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Minha vida na FAB - Momentos de Superação

Minha vida na FAB

Momentos de Superação

Por Paulo GUEDES da Silva Suboficial SAD R1

Ingressei na Força Aérea Brasileira (FAB) em 1975, na Academia da Força Aérea (AFA), para servir por um ano.

Longínquo 1975, lá se vão 47 anos. Nas proximidades da incorporação, ainda na cidade de Votuporanga – SP –, vivenciava os últimos meses, frequentando o colégio e rodas de amigos.

Recebida ordem para me apresentar na AFA, uma das providências era cortar os cabelos no padrão “recruta” (máquina zero, com quatro dedos).

Na ocasião, houve, também, concurso para a Polícia Militar do Estado de São Paulo, onde os aprovados convocados deveriam adotar o mesmo corte de cabelos.

Em uma das rodas, um dos confrades questionou “PM?”. Eu, todo orgulhoso, respondi: “Não – Força Aérea!”.

Da incorporação, passaram-se sempre bons motivos para continuar na vida castrense.

Transcorridos os anos e concluídos os cursos iniciais, atinava para a pretensão de seguir e permanecer na carreira militar.

Nesse ínterim, após os primeiros anos, ingressei na Faculdade de Ciências Econômicas de Ribeirão Preto – SP.

Quatro anos se passaram, viajava 220 km (Pirassununga – Ribeirão Preto – ida e volta) por noite. Chegava por volta da 1h30 da madrugada, e às 7h já estava pronto para seguir e cumprir o expediente, das 8h às 16h30, diariamente, na AFA.

Já promovido a Cabo e com sacrifício e extenuado, tive a satisfação de colar o Grau de Bacharel em Ciências Econômicas, orgulhoso por ter completado mais uma etapa.

Com o retorno da estabilidade no serviço ativo para os Cabos, comecei a me preparar para as progressões da carreira, ingressando em curso preparatório para a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR); o currículo do concurso exigia reaprender as matérias básicas.

No ano de 1984, criou-se o Grupamento de Voluntários Especiais (VE) do Quadro de Suboficiais e Sargentos, estendendo oportunidades de progressão aos Cabos e a necessidade de aumentar o efetivo de Graduados.

O ano correu e, já casado e com minha esposa grávida, em 1985, abriu o concurso para o Grupamento. Em 45 dias de estudos intensos, logrei êxito na aprovação. Este concurso é, hoje, o atual Estágio de Adaptação à Graduação de Sargentos (EAGS). Fomos precursores de um novo concurso para a gloriosa EEAR.

Dezembro de 1987 - com as filhas Juliana (no colo) e Mariana, após receber as medalhas Bartolomeu de Gusmão e de bronze (10 anos de FAB)

Realizadas as primárias do concurso, recebi a notícia de aprovação no mesmo dia em que minha filha nasceu.

Após todos os procedimentos de praxe e com o resultado final, recebi ordens, em 18 de novembro de 1985, de me apresentar no Parque de Material de Eletrônica da Aeronáutica do Rio de Janeiro (PAME-RJ), para realizar o estágio militar, uma vez que todos os aprovados já eram técnicos nas várias especialidades exigidas.

Concluído o estágio, fui classificado no Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV- SP), onde me apresentei em 28 de janeiro de 1986, para o Estágio Probatório de seis meses.

Logo no primeiro dia, após a apresentação, já fui designado como escrivão de uma sindicância (um tanto “pesada”), que envolvia um militar do efetivo em assalto à mão armada e uso de drogas ilícitas.

Concluída a sindicância, logo após de ter terminado o Estágio, fui designado para o Boletim e, mais uma vez, designado para a Comissão de Elaboração do Regimento Interno do SRPV-SP.

A denominação da atual Subdivisão de Infraestrutua – IES – foi minha sugestão e acatada pelo Presidente da Comissão do Regimento Interno.

Os anos passaram e, com a graça de Deus, cumpri todas as minhas obrigações da carreira.

No ano de 1997, em 25 de abril, faleceu a minha mãe, que padecia, havia sete anos, com a doença de Alzheimer.

Já formado Primeiro Sargento, fui promovido em 1º de agosto de 2000, exercendo a função de Encarregado da Subdivisão de Pessoal - a famosa DA-1.

O mundo se convulsa. O terrorismo volta a mostrar a sua “cara” e a sua saga de ódio aos ocidentais. As Torres Gêmeas em Nova York – EUA vêm abaixo, implodida pela insanidade de mentes pervertidas e odiosas.

Na linha do tempo decorrida, vieram as eleições de 2002, com o Partido dos Trabalhadores emplacando o cargo máximo da Nação.

Chega o ano de 2003 e tudo se reinicia e toda a rotina se restabelece.

No dia 25 de fevereiro de 2003, uma semana antes do carnaval, eis que estou escalado para o serviço de guarda do SRPV-SP, como Adjunto ao Oficial de Dia. Cumpridas as praxes para a assunção do serviço, passadas a orientações e tudo o mais transcorria normalmente.

Por volta das 20h, saí da guarda para a ronda noturna e verificação do pernoite das viaturas. Ao retornar, deparo-me com situações estranhas e não previstas. O Cabo da Guarda informa que estávamos sendo assaltados por dois facínoras, disfarçados de entregadores de pizza. Estes renderam a sentinela do portão das armas, foram até a sala e renderam o Cabo e tomaram-lhe a pistola 9mm. Um dos facínoras foi para o alojamento dos soldados e o outro, levando consigo a sentinela, seguiu para o alojamento do Oficial de Dia.

Ao receber o relato do Cabo, saquei e carreguei a pistola; quando o primeiro elemento volta do alojamento, começamos a trocar tiros. Ele recebeu dois impactos fatais; um segundo elemento reagiu e disparou contra mim; ele também foi alvejado e, devido ao seu posicionamento, não teve fatalidade.

Na reação dos elementos, fui atingido por sete tiros dispersos, ainda bem que eram péssimos atiradores.

As Polícias Federal e Militar foram acionadas e, prontamente, atenderam à ocorrência.

Ferido, fui conduzido pela Polícia Militar ao Hospital Dr. Sabóia, no bairro Jabaquara, e submetido à cirurgia de emergência, que estancou a hemorragia.

O Hospital das Forças Armadas de São Paulo (HFASP - na época HASP) foi acionado e, por volta das 4h do dia seguinte, e após terem estabilizado o meu estado de saúde, fui removido para lá.

O caso complicou após essa cirurgia, alguns órgãos (rim e intestino) foram atingidos.

Nova cirurgia, já no HFASP, foi necessária, devido à expansão do abdome, por conta da infecção generalizada que sucedeu, permanecendo com o abdome “aberto”.

Passados, aproximadamente, 50 dias, como a recuperação era lenta e inspirava cuidados extremos, fui transferido para o Hospital Sírio-Libanês, permanecendo hospitalizado por dois meses, obtendo melhoras importantes.

Durante o período de convalescença no HFASP, o então comandante da Aeronáutica, o Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos Alberto da Silva Bueno, veio à São Paulo para me entregar a Ordem do Mérito Aeronáutico.

Tinha sido matriculado no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS) no início de 2003, porém, não pude realizá-lo na época, estando plenamente impossibilitado.

Obtive alta hospitalar, pela graça de Deus, após melhoras sensíveis, porém, permanecendo com o abdome “aberto”, protegido com a Tela de Marley - utilizada para cirurgias de reparação de órgãos e que funciona criando uma reação fibrótica que fortalece as estruturas da parede abdominal.

No mês de julho de 2003, fui agraciado com a Medalha Mérito Santos-Dumont e nova cirurgia foi agendada para a remoção da Tela de Marley; nova complicação surgiu pois, partes da tela aderiram em órgãos. Removida a maior parte, abdome fechado.

Depois de muitas idas e vindas e várias passagens pelo Centro Cirúrgico do HFASP, as partes que não foram removidas causaram fístulas intestinais, me obrigando ao uso de bolsa de colostomia.

No segundo semestre do ano de 2005, fui novamente submetido à cirurgia, para sanar as fístulas que persistiam, desta vez no Hospital Santa Isabel, vinculado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Tínhamos um intensivista na UTI do HFASP, que cursava o Doutorado em cirurgia gástrica que, provocado, agilizou o procedimento e junto com o seu orientador e titular da cátedra, a cirurgia foi realizada e as “panes sanadas”; esta durou o tempo de uma viagem de São Paulo à Nova York, segundo o orientador. Esta foi a última cirurgia a que fui submetido. Tempo total da convalescença: um ano e sete meses.

E, graças às bençãos de Deus, estou hoje narrando mais esta superação.

Outras estórias...

No desfile de 7 de setembro, em 2006

Recebimento da Medalha Santos Dumont, em julho/2003, no SRPV-SP