar tradicional localizado na Cinelândia, para onde costumavam ir os sambistas das antigas para encontros memoráveis. Ocorre que, na realidade, o local onde se passou a conversa aqui narrada fica em Londres, mais precisamente em frente à estação Baker Street: The Globe, um pub. Afinal, pelo menos uma cerveja (meio) gelada deveria haver para acompanhar o papo. Papo daqueles bem cariocas. Pois Henrique Cazes, que nasceu no suburbano bairro do Méier, no Rio de Janeiro, traz consigo a marca registrada da Cidade Maravilhosa: o samba, o choro e, no colo, o cavaquinho. Sem contar que, invariavelmente, surgiam à mesa nomes de grandes bambas que fizeram e fazem do Rio um oásis da boa cultura: Waldir Azevedo, Radamés Gnatalli, Joel Nascimento, Pixinguinha, Jacob do Bandolim – para ficar apenas entre aqueles que mais inspiraram a carreira do personagem desta entrevista. Cabe perguntar, antes de qualquer coisa, o que traz Henrique Cazes a Londres. E, enquanto nos ajeitávamos ao redor de duas mesas, ele explicou que, ao saber do 12º Congresso da Brasa (Brazilian Studies Association), que aconteceu entre 20 e 23 de agosto no King’s College, juntou o útil ao agradável e fez contato com o fundador do Clube do Choro UK, Gaio de Lima, com quem já havia estabelecido uma relação graças ao flautista Dirceu Leite, que tocou com o clube em 2012. Um dia antes da entrevista, Henrique e Gaio tocaram juntos

na abertura do congresso, e outro encontro musical entre os dois já tinha data para acontecer: dia 30 de agosto, na roda mensal promovida pelo Clube do Choro UK no The Forge, em Camden Town. Com Gaio presente na conversa, perguntei ao Henrique como ele explicaria a um inglês o que é um cavaquinho, seu instrumento de trabalho. “Eu começo falando do ukulele, que hoje em dia todo mundo sabe o que é, pois é um instrumento que está na moda. Daí eu pergunto se sabem de onde vem o ukulele e respondo que vem de um instrumento chamado cavaquinho, que veio de Portugal...”. “Isso cria curiosidade e, quando eu toco, muitas pessoas ficam fascinadas porque o som do cavaquinho é mais harmonioso, mais elaborado, então alguns dizem que houve um retrocesso com o ukulele”, disse Henrique ao lembrar-se da reação que gerou ao tocar o cavaquinho para pessoas acostumadas com o ukulele no Havaí. “Uma maneira importante de falar do choro”, continuou, “é contar a história do ritmo a partir da adaptação das danças europeias”. O Rio de Janeiro em meados do século passado era conhecido como a cidade dos pianos. Dos salões da alta burguesia até as salas de visita da classe média, eram tocadas ao piano as polcas, schottische, mazurcas, valsas e outras danças que vinham da Europa. Ao adaptar estes gêneros, os músicos populares foram acrescentando o sotaque português e introduzindo o lado lúdico comum à música de influência africana. Assim nasceu um jeito choroso de tocar – daí o nome ‘choro’ –, que teve em Joaquim Callado seu primeiro expoente.

A ele se seguiram outros flautistas como Viriato, Luizinho e Patápio Silva. Depois disso surgiram compositores como Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros, que abriram o caminho para que, já na década de 1910, pelas mãos do gênio Pixinguinha, o choro ganhasse uma forma definida. Em seguida vieram Jacob do Bandolim, Luis Americano, Garoto, Radamés Gnattali, Waldir Azevedo e muitos outros, fazendo o choro evoluir, absorvendo e reciclando influências. A história do choro, aliás, é parte importante da carreira de Henrique Cazes, que, em 2005, gravou o disco Desde que o Choro é Choro, passando por toda a trajetória do ritmo. Além disso, lançou, em 1998, o livro Choro, do Quintal ao Municipal, que se tornou uma referência para todos que querem estudar e aprender sobre o tema. Mas, se o cavaquinho nasceu em Portugal, por que hoje ele é considerado um instrumento brasileiro? “O cavaquinho brasileiro criou uma personalidade própria que começou a ser forjada na música dos chorões, nas últimas três décadas do século 19. Quando surgiu o rádio e o samba, o cavaquinho brasileiro teve uma oportunidade que nunca teve em Portugal, que foi a oportunidade de profissionalização. Passou a haver no Brasil emprego de tocador de cavaquinho na rádio. E não só na rádio nacional como também nas rádios regionais. Cada rádio tinha pelo menos um conjunto regional. Então por que o cavaquinho se desenvolveu mais no Brasil? Porque no Brasil ele teve uma chance dentro da música comercial”, argumentou Henrique.


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DA BRINCADEIRA À PROFISSÃO Da mesma forma que o cavaquinho passou a se desenvolver quando virou instrumento de trabalho, Henrique Cazes foi tomado de vez pelo ‘cavaco’ quando surgiu uma proposta de emprego para tocar no Conjunto Coisas Nossas. “Foi o cavaquinho que me escolheu”, disse. Assim como a grande maioria dos músicos, as primeiras influências surgiram dentro da própria casa. “Lá em casa meu pai tocava violão e meus irmãos começaram a tocar. Eu tinha seis anos de idade quando comecei a pegar os primeiros acordes no violão.

Minha mãe sempre cantava o repertório da Carmem Miranda, da Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso... Tocávamos sempre juntos nas festas”, lembrou. Foi quando surgiu o disco Acabou Chorare, da banda Novos Baianos, que Henrique Cazes decidiu que queria aprender cavaquinho. Corria o ano de 1972, Henrique completava 13 anos de idade e o som do cavaquinho e bandolim em músicas como “Brasil Pandeiro” fez com que o jovem se arriscasse no novo instrumento. Mesmo assim, ainda preferia o violão, tocando ca-

vaquinho apenas nos blocos de Carnaval. Em 1976, a virada. Henrique foi convidado para tocar cavaquinho profissionalmente no Conjunto Coisas Nossas e nunca mais parou. No primeiro trabalho, teve que aprender um vasto repertório de músicas de Noel Rosa, o que o introduziu desde o início ao universo da pesquisa musical. Em 1980, passou a integrar a Camerata Carioca, onde trabalhou em contato direto com dois músicos que o influenciaram muito: o bandolinista Joel Nascimento e o maestro Radamés Gnattali. Sobre a

camerata, Henrique afirmou que “era totalmente diferente, pois tive que estudar música de verdade”. A carreira de solista começou em 1988. E, naquele mesmo ano, deu talvez a sua principal contribuição para o universo do cavaquinho: lançou o método Escola Moderna do Cavaquinho, o mais utilizado livro didático do instrumento. Gaio de Lima, aliás, utilizou esse método, apesar de hoje ter o bandolim – parecido com o cavaquinho, mas com quatro pares de cordas – como primeiro instrumento. RÔMULO SEITENFUS

Digo para meus alunos: O que eu tenho para oferecer, mais do que conhecimento, é experiência

Henrique Cazes ao lado de Gaio de Lima

ACADEMIA E LEGADO Além de cavaquinista, arranjador e produtor, Henrique Cazes é também professor universitário. “Meu trabalho como produtor teve uma queda a partir principalmente de 2009, então eu resolvi abrir uma porta diferente e fui fazer mestrado, me tornar professor de universidade”, explicou. Hoje, ele ministra o curso de Bacharelado em Cavaquinho na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Digo para meus alunos: O que eu tenho para oferecer, mais do que conhecimento, é experiência. É uma quantidade de experiência tão grande que você começa a achar que é importante passar adiante, tanto de uma maneira informal, como num ensaio, numa roda, quanto de maneira formalizada, dentro de um curso na universidade. Mas, sobretudo, é che-

gar numa altura da vida e correr menos atrás do imediato, tentar construir uma coisa pra deixar essa experiência ser transformada num conhecimento organizado”, refletiu Henrique. Experiência essa que foi acumulada em mais de 100 produções. “Parei de contar quando fiz 50 anos. Mas contei 127 produções, entre discos de conjunto, discos solo e discos que eu fui produtor ou arranjador”, afirmou o cavaquinista, que hoje está com 55 anos e, mesmo assim, ainda não se sente totalmente confortável em dizer que faz parte da história do choro. “É estranho porque na verdade tenho um espírito muito jovem. Estou sempre começando a fazer alguma coisa que eu não sei. Fui fazer mestrado com 50 anos. Então, ao mesmo tempo em que sei que tenho uma enorme experiência,

estou sempre entrando em alguma coisa que eu não sei fazer, como mexer com áudio, trabalhar sons antigos e melhorá-los”, contou. Questionado sobre quais de suas obras ele considerava mais importantes, respondeu: “O disco Pixinguinha de Bolso, com Marcello Gonçalves, foi muito importante. Tocamos três anos juntos o repertório antes de gravar, então no estúdio foi tudo muito natural. O livro Escola Moderna do Cavaquinho também foi importante, mas o livro sobre a história do choro (Choro, do Quintal ao Municipal) acabou tendo maior significado para minha carreira profissional; o livro saiu em 1998 e acabou virando uma referência para todos”. Antes de encerrarmos a entrevista, Gaio de Lima quis saber de Henrique Cazes quem tinha

aprendido mais: o bandolim com o cavaquinho ou o cavaquinho com o bandolim? Foi a deixa para Henrique fechar suas declarações dando uma pista do que poderá produzir no futuro. “O bandolim aprendeu com o cavaquinho em Joel Nascimento. O Joel reproduziu no bandolim aquilo que ele via o Waldir Azevedo fazer no cavaquinho. Essa coisa vai e volta. Eu, do ponto de vista do estilo, tenho mais influência do Jacob do Bandolim do que do Waldir. Joel pegou o som do Waldir e o acabamento do Jacob. Quando ele me passou isso peguei num determinado nível de maturação. Muita gente não entende o valor do Joel Nascimento, principalmente os cavaquinistas mais novos, por isso estou pensando em fazer uma coleção de músicas dele para o ano que vem”.


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CAPA

VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL

O PSB divulga a chapa que concorrerá à Presidência da República: Beto Albuquerque, vice, e Marina Silva, presidente

A entrada de Marina Silva na corrida pela Presidência da República torna maior a chance de segundo turno e pode por fim à polarização PT X PSDB que dura duas décadas; a dúvida neste momento é identificar o que Marina representa Por Wagner de Alcântara Aragão

Quando as eleições para a Presidência da República no Brasil seguiam pelo caminho da bipolarização que vem marcando o processo eleitoral há 20 anos, um trágico acidente impôs mudanças suficientes para causar uma reviravolta na corrida. É cedo para considerar se a atual presidenta Dilma Rousseff tem seu favoritismo abalado. Mas é possível cravar, desde já, que a disputa vai ser mais acirrada. Entrou uma nova concorrente no páreo: Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que era candidata à vice na chapa encabeçada pelo ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também do PSB. Eduardo Campos estava no jatinho que caiu em Santos, litoral de São Paulo, no dia 13 de agosto último. Ele e mais seis passageiros, entre piloto e integrantes da equipe de campanha do presidenciável, morreram no acidente. Embora o avião tenha caído num bairro densamente habitado, não houve mortes em solo. A legislação eleitoral brasileira permite que, até às vésperas da votação, em caso de morte, um candidato seja substituído.

Depois da tragédia, a coligação da candidatura de Eduardo Campos (formada pelo PSB e mais cinco partidos) tinha dez dias para registrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o novo nome. No dia 20 de agosto, uma semana depois do acidente, o PSB alçou Marina Silva à condição de candidata à Presidência e do deputado federal Beto Albuquerque, que concorria ao Senado no Rio Grande do Sul, como vice. Antes mesmo de o PSB formalizar a nova candidata, uma pesquisa do Datafolha, publicada no dia 18 de agosto, sinalizava que a entrada de Marina Silva provocaria alterações significativas na disputa. De acordo com a pesquisa, a campanha se iniciava com Marina Silva tendo 21% das intenções de votos, em segundo lugar, à frente do ex-governador Aécio Neves (PSDB), com 20%. Na pesquisa anterior, de um mês atrás, o então candidato do PSB, Eduardo Campos, aparecia com apenas 8%. O ingresso de Marina Silva também aumentou as chances de segundo turno. Até então,

Dilma Rousseff apresentava desempenho suficiente para vencer no primeiro. A pesquisa do Datafolha indica que Marina Silva assume um papel de representante de uma possível terceira via - uma opção além da polarização PT (de Dilma) versus PSDB (de Aécio), rixa essa que predomina no cenário nacional desde as eleições de 1994. A pesquisa mostra que Marina Silva não tira votos nem de Dilma nem de Aécio, ao menos por enquanto. Conquista, porém, as intenções de indecisos e de eleitores dispostos a votarem em branco ou nulo. Acompanhe os dados: na pesquisa Datafolha anterior à tragédia, Dilma aparecia com 36% do total de votos. Aécio Neves, com 20%. Eduardo Campos, 8%. Pastor Everaldo, 3%. Votos em branco ou nulo, 13%. Os indecisos eram 14%. Na pesquisa de 18 de agosto, Dilma, Aécio e Pastor Everaldo mantiveram o mesmo percentual. Caíram extraordinariamente, porém, as intenções de votos em branco ou nulo (de 13% para 8%) e de indecisos (de 14% para 9%).


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DÚVIDAS

APOIO DO PARTIDO

O que não está claro, inclusive de parte da própria nova candidata, é que terceira via é essa que Marina Silva representa. A priori, a julgar pelos números do Datafolha, Marina Silva parece atrair os insatisfeitos com a existência de apenas duas opções viáveis – uma candidatura do PT e outra do PSDB – e os insatisfeitos com a política de um modo geral. Em qual direção esses insatisfeitos rumam ou pretendem rumar? Em qual direção Marina Silva pretende trilhar sua campanha? E, mais que isso, como seria seu eventual governo? Marina Silva é candidata à Presidência da República pela segunda vez (leia nas páginas 12 e 13 sobre sua trajetória política). Em 2010, ficou na terceira posição, com cerca de 20% dos votos válidos. Quatro anos atrás, e agora também, Marina não fala em modificar a política macroeconômica. Nesse assunto, ela é assessorada pelo economista Eduardo Gianett da Fonseca, conhecido por seu posicionamento neoliberal. A política macroeconômica colocada em prática por PSDB quando foi governo (1995-2002) e pelo PT desde que assumiu o posto (2003) tem a mesma essência (em que pesem algumas alterações mais estatizantes e desenvolvimentistas feitas por Lula e Dilma). Dessa forma, conclui-se: em termos de macroeconomia, difícil enxergar uma terceira via com Marina. Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, ou seja, durante a maior parte do governo Lula (2003-2010). Foi opositora ao desenvolvimentismo – representado pelas grandes obras de infraestrutura. Atrai, por essa razão, considerável respaldo entre a parcela da sociedade que tem a sustentabilidade como bandeira de luta. Se eleita, colocaria freio nas obras para revisar projetos? Se sim, o que pretende estabelecer: um retorno ao Estado-mínimo simbolizado pelo PSDB ou dispõe de outro caminho? Qual caminho? Na política externa, também não está claro aos eleitores o que é a terceira via de Marina Silva. A agora candidata já vinha dando declarações que vão contra a opção dos governos de Lula e Dilma de priorizarem a integração latino-americana, por exemplo. Aécio Neves, por sua vez, tem reiterado que vai interromper esse processo, por considerar “ideológico”. Como terceira via, o que Marina propõe? As dúvidas, neste momento, podem parecer apressadas. Afinal, só agora Marina Silva entra na disputa como cabeça de chapa. O passado recente, porém, contribui para semear incertezas. Em 2010, essas questões já não tinham ficado tão claras na campanha da presidenciável. No segundo turno, em que Dilma venceu José Serra (PSDB), Marina, então no Partido Verde (PV), preferiu ficar isenta e não declarou apoio a ninguém, nem seu voto. Durante estes quatro anos de gestão de Dilma, Marina evidentemente não foi situação. Todavia, nunca se assumiu como oposição. O que pensa sobre as grandes discussões ainda é incógnita. O “desenvolvimento com sustentabilidade” citado frequentemente é conceito por demais abstrato e amplo para se compreender o posicionamento da nova candidata em questões práticas, que exigem decisões concretas.

Para passar dos 20% de votos conquistados em 2010 e crescer nas pesquisas, Marina Silva vai precisar apagar essas dúvidas para atrair novos eleitores. Mas o desafio não é só esse. A candidata precisa assegurar confiança e apoio dentro de seu próprio partido. Embora o nome de Marina Silva tenha surgido naturalmente para substituir Eduardo Campos, o noticiário político dá conta que a resistência interna à ex-senadora foi – e continua sendo – considerável. Marina Silva se filiou ao PSB ao término do prazo legal. Seu objetivo era o de fundar um partido próprio, denominado Rede Sustentabilidade. Apesar da expressiva votação obtida em 2010 e da mobilização via internet, a ex-ministra e senadora não conseguiu cumprir os requisitos legais e a legenda não pode ser registrada. De última hora e surpreendentemente, ela e os principais aliados na formação da Rede migraram para o PSB, deixando claro, porém, que sairiam tão logo

conseguissem fundar o novo partido, em 2015. Para a cúpula do PSB – um tradicional partido de esquerda que se moveu para o centro e cada vez mais se aproxima da centro-direita –, uma vitória de Marina Silva não significaria que o partido passaria a estar na Presidência da República. Tal condição – a possibilidade de migração de Marina para a Rede – foi mantida no acordo em que selou o nome da ex-senadora como substituta de Eduardo Campos. Outro imbróglio envolvendo Marina está nas alianças estaduais, como em São Paulo, onde o PSB é aliado do PSDB, o que não agrada a presidenciável. Ficou acertado que todos os acordos costurados anteriormente por Eduardo Campos seriam mantidos, mas Marina não tem obrigação de subir no palanque de campanha que não desejar. O vice Beto Albuquerque será encarregado dessa função. As negociações internas do PSB e coligação deixaram sequelas.

O coordenador de campanha de Eduardo Campos, o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, não aceitou continuar na função. Para o lugar de Siquerira, Marina Silva indicou Walter Feldman, atualmente do grupo da Rede, mas historicamente ligado ao PSDB. O PSB, contudo, escolheu a deputada federal Luíza Erundina, da ala mais progressista. Por enquanto, o PT e o PSDB, em suas campanhas, têm mantido a estratégia que já se esperava. Nos primeiros programas de rádio e televisão dedicaram homenagens a Eduardo Campos e trataram de atuar dentro da perspectiva de repetição da polarização entre as duas legendas. A propaganda de Dilma Rousseff compara o desenvolvimentismo aliado às políticas sociais do PT com os oito anos do governo neoliberal do PSDB. Este, por sua vez, repete o discurso pessimista sobre o país, alardeado pela grande mídia nos últimos tempos, e apresenta o chamado “choque de gestão” como bandeira.

CONJUNTURA BRASILEIRA É DEBATIDA EM LONDRES A atual conjuntura política do Brasil foi um dos temas debatidos durante o 12º Congresso da Brasa (Brazilian Studies Association), que aconteceu de 20 a 23 de agosto no King’s College, em Londres.

va têm três diferentes origens: “Há o voto emocional, por conta da morte de Eduardo Campos, o voto verde, ou seja, daqueles que acreditam na pauta da sustentabilidade, e o voto das ruas, aquele que vem das insatisfações trazidas à tona com os Na sexta-feira dia 22, o diretor protestos de junho de 2013”. do Brazil Institute da universidade, Anthony Pereira, moderou Meneguello afirmou ainda que o a discussão que contou com as Partido Socialista Brasileiro (PSB) presenças de Tim Power, diretor corre sérios riscos com Marina, do Programa de Estudos Brasi- porque ela não representa o projeleiros da Universidade de Oxford, to que o partido tem construído ao e Rachael Meneguello, diretora longo dos últimos anos, principaldo Centro de Estudos de Opinião mente no Nordeste, onde Eduardo Pública da Universidade Estadu- Campos tinha forte influência – ele al de Campinas. foi governador de Pernambuco de 2007 a 2014. Para Rachael Meneguello, as intenções de voto em Marina Sil- Tim Power, por sua vez, disse

achar difícil que Dilma Rousseff e Aécio Neves façam campanhas negativas em relação à Marina Silva. Para ele, apontar as contradições da nova candidata não vai favorecer nem a campanha petista, nem a campanha tucana pela presidência. Além da disputa eleitoral em si, ambos apresentaram uma série de dados que mostram a consolidação da democracia brasileira na última década, além de destacar o papel essencial que o presidente Lula desempenhou nesse processo. Os dois debatedores concordaram ainda com o fato de ex-presidente desempenhar papel fundamental na campanha de Dilma Rousseff, também do PT, pela reeleição.


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ELEIÇÕES 2014

A TERCEIRA VIA POSSÍVEL Dando continuidade à série de reportagens sobre os cinco principais postulantes à Presidência da República, o Brasil Observer apresenta a candidata Marina Silva, que de terceira

Ela nasceu Maria Osmarina Silva de Souza, na comunidade Breu Velho, no Seringal Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre, no dia 8 de fevereiro de 1958. Mas logo virou Marina, em função da dificuldade que os dez irmãos, parentes e amigos tinham de pronunciar o nome. Dos 10 aos 15 anos de idade, a filha do seringueiro Pedro Augusto da Silva e da dona de casa Maria Augusta da Silva trabalhou extraindo látex dos seringais para ajudar o pai a pagar uma dívida. Perdeu a mãe aos 15 anos. Naquele mesmo

ano mudou-se para a capital para trabalhar como empregada doméstica e estudar, já que era analfabeta. Queria ser freira, mas abandonou a ideia por causa da luta social. Mais tarde se tornou evangélica. Nos tempos de seringal ela sobreviveu a cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose. No período que morou em Rio Branco, mais uma vez provou que era uma sobrevivente, porque depois da alfabetização tardia conseguiu se formar em História, aos 26 anos, e ainda se engajar na política por meio da

luta pela preservação da Floresta Amazônica. Em 1984, ajudou o companheiro e sindicalista Chico Mendes a fundar a Central Única dos Trabalhadores do Acre. Ao lado dele, que tentava se eleger deputado estadual, Marina chegou a disputar uma eleição para deputada federal, mas os dois perderam. Marina foi casada duas vezes. Do primeiro relacionamento, teve dois filhos. Do segundo, que dura até hoje com o técnico agrícola que ajudava seringueiros de Xapuri, Fábio Vaz de Lima, teve duas filhas.

CARREIRA POLÍTICA

dentro e fora do Brasil, tanto que ela ganhou dezenas de prêmios, como o Champions of the Earth, da ONU, por sua luta para proteger a Floresta Amazônica. Pela criação do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia Regional, Marina foi premiada com o The Duke of Edinburgh’s Award da ONG internacional WWF. E também foi lembrada pela Fundação Príncipe Albert II de Mônaco e recebeu o Prêmio sobre Mudança Climática, por sua atuação na área ambiental e pelas iniciativas para criar um desenvolvimento sustentável. No final do ano de 2007, o jornal britânico The Guardian incluiu a então ministra do Meio Ambiente do Brasil entre as 50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta. Mas não foram apenas conquistas que Marina colheu como ministra do Meio Ambiente. Ela perdeu a luta contra o uso de transgênicos e contra a construção da usina nuclear Angra 3, além de não conseguir aprovar a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio).

A primeira pesquisa divulgada após a morte de Campos apontou Marina com 21% das intenções de voto. Isso significa que ela estaria à frente do candidato do PSDB, Aécio Neves. E, em um provável segundo turno entre ela e a presidente Dilma Rousseff, Marina teria 47% da preferência, o que configura empate técnico entre as duas. É por isso que Marina, que sempre se apresentou como uma terceira via – por fugir do bipartidarismo protagonizado por PT e PSDB –, representa hoje uma alternativa com chances reais de vitória.

colocada em 2010 pode chegar ao segundo turno em 2014 Por Claudia Ribeiro

Ao se filiar ao Partido dos Trabalhadores (PT), em 1985, já se podia prever o futuro político da ex-seringueira. Em 1988, a moça de aparência frágil e de jeito simples se elegeu vereadora, a mais votada naquela eleição em Rio Branco. No mesmo ano, Chico Mendes foi assassinado. Mais tarde, em 1990, foi eleita deputada estadual, com votação expressiva. Aos 36 anos, em 1995, se elegeu senadora – a mais jovem a ocupar o cargo no país –, sendo reeleita em 2002. Em 2003, Marina foi convidada pelo então presidente Lula para assumir o Ministério do Meio Ambiente. Lá, se destacou pelas causas ambientais que defendia e uma das principais conquistas como ministra foi o Plano de Ação para Prevenção e o Controle do Desenvolvimento da Amazônia Legal, que teve um esforço integrado entre 14 ministérios. Com o projeto, o ritmo de desmatamento da Amazônia caiu 57% em três anos, diminuindo de 27 mil km² para 11 mil km² ao ano. Cerca de 1.500 empresas que atuavam ilegalmente foram extintas, com a prisão de pelo menos 700 pessoas e cerca de um milhão de metros cúbicos de madeira apreendidos. Marina estruturou o ministério, defendendo o fortalecimento do sistema nacional de meio ambiente, colocando a questão ambiental como política de governo, não apenas como um assunto isolado. Conseguiu proteger os peixes do Rio Madeira e reduzir em oito vezes o tamanho do Lago do Rio Madeira, com turbinas usadas com o objetivo de não inundar áreas próximas. E chegou a dizer que teria convencido então o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, a diminuir a vazão de água na transposição do Rio São Francisco. Isso fez com que Marina tivesse destaque

CANDIDATA À PRESIDÊNCIA Após a reeleição do presidente Lula, em 2006, passou a ter divergências com o governo petista e deixou o cargo em 2008. Em 2009, trocou o PT pelo PV para se lançar candidata à Presidência da República. Derrotada nas urnas, teve uma participação marcante na eleição, ficando em terceiro lugar com quase vinte milhões de votos, ou 19,33% dos votos válidos naquela eleição presidencial. Em 2013, se articulou para fundar um novo partido, o Rede Sustentabilidade, mas, sem conseguir número suficiente de assinaturas, acabou se filiando ao PSB para disputar a vice-presidência ao lado de Eduardo Campos. Após a morte trágica do candidato, Marina foi indicada pelo partido como sucessora.

REFLEXÕES No ano passado, Marina foi eleita pela revista Época uma das 100 personalidades mais influentes do Brasil e acabou incluída em uma lista, elaborada pela BBC Brasil, de 10 brasileiros que foram notícia no mundo. Em 2014 não tem sido diferente e, de novo, Marina Silva estampa páginas e mais páginas de jornais, sites e revistas. Em entrevista ao portal Terra, logo após o primeiro turno da eleição de 2010, Marina Silva refletiu sobre a trajetória: “Fui fazendo escolhas aparentemente impossíveis. Mas sinto que valeu a pena ter deixado aquela família, sem conseguir olhar para trás, adiando o choro dentro do ônibus até que ficasse escuro para que eu pudesse chorar e ninguém visse. Hoje posso sorrir e dizer que aquelas lágrimas semearem muita esperança para mim, para minha família e para os ideais em que acredito. O destino não é oferecido por ninguém. Somos nós que temos que construir nossa história. Somos nós que podemos nos dispor a sustentar o outro e a ser sustentado, a escutar e a ser escutado, a perceber e a ser percebido”.


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PRINCIPAIS PROPOSTAS DE MARINA SILVA Até o fechamento desta edição, o plano de governo de Marina Silva estava marcado para ser anunciado oficialmente na sexta-feira 29 de agosto, mas a candidata do PSB tem afirmado que vai manter as propostas elaboradas em conjunto com Eduardo Campos. As que mais têm sido divulgadas são a implantação de escolas públicas em tempo integral, o passe livre para estudantes, aumento de recursos para a saúde, com 10% das receitas da União, o enfrentamento do crack e da violência, manutenção do poder de compra do salário mínimo e multiplicar por dez o orçamento da segurança. E uma promessa ousada: baixar a inflação atual para 4% em 2016, chegando até 3% até 2019. E isso, de acordo com os economistas, só seria possível com corte drástico de gastos públicos.

Marina também acha que deve haver livre flutuação da taxa de câmbio, pois, ao permitir que o real flutue livremente em relação ao dólar, o Brasil pode se adaptar mais facilmente a mudanças na economia global, equilibrando comércio exterior e demanda interna. Outra proposta da área econômica de Marina Silva é a correção dos preços administrados. Para ela, acabar com a política que tem limitado a alta dos preços controlados traria alívio para o orçamento federal e às empresas estatais. Um exemplo do que vem acontecendo no atual governo no esforço de controlar a inflação é que as autoridades têm subsidiado os preços da gasolina e da energia elétrica. O resultado disso tem sido perdas para a Petrobras, uma crise na indústria do etanol e socorros dispendiosos para as geradoras de energia, de acordo com a campanha de Marina.

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No eixo que trata das políticas sociais e qualidade de O programa de governo do PSB foi vida, sem citar nenhum programa específico, a colielaborado com a ajuda de técnicos, gação defende a continuidade das ações de governo estudiosos, cientistas, militantes do Lula e que foram aprofundadas com Dilma. movimento social e pessoas que já participaram de governos. As propostas são Em relação ao eixo Novo Urbanismo e o Pacto baseadas em um documento com diretrizes pela Vida, a candidata propõe como prioridade divididas em cinco eixos: Estado e a Democracia o investimento em transporte coletivo e seus de Alta Intensidade; Economia para o Desenvol- diferentes modais, o que obriga o governo a revimento Sustentável; Educação, Cultura e Inova- pensar em como tratar o uso do automóvel e a ção; Políticas Sociais e Qualidade de Vida; Novo locomoção e convivência com os meios não motorizados. Enfrenta-se, dessa forma, a poluição Urbanismo e o Pacto pela Vida. ambiental que é um dos principais problemas A área econômica foi dividida em temas, como urbanos, na opinião de Marina. a Política Industrial para Agregar Valor, Economia do Conhecimento e da Inovação, Pesquisa No eixo Educação, Cultura e Inovação, o destae Inovação Tecnológica e Arranjos Produtivos que é para a criação do passe livre em toda a rede Locais, entre outros, que envolvem inclusive a pública de ensino, a necessidade de erradicar o autonomia do Banco Central e o compromisso analfabetismo absoluto e avançar na superação de tentar levar a inflação para a meta, ganhando do analfabetismo funcional. Marina defende aincredibilidade e reduzindo expectativas de longo da a articulação das políticas sociais, educacionais e de saúde como estratégia de atendimento prazo para a inflação. das famílias de maior vulnerabilidade social. Outra questão defendida pela candidata é mais disciplina fiscal, o que requer apertar os Muitas das ideias de Marina eram compartilhagastos orçamentários da União para gerar su- das por Eduardo Campos e pelos integrantes da perávit primário, que é a economia que o go- coordenação da campanha. Por isso, eles conseverno faz para pagar os juros da dívida, aliviar guiram colocar no Plano de Governo os anseios as pressões inflacionárias e a necessidade de de ambos. Para Eduardo Campos, era possível o Banco Central manter a taxa básica de juros sim o desenvolvimento com respeito ao meio ambiente e inclusão. Um conceito do século em patamar elevado. passado parecia dizer: “Ou se tinha desenvolviA atual meta de inflação é de 4,5% ao ano, com mento ou se tinha respeito à natureza”. Hoje, os tolerância de dois pontos percentuais para cima dois podem estar juntos em um único programa ou para baixo. A equipe econômica que assessora de governo, que tem a inclusão dos mais pobres Marina diz que o Banco Central no governo Dilma como um dos centros da meta. Marina Silva e Rousseff tem sido negligente ao permitir que a Eduardo Campos não eram apenas companheiinflação permaneça em 6,5%. ros de chapa. Eram aliados em pensamentos.


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CONECTANDO

RESIGNIFICANDO A REPÚBLICA A seguir, um relato sobre a zona autônoma temporária construída por coletivos e movimentos sociais no Rio de Janeiro, e o que eles pensam sobre o novo mundo possível Por Mídia NINJA*

mais desiguais do mundo, e inspira-se na reestruturação de redes políticos-culturais impulsionadas pelas políticas iniciadas na gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura. O movimento parte da cultura para construir possibilidades de transformação. Gil, que passou uma tarde dialogando na República, chamou atenção para a continuidade de uma luta histórica: “Me perguntaram o que eu ia fazer aqui hoje, eu respondi ‘ué, eu vou lá pra me rever’; eu vim pra me reconhecer”. Dentre as experiências fomentadas durante a gestão de Gil, está a experiência da democratização da cultura digital e do software livre como território de conexão e comunicação de culturas, com a valorização da produção cultural que parte das periferias territoriais e sociais do Brasil, incluindo os povos originários, articulados pela política dos Pontos de Cultura e, posteriormente, pela Lei Cultura Viva Comunitária, recentemente aprovada no Congresso Nacional. A rede teve início no Brasil e hoje possui uma dinâmica de articulação com movimentos em toda a América Latina. Parte do princípio de que a cultura não pode ser entendida como entretenimento, mas deve assumir sua perspectiva antropológica para poder se pensar o Estado. A reforma estrutural dos meios de comunicação foi um dos temas dos debates. Foram discutidos os desafios de garantir liberdade, diversidade e pluralidade em um sistema de comunicação que seja emancipatório, que possa permitir a construção contínua de novas narrativas. Hoje, no Brasil, a mídia tem um grau de concentração dos piores do mun-

do, o que é um problema sério à democratização. Outra grande preocupação destacada é o desafio da regulamentação do Marco Civil da Internet, uma das leis de internet mais progressistas do mundo, aprovada no Brasil no primeiro semestre como resultado de um amplo processo de mobilização social. Claudio Prado, produtor cultural no centro do debate da contracultura desde os anos 1960, produtor de bandas como Novos Baianos e Mutantes, durante os debates na República destacou a importância de buscar novos caminhos de expressão e ação: “A gente vive hoje na encruzilhada do mundo, do processo civilizatório. Os últimos 200 anos deu tudo errado se olharmos a partir da percepção do Planeta. A gente precisa descobrir para que serve a nossa inteligência!”. Partindo da prática de transformar precariedades em potência, da qual se construíram muitas das redes e coletivos participantes da República, alavanca-se uma ideia da América Latina e África como territórios que podem ensinar muito ao mundo, a partir de recombinações das gambiarras – propondo novas soluções. Inverte-se a lógica do sistema vigente onde primeiro é necessários ter todos os meios para depois fazer a revolução. Na República, prevalece a crença na transformação pela ação e na precariedade como oportunidade de desenvolvimento de um novo possível. Há quem diga que uma verdadeira República é impossível. Há também os que se movem pela alegria dos encontros, guiados por uma infinita esperança. Graças a esta certeza das novas primaveras que virão é que se ergueu a República.

MÍDIA NINJA

Em Junho de 2013, o Brasil testemunhou um grande levante – já não mais dirigido por forças políticas tradicionais. Muita gente perguntou-se o que estava acontecendo, e a busca por novas institucionalidades, formas e espaços de ação permanece em movimento. Diante da emergência de nossos tempos, em meio a uma crise civilizatória, um encontro reunindo movimentos culturais, sociais, coletivos de mídia independente, arte e cultura, além de ativistas independentes e filósofos de toda America Latina buscou repensar os processo em curso. República: aquilo que é do povo. A República se organizou como uma zona autônoma temporária, uma ocupação que teve lugar na cidade do Rio de Janeiro entre 3 e 10 de agosto de 2014, partindo de um desejo de conectar inteligências, pessoas e ações em uma busca de um novo possível. A palavra república tem origem no latim, respublica: res (coisa) publica (do povo, de todos). Partiu-se da ideia de república como conceito revolucionário, antes de ser um conceito institucional, e, portanto, da necessidade de ser reapropriado no sentido da compreensão de uma forma progressista e libertária, em detrimento de uma visão conservadora e imobilista do termo. Dentre os movimentos reunidos, houve o reconhecimento da centralidade da cultura na nova disputa de hegemonia de sociedade. O movimento parte da crença de que a construção de um novo mundo passa pela reforma política e econômica do sistema de poder hegemônico no Brasil, que, apesar dos avanços alcançados durante o governo Lula, ainda é um dos países

Encontro promoveu uma série de debates; para mais fotos acesse: www.flickr.com/photos/midianinja g

Mídia NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) é uma rede de comunicadores que produzem e distribuem informação em movimento, agindo e comunicando: www.midianinja.com

COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk


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Brasil Observer

GUIDE DIVULGATION

NIGHT OF IDEAS

Inspired by La Nuit de la Philosophie / My Night with Philosophers, CASA Latin American Theatre Festival announces the first all night celebration of Latin American culture in the heart of East London. >> Read on pages 16 and 17

Inspirados pelo recital La Nuit de la Philosophie / My Night with Philosophers, CASA Latin American Theatre Festival anuncia a primeira noite totalmente dedicada a cultura latino-americana. >> Leia nas pรกginas 16 e 17


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LATIN AMERICAN CELEBRATION FROM DUSK TILL DAWN CASA of Night Ideas is an arts event packed with activities, lectures, debates, films, documentaries and music. We’re delighted to be offering two pairs of free tickets to Brasil Observer readers By Gabriela Lobianco

The CASA Latin American Theatre Festival, known simply CASA was created in 2007 with the goal of bringing the best theatre companies in Latin America to the UK, The organisation also promotes the interaction of the local Latin American community through theatre. The annual festival of CASA, which means ‘house’, will take place in October 2014, the company have also organised a unique arts event CASA Night of Ideas that will take place next month. As the name suggests, this will be a night-long event filled with activities related to Latin America, and will be held on 13 September from 6PM to 6AM the next day in the Rose Lipman community project space in de Beauvoir Town, Hackney. The Night of Ideas will include lectures, discussions, films, documentaries, readings, poetry, music and traditional board games, among other activities, that honour the richness and diversity of Latin American culture through interaction. For Daniel Goldman, artistic director of CASA, “it is a night to celebrate Latin American thought. The ideas is to create a space to celebrate the ideas with a big I by having an amazing time together and making it to breakfast to see another sunrise.”

CONCEPT The idea of the event was inspired by London’s Institute Francais’ events La Philosophie de la Nuit / My Night with Philosophers. These are durational soirees with artists and the public replicating the interactions that once filled French salons. The purpose is to encourage ‘enlightened’ cultural society and exchange experiences on research and artistic movements of literature and music, all washed down with champagne and wine. Now CASA want to try and reproduce this within the Latin American community and public. For Johana Zuleta who has partnered with the CASA Night of Ideas, “What is most appealing to me is the interaction and interdisciplinary play between artists, writers, thinkers, architects and academics, all with an interest in different aspects of Latin American culture and life. “You don’t need to be a con-

noisseur to come and join, but I’ll guarantee, you will become an enthusiast! Remember that ideas are the aphrodisiac of the mind, and can seduce you, so what better than a Latin night together?” she added.

ATTRACTIONS Promising bold opinions, new ideas and debate, the event’s panel discussions range from Latin American sexuality to drugs and immigration, plus Brazilian footballing honour to art, literature and politics. The stellar line-up of speakers includes pianist and Nobel Peace Prize nominee Alberto Portugheis; Telegraph journalist and critic Alastair Smart; author of What if Latin America ruled the World? Oscar GuardiolaRivera; BBC Mundo football expert Marcelo Justo; writer, philanthropist and member of the British Royalty Lady Ella Windsor; sex therapist Dru Lawson; award-winning Omar Castañeda and artist Ricardo Cinalli. A special late-night film programme includes a showcase of features in association with film distributor Network Releasing, includes Amat Escalante’s Cannes Award-winning HELI (2013), plus short films and contemporary documentaries covering a range of topics from the Chilean student uprisings to Venezuela’s Hip Hop Revolución movement. There will also be live music including Argentine singer-songwriting trio Tres Argentinas; an introduction to the history of Salsa by DJ Goobi followed by a unique Soulsa (Salsameets-Soul) DJ set; plus a LatAm beats mash-up by DJ Cal Jader and Movimientos. Alongside the public programme there will be the official launch of the upcoming 2014 CASA Latin American Theatre Festival programme. This year’s festival runs from 10-19 October at the Barbican, Rich Mix and the Rose Lipman Building and is CASA’s biggest programme to date. For those looking to get involved with the Latin American culture, the CASA Night of Ideas is an unmissable event tickets cost £5 and are available online in advance. Brasil Observer will be giving away two pairs of tickets, for your chance to win, just keep an eye on our Facebook page (/brasilobserver) and Twitter feed (@brasilobserver) for details of the competition.


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CELEBRAÇÃO LATINO-AMERICANA ATÉ O AMANHECER DIVULGATION

Highlights include Amat Escalante’s Cannes Award-winning HELI (1), Argentine singersongwriting trio Tres Argentinas (2) and a LatAm beats mash-up by DJ Cal Jader (3)

CASA Latin American Theatre Festival, ou simplesmente CASA, é uma organização criada em 2007 com o objetivo de trazer para o Reino Unido as melhores companhias de teatro da América Latina, além de promover a interação da comunidade latino-americana local através do teatro. Em 2014, o festival anual do CASA acontece de 10 a 19 de outubro, mas antes disso há uma novidade: CASA Night of Ideas. Como o nome supõe, será um noitão repleto de atividades ligadas à América Latina, que acontecerá em 13 de setembro das 6pm as 6am do dia seguinte no icônico prédio do Rose Lipman, em Londres. O evento contará com palestras, debates, filmes, documentários, leituras, poesia, música e jogos de tabuleiro tradicionais, entre outras atividades, com o intuito de celebrar a riqueza e a diversidade da cultura latino-americana por meio de interação e gincanas. Para Daniel Goldman, diretor artístico do CASA, trata-se de “uma noite para celebrar o pensamento latino-americano, se divertindo até a hora do café da manhã para apreciar mais um amanhecer”.

CONCEITO A ideia do evento teve inspiração no recital La Nuit de la Philosophie / My Night with Philosophers. Os saraus – reuniões de artistas nos moldes dos salões franceses –, regados a champanhe e vinhos, tinham como propósito o convívio de pessoas “iluminadas” cultural e financeiramente para trocar experiências sobre estudos e movimentos artísticos de literatura e música. Essa efervescência cultural é semelhante ao tipo de busca dos organizadores do CASA. Para a parceira do CASA Night of Ideas, Johana Zuleta, “o mais atraente é o jogo e interação interdisciplinar entre artistas, escritores, pensadores, arquitetos e acadêmicos, todos com interesse em diferentes aspectos da vida e cultura latinoamericana”.

ATRAÇÕES Com a intenção de promover novas ideias e opiniões, haverá debates sobre diversas questões latinoamericanas nas áreas de sexualidade,

drogas e imigração, além de um olhar sobre o futebol brasileiro e suas relações com a arte, a literatura e a política. Entre os palestrantes estão o pianista Alberto Portugheis; o jornalista e crítico do jornal Telegraph Alastair Smart; o autor do livro What If Latin America ruled the World?, Oscar Guardiola-Rivera; e o especialista em futebol da BBC Mundo Marcelo Justo, entre outros participantes. Já a programação cinematográfica inclui a apresentação de longas-metragens em parceria com a distribuidora Network Releasing, como o filme mexicano Heli, de Amat Escalante, que foi premiado como melhor diretor no festival de Cannes em 2013, além de curtasmetragens e documentários sobre questões que vão dos protestos estudantis no Chile até a revolução do movimento hip-hop na Venezuela. A parte musical contará com o trio Tres Argentinas; com uma introdução à história da Salsa pelo DJ Goobi; e uma seleção musical afinada pelas batidas latinoamericanas do DJ Cal Jader. Durante o evento, será feito o lançamento oficial da programação da edição 2014 do CASA Latin American Theatre Festival, que acontece de 10 e 19 de outubro no Barbican, Rich Mix e Rose Lipman. Para quem procura se envolver com a cultura latino-americana, o CASA Night of Ideas é um evento imperdível. E o Brasil Observer vai sortear dois pares de ingressos: é só ficar de olho em nossas páginas do Facebook (/brasilobserver) e Twitter (@brasilobserver).

CASA NIGHT OF IDEAS When: 13 September Where: Rose Lipman Building 43 De Beauvoir Rd, London N1 5SQ Tickets: £5.00 Includes free coffee all night and breakfast at 6am Booking: www.casafestival.org.uk

CASA Night of Ideas será um noitão repleto de atividades, com palestras, debates, filmes, documentários e muita música; e o Brasil Observer vai sortear dois pares de ingressos Por Gabriela Lobianco


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NINETEEN EIGHT-FOUR REPRODUCTION

PAID SEX ON PAID TV By Ricardo Somera

“O Negócio” protagonists

SEXO PAGO NA TV PAGA By Ricardo Somera

No último dia 24, estreou na HBO Brasil a segunda temporada de “O Negócio”, série que retrata o mundo da prostituição de luxo em São Paulo. O seriado, apesar do tema central, não se trata apenas de belas mulheres em cenas proibidas para menores. O diferencial são as estratégias empregadas para que o negócio dê certo. g

As protagonistas Karin (Rafaela Mandelli), Luna (Juliana Schalch) e Magali (Michelle Batista) usam técnicas de marketing para atrair seus clientes e surpreendentemente alcançam sucesso, desbancando os principais bookers da cidade (eufemismo para cafetão). Além dos dramas pessoais, há também os conflitos empresariais. Após o sucesso do negócio, na nova temporada as

garotas vão ter que enfrentar outros problemas de mercado, como a pirataria. A nova temporada promete 13 excitantes episódios e, além do Brasil, “O Negócio” também será apresentado no México, Uruguai e Argentina. Outra série que teve sua estreia recente e também tem o mundo da prostituição como tema é “A Segunda Vez”, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva “A

Segunda Vez que te Conheci”. O protagonista é Raul (Marcos Palmeira), que, após perder o emprego e sua segunda mulher, muda-se para um flat de um amigo e começa a conviver com suas vizinhas que são garotas de programa. Para se tornar o cafetão delas e mudar radicalmente sua vida, é um passo. Drogas, sexo e diversão na visão do escritor de “Feliz Ano Velho”.

Gostou do tema? Procure pelas séries “Oscar Freire 279” (Multishow), com Maria Ribeiro, e “Hung” (HBO), sobre um cara bem dotado que decide ganhar a vida como gigolô. E escreva para @souricardo

On 24 August, the second season of O Negócio (The Business), a series that portrays the underworld of high end prostitution in São Paulo debuted on HBO Brazil. Despite the central theme, The show is not just about beautiful women in various stages of undress and scenes unsuitable for children. The show also presents the strategies they employed to deal with their work. The protagonists Karin (Rafaela Mandelli), Luna (Juliana Schalch) and Magali (Michelle Batista) use marketing techniques to attract customers and are surprisingly successful, beating the city’s main bookers (euphemism for pimp). Besides the personal dramas, there are also business conflicts. After the success of business in the first season, the girls will face other market problems such as piracy. The new season promises 13 exciting episodes, O Negócio will also be aired in Mexico, Uruguay and Argentina. Another series that had its debut recently and also has the world of prostitution as its theme is A Segunda Vez (The Second Time), based on the book by Marcelo Rubens Paiva A Segunda Vez que te Conheci (The Second Time I Met You). The protagonist is Raul (Marcos Palmeira), who, after losing his job and his second wife moved into a friend’s flat and starts to hang out with the neighbours who are prostitutes. His life changes even more radically when he becomes their pimp. Drugs, sex and fun led this series.

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Do you like this theme? Look out for the series Oscar Freire 279 (Multishow), with Maria Ribeiro, and Hung (HBO), the U.S. series about a guy who decides earn a living as a gigolo. And write to @souricardo


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GOING OUT DIVULGATION

The Embassy of Brazil and Lucid-ly Productions present a rare collection of 50 photographs by Sir Benjamin Stone. Curated by Rodrigo Orrantia and Pete James from the Stone archive at the Library of Birmingham, the photographs were taken during a Royal Astronomical Society expedition set out to observe a full solar eclipse in the Brazilian Amazon in 1893. Stone also documented his journey by sea to Brazil, photographing the people and places he discovered upon arrival. A keen observer of individuals, Stone captured images that portray different sections of Brazil’s already diverse society towards the end of the nineteenth century.

OBSERVATIONS IN BRAZIL 12 September – 7 November Where Embassy of Brazil, 14-16 Cockspur Street | Tickets Free www.culturalbrazil.org

Where Queen Elizabeth Hall | Tickets £20 £15 £10

Where Barbican | Tickets £9.50

Where Charleston, East Sussex | Tickets £10

>> www.southbankcentre.co.uk

>> www.barbican.org.uk

>> www.charleston.org.uk

YOUTH ORCHESTRA OF BAHIA 17 September

Colin Currie and the Youth Orchestra of Bahia (Brazil’s North-Eastern State) perform new work by Julia Wolfe and Mahler’s First Symphony. Inspired by New York City street beats and the rhythms of American work song, Julia Wolf’es riSE and fLY is a work composed especially for Colin Currie. Borrowing the title from a chain gang work song, Wolfe’s intention is to ‘take Colin to a new place and to bring something earthy and visceral to the orchestra – to break with formality and get down and dirty.’

CITY VISIONS

RIO BRIO

25 September – 9 November

27 September

A season of films, talks and debates, exploring the ways in which cinema has engaged with the phenomenon of the modern city and the experience of urban life. Beginning with the cycle of silent films in the 1920s known as City Symphonies, and extending to current-day representations of life in the over-saturated megalopolises of South America, Africa and China. Special Brazilian Film Screenings on October 5: ‘Precise Poetry - Lina Bo Bardi’s Architecture’, ‘São Paulo, A Metropolitan Symphony’, ‘Oscar Niemeyer – Life is a Breath of Air’, ‘Neighbouring Sounds’ (photo).

Brazil is the destination of the moment and Small Wonder – The Short Story Festival is delighted to be hosting some of its writers. Tatiana Salem Levy (photo) was selected as one of Granta’s Best of Young Brazilian Novelists. Her debut novel, A chave de case, won the São Paolo Prize for Literature and is due for publication in the UK next year. João Gilberto Noll is one of Brazil’s most distinguished and popular authors. He has written nineteen books and won more than ten literary awards. Lucy Greaves won the 2013 Harvill Secker Young Translator’s Prize.

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How will Argentina’s debt affect the Brazilian economy? >> Pages 4 & 5

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LEANDRO DE BRITO

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2014 WORLD CUP Rio de Janeiro opens its arms to host a World Cup final again after more than 60 years >> Pages 12 and 13

LITERARY FESTIVAL Three exciting events on Saturday 5 April in Cambridge have Brazil in the spotlight >> From page 15

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2014 WORLD CUP First capital of Brazil, Salvador promises to be one of the hottest places to be in the World Cup - not just because of the heat >> Page 12 and 13

FACE AND WHETHER IT IS POSSIBLE TO SAVE THEM

>> Pages 10 & 11 LEIA EM PORTUGUÊS

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NEW CANVAS OVER OLD

LEARNING TO COOK LIKE A BRAZILIAN By Kate Rintoul

Hi my name is Kate and I am completely obsessed with food. I read about it everyday, I cook a meal, usually two from scratch most days when my equally food-focussed boyfriend (which was a major point of attraction for me) doesn’t cook one, I love talking about it and I’ve been known to dream about food on several occasions. Something that I’ve loved experiencing while living in Rio this year is that lots of Brazilians seem to share my passion for food and I can definitely say that all the best meals I’ve eaten here have been cooked in people’s homes, cooked intuitive home cooks with great palates. On one of my first days here I was fascinated by how long one of our friends took to select tomatoes in the supermarket, this was a young student cooking a basic meal after a long day in the sun but she paid so much care and attention to digging through the pile, feeling and scrutinising each red globe made me instantly feel at home, with like minded people in Brazil. Food has definitely been at the heart of a few of the friendships I’ve made here and I’ve loved finding out more about Brazilian cooking so when I read about Cook in Rio - a cookery school in the heart of the city I couldn’t wait to continue my culinary adventure. The classes have been going for five years and are taught by Simone de Almeida, a very experienced chef who mastered her trade in some of Brazil’s most famous kitchens including the iconic Copacabana Palace and restaurants around the world including the US and Germany. I went to the class hoping to learn the secrets of making a good Moqueca and left six hours later with a better understanding of the dish, two new friends, some nutritional tit bits and a vast insight into Brazilian culture. The class took place in a beautiful panelled mezzanine kitchen over Simone’s Italian/Brazilian restaurant Lampadosa. In the heart of Rio’s colonial centre, Cook in Rio

is a wonderful oasis of cookery in an area dominated by business and that can seem a little uninviting to tourists. I have always liked the centre, to me it feels a little bit more real than areas like Ipanema where you are more likely to hear people speaking English than Portuguese. Perhaps it’s because I’m drawn to the creativity of slightly run down areas, or maybe it’s just that being European means the colonial style architecture is more familiar to me but mainly I think it’s because I always feel like a more genuine Brazilian experience is just around the corner in the at times maze like historic centre. Cook in Rio was definitely one of these authentic experiences, chef Simone is a carioca through and through but has also worked in restaurants around the world and shares her experiences and way of seeing her city. I loved hearing her small nuggets of social anthropology like how to tell if someone’s a Brazilian from their shoes and lover - apparently Brazilians always wear closed shoes when there is a little chill in the air and almost always have a partner that looks distinctly different to them as they are so used to mixing up the gene pool. The session was a perfect mix of information and entertainment and Simone’s unique presenting style makes it a special experience. From educating us on very useful cooking tips from the basic like how to chop an onion without crying, to choosing fresh fish, to regaling us with stories of Brazil’s colonial times and relationship advice, Simone was like an oracle of knowledge. It was great to think and chat about all these things while cooking a communal meal with a mix of people from Brazil and abroad and of course with one very captivating chef. If you ever come to Rio, then one of your first stops should be Cook in Rio as you not only get to learn about great Brazilian cookery, but Simone will also take you on an authentic whistle stop tour of Brazilian history and culture, all while you sip Caipirinhas you’ve made yourself and eat cheese - now you can’t do that in a museum.

Class in Cook in Rio


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APRENDENDO A COZINHAR COMO UM BRASILEIRO Por Kate Rintoul

COOK IN RIO Price for a 4-hour class: Roughly £45 (R$180) per person g

The Price includes all food and drinks: Batida de Côco (Coconut alcoholic drink) Aipim Frito (Cassava Sticks) Caipirinha (Brazilian bar drink) Moqueca (Seafood Coconut stew) Farofa (crunchy manioc flour dish) Brazilian Rice (white and moist) g

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www.cookinrio.com

KATE RINTOUL

Olá, meu nome e Kate e sou completamente obcecada por comida. Leio sobre isso todos os dias; cozinho pelo menos uma refeição por dia; duas quando meu namorado, com o mesmo foco em comida que eu (um dos principais pontos de atração para mim), não cozinha uma. Eu amo falar sobre isso e chego até a ter sonhos com comida. Uma das coisas que eu adoro no Rio é que as pessoas parecem compartilhar a minha paixão por comidas. Posso, definitivamente, dizer que as melhores refeições que já comi no Rio foram feitas na casa das pessoas, por cozinheiros intuitivos e com vasto paladar. Nos meus primeiros dias por aqui, fiquei fascinada pelo fato de que uma de nossas amigas utilizava um tempo enorme para escolher tomates no supermercado. Era uma estudante jovem, cozinhando uma refeição básica, depois de um longo dia no sol e, mesmo assim, ela tinha muito cuidado e atenção, cavando através da pilha, sentindo e examinando cada globo vermelho, fazendo eu me sentir em casa, com pessoas inclinadas para este pensamento aqui no Brasil. Comida tem sido o centro de algumas das amizades que fiz aqui. Sempre adorei saber mais sobre culinária brasileira, então quando li sobre o Cook in Rio – uma escola de culinária no coração da cidade –não pude esperar para continuar minha aventura culinária. As aulas acontecem há cinco anos e são ministradas por Simone de Almeida, uma experiente chef que deixou sua marca em algumas das cozinhas mais famosas do Brasil, incluindo a do icônico Copacabana Palace e de outros restaurantes, inclusive nos EUA e na Alemanha. Fui para a aula com a esperança de aprender os segredos para fazer uma boa Moqueca e, seis horas depois, estava entendendo melhor sobre o prato, tinha feito dois novos amigos e aproveitado uma vasta e profunda introspecção dentro da cultura brasileira. As aulas são ministradas num lugar com uma bela cozinha, no mezanino do restaurante de Simone, o Lampadosa. Localizado no coração

do centro colonial da cidade, Cook in Rio é um maravilhoso oásis da gastronomia numa área dominada pelo comércio e que pode parecer pouco convidativa para turistas. Eu sempre gostei mais do centro, pois para mim o local parece mais real do que áreas como Ipanema, onde é mais provável ouvir pessoas falando inglês do que português. Talvez porque eu seja atraída pela criatividade que existe em áreas ligeiramente degradadas, ou talvez por eu ser europeia tenha familiaridade com a arquitetura, mas, principalmente, porque sempre sinto que uma genuína experiência brasileira é simplesmente virar uma esquina num labirinto, como é no centro histórico. Cook in Rio foi definitivamente uma dessas autenticas experiências. A chef Simone é uma carioca de ponta a ponta, mas ela também trabalhou em outros restaurantes em todo o mundo e compartilha suas experiências e maneiras de enxergar a cidade. Eu adorei ouvir seus pitacos sobre antropologia social, como a maneira de falar se alguém é brasileiro pelos sapatos – aparentemente brasileiros sempre usam sapatos fechados quando o ar fica um pouco mais frio. A sessão foi uma combinação perfeita entre informação e entretenimento e, com estilo único de apresentação de Simone, as quatro horas de aula se tornam a experiência especial. Desde educar-nos com dicas de culinária muito básicas, como a forma de cortar uma cebola sem chorar e escolher peixe fresco, até contar histórias de tempos coloniais do Brasil e conselhos de relacionamento. Foi ótimo para pensar e conversar sobre todas essas coisas enquanto cozinhava uma refeição com todos os colegas, com uma mistura de pessoas do Brasil e do exterior e, claro, com uma chef cativante. Se você vier para a Cidade Maravilhosa, uma das suas primeiras paradas deve ser Cook in Rio. Você não vai apenas aprender sobre gastronomia brasileira, mas Simone irá levá-lo a um tour autêntico pela história e cultura brasileira, ao mesmo tempo que saboreia caipirinhas feitas por você mesmo. Não dá para fazer isso no museu!


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TRAVEL

ANOTHER TOURISM IS POSSIBLE Instead of conventional hotels and seeing a place through the gift shops, rural networks offer free accommodation in exchange for work and provide rich ground for cultural exchange By Taís Gonzalez*

Of all the human activities governed and influenced by the mercantile process, surely the most impoverished one is conventional tourism. The cultural experience and pleasure that could be enjoyed from contact with other landscapes, ethnicities, languages, and ways of seeing the world is sterilised by the intermediation of money. Charmless hotels seek to replicate the atmosphere of bureaucratic comfort, to which they have made visitors accustomed over many years. Tours always cover the same “postcard scenes”. The dialogue with the local population is limited to the purchase of souvenirs. And thanks to a highly competitive flight industry, the environmental consequences of most journeys are dramatic yet never really considered. There is hope however, as an alternative is increasingly becoming popular. It’s cheap and promotes meaningful cultural

Working in return for accommodation on alternative and ecological farms is cheap and promotes intense cultural exchange

OUTRO TURISMO É POSSÍVEL Em vez de hotéis convencionais e relações intermediadas pelo dinheiro, redes propõem hospedagem rural gratuita em troca de trabalho e com vasto intercâmbio cultural Por Taís Gonzalez*

Em poucas atividades humanas o processo mercantil é tão empobrecedor quanto no turismo convencional. A experiência cultural e o prazer que poderiam desenvolver-se a partir do contato com outras geografias, etnias, idiomas, formas de estar e ver o mundo é esterilizada pela intermediação do dinheiro. Hotéis quase sempre padronizados procuram reproduzir a atmosfera de conforto burocrático ao qual o visitante está acostumado. Tours levam sempre aos mesmos “cartões postais”. O diálogo com a população local limita-se à compra de objetos. As consequências ambientais da criação de infraestruturas turísticas são frequentemente dramáticas. Uma alternativa a esta roda-viva está se popularizando com rapidez nos últimos anos. É barata e promove trocas


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exchanges so a growing number of travellers are choosing to stay at alternative and work on ecological farms, promoted by networks like World Wide Opportunities on Organic Farms (WWOOF), Growfood, WorkAway and Helpx. Through these organisations, the visitor can enjoy free accommodation on farms, which are mostly run as cooperatives and reject the concept of “agribusiness”. In return for this, visitors work for their hosts, which is also an enriching experience. There are many destinations in dozens of countries worldwide, to choose from including many all over Brazil, including Paraty, Espirito Santo and Minas Gerais. It is not exactly a novelty. The pioneer organisation, WWOOF, first appeared in England in 1971 when Sue Coppard, a London secretary, decided to dedicate part of her time to putting friends in

contact with a biodynamic farm in Sussex. The organisation has been growing ever since and has connected countless hosts and travellers. The emergence and widespread use of the internet, has made it ever more easy for people to find this kind of accommodation anywhere in the world, and new networks have emerged. The process is very simple, for example with www.wwoof.net, you simple become a member, choose your destination, contact the hosts and set the dates and duration of the stay, most farms ask that stays are for at least a week or two. The type of work also depends on the location and type of farm, but could include grape picking, learning about organic crops and helping set up an irrigation system. The working day varies between six and eight hours but it’s important is

to confirm with the owners beforehand how many hours you will have to contribute a day. As you’ll essentially be staying with strangers, it’s worth trying to communicate with hosts a little online first and reading comments from people who have worked with them. Helping farmers and seeing a country from this rare experience is a rare opportunity and provides a truly memorable travel experience and one where the only things exchanged are good will and warmth.

culturais intensas. São as hospedagens em fazendas alternativas e ecológicas, promovidas por redes como a WWOOF (sigla em inglês para Oportunidades Mundiais em Fazendas Orgânicas), Growfood, WorkAway e Helpx. Por meio delas, o visitante hospeda-se de graça em propriedades rurais (quase sempre cooperativas) que rejeitam o conceito de “agrobusiness”. Retribui-se com trabalho, também enriquecedor. Há destinos assim em dezenas de países do mundo, inclusive no Brasil. Não é, propriamente, uma novidade. A WWOOF, pioneira, surgiu na Inglaterra, em 1971, quando Sue Coppard, uma secretária londrina, passou a dedicar parte de seu tempo à tarefa de colocar alguns amigos em contato com uma fazenda biodinâmica em Sussex. A moda pegou e, em alguns

anos, surgiu a Willing Workers on Organic Farms (Trabalhadores Voluntários em Fazendas Orgânicas). Como as autoridades migratórias e sindicatos de alguns países alegavam competição com trabalhadores locais, o nome da rede foi mudado. Com a internet, tornou-se possível buscar hospedagem do gênero em qualquer parte do mundo, e novas redes foram surgindo. Para fazer parte da WWOOF (veja suas iniciativas no Brasil em www.wwoof.net), basta inscrever-se no site, pagando uma anuidade, escolher seu destino e entrar em contato com os anfitriões. Você determina o tempo que quer ficar – a maioria das fazendas pede que a permanência seja de ao menos uma ou duas semanas. O tipo de trabalho também depen-

de do local, mas você poderá colher uvas, aprender sobre culturas orgânicas, ajudar a montar um sistema de irrigação. O tempo de trabalho variar de seis a oito horas. O mais importante é certificar-se com os proprietários, de antemão, quantas horas você terá que contribuir por dia. E, claro, tomar as mesmas precauções que normalmente tomaria ao ficar com estranhos.

OTHER NETWORKS - Growfood (www.growfood.org) – Similar to WWOOF, they offer training to a new generation of sustainable farmers through travel. - Workaway (www.workaway.info) – Established to promote better cultural un-

derstanding, it puts low budget travellers in touch with organisations and individuals looking for a helping hand. - HelpX (www.helpx.net) – Launched in 2001, the service lists farms, inns, hostels and other types of accommodation seeking volunteers for short term in exchange for meal and accommodation site. - CouchSurfing (www.couchsurfing.org) – Online urban hospitality service that is a platform for exchanges between different people and cultures. In 2012, the project reached the milestone of one million members in over 180 countries.

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Taís Gonzalez is a journalist and environmental activist. This text was originally published on Outras Palavras: www.outraspalavras.net.

DIVULGATION

OUTRAS REDES - Growfood (www.growfood.org) – Semelhante à WWOOF, tem como missão treinar uma nova geração de agricultores sustentáveis. - Workaway (www.workaway.info) – Criada para promover melhor compreensão cultural, coloca viajantes de baixo orçamento em contato com orga-

nizações à procura de uma mão amiga. - HelpX (www.helpx.net) – Lançado em 2001, o site lista fazendas, pousadas, albergues e outros tipos de acomodações que procuram voluntários de curto prazo em troca de refeição e alojamento. - CouchSurfing (www.couchsurfing. org) – Serviço de hospitalidade urbana, com base na Internet, tem o objetivo de oferecer intercâmbio entre pessoas e culturas diferentes. Em 2012, o projeto atingiu a marca de um milhão de membros em mais de 180 países.

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Taís Gonzalez é jornalista e ativista socioambiental. Texto publicado originalmente no site Outras Palavras: www.outraspalavras.net.


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