Brasil Observer #07 - Portuguese Version

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Foto: Visit Brasil

Foto: Divulgação

ESPECIAL COPA 2014 Rio de Janeiro está de braços abertos para receber mais uma final de Copa do Mundo >> Páginas 12 e 13

FESTIVAL LITERÁRIO Três eventos com foco no Brasil serão realizados em Cambridge dia 5 de abril >> A partir da página 15

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LONDON EDITION MAR 27 – APR 09

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Ilustração: Leandro de Brito

POR QUE A DITADURA MILITAR AINDA NÃO É PÁGINA VIRADA NO BRASIL >> Páginas 4, 5, 6 e 7

Foto: Eduardo Beltrame

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EM FOCO Europa, Brasil, Mercosul...

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CAPA A ditadura que ainda vive no Brasil

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CAPA Sobre a mídia e a Comissão da Verdade

LONDON EDITION

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BRASIL NO UK Em Londres, Aldo Rebelo fala sobre a Copa

EDITORA - CHEFE

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UK NO BRASIL Reino Unido apoia programa “Bolsa Verde”

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PERFIL Psicóloga fala sobre planejamento

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COPA 2014 Especial cidades-sede: Rio de Janeiro

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CONECTANDO Carnaval Psicodália

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BRASIL OBSERVER GUIDE Brasil em Cambridge e muito mais...

Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk

EDITORES Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk kate Rintoul kate@brasilobserver.co.uk

RELAÇÕES PÚBLICAS Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk

COLABORADORES Antonio Veiga, Bruja Leal, Clarice Valente, Deise Fields, Gabriela Lobianco, Luciane Sorrino, Michael Landon, Nathália Braga, Renato Brandão, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Zazá Oliva

PROJETO GRÁFICO

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E D I T O R I A L

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16|17 CAPA DO GUIA 18 GRINGO’S VIEW 19 NINETEEN EIGHT-FOUR 25 20 NEW CANVAS OVER OLD 21 GOING OUT 22|23 TRAVEL 24 COOL HUNTER 25 FOOD

wake up colab digala@wakeupcolab.com.br

DIAGRAMAÇÃO Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com

DISTRIBUIÇÃO BR Jet brjetlondon@yahoo.com Emblem Group LTD mpbb@btinternet.com

IMPRESSÃO

FIFTY YEARS ON, BUT STILL PRESENT By Ana Toledo – ana@brasilobserver.co.uk

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ASSESSORIA CONTÁBIL Volto a escrever o que aqui já disse antes: 2014 é ano peculiar para o Brasil. Como se não bastasse uma Copa do Mundo em casa em ano de eleição presidencial, o golpe militar de 1964 completa 50 anos. O “período de chumbo” durou 21 anos. Tempo suficiente para que o silêncio do medo prevaleça até os dias de hoje, quase 30 anos depois da redemocratização. Medo exteriorizado agora de diversas maneiras, já que vivemos um “Estado Democrático de Direito”. Um paradoxo que pode ser explicado pelos inúmeros resquícios que os militares mantiveram durante o processo de abertura política que o Brasil viveu – suficientes para afirmar que a pesada página de chumbo ainda não foi completamente virada na história do Brasil. Por isso que preparamos, nesta edição, uma análise que parte do pressuposto de que o silêncio que adormeceu mentes naquele período traz um vazio histórico no consciente coletivo de hoje. E considerando que, para seguir construindo um futuro, é claramente necessário que entendamos nosso passado.

Hoje, muitos de nós nem imagina que pagamos uma quantia enorme só de juros das dívidas herdadas da ditadura. Em 2014, o pagamento e amortização da dívida consomem 42% dos R$ 2,38 trilhões do orçamento do governo federal; para a saúde e educação, não chegamos a 9% deste bolo. Quantos de nós paramos para pensar que temos uma polícia que, além de carregar no nome o resquício “militar”, mostra em suas atitudes recentes e impunes práticas inadmissíveis, como no caso Amarildo ou a recente morte violenta de Cláudia Silva Ferreira na periferia do Rio de Janeiro. Impunidade que vem do passado: militares que assassinaram milhares de brasileiros durante a ditadura seguem suas vidas tranquilas e impunes, desfrutando de salários pagos pelo Estado. Não estou aqui para dizer que não mudamos. Este editorial não tem o objetivo de negar avanços que vivemos no dia a dia. O intuito é pontuar, neste momento oportuno, que a esperança – tão característica do brasileiro - é sedenta por mudança. Uma mudança que transforme, e não apenas reforme o que se provou fracassado.

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EM FOCO

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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

TROPAS FEDERAIS VÃO OCUPAR FAVELA NO RIO

Em julho do ano passado, movimentos sociais já protestavam no Complexo da Maré contra ação da polícia que um mês antes havia resultado na morte de dez pessoas

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, pediu no dia 24 de março a intervenção das Forças Armadas no Complexo da Maré, na zona norte do Rio. O pedido de intervenção se baseia na Garantia da Lei e da Ordem (GLO), instrumento previsto na Constituição Federal que dá poder de policiamento às Forças Armadas. A solicitação foi feita ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que estava acompanhado do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi. “É uma situação definitiva a presença do Estado na comunidade. As forças federais ficarão o tempo que for necessário [na área]”, disse o ministro. Os detalhes técnicos da intervenção, inclusive o número de soldados e a duração da intervenção, serão definidos em outra reunião da cúpula de segurança estadual com representantes dos ministérios da Justiça e da Defesa (até o fechamento desta edição, não havia novas informações sobre o caso). O encontro ocorreu no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), no Rio de Janeiro. Ao justificar o pedido, o governador afirmou que eles têm relação direta com os ataques recentes às unidades de Polícia Pacificadora. O pedido, segundo ele, reforça a vontade do governo de cumprir o cronograma de instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora na Maré no segundo semestre. “É um passo decisivo para a segurança, em uma área estratégica do Rio, pelo ir e vir nas linhas Vermelha e Amarela, na Avenida Brasil e na Transcarioca, que passam por ali e por uma população trabalhadora que vive ali”, disse o governador. Cabral também disse que o complexo hoje serve de refúgio para vários tipos de crime. O secretário estadual de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, informou que a polícia do Rio irá entrar primeiro no Complexo da Maré e, depois, passará o comando para o Exército. Beltrame disse que a intenção é tomar os territórios ocupados por traficantes de drogas, principalmente daqueles que têm ordenado ataques às UPPs.

355 MIL SÃO EXPULSOS DA EUROPA EM UM ANO

UE E MERCOSUL APRESENTAM OFERTAS DE ACORDO

CRIADOR DA WEB APOIA MARCO CIVIL DA INTERNET

O endurecimento da política migratória da Europa começou a se traduzir em um aumento nas expulsões de estrangeiros. Em 12 meses, segundo dados oficiais, a União Europeia (UE) rejeitou a entrada e determinou a volta aos países de origem de mais de 355 mil estrangeiros - um recorde. A cada dia, seis brasileiros, em média, são impedidos de entrar na Europa e obrigados, pelas polícias dos países do bloco, a tomar o primeiro voo de volta ao País. Dados oficiais da UE apontam que, no período de um ano, 2,4 mil brasileiros foram rejeitados nos diferentes aeroportos de entrada do continente. No total, a Europa impediu a entrada de 128 mil estrangeiros entre setembro de 2012 e setembro de 2013, seja em aeroportos, portos ou fronteiras terrestres. No mesmo período, 227 mil imigrantes que estariam vivendo de forma irregular no continente receberam avisos das autoridades de que seriam mandados de volta para seus países. Os números representam um aumento de 7% nas expulsões em comparação ao ano anterior. No auge da crise econômica, diversos países europeus passaram a fazer novas exigências para que estrangeiros possam trabalhar no bloco. Grã-Bretanha, Dinamarca e Espanha retiraram também benefícios sociais, como o atendimento médico gratuito àqueles que vivem de forma irregular. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, tenta ainda convencer seus parceiros na UE a rever o conceito de livre circulação de trabalhadores. Em fevereiro, a Suíça aprovou por diferença mínima um projeto que acaba com a livre circulação de trabalhadores europeus e estabelece limites para a entrada de estrangeiros. A decisão mostra que muitos europeus estão perdendo a vergonha de dizer abertamente que são contra a imigração. Para governos, o resultado foi um alerta sobre uma tendência cada vez mais conservadora da sociedade. Já para os diversos partidos de extrema direita, o referendo serviu para mobilizar recursos para as eleições de maio para o Parlamento Europeu.

As negociações de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que ficaram travadas por longo tempo, avançam em razão da maior vontade política para a construir a parceria, avaliam especialistas. Segundo eles, o Brasil ficou para trás no fechamento de acordos de livre comércio nos últimos anos e está perdendo mercados. No dia 21 de março, técnicos europeus e sul-americanos se reuniram em Bruxelas para apresentar mutuamente suas ofertas de acordo. A expectativa do governo brasileiro, divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, é que a troca de propostas definitivas ocorra até junho. O embaixador José Botafogo Gonçalves, vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), afirmou que, caso a Argentina, país que mais demorou a formatar sua oferta para a União Europeia, siga colocando dificuldades, existe a opção de fechar o acordo com cronogramas distintos. “Se a Argentina não tiver condições de fazer uma oferta que a Europa considere válida, existe sempre a possibilidade de negociar em nome do Mercosul e implementar [o acordo] em velocidades diferentes. Brasil, Paraguai, Uruguai implementam mais rápido e Argentina mais lentamente”. O advogado Eduardo Felipe Matias, doutor em direito internacional, afirma que há uma pressão do setor privado sobre o Poder Público para que o acordo saia. “A negociação ganhou nova velocidade porque o empresariado se deu conta de que está perdendo mercado no mundo todo. O governo, que não tinha isso como prioridade, passou a ter e tem pressionado inclusive a Argentina”, afirmou. O advogado chama a atenção para as negociações entre União Europeia e Estados Unidos, por exemplo, cujo resultado pode afunilar ainda mais o mercado internacional para os produtos brasileiros. Para ele, os impactos na indústria brasileira com o eventual ingresso de produtos europeus devem ser neutralizados com a preocupação em proteger setores mais frágeis e estratégicos na negociação. O Brasil também deverá contornar dificuldades para colocar principalmente seus produtos agrícolas no mercado europeu, que é protegido. “É um exercício de tentar equilibrar essa preocupação [de proteger alguns setores da indústria brasileira] com a constatação de que estamos perdendo mercado [internacional]”, avaliou Eduardo.

Conhecido como o “pai da web”, o físico britânico Tim Berners-Lee voltou a apoiar e pedir a aprovação do Marco Civil da internet brasileira. Através do portal da World Wide Web Foundation, entidade criada e liderada por ele, Berners-Lee disse que a aprovação das regras de internet livre nos moldes discutidos com as entidade públicas seria “o melhor presente de aniversário possível para os usuários da web no Brasil e no mundo”. “Espero que com a aprovação desta lei, o Brasil solidifique sua orgulhosa reputação como um líder mundial na democracia e no progresso social, ajudando inaugurar uma nova era mundial – onde os direitos dos cidadãos em todos os países ao redor do globo sejam protegidos por leis digitais de direitos”, afirmou o comunicado, que lembra os 25 anos de fundação da web neste ano. No comunicado, Tim Berners-Lee destaca a vanguarda do processo de criação do Marco Civil brasileiro, gerado através de discussões públicas: “Como a própria Web, o Marco Civil brasileiro foi criado por usuários, num processo inovador, inclusivo e participativo, que resultou em uma política que equilibra os direitos e responsabilidades de indivíduos, governos e empresas que usam a internet”, apontou. Em maio do ano passado, o presidente da WWW Foundation já havia passado pelo Rio de Janeiro e deixado seu apoio ao Marco Civil brasileiro. Durante participação na WWW 2013, Tim Berners-Lee deu entrevista ao lado do deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator do Marco Civil na Câmara dos Deputados, onde declarou que o documento caminhava no sentido correto ao “garantir liberdade e direitos humanos na rede”. “O centro da questão no Brasil é que a neutralidade é importante e o país está numa posição de liderança, partindo na direção certa, levando em consideração os direitos humanos de quem acessa e se comunica pela internet”, disse ele na ocasião. A votação do projeto, porém, ainda está emperrada no Congresso Nacional e o texto original corre o risco de ser alterado para atender aos anseios dos grandes empresas de telecomunicações (até o fechamento desta edição, ainda não havia uma data para votação).


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CAPA

Foto: Divulgação/Polícia Militar de São Paulo

Um dos frutos mais duradouros da ditadura é a Polícia Militar, que matou em média cinco pessoas por dia em 2013

Por Roberto Elias Salomão* Escrevo algumas horas antes das projetadas manifestações que pretendem reviver a tristemente célebre “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, de março de 1964 – um dos estopins do golpe que, em 1º de abril, soterrou a democracia no Brasil. Não creio que as novas marchas alterem a conjuntura política, mas temo a eclosão de atos de barbárie. De pessoas ensandecidas e açuladas, pode-se esperar qualquer coisa (leia ao lado a repercussão da marcha). O golpe militar que derrubou o governo democraticamente eleito de João Goulart e instaurou uma ditadura sanguinária no Brasil está completando 50 anos. Há 29, os militares deixaram o poder. É necessário entender as motivações do golpe e os instrumentos de dominação criados pelos generais para se chegar à conclusão de que muitos desses instrumentos ainda estão em pleno funcionamento. O inegável desenvolvimento econômico, particularmente industrial, iniciado ainda na chamada Era Vargas (1930 – 1945) criou condições para um aumento dos conflitos sociais e de classe no Brasil. A classe operária cresceu, lutou e adquiriu consciência; a estrutura sindical criada pela ditadura do Estado Novo sofreu abalos; desenvolveu-se a organização dos trabalhadores nas fábricas. No campo, o

processo de concentração da propriedade motivou as lutas dos camponeses. Estudantes fortaleciam suas entidades, enquanto intelectuais refletiam sobre as condições do atraso nacional. Esses movimentos ganharam corpo e unidade com o cimento da reivindicação das reformas de estrutura (ou reformas de base), lançadas por João Goulart já na década de 1960. Crescia a convicção de que os problemas que impediam o desenvolvimento e a justiça social tinham causas estruturantes – e que deviam ser enfrentadas. Não foram, porém, as tímidas medidas do governo João Goulart em prol dessas reformas (algumas encampações, algumas desapropriações de terra, a modesta lei da remessa de lucros) que motivaram os golpistas de abril. A razão principal foi que a luta pelas reformas ganhou as ruas e passou a fazer parte da agenda dos movimentos sociais. Assim, enquanto se travava no Congresso uma guerra de palavras contra, principalmente, a reforma agrária, a verdadeira contenda estava em outro lugar: latifundiários se armavam, os conspiradores tramavam, o grande empresariado era mobilizado, a embaixada norte-americana era acionada e operava. Veio o golpe, que não encontrou resistências devido a pouca disposição de “Jango” para a briga, mas também por causa da inação das lideranças políticas dos trabalhado-

res, notadamente o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Começava a obra dos militares. O primeiro elemento a ser ressaltado é que o golpe foi dado contra os trabalhadores e suas organizações políticas e sindicais. Já nos primeiros dias, sindicatos foram fechados, dirigentes comunistas foram perseguidos e espancados, a sede da União Nacional dos Estudantes foi incendiada. Nos 21 anos que se seguiram, houve dezenas de milhares de cassações e demissões, milhares de presos e exilados e um número ainda não totalmente contabilizado de mortos e desaparecidos – mas é seguro dizer que passou dos mil. Os generais tinham como missão construir mecanismos de contenção dos movimentos sociais, mecanismos que permanecessem além da duração do regime militar. Alguns desses instrumentos foram superados, outros permanecem vigentes nos dias que correm. A estrutura sindical oficial foi ferida gravemente com a eclosão das greves de metalúrgicos do ABC Paulista, em 1978-79, com a emergência de uma nova geração de dirigentes sindicais e com a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983. Embora ainda haja vínculos entre os sindicatos e o Estado, a organização sindical no Brasil é a mais livre desde os anos 1930. As amarras que se tentaram impor aos partidos políticos na época da ditadura (Arena e MDB) romperam-se com a cria-

ção do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), ainda em 1980. Os partidos políticos ainda estão muito longe do satisfatório, mas a tutela ditatorial é definitivamente coisa do passado: o Brasil vive seu mais longo período de democracia. A ditadura, porém, ainda se mostra presente. Funciona como um lembrete dos militares e das classes dominantes: a democracia não pode ir além do que temos hoje. E, de preferência, precisa recuar. Um exemplo contundente é a Lei de Anistia de 1979, cuja vigência foi avalizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano de 2010. A lei impede que os agentes do Estado responsáveis por torturas, desaparecimentos e mortes sejam julgados e condenados por seus atos (leia sobre a Comissão da Verdade na página 7). Por conta disso, o Brasil já foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. O argumento brandido pelos principais meios de comunicação para manter a lei é que ela teria sido fruto de um “amplo consenso” entre o governo e a oposição. Era 1979: os opositores que não estavam mortos, presos ou exilados, não podiam se manifestar livremente, sob ditadura e censura. Mantém-se, ainda, a Lei de Segurança Nacional. É a expressão de uma doutrina segundo a qual o inimigo está dentro


brasilobserver.co.uk 5 das fronteiras do país. Ou seja, uma clara manifestação da necessidade das classes dominantes de subjugar os trabalhadores e a maioria do povo. A qualquer momento, pode ser acionada – e o alvo preferencial são os movimentos sociais, que tendem a dar as caras nos próximos meses. A criação da Polícia Militar (ou melhor, das polícias militares, pois estão em tese sujeitas aos governos estaduais) é outro fruto duradouro da ditadura. Em 2013, as PMs mataram uma média de 5 pessoas por dia, quase 2 mil no total – incomparavelmente mais do que todas as organizações criminosas somadas. Desnecessário dizer que a esmagadora maioria dessas vítimas são as de sempre: pretos, pobres, periféricos. Em suma, a classe dos excluídos. As três últimas eleições presidenciais evidenciaram outro legado da ditadura: Lula, em 2002 e 2006, e Dilma Rousseff, em 2010, obtiveram no primeiro turno mais de 40% dos votos válidos. No entanto, a representação na Câmara dos Deputados do PT, partido dos presidentes citados, nunca atingiu 20%. Em que pese o fato de que as coligações partidárias tendem a mascarar a força real dos partidos, resta o fato de que a composição do Congresso resulta de uma negação da proporcionalidade. O eleitor de Estados menores e mais atrasados socialmente tem um peso muito maior do que o dos grandes centros. Por último, sem que isso nem de longe esgote a lista, resta falar do Poder Judiciário. É o poder mais sem controle da República. Avalizou todos os atos da ditadura militar. Seu órgão supremo, o STF, mantém-se “independente” da sociedade, pronto a assumir tarefas excepcionais, em nome de uma pretensa ordem institucional – como no caso do julgamento do chamado “Mensalão do PT”. A conclusão é que não houve no Brasil um processo de ruptura com a ditadura militar e suas instituições. São essas instituições (nos níveis parlamentar, judiciário, repressivo) que impedem o aprofundamento da democracia. E, com isso, travam o movimento por mudanças profundas no país, que é no fundo o mesmo movimento pelas reformas de estrutura que foi interrompido pelo golpe militar de 1964. Continuam na pauta do desenvolvimento brasileiro a reforma agrária, a redução da jornada de trabalho, a soberania nacional em relação aos governos e organismos internacionais, a nacionalização e estatização das riquezas e empresas nacionais. Ouço de amigos que aqueles que pregam a volta da ditadura (como os promotores dessa sinistra marcha da família) o fazem por não ter conhecido o regime militar. Discordo. Eles o defendem porque, entre os elementos de democracia e a sobrevivência da ditadura, que conhecem muito bem, preferem esta última. Não há esquecimento por parte daqueles que querem manter as instituições da ditadura. A amnésia histórica é muito conveniente para eles. Com isso, ainda há imensos desafios a serem superados. É por isso que há dois movimentos antagônicos em curso: um pela volta da ditadura, outro pela reforma política, pela Constituinte e por mudanças profundas no país. *Roberto Elias Salomão é jornalista

Ciclo atual da dívida começou no regime militar A dívida pública em âmbito federal do Brasil hoje, somando as dívidas interna e externa, já ultrapassa os US$ 1,5 trilhão, de acordo com dados da Auditoria Cidadã da Dívida (www.auditoriacidada.org.br). O Orçamento Geral da União previsto para 2014 foi de R$ 2,38 trilhões. Desse montante, 42% são destinados ao pagamento de juros e amortizações dessa dívida – valor muito superior ao destinado às áreas da Saúde (4,11%), Educação (3,49%) e Segurança (0,35%), que estão entre as maiores preocupações do brasileiro. Mas, afinal, de onde vem essa dívida? Maria Lucia Fatorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, respondeu essa pergunta em outubro do ano passado, à revista POLI: “O ciclo desta dívida atual começou na década de 1970. No início desta década, nossa dívida externa era de U$5 milhões de dólares e a interna era desprezível. Para a importância do país, essa dívida era considerada pequena”, afirmou Lucia, antes de seguir sua explicação.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“É preciso lembrar que estávamos em uma ditadura. Exatamente em 1971, os EUA aboliram a paridade do dólar com o ouro. E isso possibilitou a emissão indiscriminada de dólares. Isso gerou um excesso de moeda que foi canalizado por meio do sistema bancário, que passou a oferecer este excesso principalmente a países com ditadura militar. Na nossa avaliação, essas ditaduras entraram para possibilitar o domínio econômico e o instrumento para sacramentar esse domínio econômico foi o endividamento. “Tem um livro que se chama ‘Confissões de um Assassino Econômico’, de John Perkins. Ele era uma das pessoas que vinham oferecer esses empréstimos para estimular grandes obras, como viadutos, hidrelétricas, pontes, que foram muito marcantes na ditadura, para criar um clima de progresso. O que eles ofereciam, além das taxas baixas, era o tempo de carência, em geral de cinco anos. Então, você pegava um empréstimo e depois empurrava para o próximo que assumisse o mandato. De 1970 a 1980,

a nossa dívida cresceu 1000%, de US$ 5 milhões para US$ 50 milhões. “Nesse contexto, os estados e municípios entraram no esquema. Fomos pesquisar as resoluções do Senado. E descobrimos que a maioria das resoluções da década de 1970 e 1980 sequer informa quem foi o agente que ofereceu o empréstimo e a destinação dele. Existe uma suspeita de que os estados ajudaram a financiar a ditadura. Mas ainda não conseguimos concluir este estudo”. As afirmações de Maria Lucia Fatorelli ajudam a entender a herança deixada pela ditadura militar no Brasil. Têm sido fracassadas as tentativas de se realizar uma simples conferência dessa conta que a sociedade brasileira paga sem saber exatamente o motivo. Tal conferência foi feita entre 2007 e 2008 no Equador, que conseguiu diminuir em 70% uma dívida sobre a qual não havia comprovação – de acordo com a revista inglesa The Economist, naquele ano o aumento com os gastos em saúde e educação foram de exatos 70%.

Foto: Guilherme Reis

De um lado, pedem intervenção militar; de outro, pedem punição aos torturadores e assassinos da ditadura

Duas marchas, algumas lições Por Guilherme Reis Aproximadamente 150 pessoas no Rio de Janeiro e 500 em São Paulo, de acordo com a Polícia Militar, marcharam pelas ruas centrais da cidade no dia 22 de março em uma tentativa de reeditar a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que em 1964 antecedeu o golpe militar que tirou João Goulart da presidência. No Rio, 50 militantes de movimentos sociais se aproximaram aos gritos de “cadeia, já, para os fascistas do regime militar”. Os defensores da intervenção militar responderam aos gritos de “fora, comunistas” e o clima ficou tenso. Em pelo menos mais duas ocasiões, manifestantes de lados opostos trocaram socos e chutes. Em São Paulo, como resposta, cerca de mil pessoas caminharam na “Marcha

Antifascista”, que percorreu as ruas do centro até o Memorial da Resistência, aos gritos de “Fascistas, golpistas, não passarão”. Longe de representar qualquer mudança na conjuntura política do país, as marchas de ambos os lados sugerem certas reflexões. A primeira delas, e mais alarmante, é a evidência de que ainda há no Brasil quem sinta “saudade” da ditadura. Por falta de informação sobre o período ou má fé, eles acreditam que seria melhor para o país uma nova intervenção militar. Nesse grupo, é comum a ideia de que o PT está a favor do comunismo – algo totalmente desconectado com a realidade política e econômica do país hoje. Além disso, está claro o descontentamento, por parte daqueles que tem um pensamento político mais à esquerda,

com os rumos da construção da democracia no Brasil, seja pela falta de punição aos agentes da ditadura, pela a existência repressiva da Polícia Militar ou pela falta de direitos básicos como educação pública de qualidade – só para ficar nos exemplos mais citados nos últimos dias. De qualquer maneira, o episódio foi bastante pedagógico: 1) o número de pessoas que saem às ruas pela volta dos militares é menor do que aqueles que pedem mais democracia; 2) a visão de mundo totalitária é defendida por aqueles que demonstram grande desconhecimento sobre a história do Brasil; 3) em uma democracia, todas as visões políticas têm o direito de se manifestar, ficando a cargo da educação e do amadurecimento político o desaparecimento de ideias que remetem a tempos sombrios.


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Uma mídia parada no tempo Por Wagner de Alcântara Aragão Tão simbólica efeméride – os 50 anos do golpe de 1964 – faz a gente resgatar a história, comparar o passado com o presente, reconhecendo semelhanças, identificando diferenças. Desse exercício, uma constatação: em alguns aspectos da vida nacional, parece que o tempo não passou. O discurso é idêntico, a práxis, tal qual. Exemplo emblemático é o da mídia brasileira. Se o tempo não para, como cantava o poeta, a mídia nativa parece ter parado no tempo. Não no que se refere aos avanços tecnológicos, à adequação da linguagem, à expansão da infraestrutura, à profissionalização. Nisso tudo, inegável, os meios de comunicação brasileiros evoluíram. Não se pode dizer o mesmo de sua posição na sociedade. A mídia nativa está situada no campo ideológico da direita. Hoje, assim como 50 anos atrás, a mídia encampa, ecoa e referenda o discurso do conservadorismo. Às vezes comedidamente e outras, sem pudores. Nossa mídia não se opõe a mudanças de costumes, mas não tolera reformas sociais, políticas e econômicas que alterem a ordem das coisas. É a famosa saída do “mudar para que tudo fique como está”.

Cinquenta anos atrás, o presidente João Goulart, o Jango, anunciava e tentava implantar reformas das quais até hoje, meio século depois, o Brasil ainda carece. Jango, com seu pacote, ameaçava a zona de conforto da elite nacional e ia contra as pretensões do império, sobretudo o estadunidense. De qual lado a nossa mídia ficou, sabemos – deu amplo suporte ao golpe. A estratégia adotada, também – é possível reencontrá-la 50 anos depois. Quem acompanha atualmente o noticiário dos grandes jornais, dos sites de notícias dos grandes conglomerados e assiste aos telejornais das maiores emissoras nota – se tiver senso crítico – que a realidade apresentada pelos veículos de comunicação comerciais destoa da vida real. Há exceções louváveis, entretanto em regra as notícias parciais travestidas de isentas e os comentários submissos disfarçados de independentes constroem um cenário nacional paralelo à realidade das ruas dos centros urbanos, das periferias, do interior, do sertão. O Brasil de hoje das páginas dos jornais e chamadas da televisão é o país do caos: preços em disparada, bandalheira generalizada na política, o Estado brasileiro financiando governos em Cuba e na Venezuela, alimentando pobres preguiçosos, dando dinheiro a invasores de terra

no próprio território; finanças em frangalhos, economia patinando quase parando... Falsos moralistas são transformados em paladinos da moralidade; antigos comunistas, agora “convertidos”, são alçados à condição de líderes do pensamento renovado, atualizado à nova ordem mundial. Pouco importa se os fatos depõem justamente o contrário. Enquanto o mundo desenvolvido agoniza em crise, o Brasil diminui a níveis históricos o desemprego e vê a renda das famílias aumentar e a pobreza, aos poucos, ser exterminada. A ascensão social experimentada é ímpar; o acesso à escola foi universalizado; cada vez mais jovens estão na faculdade e pós-graduação – inclusive com bolsas de estudos no exterior, pelo Ciência Sem Fronteiras. Não que vivamos no paraíso. Só que tampouco estamos no inferno pintado pelo alarmismo midiático, idêntico ao de 50 anos atrás. O mais grave, e que torna bizarra a situação, é que lá em 1964, sim, passávamos por transformações radicais. Hoje, em que pesem os avanços citados, as mudanças são superficiais. Taxar fortunas, como tentou Jango? Nem se cogita no governo atual. Reforma agrária? Cada vez mais distante. Multinacionais e o sistema financeiro acumulam ganhos sobre ganhos sem serem

incomodados; ao agronegócio, a coalizão governamental estende o tapete vermelho; ao sem-terra, restam as lonas de beira de estrada. Outra diferença, esta positiva, é que as comunicações agora se dão de outra forma. Com as novas tecnologias de informação, com os blogues, redes sociais e afins, os jornalões perderam o monopólio da notícia, deixaram de ser formadores de opinião. Por mais que, de um lado, haja distorção criminosa da verdade, de outro se tem de imediato o contraponto, fatos e versões diversos. O embate, porém, ainda não ocorre em condições de igualdade. Embora a internet tenha dado voz a vozes outras, nessa nova ferramenta o oligopólio dos meios tradicionais também avança. O que, aliás, torna evidente a necessidade de outra reforma da qual carecemos, e com urgência: a reforma da mídia. Assim como precisamos acabar com o latifúndio da terra, excludente, devemos por fim ao latifúndio dos meios de comunicação, um atentado à democracia pela qual tantos brasileiros deram a vida. Para isso falta vontade política, mobilização consciente e coragem. A coragem de 50 anos atrás, que fez governo e sociedade ousarem reformas radicais, esta parece ter ser perdido no tempo.

FILMES E LIVROS SOBRE A DITADURA O que é isso, companheiro? Dirigido por Bruno Barreto, filme de 1997 conta a história verídica do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, por integrantes dos grupos guerrilheiros de esquerda MR-8 e Ação Libertadora Nacional, que lutavam contra o regime militar no Brasil. Link: http://goo.gl/vnuIWT

Apesar de vocês Oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos Livro do norte-americano James N. Green, publicado em 2009, analisa as relações entre Brasil e Estados Unidos entre as décadas de 1960 e 1970, e se detém com especial atenção sobre a rede de denúncias que, intensificada com o recrudescimento da repressão no Brasil, conseguiu levar até o Congresso norte-americano a discussão sobre a continuidade da ajuda militar e financeira à ditadura. Link: http://goo.gl/iPdZIc


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A respeito da Comissão da Verdade Por Paula Sachetta* Tão simbólica efeméride – os 50 anEm fins de 2012, Peu Robles e eu estávamos em uma reunião conversando sobre a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Que comissão era aquela, tão pedida, que veio tão tarde, mas que veio, finalmente? Estávamos definindo nossa posição em relação ao tema quando nos demos conta de que, se parássemos pessoas na rua e perguntássemos a elas a respeito, as mesmas não saberiam dizer do que se tratava. Pior: não entenderiam sua importância e limitações. Assim, ele sugeriu que fizéssemos um mini documentário de 5 minutos explicando o que era a tal comissão. Rabiscamos ali mesmo um roteiro, nomes de entrevistados e ideias e percebemos que o plano não caberia em 5 minutos. Começamos a filmar para ver onde aquilo ia dar, colocamos o projeto em um site de financiamento colaborativo e de repente tínhamos 20 mil reais para realizá-lo. Um ano depois, com o filme de 55 minutos finalizado, uma repórter me perguntou: mas por que vocês fizeram esse filme se não têm parentes presos, torturados, mortos ou desaparecidos durante a ditadura? Por que fizeram

esse filme se não viveram aquela época? Tive vontade de responder: por que você não fez esse filme? A Comissão Nacional da Verdade foi instituída em maio de 2012, segundo o texto de sua lei, para “apurar as graves violações de Direitos Humanos entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988”. Vem, basicamente, quase 30 anos depois do fim da ditadura, investigar os crimes de agentes do Estado que vitimaram cidadãos que lutavam contra a repressão. Em sua formação original, contou com sete membros e 14 assessores. Percebemos a necessidade de registrar esse processo e queríamos fazer um filme para mostrar a importância da CNV, além das expectativas e críticas em relação a ela, pois, como tudo no Brasil, ela foi construída em um longo processo de negociação e concessões. Por que não fazer um filme sobre isso? Por que não falar disso se o país em que vivo hoje – tenho 26 anos e não havia nascido na época da ditadura – continua cometendo os mesmo crimes? Continua deixando assassinos, estupradores, torturadores e ocultadores de cadáveres impunes? Por que essa história me diz respeito e não é “coisa

do passado” ou “página virada” como muitos insistem? Gosto de dar um exemplo muito claro: em janeiro de 1971, o então deputado cassado Rubens Paiva se apresenta na sede do DOI-Codi do Rio de Janeiro para “prestar depoimentos”. Ele nunca mais foi visto. Em 14 de julho de 2013, o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza é levado em um carro da polícia “pacificadora” para o mesmo procedimento e também desaparece. A pergunta de 43 anos da ditadura “Cadê Rubens Paiva?” ecoa hoje em nossa democracia mambembe, atualizada para a era digital: “#cadeoamarildo?”. Assim, a Comissão Nacional da Verdade, por mais tarde que venha, é de extrema importância. É um passo essencial para o Brasil começar a construir sua história e memória. Deve dar resposta, por exemplo, a centenas de brasileiros sobre as circunstâncias de morte e paradeiro dos corpos de seus pais, mães, filhos e irmãos. Porém, com as limitações impostas pela Lei de Anistia, promulgada em 1979 e ratificada pelo Supremo Tribunal Federal em 2010, a comissão veio tímida. O grito por justiça de mais de quarenta anos, de pessoas que foram presas, torturadas ou que tiveram

parentes assassinados, não foi ouvido. A comissão investiga e deve entregar até certas respostas esperadas, mas não vem para fazer justiça. Para muitos, esse é seu maior problema. Uma nação não pode viver sabendo que assassinos estão à solta. E mais: o não rompimento com o passado traz sérias consequências para o Brasil de hoje. As polícias militares continuam matando, desaparecendo com corpos e praticando crimes sem serem punidas, porque a impunidade do passado dá carta branca à violência policial de hoje. Por isso fizemos o documentário, para aproximar o tema de jovens e adultos que acham que, em 2014, no marco dos 50 anos do golpe militar, a ditadura é coisa do passado. Não é. Já que por enquanto ficamos sem justiça, que a CNV venha com a lição tão importante de que devemos conhecer nossa história para que fatos tão terríveis não voltem a acontecer. Se não, Amarildos e Rubens Paivas serão os fantasmas que voltarão para lembrar que não podem ser esquecidos. *Paula Sachetta é jornalista e diretora do documentário “Verdade 12.528” www.joaoemariadoc.com/doc-verdade-12-528.

Dossiê Jango

K.

O dia que durou 21 anos

Documentário de Paulo Henrique Fontenelle, lançado em 2012, repassa o período em que o ex-presidente João Goulart viveu no exílio até sua misteriosa morte, levantando a necessidade de investigar a verdade sobre a época em que a América Latina era comandada por diversas ditaduras militares.

Escrito por Bernardo Kucinsky, livro conta a história de um pai em busca de sua filha, “desaparecida” durante a ditadura militar no Brasil, e coloca o leitor dentro da dor e da memória do período.

Dirigido por Camilo Tavares, documentário mostra a influência do governo dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil em 1964. A ação militar que deu início a ditadura contou com a ativa participação de agências como CIA e a própria Casa Branca. Com documentos secretos e gravações originais da época, o filme mostra como os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson se organizaram para tirar o presidente João Goulart do poder e apoiar o governo do marechal Humberto Castelo Branco.

Link: http://goo.gl/uNZwWA

Link: http://goo.gl/VMw6EL

Link: http://goo.gl/Yxa32d


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BRASIL NO UK

Foto: Paulino Menezes/Ministério do Esporte

Aldo Rebelo no Estádio Nacional de Brasília

Em Londres, Aldo Rebelo destaca benefícios da Copa Em dois compromissos oficiais que teve em Londres no mês de março, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, fez um balanço dos resultados positivos que a Copa 2014 já garantiu aos brasileiros e ao Brasil. Aldo Rebelo participou também do Tour da Taça do Mundo, que passou por Londres e esteve na Embaixada do Brasil. Entre esses compromissos, o ministro se reuniu com a ministra do Esporte, Turismo e Igualdades do Reino Unido, Helen Grant, e fez uma palestra no Brazil Institute, da universidade King’s College. Com a ministra, Aldo Rebelo tratou da necessidade de aprofundar a colaboração entre o Brasil e o Reino Unido para o desenvolvimento de projetos na área

de esporte, colaboração que foi iniciada durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos disputados em Londres, em 2012. O ministro elogiou a decisão da Seleção Inglesa de usar as instalações da Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro, para centro de treinamento e disse ter certeza de que os jogadores e a comissão técnica terão todas as condições para a preparação. O ministro do Esporte também se encontrou com alunos do King’s College para uma palestra sobre o futebol brasileiro e a preparação do País para a Copa 2014. Estudantes ingleses e brasileiros participaram fazendo perguntas ao ministro. Depois de mostrar que o Brasil tem todas as condições de atender as expec-

tativas mundiais em relação ao torneio e de falar da história do desenvolvimento do futebol brasileiro e de sua influência na transformação do jogo da bola no esporte mais popular do Brasil, Aldo Rebelo reafirmou a confiança no apoio da população à realização da Copa. “Os brasileiros se identificam com o futebol desde o nascimento. Muitas vezes, o primeiro presente do pai ao recém-nascido é a camisa do time preferido. No Brasil, o futebol é um fenômeno social. Foi a primeira plataforma de inclusão social para os negros e para os mais pobres. Nossas equipes são verdadeiramente nacionais. As grandes equipes têm torcedores no país inteiro. Um time de São Paulo tem torcida no Norte, no

Nordeste... Por isso, a Copa vai ser uma grande festa”, disse o ministro. Sobre as manifestações populares contra a realização da Copa no Brasil, Aldo afirmou, em entrevista ao editor de esportes da BBC, que o Mundial “não é um momento de nós fazermos protestos, porque teremos todo o tempo para reivindicar e para melhorar as coisas no nosso país [depois do Mundial]”. Apesar dos recorrentes protestos anti-Copa no país, Aldo acredita que, no Mundial, a população vai festejar. “Acho que, na Copa, haverá diminuído muito o número de protestos. As pessoas vão estar mais preocupadas em fazer uma festa, em celebrar, do que propriamente em protestar”, avaliou.

Câmara Brasileira de Comércio premia a ‘Personalidade do Ano’

A 16ª edição do prêmio anual de “Personalidade do Ano” da Câmara Brasileira de Comércio da Grã-Bretanha acontece no dia 13 de maio, a partir das 19h, no London Hilton. O evento homenageia dois líderes empresariais que tenham se destacado na missão de desenvolver as relações comerciais entre Brasil e Reino Unido. Neste ano, os dois premiados serão Andre Santos Esteves e Lord Bamford. Esteves é presidente do conselho e CEO do BTG Pactual, uma das dez marcas mais valiosas do Brasil. BTG Pactual é um banco de investimento lí-

der na América Latina, com 30 anos de experiência no mercado brasileiro e internacional, com 2.500 funcionários em doze escritórios na América Latina, Reino Unido, Estados Unidos e China. Bamford é o presidente da JCB, uma das empresas familiares de maior sucesso da Grã-Bretanha. JCB é uma das três maiores fabricantes de equipamentos de construção, emprega 11.000 pessoas em quatro continentes e vende seus produtos em 150 países. Para mais informações sobre o evento, como preço dos ingressos e formas de reserva, acesse http://goo.gl/a1mG68.


UK NO BRASIL

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Brasil aposta na reconciliação do ser humano com a natureza, diz embaixador britânico O Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, participou em Brasília, no dia 19 de março, da abertura do Seminário Internacional do Programa de Apoio à Conservação Ambiental - Bolsa Verde. “Esse programa é fascinante, porque aposta na reconciliação do ser humano com a natureza”, afirmou o embaixador na ocasião. Para ele, ajudar na transformação social do Brasil é a coisa certa a se fazer. O Reino Unido, por meio do Prosperity Found, deu apoio ao projeto do governo brasileiro, capacitando técnicos para atuar nas regiões onde existem famílias de baixa renda vivendo em áreas de grande interesse ambiental. “O que acontece no Brasil, em termos ambientais, tem consequências no mundo todo. Mas não é só uma questão de mudanças climáticas, o Reino Unido apoia a transformação social no Brasil, que tem tanta riqueza natural lado a lado com pobreza rural. Como mudar isto, aumentar a prosperidade das pessoas sem destruir as riquezas naturais? Isto é bastante fácil de observar e difícil de fazer”, argumentou o embaixador. O Bolsa Verde foi lançado em 2011, como parte do Programa Brasil sem Miséria, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), e concede, a cada trimestre, um benefício de R$ 300 às famílias ribeirinhas, extrativistas, indígenas, quilombolas e de outras comunidades tradicionais. Como 47% das 16,2 milhões de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza estão na área rural, a proposta é aliar o aumento na renda à conservação dos ecossistemas e ao uso sustentável dos recursos. “O objetivo desse debate internacional não é só fazer um balanço, mas

fortalecer o social com o ambiental. Precisamos dialogar sobre essas questões em um novo patamar para que a política ambiental tenha capacidade de dialogar com outras políticas e influenciar um novo modelo de governança pública nesses locais”, disse a ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, para quem a interlocução com os agentes financeiros é necessária do ponto de vista do desenvolvimento regional. Até dezembro de 2013, o Bolsa Verde atendeu a 51,2 mil famílias, o que corresponde a um investimento R$ 70 milhões. Em 2014, serão investidos R$ 100 milhões no programa, que alcança 65 unidades de conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 767 projetos de assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e 57 municípios com áreas administradas pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. O estado do Pará conta com o maior número de beneficiários, e 75% do total das famílias do programa estão na Região Norte.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

No centro, a ministra Izabella Teixeira; ao seu lado esquerdo, o embaixador Alex Ellis

Beckham passa duas semanas na Amazônia para programa de TV

O ex-jogador de futebol inglês David Beckham participou de uma expedição de duas semanas pela selva amazônica para um documentário da BBC, por ocasião da Copa do Mundo do Brasil. O ex-capitão da seleção inglesa, que participou de três Mundiais - 1998, 2002 e 2006 - foi acompanhado por três amigos nesta viagem, que ocorreu no início de março. O documentário, que pretende informar sobre a bele-

za natural do Brasil, será exibido em junho e nele será possível ver o ex-jogador do Manchester United e do Real Madrid pescando, cozinhando e acampando. “Neste documentário especial para a BBC1, David Beckham embarca em uma expedição secreta à Amazônia na qual experimentará o outro lado do Brasil e viajará pela selva tropical, uma novidade para o ícone mundial”, disse Charlotte Moore, da BBC.


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Foto: R么mulo Seitenfus

PERFIL


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A importância do planejamento É importante esboçar estratégias para realizar os sonhos? Até que ponto é saudável pensar grande? Ideias de positivismo são realmente úteis? Como lidar com as frustrações do cotidiano? A psicóloga Kelli Guidini fala da importância dos planos, sonhos e metas para manter o foco na caminhada pessoal e profissional; garante que ter um planejamento estratégico é mesmo fundamental; e afirma que comemorar as conquistas é algo imprescindível. Por Rômulo Seitenfus

É importante fazer planos e metas? Sim, é muito importante, mas tudo dentro das nossas limitações humanas. Devemos respeitar nossos limites, não nos impondo sonhos grandes demais para nossa força emocional e física. Ao mesmo tempo é importante fazer uma listinha de tudo, realmente tudo, com o que e quem você deseja ou não. E vale tudo! Sentimentos, pessoas, emoções, coisas materiais, pensamentos... A partir dessa listinha você fará uma pré-seleção, priorizando o que é mais essencial. Não invente querer tudo ao mesmo tempo e não tenha a pretensão de almejar realizar tudo tão rápido. Geralmente, nessa listinha há desejos que você só irá realizar daqui um bom tempo, pois há a necessidade não só dos anos passarem, mas de você também se tornar mais maduro a ponto de conhecer suas potencialidades. Até que ponto é saudável sonhar? Você consegue fechar os olhos e se projetar no futuro? Consegue se imaginar fazendo ou sendo o que deseja? Como você se imagina física, psíquica e espiritualmente no próximo ano? Se você conseguiu fazer esse exercício de imaginação, também tem grande possibilidade de realizar esses desejos. Sonhar é o principio de tudo; sonho é o nome que damos ao nosso desejo, à nossa vontade e inclusive às nossas necessidades. Sonhar é preciso! Percebo hoje muitas pessoas com dificuldades de sair do solo firme e ousar dar asas à imaginação. O fato de se permitir sonhar ou pensar em se curar de uma doença já muda toda a realidade (interna e externa) dessa pessoa. Pesquisas científicas comprovam o poder da crença, da fé e do sonho. Sonhar é sim saudável, mas viver só de sonhos não. De nada valem os sonhos se não corrermos atrás para realizá-los. Costumo sempre utilizar um ditado muito sábio: “Saber e não fazer é ainda não saber”. Planejar o futuro e esboçar estratégias faz parte do sucesso? Sim. Ter um planejamento estratégico pessoal, ou seja, esboçar objetivos, metas e estratégicas é muito importante para organizar nossos desejos e também priorizá-los. Mas é importante ter muito cuidado e estar sempre atento ao meio termo, pois planejamento levado a sério demais vira neurose. E qualquer meta não alcançada se transforma em um drama, uma grande frustração e perda de energia para seguir em frente. O papel do planejamento deve ser de norteador e não de definidor da vida, até porque estamos à mercê de forças bem maiores, contratem-

pos, imprevistos e mudanças de planos. O verdadeiro sucesso reside em não desistir dos sonhos, nesse contexto o ditado “Querer é poder” tem grande valor, pois quando realmente queremos algo, vamos à luta, caímos, levantamos, esmorecemos, mas continuamos firmes em nossos propósitos. Lembre-se: não vivemos num conto de fadas, se quer realizar um desejo não temos de esfregar a lâmpada. Temos de suar a camiseta. Como lidar com as frustrações? As frustrações sempre serão necessárias para fazermos uma análise se nossas metas e sonhos são realmente atingíveis. Ou seja, devemos nos fazer a seguinte pergunta: se dedicarmos todas as forças e colocarmos em prática todos os nossos conhecimentos e habilidades, atingiremos a meta? É a partir da resposta dessa pergunta que nos deparamos com nossas limitações humanas. As frustrações podem sinalizar que não nos dedicamos tanto quanto precisávamos ao nosso sonho, que nosso sonho tem tamanho desproporcional à nossa capacidade ou realmente não era o tempo exato para alcançá-lo. Quando a frustração ocorre é o momento de se questionar: dei tudo de mim? A pressa ou o excesso de acomodação me prejudicou? Preciso dividir meu desejo em vários menores para poder realizá-lo? As respostas dessas reflexões geram sempre um rico aprendizado, pois entramos em contato com nosso íntimo. É importante comemorar as conquistas? Sem dúvida alguma. As conquistas devem ser sempre comemoradas, independente do tamanho que você dá a elas. Se você passou de ano na escola, se comprou um carro, se conquistou seu grande amor, se teve seu primeiro filho, se venceu uma doença dita incurável, se conseguiu sair de casa depois de uma longa crise de pânico, se tomou banho de chuva, se ouviu um elogio inusitado, tudo isso é conquista e deve ser sim valorizado e comemorado, mas não fique esperando que os outros dêem o devido valor ou o reconheçam por tudo isso, porque o valor das suas conquistas é você quem dá. É incrível como a maioria das pessoas encontra dificuldades em identificar suas conquistas ou reduzem elas a nada. O negativismo as impede de vibrar, sorrir e reconhecer o que e quem conquistamos todos os dias. Portanto, não permita que a sombra do negativismo também expresso nos telejornais o impeça de sentir e sonhar. Nunca deixe de vibrar por seus desejos realizados, pois a energia dessa vibração ajudará na realização dos próximos. Sonhe, acredite e realize, e extraia grandes aprendizados de suas frustrações.

É importante ter muito cuidado e estar sempre atento ao meio termo, pois planejamento levado a sério demais vira neurose


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COPA 2014 Destino queridinho de turistas do mundo todo, a Cidade Maravilhosa voltará a receber uma final de Copa depois de mais de 60 anos; protestos também devem marcar a passagem do Mundial pela antiga capital do país

RIO DE BRAÇOS ABERTOS Por Nathália Braga

Mais de 60 anos depois da histórica final entre Brasil e Uruguai, na dolorosa tarde do dia 16 de julho de 1950, o Maracanã - maior estádio do país e um dos mais famosos do planeta - voltará a ser palco de uma final de Copa do Mundo. E o Rio de Janeiro, que receberá ao todo sete partidas do Mundial, vai experimentar a primeira de duas grandes competições esportivas marcadas para acontecer na cidade, já que daqui a dois o espírito olímpico promete invadir o cenário carioca com a Olimpíada de 2016. Com um perfil voltado para o turismo, não é novidade para a cidade a visita de milhares de turistas todos os anos. Em 2012, o número ultrapassou a marca de um milhão de visitantes. Em um lugar cercado por belezas naturais, não poderia ser diferente. A fama de bom anfitrião do carioca, porém, deve contrastar, durante o Mundial, com protestos anti-Copa. A cidade, junto com São Paulo, é um das que mais tiveram manifestações durante o ano que se segue após as jornadas de junho de 2013. Em pleno Carnaval deste ano, por exemplo, os garis do Rio de Janeiro entraram em greve e só voltaram a limpar as ruas depois de grandes protestos que, no final, levaram a categoria a receber o aumento salarial desejado. Por isso, levando em conta os movimentos de protestos que vêm acontecendo até aqui, não é difícil supor que, durantes os meses de junho e julho, haverá cartazes com os dizeres “Fifa Go Home” pelas ruas da cidade. O que, de maneira nenhuma, deve afetar aqueles que lá estarão para aproveitar o turismo do Rio e os eventos esportivos – para os mais curiosos, será, inclusive, um ingrediente a mais para entender a realidade pela qual os brasileiros estão passando.

CARTÕES POSTAIS Uma das atrações mais conhecidas é o Cristo Redentor, talvez o símbolo mais marcante do Rio de Janeiro. Eleita uma das sete novas maravilhas do mundo, a estátua, que tem 38 metros de altura, foi inaugurada em 1931. Situada no topo do Corcovado, com uma base de 709 metros acima do nível do mar, oferece uma vista de tirar o fôlego da Baía da Guanabara e praias da zona Sul. Para se chegar até lá, o passeio do Trem do Corcovado é uma atração à parte. O trajeto atravessa o Parque Nacional da Tijuca, que tem trilhas e cachoeiras como pontos turísticos próprios (Mais em www.corcovado. com.br). Já o calçadão e a praia de Copacabana, na zona Sul, são os pontos da cidade que mais abrigam turistas, devido ao grande número de hotéis na região. Perto dali, as famosas praias de Ipanema e Leblon também são lugares indispensáveis durante a visita. Mas o Rio tem mais, muito mais: a Lagoa Rodrigo de Freitas, o bondinho do Pão de Açúcar, o Teatro Municipal... E mais tantas outras atrações que encantam os turistas, como as praias mais fora da cidade, mais ainda no Estado do Rio de Janeiro (leia mais nas páginas 22 e 23). PAIXÃO PELO FUTEBOL Além da já citada vocação para o turismo, outro fator marcante do carioca é a paixão pelo futebol. Basta andar pelas ruas e pelas praias do Rio de Janeiro para encontrar pessoas jogando bola nas famosas “peladas” – partidas de futebol que não precisam de muito para acontecer: basta um campo improvisado, uma bola e amigos – ou até mesmo desconhe-

cidos passando pelo campo e dispostos a jogar. Tal paixão será, inclusive, tema de debate no Festival Literário de Cambridge, no dia 5 de abril (leia a partir da página 15). A cidade é o berço de muitos craques, como Zico, Romário e Jairzinho. E o futebol é levado a sério. São quatro grandes clubes, que com muita rivalidade disputam a preferência dos torcedores. O maior deles é o Flamengo, com quase 30 milhões de torcedores – a maior torcida do Brasil. Botafogo, Fluminense e Vasco completam o quarteto que compete em grandes clássicos no Maracanã. Durante a Copa, grandes partidas também irão acontecer no estádio. Além de receber a final, às 16h do domingo dia 13 de julho, o Maracanã terá ainda três campeões mundiais disputando jogos pela primeira fase: Argentina X Bósnia (15 de junho), Espanha X Chile (18 de junho), Bélgica X Rússia (22 de junho) e Equador X França (25 de junho). Na segunda fase, recebe mais três jogos: oitavas de final, quartas de final e a grande decisão do campeonato. Inaugurado pouco tempo antes da Copa do Mundo de 1950, o Maracanã foi completamente reformado e tem hoje capacidade para aproximadamente 73 mil torcedores (na final de 1950, havia mais de 200 mil pessoas no estádio). O custo foi de R$ 808,4 milhões, segundo informações oficiais. Entre os itens inclusos no projeto de reforma estão a reconstrução da arquibancada inferior, a melhoria da visibilidade do estádio e a substituição de todos os assentos, além de uma cobertura que capta água da chuva para reuso. Apesar de tantas modificações, a fachada do estádio não sofreu alterações, por ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

HISTÓRIA A cidade do Rio de Janeiro foi fundada em 1º de março de 1565. A data de sua fundação, porém, não é a mesma de sua descoberta, que ocorreu por um explorador português que, ao navegar pela costa brasileira, se deparou com o que achou ser um grande rio. Era 1º de janeiro de 1502 e o explorador então chamou o rio de Rio de Janeiro. Mais tarde, esclareceu-se que o local na verdade era uma baía, a Baía da Guanabara, mas continuou a ser conhecido pelo nome original. Rio de Janeiro foi capital do Brasil por um longo período, entre 1764 e 1960 – antes que Brasília passasse a ser o centro político do país. Isso explica os exuberantes prédios de arquitetura colonial que podem ser encontrados no centro da capital fluminense. A cidade, aliás, foi a única das Américas a servir de lar para uma família real europeia na história. Tal fato aconteceu em 1808, quando o então príncipe regente de Portugal, D. João VI, desembarcou no país fugindo das tropas de Napoleão – e por lá ficou até 1821, quando voltou a Portugal, abrindo as portas para a independência do Brasil. Depois de São Paulo, o Rio é a segunda cidade mais populosa do país, com cerca de 6 milhões de habitantes. As duas metrópoles, aliás, compartilham uma rivalidade amistosa entre os seus habitantes, motivada principalmente pelas diferenças no sotaque e estilos de vida. Mas, em tempos de Copa do Mundo, o Brasil vira uma só nação. Uma nação que torce para que, se chegar à final no “Maraca”, tenha um desfecho diferente daquele 2 a 1 para o Uruguai.


C O PA 2 0 1 4 Fotos: Divulgação/Ministério do Turismo Maracanã foi totalmente reconstruído pelo valor de R$ 800 milhões; capacidade é para mais de 70 mil pessoas

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POSITIVO: GANHOS COM O TURISMO Durante a Copa, o Rio de Janeiro deve atrair a maior parte dos turistas. São esperados mais de 400 mil estrangeiros e mais de 840 mil brasileiros no Estado. Um levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, em parceria com o Ministério do Turismo, prevê que a cada três turistas em circulação pelo Brasil, dois passem pelo Estado fluminense. O Rio de Janeiro já recebeu mais de dois milhões de pessoas para o Ano Novo e tem uma das maiores concentrações de público no Carnaval do país. Em 2013, com a Jornada Mundial da Juventude, recebeu 3,7 milhões de turistas que visitaram o Rio para acompanhar a peregrinação do Papa Francisco. A expectativa é que o PIB do turismo pule dos atuais 3,5% para 8% até 2018. Eventos como Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas 2016 justificariam este crescimento. O Rio será ponto de concentração das seleções da Holanda e da Inglaterra. A Seleção Brasileira terá a região serrana do Estado como base, em Teresópolis. E a Itália vai ficar no município de Costa Verde.

Cristo Redentor, Praia de Ipanema e Lagoa Rodrigo de Freitas estão entre os pontos mais visitados

NEGATIVO: AUMENTO DOS PREÇOS

RIO DE JANEIRO - RJ Região: Sudeste População: 6 milhões de habitantes Área: 1.260 km2 Clima: Tropical Atlântico, com médias de 23°C Vegetação: Mata Atlântica

ESTÁDIO MARACANÃ Valor investido: R$ 808,4 milhões Capacidade: 73.531 torcedores Dimensões do campo: 105 X 68 m LINKS ÚTEIS www.visitbrasil.com www.portal2014.org.br/cidadessedes/RIO+DE+JANEIRO

Como a cidade espera receber milhares de turistas, os preços das acomodações estão lá em cima. O preço dos aluguéis de imóveis, por exemplo, deve ser um dos itens mais custosos. Os valores praticados devem chegar até a cinco vezes mais do que o geralmente cobrado em períodos como Carnaval e feriados. Imobiliárias já alugam imóveis por R$ 130 mil para o período de 8 de junho a 20 de julho. O Ministério do Turismo diz que entre as cidades-sede para o Mundial, o Rio é a que oferece mais opções em imóveis para aluguel. São 2,7 mil unidades, com capacidade para atender 15 mil pessoas. Em sites especializados, é possível encontrar imóveis com diária de R$ 1.400 na zona Sul e mais de R$ 2.500, em Ipanema. Os hotéis também devem incrementar os valores das diárias com a chegada do evento esportivo. Uma pesquisa feita pela TripAdvisor mostra que o Rio é uma das cidades mais caras para se hospedar. A cidade ocupa a quarta colocação na lista, com uma diferença de 107% das diárias em dias de jogos.


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CONECTANDO

CARNAVAL PSICODÁLIA Carnaval 2014. Opção 1: comidas com alto teor de gordura saturada; filmes de terror; calor escaldante. Opção 2: bloco de rua; gente bêbada e suada; calor escaldante. Opção 3: música psicodélica; maconha; frio da serra. Por questões meramente climáticas fiquei com a última opção. 2014: ano do meu primeiro Psicodália. Confesso que sempre torci o nariz para festivais no meio do mato, com músicas felizes e gente colorida usando camiseta de tyedye com uma pretensa áurea hippie mais de 40 anos depois do Flower Power. Todo esse preconceito me fez demorar 17 edições para pisar na Fazenda Evaristo, onde hoje é realizado o festival. Com 300 mil metros quadrados, o evento se divide em 2 palcos, 5 áreas de camping, 310 banheiros, trilhas, lago, cachoeira e tirolesa. Quase cinco mil pessoas circularam por lá e puderam usufruir de 40 shows, 8 filmes, 10 peças de teatro e 40 oficinas, que iam desde como fazer um caleidoscópio até piruetas em tecido acrobático e poesia surrealista – esta última mais apropriada às minhas habilidades e que acabou me rendendo bons versos. Mas o que comanda o festival são mesmo as atrações musicais. No palco principal, minhas menções honrosas vão para Tom Zé, que confundiu e explicou para a plateia como se faz um show de rock (sim) de cabo a rabo (literalmente).

Os veteranos do Gong, atração internacional, vieram pesado na psicodelia “sydbarretiana”; MetáMetá com um afro rock beat dos orixás surpreendeu tocando Mercenárias, banda punk brasileira dos anos 80; Moraes Moreira, um dos nomes mais aguardados, tocou na íntegra o álbum clássico dos Novos Baianos, Acabou Chorare, fazendo todos dançarem e lembrarem que sim, estávamos no Carnaval e o que era melhor: no Brasil. Para fechar o último dia de festa, Di Melo com clássico soul brasileiro e Almir Sater com suas histórias e viola afiada. No Palco do Sol, que começava a programação sempre ao meio dia, depois do toque de acordar feito com rojões e um grito de “Bom dia Psicodália!”, merece destaque o divertido Trombone de Frutas, grupo experimental de Curitiba, e Satanique Samba Trio, banda de uns malucos que tocam samba vestidos com camisetas de Death Metal. Havia ainda o Palco dos Guerreiros, que começava de madrugada e só parava quando o sol raiava. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e por ainda não dispor do poder da onipresença, perder atrações incríveis é natural. Consegui ouvir ao longe a última música do Módulo 1000, psicodelia setentista brasileira, e Central Sistema de Som, que fez um show tão bom que foi escolhida pelo público para tocarem

Não há como estar neste festival e não se deixar contaminar pelo sorriso e energia das pessoas Por Nanashara Gonçalves – De Camboriú, Santa Catarina

novamente no palco principal no encerramento da festa. Havia ainda a Radio Kombi com 24 horas de programação comandada pelo Heitor Humberto e pela Luana Angreves: destaques para o programa 4:20 e também para o momento mágico em que mandaram o álbum Transa, do Caetano Veloso, na íntegra, fazendo todas as meninas que estavam no banheiro dançarem nuas e cantarem “you don´t knooow me”. Inclusive eu, que esperava na fila do chuveiro. A comida servida também é uma atração à parte, como o X-Salada do Rango Star, ao maravilhoso preço de 5 reais. Tudo no festival tinha um sabor especial e um preço acessível. Importante menção ao gerente do mercadinho, Arthur “Alface” “Jesus” Hadler que milagrosamente não deixou faltar nem gelo nem cigarro. Mas o que realmente pega no festival é a convivência durante os 6 dias com o mais variado tipo de pessoas em seu melhor estado: feliz. Porque não há como estar no Psicodália e não ser contaminado pelos sorrisos e energia das pessoas. É incrível poder ser vizinho de acampamento de seus amigos. É ótimo gritar bom dia para desconhecidos e, sim, eu fui contaminada por toda essa alegria. Psicodália 2015: certamente estarei lá! g

Para mais informações: http://goo.gl/oo06cE

COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk

Foto: Nanashara Gonçalves

O mais variado tipo de pessoas em seu melhor estado: feliz


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Brasil Observer

GUIDE In partnership with FlipSide - the Suffolk-based festival of Brazilian literature - the Cambridge Literary Festival co-presents three exciting events on Saturday the 5th of April with Brazil on spot - one of them about the influence of football on Brazilian culture. >> Read more on Pages 16 and 17

Photo: Divulgation

Em parceria com a FlipSide - festival de literatura brasileira que acontece em Suffolk -, o Festival Literário de Cambridge apresenta três eventos com foco no Brasil, no sábado dia 5 de abril - um deles sobre a influência do futebol na cultura brasileira. >> Read more on Pages 16 and 17


16 brasilobserver.co.uk By Gabriela Lobianco

BRAZIL IS THE THEME AT THE CAMBRIDGE LITERARY FESTIVAL

After FlipSide, the English version of the Paraty International Literary Festival (FLIP, in Portuguese) that took place in Suffolk last year, Brazil will again be on spot in a literature festival in the UK. This time, the country will be represented through the activities of ‘Viva Brazil’, part of the Cambridge Literary Festival. The event, formerly known as Cambridge Word Fest, will take place between 1 and 6 April in the campus of the English city. There will be 112 speakers and six workshops, including discussions about the First World War and the centenary of Dylan Thomas. Viva Brazil was designed by Liz Calder - responsible for FLIP and FlipSide - an enthusiast of Brazilian culture who’s intention is to make “the riches of this literature more known and appreciated outside of Brazil, as well as encourage the exchange of ideas among Brazilian writers and from other countries.” In this sense, she organized a special program that includes three roundtables: a translation duel, a discus-

Photos: Divulgation

Angel Gurría-Quintana versus Amanda Hopkinson: a linguistic duel in translations from Portuguese to English

Por Gabriela Lobianco

BRASIL É O TEMA NO FESTIVAL LITERÁRIO DE CAMBRIDGE

Depois da FlipSide, versão inglesa da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) que aconteceu em Suffolk no ano passado, o Brasil será novamente destaque de um festival de literatura no Reino Unido. Desta vez, o país será representado através das atividades do “Viva Brazil”, parte do Festival Literário de Cambridge. O evento, anteriormente conhecido como Cambridge Word Fest, acontecerá entre os dias 1º e 6 de abril, no campus universitário da cidade britânica. Serão 112 palestrantes e seis workshops, incluindo debates sobre a Primeira Guerra Mundial e o centenário de Dylan Thomas. O “Viva Brazil” foi idealizado pela inglesa Liz Calder – responsável pela FLIP e FlipSide –, uma entusiasta da cultura brasileira que tem como intuito fazer com que “as riquezas dessa literatura sejam mais conhecidas e apreciadas fora do Brasil, assim como encorajar o intercâmbio de ideias entre escritores brasileiros e de outros países”. Nesse sentido, ela organizou uma programação especial que conta com três mesas-redondas: um duelo de


brasilobserver.co.uk 17 sion on football culture in Brazil by Alex Bellos, and a debate of the work of Elizabeth Bishop. IDIOMATIC VISIONS Two English translators present their versions of the same text translated from Portuguese to English. The aim is to discuss the various disparities generated by personal interpretation of a text. Angel Gurría-Quintana and Amanda Hopkinson catch this linguistic duel with intermediation by the British Centre for Literary Translation director, Danny Hahn. THE COUNTRY OF FOOTBALL In anticipation of the 2014 World Cup, the importance of football culture in Brazil will be on the agenda with a discussion on the book Futebol: the Brazilian way of life, written by Alex Bellos. The author, who was also part of FlipSide, will be in two debates at the event. One on football in Brazil and

another on the book Alex Through the Looking-Glass, also his own work. Bellos was a correspondent for the Guardian newspaper in Rio de Janeiro from 1998 to 2003 and confesses that he returns to the tropical country every year. He told the Brasil Observer he wanted to write about a subject that connected many issues in Brazil, recognizing that football is everywhere. “My aim is to be an informed guide to a strange and distant land. In ‘futebol’, that land is Brazil,” he said.

modernist poetry into English. Recently, Bishop was a character in a film by Bruno Barreto, Rare Flowers, which portrays the period of the writer’s life at home and her romance with Brazilian architect Lota de Macedo Soares. In this part of Viva Brazil, Ali Smith and Blake Morrison discuss the work of the writer. A short film about the two houses of Bishop, in Ouro Preto and Petropolis, will also be displayed . WORLD LITERATURE

RARE ART OF BISHOP The Brazilian presence in Cambridge Literature Festival ends with a celebration of American poet Elizabeth Bishop, who lived for 15 years in Brazil. While living there, Elizabeth Bishop won the Pulitzer Prize in 1956, and has become an exponent of poetry in the English language, producing a large part of her work in Brazilian lands. Finally, she is considered a pioneer in the dissemination and translation of Brazilian

Although Brazilian culture will be well represented in the Cambridge Literary Festival, the director of the event, Cathy Moore, believes that it is a cultural celebration of world literature. More than that, the recasting of the festival brought innovations: “this will be the first year of partnership with the New Statesman, our first collaboration with the FlipSide and the debut of guest programmer Alex Clark, whose experience has ensured a more vibrant mix of writers throughout the world”.

BRAZILIAN HIGHLIGHTS Translation Duel 5 April, 10am-11am, Divinity Lightfoot, £8/£7 Alex Bellos Futebol 5 April, 2.30pm-3.30pm, Winstanley Lecture Theatre, £10/£8 Elizabeth Bishop A celebration with Ali Smith & Blake Morrison: 5 April, 5.30pm-6.30pm, Divinity School Lecture Hall, £10/£8 Alex Bellos, author of Futebol: Brazilian Way of Life, discusses the influence of football on Brazilian culture

www.cambridgeliteraryfestival.com

Elizabeth Bishop and her Brazilian roots

tradução, uma discussão sobre cultura futebolística no Brasil por Alex Bellos e um debate sobre a obra da escritora norte-americana Elizabeth Bishop. ESGRIMA IDIOMÁTICA Dois tradutores ingleses apresentarão suas versões de traduções do mesmo texto do português para o inglês. O intuito é discutir as disparidades geradas pela interpretação pessoal do tradutor. Angel Gurría-Quintana e Amanda Hopkinson travam esse duelo linguístico com intermediação do diretor do Centro Britânico de Tradução Literária, Danny Hahn. O PAÍS DO FUTEBOL Em antecipação à Copa do Mundo de 2014, a importância da cultura futebolística no Brasil estará em pauta com um debate sobre o livro “Futebol: the Brazilian way of life”, de Alex Bellos. O escritor, que também foi participou da FlipSide, estará em dois debates no evento. Um sobre o futebol no Brasil e outro sobre o livro “Alex Through The

Looking-Glass”, também de sua autoria. Bellos foi correspondente do jornal The Guardian no Rio de Janeiro de 1998 a 2003 e confessa que retorna ao país tropical todos os anos. Ele contou com exclusividade ao Brasil Observer que queria escrever sobre um assunto que ligava muitas questões do Brasil, reconhecendo que o futebol encontra-se em toda a parte. “Meu objetivo é ser um guia informativo para uma terra estranha e distante. No futebol, essa terra é o Brasil”, disse ele.

Recentemente, Bishop foi personagem de um filme de Bruno Barreto, “Flores Raras”, baseado no livro “Flores Raras e Banalíssimas”, que retrata o período da vida da escritora no país e seu romance com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares. Nessa parte do “Viva Brazil”, Ali Smith e Blake Morrison discursam sobre a obra da escritora. Ainda será exibido um curta-metragem sobre as duas casas de Bishop, em Ouro Preto e Petrópolis. LITERATURA MUNDIAL

A ARTE RARA DE BISHOP A presença brasileira no Festival Literário de Cambridge termina com uma celebração à poetisa estadunidense Elizabeth Bishop, que morou por 15 anos no Brasil. Enquanto vivia por lá, Elizabeth Bishop venceu o Prêmio Pulitzer, em 1956, além de ter se tornado uma expoente da poesia em língua inglesa, produzindo vasta parte de sua obra em terras tupiniquins. Finalmente, ela é considerada uma pioneira na divulgação e tradução da poesia modernista brasileira para o inglês.

Apesar de o universo brasileiro estar bem representado no Festival Literário de Cambridge, a diretora do evento, Cathy Moore, acredita que se trata de uma celebração cultural da literatura mundial. Mais do que isso, a reformulação do festival trouxe inovações: “este será o primeiro ano de parceria com a New Statesman; nossa primeira colaboração com a FlipSide; e a estreia do programador convidado Alex Clark, cuja experiência assegurou uma mistura ainda mais vibrante de escritores de todo o mundo”.


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GRINGO’S VIEW

REASONS WHY I LOVE BRAZIL AND BRAZILIANS

MOTIVOS POR QUE EU AMO O BRASIL E OS BRASILEIROS

Photo: Marcelo Camargo/Agência Brasil Traduzido por Marielle Machado*

By Shaun Cumming*

Some foreigners have opted to share their frustrations about living in Brazil online. There are many examples, and while some make valid points, I thought I’d write about the things I like most.

Alguns estrangeiros têm publicado na internet listas com coisas que os decepcionaram ao viver no Brasil. Aqui está a minha lista de coisas que eu amo no Brasil e em vocês, brasileiros. Obrigado!

Brazilian adventurism. Brazil is a place to explore boundless wild and beautiful landscapes unlike anywhere in the world. Furthermore, Brazilians have a thirst for exploring and doing new things. Here’s my example: I am terrified of heights, but one time in Rio I caught the bug to do something new, and was convinced to go hang gliding. It was one of the most thrilling things I’ve ever done. And here’s going to be my next Brazilian passion: SUP surfing.

O Brasil aventureiro. O Brasil é um lugar para explorar paisagens selvagens e belas como nenhum outro lugar do mundo. Além disso, os brasileiros têm sede de explorar e fazer coisas novas. Este é o meu exemplo: tenho pavor de alturas, mas fui contagiado pela vontade de explorar e fazer algo diferente quando visitei o Rio, então decidi saltar de asa delta. Foi uma das coisas mais emocionantes que eu já fiz na vida. E essa será a minha próxima paixão brasileira: SUP surf (ou REP - remo em pé).

Brazilian’s welcoming nature. When I first arrived in Brazil, I knew two people. A few weeks later, I had dozens of Brazilian friends – many of them who will be friends for life. I was invited into people’s homes, people’s parties and celebrations, and into people’s hearts. I have travelled the world but have never felt as welcome anywhere else as I am in Brazil.

A natureza acolhedora do brasileiro. Quando cheguei pela primeira vez no Brasil, eu conhecia só duas pessoas. Algumas semanas mais tarde, eu já tinha dezenas de amigos brasileiros - e muitos deles serão amigos para a vida toda. Fui convidado para festas e celebrações, e para entrar nos corações das pessoas. Eu já viajei o mundo, mas nunca me senti tão bem-vindo em qualquer outro lugar como fui no Brasil.

The weather. Brazilians won’t understand this. You know that we British complain all the time about weather, right? That’s because our weather always sucks, but it gives us occasional glimmers of hope. Maybe just for a few hours of a day in summer, we’ll have a nice weather. Then it’s freezing again. But for me, I love Brazil’s weather. I can’t explain just how much I love it. And it’s never too hot for me.

Fifa’s general secretary Jerome Valcke

please, your live music, be it pagode or whatever, is amazing. It is soulful, happy music and I love it. The football culture. I grew up with football in Scotland, but I never knew about footballing passion until I sat at a boteco watching a Brazilian league game. The intensity, the rivalry, the passion of the fans is unlike any other place in the world.

Brasileiros. To be honest, this list could go to 100. Maybe I’ll do that one day, but this is really about you, Brazilians. I have never met people who are happier, friendlier, and good to be with. This is what makes Brazil. From one gringo to you all, this is what I love most about Brazil: you. I know there are a lot of tensions, and the foreign media will continue its The drinks. Although I do love caipi- biased and uninformed reporting about rinhas and even Brazilian drinks, I need Brazil. There are also a lot of interto thank Brazil for Guarana – which I nal things Brazilians want to fix. But first thought was some kind of amazing this year, during Brazil’s World Cup, I apple juice when I first tried it. Oh, and know for sure you will show the world why Brazil is such an addictive place. fresh coconut water. My heaven. The food. In the UK, as a child I was always considered a ‘fussy’ eater. I never ate much apart from junk food, and I hated staple food like rice and pasta. Then I came to Brazil and everything changed. I learned that rice is good when flavoured with garlic. Black beans, oh how I love them. Some of my favourites include feijoada, pasteis de camarao and moqueca capixaba.

Live music on the streets. You might be tired of the samba stereotypes, but

*Shaun is a blogger at www.thebrazilblog.com

Música ao vivo nas ruas. Vocês podem até estar cansados desse estereótipo do samba, mas, por favor, a música de vocês ao vivo, seja ela pagode ou qualquer outra coisa, é incrível. É com alma, é feliz e eu adoro isso. A cultura do futebol. Eu cresci com o futebol na Escócia, mas eu nunca soube realmente o que é paixão pelo futebol até sentar em um boteco e assistir a um jogo do Campeonato Brasileiro. A intensidade, a rivalidade, a paixão dos fãs são diferentes de qualquer outro lugar no mundo. Os brasileiros. Esta lista poderia ir até o número 100. Talvez eu faça isso um dia, mas isso é realmente sobre vocês, os brasileiros. Eu nunca conheci pessoas tão felizes, amigáveis e ótimas companhias. Isso é o que faz o Brasil. De um gringo a todos vocês, isso é o que eu mais gosto no Brasil: você. Eu sei que há um monte de tensões e a mídia estrangeira vai continuar o seu relato tendencioso e desinformado sobre o Brasil. Há também um monte de coisas internas que os brasileiros querem e devem corrigir. Mas este ano, durante a Copa do Mundo do Brasil, eu tenho certeza que vocês vão mostrar ao mundo por que o Brasil é um lugar tão apaixonante.

O clima. Vocês, brasileiros não vão entender isso. Mas sabem que nós britânicos estamos sempre reclamando do clima, certo? Isso porque o tempo aqui é sempre uma porcaria, mas às vezes nos dá um pouco de esperança de que melhore. Talvez apenas por algumas horas de um dia no verão, a gente consiga ter um clima agradável. Mas logo em seguida está congelando novamente. Eu adoro o clima do Brasil. Não dá para explicar o quanto eu amo o calor. Nunca é quente demais para mim. A comida. No Reino Unido, desde criança eu sempre fui considerado “exigente” em relação à comida. Eu sempre comi muita junk food, e odiava alimentos básicos como arroz e massas. Até que eu fui para o Brasil e tudo mudou. Eu aprendi que arroz é bom quando temperado com alho. E como eu amo feijão preto! Alguns dos meus pratos favoritos incluem feijoada, pastel de camarão e a moqueca capixaba.

As bebidas. Apesar de eu amar caipirinhas e outras bebidas típicas, eu preciso agradecer o Brasil pelo guaraná - que de primeira eu pensei ser algum tipo de suco de maçã, só que mais gostoso. Ah, sim, e tam*Marielle é publicitária e blogueira em bém pela água de coco fresca. Bom demais. www.musicaparavestir.com.br


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NINETEEN EIGHT-FOUR CARNIVAL: BEGINNING, MIDDLE AND END By Ricardo Somera

Like all good things, every Carnival must come to an end. But, before ending the festivities in Rio de Janeiro, more than 520 official, numerous unofficial “blocos” and parties took over the streets of the city, attracting millions of people from around the world. PRE-CARNIVAL The Carnival in Rio is not for amateurs -you need to be prepared. With this in mind, I flew from Sao Paulo to the Marvellous City on the Wednesday that preceded the party (what a great excuse!). The first two days I was in Hostel Alto Vidigal preparing for the fun and relaxing. I saw the recording of a novella at the hostel next door, On ThursdayI attended a barbecue and made new friends with a group of Scots - it really must be friendship when you can get along with people even though you only understand a fraction of what they say!

All this was peppered with walks through small streets, lunch in neighbourhood restaurants and drinks in Lapa at night, all in all a good Pre-Carnival! AND THE PARTY BEGINS... Friday: the day that the “boil” begins throughout Brazil. I grabbed my backpack and went to Babylon Rio Hostel in Babilonia Hill (a place thatwas the subject of a documentary by Eduardo Coutinho). The favella is located in Leme, just few blocks from the beach. Here Bloco Virtual opened opened the festivities, welcoming more than 5000 people to the Carnival. On Saturday, with a slight hangover (an almost mandatory condition during a good carnival). I took the subway then the bus and arrived in Bloco da Favortira, which filled São Conrado with the sounds of very traditional funk,an event that definitely consecrated “Beijinho no Ombro” as the big hit of Carnival. It was pretty hard to get to and from so I wouldn’t the bloco for the next carnival, but the organisers host the “A Favorita” party every month and is

a great choice for those who enjoy seeing the girls twerking. To enjoy the evening, I joined the people from the hostel and went to the Estrelas da Babilônia, a bar on the hill overlooking Copacabana. There an impromptu party started and another long night started. Not that I was complaining, it was great to party with people from all over the world with an incredible view. Sunday was the day I found part of the Brasil Observer team on Ipanema beach who had come to enjoy and celebrate the 30 years of the Bloco Simpatia é Quase Amor. Much love, much sympathy and a touch of drunkenness made Sunday the best day of the entire Carnival. Beach, sun, beautiful people, the funniest costumes, music and a phrase that sticks in my head: “Everyone needs to experience the Carnival of Rio de Janeiro”. My best piece of Carnival advice avoid the big “blocos”- there will be thousands of people, it is difficult to see the band, the organization is terrible (Welcome to Rio, baby!) and consequently the party gets boring.

Following the recommendation of a friend of a friend, on Monday I went to the centre of Rio to Bloco Bonito de Corpo, which was created in Recife and looks back to the 80s, with revellers dressed in nylon and really enjoying the workout-sound of Estrelar (Marcos Valle), What a Feeling (Giorgio Moroder) and other retro tracks. Following the trend to break away from traditional samba, Bloco do Cru was for less orthodox revellers - playing White Stripes to AC/DC, and stirring over 10 thousand people at Praça XV, very rock with a pinch of samba, a veryfine thing. If all this talk has made you want to come next year, here is my tips: public transport operates precariously and taxis are not enough, avoid the “blocos” with more than 10 thousand people that are far from where you are staying. No matter how much fun you’re having, try to pay attention to your wallet and mobile phone, it is very easy to lose these items from the crowd and do not overdo the drink, it’s a five-day party! And, of course, you should look forward to one of the most amazing experiences of your life!

CARNAVAL: COMEÇO, MEIO E FIM Por Ricardo Somera

Todo Carnaval tem seu fim. Mas, antes de acabar a folia no Rio de Janeiro, mais de 520 blocos oficiais e inúmeros não oficiais, além das festas paralelas, desfilaram pelas ruas de toda a cidade, atraindo milhões de foliões de todo o mundo. PRÉ-CARNAVAL O Carnaval no Rio não é para amadores. É preciso estar preparado. Por isso peguei um avião de São Paulo à Cidade Maravilhosa na quarta-feira que antecedia a festa (ótima desculpa!). Nos dois primeiros dias fiquei no Hostel Alto Vidigal me preparando para a folia e relaxando. Vi uma gravação de novela no hostel ao lado, participei de um churrasco na quinta-feira e fiz novas amizades com um grupo de escoceses (você sente que é amizade quando se dá bem com as pessoas sem entender nada do que elas falam). Rolê pelas vielas, almoço na comunidade e noite na Lapa... um bom Pré-Carnaval!

E A FESTA COMEÇA... Sexta-feira: o dia que começa o “fervo” em todo o Brasil. Peguei minha mochila e fui para o Babilônia Rio Hostel, no Morro da Babilônia, que já foi tema de um documentário de Eduardo Coutinho. A favela fica no Leme, há poucas quadras da praia e com muito agito. O Bloco Virtual fez o abre-alas agitando a Pedra do Leme, levando mais de 5 mil pessoas a darem boas vindas ao Carnaval. No sábado, aquela ressaca leve. Peguei o metrô, o busão lotado e cheguei no Bloco da Favorita, que lotou a orla de São Conrado ao som do tradicionalíssimo funk carioca – que, definitivamente, consagrou “Beijinho no Ombro” como o grande hit do Carnaval. Como foi difícil pra chegar e sair de lá, não recomendo o bloco para os próximos carnavais, mas a festa A Favorita acontece todo mês na quadra do Acadêmicos da Rocinha e é uma ótima pedida para quem curte ver as tcutchucas descerem até o chão. Para aproveitar a noite, me juntei ao bonde do hostel e fomos para o Estrelas da Babilônia, um bar no alto do morro

Photo: Reproduction

More than 520 official ‘blocos’ marched through the city of Rio de Janeiro during Carnival

com vista para Copacabana. Lá sim o baile se formou e a noite foi longa. Festa para conhecer gente de todo o mundo com uma vista incrível. Domingo foi dia de encontrar parte da equipe do Brasil Observer na praia de Ipanema para curtir e comemorar os 30 anos do bloco Simpatia É Quase Amor. Muito amor, muita simpatia e um toque de embriaguez fizeram o domingo o melhor dia de todo o Carnaval. Praia, sol, gente bonita, pessoas com as fantasias mais engraçadas, música e uma frase que não sai da minha cabeça: “Todos precisam conhecer o Carnaval do Rio de Janeiro”. A dica mais preciosa do Carnaval: fuja dos blocos grandes. Vai ter muita gente, será difícil ver a banda, a organização é péssima (Welcome to Rio, beibe!) e consequentemente a festa fica chata. Por indicação de uma amiga de um amigo, na segunda-feira fui para o centro do

Rio no bloquinho Bonitos de Corpo, que foi criado em Recife e tem uma pegada oitentista, com os foliões vestidos com muito nylon e curtindo a malhação ao som de Estrelar (de Marcos Valle), What a Feeling (de Giorgio Moroder) e outros hits que embalaram os anos 80. Na sequência, fugindo do tradicional samba, o Bloco Cru levantou os foliões menos ortodoxos tocando de White Stripes a AC/DC, agitando mais de 10 mil pessoas num palco na Praça XV, com muito rock e uma pitadinha de samba. Coisa fina. Ano que vem se prepara: o transporte público funciona de maneira precária e os taxis não são suficientes; evite os blocos com mais de 10 mil pessoas muito longe de onde você ficar hospedado; tente ficar atento à carteira e celular, pois é muito fácil de perder esses itens na multidão e não exagere na bebida, pois são cinco dias de festa! E, claro, tenha uma das experiências mais incríveis da sua vida!


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NEW CANVAS OVER OLD

Photo: Reproduction

FIRST TASTES OF BRAZIL By Kate Rintoul

I arrived in Brazil just under two weeks ago and already I’ve seen and done so much. In this column I’ll be charting my experiences here and all the tastes, sights, sounds and feelings I encounter along the way. Food is probably my greatest passion so it seems fitting that I focus on this for my first column as surely there’s no better way to start understanding a country than by tasting how its people eat. Flying straight from wintery London to the tropical carnival atmosphere of Rio was a brilliant shock to the system even if it did take us three hours to get from the airport to our friend’s Rosa and Ari’s apartment. We got in so late there was only time for a quick Misto Quente (ham and cheese toastie) before trying to sleep. Waking up with sunshine pouring through the windows was a lovely sensation so was our first Cafe da Manhã - Brazilian breakfast that Rosa had prepared. We were greeted with a table covered with amazing fresh food - bread, coffee and delicious homemade Pineapple juice, along with papaya and sweet bananas. At home I have to admit I am not much of a fruit fan, but

safely say Brazil has converted me. While some of us visit the farmers markets when we can, the majority of the fruit and vegetables we actually consume are industrially farmed bland mono-species that have been grown only to look good on supermarket shelves. From what I’ve tasted so far in Brazil, fruit and vegetables come in all shapes and sizes, with some prettier than others, yet each one tastes exceptional. Before you start thinking I spent carnival munching on salad leaves don’t worry - a fair few “cervejas” were consumed and a new discovery made courtesy of Ari who introduced us to his tipple of choice - Underberg and coke. After carnival we were on the move again, this time we headed down to Curitiba by coach for a tour of the city and surrounding Paraná state (reports of that will follow in the next edition). In Curitiba we are staying with the Brasil Observer’s head of Public Relations, Roberta’s family who have been showing us even more of what Brazil has to offer. After a rather bumpy journey and a much needed nap we headed out for some beers on Saturday night at Bar do Alemão where we tried their

special Submarino: a mug of beer with a little mug with cachaca inside - another great German-Brazilian fusion! On Sunday we were properly inaugurated into Brazilian food culture with a visit to the local Churrascaria - four hours, countless cuts of meat and after a pretty strong passion fruit Caipirinha we felt full and lucky to be experiencing all of this in Brazil. Just when we were pledging to start eating healthily and avoid all the fun things like fried foods Roberta’s mother, Roseli had to go and test our will power by making some delicious Bolinho Espera Marido. Roughly translated as cookies to make while you wait for your husband to get home these are tiny doughnut like treats that you have to try husband or no husband! Of course all this eating and drinking has been done for research purposes, in fact I have actually been providing a public service in promoting the delights of Brazilian foods to a British audience! As the American writer Erma Bombeck said: “I am not a glutton - I am an explorer of food” but perhaps for the benefit of my waistline I should start exploring Brazil’s mountains for the next edition…

PRIMEIROS SABORES DO BRASIL Por Kate Rintoul

I am not much of a fruit fan, but safely say Brazil has converted me

Cheguei ao Brasil há pouco menos de duas semanas e já pude ver e fazer muita coisa. A partir desta edição, vou usar este espaço para falar um pouco das minhas experiências e todos os gostos, sons, visões e sentimentos que eu encontrar ao longo do caminho por aqui. Comida é, provavelmente, minha maior paixão. Então, parece apropriado que o foco da minha primeira coluna siga este tema, pois tenho certeza de que a melhor maneira para começar a entender um país e seu povo é provando o que eles comem. Voando desde o inverno de Londres direto para a tropical atmosfera de carnaval do Rio foi um choque brilhante, mesmo com três horas para chegar do aeroporto até a casa de nossos amigos Rosa e Ari. Chegamos tão tarde que só tivemos tempo para uma rápida refeição, um misto quente, antes de tentar dormir um pouco. Acordar com o sol batendo forte na janela foi uma agradável sensação. Em seguida tivemos nosso primeiro Café da Manhã brasileiro, preparado pela Rosa. Fomos recebidos com uma mesa coberta com incríveis alimentos frescos - pão, café e o delicioso suco de abacaxi feito na hora. Além de fru-

tas: mamão e bananas. Eu devo admitir que na minha casa não era muito fã de frutas, mas posso dizer com segurança que o Brasil tem feito eu mudar de opinião. Mesmo que alguns de nós frequentemos as feiras de agricultores quando podemos, a maioria das frutas e vegetais que realmente consumimos são industrializados, cultivados apenas para ficarem bem nas prateleiras dos supermercados, em vez de agradar o paladar. Pelo que eu já provei até agora no Brasil, frutas e legumes vêm em todas as formas e tamanhos, e com um gosto excepcional. Antes de você começar a pensar que passei o carnaval mastigando folhas de salada, não se preocupe – algumas cervejas foram consumidas e uma nova descoberta feita com a cortesia do Ari, que nos apresentou sua bebida preferida: Underberg com Coca-cola. Após o Carnaval, fomos até Curitiba de ônibus para um passeio pela cidade e pelo Estado do Paraná (conto os detalhes na próxima edição). Em Curitiba, fomos recebidos pela família da Relações Públicas do Brasil Observer, Roberta Schwambach, que nos mostrou ainda mais do que o Brasil tem a oferecer. Depois de uma viagem turbulenta de ônibus e uma soneca muito necessária, voltamos para algumas cervejas na noite de sába-

do no Bar do Alemão. Lá experimentamos outra fusão entre Brasil-Alemanha através da tradicional bebida da casa, o Submarino: uma caneca de chopp com outra menor que contém cachaça dentro. No domingo, fomos devidamente apresentados à culinária brasileira com a visita a uma churrascaria. Após quatro horas e inúmeros cortes de carne depois, além da minha forte paixão, a caipirinha, estávamos completos e satisfeitos de estar passando por tudo isso no Brasil. Justamente quando estávamos comprometendo-nos a comer de forma mais saudável e evitar frituras, nossos anfitriões testaram nossos poderes fazendo os deliciosos Bolinhos Espera Marido: pequenas rosquinhas que são como guloseimas que você tem que experimentar com marido ou sem marido! Claro que tudo isso de comer e beber foram feitos para fins de pesquisa. Na verdade, eu realmente vim prestar um serviço público na promoção das delícias de alimentos brasileiros para o público britânico! Como a escritora americana Erma Bombeck disse: “Eu não sou uma gulosa - sou uma exploradora de comida”. Mas, provavelmente para o benefício da minha cintura, eu deveria começar a explorar as montanhas do Brasil para a próxima edição...


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GOING OUT Photos: Divulgation

CIRCUSFEST 2014 BRINGS BRAZILIAN ARTISTS 15-19 April Where Roundhouse | Tickets £15 >> www.roundhouse.org.uk

From March 26 the CIRCUSFEST 2014 brings to London five weeks of contemporary circus from around the globe. One of the shows is Belonging, a bittersweet aerial production, featuring hoops, trapeze and silks, bringing together a group of international artists exploring the idea of belonging and delving into what connects and divides us as people. Co-directed by Jenny Sealey and Vinicius Daumas, this artistic collaboration between the UK’s Graeae and Brazil’s Circo Crescer e Viver features performers from the London 2012 Paralympic Games Opening Ceremony and a collection of Brazilian actors, musicians and dancers.

LA LINEA PRESENTS KAROL CONKA & ED MOTTA

SENNA: PHOTOGRAPHS BY KEITH SUTTON 6 March – 4 May Where Proud Chelsea | Tickets Free >> www.proudonline.co.uk

To mark the 30th anniversary of his debut and the 20th anniversary of his legacy, Proud Galleries presents the official Ayrton Senna exhibition. Working in partnership with Sutton Images and the Ayrton Senna Institute, this collection of photographs, taken by Keith Sutton, chart Senna’s titanic career. From his beginnings in Formula Ford to his domination of Formula 1 for 10 years until his accident in 1994.

Conka: April 3 / Motta: April 7 Where Conka: Concrete / Motta: Union Chapel Tickets Conka: from £11 / Motta: from £22 >> www.comono.co.uk/la-linea

La Linea, the London Latin America music festival is back in April for one more edition full of eclectic demonstrations of swing and rhythms. This year, two Brazilian singers will be on stage: Karol Conka and Ed Motta. Brazil’s hip hop revelation Karol Conka has bounced bang into the spotlight thanks to neon energy, hard graft and a sound all her own. Mashing up hip hop with baile funk, trap and Afro-Brazilian beats, Karol Conka’s sound is a uniquely Brazilian mix. Batuque just got freaked. The Brazilian singer, songwriter and instrumentalist Ed Motta is a popular artist with the soul of a jazz musician. His work covers many genres utilizing influences from jazz to popular Brazilian music, rock to Hollywood film soundtracks, funk, classical, bossa nova and reggae.

BRAZILIAN DESIGN AT THE EMBASSY 27 March – 9 May Where Embassy of Brazil in London | Tickets Free >> www.culturalbrazil.org

The Embassy of Brazil and Vanishing Points Design proudly present Brazilian Design: Modern & Contemporary Furniture. Over 45 pieces will be on display offering visitors a comprehensive overview of Brazilian modernist and contemporary design, warranting the status of Brazil as one of the leading producers of furniture and object design in the world.

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TRAVEL

RIO DE JANEIRO: THOUSAND CHARMS Rio de Janeiro, a city where nature meets the urban landscape, is surely one of the best places to showcase this synchronicity that exists throughout much of Brazil. Whether you know it through charming Bossa Nova songs, or the spectacular of Carnival tradition, the Wonderful City more than lives up to its reputation. On any walk through the city, you only have to glance around to spot iconic sights like Corcovado (Christ the Redeemer), Pão de Açucar (Sugar Loaf Mountain) or the stretches of beautiful beaches: Copacabana, Ipanema and Leblon. These are the main sites visited by tourists who have a few days to explore the city, but, if you have time you should stroll through the bohemian streets of Santa Teresa and visit the Lapa Arches, you should also go through the path of Barra da Tijuca neighbourhood to the west side of Rio. With so many things to see and to do, it is easy to see why Rio is a world famous city that hosts thousands of visitors and to understand why the residents are so proud to live there. It might be famous for the Carnival which has just passed, but Rio is a magical city all year round, made up of distinct neighbourhoods that are fantastic to explore and of course there is plenty of incredible natural beauty to enjoy. But it is not just the capital that beholds great beauty - the whole state is worth a tour with the wonderful regions of Paraty and Buzios. So, put on your best bikini or trunks and come to Rio! PARATY Walking through the preserved Portuguese Colonial center of Paraty is like stepping into the past test the city is much more than

an immersive museum. Paraty is a charming city known for history, culture, forests, fun, rum, art, food and a perfect mix of hustle and tranquility. A good way to get to know the town is to take a boat ride and visit the beaches and islands, many of which are undeveloped. The clear and calm waters are filled with colorful fish and are popular among divers. There are many options to enjoy the sea in Paraty from large to small trawlers, sailboats and speedboats, tours cost from £30. For more information visit: www.paraty.com.br. BÚZIOS Búzios is 190 kilometers from the city of Rio de Janeiro, in the Lake Region and boasts 26 pristine beaches, all fit for bathing year-round and accommodating to different styles of visitor. Two islands are best known in Buzios - The White Island which takes its name from the colour of migratory birds who chose it as a major landing point and the Ugly Island, unfairly named because it lacks vegetation on one side, though it is home to a quiet and beautiful beach, perfect for those looking for a good place to dive. For those who enjoy a relaxing walk, take a tour of Orla Bardot, named after Brigitte Bardot who famously spent a season there. The statue of Bardot, sitting on a suitcase is one of the great attractions of the city. With a bustling nightlife and a mix of fashionable bars and restaurants, Buzios pleases the most demanding of tourists, without ever losing the simple charm that enchanted the likes of Bardot and many more. For more information visit www.buzios.com.br.

Photos: Divulgation


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RIO DE JANEIRO: ENCANTOS MIL O Rio de Janeiro, onde natureza e paisagem urbana se misturam, é com certeza a vitrine mais exposta Brasil afora. Seja pelas músicas da Bossa Nova, ou pela tradição do Carnaval, a Cidade Maravilhosa merece tal exposição. Em uma caminhada, basta olhar ao redor e avistar os pontos turísticos mais tradicionais, como o Corcovado, o Pão de Açúcar e as praias de Copacabana, Ipanema e Leblon. Este é o circuito feito pela maioria dos visitantes, ideal para quem tem poucos dias para conhecer a cidade. Mas, se você tiver tempo e quiser andar mais um pouquinho, pode passear pelas charmosas ruas de Santa Tereza e conhecer os Arcos da Lapa, reduto da boemia carioca. Também pode percorrer o trajeto da Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste do Rio. Para conhecer mais as belezas do Estado do Rio de Janeiro, porém, é indispensável se aventurar por outras regiões, como Paraty e Búzios. Com tantas coisas para ver e fazer, não é difícil adivinhar por que o Rio é uma cidade mundialmente famosa. Então, coloque na mala o seu melhor biquini/sunga e prepare-se para Rio! PARATY

Rio de Janeiro overview (1), Lapa Arches (2), Paraty (3) and Buzios (4)

Passear pelo Centro Histórico de Paraty é uma viagem no tempo. Mas, além disso, Paraty pode ser conhecida de diversas formas: pela história, pela cultura, pela mata atlântica, pela diversão, pela cachaça, pelos eventos, pela arte, pela gastronomia, pelo agito, pela tranquilidade. Uma boa pedida é curtir um passeio de barco e visitar as diversas praias e ilhas da região,

muitas ainda em estado selvagem. As águas claras e calmas, cheias de peixinhos coloridos, são um convite irrecusável a um bom mergulho. Este é sem dúvida um passeio que agrada a todos, de todas as idades e estilos. De grandes escunas a pequenas traineiras, passando pelos veleiros e lanchas, há muitas opções para curtir o mar de Paraty. Os passeios podem custar a partir de R$30,00. Mais informações: www.paraty.com.br. BÚZIOS Búzios fica a 190 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, na região dos Lagos, e tem 26 praias de águas cristalinas, todas próprias para o banho o ano todo, cada uma para um estilo diferente de visitante. Duas ilhas são as mais conhecidas de Búzios. A Ilha Branca, que recebe esse nome por ser ponto de pouso de aves migratórias, e a Ilha Feia, injustamente assim chamada por ter pouca vegetação em um dos lados. Desabitada e com uma linda praia, é perfeita para quem busca um bom ponto de mergulho. E, para quem gosta de uma caminhada tranquila, o ideal é um passeio pela Orla Bardot, que vai até a Praia do Canto – chamada assim por conta da época em que Brigitte Bardot passou uma temporada por lá. A estátua de Bardot, sentada numa mala, é uma das grandes atrações. Com uma badalada vida noturna e com sua estrutura cada vez mais sofisticada, Búzios tem agradado os turistas mais exigentes. Mas sem perder jamais o charme da simplicidade que tanto encantou Brigitte Bardot. Para mais informações acesse www.buzios.com.br.


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COOL HUNTER

Naomi, 21

Sophie, 25

Pierre, 20

Amelia, 16

Lauren,23

Chloe, 21


FOOD

TIRAMISU Tiramisu means ‘pick me up’ in Italian and it is the perfect way to finish a long meal or for an afternoon treat. Whether it’s the coffee or alcohol that perks you up, pretty much everyone (apart from teetotalers) love this dessert and as a result it has perhaps become a little too popular with some terrible versions around. The smells and sensations in making this are almost as delightful as eating it so make sure you try it! By Luciane Sorrino

I N G R E D I E N T S

I N G R E D I E N T E S

6 eggs, yolks and whites separated 180g sugar 400g mascarpone cheese 300ml whipping cream 1 1/2 cup of very strong espresso coffee (do not add sugar) 3 tablespoons of Baileys (for a more traditional version dark rum also can be used) 2 packets of lady finger biscuits Grated dark chocolate, to taste 3 tablespoons of cocoa powder for dusting

6 ovos, gemas e claras separadas 1 xícara de açúcar 400g de queijo mascarpone 300ml de creme de leite fresco 1 1/2 xícara de café bem forte (sem açúcar) 3 colheres (sopa) de Baileys 2 pacotes de biscoito tipo champagne Raspas de chocolate meio-amargo a gosto 3 colheres (sopa) de cacau em pó para polvilhar

P R E P A R A T I O N

P R E P A R A Ç Ã O

Prepare the coffee and allow to cool. Mix the coffee with the Baileys and set aside. In a mixer, beat the egg yolks with half the sugar (1/2 cup) until light and fluffy, gradually add the mascarpone and beat well. Add the cream until well blended and set aside. In a separate (very clean and grease free bowl) beat the egg whites with the remaining sugar (1/2 cup) until it forms glossy stiff peaks, gently then gently fold in the mascarpone cream. Assembly:Dip one side of each biscuit into the coffee and liqueur mixture for about 3 seconds (absolutely no longer or you will end up with a soggy dessert) and arrange a layer in adish (you can also make individual ones in a glasses). Sprinkle grated dark chocolate to taste. Apply a layer of mascarpone cream then top with a layer of soaked biscuits and repeat until you reach the top of the dish. Refrigerate for at least 2 hours before serving. Remove from the refrigerator and sprinkle the Tiramisu with cocoa powder before serving. Serve chilled.

Prepare o café e deixe esfriar. Misture o café com o Baileys e reserve. Em uma batedeira, bata as gemas com metade do açúcar (1/2 xícara) até obter um creme claro e fofo; adicione aos poucos o mascarpone e bata bem. Ainda na batedeira, adicione o creme de leite até misturar bem e reserve. Bata as claras em neve com o restante do açúcar (1/2 xícara) até obter picos brilhantes e firmes; incorpore delicadamente ao creme mascarpone. Montagem. Molhe os biscoitos apenas de um lado por aproximadamente 3 segundos na mistura de café e licor e monte uma camada em um refratário. Salpique raspas de chocolate meio-amargo a gosto. Aplique uma camada de creme mascarpone e repita a operação até chegar ao topo do refratário. Leve à geladeira por pelo menos 2 horas antes de servir. Retire da geladeira e polvilhe o Tiramisu com cacau em pó antes de servir. Sirva gelado.

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