Contato, outubro 2023: Por que sofremos?

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O PROCESSO DA LIMONADA

Os altos e baixos da vida

Os sapatos alheios

As experiências singulares de cada um

Por que sofremos?

Respostas à velha pergunta

Os três irmãos

Quando Jesus chorou

MUDE SUA VIDA. MUDE O MUNDO.

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CONTATO PESSOAL Procurando por Deus

Desde sempre, as pessoas tentam conciliar a aparente contradição de um Deus onipotente, onisciente e absolutamente bondoso que permite a existência do mal e o sofrimento em nossas vidas. Ao longo das eras, o tema perturba não só os filósofos de diferentes religiões e culturas, mas também todos que já vivenciaram dor, perda ou injustiça e pensaram: “Isto não é justo”.

Esta edição da nossa revista discutirá algumas possíveis razões que levam Deus a permitir infortúnios, mas quero primeiro reformular a pergunta e lembrar a todos de onde Deus está durante nossos momentos mais dolorosos e vulneráveis. Vou deixar aqui uma história publicada na Contato há alguns anos, mas que vale a pena ser recontada aqui na íntegra:

Uma explosão devastadora no Norte da Inglaterra soterrara grande número de mineiros sem chances de resgate. Na entrada da mina de carvão, reuniu-se uma multidão na qual se encontravam muitos parentes das vítimas, algumas das quais ainda viviam.

“É muito difícil entender por que Deus permite tragédias terríveis como esta.” — admitiu Handley Moule, o religioso a quem coube falar aos presentes. “Tenho em casa um marcador de livros, tecido de seda, que minha mãe me deu faz muito tempo. Quem olha o seu reverso, vê apenas um emaranhado de fios. Parece um grande erro e não é difícil achar que quem aquilo teceu não sabia o que estava fazendo. Mas quando a pessoa vira o marcador e o olha pelo lado certo, vê a mensagem belamente bordada: ‘Deus é amor!’ Hoje vemos o avesso desta tragédia. Um dia, quando a virmos de outra perspectiva, entenderemos.”

A Palavra de Deus nos garante que Ele sempre tem um propósito e um plano para tudo o que acontece aos que O amam1. No entanto, às vezes, “Seus caminhos são insondáveis”2, e devemos confiar que no futuro compreenderemos tudo o que hoje não entendemos. Como disse o apóstolo Paulo: “Agora vemos as coisas de maneira imperfeita, como em um espelho embaçado, mas então veremos tudo com clareza perfeita”3.

Se você estiver passando por um momento difícil, espero que se sinta envolvido e protegido pelo amor de Deus, até Ele o ajudar a superar a sua provação.

Contamos com uma grande variedade de livros, além de CDs, DVDs e outros recursos para alimentar sua alma, enlevar seu espírito, fortalecer seus laços familiares e proporcionar divertidos momentos de aprendizagem para os seus filhos.

Para obter informações sobre a Contato e outros produtos criados para a sua inspiração, visite nossa página na internet ou contate um dos distribuidores abaixo.

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Editor executivo: Ronan Keane

Editor: Mário Sant'Ana

Design: Gentian Suçi

© 2023 Activated. Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Tradução: Mário Sant'Ana e Hebe Rondon.

A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras na Contato foram extraídas da “Bíblia Sagrada”–Tradução de João Ferreira de Almeida–Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.

Volume 24, Número
1.
2.
11:33 3. 1
13:12 NTLH
Mário Sant’Ana Editor
Veja Romanos 8:28
Veja Romanos
Coríntios
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O PROCESSO DA LIM NADA

Quando as coisas dão errado, eu apenas penso: faz parte da jornada.

— Kenny Wallace (n. 1963)

Às vezes, as coisas têm que dar errado para darem certo.

— Sherrilyn Kenyon (n. 1965)

Você tem passado por testes, provações ou dificuldades? Pergunta-se quando ou se as coisas vão melhorar e voltar ao normal? Sente-se exausto, estressado e esgotado?

Assim eu me sentia não faz muito tempo. Percebia minha vida como um contínuo autossacrifício sem nenhuma recompensa. Sentia-me exaurido, esgotado e vazio. Não estou aguentando mais. — lamentei em silêncio. Até quando isso vai durar?

A resposta de Deus veio mais tarde naquele dia enquanto eu espremia limões. Sua voz sussurrou gentilmente em meus pensamentos: Você não gosta de beber limonada?

Adoro! Sempre foi meu refresco favorito.

Essa bebida favorita sua seria possível se esses limões não fossem esprimidos até a última gota?

Entendi, então, que, de certa forma, eu era como aqueles limões. Deus estava me permitindo aquela pressão para extrair de mim o que tenho de melhor. Pensei em todas as vezes em que uma música ou um texto nasceu de alguma experiência inicialmente dolorida, ou até mesmo devastadora.

Você tem uma grande vantagem sobre os limões que está espremendo — continuou.

Qual?

Ao contrário dos limões, cujas cascas você descarta após extrair o suco, você é um ser vivo que sempre renovo e reabasteço depois que a pressão extrair as suas melhores qualidades.

Gosto de me referir a este processo de ser espremido até a última gota, renovado e reabastecido como “o processo de limonada”. O termo me lembra de que, embora a experiência possa parecer azeda como um limão, ou eu sinta como se estivesse sendo espremido, Deus tem um plano.

Se você sentir que está sendo “espremido até a última gota”, lembre-se de que Deus o renovará e reabastecerá para que possa continuar atendendo aos outros. Deixe o “processo da limonada” seguir seu curso e se surpreenderá com o alcance da doçura que de você surgirá.

Steve Hearts é cego desde o nascimento.

Ele é escritor, músico e membro da Família Internacional na América do Norte. ■

Por Steve Hearts
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A BUSCA POR SENTIDO

Durante uma conversa com uma agente de turismo, começamos a falar de coisas espirituais e de Deus.

— Não acredito em Deus. — ela disse. Se Deus existe, por que há tanto sofrimento no mundo? Por que, todos os dias, milhares morrem de fome? Que tipo de Deus permitiria que doenças tão horríveis se espalhassem? Por que não impediu Hitler?

— São perguntas muito boas — reconheci. Mas você há de convir que para impedir Hitler, para usar seu exemplo, Deus teria de cassar o livre arbítrio de todo ser humano. A Bíblia diz: “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus.”1 Ele teria que intervir na vida de todos para que não fizessem nada de errado ou ruim! Teria de

ter interferido, desde o princípio, na autonomia que nos deu, para escolhermos entre o bem e o mal.

— Mas não teria sido melhor se Ele tivesse criado os humanos para serem sempre bondosos? — indagou.

— Se o Senhor quisesse robôs, podia ter feito com que todo mundo praticasse o bem e O amasse. Ele nos criou com livre arbítrio, com a liberdade de optar por amá-lO de livre e espontânea vontade! Você não gostaria que seus filhos a amassem por obrigação, certo?

Confusa, ela respondeu:

— Claro que não. Mas o que isso tem a ver com o sofrimento?

— O ser humano foi criado capaz de escolher entre o bem e o mal, fazer as coisas à maneira de Deus ou não. E é das escolhas erradas que fazemos que advêm tanto sofrimento, infelicidade, dor, doença, guerras e problemas

1. Romanos 3:23
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Ele conhece o meu caminho; se Ele me provasse, eu sairia como o ouro.

— Jó 23:10

E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.

—1 Pedro 5:10

Irmão, cuidado com os trechos suaves do caminho. Se o caminho for difícil, agradeça a Deus por isso. Se Deus sempre nos embalasse no berço da prosperidade, se estivéssemos sempre no colo da fortuna, se não houvesse nuvens no céu, nem provássemos algumas gotas amargas no vinho desta vida, certamente nos embriagaríamos de prazer e nos imaginaríamos imbatíveis, como o homem adormecido no mastro, e viveríamos em constante perigo. Bendizemos a Deus, então, por nossas aflições. Agradecemos a Ele pelas mudanças. Exaltemos o Seu nome pelas perdas, pois devemos lembrar que, não fosse pelos Seus castigos, estaríamos perigosamente seguros de nós mesmos. —CH. Spurgeon (1834–1892)

econômicos. Em vez de escolher amar e obedecer a Deus, o homem faz as coisas como acha melhor e sofre as consequências das suas más escolhas. A Bíblia diz que “há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte”.2

Depois da conversa, fiquei pensando como grande parte do sofrimento do mundo se deve à própria humanidade, como toda a dor produzida pelas guerras que matam e mutilam milhões de seres humanos.

Martinho Lutero disse que a guerra “é o maior flagelo na humanidade; destrói a religião, estados e famílias. Qualquer outro flagelo é preferível à guerra”.

Deus é o culpado pelas guerras do homem? A Bíblia diz: “De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de

vocês?”3 O responsável pelos sofrimentos produzidos pela guerra não é Deus, mas o ser humano com sua ganância, sede de poder, glória e ganhos egoístas.

Hoje em dia, o estrese, a pressa, a ansiedade e as tensões da vida moderna provocam muitas doenças psicossomáticas tais como dores de cabeça crônicas, úlceras estomacais e problemas cardíacos. Não aprendemos a lançar todas as nossas preocupações sobre Deus, como nos aconselha 1Pedro 5:7, mas, para tentar manter o ritmo cada vez mais frenético da sociedade moderna, deixamos nossas mentes preocupadas e atormentadas adoecerem nossos corpos! Causamos vários dos males que nos acometem quando fumamos, bebemos e consumimos substâncias que fazem mal às nossas mentes e aos nossos corpos.

Outro exemplo de como a humanidade causa sofrimento são as milhões de pessoas que passam fome a cada ano em algumas regiões, enquanto outras produzem

2. Provérbios 14:12
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3. Tiago 4:1 NVI

mais alimentos do que consomem. Deus já providenciou mais do que o suficiente para que ninguém precise passar fome! Entretanto, o planeta tem milhões famintos enquanto os excedentes da produção de alimentos são estocados ou destruídos.

O egoísmo é, sem dúvida, grande parte da razão por que milhões de pessoas no mundo inteiro sofrem privações, carência e miséria. Se as riquezas ou terras fossem compartilhadas como deveriam, ou se investissem em atividades econômicas que produzam oportunidades de trabalho e renda decentes para que os pobres tenham uma vida digna, ninguém passaria privações. A Palavra de Deus muitas vezes aconselha e até ordena que os que têm abundância compartilhem seus recursos com os que não têm, pois não quer que os pobres sofram.

Também vale lembrar como Deus pode usar o sofrimento para produzir benefícios em nossas vidas. A tristeza e o sofrimento muitas vezes trazem à tona o melhor das pessoas: compaixão, amor e desvelo pelos outros. O sofrimento deve ser um gerador de força para nós e para compartilharmos com os outros. A Bíblia diz que devemos “consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.”4 Em nós, cristãos, as provações

produzem o desejo de compartilhar a solução eterna para os problemas e sofrimentos das pessoas: Jesus!

“Por que Deus permite o sofrimento?” É uma das grandes questões da vida. Embora a leitura da Sua Palavra possa nos apontar muitas razões, certas coisas só entenderemos completamente na próxima vida, quando pudermos ver as coisas como Ele as vê.

Muitas vezes, o sofrimento aproxima as pessoas de Deus, inspira o arrependimento, a busca pelo perdão de Deus e pela Sua salvação. Como disse o rei Davi: “Antes de ser afligido, andava errado, mas na minha aflição clamei ao Senhor e Ele salvou este pobre homem de todas as suas tribulações.”5 Os sofrimentos e as aflições podem nos aproximar mais de Deus.

Sua Palavra nos promete que todo o sofrimento na vida dos que amam a Deus chegará ao fim e que “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.”6

Até esse dia perfeito, teremos de suportar uma dose de sofrimento, mas nossa compensação, a recompensa que nos espera no céu, estará muito além da dor e do sofrimento temporários que passamos aqui. Como disse o apóstolo Paulo: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.”7

De um artigo do livro Tesouros , publicado pela Família Internacional em 1987. Adaptado do artigo original. ■

4.
5.
NVI 6.
NVI 7.
NVI 6
2 Coríntios 1:4
Salmo 18:6; 34:6; 119:67
Apocalipse 21:4
Romanos 8:18

Por que sofremos?

P: Por que Deus permite o sofrimento? Ele não Se importa conosco?

R: É claro que sim. E sente grande tristeza quando sofremos.

A Bíblia nos diz que, “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O reverenciam. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó.”1

Jesus entende nossas fraquezas, porque “como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.”2 Sabe bem o que é sofrer, pois foi torturado e crucificado pelos pecados de toda a humanidade.

A Bíblia também promete que, um dia, todo o sofrimento vai acabar para aqueles que O amam. No Céu, Ele “enxugará de seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, pois já as primeiras coisas são passadas.”3

Até então, tudo que nos acontece é para atender a um propósito de Deus, mesmo que não o entendamos na hora. Os tempos difíceis podem muitas vezes tornar as

pessoas mais ternas e bondosas. Para os que não cedem ao rancor nem se deixam calejar, as angústias, as perdas e as tristezas podem produzir o que há de melhor: amor, ternura e desvelo pelos outros. Quando encontramos o amor de Deus em Jesus, temos o desejo de dividir essa resposta e esse amor com os demais, para que Ele possa aliviar o sofrimento deles e ajudá-los em suas dificuldades.

A leitura da Palavra de Deus pode revelar grande parte dos motivos dos sofrimentos, mas só teremos a resposta completa a essa pergunta persistente quando chegarmos ao Céu. Os caminhos de Deus não são os nossos, e algumas coisas só entenderemos quando as virmos como Ele as vê.4

Na Bíblia aprendemos que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.”5 Com o tempo, passamos a ver o sofrimento por outra perspectiva. É assim que nos tornamos um pouco mais sábios e mais compassivos com os outros que sofrem.

Apesar de nosso conhecimento limitado e entendimento apenas parcial das questões mais profundas da vida, podemos estar certos do infalível amor de Deus. Passamos por momentos de dor e sofrimento, mas, graças a Deus, não perdemos a esperança nem estamos desamparados. “Pois estou certo de que, nem a morte, nem a vida, [...] nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”6 ■

1. Salmo 103:13–14 RC 2. Hebreus 4:15 3. Apocalipse 21:4 4. Veja Isaías 55:8–9. 5. Salmo 30:5 6. Romanos 8:38–39
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Respostas às suas perguntas

OS SAPATOS ALHEIOS

Muitas vezes, tudo que conhecemos é o nosso mundo. Ele é formado pela nossa experiência — os lugares, as pessoas que conhecemos e o que vivenciamos —, assim como pelos nossos hábitos, valores e aspirações. Quando vemos um homem dormindo à porta de uma loja ou uma mulher pedindo ajuda com voz arrastada, comparamos a condição dessas pessoas com o nosso entendimento do mundo. Podemos supor que haja algo fundamentalmente errado com alguém naquelas condições.

Na verdade, a pobreza coloca as pessoas em um mundo à parte. O sem-teto que dorme debaixo de uma marquise possivelmente não descansou durante a noite para proteger suas poucas posses. Aquela mulher pode sofrer de um problema de saúde que não está sendo tratado e que afeta sua fala.

Chelle Thompson escreve: “Seres humanos raramente vão além dos seus interesses para realmente entender as necessidades e os temores alheios. Muitas vezes, projetamos nossos pensamentos e crenças em estranhos e julgamos com base na maneira como entendemos que eles ‘deveriam’ viver”.

Alguém sugeriu que para entender alguém devemos caminhar um quilômetro usando seus sapatos. Mas como ao menos calçar os sapatos de uma mãe solteira sem teto, doente, dependente de drogas lícitas, que perdeu a custódia dos filhos, que hoje estão sob os cuidados de terceiros? Como sentir o que ela sente? Não consigo calçar esses sapatos, mas posso perguntar se ela quer conversar, contar sua história e me dizer como se sentem seus pés com aqueles sapatos. Ambas nos beneficiaríamos.

Quentin é um querido amigo que sofre do mal de Parkinson, tem alucinações que o atormentam e o impedem de ter uma vida normal. A equipe da clínica para a qual se mudou entendeu suas condições e que, como explicou uma de suas cuidadoras, as células do cérebro de Quentim lhe mandavam sinais falsos. Isso deixou claro que o problema era a doença que o acometia, não algo do qual ele era culpado.

Assisti a uma conferência sobre doenças mentais onde o palestrante disse: “Não diga ‘Ele é esquizofrênico’, mas ‘ele tem esquizofrenia’”. Fez sentido. Tenho diversos

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As pessoas tomam estradas diferentes em busca de realização e felicidade. O fato de não estarem na sua estrada não significa que estão perdidas. — H. Jackson Brown, Jr. (1940–2021)

Acho que precisamos dominar o medo que temos uns dos outros e, então, de alguma forma prática, aprender a ver as pessoas de uma forma diferente daquela como fomos criados. — Alice Walker (n. 1944)

Você pode receber o amor e a salvação de Deus simplesmente fazendo esta oração: Querido Jesus, creio que Você me ama e morreu por mim, para que eu possa viver no céu por toda a eternidade. Por favor, conceda-me a dádiva da salvação, encha-me com o Seu Espírito Santo, ajude-me a conhecê-lO melhor e a compartilhar o Seu amor com os outros, inclusive com aqueles de quem eu normalmente não me aproximaria. Amém.

problemas de saúde, mas não quero que me definam. Não quero ser vista como “a doente”.

Essa outra perspectiva não apenas muda nossas palavras, mas também nossas atitudes. É possível separar a pessoa de qualquer condição que a aflija, seja uma doença mental, um vício em drogas, pobreza ou doença física? Podemos enxergar a pessoa na situação e tratá-la com respeito? Se pudermos ver além das aparências e suposições, ganhamos a chance de descobrir algo bom, até belo, sob aquele exterior que achamos feioso.

Quando meu marido e eu começamos a trabalhar como voluntários em um abrigo para pessoas sem-teto, minhas percepções à época se desfizeram conforme conhecia as pessoas e descobria o que havia levado para lá aquela mãe solteira ou o idoso. Muitas vezes, uma conjugação de eventos infelizes que poderiam acontecer a qualquer pessoa, os deixou sem lugar para viver e sem quem os acolhesse.

Quando perguntei a um homem o que ele fazia antes, respondeu: “Eu era auditor, mas isso foi quando eu era gente”. Ele fora o chefe de um departamento de auditoria do

governo, antes de a depressão o levar a perder o emprego e, com o tempo, todo o resto. Após ser tratado no abrigo, encontrou trabalho e agora tem sua própria casa de novo.

Os membros da equipe daquela instituição tratam os que ali são atendidos pelos títulos senhor, senhora ou senhorita, seguidos de seus nomes e sobrenomes. Quando lhes mostramos respeito, reconhecemos sua dignidade, o que ajuda as pessoas a se verem mais positivamente e gera esperança. A esperança, por sua vez, engendra a vontade de tentar e continuar tentando. Nosso respeito pode, portanto, ajudar alguém a encontrar uma nova vida.

Descobriu-se depois que as graves alucinações de Quentin eram decorrentes de medicação inadequada. Quando se reduziu a dosagem, não teve mais tantas visões estranhas. Seu comportamento ainda é atípico às vezes, mas, naquela instituição, Quentim é entendido e aceito. Por isso, está feliz.

Caryn Phillips realiza trabalhos voluntários no atendimento de pessoas sem teto e outros que vivem à margem da sociedade nos Estados Unidos. ■

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Adversidade = oportunidade

O que fazer quando as tempestades da vida são maiores do que você, quando os ventos e as ondas destroem suas esperanças, seus sonhos e o deixam arrasado, como se tivesse contra a parede e sem a quem recorrer?

A vida costuma nos colocar em situações em que não escolhemos a batalha. Ela nos escolhe! São experiências que nos apresentam uma escolha: lutar pela vitória, por um raio de esperança, pela fé para superar ou se entregar à amargura, à depressão, à raiva ou ao desespero.

Há muitos anos, um dos nossos filhos foi diagnosticado com leucemia – um golpe que me levou ao limite. Depois de quase dois anos de quimioterapia, a conclusão dos médicos foi que o tratamento não estava sendo eficaz e nosso filho estava perdendo a batalha contra o câncer. Deram-lhe seis semanas de vida. Ele tinha 16 anos.

“Com o tempo vocês chegarão à aceitação”, disseram. “Cultivem pensamentos positivos”. “Tentem se manter ocupados”. “Encontrem alguém com quem conversar”.

Eu sabia que esses eram comentários bemintencionados, mas logo percebi que continuar no piloto automático, trabalhando mais ou tentando esconder

Essas provações são para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. — 1 Pedro 1:7

Dificuldades geralmente preparam pessoas comuns para um destino extraordinário.

Lewis (1898–1963)

minhas emoções no canto mais distante da minha mente, não ia me ajudar a lidar com a situação. Somente quando admiti que não era forte o suficiente para curar a dor e acabar com a espiral de pensamentos autodestrutivos, um raio de esperança começou a aparecer no horizonte do meu desespero.

Ajoelhada, pedi a Deus uma estratégia, um plano tangível para me ajudar a superar. Então, conforme a neblina finalmente se dissipou, comecei a copiar promessas da Bíblia em meu diário ou postá-las no meu espelho.

Foi um processo, mas logo experimentei o efeito curativo da Palavra de Deus e comecei a ver as coisas sob uma nova perspectiva. A esperança surgiu, e até comecei a ver oportunidades em minhas adversidades e perdas, como a dádiva da compaixão por aqueles que enfrentam perdas. Acredito que aquele e outros vales pelos quais passei fortaleceram minha fé e me aproximaram de me tornar a pessoa que Deus quer que eu seja.

Iris Richard é conselheira no Quênia, onde atua na comunidade e no trabalho voluntário desde 1995. ■

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OS FRUTOS DO SOFRIMENTO

Sabemos que todos passam por dificuldades e sofrimentos. Queremos acreditar que Deus é bom e amoroso, que tudo vê e que tem o mundo inteiro em suas mãos, mas quando coisas ruins acontecem, esses conceitos são fortemente questionados.

Quando me deparei mais uma vez com a notícia de uma situação difícil, lembrei dos vários anos em que morei nas Filipinas. Tinha vinte e poucos anos quando me mudei do Canadá para Manila. As diferenças eram impressionantes em quase todas as dimensões: o calor e a umidade, a quantidade de pessoas, o trânsito e o barulho incessante, os novos sabores... Foi a primeira vez que vi verdadeira pobreza. Foi marcante. Muitas pessoas que conheci tinham que lidar com algum grau de privação. Sendo um jovem missionário aprendendo a prescindir de muitas conveniências com as quais era acostumado, fui tentado a reclamar, mas a alegria daquele povo me animou a não me queixar. Ao longo dos séculos, a população filipina sofreu guerras e opressão de forças estrangeiras ou de autoridades locais corruptas. Gerações padeceram sob o peso da pobreza e das promessas não cumpridas, mas sua atitude perante a vida mostrava coragem e profundidade com as quais eu não estava acostumado.

Tempos depois, minha esposa e eu trabalhamos em vários outros países asiáticos, incluindo o Japão, uma nação rica. Nosso trabalho de divulgar o Evangelho nos levou a fazer amizade com pessoas de posses e com os pobres. Em todos os níveis da sociedade, encontramos demonstrações de tremendo altruísmo e alegria. Aprendemos, então, que o denominador comum não era a pobreza econômica, mas o sofrimento. Cada um tinha uma história de alguma perda que lhes despertou graça e generosidade para com os outros.

Este mundo tem muitas ilusões. Conquistas e dinheiro são perseguidos incessantemente, enquanto o fracasso é evitado e menosprezado. Mas a vida no mundo de Deus é muito diferente. Fracasso e sofrimento são recursos de Deus para nos ajudar a ter a verdadeira perspectiva.

Jesus ainda promete: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.”1

J.M. Stirling e sua esposa Anna criaram dez filhos enquanto trabalhavam em um ministério evangélico em sete países. Eles atualmente moram perto de Toronto, Canadá. ■

1. Mateus 5:3–8 11

VOOS PERDIDO

No ano passado, minha esposa e eu perdemos três voos. Em nossos muitos anos de viagem, isso nunca havia acontecido. Cada vez foi algo diferente–exaustão e estresse na primeira vez, informações erradas sobre nosso visto na segunda vez e um documento extraviado na terceira vez. Quem já perdeu um voo sabe como isso pode ser traumático, especialmente quando envolve obter um novo visto, novas passagens e incorrer não apenas em inconveniência, mas também em despesas adicionais.

Depois de um desses incidentes, minha filha disse: “Quem sabe que grande propósito pode estar se desenrolando aqui?” Ela tinha razão. Perder aquele voo nos levou a visitar os pais de minha esposa que passavam por um momento difícil. Por causa da perda de outro voo passamos alguns dias nos Alpes, enquanto esperávamos que os documentos fossem corrigidos. Apesar de não ser uma necessidade, foi a realização de um sonho de infância.

Isso não é para minimizar o trauma físico e psicológico das coisas que dão errado, especialmente quando as consequências são mais sérias do que alguns inconvenientes e custos. No entanto, vale a pena parar e

refletir sobre esses acontecimentos, pois, assim como Deus pode estar escrevendo certo por linhas tortas, podemos aprender a evitar ocorrências desagradáveis no futuro.

Muitas vezes, quando as coisas correm mal, lembro-me de um provérbio africano: “Uma cambalhota não separa a cabeça dos piolhos”. Simplesmente fazer algo não vai resolver o problema, mesmo à custa de muito esforço, a menos que seja a coisa certa a fazer naquele momento e naquelas circunstâncias. Naquele caso, aprendi a verificar meus documentos e prever possíveis problemas.

Não garanto que nunca mais vou perder um voo, mas, em vez de entrar em pânico, farei minha parte para seguir o lema dos escoteiros de estar “sempre alerta” ou a instrução de Jesus de vigiar e orar. Principalmente, quero ficar perto do meu Bom Pastor, que me leva a pastos verdejantes e me ajuda a superar meus erros. Espero que no meu próximo voo eu ouça: “Bem-vindo a bordo! Tenha uma boa viagem!”

Curtis Peter van Gorder é escritor freelancer e mímico 1 . Dedicou 47 anos a obras missionárias em dez países. Ele e sua esposa, Pauline, vivem atualmente na Alemanha. ■

1. http://elixirmime.com 12

O MAIOR MOMENTO

Sempre achei apropriado que a crucificação de Jesus tenha ocorrido em uma colina. Sua cruz foi erguida acima dos caminhos e da agitação. Quem quisesse vê-lO tinha de se deslocar até lá e erguer o olhar.

Essa metáfora física reflete o significado histórico da morte de Jesus, o ato mais importante para a humanidade. Até então, as ações de Deus e dos humanos foram precursoras de um processo lento que conduziam e apontavam para aquele ápice: Sua morte na cruz.

Foi a coisa mais inacreditavelmente amorosa que Jesus fez. Entendo como Sua hora decisiva, quando como cumpriu o propósito para o qual viera, por ter sido escolhido antes da fundação da Terra. Contra Sua vontade, como manifestou em Sua agoina, aceitou o cálice da dor e do sofrimento. Foi assim que nos concedeu as dádivas de cura para o corpo, para a mente, a restauração de nosso relacionamento com Deus e uma eternidade que agora podemos acessar por meio de Seu amor.

É difícil dizer qual momento foi maior: a crucificação ou a ressurreição. Com esta, Ele provou ser quem dizia. Deu um final feliz a um capítulo da história mais épica

de todos os tempos e nos prometeu uma continuação, na qual, como se não bastasse, prometeu-nos o protagonismo. Que futuro brilhante e deslumbrante nos aguarda! Belo como lírios frescos regados pelo sereno e iluminados pelo Sol despontando no horizonte.

É por isso que o crucifixo que uso no pescoço está vazio. Jesus está vivo e triunfante, não mais presso à cruz, que, porém, permanece símbolo de Sua dor. Por quê?

Nada daquela culminação maravilhosa teria ocorrido sem a cruz. E é por isso que nós, crentes, a contemplamos e elevamos. Seu valor é superior a qualquer outra coisa ou pessoa. Foi o preço que Jesus sabia que nossa alma valia e que Ele pagou para que Lhe pertencêssemos.

Vale a pena elevar os olhos e contemplar Sua cruz, símbolo do mais importante momento da História.

Amy Joy Mizrany nasceu e mora na África do Sul, onde é missionária de tempo integral na organização Helping Hand e membro da Família Internacional. Nas horas vagas, ela toca violino. ■

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OS TRÊS IRMÃOS

Não falta dor no mundo. O tema do sofrimento humano percorre cada período da história enquanto tentamos coletivamente entender suas causas. Especificamente, como pode um Deus bondoso permitir o sofrimento. Para ser franca, nenhuma resposta que ouvi me fez pensar: Oh, isso faz todo o sentido! Finalmente entendo todo o sofrimento – câncer, sequestros, pobreza, guerra e tantos os outros horrores! Sinceramente, todas as respostas parecem estar no leve lado bom de uma balança que pende com força para a tragédia.

Na juventude, quando ouvia o questionamento de como um Deus benevolente era capaz de permitir que

coisas tão horríveis acontecessem, eu temia que não dizer a coisa certa pudesse abalar e destruir a fé da outra pessoa em Deus. Mas todos conhecemos pessoas que, diante de perdas, sofrimentos e dores dilasceradoras, aprofundaram sua fé e confiança em Deus, ou mesmo aqueles cujos sofrimentos os levaram a Deus. Claro, existem aqueles cuja dor e luta os convenceram de que Deus não existe–ou, se existe, Se importa muito pouco ou nada com a dor de Suas criações. Aprendi que não há respostas claras para a pergunta.

A história da ressurreição de Lázaro oferece uma perspectiva interessante.1 Começa quando Jesus recebeu a notícia de que Lázaro, seu amigo, estava muito doente, mas, em vez de socorrer o enfermo, achou por bem

1. Ver João 11.
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esperar dois dias. Quando decidiu ir para onde estava Lázaro, este já havia morrido. Uma irmã do falecido, Marta, correu ao Seu encontro assim que Jesus chegou.

Disse Marta a Jesus: “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas ainda agora sei que tudo o que pedires a Deus, ele te concederá.”

Disse Jesus: “Teu irmão ressurgirá.”

Respondeu Marta: “Eu sei que ressurgirá na ressurreição, no último dia.”

Disse Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá. Crês isto?”

Disse ela: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.”

Então, muito emocionada, chega a outra irmã, Maria. Quando Maria chegou ao lugar onde Jesus estava e o viu, caiu-lhe aos pés, dizendo: “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.”

Jesus, vendo-a chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, comoveu-se profundamente em espírito, e perturbou-se.

Perguntou ele: “Onde o pusestes?” Responderam: “Senhor, vem e vê”.

Jesus chorou.2

A história então narra como, ao ser chamado por Jesus, Lázaro se levantou e saiu da sepultura, apesar de ter estado morto por quatro dias. Maravilhada, a maioria de quem testemunhara a cena creu que Jesus era o Messias, mas alguns ainda resistiam.

A reação de Maria nesta história é muito natural e humana. Ela diz: “Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!” Conhecedora do ministério de

cura de Jesus, sabia que Ele poderia ter salvado Lázaro. “Por que você não veio a tempo? Tudo seria melhor.” Eu certamente teria dito algo assim a Jesus.

O que Jesus fez? Chorou, sensível à dor deles. Jesus já sabia que iria ressuscitar Lázaro, como lemos no início do capítulo. Contudo, comoveu-se com a dor dos que O amavam e chorou com eles.

Chamou-me a atenção que, mesmo depois de ver essa ressurreição gloriosa e milagrosa, algumas pessoas ainda não acreditaram. Confirma que não se trata de como respondo a essa pergunta para os outros, mas para mim mesma. Nesta história, vejo:

• Jesus demorando para reagir;

• Jesus fazendo-Se presente;

• Jesus chorando;

• Jesus intervindo.

Não temos Jesus em carne e osso, e a ressurreição dos mortos quase nunca se dá como uma manifestação de Deus, mas acho que Ele ainda mantém o mesmo modo de agir.

Não penso que haja uma resposta totalmente satisfatória para como Deus pode, ao mesmo tempo, ser bom, amoroso e permitir o sofrimento horrível que a humanidade tem suportado. Talvez mesmo que Ele mesmo explicasse, não entenderíamos, porque simplesmente não podemos saber o que Ele sabe nem enxergar o que Ele vê. Entretanto, podemos aprender a confiar nEle, uma escolha que ninguém pode fazer por nós.

Marie Alvero é uma ex-missionária na África e no México. Atualmente, ela vive uma vida feliz e ocupada com o marido e os filhos no centro do Texas, EUA. ■

2. João 11:21–27, 32–35 15

CONFIANÇA

Conheço o seu coração. Entendo pelo que está passando. Sei que é muito difícil e que você se sente num beco sem saída. Pensa que não tem forças para enfrentar o que há pela frente, para superar as provações. Não se preocupe com a maneira como se sente. Acredite em Mim, você vai superar.

Compartilho do seu sofrimento. Meu coração dói quando o seu coração dói, pois você tem um Sumo Sacerdote sensível às suas angústias.1 Eu me compadeço de você! Sofro quando você sofre! Esta é uma das ocasiões quando o tomo nos braços e o carrego. Sei quando o fardo é demais para você carregar sozinho e, por isso, permaneço bem perto de você e o carrego.

Das cinzas da dor e da derrota crescerão os lindos lírios do Meu amor não só na sua vida, mas também na vida de muitos e outros que serão tocados pela sua vida. Somente creia que sou capaz. Quando estiver em águas profundas, confie em mim. Nos lugares escuros, confie em mim. Saiba que vou à sua frente e não o deixarei. Não deixarei que as inundações o vençam.

1. Veja Hebreus 4:15.
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