Brasil Observer #004 Portuguese Version

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LONDON EDITION Jan 31st - Feb 13th 2014

‘EXPERIÊNCIA ÚNICA’ Embaixador Britânico para o Brasil, Alex Ellis fala sobre seu trabalho e a crescente colaboração entre os dois países >> Páginas 6 e 7 Foto: Divulgação / UK in Brazil

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O ANO DA COPA Abrindo o tão esperado ano da Copa do Mundo, o Brasil Observer faz uma reflexão sobre a percepção da sociedade brasileira em relação ao mega-evento – e lança conteúdo especial que vai cobrir as 12 cidades-sede até a bola rolar em junho >> Páginas 10, 11, 12 e 13

Foto: Divulgação | Adidas

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EM FOCO Brasil, América Latina, Reino Unido e Europa

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BRASILIANCE Dilma defende economia do Brasil em Davos

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UK NO BRASIL

LONDON EDITION

Entrevista: Alex Ellis, embaixador britânico

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PERFIL Maurício Brandes: um galã nos palcos ingleses

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REPORTAGEM DE CAPA A respeito da ‘Copa das Copas’

EDITORA - CHEFE Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk

EDITORES Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk Kate rintoul kate@brasilobserver.co.uk

COPA 2014 Especial cidades-sede: Brasília

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CONECTANDO

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De Bogotá, uma história de intriga política

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BRASIL OBSERVER GUIDE Os sons do Brasil e muito mais...

RELAÇÕES PÚBLICAS Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk

COLABORADORES Antonio Veiga, Bruja Leal, Clarice Valente, Deise Fields, Gabriela Lobianco, Luciane Sorrino, Nathália Braga, Renato Brandão, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Zazá Oliva

PROJETO GRÁFICO & DIAGRAMAÇÃO

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16 - 17 CAPA DO GUIA 18 GRINGOS VIEW 19 NINETEEN EIGHTFOUR 20 TRAVEL 22 GOING OUT 23 COOL HUNTER 24 MIND & SOUL 25 FOOD

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DISTRIBUIÇÃO

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IMPRESSÃO

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ASSESSORIA CONTÁBIL

E D I T O R I A L

2014 FINALMENTE CHEGOU; AGORA É HORA DE AGIR por Ana Toledo – ana@brasilobserver.co.uk

Passada a época da reflexão, chegamos ao momento das ações. Janeiro de muito trabalho, para tirar ideias do papel e trazer os planos para a realidade. De perceber que o caminho traçado deve ser planejado para que os desafios e dificuldades sejam amortecidos e encarados, sem maiores abalos para prosseguir. É nesta onda que publicamos nossa primeira edição de 2014! Muitas expectativas acompanham este ano desafiador para o Brasil. Ano que vai responder o jargão mais popular desde que o país foi eleito como sede da Copa de 2014: “Imagina na Copa”. No dia 13 de junho a bola vai rolar nos gramados brasileiros e, até lá, você vai acompanhar aqui, no Brasil Observer, importantes assuntos que não deixam – e nunca deixaram – a Copa do Mundo no Brasil se resumir apenas a futebol. Iniciando por Brasília, o especial Copa 2014 vai abordar todas as 12 cidades-sede. Além disso, a editoria Travel será correspondente à cidade da vez! Como já abordamos, 2014 é um ano sensível para além do evento esportivo. Um ano no qual as ações políticas têm consequências diretas e data marcada: outubro, nas urnas. E nesta ebulição de fatos importantes, a presidenta Dilma, candidata à

wake up colab

reeleição ao cargo, inicia o período pisando em ovos. Tanto com a FIFA, que está na pressão para as esperadas finalizações das obras da Copa, quanto com o cenário da política internacional com sua estreia no Fórum Econômico Mundial de Davos – confira nas páginas 4 e 5. Também nesta edição você confere entrevista exclusiva com Alex Ellis, embaixador britânico no Brasil, que, além de futebol, paixão comum entre brasileiros e ingleses, falou sobre as iniciativas britânicas em território brasileiro e parcerias entre os dois países – leia mais nas páginas 6 e 7. Com o desejo de aprimorar o olhar sobre a salada brasileira de sons, cores, sabores e crenças, o britânico Russel Slater desenvolveu um projeto chamado Sounds and Colours Brazil, que você pode entender melhor na matéria de Antonio Veiga, a partir da página 15. Com a diversidade de sabores que o Brasil pode oferecer e com todas as expectativas de 2014 é que lançamos esta edição e o convidamos a apreciar o conteúdo preparado para você, nosso leitor. Divirta-se! E siga em contato através do email ana@brasilobserver.co.uk.

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BRASIL OBSERVER é uma publicação quinzenal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (Company number: 08621487) e não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome do Brasil Observer. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que devidamente creditados ao autor e ao Brasil Observer.

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EM FOCO

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Foto: Roberto Stuckert Filho

Presidente Dilma ao lado de Raúl Castro

BRASIL: DE DAVOS PARA HAVANA Dias após discursar em Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial (leia mais sobre o assunto nas páginas 4 e 5), a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, viajou para Cuba, onde, além de participar da segunda edição da reunião de cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), inaugurou ao lado do líder cubano, Raúl Castro, a primeira parte da Zona de Desenvolvimento do Porto de Mariel, uma obra financiada com recursos brasileiros. O projeto, iniciado em 2010, é executado pela construtora brasileira Odebrecht e conta com um financiamento de US$ 682 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), sendo a maior parte do investimento total previsto: US$ 957 milhões. A ampliação do porto cubano de Mariel, localizado 45 quilômetros a oeste de Havana, é considerada uma obra emblemática da colaboração entre Cuba e Brasil. Alguns especialistas apontam que o Brasil vê o investimento no porto como uma aposta futura no fim do embargo exercido pelos Estados Unidos. O porto dará a Cuba uma moderna porta de saída marítima e permitirá que indústrias brasileiras se instalem na ilha e aproveitem a mão de obra local, além de incentivos fiscais, para produzir e exportar para países da América Central e, em um eventual fim do embargo americano a Cuba, para portos da costa leste dos EUA. Dilma ainda aproveitou a visita para agradecer ao governo cubano pelo envio de médicos ao Brasil. “Quero agradecer o governo e ao povo cubano pela enorme contribuição ao sistema de saúde brasileiro por meio do programa Mais Médicos”, disse a presidente, afirmando que os médicos cubanos estão tendo “grande aceitação” entre o povo brasileiro. Também disse que o programa é uma prova de solidariedade e cooperação nas relações entre os dois países.

REINO UNIDO: FIM DA CRISE?

EUROPA: UCRÂNIA À DERIVA

A economia britânica desacelerou no quarto trimestre do ano passado, mas terminou 2013 com um crescimento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados revelados no final de janeiro. Com este resultado, depois de ter um crescimento quase nulo em 2012, o país registra o melhor desempenho desde 2007. Apesar da melhoria, o valor ficou abaixo do alcançado naquele ano, antes da crise financeira, quando o PIB do Reino Unido cresceu 3,4%. Considerando o quarto trimestre do ano passado, em comparação com os três trimestres anteriores, o setor de serviços teve ampliação de 0,8%, a indústria avançou 0,7% e a agricultura teve alta de 0,5%. Construção, contudo, recuou 0,3%. Após a divulgação dos dados, o Ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, afirmou que os resultados confirmam que o plano do governo está funcionando e que “mais crescimento significa mais emprego, segurança e oportunidades para as pessoas”. Já o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, argumentou que crescimento e queda do desemprego são bem vindos, mas que ainda está para ser revolvida a severa crise de custo de vida que prejudica milhões de pessoas de baixa renda no Reino Unido.

Após mais de dois meses de tensão política na Ucrânia, o primeiro-ministro do país, Nikolai Azarov, apresentou na terça-feira (28/01) sua renúncia ao cargo enquanto o parlamento ucraniano se reunia em sessão extraordinária para revogar o pacote de leis que restringiam direitos fundamentais de manifestação. Em sua carta de renúncia, Azarov afirmou que deixava o cargo “para criar possibilidades adicionais de se conseguir um acordo político e social e em prol de um ajuste pacífico” do longo conflito que mantém milhares de manifestantes nas ruas. O pacote de leis antimanifestações havia sido posto em vigência para tentar frear o levante contra o governo ucraniano, mas as medidas tiveram efeito inverso e incendiaram ainda mais a parcela da população contrária a Azarov e pró-União Europeia. Desde novembro, a Ucrânia tem vivido uma onda de protestos depois que o governo Yanukovich se recusou a assinar um acordo com a União Europeia. Desde então, milhares de pessoas saem às ruas diariamente para criticar a decisão do presidente. Segundo a constituição ucraniana, a saída do premiê significa a renúncia de todo o governo. O atual governo, provisoriamente dirigido pelo primeiro vice-primeiro-ministro Serhiy Arbouzov, continuará a gerir os assuntos até a formação de uma nova equipe.

AMÉRICA DO SUL: DISPUTA PELO MAR A Corte Internacional de Justiça (CIJ), sediada em Haia, na Holanda, concedeu ao Peru a parte do Oceano Pacífico que o país reivindica e que era controlada pelo Chile. Os dois governos prometeram respeitar a decisão, que coloca um fim a seis anos de litígio. O Peru reivindicava 38,3 mil quilômetros quadrados do Oceano Pacífico, que representam 1% da zona econômica exclusiva chilena. A questão também é acompanhada pela Bolívia, que apelou em 2011 à Corte de Haia como terceiro envolvido na disputa sobre águas territoriais entre Peru e Chile. Na época, o presidente Evo Morales disse que o assunto envolve diretamente seu país porque a área debatida é a mesma que reivindicam desde 1879. A disputa remonta à chamada Guerra do Pacífico (1879-1883), que confrontou os três países em disputa por território. Ao final da guerra, o Chile anexou áreas dos dois países - a província peruana de Tarapacá e a área boliviana de Antofogasta – o que fez com que a Bolívia perdesse a saída para o mar.


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BRASILIANCE

PARA FICAR ‘DE BEM’ COM O MERCADO Dilma estreia no Fórum Econômico Mundial de Davos dando mostra de que o governo está preocupado em não criar animosidades com o capital internacional, para evitar consequências tanto na área econômica como no campo político Por Wagner de Alcântara Aragão

Pela primeira vez, e justamente no ano em que se encerra o seu mandato (ao menos o primeiro mandato, caso seja reeleita), a presidenta Dilma Rousseff participou do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, no último dia 24. A ida ao evento, que reúne 2,5 mil pessoas - entre líderes políticos, executivos e empresários -, sela um movimento adotado pelo governo brasileiro, de um ano para cá, que busca ser mais agradável com o mercado e continuar a atrair investimentos externos. Essa aproximação objetiva também evitar insatisfações e ataques, os quais, num ano eleitoral como 2014, poderemos ser bastante úteis à oposição neoliberal e ameaçar a reeleição da atual coalizão de centro-esquerda. Em Davos, Dilma fez questão de deixar claro que

o Brasil está aberto ao capital estrangeiro, falou dos programas nacionais de obras em mobilidade urbana e infraestrutura logística, apresentou dados sobre os avanços sociais e a diminuição da desigualdade nos últimos dez anos e salientou a solidez da democracia brasileira - simbolizada pelas “manifestações de junho”. Por outro lado, minimizou problemas conjunturais, assinalando que estes não podem suplantar as conquistas acumuladas no último decênio. “O Brasil é hoje uma das mais amplas fronteiras de oportunidades de negócios. Nosso sucesso nos próximos anos estará associado à parceria com os investidores de todo o mundo. O Brasil sempre recebeu bem o investimento externo. Meu governo adotou medidas para facilitar ainda mais essa relação. Aspectos da conjuntura recente não devem obscurecer essa realidade. Como eu disse até aqui o Brasil precisa e quer a parceria com o investimento privado nacional e externo”, frisou em seu discurso. A preocupação em demonstrar que o Brasil segue aberto a investidores externos é justificada pelas dificuldades conjunturais recentes, somadas à repercussão desproporcional dessas dificuldades. Todavia, embora conjunturais, elas foram tratadas por analistas da grande mídia nacional e internacional como sinais de um caminho sem volta rumo a uma suposta crise. Sobretudo internamente, o esforço para fazer a opinião pública crer nisso tem sido há algum tempo descomunal. Na virada de 2011 para 2012, foi alarmado um suposto risco de “apagão” (falta de energia elétrica), que sequer ameaçou acontecer; em seguida, diante de altas sazonais do preço de hortifrutigranjeiros (entre eles o tomate, que virou símbolo dessa subida), anunciava-se um “descontrole” da inflação, embora os índices mostrassem o contrário. Externamente, o alvo era mais direto: o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Desde que, em agosto de 2011, o Banco Central iniciou um processo de redução da taxa de juros básica da economia, a política econômica do governo brasileiro começou a ser criticada por analistas internacionais vinculados ao mercado financeiro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e publicações especializadas como as revistas Financial Times e The Economist chegaram praticamente “a pedir a cabeça” do ministro Mantega. De fato, o país terminou 2013 com a perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) perto de patamares mínimos (deve ser pouco superior a 2%). A produção industrial, no acumulado até novembro (último dado disponível até o fechamento desta edição), registrava ligeira alta de 1,4%, insuficiente para repor a queda de 2,4% verificada em 2012, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O plano de investimentos em infraestrutura logística, anunciado em 2012, só começou a se concretizar de três meses para cá. No entanto, o Brasil passou 2013 também somando conquistas na economia. O desemprego ficou abaixo dos 6% (metade, por exemplo, do desemprego dos países desenvolvidos do Hemisfério Norte); as negociações salariais, mais uma vez, fecharam, em sua maioria, com ganhos acima da inflação. Expandiram-se o crédito imobiliário e as vendas no varejo, entre outras boas notícias (ver box com os dados). Ou seja, apesar dos indicadores desfavoráveis do PIB

e da produção industrial, outros extraordinariamente positivos no decorrer do ano colocavam abaixo o alardeado catastrofismo. Em pronunciamento de final de ano à nação, a presidenta Dilma até criticou esse fatalismo presente nas análises econômicas predominantes, o que chamou de “guerra psicológica”. “Se mergulharmos em pessimismo e ficarmos presos a disputas e interesses mesquinhos, teremos um país menor. Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas”, declarou. Porém, ao longo do percurso seu governo tem sido bastante tímido na contestação da tal crise aventada pela grande mídia. Em vez de, com os dados que dispunha em mãos, mostrar à opinião pública que a inflação não tinha fugido do controle e que a redução dos juros beneficiava, principalmente, o setor produtivo - entre eles a indústria, carente de medidas de impulso -, o governo demonstrou preferir recuar na política econômica para “acalmar o mercado”. Por exemplo, não só freou o processo de derrubada de juros, como voltou a aumentar a taxa básica (Selic). De abril de 2013 até janeiro deste ano, foram sete altas consecutivas. A Selic saiu de 7,25% ao ano (menor percentual desde 1986) até retornar aos dois dígitos (está em 10,5% ao ano). O apoio que o governo havia conquistado do setor produtivo - o presidente da Associação Brasileira da Indústria Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, enalteceu a derrubada como verdadeira “cruzada” da presidenta Dilma - transformou-se em crítica. Até entre, ao menos teoricamente, aliados políticos. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, filiado ao PMDB (partido do vice-presidente da República, Michel Temer) e assumido pré-candidato da base a governador de São Paulo, tem sido um dos que mais têm batido contra o recuo do Banco Central. “Com este novo aumento da Selic, 2014 começa mal, indicando que a esperada retomada da indústria ficará para depois. O Brasil não pode esperar. Precisamos nos libertar da política exclusiva de aumento de juros e ter como novo foco o crescimento econômico. A inflação precisa ser contida, mas é necessário buscar alternativas para combatê-la que não penalizem tanto a atividade econômica e a vida das empresas e das pessoas”, afirmou em nota divulgada em 15 de janeiro. O passo atrás não se restringiu à política monetária. Pressionado pelas empreiteiras e por investidores internacionais, o governo flexibilizou as regras do Programa de Investimentos em Logística. Lançado em agosto de 2012, o plano inclui concessões à iniciativa privada de rodovias, ferrovias, aeroportos e terminais portuários, em troca de obras de recuperação e aumento da capacidade (como duplicações ou ampliações de trechos rodoferroviários). O governo pretendia ter maior controle sobre a taxa de retorno (lucro) das empresas concessionárias, no que foi acusado de promover “a mão pesada do Estado” sobre a iniciativa privada. Depois de ouvir queixas dos empresários, aos poucos o governo foi cedendo e procurando demonstrar, sobretudo ao capital internacional, as vantagens de aplicar recursos em infraestrutura logística no país. Integran-


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tes da equipe de governo participaram de seminários fora do país e a própria presidenta Dilma Rousseff foi a palestrante em um desses encontros. Em setembro passado, depois de participar da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, na mesma cidade Dilma expôs as parcerias pretendidas pelo governo, no seminário “Oportunidades em Infraestrutura no Brasil”, promovido pelo banco Goldman Sachs, jornal Metro e Grupo Bandeirantes de Comunicação. A participação no Fórum Econômico de Davos consolida essa trajetória de maior alinhamento com os

interesses do mercado, como definiu, em entrevista à Rede Brasil Atual, o professor Giorgio Romano Schutte, doutor em Relações Internacionais. “Há um certo conflito de expectativas, recuo de investimentos, um monte de notícias negativas e especulações sobre rebaixamento (da classificação de risco da economia brasileira). O que Dilma quer evitar é que haja movimentações negativas, rebaixamento, desconfianças, e que o capital vá embora, o que seria um cenário muito ruim em vésperas de eleições”, declarou.

INDICADORES Confira os principais dados da economia brasileira nesta virada de ano EMPREGOS - O Brasil terminou 2013 com a geração de 1,1 milhão novos postos de empregos, segundo o Ministério do Trabalho.

Foto: Michael Buholzer

FINANCIAMENTO - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou que vai destinar em 2014 cerca de R$ 10,5 bilhões para financiar investimentos em logística no Brasil. Do montante, R$ 2,4 bilhões vão para portos, R$ 2,6 bilhões para aeroportos, R$ 1,7 bilhão para ferrovias e R$ 3,8 bilhões para rodovias.

CRÉDITO IMOBILIÁRIO - O crédito imobiliário atingiu novo recorde em 2013, com volume de financiamento em R$ 109,2 bilhões, uma alta de 32% sobre o volume de 2012. Os dados são Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança.

INADIMPLÊNCIA - A inadimplência do consumidor brasileiro apurada pela Serasa Experian caiu 2% em 2013, em relação a 2012. Foi a primeira queda anual registrada desde 2000, quando o levantamento começou a ser feito.

Presidente Dilma Rousseff cumprimenta o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab

ORÇAMENTO DE 2014 TAMBÉM É ‘AGRADÁVEL’ AO CAPITAL FINANCEIRO Antes de viajar para a Suíça para participar do Fórum Econômico Mundial de Davos, a presidenta Dilma Rousseff assinou a Lei Orçamentária Anual da União, a qual, pelas projeções que traz, mostra-se como, no mí-

nimo, um consolável “presente” ao mercado financeiro. Em seu discurso em Davos, Dilma falou dos investimentos previstos pelo governo em obras públicas de logística e infraestrutura, mas a fatia do orçamento que

atende ao sistema financeiro é bem mais generosa. A peça orçamentária reserva para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que reúne todas as grandes obras do governo federal no país, R$ 61,8 bilhões. Para o chamado “refinanciamento da dívida pública”, que na prática é o que o governo destina aos detentores de títulos públicos no mercado (instituições financei-

ras), o montante previsto é de R$ 654,7 bilhões. Ou seja, o governo garante ao mercado financeiro dez vezes mais do que aquilo que deverá ser aplicado nas obras estruturantes do PAC. O Orçamento da União assinado por Dilma estima ainda para 2014 um crescimento do PIB da ordem de 4%, inflação de 5,3% e taxa básica de juros de 9,2%.

VAREJO - A Confederação Nacional do Comércio calcula que em 2013 as vendas do varejo brasileiro tenham crescido 4,5%. Para 2014, a estimativa é de incremento de 6,5%.

CONTAS EXTERNAS - As transações correntes do Brasil - que são as compras e as vendas de mercadorias e serviços do país com o resto do mundo - fechou 2013 com saldo negativo de US$ 81,374 bilhões. O resultado corresponde a 3,66% do PIB. O saldo negativo é maior do que o de 2012, o qual foi US$ 54,249 bilhões (2,41% do PIB). Os dados são do IBGE.

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS - Em 2013, o Brasil recebeu US$ 64,045 bilhões de investimentos estrangeiros diretos, o equivalente a 2,88% do PIB. O resultado é menor que o de 2012, quando totalizou US$ 65,272 bilhões (2,90% do PIB). Dados do Banco Central.


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UK NO BRASIL

Alex Ellis: ‘A melhor coisa d Embaixador do Reino Unido fala com exclusividade ao Brasil Observer sobre seu trabalho no país e destaca a crescente colaboração entre as duas nações em diferentes áreas. Por Guilherme Reis

Alex Ellis se tornou embaixador do Reino Unido para o Brasil em um momento de forte ebulição social no país – era julho de 2013, menos de um mês depois das maiores manifestações desde os anos 1990 terem tomado as ruas das grandes cidades brasileiras. Sem contar que estava às vésperas de um dos anos mais importantes na história recente do Brasil, este 2014 que há tempos é esperado pelos amantes do futebol e que, além da Copa do Mundo, reserva aos brasileiros uma disputa eleitoral que vai definir quem estará na liderança do novo ciclo de desenvolvimento que se aproxima – com maior participação popular e amadurecimento democrático. Ou seja, Alex Ellis chegou ao Brasil para testemunhar um dos períodos que certamente serão dos mais decisivos para o país – e também para as alianças estratégicas com outras nações. Como disse o embaixador nesta entrevista exclusiva ao Brasil Observer, feita por e-mail, “estar em um país como o Brasil neste momento é realmente uma experiência única”. Alex falou também sobre as iniciativas britânicas em território brasileiro, assim como parcerias entre os dois países, com destaque para a área de educação, através dos programas Ciência Sem Fronteiras e Chevening Scholarship. Antes de se tornar embaixador do Reino Unido para o Brasil, Alex foi Diretor de Estratégia do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido de 2010 a 2013,

depois de ter sido Embaixador Britânico em Lisboa de 2007 a 2010. Alex já havia servido em Portugal entre 1992 e 1996. Alex Ellis entrou para a carreira diplomática como parte da equipe de apoio à transição para a democracia multipartidária na África do Sul, seguindo a libertação de Nelson Mandela. Antes disso, ele trabalhou como professor no Reino Unido e na Índia. Mr. Alex, você se tornou embaixador do Reino Unido no Brasil em um momento bastante decisivo para o país, logo após a maior onda de protestos desde os anos 1990 e meses antes da Copa do Mundo. O que você descobriu sobre o país desde a sua chegada? Você já tinha estado no Brasil antes? Tive o privilégio de visitar o Brasil e me reunir com o presidente Lula quando eu era assistente do presidente da Comissão Europeia. Agora como embaixador britânico, vejo um país que permanece vasto e diverso, ao mesmo tempo em que experimenta uma forte transformação social e econômica, com um peso político e econômico cada vez maior no cenário internacional, preparando-se para estar no centro das atenções com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Você trabalhou como embaixador britânico em Portugal entre os anos de 2007 e 2010. Isso te ajudou a ter uma melhor compreensão sobre a sociedade brasileira?

A experiência em Portugal me deu os conhecimentos essenciais para minha atual função de embaixador britânico para o Brasil. Apesar de serem países completamente diferentes em termos de tamanho, população e economia, Portugal e Brasil estão conectados pelo idioma e pela cultura. Também há diferenças; eu diria que o Brasil é o país do samba, não do fado! Quando você começou a se interessar pelo Brasil e como se deu a decisão para que você assumisse tal função no país? Você acha que tem – como muitos jornalistas já disseram – o melhor emprego do mundo? O posto de embaixador para o Brasil estava aberto para qualquer pessoa no serviço civil britânico com as qualidades e experiências apropriadas. Esses trabalhos não são apenas para diplomatas. Eu fiz minha aplicação, fui entrevistado e consegui o trabalho; foi uma seleção bastante competitiva. Eu acho que tenho um trabalho maravilhoso. Estar em um país como o Brasil neste momento é realmente uma experiência única; não apenas pela Copa do Mundo, ainda que eu seja um fã do esporte, mas por causa das extraordinárias mudanças pelas quais o país atravessa. Junto com outras potências emergentes, o Brasil é hoje visto como uma economia chave e a cada ano aumenta sua importância no cenário mundial. Além de ser parceiro comercial fundamental e aliado estratégico, o Brasil tem riquezas e variedades culturais que me lembram meu país

natal, fazendo dessa experiência algo muito significativo a nível pessoal. Sobre as relações entre Brasil e Reino Unido, o momento parece ser bastante positivo, especialmente depois dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Quais iniciativas entre os dois países você pode destacar como mais dinâmicas? O Reino Unido trabalha com o Brasil em diversas questões. Algumas são comerciais, como infraestrutura, organização de grandes eventos, gás e óleo, educação, e outras são mais profundas, como, por exemplo, em educação com o excelente programa do governo brasileiro Ciência Sem Fronteiras, assim como o programa de bolsas de estudo britânico Chevening. Na área de políticas públicas trabalhamos bastante em desenvolvimento estratégico, soluções energéticas, mudanças climáticas, biodiversidade e direitos humanos. Um ponto que eu devo destacar é o quanto trabalhamos em nível estatal e federal, com consulados que têm ampliado suas atividades no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre, assim como em outras cidades através dos consulados honorários. Onde estão as melhores oportunidades para empresas britânicas que querem fazer negócios no Brasil? De que maneira o governo britânico tem trabalhado para ajudar essas empresas e o que está sendo dado de retorno ao Brasil?


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do Brasil são as pessoas’

Alex Ellis durante visita à Arena de Manaus, na Amazônia, que receberá o primeiro jogo da Inglaterra na Copa do Mundo, contra a Itália

REINO UNIDO E BRASIL – LINKS ÚTEIS Brasil no Reino Unido: www.brazil.org.uk Reino Unido no Brasil: www.gov.uk/government/world/brazil UK Trade & Investment Brazil: http://migre.me/hCAyc Ciência Sem Fronteiras UK: http://migre.me/hCABM Chevening Scolarship no Brasil: www.chevening.org/brazil

Fotos: UK in Brazil

O Reino Unido enxerga este momento no Brasil como uma oportunidade única para ambos os países. Nós identificamos oportunidades de grande valor nas áreas de gás e óleo, no setor marino, infraestrutura... Há outras áreas, como educação, que também estamos explorando. Nós damos suporte às iniciativas através do nosso time da UK Trade & Investment pelo Brasil, assim como pela campanha GREAT Britain e nossa crescente rede de ciência e inovação. Esse suporte pode ser feito com promoção de eventos de negócios, garantindo presença britânica nas principais feiras de comércio e seminários, engajando parceiros regionais e oferecendo consultas e encontros pelo país, assim como promover missões de empresas brasileiras no Reino Unido.

Como você avalia a organização do Brasil para a Copa de 2014 e Olimpíada de 2016? Alguns diriam que o deveríamos ter aprendido mais com a experiência de Londres 2012... Não tenho dúvidas de que o Brasil vai sediar eventos inesquecíveis em 2014 e 2016. A Copa e a Olimpíada são diferentes a cada edição e o Brasil vai mostrar tudo o que tem de melhor nesses eventos. O Reino Unido tem trabalhado junto com organizadores da Copa e da Olimpíada, compartilhando conhecimentos em segurança de grandes eventos, infraestrutura e baixa emissão de carbono, por exemplo, assim como provendo tudo desde assentos para os estádios como o apito que será usado na final da Copa do Mundo.

O setor de turismo brasileiro espera que aproximadamente 25 mil britânicos viajem para o Brasil durante a Copa do Mundo. Você acha que esse número será alcançado? Espero que muitos torcedores venham, embora eu evite fazer especulações quanto aos números, assim como vou evitar prever quão longe a Inglaterra chegará na competição. Como embaixador eu posso garantir que nossa missão consular no Brasil estará preparada para dar todo suporte aos torcedores, trabalhando com as autoridades locais, a associação de futebol inglesa e outros. Que avaliação você pode fazer sobre o entendimento do Brasil pelos britânicos? Que conselho você daria para

um britânico que quer visitar o Brasil e conhecer mais sobre o país? Primeiramente, olhe para o mapa. O Brasil é tão grande, tão diverso que vale muito parar e pensar sobre o que você quer ver. É tão grande que é impossível ir a todos os lugares, mesmo que numa jornada de quatro anos como a minha. Em segundo lugar, mergulhe na cultura; comida, literatura, música. Terceiro, conheça alguns brasileiros. A melhor coisa do Brasil são as pessoas. Então reserve sua passagem com antecedência, porque não é barato, e explore o país – o litoral e outras partes também, talvez o Pantanal e a Amazônia. E, pelo caminho, não deixe de conversar com as pessoas!


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PERFIL


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Maurício Brandes: um galã nos palcos ingleses Beleza e talento levaram o gaúcho de Cachoeira do Sul a desbravar o mundo em busca de atuações em cima do palco, primeiro nos Estados Unidos e depois, em Londres, ‘cidade culturalmente vibrante, especialmente em relação ao teatro’. Texto e fotos: Rômulo Seitenfus Ele não pediu licença ao entrar com o pé direito no mundo da dramaturgia – e nem precisaria. Esse galã dos palcos londrinos iniciou sua carreira no teatro com a peça “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare. Ousado, eu diria – e ele realmente é! O brasileiro Maurício Brandes buscou e conquistou seu lugar ao raro sol londrino e apresenta seu potencial todas as vezes que os holofotes do New Diorama Theatre se acendem. Mestre pela Royal Central School of Speech & Drama de Londres, o gaúcho de Cachoeira do Sul morou nos Estados Unidos antes de pisar no país de Shakespeare. Mas, quando chegou por aqui, logo sentiu que seria o seu lugar. “Entrar na Central School of Speech & Drama foi um momento fantástico. Saindo da faculdade, não me sentia um ator completo e não tinha tanta confiança em entrar no conservatório, que era minha primeira opção, um lugar com uma tradição tão grande”, conta. Em 2011, Brandes recebeu o Prêmio de Difusão Cultural pelo Ministério da Cultura do Brasil e foi indicado por duas vezes consecutivas, em 2009 e em 2010, como Melhor Ator do Irene Ryan American College Theatre Festival, nos Estados Unidos. Além de brilhar sob os holofotes com a beleza que alia ao talento nato que sabe possuir, o guri dos palcos internacionais se diz consciente do papel do ator ao contar histórias. “Nenhum dia é igual ao outro. Posso ser criativo no meu trabalho e tocar as pessoas com ele. Sei que faço algo importante, não em um sentido solene ou presunçoso, mas no sentido de que contar histórias importa nesse mundo, podemos dizer coisas relevantes. Em ‘Like Enemies of the State’ (Como inimigos do Estado), por exemplo, representamos histórias reais que as crianças entrevistadas pelo diretor no Congo pediram que fossem contadas ao mundo”. “O que realmente importa, no fim, é o que se faz no palco, aquela coisa que não existia antes e que não existirá depois” “Like Enemies of the State” é apresentada pela companhia de teatro BeFrank. Trata-se de uma história – baseada em

fatos reais – de crianças sequestradas no Congo para lutarem na guerra civil e que, ao serem libertadas ou conseguirem fugir, não são aceitas de volta em suas comunidades. Para compor o roteiro, o diretor Tommy Lexen foi até o país africano, em 2011, onde realizou diversas entrevistas. Maurício Brandes interpreta o soldado Pierre, um moleque que se divide entre suas brincadeiras de adolescente e a triste realidade de um soldado de guerra. Entre os personagens e trabalhos que mais marcaram sua carreira, o ator cita alguns. “O pintor Agostino Tassi, papel que interpretei nos Estados Unidos, é um deles. Viveu no século XVII, era extremamente carismático e vil, tanto que estuprou e extorquiu a pintora Artemisia Gentileschi. Também vou lembrar-me do personagem que faço no momento, por ser tão atípico para mim: um garoto africano de 14 anos de idade”, Maurício revela. “Também fiz dois musicais que me marcaram muito, ‘Les Miserables’ (Os Miseráveis) e ‘Cats’ (Gatos), nos Estados Unidos, que foram divertidíssimos, além da peça ‘The Brother’s Paradise’ (O Paraíso do Irmão), que escrevi com outro ator aqui em Londres”, ele completa. Quando questionado sobre a vida em Londres, o ator ergue o corpo e brilha o olhar. “É uma cidade culturalmente vibrante, especialmente em relação ao teatro. Se pudesse escolher qualquer outra cidade, continuaria aqui. O teatro pulsa, e faço parte de uma tradição histórica da cidade. A competição existe de uma maneira que empurra para frente, em vez de puxar a camisa”, argumenta. Sobre as inspirações, ele cita Macbeth, interpretado por James McAvoy. “Acho difícil me inspirar em alguém. Mas um desempenho extremamente inspirador que assisti recentemente foi James McAvoy como Macbeth no Trafalgar Studios. Foi realmente brilhante! Quero um

dia ter a capacidade de apresentar desempenho como aquele”.

S o b r e o r o t e i r o q u e gostaria de i n t e r p r e t a r, e l e r e s p o n d e r a p i d a -

m e n t e , a n t e s m e s m o d e e u t e r m inar a pergunta. “Hamlet! Por mais clichê que seja. Talvez Nick em ‘Who’s Afraid of Virginia Woolf’ (Quem tem medo de Virginia Woolf), de Edward Albee. Sobre roteiro, há um do Sir Peter Shaffer chamado ‘Shrivings’, talvez o melhor que eu já tenha lido e que gostaria de fazer, mas não está autorizado pelo autor para ser licenciado no momento”. Quero saber se existe algo em sua técnica que transcenda o espaço e o tempo, então pergunto se o ator usa da catarse para realizar seus encarnados personagens. “O processo é a maneira como se chega até a forma de externar a expressão plena do material. E como esse material muda, naturalmente o processo muda também. É por isso que não existe uma fórmula nas questões de atuação. Acho vital conhecer os diferentes métodos e práticas e saber o que o material requer. Poder escolher entre as regras do jogo e depois quebrá-las, se quiser. O que realmente importa, no fim, é o que se faz no palco, aquela coisa que não existia antes e que não existirá depois”.

“O que realmente importa, no fim, é o que se faz no palco, aquela coisa que não existia antes e que não existirá depois”


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A pouco mais de quatro meses para o Mundial, Brasil está dividido entre a ansiedade para celebrar o evento máximo do futebol e a indignação com a organização de uma festa bilionária; resultado pode ser melhor do que muitos imaginam Por Guilherme Reis

CAPA A Copa do Mundo será no Brasil, que é cinco vezes campeão mundial e carrega a qualidade de país do futebol. Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo e Ribéry, entre outros craques, vão desfilar pelos gramados brasileiros, que receberão todas as seleções que já foram campeãs do mundo. A final será no Maracanã, um dos maiores templos do esporte bretão, e que pode ser palco de um duelo épico entre a Seleção Brasileira e a Argentina. Ou seja, para os amantes do jogo, será uma competição histórica – e até mesmo quem não é muito chegado ao esporte mais popular da Terra há de convir: será a “Copa das Copas”, como não cansa de repetir a presidente Dilma Rousseff. A pouco mais de quatro meses para o pontapé inicial, porém, o clima no Brasil não é aquele da chamada “pátria de chuteiras” – que invariavelmente se une, ou se unia, em um sentimento comum em torno da Seleção Brasileira antes de toda Copa do Mundo, seja qual fosse o país sede e a conjuntura política, econômica e social. Hoje, em qualquer roda de amigos que se propõem a debater o tema no Brasil, é mais comum ouvir lamentações sobre os gastos exorbitantes com a construção de estádios; especulações sobre os problemas que serão causados pela infraestrutura e logística ineficientes; e previsões apocalípticas sobre os protestos que devem tomar as ruas das cidades-sede – afinal, se em 2013 o Brasil teve a maior onda de protestos desde a década de 1990, “imagina na Copa!”. A mídia, como não poderia deixar de ser, amplia o coro com matérias que exploram os atrasos nas obras de estádios e aeroportos, com revisões de gastos – sempre para cima, evidentemente – e a falta de seriedade do poder público e das empresas envolvidas no processo. A presidente Dilma Rousseff, no seu papel de comandante da festa, tenta acalmar os ânimos. Relembra que o país assumiu um compromisso internacional e que dará conta do recado; assegura que tudo estará pronto dentro do prazo (seja ele qual for) e que o brasileiro receberá os torcedores estrangeiros de braços abertos, afinal, é chegado o momento de retribuir o carinho com o qual sempre fomos recebidos em outros países – o que está correto. De fato, a essa altura do campeonato, ninguém mais duvida que a Copa do Mundo será realizada no Brasil – até a bem-sucedida Copa das

Confederações no ano passado, mesmo sob protestos, ainda tinha gente achando que não conseguiríamos. Mas, impossível maquiar a verdade: a realização de megaeventos esportivos em países em desenvolvimento (ou emergentes, como queiram) gera tantas contradições e situações desconfortáveis que é impossível não ser contaminada por questões políticas e sociais que, muitas vezes, superam os fatores esportivos – pelo menos até a bola rolar. Isso se tornou ainda mais inevitável no Brasil, cuja população, após uma década de recuperação da auto-estima – com uma ascensão sem precedentes de pessoas à classe média e uma relevância internacional cada vez maior –, percebeu que as coisas não estavam tão bem assim. E que, enquanto continuava sofrendo com transporte público caro e ineficiente, hospitais públicos abandonados, educação precária e escândalos de corrupção (seja de qual partido fosse), via a Fifa mandar e desmandar, cobrando do país mais eficiência e rapidez na construção de estádios ultra-modernos que, em alguns casos, dividem a paisagem com favelas e vias públicas aos trapos. Não teve jeito. Na hora que manifestações contra o aumento da passagem do ônibus pararam a maior cidade do país, todos quiseram sair às ruas e exigir “hospitais públicos padrão Fifa” – como muitos cartazes anunciavam. E aí o que era um evento esportivo virou motivo de indignação – mesmo daqueles que anos antes, em 2007, comemoraram o fato de o Brasil ter sido escolhido como sede do Mundial, o que é apenas umas das contradições e situações desconfortáveis das quais o país se tornou palco. Há certo consenso, até mesmo entre partidários do governo Dilma, de que o país perdeu muito tempo para começar a se organizar. Foram quase sete anos entre a escolha do Brasil como sede da Copa e o começo do ano do evento. E o que se vê? Dos 12 estádios previstos, cinco ainda não estão prontos – São Paulo, Curitiba, Cuiabá, Porto Alegre e Manaus. O de Curitiba, aliás, corre o risco de ficar fora da Copa – uma reposta definitiva será dada em fevereiro. De acordo com o último balanço do Ministério do Esporte sobre as obras da Copa, divulgado em novembro do ano passado, estão sendo investidos R$ 25,6 bilhões em estádios, mobilidade urbana, aeroportos, portos, segurança, telecomunicações,

A RESP COPA DA

De um lado, Dilma e Blatter posam vai bem na organização da Copa; de em


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Fotos: Agência Brasil

EITO DA AS COPAS

Fotos: Agência Brasil

m juntos para mostrar que tudo outro, manifestantes protestam m São Paulo contra o Mundial

turismo e instalações complementares. Na área de mobilidade urbana, são R$ 8 bilhões em 45 projetos. No entanto, apenas três estavam concluídos. Já no caso dos aeroportos, serão R$ 6,2 bilhões investidos em 30 projetos. Destes, dez estavam concluídos quando o balanço foi divulgado. Quanto aos estádios, R$ 8,9 bilhões é o valor da última estimativa oficial. Em um documento da Fifa de 2007 revelado pelo jornal O Estado de São Paulo, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) informava que o gasto com os estádios deveria ficar em torno de R$ 2,6 bilhões, valor mais de três vezes menor que o atual. Tais dados, evidentemente, não contribuem para que a população tenha uma boa percepção em relação ao evento. Até porque, apesar de o governo dizer que as obras serão concluídas depois da Copa e se tornarão o legado do evento, é mais forte o sentimento de que não seria necessário um Mundial para ter bons aeroportos, ou linhas de trem, ou segurança, ou infraestrutura adequada para o turismo. Mais inteligente teria sido terminar tudo no prazo, passando para a população a mensagem de que o Brasil é um país que cumpre seus compromissos dentro do que foi previamente acordado. Isso sim teria sido um legado valioso para uma sociedade acostumada aos “jeitinhos” de última hora. E também seria determinante para que nossa imagem no exterior fosse menos baseada em estereótipos. Acreditar que isso pudesse ter acontecido, porém, é ingenuidade. E não cabe culpar A ou B, esse ou aquele partido. A culpa é de todos, inclusive daqueles que saem nas ruas agora sem nunca terem saído antes, sem nunca terem se preocupado em pensar o país de forma coletiva, preferindo assegurar antes de tudo sua condição social isenta dos problemas que a maioria enfrenta, completamente alheio às iniciativas que propõem o mínimo de contrapartida social – e aqui cabe citar aqueles que criticam programas como Bolsa Família e Mais Médicos, ou aqueles contrários à política de cotas em universidades. Quando os protestos de junho de 2013 chegaram ao ápice, disseram que o gigante havia acordado. A verdade, porém, é que ele sempre esteve acordado – só que ninguém queria ver, ou fingia que não via. Desde o começo da organização da Copa, movimentos sociais vêm cha-

mando atenção ao fato de que milhares de pessoas estão sendo removidas de suas casas para a construção de obras para o Mundial sem que haja o mínimo de segurança para isso – pagamento de indenizações, bolsa-aluguel, transferência para locais próximos etc. Da mesma maneira, criticaram exaustivamente a chamada Lei da Copa, através da qual a Fifa terá isenção de impostos da ordem de R$ 1 bilhão para que suas patrocinadoras possam encher o bolso de dinheiro, entre outras regalias. Mas todos esses questionamentos sempre foram tratados pela maioria como “coisa dos chatos”. Só quando virou moda ir para a rua é que aqueles que nunca saíram do sofá resolveram gritar suas indignações, protestando contra tudo – o que, a rigor, é o mesmo do que protestar contra nada. É bastante provável, portanto, que a “Copa das Copas” encontre nas ruas seu maior estopim, ainda que muitos dos manifestantes não estejam realmente preocupados em construir alguma coisa ou debater a fundo alguma questão – como os Black Blocs, que até agora fizeram muito barulho, mas que nada conquistaram de efetivo, a não ser o aval da população para que a polícia possa reprimir violentamente aqueles que julgar como “vândalos”. O slogan “Não Vai Ter Copa” é muito mais uma peça publicitária do que de fato um objetivo. A Copa vai acontecer e muito provavelmente será memorável, tanto no aspecto esportivo quanto em relação à percepção que o gringo terá do Brasil e de sua gente. E, se os duelos de craques dentro dos gramados e festas de torcedores fora deles puderem acontecer ao mesmo tempo em que manifestações legítimas criem um ambiente crítico e político, teremos uma prova concreta de amadurecimento democrático, talvez o mais inesperado legado que um evento esportivo pode ter.


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COPA 2014 Da arquitetura de Oscar Niemeyer à ebulição do rock dos anos 1980, Brasília está pronta para receber sete jogos da Copa do Mundo, entre eles o duelo entre a Seleção Brasileira e Camarões, na primeira fase do torneio

Brasília, a capital federal Parece redundância dizer, mas não é: Brasília é a capital do Brasil. Não são poucos os gringos que ainda acham que São Paulo, ou Rio de Janeiro, são as sedes do governo federal e do congresso nacional. Será que ainda há aqueles que pensam que é Buenos Aires? Melhor pensarmos que não – mas vai saber... não custa lembrar, não é? Erguida na região Centro-Oeste do Brasil, a cidade de Brasília foi milimetricamente planejada para ser a capital do país. Seu plano urbanístico, conhecido como “Plano Piloto”, foi elaborado pelo urbanista Lúcio Costa, que começou a por o projeto em prática junto com arquiteto Oscar Niemeyer em 1956. Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Brasília tornou-se a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro. Por ser uma cidade que foi construída do nada, a população de Brasília é formada por migrantes de todas as regiões brasileiras, sobretudo do Sudeste e do Nordeste, além de estrangeiros que trabalham nas 123 embaixadas espalhadas pela capital. Dados de 2003 apontavam que mais da metade da população da cidade

NEGATIVO: BRIGA ENTRE TORCEDORES

POSITIVO: SUSTENTABILIDADE

não nasceu ali: 1 milhão de brasilienses e 1,2 milhão de outros locais. No censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2010, sua população era de 2.562.963 habitantes (3.716.996 em sua área metropolitana), sendo, então, a quarta cidade mais populosa do Brasil. A cidade possui o segundo maior produto interno bruto per capita do Brasil (45.977,59 reais), o quinto maior entre as principais cidades da América Latina e cerca de três vezes maior que a renda média brasileira.

CAPITAL DO ROCK Além de sua história atípica – por ter sido construída para ser o centro do poder político do país –, Brasília carrega consigo a fama de ser a capital do rock brasileiro. A cena cultural construída nas primeiras décadas de vida, graças aos ideais difundidos pela Universidade de Brasília e da miscigenação que brotava das embaixadas e dos milhares de migrantes de todo o país, entrou em ebulição durante a década de 1980. Se no final dos anos 1970 ainda predominavam os ritmos regionais como o forró

BRASÍLIA

Região: Centr População: 2 Área: 5.787,7 Clima: Tropic Vegetação: Ce Altitude: 1.17

ESTÁDIO N

Valor investid Capacidade: Dimensões do Distância em

LINKS ÚTEIS

http://www.co http://www.se http://www.vis


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POSITIVO: SUSTENTABILIDADE As práticas sustentáveis adotadas na construção do Estádio Nacional de Brasília fizeram com que ele ganhasse o apelido de Ecoarena. O Mané Garrincha poderá ser o primeiro estádio no mundo a receber o selo Leed Platinum, o certificado máximo de sustentabilidade. A categoria é a mais alta que uma construção pode alcançar junto à organização Green Building Council (GBC). De acordo com a engenheira responsável pela obra, Maruska Lima de Sousa Holanda, todo o material proveniente da demolição foi reaproveitado. As armaduras e os aços foram para cooperativas de reciclagem e o concreto foi moído para que, a partir dele, fossem feitas as bases dos pisos do estádio. A cobertura da arena também dá importante contribuição à sustentabilidade do projeto. A membrana é autolimpante e utiliza o processo de fotocatálise para a remoção de sujeiras e da poeira que se acumula sobre a estrutura. Com as primeiras chuvas, o material é lavado sem a necessidade de qualquer produto, e a membrana volta à cor branca. A ajuda à camada de ozônio é considerável: corresponde à retirada de 1.000 veículos do trânsito por dia. A estrutura também permite a economia de água e de energia. A chuva que cai sobre a cobertura é canalizada para cinco reservatórios, onde é filtrada e tratada para ser reutilizada no estádio nos vasos sanitários e na irrigação do campo.

NEGATIVO: BRIGA ENTRE TORCEDORES

– DISTRITO FEDERAL

ro-Oeste 2.570.160 habitantes 784 km2 cal de altitude, média anual de 21º C errado 72 metros

NACIONAL MANÉ GARRINCHA

do: R$ 1,4 bilhão 72.788 pessoas o campo: 68 x 105 metros relação às arquibancadas: 7,5 metros

opa2014.gov.br/ etur.df.gov.br/ sitbrasil.com/

e a música sertaneja, na década seguinte Brasília veria surgir diversas bandas de rock influenciadas pelas bandas punks inglesas, como The Cure, The Smiths, The Who, entre outras. Na capital, despontaram grupos como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, que até hoje fazem a cabeças das novas gerações.

COPA DO MUNDO Sendo a capital federal, Brasília não poderia ficar de fora da Copa do Mundo, apesar da pouca tradição futebolística da cidade, o que rendeu muitas críticas quanto à construção de um estádio onde não há clubes grandes de futebol. Os dois maiores times de lá são o Brasiliense e o Gama, que já estiveram na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, mas que hoje estão longe dessa condição – o primeiro está na quarta divisão, enquanto o segundo ainda disputa o acesso à última divisão da competição nacional. Mesmo assim, com a promessa de realização de shows no local para fazer valer sua construção, além de receber jogos de times da primeira divisão nacional em partidas esporádicas, o antigo Estádio

Nacional de Brasília Mané Garrincha foi totalmente reformado para o evento da Fifa, ao custo de R$ 1,4 bilhão, segundo dados oficiais. Trata-se de um estádio com capacidade para 72 mil pessoas, inaugurado em maio de 2013. Palco da abertura da Copa das Confederações no ano passado, o Estádio Nacional de Brasília é uma das arenas que mais receberá jogos no Mundial, assim como o Maracanã: sete partidas no total. A primeira delas será entre Suíça, cabeça de chave do Grupo E, e Equador, no dia 15 de junho (domingo), às 13h. O segundo jogo no palco de Brasília para a Copa envolverá outro cabeça de chave, do Grupo C: Colômbia, que duela contra Costa do Marfim no dia 19 de junho (quinta-feira), às 13h. A partida mais aguardada no estádio está marcada para o dia 23 de junho (segunda-feira), às 17h, quando o Brasil, cabeça de chave do Grupo A, enfrentará a seleção de Camarões, podendo garantir a classificação antecipada.

No duelo entre Corinthians e Vasco no dia 25 de agosto de 2013, válido pelo Campeonato Brasileiro, as torcidas organizadas dos dois times entraram em confronto nas arquibancadas, levando ao desespero famílias que acompanhavam a partida no local. A maior facção de torcida organizada do Corinthians conseguiu ingressar no estádio e foi destinada ao anel superior. No intervalo, os integrantes da torcida deram a volta no anel do estádio para ir de encontro à maior torcida organizada do Vasco. Foi o bastante para o início de cenas de pancadaria. Em meio a torcedores comuns, sem qualquer relação com as organizadas, policiais entraram em confronto com os corintianos. Pais tentavam proteger os filhos aos prantos e idosos também corriam assustados com a confusão. Alguns policiais foram agredidos pelos torcedores e muitos revidavam com cassetetes e armas de choque. A correria causou um cenário de caos. Um dos policiais levou um chute no olho e, sem se identificar, lamentou a falta de cuidado no isolamento das torcidas. Na semana anterior, integrantes de uma torcida organizada do São Paulo espancaram um torcedor do Flamengo nos arredores do Estádio Mané Garrincha. O rubro-negro acabou hospitalizado com fratura na mandíbula. Os são-paulinos foram apreendidos, mas, no dia seguinte, acabaram liberados.


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Como parte de um complô de perseguição política, na segunda-feira dia 9 de dezembro de 2013 o Procurador Geral da Nação, Alejandro Ordoñez, destituiu e inabilitou a exercer cargos públicos por um período de quinze anos Gustavo Petro, prefeito da cidade de Bogotá, capital da Colômbia. A razão: supostas falhas na implantação de um novo modelo de coleta de lixo. O que aconteceu, realmente, é que a prefeitura quebrou um mercado de coleta de lixo até então monopolizado por um corrupto cartel de quatro empresários que detinham a concessão do serviço – e que são acusados de terem roubado 500 bilhões de pesos em dez anos. Para isso, Petro colocou em funcionamento uma frota pública de compactadores de lixo, reduzindo o mercado do cartel, além de investigar a definição de preços por esses empresários e aplicar o princípio da reversão de concessão. Ex-guerrilheiro do movimento M-19, Petro chegou historicamente à prefeitura depois de uma longa batalha contra a corrupção reinante nos contratos públicos do distrito. Na última década, vêm se organizando fortes cartéis de corrupção com alianças políticas dentro do Conselho de Bogotá – ao ponto em que o prefeito anterior está preso depois de denúncias e investigações levadas a cabo por Petro. Isso lhe concedeu inimigos grandes, com interesses milionários. Sua condição de ex-guerrilheiro e político de esquerda o converte, ainda mais, em alvo de conspirações políticas. A ideia não é eliminá-lo de maneira física, como foi feito nas últimas três décadas com mais de 4.000 ativistas de esquerda, e sim eliminá-lo como sujeito político. A destituição de Petro obedece, em primeiro lugar, à necessidade histórica da classe dirigente colombiana de tirar os líderes de esquerda ou os políticos que combatem a corrupção do caminho e da batalha eleitoral. É uma constante na história política colombiana. Não é somente acabar com Petro: é acabar com o sonho de que a esquerda possa, por fim,

CONECTANDO governar o país e que, finalmente, se alcance a paz junto aos movimentos de guerrilha armada. Para qualquer observador se faz claramente inaceitável destituir, por causa disciplinar, aquele que está limpando a corrupção da prefeitura – enquanto senadores que mantém ligações com paramilitares e vereadores que atuam como testa-de-ferro de cartéis de corrupção não recebem nenhum tipo de sanção penal por parte da Procuradoria. Por isso mesmo, os advogados de Juan Manuel Santos, Presidente da República, o aconselharam a tomar distância do caso. Desde a destituição, paradoxalmente, tem surgido uma inesperada mobilização cidadã de apoio ao prefeito e um enorme descrédito em relação ao papel da Procuradoria, em especial ao do procurador Alejandro Ordoñez, a quem se identifica uma série de execuções políticas, além de posicionamentos extremistas a respeito dos direitos reprodutivos das mulheres e do matrimônio entre homossexuais. Existe uma turbulência política no país por conta desse tema porque os resultados desta destituição tiveram, e seguirão tendo, efeitos no tabuleiro político colombiano. Despertou-se uma mobilização que, por um lado, afeta a estabilidade das instituições jurídicas e políticas e, por outro, alinha diferentes vertentes de esquerda e de movimentos progressistas cansados dos altos níveis de corrupção e impunidade instalados nos serviços públicos e na política colombiana em geral. Que a esquerda ocupe a Prefeitura de Bogotá é algo que a direita lamenta diariamente. O alcance dessa turbulência política aumentará ao passo que se consiga demonstrar que a destituição de Petro foi uma forma de revidar as sanções penais aplicadas aos membros corruptos da administração pública. Alguns jornalistas do diário oficial El Tiempo já falam de um plano de sabotagem aos diálogos pela paz que no momento estão sendo conduzidos em Havana, Cuba, entre o governo colombiano e as FARC. A sabotagem estaria sendo promovida pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez, inimigo

manifesto dos diálogos de paz. No entanto, é perigoso afirmar isso no país. Dizer publicamente que existe um complô é arriscado, já que afloram denúncias de calúnia e injúria graves contra os que estão denunciando o complô. É arriscado também porque existem casos de assassinatos e perseguição aos defensores dessas mobilizações em apoio ao prefeito. Para a opinião pública, a destituição de Petro criou um incomum fenômeno de consenso ao redor da ideia de que a decisão do procurador não foi jurídica ou disciplinar, como ele argumenta, mas uma clara decisão de caráter político e ideológico. Uma falha cínica e medieval que seguirá gerando consequências cada vez maiores na política nacional, sobretudo agora, em período pré-eleitoral, quando as forças políticas começam a se organizar. A maneira como o procurador pré-julgou o caso, resolvendo em segunda instância e atropelando o processo, nos mostra, ainda, que existe um sério problema de desenho jurídico, político e constitucional no país, já que não são claros os limites e alcances da Procuradoria, que hoje se choca com a Fiscalização e o Tribunal Administrativo da Comarca, outros espaços jurídicos e que têm opinião contrária ao que se sucedeu ao prefeito. O fato é que a implantação na prefeitura do novo modelo de coleta de lixo obedece ao mandato da Corte Constitucional como forma de proteger o Estado Social de Direito ao cobrir e dar preferência aos direitos dos dez mil trabalhadores de coleta seletiva e não a quatro empresas privadas. Isso nos mostra que realmente ainda existe perseguição política e complô contra o prefeito Petro e que a intervenção da Comissão Interamericana de Direitos Humanos é oportuna, relevante e justa, pois tais sanções estão violando os direitos políticos não só de Gustavo Petro, mas também de todos os cidadãos que o elegeram para o cargo de prefeito de Bogotá.

COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk.

GUSTAVO PETRO, UM CASO DE PERSEGUIÇÃO E INTRIGA POLÍTICA Por Álvaro Gaviria, de Bogotá – Colômbia

Desde a destituição, paradoxalmente, tem surgido uma inesperada mobilização cidadã de apoio ao prefeito e um enorme descrédito em relação ao papel da Procuradoria

Foto: Reprodução

Gustavo Petro, prefeito destituído de Bogotá, capital da Colômbia


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Brasil Observer

GUIDE THE SOUNDS AND COLOURS OF BRAZIL A new book and album focused on Brazilian music and culture shows the country in a completely new light – and stays as far away as possible from the usual stereotypes and clichés. >> Read more on pages 16 and 17

Novo livro e CD focados na cultura e música brasileira mostram o país de uma perspectiva diferente, ficando o mais longe possível de todos os clichês e estereótipos que nos cercam. >> Leia mais nas páginas 16 e 17

foto divulagação


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OQuadro

Book and album explore Brazil’s cultural diversity By Antonio Veiga

The understanding of a country and its culture usually starts in our imagination. Films, music and books help to build these images of other places and people, but undeniably it is difficult to escape the stereotypes that they can generate. Each country is haunted by various prejudices – anything made in Italian is expensive, German’s are methodical, that the Japanese are always polite and that the Irish start drinking at the breakfast to name a few. Any Brazilian who has met, let alone lived with foreigners at home or abroad, soon realises the reach of the stereotypes that precede our country. To the “gringos”, if you were born in Brazil, you have to like Carnival, samba and football. If you happen to be a Brazilian woman then you can add a hot body and confident sexuality to this, with many reports of women who feel hey are viewed as a piece of meat because sexual fantasies are constantly applied to them. On a more positive note, thanks to figures such as Tom Jobim, João Gilberto and Dorival Caymmi, and others, Brazil has become synonymous with good music. Bossa Nova and the Brazilian guitar sound conquered the planet, helping to build the image and sounds of Brazil, though it’s important to remember that observing a culture only based on clichés (even the good ones) is a shallow and superficial mistake.

Photo: Rômulo Seitenfus

Metá Metá

In the case of Brazil, considering the county’s size and cultural diversity, the lack of understanding generated by popular stereotypes is even more pronounced. It was with the desire to enhance the awareness of Brazil’s sounds, colours, tastes and beliefs that British journalist Russell Slater decided to develop the book and album Sounds and Colours Brazil. Setting out to delve deeper into the vast melting pot of Brazilian popular culture, Slater has complied a series of articles by researchers, journalists and authors. “Sounds and Colours Brazil” is an anthology of things that catch the eye and echo in the ears of those who know and understand Brazil. With 200 pages featuring articles on new sounds, traditional celebrations and emerging trends, the book will help many who want to expand their knowledge of Brazil. During the process, Slater felt that words alone would not manage to describe everything being explored, to address this, the text is accompanied by many photographs, illustrations, and a CD, so that the reader can listen along. This means that new topics such as Carimbó, the indigenous dance that emerged around Belém, capital of Pará State, can be better explained and appreciated. According to the creators, selecting the music for the album was one of the processes that occupied the most time and demanded attention. Throughout the publication and CD, themes emerge from the urgency of hip-hop and TecnoBrega, to travels through sounds that result from Brazil’s moving story of migration such as jongo and afrobeat. Incredibly well known musical figures, including the King of Baiao - Luiz Gonzaga, also feature, carnival also makes an appearance, though it’s plurality such at events in Recife, along with lesser known styles like maracatu, frevo and ciranda are discussed, rather than focussing on Rio.

Photo: Divulgation

The book travels from north to south and old to new Brazil, to show that Bossa Nova is just the tip of the iceberg to a very rich and diverse musical culture. You’d be wrong to think that the project is “limited” to music, major festivals and popular culture, to celebrate the contrast between regions and eras, Sounds and Colours Brazil also looks at the country’s visual arts, literature and national cinema. This Brazilian edition is the second one of Slater’s “Sounds and Colours” series, the first project covered Colombian culture and eventually he hopes to showcase each corner of South America. According to the website: “Sounds and Colours began as a means of promoting South American music and culture. We felt that Latin American culture was often shown through a narrow lens, missing much of the diversity that makes it such a rich culture. Our aim from day one has been to show all sides of South American culture, especially those that have been under-represented in the past”. The website is also an important space for the Sounds and Colours project, where you can find a lot of content about Brazil’s culture and even buy a copy of the book! Go there:

www.soundsandcolours.com


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Os Nelsons

Livro e álbum exploram diversidade cultural do Brasil Por Antonio Veiga

A compreensão de um país e sua cultura, geralmente, inicia-se dentro de nosso imaginário. Filmes, músicas e livros colaboram e muito para a construção desta imagem do que é o outro. Mas, inegavelmente, não há muito como escapar dos estereótipos. Aquele senso comum que beira o preconceito e supõe que o italiano é expansivo, que o alemão é quadrado, que o japonês é educado e que o irlandês começa a beber no café da manhã. Ao conhecer um estrangeiro, seja como hóspede ou visitante, o brasileiro percebe a dimensão do estereótipo criado em cima de si. Para o gringo, se você nasceu no Brasil, você, necessariamente, gosta de carnaval, samba e futebol; é bem-humorado e, também, malandro. No caso das mulheres, se adiciona a sexualidade. Muitos são os relatos de garotas que acreditam ser vistas como um pedaço de carne, tamanha fantasiada criada em cima da mulher brasileira. Graças a figuras como Tom Jobim, João Gilberto e Dorival Caymmi, entre outros, o Brasil tornou-se sinônimo de boa música mundo afora. A Bossa Nova e a sonoridade do violão brasileiro conquistaram o planeta e venderam muito bem o nosso peixe, ajudando na construção da imagem – e do som – do Brasil. No entanto, observar uma cultura somente em cima de seus clichês não é somente um erro: é raso, superficial. No caso do Brasil, considerando o seu tamanho e a sua diversidade cultural, isso fica ainda mais acentuado. E foi o desejo de aprimorar o

Photo: Divulgation

Orquestra Contemporânea de Olinda

olhar sobre a salada brasileira de sons, cores, sabores e crenças que levou o britânico Russel Slater a desenvolver Sounds and Colours Brazil. Para ir mais a fundo na ebulição da diversa cultura popular brasileira, Slater reuniu uma série de textos de pesquisadores, jornalistas e escritores. Praticamente uma antologia do que salta aos olhos e fascina os ouvidos de quem conhece o país sul-americano. São 200 páginas com artigos sobre assuntos, ritmos, celebrações tradicionais e novas tendências, que vão ajudar muito quem admira o Brasil a se atualizar e compreender ainda mais seus detalhes. Como as palavras, mesmo com todo o seu alcance, não são capazes de descrever tudo, o livro está repleto de fotografias e ilustrações, e vem acompanhado de um CD, para que o leitor, instantes após ter o interesse despertado pela leitura, possa escutar o que é o Carimbó, por exemplo. A dança indígena que despontou nos arredores de Belém, capital do Pará, no norte do Brasil, é um dos assuntos que podemos encontrar em Sounds and Colours Brazil. A seleção musical foi, segundo os idealizadores, um dos processos que mais ocuparam o tempo e demandaram atenção. Tanto na escolha dos temas dos textos quanto na dos sons que foram para o disco. O projeto conta com ritmos que estão em evidência, como o hip-hop e o tecnobrega; e passeia por sonoridades que são resultados da miscigenação brasileira, como o jongo e o afrobeat. Também estão no livro músicos centenários, como o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, além da pluralidade do carnaval de Recife e seus maracatus, frevos, cirandas, bonecos e adereços. Enfim, vai de norte a sul, do antigo ao novo, no intuito de mostrar que a Bossa Nova é só a ponta do iceberg

Photo: Divulgation

de uma cultura musical bastante rica e diversa. Engana-se, porém, quem pensa que o projeto “limita-se” à música, às festas tradicionais e à cultura popular. Com a mesma intenção de mostrar o contraste entre regiões e épocas, Sounds and Colours Brazil pinça também a arte, a literatura e o cinema nacional. A edição brasileira é a segunda de Sounds and Colours, que já viajou pela cultura colombiana e pretende colocar em evidência um pouco de cada cantinho da América do Sul. “Sons e Cores começou a fim de promover a música e a cultura sul-americana. Nós sentimos que a cultura latino-americana foi muitas vezes mostrada através de uma lente estreita, perdendo muito da diversidade que a torna tão rica. O nosso objetivo desde o primeiro dia foi mostrar todos os lados da cultura sul-americana, especialmente aqueles que foram sub-representadas no passado”, descrevem os organizadores no site. A plataforma, aliás, é um espaço importante do projeto Sounds and Colours, onde o internauta pode encontrar muitos conteúdos sobre a cultura do continente e inclusive comprar um exemplar do livro. Vai lá:

www.soundsandcolours.com


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GRINGO’S VIEW

It’s time to share what I know about Brazil

Photo: Léo Corrêa / Arquivo Secom

Taking advantage of Tirando vantagem this importan year deste importante ano Por Shaun Cumming

By Shaun Cumming The big year for Brazil has arrived and, in the next few months every Brazilian will be praying that the Selecao stars remain fit and healthy for the World Cup. One of the players I think will be key to success of Brazil is David Luiz. Luiz has earned respect from supporters of both his club Chelsea in London, and of Brazil, by putting in determined and passionate performances. He has been so important to both sides’ success; for example, at the Confederations Cup last year, his goal line clearance in the final against Spain at the Maracana, I believe, was the moment that killed Spain’s enthusiasm and led to Brazil’s triumph. Luiz is eccentric in appearance and playing style, and that’s not a bad thing. Toweringly tall and with a mad bush of hair, his personality booms out every time he plays football, every time he posts to social media networks,

and when he interviews with the media. On the pitch, his style can be equally eccentric. As a full back, he is always prone to moments of madness, but is solid nonetheless. He is a natural leader, always encouraging younger players – often allowing them to shine above him. It has been argued that his talents are wasted in central defence, and that he should actually play in central midfield. Perhaps so, but neither of his managers seems keen. I’d argue that David Luiz is as important a player to Brazil’s World Cup as Neymar is. During performances of the last year; every time David Luiz has been in the mood, has played with passion, Brazil has generally been successful. If Brazil is to do well in tournament, David Luiz needs to be playing and needs to be at his eccentric best. Whether or not the national team succeeds

on the field, there is an enormous opportunity for Brazil to take advantage of the attention of the world. Of course, many are unhappy at the expense when public services are so poor and corruption still widespread, and so they should be. I just hope people can channel this energy into something meaningful that leads to change. I have decided to share everything I know about Brazil in this important year in two ways. First is something I’ve been working on for several years. I’ve wrote a book based on the true story of one gringo in Brazil – you’ll find out more about that soon, but it will be of interest to everyone who knows or likes Brazil. Second is more immediate – I’ll be blogging regularly at www.thebrazilblog. com. Please make sure to come on to my blog and leave some comments.

O grande ano do Brasil chegou. E nos próximos meses todos os brasileiros estarão rezando para que as estrelas da Seleção Brasileira continuem em forma e saudáveis para a Copa do Mundo. Um dos jogadores que eu acredito ser a chave do sucesso para o Brasil é David Luiz. O zagueiro conquistou o respeito dos torcedores do Chelsea e da Seleção graças à determinação e paixão de suas performances. Ele tem sido muito importante para o sucesso dos dois times; na Copa das Confederações do ano passado, por exemplo, o zagueiro salvou uma bola em cima da linha na final contra a Espanha no Maracanã que, em minha opinião, foi o lance que matou o entusiasmo dos espanhois e levou o Brasil ao título. Luiz é excêntrico tanto em sua aparência quanto em seu estilo de jogo – e isso não é uma coisa ruim. Alto, meio desen-

gonçado e com um cabelo nada menos que chamativo, Luiz expõe grande personalidade toda vez que joga futebol, a cada postagem nas redes sociais e em cada entrevista que concede a jornalistas. Dentro das quatro linhas, seu estilo pode ser igualmente excêntrico. Como zagueiro central, tem sempre momentos de loucura, mas bastante sólidos. Ele é um líder natural, sempre encorajando jovens jogadores – frequentemente fazendo estes brilharem. Há quem diga que seu talento está sendo desperdiçado como zagueiro, e que ele poderia jogar no meio-de-campo. Talvez sim, mas nenhum de seus treinadores quer apostar nisso. Eu diria que David Luiz é tão importante para o Brasil na Copa do Mundo quanto Neymar. No ano passado, toda vez que Luiz jogou bem, a Seleção Brasileira saiu vitoriosa. Para o Brasil se dar bem no Mundial,

David precisa estar em seu melhor. Sendo a Seleção campeã mundial pela sexta vez ou não, há uma enorme oportunidade para o Brasil tirar vantagem da atenção que receberá do mundo. Evidentemente, muitos estão insatisfeitos com os gastos enormes e os persistentes problemas do setor público – e devem estar mesmo. Só espero que toda essa energia possa ser canalizada para algo significativo que leve a uma mudança. Eu decidi compartilhar tudo que sei sobre o Brasil neste importante ano de duas maneiras. A primeira é algo em que venho trabalhando há tempos – um livro baseado na história real de um gringo no Brasil, sobre o qual trarei mais novidades em breve. A segunda é mais imediata – um blog onde postarei regularmente: www.thebrazilblog.com. Te vejo lá?


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NINETEEN EIGHT-FOUR The wolf pack’s back By Ricardo Somera

No, they haven’t decided to film “Hangover 4” - yet. The pack I’m referring to is the duo of Leonardo DiCaprio and Martin Scorsese along with their regular collaborators and excellent actors - Jonah Hill, Matthew McConaughey, Jean Dujardin in “The Wolf of Wall Street”, one of the best films of the year. An yes, I know we’re still in January! Not since DiCaprio and Scorsese’s “The Departed”, have I left the cinema feeling so thrilled about a movie. The latest masterpiece is based on the life of Jordan Belfort, from his rise to wealthy stockbroker living the high life to his fall involving crime, corruption and the federal government. Like any good film on the greed and depravity of the super rich, the the movie has glittering parties to match “The Great Gatsby”, the

opulence last seen in “Boogie Nights” and the nihilistic greed of “Wall Street”. “The Wolf” as it’s already becoming affectionately known, is also enjoying success in major film awards. DiCaprio won the Golden Globe for best actor in a comedy or musical and the film has received five Academy Award nominations (including Best Movie). The story might not be telling us anything new: Belfort is a totally dishonest banker who’s addicted to sex, drugs and parties. While ‘friends’ who envy his lifestyle might surround him, all of them fail to realise that behind every many great fortunes is an even greater crime. Though it doesn’t matter that we’ve seen this story before, what matters is how it is told and in Scorsese’s hands this makes for a compelling tale. Now the stars - apart from Leonardo DiCaprio,

who has more than proven he is not just a pretty face, Jonah Hill also stands out, with his balance of comic and tragic characterisation that keeps us invested in him. Matthew McConaughey, seen here unusually skinny (albeit not as gaunt as his role in “Dallas Buyers Club”), ugly and almost unrecognisable, in the role of “instructor” to the drugs and orgies Belfort consumes. The film has grossed over US$ 150 million worldwide and promises to accumulate even more after the Academy Awards in March. There’s no way you can see this movie and not want to join the wolf pack, even if it is only for the three hours of the film’s duration. This is a perfect means of escapism and just like the “ludes” (methaqualone) enjoyed by Belfort and his entourage: “it makes you feel wonderful, and doesn’t leave you with a hangover the next day.”

Photo: Divulgation Leonardo DiCaprio more than a pretty face

A alcateia está de volta Por Ricardo Somera

Não, ainda não inventaram de filmar “Se Beber Não Case 4”. Quem voltou foi a dupla Leonardo DiCaprio e Martin Scorsese – mais sua turma de excelentes atores (Jonah Hill, Matthew McConaughey, Jean Dujardin) – em “O Lobo de Wall Street” (“The Wolf of Wall Street”), um dos filmes mais incríveis do ano (eu sei que ainda estamos em janeiro!). Desde “Os Infiltrados” (“The Departed”), também da dupla DiCaprio e Scorsese, não saia da sala de cinema tão animado, excitado e entusiasmado com um filme. A obra prima conta a história baseada na vida de Jordan Belfort, um corretor de títulos e ações de Nova York que dirige uma firma, a Stratton Oakmont, que praticava fraudes de seguro e corrupção em Wall Street na década de 1990. É uma mistura de festas de “O Grande Gats-

by” (“The Great Gatsby”), putaria de “Boogie Nights” e o mundo de “Wall Street – Poder e Cobiça” (“Wall Street”). “O Lobo” também está fazendo sucesso nas principais premiações do cinema. Leo ganhou o Globo de Ouro de melhor ator em comédia ou musical e o filme recebeu cinco indicações para o Oscar (incluindo melhor filme). A história não é novidade: um trapaceiro, com muito dinheiro, viciado em sexo e drogas, cercado de festas e amigos; todos invejam o seu “life style” e todos esquecem por um momento que por trás de toda grande fortuna há um crime, normalmente um proporcional ao outro. E também não importa se a história é a mesma, o que importa é como ela é contada – e Scorsese sabe contar ótimas histórias desde sempre. Agora vamos às estrelas... Além de Leonardo

DiCaprio, que tem provado que não é só um rostinho bonito, outro ator que chama a atenção é Jonah Hill. Há tempos ele tenta mesclar seus filmes pastelões com ótimos e bons papéis, como em “Superbad” e “Moneyball”. Matthew McConaughey, magro, feio e quase irreconhecível, faz uma ponta importante como “instrutor” de drogas e orgias de Belfort. O filme já arrecadou mais de US$ 150 milhões em todo o mundo e promete acumular ainda mais após vencer os prêmios do Oscar em março. Não tem como ver o filme e não querer se juntar ao bando de lobos, nem que seja por apenas três boas horas. Pois são três horas com o efeito de “ludes” (Methaqualone): “they made you feel wonderful, yet didn’t leave you with a hangover the next day”.


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Brasilia for all tastes

Photos: Divulgation

Brasília para todos os gostos

TRAVEL Brasilia is a city ahead of its time, her emergence has changed the landscape of the country, both in political and economic terms. Conceived by President Juscelino Kubitschek, planned by the talent of architect Lucio Costa and designed by the genius Oscar Niemeyer, the capital of Brazil was inaugurated in 1960. Monumental architecture and innovative urban design led to Brasilia being listed as a UNESCO Cultural Heritage Site in 1987. If you travel to Brasilia (and you really should), a good way to get to know the capital is the City Tour, which takes you passed the main monuments of the city: the Metropolitan Cathedral, the National Congress, the Presidential Palace, Alvorada Palace, Plaza of the Three Powers and JK Bridge. The tour can be

Congresso Nacional

Brasília é uma cidade à frente de seu tempo. Seu surgimento mudou o panorama do país, tanto político quanto econômico. Idealizada pelo presidente Juscelino Kubitschek, planejada pelo talentoso arquiteto Lucio Costa e desenhada pelo genial Oscar Niemeyer, a capital do Brasil foi inaugurada em 1960. Sua arquitetura monumental e seu traçado urbano inovador fizeram de Brasília Patrimônio Cultural da Humanidade, tombada pela UNESCO em 1987. Uma boa pedida para conhecer a capital brasileira é o City Tour que passa pelos principais monumentos da cidade: Catedral Metropolitana, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada, Praça dos três poderes, Ponte JK. O passeio pode ser feito com os ônibus

taken in the newly deployed bus (R$ 25 per person) or in shared vans (R$ 80). If you want to see inside these modernist marvels, each monument offer excellent guided tours, especially the Alvorada and Planalto Palaces. The paintings, sculptures and furniture are breathtaking. For more information: http:// goo.gl/ZIb2J2 Amid the curves of Niemeyer’s buildings, there’s an amazing culinary culture that celebrates Brazil’s melting pot of nationalities. Cultural diversity is the main ingredient that flavors the menus and enriches the cooking. With representatives from around the world and all regions of Brazil, you can enjoy homemade food from Minas Gerais, traditional dishes from all of the country’s great regions,

Mato Grosso, Bahia, Rio de Janeiro, Espirito Santo, Amazonas and gaucho’s food from the plains. This forms a mosaic of flavors to please any taste. Make sure you go to the commercial district, 404/405 South, which offers so many options that is known as “restaurant’s street”, as well as the 201/202 South and 213/214 North. Other good options are in the Pontão do Lago Sul and the edge of the JK Bridge where you can enjoy the summer atmosphere of the Paranoá Lake with great alfresco dining.

Palácio do Planalto

estilo jardineira recém implantados (R$ 25 por pessoa) ou por vans compartilhadas (R$ 80). Além da vista externa dos monumentos, as visitas guiadas são imperdíveis, principalmente ao Palácio do Planalto e Palácio da Alvorada. As pinturas, esculturas e mobiliário são de tirar o fôlego. Mais informações: http://goo.gl/ZIb2J2. E em meio às curvas de Niemeyer, encontram-se cantinhos com culinária que desvenda as origens de vários povos. A diversidade cultural é o ingrediente principal que tempera os cardápios da cidade. Com representantes do mundo todo e de todas as regiões brasileiras, encontra-se uma pitada da caseira comida mineira, da típica comida baiana, carioca, mato-grossense, capixaba, amazonense, até

a tradicional comida gaúcha - formando assim um mosaico de sabores que agrada qualquer paladar. A dica é a comercial 404/405 Sul, que oferece tantas opções que é conhecida como “rua dos restaurantes”, assim como a 201/202 Sul e a 213/214 Norte. Também o Pontão do Lago Sul e a orla da Ponte JK, que unem o clima de verão do Lago Paranoá ao da boa comida.


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ECO-TOURISM For those who enjoy nature, the state of Goiás, where Brasilia is located, offers a great variety of ecotourism options, with adequate infrastructure and native flora preserved. The National Park of Chapada dos Veadeiros (229 km away from the capital) is great for long walks followed by epic views of the park’s waterfalls, with some that are over 100 meters high, with hundreds of springs and watercourses. For more information, go to http://goo.gl/MJK7mo. Finally, Pirenópolis (182 km from Brasilia) is a city that invites its visitors to know and immerse themselves with the city’s colonial buildings, rich gastronomy and natural beauty with many waterfalls.

Catedral Metropolitana

ECOTURISMO Para quem curte a natureza, o estado de Goiás – onde Brasília está localizada – oferece vasta opção de ecoturismo, com infraestrutura adequada e vegetação nativa preservada. O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (229 km da capital) é ótimo para caminhadas e relaxar nas inúmeras cachoeiras - algumas com mais de 100 metros de altura -, e centenas de nascentes e cursos d’água. Para mais informações: http://goo.gl/MJK7mo. Já Pirenópolis (182 km de Brasília) é uma cidade que convida seus visitantes a conhecer e interagir com suas construções coloniais, gastronomia e, também, numerosas cachoeiras.

Chapada dos Veadeiros

Pirenópolis


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GOING OUT

PENTA: BRAZILIAN FASHION

VOODOO LOVE ORCHESTRA

February 10 – 18, 2014

February 21, 2014

Where Embassy of Brazil / Tickets Free

Where 1 Richmond Rd / Tickets £5 before 10pm;

>> culturalbrazil.org

£8 after 10pm >> movimientos.org.uk

London-based designers, Barbara Casasola (photo), Lucas Nascimento and Fernando Jorge, as well as two emerging talents from Brazil, Vitorino Campos and Guilherme Vieira, participate in Brazil’s inaugural International Fashion Showcase exhibit.

Supernatural tropical brass band the Voodoo Love Orchestra will be leading the Passing Clouds party in February, with the infectious Afro-Latin jams of Animanz and Movimientos DJs.

Egberto Gismont + RALPH TOWNER

Guida de Palma & JAZZINHO

February 27, 2014

February 28, 2014

ABC TRUST – DANCEATHON February 7, 2014 Where Hammersmith Club / Tickets £35 >> info@abctrust.org.uk

With a unique voice full of sensuality and strength, De Palma says she is into many styles and does not limit herself to a very narrow genre. That, in essence, in Jazzinho, a bouncy and captivating release featuring De Palma’s awesome vocals and swing.

The ABC Trust Danceathon will feature a diverse range of Brazilian dance lessons, including Axé, Frevo, Carnival Samba, Gafiera, Forro and Coco. You can buy a ticket for £35 and take part in as many of the classes you like, or you can register for free and pledge to raise £100 to help thousands of children across Brazil.

Virtuoso pianist and guitarist, and a seminal figure in contemporary Brazilian culture, Egberto Gismonti is the composer of an extraordinary body of music, reflected in a long association with ECM Records. His charismatic solo performances meld uplifting, exuberant rhythms with heart-stopping melody.

Where Rich Mix / Tickets £18

Where Barbican Hall / Tickets from £35

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MIND & SOUL

By Clarice Valente, Deise Fields and Bruja Leal

THE ARRIVAL OF THE WATER BEARER In mythology, Zeus (Jupiter) bestows the mortal Ganymede with the responsibility of serving the nectar of immortality to the gods of Olympus. According to mythology, the Waterman never tastes the nectar, instead any remaining liquid is poured on Earth to establish the spiritual connection between the two worlds and nurture their paths. Uranus - the planet of electrical conductivity, rules the Aquarius star sign. This gives people of this sign, who’s revolutionary characters are in a constant flux, their creative and abstract energy. In Greco-Roman mythology, Aquarius is not a mythological god, but a primordial planet, the heaven: a creative energy. He is father of Cronus (Saturn) and grandfather of Zeus. Those influenced by this sign tend to adapt to the world around them. With their expansive perception and creative intelligence, they might be considered eccentric and distracted. They also have the gift of helping others and the skills to calm hysterical people and frightened children. Some call them “geniuses” who live on a tenuous line between wisdom and folly as they contextualize the present reality with the possible future. The Aquarius Moon governs the period, which begins on 30th January, encouraging freedom and self-expression and desiring change. After this though, the Moon grows in the constellation of Taurus on the 6th February, symbolising the search for stability and satisfaction on Earth. The Full Moon passes through Leo on the 14th, focusing on ease for affection, expanding the possibility of even more creativity. The waning moon in Sagittarius, on the 22th bringing a sense of philosophy to past events. We all have an internal aquarium, even if it seems impossible for some. In this period, the wind of freedom blows, Aquarians and many of us will feel encouraged to face our challenges, and awaken our senses.

Sun and Moon arrive in the Aquarius Constellation: the archetypal carrier that chooses what it will hold until it overflows and renews, mirroring the cycles of nature.

É chegado Sol e Lua na constelação de Aquário: o arquétipo do portador do Jarro escolhe o que nele estará contido até transbordar e se renovar, como os ciclos da natureza. Esta leitura do céu acompanha as fases da Lua e o tempo entre Luas Novas. Cada lunação sofre influência de um signo regente e circunda as constelações zodiacais deste período. De 3 de Novembro ao dia 2 de Dezembro, a Lua desfila sobre a constelação de Escorpião. Escorpião é um signo intuitivo de água* e é regido por Plutão. O animal mora nas brechas e vive em alerta, característica que reverbera no signo. Sai quando acometido de desejo; é sedutor e desconfiado. O veneno de escorpião tem potência letal ou de cura. Neste sentido magnético, regenera ou intoxica. Como uma reação ao veneno, o período de sua regência é agitado pela busca da auto-renovação. O Escorpião motiva a negação das convenções sociais, a não-identificação que possibilita a transmutação em algo próprio de si. Lunação que motiva a criação de novos métodos. Seu período atual, pós-ápice da Lua cheia, está em Gêmeos – Razão e Aprendizado. Passará sobre Câncer – Sentimento e Estrutura. Na reflexão da minguância, Leão – Criatividade e Liderança o ajudará a encontrar saídas criativas para o período que segue para Virgem – Organização e Análise e que finaliza em Libra - Balança. Neste período, Venus passa pela constelação de capricórnio e não se dedica a devaneios líricos. Está de pés no chão em conversa com Plutão, regente de Escorpião. Estes astros em conjunção debatem racionalmente (Capricórnio) a pulsão e o desejo, do viver aos relacionamentos. Enfim, a Lua regressa à constelação de Escorpião e conclui seu ciclo na Lua Nova de Sagitário, no segundo dia de dezembro, período lunar que favorece escolhas regeneradoras, ingestão do caos ou da harmonia. Saia da toca. Arrisque e sinta.

A CHEGADA DO AGUADEIRO Por Clarice Valente, Deise Fields e Bruja Leal


FOOD PRAWN SUPREME

CAMARÃO SUPREME

P R E P A R A T I O N

P R E P A R A Ç Ã O

For the Puree: Boil the pumpkin until soft, drain and mash. Squeeze out any excess liquid but retain this for later. Fry one onion and the garlic in butter and add the pumpkin, stirring well. Season with salt, pepper and a small sprinkle of fresh herbs then stir in the cream cheese and heat through, making sure it doesn’t stick to the bottom of pan. Prawns: Fry the other onion and garlic in olive oil and add the prawns. Add the saffron, remaining parsley, chives, salt and pepper and cook until the prawns are just cooked. Mix gently to avoid breaking up the prawns, remove from the heat and stir in the remaining cream cheese. Using either individual ramekins or in a larger oven-proof dish, start with a layer of pumpkin puree, top with prawns, cover with grated pecorino cheese then top with another layer of puree. To finish, sprinkle Parmesan cheese on the top and place it in a moderate oven (180ºC) until golden brown. Serve with a crisp green salad and lots of crusty bread.

Purê: Cozinhe a abóbora até ficar mole ao ponto de amassar no espremedor de batatas. Esprema e reserve. Refogue uma das cebolas e o alho na manteiga e junte à abóbora, mexendo bem. Coloque o sal, a salsa, a cebolinha, o queijo cremoso e misture até levantar fervura, para não pegar no fundo. Reserve. Camarão: Refogue a outra cebola e o alho no azeite e acrescente os camarões. Acrescente o açafrão, a salsa, a cebolinha, o sal e a pimenta e deixe a água que irá sair dos camarões secar. Misture com cuidado para não desmanchá-los. Desligue o fogo, coloque o queijo cremoso e misture. Montagem: Em potes de porcelana ou outro material que possa ir ao forno, coloque uma camada do purê de abóbora, camarões a gosto, cubra com o queijo pecorino ralado e coloque mais uma camada do purê. Para finalizar, salpique queijo parmesão por cima e, após montado, coloque em forno médio (180ºC) até o queijo parmesão dourar.

Ingredients 1,5 kg of pumpkin/squash cut into 1-inch cubes 2 medium onions, finely diced 2 cloves of garlic, crushed 200g cream cheese (for the sauce) 2 tablespoons butter 2 kg of medium-sized raw prawns, shelled and de-veined 2 tablespoons olive oil 300g of cream cheese (for the shrimp) 1 tablespoon saffron or curry powder Parsley and chives to taste, finely chopped Salt and pepper to taste 400g of grated pecorino cheese 200g of grated Parmesan cheese

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Ingredientes 1,5 kg de abóbora 2 cebolas médias 2 dentes de alho 200g de queijo cremoso (para o purê) 2 colheres (sopa) de manteiga 2 kg de camarão médio 2 colheres (sopa) de azeite 300g de queijo cremoso (para o camarão ) 1 colher (sobremesa) de açafrão ou curry Salsa e cebolinha a gosto Sal e pimenta a gosto 400g de queijo pecorino ralado 200g de queijo parmesão ralado

By Luciane Sorrino


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