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você me enviar, lá irei."

A vida é um milagre. Às vezes é difícil perceber e concordar com isso. Mas nós mesmos sempre podemos ser um milagre para os outros.

Ajudar é algo que está dentro de mim há muitos anos. Quando eu era criança, meus pais me ensinaram a ajudar minha avó que morava no campo, numa casa pobre, a cooperar com meus irmãos e outras crianças. Mas, há instantes em minha vida onde percebo que meu coração bate mais forte quando consigo me envolver 100% em causas nobres.

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Há 10 anos eu morava no Chile. Larguei meu emprego na área financeira porque eu estava exausta. Pensei no que queria fazer da vida, que trabalho me traria realização... Enquanto procurava, decidi dedicar meu tempo aos outros. Doar um pouco de mim a quem precisava.

Conheci um sacerdote dos Missionários da Sagrada Família que vivia em Santiago do Chile. Perguntei a ele como poderia servir naquele país. Ele me perguntou se eu gostaria de ir para a missão de Santa Cruz de la Sierra na Bolívia... Preferi ficar no Chile, mas me veio um pensamento: “Onde quer que você mande, eu vou lá”.

Então, fui ajudar na missão dos Missionários da Sagrada Família na Bolívia. Passei cerca de 2 meses e meio ajudando em uma creche para crianças de famílias pobres, visitando os enfermos, orando com as pessoas.

Foi uma experiência muito produtiva em que pude ajudar, mas também me conhecer pessoalmente. Ajudar não é algo que damos apenas aos outros, é também um milagre e um presente para nós. Muitas vezes, ajudando de coração, recebemos muito mais do que damos. Um coração aberto possibilita ir ao encontro de pessoas, de vivenciar o inesperado, de testemunhar os milagres que a vida nos revela.

Em fevereiro de 2022, meu coração voltou a me chamar a contribuir na missão e então nos deparamos com o início de uma catástrofe em pleno século XXI: a guerra na Ucrânia. O interessante é que o meu envolvimento nasceu do medo… Quando ouvi falar da guerra, lembrei-me das minhas avós que me contavam histórias da Segunda Guerra Mundial, de como era a vida quando alemães e russos passaram pela Polônia. Pensei no que eu faria se a guerra chegasse ao meu país (Polônia). Então, fui ao encontro de minha mãe e minha irmã para irmos à Alemanha ou à Bélgica, onde moram minha família e amigos.

Mas não consegui escapar dos pensamentos: "E o que vai acontecer com minha avó, minha família e meus amigos que vão ficar na Polônia?". Resolvi voltar e ajudar. A partir daí, minha mente me disse: “E o que vai acontecer com os ucranianos? Eles moram a apenas 300 km de mim, são também pessoas como os poloneses (como somos também as mesmas pessoas em todo o mundo) e precisam de ajuda agora”.

Neste momento decidi ir para a Ucrânia ajudar as vítimas. Fui ao campo de guerra. Eu sabia que o risco era não voltar, morrer ali... Decidi que poderia sacrificar minha vida pelos meus valores: liberdade, segurança, uma vida boa para todos, proteger os mais fracos, apoiar pessoas em situações difíceis. Segui minha intuição!

Primeiro, no início de março, houve evacuação de mães com filhos, idosos, deficientes, estrangeiros de Lviv para a fronteira com a Polônia. Quando a necessidade de evacuar diminuiu, fui a Kiev pela primeira vez com a ajuda humanitária e evacuamos as pessoas no caminho de volta. Fui também a Carcóvia por 7 vezes, organizando os grandes caminhões com ajuda humanitária.

Além de nós que estávamos ajudando, conheci muitas pessoas de vários países que queriam ajudar. Fui para Donbas pela primeira vez, para Sievierodonetsk, depois para Mykolaiv. Mas Donbas chamou minha atenção, então passei cerca de 3 a 4 meses ajudando lá – indo para as cidades e campos perto da linha de frente. Sobrevivi a muitas experiências fortes: o foguete que caiu a 300 m de nós, um ataque de artilharia apenas 50 m atrás de onde estávamos, bombas de fragmentação caindo de 80 a 100 m, o transporte de 2 homens feridos por uma bomba de fragmentação – um deles morreu durante a viagem, e eu estava na parte de trás da van.

Muitas coisas aconteceram... muitas coisas ruins, mas também muitas coisas boas. O universo e Deus me deram tudo o que eu precisava para ajudar. Senti-me amada, apoiada. Encontrei muitas pessoas que me apoiaram no meu caminho. Às vezes eu nem pensava que precisava de ajuda e o anjo já estava me ajudando. Mas, estou exausta... sinto que o leste da Ucrânia não é mais meu lugar, pois a missão foi cumprida e chegou a hora de cuidar de mim, pensar e construir a vida que quero viver nos próximos anos.

Não quero continuar a viver em meio à guerra. Chegou a hora de voltar à minha terra e cuidar de mim, viver em paz, harmonia e cultivar o amor em torno dos meus familiares e amigos. A missão foi cumprida. Vou seguir a voz que grita dentro de mim – a voz de Deus, a voz do meu coração, do universo, da minha intuição. A voz que segui brotou de meu coração e me sinto realizada, cheia de amor, paz, e segurança. Quero continuar ouvindo a voz de Deus latente em meu coração e segui-Lo. Os tempos modernos às vezes dificultam ouvir esta voz, mas é necessário aprender a escutá-la, afinal, este é o caminho da minha vida: “aonde você me enviar, lá irei!”.